tag:blogger.com,1999:blog-55307745358074714342024-03-26T23:35:53.673-07:00Trabalho associadovieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.comBlogger2086125tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-23517497490122571212024-03-22T14:12:00.000-07:002024-03-22T14:12:22.963-07:00 O presente de despedida de Joe Biden para a América<p> <br /><br /><br /> – O Partido Democrata teve uma última oportunidade para implementar<br /> o tipo de reformas do New Deal que poderiam salvar-nos de outra<br /> presidência de Trump e do fascismo cristão. Fracassou.<br /><br /><br /> Chris Hedges [*] <<br /><br /><br />Joe Biden e o Partido Democrata tornaram possível uma presidência de<br />Trump uma vez e parecem dispostos a torná-la possível novamente.<br /><br />Se Trump voltar ao poder, não será devido à interferência russa<br /><https://www.aaronmate.net/p/russiagate-has-no-rock-bottom>, à supressão<br />de eleitores <https://time.com/5902729/black-voter-suppression-2020/> ou<br />porque a classe trabalhadora está cheia de fanáticos e racistas<br />irredimíveis.<br /><br />Será porque os democratas são tão indiferentes ao sofrimento dos<br />palestinos <https://chrishedges.substack.com/p/the-four-horsemen-of-<br />gazas-apocalypse> em Gaza como são aos imigrantes, aos pobres nas nossas<br />cidades empobrecidas, aos que foram conduzidos à bancarrota <https://<br />apnews.com/article/medical-debt-<br />legislation-2a4f2fab7e2c58a68ac4541b8309c7aa> devido a contas médicas,<br />dívidas de cartão de crédito e hipotecas usurárias, aos que foram<br />descartados, especialmente na América rural, por ondas de despedimentos<br />em massa e aos trabalhadores, presos na servidão da economia gig<br /><https://en.wikipedia.org/wiki/Gig_economy>, com a sua instabilidade de<br />emprego e salários suprimidos.<br /><br />Biden e os democratas, juntamente com o Partido Republicano, estriparam<br /><https://consortiumnews.com/2022/12/19/chris-hedges-teaching-the-gulag-<br />archipelago-in-prison/> a fiscalização antitruste e desregulamentaram<br />bancos e corporações, permitindo-lhes canibalizar a nação.<br /><br />Apoiaram a legislação em 1982 para dar luz verde à manipulação de acções<br />através de recompras maciças e da "colheita" de empresas por empresas de<br />capital privado que resultaram em despedimentos em massa. Fizeram<br />aprovar acordos comerciais onerosos, incluindo <https://www.citizen.org/<br />article/naftas-20-year-legacy-and-the-fate-of-the-trans-pacific-<br />partnership/> o Acordo de Comércio Livre da América do Norte, a maior<br />traição à classe trabalhadora desde a Lei Taft-Hartley de 1947, que<br />paralisou <https://www.ueunion.org/ue-news-feature/2022/seventy-five-<br />years-later-toll-of-taft-harley-weighs-heavily-on-labor> a organização<br />sindical.<br /><br />Foram parceiros de pleno direito na construção <https://<br />www.brennancenter.org/our-work/analysis-opinion/crime-bills-legacy-two-<br />decades-later> dos vastos arquipélagos do sistema prisional dos EUA<br /><https://consortiumnews.com/2022/12/19/chris-hedges-teaching-the-gulag-<br />archipelago-in-prison/> – o maior do mundo – e na militarização da<br />polícia para a transformar em exércitos internos de ocupação. Financiam<br />as guerras sem fim.<br /><br />Os democratas servem obedientemente os seus senhores corporativos, sem<br />os quais a maioria deles, incluindo Biden, não teria uma carreira<br />política. É por isso que Biden e os democratas não se voltam contra<br />aqueles que estão a destruir a nossa economia e a extinguir a nossa<br />democracia. Os restos na gamela secariam. A defesa de reformas põe em<br />causa os seus feudos de privilégio e poder.<br /><br />Eles imaginam-se "capitães do navio", escreve <https://<br />www.hamiltonnolan.com/p/executive-pay-is-the-skeleton-key> o jornalista<br />Hamilton Nolan, mas são "na realidade os vermes devoradores de madeira<br />que o estão a consumir por dentro até que se afunde".<br /><br />O autoritarismo é alimentado no solo fértil de um liberalismo em<br />bancarrota <https://www.goodreads.com/book/show/8607391-the-death-of-<br />the-liberal-class>. Isso foi verdade na Alemanha de Weimar. Era verdade<br />na antiga Jugoslávia. E é verdade agora. Os democratas tiveram quatro<br />anos para instituir as reformas do New Deal. Falharam. Agora vamos pagar.<br /><br />*Um segundo mandato de Trump*<br /><br />Um segundo mandato de Trump não será como o primeiro. Será sobre<br />vingança. Vingança contra as instituições que atacaram Trump – a<br />imprensa, os tribunais, as agências de inteligência, os republicanos<br />desleais, os artistas, os intelectuais, a burocracia federal e o Partido<br />Democrata.<br /><br />A nossa presidência imperial, se Donald Trump regressar ao poder,<br />transformar-se-á sem esforço numa ditadura que emascula os ramos<br />legislativo e judicial. O plano para extinguir a nossa anémica<br />democracia está metodicamente exposto no plano de 887 páginas elaborado<br />pela Heritage Foundation <https://www.sourcewatch.org/index.php?<br />title=Heritage_Foundation>, intitulado <https://<br />thf_media.s3.amazonaws.com/<br />project2025/2025_MandateForLeadership_FULL.pdf> /"Mandate for Leadership"./<br /><br />A Fundação Heritage gastou <https://www.nytimes.com/2023/04/20/us/<br />politics/republican-president-2024-heritage-foundation.html> 22 milhões<br />de dólares para elaborar propostas políticas, listas de contratação e<br />planos de transição no Project 2025 <https://www.project2025.org/> para<br />salvar Trump do caos sem rumo que assolou o seu primeiro mandato. Trump<br />culpa as "cobras <https://www.axios.com/2018/09/06/trump-administration-<br />white-house-leaks>", os "traidores <https://www.nytimes.com/2019/04/26/<br />us/politics/trump-schedule-leakers.html>" e o "Estado Profundo <https://<br />www.axios.com/2020/02/23/trump-memos-deep-state-white-house>" por terem<br />minado a sua primeira administração.<br /><br />Os nossos diligentes fascistas americanos <https://<br />www.simonandschuster.com/books/American-Fascists/Chris-Hedges/<br />9780743284462>, empunhando a cruz cristã e agitando a bandeira,<br />começarão a trabalhar no primeiro dia para expurgar as agências federais<br />de "cobras" e "traidores", promulgar valores "bíblicos", cortar impostos<br />para a classe bilionária, abolir <https://www.nytimes.com/interactive/<br />2020/climate/trump-environment-rollbacks-list.html> a Agência de<br />Proteção Ambiental, encher os tribunais e as agências federais de<br />ideólogos e retirar aos trabalhadores os poucos direitos e protecções<br />que lhes restam.<br /><br />A guerra e a segurança interna, incluindo a vigilância generalizada do<br />público, continuarão a ser a principal atividade do Estado. As outras<br />funções do Estado, especialmente as que se centram nos serviços sociais,<br />incluindo a Segurança Social e a proteção dos vulneráveis, desaparecerão.<br /><br />O capitalismo sem limites e sem regras, que não se impõe a si próprio,<br />transforma tudo em mercadoria, desde os seres humanos ao mundo natural,<br />que explora até à exaustão ou ao colapso. Cria primeiro uma economia<br />mafiosa, como escreve Karl Polanyi <https://www.britannica.com/<br />biography/Karl-Polanyi>, e depois um governo mafioso. Os teóricos<br />políticos, incluindo Aristóteles, Karl Marx e Sheldon Wolin <https://<br />www.truthdig.com/articles/sheldon-wolin-and-inverted-totalitarianism/>,<br />avisam que quando os oligarcas tomam o poder, as únicas opções que<br />restam são a tirania ou a revolução.<br /><br />Os democratas sabem que a classe trabalhadora os abandonou. E sabem o<br />porquê. Mike Lux, especialista em sondagens do Partido Democrata,<br />escreve <https://www.americanfamilyvoices.org/post/a-strategy-for-<br />factory-towns>:<br /><br /> Contrariamente às suposições de muitos especialistas, as questões<br /> económicas estão a causar os problemas dos Democratas nos condados<br /> da classe trabalhadora não metropolitana muito mais do que a guerra<br /> cultural... Estes eleitores não se importariam muito com a diferença<br /> cultural e com a questão do "woke" se pensassem que os Democratas se<br /> preocupam mais com os desafios económicos que enfrentam profunda e<br /> diariamente... Os eleitores que precisamos de ganhar nestes condados<br /> não são inerentemente de direita em questões sociais".<br /><br />Mas os democratas não vão alienar as corporações e os multimilionários<br />que os mantêm nos cargos. Em vez disso, optaram por duas tácticas<br />autodestrutivas: a mentira e o medo.<br /><br />Os democratas expressam uma falsa preocupação com os trabalhadores que<br />são vítimas de despedimentos em massa, ao mesmo tempo que cortejam os<br />líderes corporativos que orquestram esses despedimentos com contratos<br />governamentais suntuosos. A mesma hipocrisia leva-os a manifestar<br />preocupação <https://www.aljazeera.com/news/2024/3/7/timeline-the-biden-<br />administration-on-gaza-in-its-own-words> com os civis que estão a ser<br />massacrados em Gaza, enquanto canalizam milhares de milhões de dólares<br /><https://www.democracynow.org/2024/3/7/josh_paul_israel_gaza_war> em<br />armas para Israel e vetam resoluções de cessar-fogo na ONU a fim de<br />sustentar o genocídio <https://www.youtube.com/watch?v=ly6lfhOxTe0>.<br /><br />Les Leopold, no seu livro /A guerra da Wall Street aos trabalhadores<br />(Wall Street's War on Workers <https://shop.harvard.com/book/<br />9781645022336>),/ repleto de sondagens e dados exaustivos, mostra que a<br />deslocação económica e o desespero são o motor por detrás de uma classe<br />trabalhadora enfurecida, e não o racismo e o fanatismo.<br /><br />Ele escreve acerca da decisão <https://web.archive.org/web/<br />20210205183842/https://buffalonews.com/news/local/siemens-job-cuts-a-<br />blow-to-manufacturing-mainstay-in-olean/article_fbfed18e-6629-11eb-8f14-<br />c71e0d376eaa.html> da Siemens de encerrar a sua fábrica em Olean, Nova<br />Iorque, onde existiam 530 postos de trabalho sindicalizados com salários<br />decentes. Enquanto os democratas lamentavam o encerramento, recusavam-se<br />a negar contratos federais à Siemens para proteger os trabalhadores da<br />fábrica.<br /><br />Biden convidou <https://www.siemens.com/us/en/company/press/press-<br />releases/usa/siemens-usa-ceo-joins-biden-administration-bipartisan-<br />infrastructure-deal-signing.html> então a CEO da Siemens nos EUA,<br />Barbara Humpton, para a assinatura do projeto de lei das infraestruturas<br />de 2021 na Casa Branca. A fotografia da assinatura mostra Humpton na<br />primeira fila, juntamente com o senador nova-iorquino Chuck Schumer.<br /><br />No início do século XX, o condado de Mingo, na Virgínia Ocidental, foi o<br />epicentro de um confronto armado entre os trabalhadores das minas de<br />carvão da United Mine Workers <https://coalheritage.wv.gov/coal_history/<br />Pages/United-Mine-Workers.aspx> e os barões do carvão, com os seus<br />capangas contratados pela Baldwin-Felts Detetive Agency.<br /><br />Em 1912, os bandidos armados expulsaram <https://www.nps.gov/articles/<br />000/paint-creek-and-cabin-creek-strikes.htm> os trabalhadores em greve<br />das habitações da empresa e espancaram e mataram membros do sindicato<br />até que a milícia estatal ocupou as cidades carboníferas e pôs fim à<br />greve. O cerco federal só foi levantado em 1933 pela administração<br />Roosevelt. O sindicato, que havia sido proibido, foi legalizado.<br /><br />"O condado de Mingo não se esqueceu, pelo menos durante muito tempo",<br />escreve Leopold.<br /><br /> "Em 1996, com mais de 3.200 mineiros de carvão ainda a trabalhar, o<br /> condado de Mingo deu a Bill Clinton uns impressionantes 69,7% dos<br /> votos. Mas a partir daí, de quatro em quatro anos, o apoio aos<br /> democratas foi diminuindo, diminuindo e diminuindo ainda mais. Em<br /> 2020, Joe Biden recebeu apenas 13,9% dos votos em Mingo, uma queda<br /> brutal num condado que outrora via o Partido Democrata como o seu<br /> salvador".<br /><br />Os 3 300 postos de trabalho no sector mineiro do condado de Mingo em<br />2020 haviam caído para 300, a maior perda de postos de trabalho no<br />sector do carvão em qualquer condado do país.<br /><br />As mentiras dos políticos democratas causaram muito mais danos aos<br />homens e mulheres trabalhadores do que qualquer uma das mentiras<br />vomitadas por Trump.<br /><br />*Despedimentos em massa*<br /><br />Houve pelo menos 30 milhões de despedimentos em massa desde 1996, quando<br />o Bureau of Labor Statistics começou a registá-los, de acordo com o<br />Labor Institute. Os oligarcas reinantes, não contentes com os<br />despedimentos em massa e com a redução da força de trabalho<br />sindicalizada no sector privado para uns míseros 6 por cento <https://<br />www.jdsupra.com/legalnews/private-sector-union-membership-rate-8281329/<br />>, apresentaram documentos legais <https://www.theguardian.com/us-news/<br />2024/mar/10/starbucks-trader-joes-spacex-challenge-labor-board> para<br />encerrar o National Labor Relations Board (NLRB), a agência federal que<br />faz cumprir os direitos laborais.<br /><br />A SpaceX de Elon Musk, bem como a Amazon, a Starbucks e a Trader Joe's<br />visaram a NLRB – já destituída da maior parte do seu poder de aplicar<br />multas e forçar o cumprimento das normas por parte das empresas – depois<br />de esta ter acusado a Amazon, a Starbucks e a Trader Joe's de violarem a<br />lei ao bloquearem a organização sindical.<br /><br />A NLRB acusou a SpaceX de despedir ilegalmente oito trabalhadores por<br />terem criticado Musk. A SpaceX, a Amazon, a Starbucks e a Trader Joe's<br />estão a tentar que os tribunais federais anulem a Lei Nacional das<br />Relações Laborais, de 89 anos, para impedir que os juízes julguem<br />processos contra empresas por violação das leis laborais.<br /><br />O medo – o medo do regresso de Trump e do fascismo cristão – é a única<br />carta que os democratas têm para jogar. Isso funcionará em enclaves<br />urbanos e liberais, onde tecnocratas com formação universitária, parte<br />da economia do conhecimento globalizado, estão ocupados repreendendo<br /><https://inthesetimes.com/article/what-paul-krugman-gets-wrong-about-<br />the-working-class> e demonizando a classe trabalhadora <https://<br />jacobin.com/2020/09/working-class-peoples-guide-capitalism-marxist-<br />economics> por sua ingratidão.<br /><br />Os democratas, insensatamente, descartaram esses "deploráveis <https://<br />www.washingtonpost.com/lifestyle/2021/08/31/deplorables-basket-hillary-<br />clinton/>" como uma causa política perdida. Este precariado, diz o<br />mantra, é vitimado não por um sistema predatório construído para<br />enriquecer a classe multimilionária, mas pela sua ignorância e fracassos<br />individuais. A desvalorização dos desprivilegiados absolve os democratas<br />de defenderem a legislação para proteger e criar empregos dignos.<br /><br />O medo não tem poder nas paisagens urbanas desindustrializadas e nas<br />terras devastadas e ignoradas da América rural, onde as famílias lutam<br />sem trabalho sustentável, com uma crise de opiáceos <https://<br />www.youtube.com/watch?v=ire4FEcIBB8>, desertas de alimentos, falências<br />pessoais, despejos, dívidas aflitivas e profundo desespero.<br /><br />Eles querem o que Trump quer. Vingança. Quem os pode censurar?<br /><br /><br /> 18/Março/2024<br /><br />Em<br /><b>RESISTIR.INFO</b><br /><b>https://www.resistir.info/eua/hedges_18mar24.html</b><br />18/3/2024<br /><br /></p>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-54371494850478848122024-03-17T17:09:00.000-07:002024-03-17T17:09:41.712-07:00 La Inteligencia Artificial y la trampa capitalista para los avances científicos<p> <br /><br /><br /> <br /><br /><br />PRABHAT PATNAIK , ECONOMISTA INDIO.<br /><br />Hay una paradoja en el centro del florecimiento de la ciencia que se ha<br />producido durante el último milenio. En esencia, esta eflorescencia<br />tiene el potencial de aumentar inmensamente la libertad humana. Aumenta<br />la capacidad del hombre dentro de la dialéctica hombre-naturaleza; la<br />práctica científica pretende ir más allá de lo “dado” no sólo en un<br />sentido de una vez para siempre sino como un movimiento perpetuo a<br />través de un autocuestionamiento incesante, de modo que esta práctica<br />sea potencialmente un acto colectivo de liberación. <br /><br />Pero esta promesa de libertad sigue sin cumplirse; y aunque su potencial<br />no se ha aprovechado, este florecimiento de la ciencia ha sido utilizado<br />para la dominación de algunos sobre otros seres humanos y otras<br />sociedades. La paradoja radica en el hecho de que la práctica científica<br />que tiene el potencial de aumentar la libertad humana ha sido utilizada<br />para aumentar la dominación, es decir, para atenuar la libertad humana.<br /><br />Las raíces de esta paradoja residen en el hecho que para desencadenar el<br />avance científico era necesario derribar el dominio de la iglesia sobre<br />la sociedad (que, como se recordará, obligaron a Galileo a retractarse);<br />y este “renuncia” sólo pudo ocurrir como parte del mantenimiento de un<br />orden feudal, es decir, esto cambió radicalmente con la revolución<br />burguesa, de la cual la Revolución Inglesa de 1640 fue un excelente<br />ejemplo. <br /><br />Por tanto, el desarrollo de la ciencia moderna en Europa estuvo<br />indisolublemente ligado desde el principio al desarrollo del<br />capitalismo; y este hecho dejó su huella indeleble en el uso que se le<br />ha dado a los avances científicos.<br /><br />Esta huella burguesa también tuvo importantes implicaciones epistémicas<br />que preocuparon a los filósofos (como Akeel Bilgrami); a saber, el<br />tratamiento de la naturaleza como “materia inerte” y la atribución de<br />una “inertecidad” similar a las poblaciones indígenas en áreas remotas<br />del mundo. (“pueblos sin historia”) que “justificaban” a los ojos<br />europeos el “dominio” tanto sobre la naturaleza como sobre poblaciones<br />lejanas (del centro capitalista) y, por tanto, “justificaban” el<br />fenómeno del imperialismo.<br /><br />Plenamente consciente del hecho que el papel de la ciencia para mejorar<br />la libertad sólo podría realizarse plenamente a través de una<br />trascendencia del capitalismo, los mejores científicos de la época se<br />unieron a la lucha por el socialismo. Esto no sólo era esencial para<br />ellos como ciudadanos, impedir el abuso de la ciencia, sino también era<br />un imperativo moral para los científicos : luchar contra el abuso de su<br />propia praxis que producía avances científicos.<br /><br />En materia de lucha por el socialismo es bien conocido el ejemplo de<br />Albert Einstein. No sólo era un socialista declarado, sino que<br />participaba activamente en actividades y reuniones políticas, por lo que<br />el FBI le había puesto «siguimiento» y mantenido un expediente que ahora<br />está abierto al público; de hecho, debido a sus convicciones<br />socialistas, no recibió autorización de seguridad para participar en el<br />proyecto Manhattan que desarrolló la bomba atómica. <br /><br />Del mismo modo, en Gran Bretaña, los mejores científicos del siglo XX<br />formaban parte de la izquierda, desde JD Bernal hasta Joseph Needham,<br />JBS Haldane, Hyman Levy, GH Hardy, Dorothy Hodgkin y muchos otros.<br /><br />Sin embargo, con la aparición del neoliberalismo se ha producido un<br />cambio fundamental. Ha habido una “mercantilización” de la ciencia, bajo<br />la cual la responsabilidad de financiar la investigación ha pasado del<br />Estado a donantes privados, principalmente corporativos. Esto ha<br />significado que la libertad del científico para expresar opiniones<br />políticas que subrayen la necesidad de trascender el capitalismo se ha<br />visto enormemente restringida. <br /><br />Hoy, si un científico quiere participar en un proyecto de investigación,<br />tiene que ser suficientemente aceptable para los donantes privados; y no<br />se le ayuda si se sabe que tiene creencias socialistas. Incluso los<br />nombramientos universitarios están determinados por la capacidad del<br />científico para atraer fondos de donantes. <br /><br />Por lo tanto, las limitaciones políticas se aplican incluso en una<br />esfera donde hasta hace poco los académicos tenían la libertad de<br />profesar diversas creencias. En otras palabras, la mercantilización de<br />la ciencia produce conformismo político y una irresponsabilidad social,<br />por parte del científico. <br /><br />El “lujo” de internalizar el imperativo moral de ir más allá del<br />capitalismo, para hacer que la práctica científica contribuya a la<br />liberación humana, se le niega al científico en la era del<br />neoliberalismo; y esto a su vez implica la adopción de avances<br />científicos sin una discusión adecuada de sus consecuencias.<br /><br />Un ejemplo obvio de la adopción irreflexiva que está ocurriendo hoy ante<br />nuestros propios ojos con la inteligencia artificial. Por supuesto, esto<br />tiene implicaciones en las que no entraré por el momento ; sólo me<br />preocupa especialmente una implicación: la creación de un desempleo<br />masivo, sobre el que llamó la atención la reciente huelga de los<br />guionistas de Hollywood. <br /><br />Cualquier medida que sustituya el trabajo humano por un dispositivo<br />mecánico es potencialmente liberadora: puede reducir la monotonía del<br />trabajo o, alternativamente, aumentar la magnitud de la producción con<br />una disponibilidad de bienes y servicios para la población que antes<br />parecía imposible. Pero, cómo vemos cada día, con el capitalismo toda<br />sustitución del trabajo humano por un dispositivo mecánico aumenta la<br />miseria humana.<br /><br />Considere un ejemplo. Supongamos que una innovación duplica la<br />productividad laboral. Bajo el capitalismo, cada capitalista utilizará<br />la innovación para reducir a la mitad de la fuerza laboral que estaba<br />empleada anteriormente. Este hecho aumentará el tamaño relativo del<br />ejército de reserva de mano de obra, por lo que aquellos que sigan<br />empleados no experimentarían ningún aumento en su salario real. <br /><br />Esto significa que si se sigue produciendo el nivel anterior de<br />producción , se reduciría a la mitad la masa salarial y se incrementaría<br />la magnitud del excedente.Pero debido al cambio de salarios a excedente<br />en el nivel anterior de producción, habría una caída en la demanda (ya<br />que se consume una proporción mayor de salarios que de excedente) y por<br />lo tanto no se producirá el nivel anterior de producción y no se<br />producirá el excedente. <br /><br />Habrá un grado adicional de desempleo, esta vez debido a una demanda<br />insuficiente, además del desempleo generado debido a la duplicación<br />original de la productividad laboral.<br /><br />El economista inglés David Ricardo no percibió este desempleo adicional<br />debido a la deficiencia de la demanda. Había asumido la ley de Say, es<br />decir, que nunca hay ninguna deficiencia en la demanda agregada y que no<br />sólo se consumen todos los salarios sino que todo el excedente que<br />excede la parte consumida se invierte automáticamente. <br /><br />A partir de este supuesto, había llegado a la conclusión que el paso de<br />los salarios al excedente, si bien reduciría el consumo total de la<br />producción anterior, aumentaría la inversión, pero dejaría la producción<br />anterior sin cambios; y este aumento de la proporción de inversión<br />aumentaría la tasa de crecimiento de la producción y, por tanto, la tasa<br />de crecimiento del empleo. En otros términos, el uso de maquinaria, si<br />bien puede reducir el empleo, aumentaría su tasa de crecimiento, de modo<br />que el empleo excedente, después de algún tiempo, sería reemplazado de<br />otro modo.<br /><br />Sin embargo, la ley de Say no tiene validez alguna. La inversión bajo el<br />capitalismo está determinada por el crecimiento esperado del mercado y<br />no por la magnitud del excedente (a menos que haya mercados coloniales<br />sin explotar a los que se pueda acceder o el Estado esté alguna vez<br />dispuesto a intervenir para superar una deficiencia de la demanda<br />agregada). <br /><br />La razón por la cual el cambio tecnológico no causó históricamente un<br />desempleo masivo dentro de la metrópoli fue doble: en primer lugar, los<br />mercados coloniales estaban disponibles, por lo que gran parte del<br />desempleo generado por el cambio tecnológico se trasladó a las colonias<br />(en forma de desindustrialización), es decir, hubo exportación de<br />desempleo desde la metrópoli. <br /><br />En segundo lugar, cualquier desempleo local generado por el cambio<br />tecnológico no persistió , porque los desempleados emigraron al<br />extranjero. A lo largo del “largo siglo XIX” (hasta la Primera Guerra<br />Mundial), 50 millones de europeos emigraron a las regiones templadas de<br />asentamientos blancos como Canadá, Estados Unidos, Sudáfrica, Australia<br />y Nueva Zelanda.<br /><br />Sin embargo, hoy prevalece una situación completamente diferente. No<br />sólo es que el colonialismo tradicional no existe, sino que los mercados<br />del tercer mundo son inadecuados para contrarrestar cualquier<br />deficiencia de demanda agregada en las metrópolis. Del mismo modo, el<br />Estado no puede contrarrestar una deficiencia de la demanda agregada, ya<br />que no puede aumentar su déficit fiscal más allá del límite de la Ley<br />FRBM, ni gravar a los ricos por aumentar sus gastos (gravar a los<br />trabajadores para aumentar sus gastos apenas aumenta la demanda<br />agregada). Por tanto, la mecanización, incluido el uso de la<br />inteligencia artificial, en el contexto del capitalismo actual generará<br />inevitablemente un desempleo masivo.<br /><br />Consideremos, en cambio, lo que sucedería en una economía socialista.<br />Cualquier mecanización, incluido el uso de inteligencia artificial,<br />reducirá la monotonía del trabajo sin reducir el empleo, ni la<br />producción ni la masa salarial de los trabajadores (todo lo cual está<br />determinado centralmente). Esta diferencia fundamental entre los dos<br />sistemas explica por qué el uso benigno de la inteligencia artificial<br />está condicionado únicamente a una transformación revolucionaria del<br />capitalismo.<br /><br />Publicado en: Artículos <https://observatoriocrisis.com/category/<br />articulos/>, Inicio <https://observatoriocrisis.com/category/inicio/><br /><br />Em<br />OBSERVATORIO DE LA CRISIS<br /><a href="https://observatoriocrisis.com/2024/03/17/la-inteligencia-artificial-y-la-trampa-capitalista-para-los-avances-cientificos/">https://observatoriocrisis.com/2024/03/17/la-inteligencia-artificial-y-la-trampa-capitalista-para-los-avances-cientificos/</a><br />17/3/2024<br /><br /></p>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-72029866709541846672024-03-15T16:57:00.000-07:002024-03-15T16:57:10.672-07:00A teoria económica como uma forma de arte<p> <br /> <br /><br /> Michael Hudson<br /> entrevistado por Robinson Erhardt<br /><br />Michael Hudson.<br /><br />*Robinson:* Michael, li no seu livro, /Killing the Host/ <https://<br />www.resistir.info/m_hudson/Killing%20the%20Host>, que decidiu tornar-se<br />economista depois de conhecer um tal Terrence McCarthy, que lhe explicou<br />porque é que as crises financeiras tendem a ocorrer no outono, após as<br />colheitas. E esta era uma pergunta interessante. Qual é a história e<br />porque é que foi tão convincente para si?<br /><br />*Michael:* Bem, a maior parte das economias era agrícola. Era esse o<br />centro e havia uma coisa chamada "escoamento outonal" da produção. Por<br />outras palavras, quando chegava a altura de escoar as colheitas, os<br />bancos precisavam de fornecer o crédito para que os compradores<br />grossistas de cereais pagassem aos agricultores pelas suas colheitas, a<br />fim de que as comprassem. Isso drenava o dinheiro do sistema bancário e,<br />se os bancos estivessem demasiado alavancados, se não tivessem garantias<br />e reservas suficientes, entrariam em insolvência. Por vezes, a dívida<br />tinha tendência a acumular-se, mas havia uma espécie de ritmo. E eu<br />fiquei fascinado com o facto de haver um ritmo regular em tudo isto,<br />quase um ritmo calendárico, não só em relação ao momento dos colapsos,<br />mas também com o facto de os colapsos se tornarem cada vez maiores à<br />medida que o peso da dívida aumentava, até que finalmente todo o sistema<br />colapsava e muitas dívidas eram anuladas por falência.<br /><br />O que eu não sabia nessa altura e o que descobri nos últimos 40 anos de<br />estudo sobre como o crédito e o dinheiro começaram no terceiro milénio<br />a.C. na Mesopotâmia foi que as economias desde o terceiro milénio até à<br />Europa feudal e aos tempos modernos só usavam dinheiro numa certa altura<br />do ano, quando havia colheitas. O que é que os agricultores faziam<br />quando as colheitas estavam a ser plantadas e a amadurecer? Bem, as<br />pessoas viviam a crédito. E a ideia era que, depois de plantarem as<br />[futuras] colheitas, podiam comprar cerveja. Na verdade, temos registos<br />da Babilónia de que os agricultores compravam cerveja. Pagavam as contas<br />no bar, que era gerido por mulheres cervejeiras. E, tal como nos tempos<br />modernos, os trabalhadores assalariados iam ao bar e faziam uma conta<br />até ao dia do pagamento.<br /><br />O dia de pagamento das sociedades antigas, até ao século XX, era o<br />outono, quando as colheitas terminavam. E na Mesopotâmia, as dívidas<br />tinham de ser pagas na eira. E essa era a única altura em que se<br />precisava efetivamente de dinheiro para as liquidações. O mesmo<br />acontecia na Europa medieval, já no século XIII. Nessa altura, o crédito<br />era devido. E depois de a banca de reserva fraccionária ter chegado à<br />Europa e à América do Norte, continuámos a ter o hábito de os<br />agricultores terem de gastar muito dinheiro, muitas vezes a crédito,<br />para plantar as sementes. Faziam uma grande despesa. Contratavam<br />trabalhadores para ajudar na plantação. Podiam ter de alugar máquinas<br />ou, em tempos mais antigos, alugar bois de arado para fazer parte da<br />lavoura. Todas estas dívidas vencem no outono. E assim havia um solavanco.<br /><br />Penso que isso deu origem, na América, à ideia de que havia ciclos<br />económicos. E, claro, não se tratava apenas de um ciclo. Um ciclo<br />continua regularmente para sempre, mas era um ciclo com um montante<br />crescente de dívida. Percebi então que a crise da dívida era inevitável,<br />não só para o sector agrícola, mas que toda a sociedade estava a tornar-<br />se de certa forma como o sector agrícola. As empresas contraíam<br />empréstimos e os senhorios contraíam empréstimos para comprar edifícios,<br />todos à espera de os pagar mais tarde. Algo aconteceria, sobretudo se as<br />colheitas falhassem.<br /><br />Imaginem se os bancos tivessem feito empréstimos aos fornecedores<br />agrícolas, às empresas de sementes, a todos os outros, e de repente<br />houvesse uma quebra de safra. O nível da água baixaria e haveria uma<br />seca. Bem, isso causaria uma falha e haveria incumprimentos em toda a<br />linha. E o que Terrence mencionava era o facto de o nível da água no<br />Midwest ter tendência para subir e descer e de haver de facto uma causa<br />ambiental para o momento dos colapsos financeiros. Aquilo fascinou-me e<br />descobri que a economia se havia tornado quase artística. Era<br />fascinante. E fui trabalhar para a banca em Wall Street para decidir<br />isto, porque o Terrence tinha-me convencido de que, em última análise,<br />as dívidas não poderiam ser pagas e haveria uma crise. E esse seria o<br />grande problema da sociedade. E isto já em 1961.<br /><br />*Robinson:* Bem, isto será apenas uma breve meta-digressão, mas é<br />evidente que você não é apenas um economista, mas também um historiador<br />da economia. E na minha educação filosófica, estamos constantemente a<br />olhar para trás, mesmo quando escrevemos artigos contemporâneos, a olhar<br />para Aristóteles ou Platão ou filósofos medievais, porque eles estavam<br />frequentemente a pensar nas mesmas questões que pensamos hoje. Tinham<br />ideias brilhantes e, por vezes, estavam correctos. Mas no caso da<br />economia, com o qual estou muito menos familiarizado, por que é que a<br />história da economia, que remonta à Babilónia, é tão importante para a<br />sua teorização sobre os problemas actuais?<br /><br />*Michael:* Bem, quando comecei a estudar estatisticamente as balanças de<br />pagamentos para o Chase Manhattan Bank, a partir de 1964, a pergunta que<br />me fizeram foi: quanto dinheiro é que a Argentina, o Brasil e o Chile<br />podem pedir-nos emprestado? Pode dizer-nos qual a sua capacidade para<br />pagar as dívidas e qual o serviço da dívida que podem pagar?<br /><br />Bem, rapidamente descobri que eles já estavam a atingir o que parecia<br />ser o limite do serviço da dívida. Mais uma vez, isto foi em 1964, 65.<br />Era óbvio que já estavam bastante endividados. E a Reserva Federal e o<br />governo disseram ao Chase e a outros bancos, bem, não se preocupem. Nós<br />emprestamos-lhes o dinheiro para vos pagar os juros. Não vamos deixá-los<br />ir à falência porque é do interesse da América que lhes emprestem o<br />dinheiro para que continuem a permanecer num sistema económico centrado<br />no dólar americano. E o Departamento do Comércio publicava, através do<br />Gabinete de Análise Económica, as estatísticas da balança de pagamentos<br />de três em três meses no inquérito aos negócios correntes. E a tabela<br />cinco era a do papel do governo dos EUA na balança de pagamentos. E<br />havia uma categoria inteira para a ajuda externa, sob a forma de ajuda a<br />países estrangeiros para que estes pagassem juros aos bancos americanos.<br />Assim, apercebi-me de que grande parte da ajuda externa americana nunca<br />envolveu uma moeda estrangeira. E nenhum do dinheiro saía dos Estados<br />Unidos. O governo não enviava dinheiro para o Brasil, a Argentina ou o<br />Chile, para que o pusessem na sua moeda e depois o trocassem para pagar<br />aos Estados Unidos. O dinheiro era pago pelo Tesouro diretamente aos<br />bancos de Nova Iorque que faziam a maior parte dos empréstimos a esses<br />países. Assim, vi que os países não conseguiam pagar as dívidas que<br />tinham e, depois de deixar o Chase, fui trabalhar para a Arthur Anderson<br />e para o Hudson Institute.<br /><br />No final da década de 1970, tornei-me economista da UNITAR <https://<br />unitar.org/> e escrevi três grandes artigos para eles acerca da dívida<br />do terceiro mundo, explicando porque é que os países do Sul não<br />conseguiam pagar a dívida que tinham, a não ser que o governo dos<br />Estados Unidos continuasse a emprestar-lhes dinheiro para pagarem aos<br />bancos americanos, que cresciam exponencialmente. Bem, a UNITAR teve uma<br />reunião no México por volta de 1980, 1979 e 80. O presidente do México<br />queria tornar-se diretor das Nações Unidas e patrocinou esta reunião. E<br />eu apresentei o meu trabalho, explicando que ia haver uma crise da<br />dívida. Isto foi, penso eu, em 79, três anos antes de o incumprimento<br />mexicano ter despoletado toda a bomba da dívida latino-americana. Bem,<br />houve um tumulto.<br /><br />Apercebi-me que a ideia de que as dívidas não podiam ser pagas era<br />impensável para a maioria das pessoas. Não podiam imaginar que as<br />dívidas não fossem pagas. Conseguiam imaginar o escoamento outonal.<br />Imaginavam um ciclo económico de falência. Imaginavam os agricultores a<br />não poderem pagar periodicamente. Mas não conseguiam imaginar que o<br />próprio sistema estava destinado a entrar em colapso. Por isso, comecei<br />a interessar-me pela história das anulações de dívidas. E comecei a<br />escrever uma história sobre elas.<br /><br />Pude remontar a Atenas e à advocacia em Roma, a Atenas e a Sólon,<br />cancelando as dívidas agrárias para evitar uma crise em Atenas. E li a<br />Bíblia e voltei ao ano do Jubileu e deparei-me com relatos isolados de<br />que havia antecedentes babilónicos para tudo isto, que tudo isto havia<br />surgido antes no Próximo Oriente. Comecei então a procurar e a ler tudo<br />o que podia do Médio Oriente. E discuti as minhas descobertas com um<br />amigo meu, Alex Marshak, que era um especialista em sociedade e escrita<br />da Idade do Gelo.<br /><br />Ele apresentou-me ao seu presidente, Carl Lamberg-Karlovsky, em Harvard,<br />que dirigia o Museu Peabody, que era o departamento de antropologia de<br />Harvard, e nomearam-me bolseiro de investigação em arqueologia<br />babilónica. Passei os oito anos seguintes a estudar tudo o que podia em<br />babilónico, sumério, e descobri que havia muitas, muitas referências a<br />cancelamentos de dívidas regulares no antigo Próximo Oriente. Mas se<br />procurássemos no índice dos livros e artigos, a dívida não aparecia, a<br />anulação da dívida não aparecia. Só se falava disso de passagem. Por<br />isso, tive de ler imenso.<br /><br />Finalmente, convenci Harvard de que este era um tema importante para<br />financiar. Como é que a dívida começou? Porque é que, quando surgiram as<br />primeiras taxas de juro, os governantes decidiram: "Muito bem, vamos<br />ter juros, mas sabemos que vai haver um colapso periódico". Se lermos as<br />leis de Hammurabi, ele sabia que ia haver secas ou inundações. Por isso,<br />uma das leis de Hammurabi dizia que, quando o deus da tempestade Ad-Ad<br />chegasse, haveria uma anulação da dívida e não teríamos de pagar as<br />dívidas agrárias pessoais. Bem, decidimos criar uma série de professores<br />para começar a escrever uma história económica do antigo Próximo Oriente.<br /><br />Como é possível que quase todas as práticas económicas modernas, pesos e<br />medidas, o equivalente à moeda, peças metálicas pesadas de metal que<br />eram utilizadas como dinheiro, manutenção de contas, juros, contratos,<br />tudo isto se tenha desenvolvido no antigo Próximo Oriente, mas quase<br />todas as histórias consideram que a civilização ocidental começou na<br />Grécia e em Roma, ao invés de muito antes, no antigo Próximo Oriente?<br />Por isso, decidimos fazer uma série de publicações de colóquios e o<br />primeiro ia ser sobre a privatização em geral, para discutir qual o<br />papel do palácio no Estado em relação ao sector privado?<br /><br />Como é que os governantes conseguiram anular as dívidas e não houve<br />qualquer oposição? Toda a gente reconheceu a necessidade de anular as<br />dívidas. Cada novo rei, quando assumia o trono da dinastia de Hamurabi e<br />dos governantes sumérios que o antecederam no terceiro milénio, cada<br />novo rei começava a governar com uma tábua rasa /(clean slate)/ em<br />branco, restaurando um /status quo ante/ sem dívidas, e fazia o que se<br />tornou literalmente o ano do Jubileu na Bíblia judaica, Levítico 25.<br />Anulariam as dívidas pessoais vencidas, não as dívidas comerciais que<br />eram denominadas em prata, mas as dívidas de cereais que os agricultores<br />deviam. Libertavam os devedores que tinham sido reduzidos à escravatura<br />e devolviam as terras que tinham sido confiscadas pelos credores, de<br />modo a que houvesse um exército de cultivadores autónomos, independentes<br />e cidadãos.<br /><br />Bem, na altura havia uma descrença geral de que o ano do Jubileu na<br />Judeia fosse realmente seguido. Havia uma descrença de que alguma<br />sociedade pudesse ter efetivamente cancelado as dívidas. E já antes de<br />começarmos os nossos colóquios em Harvard, redigi uma história do<br />cancelamento das dívidas e apresentei-a à University of California<br />Press. Eles submeteram-na a um amigo meu, mas ele estava ocupado e<br />submeteu-a a um académico de extrema-direita que era crítico literário<br />mas não conhecia registos económicos. E ele disse, bem, tal como o<br />rabino Hillel disse: "Se cancelares as dívidas, como é que vais<br />conseguir que os credores voltem a fazer empréstimos?"<br /><br />Bem, a resposta foi que a maioria dos créditos eram devidos ao palácio e<br />aos templos. E é mais fácil cancelar as dívidas se elas forem devidas a<br />nós, como o governo chinês sabe. É por isso que a China não tem o tipo<br />de problema de dívida que os Estados Unidos têm. Pode anular as dívidas<br />e não levar empresas à falência, não levar uma classe financeira à<br />falência e não levar os bancos à falência, porque a dívida é um caminho<br />para a China e esta pode criar tanto dinheiro quanto quiser. Bem, essa<br />era a situação no início da atividade bancária, no início do crédito e<br />das taxas de juro.<br /><br />Descobri que a dívida com juros e a necessidade regular de cancelar<br />essas dívidas foram tecidas no início da civilização. E tudo isto<br />perdurou desde talvez, digamos, 2500 AC. Os primeiros registos que temos<br />são os cancelamentos de dívidas por Legash, uma cidade portuária na<br />Suméria. Bem, isto durou até cerca de 1200 a.C. e mesmo até ao primeiro<br />milénio, os assírios cancelaram as dívidas, os babilónios no primeiro<br />milénio cancelaram as dívidas.<br /><br />Depois houve um mau tempo por volta de 1200 a.C. e houve uma idade das<br />trevas desde o Próximo Oriente até à Europa. As economias palacianas<br />gregas perderam os registos. Houve uma diminuição da população e um<br />despovoamento. E foram precisos cerca de quatro ou cinco séculos para<br />que o comércio fosse retomado. No século VIII a.C., finalmente, os<br />comerciantes venezianos e outros comerciantes do Próximo Oriente<br />começaram a deslocar-se e a negociar com o Egeu e o Mediterrâneo.<br /><br />Trouxeram para a Europa a prática da dívida remunerada e, aparentemente,<br />a Europa não tinha experiência na cobrança de juros sobre a dívida. A<br />ideia de cobrar juros não é internacional, não é universal, foi criada<br />numa parte do mundo, a Suméria e a Babilónia, no sul da Mesopotâmia.<br />Esta ideia de cobrar juros foi comunicada às pessoas com quem os<br />habitantes do Próximo Oriente negociavam, nomeadamente os chefes locais.<br />E os caciques locais tinham a ideia da liderança, mas não tinham a ideia<br />daquilo a que os arqueólogos chamam a realeza divina que existia no<br />Próximo Oriente. Não tinham uma autoridade central que se comprometesse<br />a obedecer aos deuses da justiça e a cancelar as dívidas quando surgisse<br />um novo governante. E, muito rapidamente, a dívida com juros reduziu a<br />população à escravatura e à perda da terra.<br /><br />E por toda a Grécia, houve revoluções. As primeiras revoluções ocorreram<br />a norte de Atenas e no Istmo da Grécia. Os chamados tiranos, ou seja, os<br />populistas, derrubaram a aristocracia, anularam as dívidas e<br />redistribuíram as terras. O mesmo aconteceu em Esparta, onde não só<br />anularam as dívidas, como chegaram ao ponto de proibir o dinheiro e os<br />juros. E o último país, a cidade mais reacionária da Grécia, foi Atenas.<br />E no final, a ideia de uma revolução para derrubar a oligarquia de<br />direita levou a uma crise em que Sólon foi nomeado arconte.<br /><br />Apercebeu-se da necessidade de anular as dívidas e toda a gente esperava<br />que ele fizesse o que fosse necessário. Mas não redistribuiu as terras<br />e, por isso, o seu papel não foi muito popular. Chegou mesmo a exilar-se<br />porque os aristocratas não gostaram do facto de ele ter anulado as<br />dívidas hipotecárias que tinham. Ninguém sabe exatamente quais eram<br />essas dívidas, mas ele libertou os atenienses da servidão por dívidas,<br />mas não devolveu as terras aos cidadãos. Por isso, coube a Pisístrato e<br />aos seus filhos a introdução efectiva da democracia.<br /><br />Bem, quando tinha de ir à escola, andei numa escola muito de direita, a<br />University of Chicago Lab School e a University of Chicago, eles<br />apresentavam Pisístrato como sendo um ditador. Bem, porque é que eles<br />eram ditadores? Porque tinham guarda-costas. E porque é que eles tinham<br />guarda-costas? Porque a oligarquia estava sempre a tentar matá-los. Esse<br />é o problema dos reformadores. As pessoas tentam sempre matar-nos, tal<br />como fazem no mundo moderno. E assim, Pisístrato e os seus filhos<br />fizeram muitas reformas, mas depois o que aconteceu em Atenas, no final<br />do século VI, foi exatamente o que aconteceu em Corinto. Um membro de um<br />ramo menor da aristocracia cancelou as dívidas e reformulou todo o<br />sistema político ateniense, Cleistenes. Morgan, no seu grande livro, /<br />Ancient Society,/ atribui a origem da democracia grega não a Sólon, mas<br />a Cleístenes e à sua reforma maciça. Finalmente, fizeram a reforma e o<br />resultado foi, evidentemente, o arranque ateniense de tudo isso.<br /><br />Bem, escusado será dizer que a maior parte das histórias da Grécia que<br />eu tinha lido minimizavam este facto. E quando fui para a Universidade<br />de Chicago, um dos grandes focos de estudo era Aristóteles e Platão, que<br />mencionou. Eram sobretudo aristotélicos, sempre gostei de Platão, mas lá<br />tínhamos de estudar o curso de síntese, organizações, métodos e<br />princípios do conhecimento. Tínhamos de ler a /República/ de Platão. E<br />eu fiquei com a teoria de direita, expurgada, do que Platão e Sócrates<br />estavam a dizer na /República./ E o que nos foi dito, bem, é que<br />queremos um ditador nobre. Querem uma pessoa inteligente que possa gerir<br />tudo. Por outras palavras, alguém como Robert Hutchins <https://<br />en.wikipedia.org/wiki/Robert_Maynard_Hutchins> que queria um ditador<br />para os Estados Unidos. Esta era uma faculdade muito à direita. E para<br />eles, tudo se resume a precisar de um guardião, um guardião inteligente.<br />Eles tinham muitas palavras para esse rei social. Expurgaram todo o<br />quadro da /República/ de Platão, que pode ser relevante para a nossa<br />discussão. Posso mencioná-lo?<br /><br />Começa quando Sócrates está a falar com um ateniense. Ele estava a<br />queixar-se do facto de ter de pagar uma dívida a alguém. Sócrates disse:<br /> "Bem, sabes, tens mesmo de pagar algo que te foi emprestado? Imagina<br />que alguém te emprestou uma arma e sabes que, se a deres, talvez<br />precises de combater no exército durante algum tempo ou por qualquer<br />razão, tens de lhe devolver a arma. Mas sabe que ele é um assassino<br />psicótico. Sabes que ele é um homem perigoso.<br /><br />Será correto pagar uma dívida e devolver a arma a este homem que se sabe<br />que a vai usar para ferir outras pessoas? E o ateniense não tem a<br />certeza. E Sócrates diz: "Bem, vamos então falar sobre essa dívida que<br />tens. Supõe que devolves o dinheiro ao credor e que o credor usa esse<br />dinheiro para emprestar a outras pessoas e empresta a um pobre<br />agricultor e este acaba por ter de pagar a dívida trabalhando nas terras<br />do credor e não nas suas próprias terras. Suponhamos que os credores se<br />juntam e tomam conta da sociedade e, de repente, estão a governar o<br />governo e estão a explorar a sociedade e há uma crise.<br /><br />É correto reembolsar essas pessoas?<br /><br />O ateniense diz: "Bem, porque é que os credores agiriam de uma forma<br />tão auto-destrutiva? Não podemos ter governantes muito inteligentes que<br />evitem este tipo de crise? E Sócrates diz: "Bem, há uma coisa na<br />mentalidade das pessoas ricas que se chama vício da riqueza ou amor ao<br />dinheiro". E temos o drama ateniense. Aristófanes escreve peças sobre o<br />vício da riqueza e a arrogância que causa a queda. E Sócrates diz que é<br />de facto muito parecido com a arrogância. Não conseguem deixar de querer<br />mais e mais. Sócrates explicou que toda a base da moderna teoria<br />neoclássica do comércio está absolutamente errada.<br /><br />A teoria neoclássica do comércio diz que quando se obtêm mais bananas,<br />ficamos saciados e cada nova banana dá-nos cada vez menos prazer e por<br />isso queremos largá-la. Mas Aristófanes e Sócrates e toda a dramaturgia<br />e filosofia ateniense do século IV diziam que o amor ao dinheiro não é<br />como comer bananas. Ao contrário da comida, o dinheiro é viciante. E a<br />classe rica, diz Sócrates, vai ficar tão viciada que vai perseguir o seu<br />interesse próprio e a ganância do seu amor ao dinheiro para destruir a<br />sociedade. E o ateniense diz: "Bem, deve haver algum caminho".<br /><br />Como é que saímos desta armadilha? E Sócrates disse: "Bem, para<br />começar, vais ter de ter um tipo de governante muito especial. Não vão<br />querer escolher o vosso governante entre as famílias ricas, porque se<br />ele vier de uma família rica, vai crescer com o vício da riqueza, com o<br />vício do dinheiro. O governante ideal não deve ter riqueza própria. E<br />ele descreveu, sabe, como é que se consegue que alguém se liberte desta<br />dívida, desta doença do credor? É disso que se trata a /República./<br />Nunca me disseram uma palavra sobre isso em Chicago. São todos a favor<br />dos credores. Claro que se chamava Universidade Rockefeller. John D.<br />Rockefeller dotou-a de um colégio batista.<br /><br />O colapso da antiguidade.<br /><br />Só me apercebi disso quando comecei a escrever a minha história<br />económica da antiguidade, /O colapso da antiguidade,/ e passei por tudo<br />isto. Tive de voltar a ler todos os dramas e toda a filosofia, e<br />apercebi-me de que o que os atenienses e os espartanos e quase todos os<br />gregos perceberam foi que é preciso ter uma forma de cancelar as<br />dívidas, mas isso exige um sistema político que não permita o<br />desenvolvimento de uma oligarquia.<br /><br />Bem, Aristóteles, o aluno de Platão, estudou com os seus alunos todas as<br />constituições que puderam encontrar na Grécia. E descobriu que todas as<br />constituições se diziam democráticas, mas na realidade eram<br />oligárquicas. O que parecia ser uma democracia era que todos podiam<br />votar, mas o facto de o sistema político estar centralizado nas mãos das<br />classes mais ricas significava que, de facto, era uma oligarquia. E era<br />esse o problema que toda a Antiguidade tinha. Claro que o problema era<br />muito maior em Roma, que fez guerra a Atenas, incendiou-a, destruiu<br />totalmente Esparta no final do século III a.C., e depois começou a<br />avançar para a Macedónia e outras áreas cujos governantes também<br />tentaram cancelar as dívidas para manter a lealdade da população.<br /><br />O resultado foi que, em Roma, os votos eram ponderados de forma muito<br />semelhante à dos Estados Unidos. Os votos das pessoas ricas valiam<br />talvez 10 a 100 vezes mais do que os votos das pessoas mais baixas.<br />Organizavam-se por classes de riqueza, tal como nos Estados Unidos, é a<br />classe dos doadores que decide quanto dinheiro dar aos candidatos<br />políticos e quem conseguir dar mais dinheiro para comprar tempo de<br />televisão, pagar subornos e controlar os seus juízes, ganha. Portanto,<br />estamos exatamente no mesmo tipo de oligarquia. Assim, a Grécia, Roma e<br />toda a sociedade moderna nunca resolveram o problema que os antigos<br />governantes do Médio Oriente resolveram. Hammurabi, os sumérios, os<br />assírios, em todo o Médio Oriente.<br /><br />Acontece que, para ter aquilo que é a democracia económica, a liberdade,<br />a liberdade de não ter de se endividar tanto que acabe por trabalhar<br />para pagar a sua dívida à classe credora, a única maneira é ter uma<br />figura de autoridade central que se comprometa a cancelar as dívidas à<br />oligarquia credora. Bem, isso parece impensável hoje em dia. Chamam-lhe<br />socialismo. E, claro, isso é socialismo. E há um século atrás, pessoas<br />como Karl Kautsky escreviam, bem, sabe, era o Judaísmo original socialista?<br /><br />Bem, em muitos aspectos, houve uma discussão durante séculos, mais de<br />sete séculos, na Judeia e em Israel, sobre a luta entre as pessoas ricas<br />e os credores que queriam monopolizar toda a terra e os devedores. E é<br />por isso que sabemos agora que, como resultado da tradução de toda esta<br />literatura económica babilónica e dos pronunciamentos dos reis que<br />tomavam o trono e proclamavam a liberdade económica, a palavra<br />era /"andorarum"/ em babilónico, que é um cognato da palavra hebraica, /<br />duroor, duroor andororum./ E, mais uma vez, palavra por palavra, era um<br />ano de jubileu. E acontece que o ano do jubileu não era uma ideia<br />utópica que teria simplesmente destruído o equilíbrio económico.<br /><br />A anulação das dívidas preservou o equilíbrio económico. O facto de não<br />cancelar as dívidas levou ao desequilíbrio. E isso foi repetidamente<br />explicado, não só na literatura babilónica e do Próximo Oriente, mas até<br />na Grécia. Havia um manual militar escrito por um homem – penso que os<br />nomes gregos devem ter sido tomados como pseudónimos, ou então, a dada<br />altura da nossa vida, temos um novo nome grego – um homem chamado<br />Tacticus – e ele escreveu um livro sobre a defesa das cidades e o ataque<br />às cidades. E ele disse: como é que um general ataca uma cidade? Qual é<br />a tática? Bem, a primeira coisa que ele disse foi: promete-se aos<br />cidadãos que se vai cancelar as suas dívidas. Eles vão passar para o teu<br />lado. E depois ele disse, como é que se defende uma cidade contra um<br />ataque geral? Promete-se aos cidadãos que se vai cancelar as dívidas.<br />Podem libertar ou não alguns dos escravos, mas de certeza que libertam<br />os obrigados às dívidas. E é isso que se faz. Tudo isso foi tecido no<br />próprio tecido da mentalidade antiga.<br /><br />E o que o nosso grupo de Harvard, que publicou cinco volumes de<br />simpósios, descobriu é que esta ideia de restaurar a ordem económica se<br />baseava na compreensão de que não existe uma economia automática que se<br />auto-corrija, que é o mito dos tempos modernos, promulgado pelos<br />oligarcas que querem desestabilizar a economia. Mas se eles sabem que,<br />se conseguirem convencer-nos de que o que está a acontecer é um processo<br />natural de estabilização da economia, dando-lhes todo o dinheiro e<br />empobrecendo os 90%, então não faremos nada.<br /><br />Todas as pessoas sabem como os hieróglifos egípcios foram traduzidos a<br />partir da Pedra de Roseta. Não sabem que a Pedra de Roseta era a<br />anulação da dívida. Estava a cancelar as dívidas fiscais ao faraó,<br />porque a maior parte das dívidas na antiguidade eram devidas ao palácio.<br />Como eu disse, o palácio estava a cancelar dívidas a si próprio. E o<br />Império Romano, os imperadores, finalmente, no século II e III,<br />cancelavam as dívidas, mas as dívidas que cancelavam eram as dívidas<br />fiscais. Infelizmente, nessa altura, eram principalmente devidas pelos<br />ricos, porque todos os outros estavam falidos. Mas, de alguma forma,<br />este facto não é tido em conta.<br /><br />Há um livro /From Plato to NATO/ <https://books.google.com.au/books/<br />about/From_Plato_to_NATO.html?id=F8S_7oZROWUC&redir_esc=y> que mostra<br />como a reconstrução, a falsa história da antiguidade, a falsa história<br />da filosofia grega e romana, se destinava a apagar o contexto do que era<br />esta filosofia. Quais eram os problemas sociais com que estavam a lidar?<br />E se eles perceberam que a tendência natural das economias é<br />polarizarem-se e tornarem-se instáveis, então é preciso um /deus ex<br />machina./ É preciso que alguém, um governante de fora, se sobreponha e<br />diga: "Muito bem, não vamos sacrificar a economia, polarizá-la e<br />provocar uma idade das trevas só porque apoiamos a ideia de que todas as<br />dívidas devem ser pagas. É mais importante que a sociedade como um todo<br />sobreviva do que que o 1% mais rico da população fique ainda mais rico<br />empobrecendo os 99%. E isso é o que acontece nos primeiros 3 000 anos da<br />filosofia antiga. Nem uma palavra na civilização ocidental.<br /><br />Há este mito de que a civilização ocidental começa por levar todo este<br />contexto económico, financeiro e social para um novo contexto sem nada<br />disto nas oligarquias gregas e romanas, como se a oligarquia tivesse<br />fundado a civilização em vez de fazer tudo o que podia para a destruir.<br />E quando nos apercebemos disso, apercebemo-nos da razão porque hoje a<br />China está a avançar. Porque centralizou a criação de dinheiro, a<br />criação de dívida, a banca e o crédito como uma utilidade pública, como<br />era na Suméria, na Babilónia, na Assíria, em toda a sociedade antiga. É<br />um conceito totalmente diferente de como se estrutura a sociedade. Bem,<br />acho que para si isso seria um problema filosófico. Para mim, era um<br />problema económico, exceto que não há nenhum papel no currículo de<br />economia para o introduzir, porque já não se ensina história económica e<br />já não se ensina a dívida.<br /><br />Bem, o que é que molda o mercado? Havia um mercado no terceiro milénio<br />antes de Cristo. Em todas as economias, alguém tem um mercado. Mas os<br />economistas dizem, não, não, o único mercado é aquele em que não há<br />intervenção do governo, não há controlo governamental dos pesos e<br />medidas, não há prevenção governamental do monopólio, não há preocupação<br />governamental com a ideia comum. Bem, esta é uma filosofia de direita e,<br />francamente, é neofascista e chama-se hoje neoliberalismo ou, pior<br />ainda, libertarianismo.<br /><br />A ideia dos libertários é que é preciso uma economia centralizada, uma<br />economia centralmente planeada, mas os planeadores centrais vão estar na<br />Wall Street, não no governo. Temos de ter tudo no sector privado. Os<br />bancos serão os planeadores. Não se pode ter qualquer regulamentação dos<br />bancos. Deixem-nos ir em frente e empobrecer toda a gente.<br /><br />Os neoliberais e os libertários estão na parte oligárquica da extrema-<br />direita do espetro. E os socialistas, de alguma forma, não perceberam<br />isso. Todos os partidos socialistas da Europa apoiaram o neoliberalismo<br />como se fosse algo tecnológico. Há, portanto, um ponto cego na<br />civilização ocidental, não só no que diz respeito à forma como a<br />civilização começou no antigo Próximo Oriente e se difundiu, mas também<br />no que diz respeito à dinâmica básica que polarizou as economias<br />ocidentais e que está a levar a que as economias ocidentais se polarizem<br />da mesma forma que o império de Roma terminou numa idade das trevas.<br /><br />*Robinson:* Foi uma ótima resposta. Há tanto para mastigar, mas vou dar-<br />me licença. Vou apenas fazer algumas reflexões. Primeiro, rapidamente, a<br />ideia de cancelar as dívidas de um exército adversário ou dos cidadãos<br />de uma nação adversária é simplesmente espantosa. E, claro, isso<br />surgiria algures na História, mas eu nunca tinha pensado nisso antes. E<br />depois a história de Sócrates, na /República./ Faz-me lembrar não um<br />caso contemporâneo de dívida, mas de tributação, embora tenha acabado de<br />se referir à dívida fiscal. Por isso, talvez eu esteja mais perto do<br />alvo do que pensava. Mas, seja como for, um caso em que alguém poderia<br />não querer pagar impostos aos Estados Unidos nos dias de hoje, com base<br />no facto de uma fração dessas receitas poder ir para uma certa guerra<br />que está a decorrer neste momento no Médio Oriente e à qual alguém<br />poderia conscientemente opor-se. Mas, só para resumir, um dos objectivos<br />que apontou na sua resposta de analisar a história da economia é que é<br />uma mina de ouro, não só para casos, mas para ideias e ideias bem<br />sucedidas no caso do antigo Próximo Oriente que são negligenciadas nos<br />círculos económicos académicos contemporâneos, uma vez que mencionou que<br />já não ensinam dívidas ou história económica. E, neste caso, deu-nos uma<br />abundância de provas do êxito da anulação periódica da dívida para<br />manter a economia saudável.<br /><br />*Michael:* Sim.<br /><br />*Robinson:* Muito bem, ótimo. Outra questão maior que me vem à cabeça é<br />que mencionou o socialismo, mencionou o libertarianismo, há o marxismo,<br />há o capitalismo e por aí afora. Gostava de saber se te identificas com<br />algum ismo em particular ou se tens o teu próprio ismo, a tua própria<br />espécie de nome.<br /><br />*Michael:* Acho que você teria de dizer isto, porque muitas pessoas<br />pensam que a esquerda é marxista. Marx viu o problema da dívida. Marx,<br />mais do que qualquer outro economista do século XIX, colecionou todo o<br />tipo de citações que pôde sobre a dinâmica dos juros compostos e a<br />rapidez com que a dívida tende a duplicar. Qualquer taxa de juro tem um<br />tempo de duplicação de alguns anos. Há uma regra dos 72 <https://<br />en.wikipedia.org/wiki/Rule_of_72>. Tenho um capítulo inteiro sobre isto<br />no livro que estamos a discutir hoje. Marx mostrou que haveria uma<br />incapacidade de pagar estas dívidas. E citou, por exemplo, Martinho<br />Lutero. É irónico que, imediatamente após ter lido essa citação no<br />volume três, eu tenha ido comprar uma cópia dos escritos económicos de<br />Lutero, publicados pelos luteranos. E descobri que não tinham os<br />discursos sobre a usura que Marx citou. O único sítio onde se pode ler o<br />que Martinho Lutero escreveu sobre a religião e o papel dos juros é no<br />volume três do /Capital/ de Marx. Os luteranos expurgaram-no. Esse não é<br />o nosso Martinho Lutero! É simplesmente espantoso.<br /><br />Tal como o Padre-Nosso, a partir de Agostinho, quando o cristianismo se<br />tornou a religião romana oficial, a única coisa que Agostinho fez foi<br />seguir o anti-semitismo de Cirilo de Alexandria e dele próprio. Pediu ao<br />exército romano que entrasse e começasse a matar todos os cristãos que<br />encontrasse, os verdadeiros cristãos, os que eram chamados de<br />Donatistas, que não seguiam a liderança romana. E Agostinho disse: o que<br />Jesus escreveu não é sobre a anulação de dívidas, embora o primeiro<br />sermão de Jesus tenha sido: "Ele veio para restaurar o ano do Jubileu".<br /><br />Ele desenrola o rolo de Isaías e diz que veio para fazer isso. Então<br />Agostinho disse, não, não, não se trata de cancelar a dívida. Trata-se<br />de pecado e especialmente de pecado sexual. Vamos fazer com que toda a<br />igreja católica seja sobre o pecado sexual e o egoísmo sexual. E todos<br />nós o temos. O pecado é-nos inato desde Adão. E a igreja disse, isso é<br />ótimo. E podes expurgar o pecado pagando à igreja por uma indulgência<br />que te levará ao céu. Oh, isso é fantástico.<br /><br />Por isso, o Padre-Nosso foi adulterado e passou a dizer: "Perdoa-nos<br />as nossas ofensas, assim como nós perdoámos aos nossos ofensores", ou<br />algo do género. E a palavra em muitas línguas, como o alemão, /schuld,/<br />significa ofensa e também o pagamento para resolver a ofensa, como no /<br />vergild./ Não só em todas as línguas indo-europeias, a palavra para<br />pecado e pagamento de dívidas é a mesma, porque na sociedade europeia<br />antiga, as principais dívidas que as pessoas tinham, não se pedia<br />emprestado para arrendar um terreno ou para viver, mas devia-se dinheiro<br />se se magoasse alguém e se lhe devesse um pagamento para que as coisas<br />ficassem resolvidas e não houvesse disputas entre as famílias, pagando /<br />vergild,/ um pagamento de dívida à parte lesada. Se não a pagasse, a sua<br />família pagava-a, porque não queria que as famílias lutassem entre si<br />numa longa contenda.<br /><br />Bem, a Igreja Católica retirou essencialmente a dívida [da oração] do<br />Padre-Nosso e, no século XIII, na verdade já no século XII, quando a<br />Igreja Romana empreendeu as cruzadas contra os outros cristãos. As<br />pessoas pensam que as cruzadas foram contra o Islão. Foram sobretudo<br />contra os outros cristãos, para os subordinar a Roma. E para combater os<br />cátaros no sul de França, para combater os alemães que resistiam a pagar<br />tributo a Roma, para evitar pagar à principal igreja cristã, a Igreja<br />Ortodoxa Oriental de Constantinopla. Os papas contrataram senhores da<br />guerra para entrar, os normandos. E a Igreja fez um acordo a partir de<br />1050. Em primeiro lugar, no sul da Itália e na Sicília, um acordo que<br />reconheceria Robert Guisgard como rei se prometesse fidelidade para se<br />tornar um estado vassalo romano. Certificar-nos-emos de que a população<br />vos apoia, mas têm de matar todos os cristãos e os verdadeiros cristãos<br />que eram leais a Constantinopla, e têm de matar as zonas bizantinas.<br /><br />Depois, em 1066, fizeram um acordo com outro senhor da guerra,<br />Guilherme, o Conquistador, segundo o qual, vamos dizer que és o rei, mas<br />tens de nos pagar os pence de Pedro e o tributo. E se tiveres de nos<br />pagar o tributo, tens de nos deixar nomear os bispos, para termos a<br />certeza de que não vais ficar com as receitas da igreja para ti, mas que<br />elas serão pagas a nós, os papas. E todo o século XIII foi uma luta<br />entre a aristocracia local e a tentativa de impedir os reis de pedirem<br />dinheiro emprestado aos banqueiros que eram patrocinados pelo Vaticano,<br />por Roma, para emprestarem dinheiro aos reis normandos para combaterem<br />os inimigos de Roma. E foi assim que surgiu a Magna Carta sob o reinado<br />de João e reafirmada sob o seu filho, Henrique III. Para limitar a sua<br />capacidade de endividamento, o Papa, penso que inocente, o Papa<br />Inocêncio III, excomungou todos os que se opunham ao pagamento de juros<br />aos banqueiros, banqueiros italianos, que patrocinaram para fazer os<br />empréstimos ao rei para lutar no Sul de Itália e na Sicília contra os<br />alemães, que haviam ganhado influência na região. Assim, o cristianismo<br />acabou por venerar a dívida e não a sua anulação. Este facto não consta<br />da maioria das histórias das Cruzadas. Mas a primeira cruzada foi contra<br />a Sicília, o Sul de Itália e a Inglaterra.<br /><br />E foi com base nisso que o Papa conseguiu mobilizar exércitos maciços<br />para acabar por atacar Constantinopla e o que é hoje a Jugoslávia, e<br />tomar as igrejas alternativas a Roma. Havia cinco patriarcados:<br />Constantinopla, Alexandria, Antioquia, Jerusalém, e Roma estava no fundo<br />da lista. Foi um desastre durante todo o século X. Até a Igreja Católica<br />diz: "Bem, isto foi a pornocracia, o domínio das meretrizes, quando as<br />famílias locais podiam nomear os seus próprios membros como papas".<br /><br />Estou agora a escrever uma história da dívida, desde as cruzadas até aos<br />tempos modernos, e não me tinha apercebido de como todo o contexto para<br />o reaparecimento da dívida na civilização ocidental foi liderado pela<br />Igreja, culminando com o Papa Leão X, dos Médicis, em 1515, numa grande<br />conferência que legitimou a cobrança de juros desde então. Se olharmos<br />para a história da evolução das economias e da sociedade, do ponto de<br />vista das relações de endividamento, o que é que se passa? Ficamos com<br />uma perspetiva completamente diferente da causalidade e do que tem vindo<br />a moldar a política, o sistema político, o sistema social, a religião,<br />os valores sociais. E apercebemo-nos de que as grandes lutas de todos os<br />concílios da Igreja, as lutas económicas, as revoluções camponesas do<br />século XIV, do século XV em diante, foram todas sobre dívidas. E, no<br />entanto, o tema está hoje tão expurgado do pensamento quanto o falar de<br />sexo antes de Freud. Por isso, o que quero fazer pela dívida é o que<br />Freud fez pelo sexo. É realmente importante.<br /><br />*Robinson:* Isso é espetacular. Por falar em juros compostos e no livro<br />de que estamos a falar hoje, /Killing the Host,/ deve ser óbvio para os<br />nossos ouvintes, pelo título, que a principal analogia que está a fazer<br />é entre algo que se transforma num parasita. Para os nossos ouvintes que<br />possam ter ouvido o acrónimo FIRE /[(Finance, Insurance, Real Estate]/,<br />mas que não estejam familiarizados com ele, o que é hoje o sector FIRE?<br />E em que medida é que o compara explicitamente a um parasita?<br /><br />Michael: Bem, o sector FIRE é o sector das finanças, dos seguros e do<br />imobiliário. E quando fui para a escola para obter o meu doutoramento<br />nos anos 60, os manuais tinham todos imagens felizes de bancos a<br />emprestar dinheiro a uma fábrica. E a fábrica empregava trabalhadores<br />que levavam as suas lancheiras para o trabalho. Depois, os trabalhadores<br />pediam emprestado, gastavam dinheiro e compravam uma casa. E tudo fazia<br />parte de um fluxo circular.<br /><br />Mas não é para isso que os bancos emprestam dinheiro. Os bancos não<br />fazem, nunca fizeram empréstimos para fábricas ou novos meios de<br />produção. Os bancos fazem empréstimos contra garantias. Fazem um<br />empréstimo para comprar uma casa, mas têm as casas como garantia. Fazem<br />empréstimos para que uma empresa compre uma corporação industrial<br />existente, mas não fazem empréstimos para que uma corporação industrial<br />desenvolva o seu negócio e expanda o seu negócio. Isso é normalmente<br />feito através do mercado de acções ou de ofertas públicas iniciais, mas<br />sobretudo através de lucros retidos. As empresas auto-financiam-se, tal<br />como os realizadores de cinema. Muitos cineastas começam por contrair<br />empréstimos contra a casa que a família lhes deixou para obter o<br />dinheiro para fazer um filme e acabam por ter um filme para mostrar aos<br />produtores e tentar avançar.<br /><br />Assim, verifica-se que 80% dos empréstimos bancários são garantidos por<br />bens imobiliários. O maior mercado, desde o terceiro milénio a.C., tem<br />sido o dos empréstimos contra imóveis, contra terrenos. E hoje, isso<br />significa que os juros bancários, o sector financeiro, segurador e<br />imobiliário.... A banca e o sector imobiliário estão em simbiose. Tal<br />como as companhias de seguros que seguram a casa, um banco não lhe dará<br />uma hipoteca a não ser que compre um seguro para ela, normalmente de um<br />amigo do banco. Portanto, fazem todos parte de uma camada financeira. E<br />este empréstimo bancário não aumenta o rendimento, exceto o seu próprio<br />rendimento.<br /><br />Não aumenta a produção porque está a fazer empréstimos. Todas as<br />hipotecas são contra propriedades que já existem, contra casas que<br />existem ou edifícios de escritórios que existem ou empresas que existem.<br />E eles fazem empréstimos para que entrem, quebrem e destruam uma<br />empresa. Fazem empréstimos a uma empresa de capital privado para pedir<br />dinheiro emprestado para comprar a Sears e levá-la à falência. Emprestam<br />o dinheiro para comprar a Toys R Us e levá-la à falência, mas não para<br />aumentar o negócio, apenas para a esmagar, dividir, despedir a mão-de-<br />obra, ou comprar uma empresa e depois despedir a mão-de-obra e<br />transferi-la para o estrangeiro e utilizar mão-de-obra chinesa ou asiática.<br /><br />Assim, o sector bancário é basicamente parasitário, no sentido em que<br />não gera o seu próprio rendimento. O que um empréstimo bancário faz é<br />subir e subir e subir e aumentar o preço que custa comprar uma casa. Os<br />bancos continuam a emprestar cada vez mais dinheiro contra casas. Não<br />vou falar sobre isso. Mas o resultado é que, de alguma forma, em vez de<br />dizerem, bem, o que os bancos fazem é aumentar o montante da dívida que<br />temos de contrair para comprar uma casa própria para viver, aumentam o<br />montante da dívida que uma empresa tem de contrair só para ter dívida.<br />Assim, nenhuma empresa vai querer pedir dinheiro emprestado para se<br />apoderar dela, porque a empresa já tomou a pílula de veneno de se<br />endividar para comprar um concorrente ou qualquer outro uso apenas para<br />pagar dividendos à administração, apenas para se proteger.<br /><br />Portanto, o que se fez foi mudar completamente a forma como as pessoas<br />percepcionam a realidade. Os economistas são ensinados a não compreender<br />como funciona a realidade. Ensinam-lhes ficção científica. Deveria haver<br />um departamento de literatura na secção de humanidades para a ficção<br />científica, porque eles falam de um universo paralelo. Foi então que me<br />deparei com a metáfora do parasitismo. As pessoas pensam no parasitismo<br />como aquilo que os bancos fazem. Eles retiram dinheiro dos nossos<br />rendimentos. Na América e na Europa, temos de pagar cada vez mais do<br />nosso rendimento salarial como juros aos bancos. As empresas têm de<br />gastar cada vez mais do seu rendimento no serviço da dívida. Atualmente,<br />o governo tem de gastar cada vez mais do seu rendimento no pagamento de<br />juros aos detentores de obrigações da sua dívida pública.<br /><br />Como é que se consegue que as pessoas não pensem nisto? Porque é que as<br />pessoas pensam que os bancos são nossos amigos? São eles que nos<br />permitem comprar uma casa, apesar de lhes permitir comprar uma casa que<br />exige que toda a população acabe por pagar cada vez mais do seu<br />rendimento para a habitação. Já não são apenas 25% do seu rendimento,<br />como era a norma para os empréstimos bancários quando eu trabalhava em<br />Wall Street, nos anos 60, mas agora o americano médio tem de pagar 42%<br />do seu rendimento, tudo garantido pelo Estado, para a sua habitação.<br />Portanto, mais do que duplicaram, quase duplicaram, o montante que<br />muitas famílias têm de pagar pela sua habitação e isso é parasitismo.<br /><br />E o que eu percebi é que o parasitismo não está apenas a tirar mais<br />dinheiro, está a apoderar-se do cérebro para que as pessoas pensem que o<br />sector financeiro as está a ajudar e a contribuir para o rendimento<br />nacional e o produto interno bruto. Há alguns anos, o diretor da Goldman<br />Sachs veio a público dizer que os sócios da Goldman Sachs são os<br />trabalhadores mais produtivos dos Estados Unidos. Vejam quanto dinheiro<br />lhes é pago como bónus. Todos os seus bónus são contabilizados como PIB.<br />Todos os juros que as pessoas pagam, os juros são um custo da atividade<br />económica, como se tudo isto ajudasse a atividade económica. Isso é<br />adicionado ao PIB.<br /><br />Se os trabalhadores assalariados se atrasarem na dívida do cartão de<br />crédito e os juros do cartão de crédito disserem: "oh, agora tens de<br />pagar uma taxa de penalização. Estamos a aumentá-la de 19% para 30%.<br />Toda essa percentagem adicional é contabilizada como prestação de um<br />serviço financeiro e é contabilizada como PIB. Assim, o sector<br />financeiro apoderou-se do próprio conceito de crescimento económico, do<br />próprio conceito de PIB e de rendimento nacional, para fazer pensar que<br />sim, os banqueiros e a Goldman Sachs, o sector financeiro, os invasores<br />de empresas, a Blackstone e a BlackRock, estão todos a contribuir para a<br />nossa prosperidade.<br /><br />Bem, o resultado é que temos críticos de direita como Krugman a dizer<br />nos seus editoriais no /New York Times:/ "Como é que o público americano<br />pode ser tão estúpido? Não se apercebem da maravilha que estamos a<br />fazer. Vejam que os ricos estão a comprar iates melhores do que nunca.<br />Estão a comprar casas cada vez maiores. Estão a ficar cada vez mais<br />ricos. Por que é que os eleitores não pensam que estão a sair-se melhor<br />com Biden e os democratas?"<br /><br />Bem, o que Krugman tem é a condição prévia para ser levado a sério. O<br />Prémio Nobel para libertários, para economia neoclássica. A condição<br />para ser um guru económico é não entender como funciona a economia. Se<br />compreendermos como a economia funciona, em grande parte<br />financeiramente, e como o planeamento económico está centralizado no<br />sector financeiro, isso desqualifica-nos. Chamam-lhe "sobrequalificado"<br />ou "sobreeducado". Isso não é economia. Chamamos-lhe uma externalidade.<br /><br />Bem, a dívida é uma externalidade, o aquecimento global é uma<br />externalidade, o crime e os sem-abrigo são uma externalidade. Tudo o que<br />é um problema é chamado de externo ao que a economia trata, que é como<br />podemos ficar mais ricos pedindo emprestado ao banco e endividando-nos<br />ainda mais e o credor ajudar-nos-á.<br /><br />Bem, isto é ficção científica e o parasita apoderou-se do cérebro, no<br />sentido em que se apoderou do financiamento e da dotação das escolas de<br />gestão, das faculdades, para se certificar de que os professores de<br />economia que são nomeados ensinam esta mitologia de como a economia<br />funciona realmente com base na troca direta. Não é preciso olhar para a<br />dívida porque a devemos a nós próprios. Bem, quando a devemos a nós<br />próprios, isso significa que os 99% a devem a nós próprios, os 1%.<br /><br />A leitura de /1984/ ajudar-vos-á a compreender o que Orwell queria dizer<br />com o duplo discurso e o duplo pensamento e tudo isso. É basicamente<br />assim que os licenciados em economia acabam por ser deseducados e são<br />contratados como representantes de relações públicas para o sector<br />financeiro e bancário.<br /><br />*Robinson:* As múltiplas aplicações ou facetas da analogia do parasita<br />tornam-na bastante interessante. Assim, uma ideia a que acabou de<br />aludir, como o cogumelo /cordyceps/ que toma conta do cérebro de uma<br />formiga, o sector FIRE toma conta do cérebro do consumidor. Mas também o<br />vês como um cogumelo que toma conta do cérebro do hospedeiro, o governo?<br /><br />*Michael:* Sim, porque afinal de contas, quem é que o governo vai nomear<br />como funcionários do Tesouro e do banco central? A classe dos doadores,<br />a classe financeira, por exemplo, vai olhar para, bem, quem são os<br />membros do Comité Bancário do Senado e do Comité Bancário da Câmara?<br />Bem, para o Partido Democrata, por exemplo, os presidentes das comissões<br />têm de angariar uma determinada quantia de dinheiro para contribuir para<br />o Comité Nacional Democrata. E quem é que vai angariar mais dinheiro?<br /><br />Bem, os doadores vão dizer: "Bem, agora temos o nosso homem, ou a nossa<br />mulher, a dirigir o comité bancário. Vamos certificar-nos de que damos<br />muito dinheiro à campanha dele. E se o chefe dessa comissão fizer algo<br />de que não gostamos, daremos contribuições para a campanha do seu<br />opositor, quer seja um democrata ou um republicano. Não importa. Têm uma<br />retórica diferente, mas ambos representam a classe dos dadores. O mesmo<br />se passa com os produtos farmacêuticos. As empresas farmacêuticas<br />decidirão, sabe, quem queremos que seja o presidente da comissão, o<br />complexo industrial militar decidirá, quem queremos que seja o<br />presidente das comissões dos negócios estrangeiros e militar? Queremos<br />que os nossos homens estejam lá.<br /><br />Tweedle Dee, Tweedle Dum.<br /><br />Portanto, essencialmente, temos uma privatização e uma financeirização<br />das comissões do Congresso que fazem as leis, que nomeiam a burocracia,<br />que aplicam ou não aplicam as leis. E tudo isto é invisível. Chamam-lhe<br />democracia, porque os americanos votam em quem conseguiu angariar mais<br />dinheiro da classe dos doadores, mas o jogo já está decidido. Eles têm<br />uma escolha Tweedle Dee, Tweedle Dum <https://en.wikipedia.org/wiki/<br />Tweedledum_and_Tweedledee>. E, independentemente de quem escolherem,<br />será quem a classe dos doadores selecionou para os representar no<br />Congresso, num partido ou noutro.<br /><br />*Robinson:* Bem, agora que já falámos bastante sobre o lado do parasita,<br />agora o hospedeiro. Portanto, /Killing the Host,/ o hospedeiro é a<br />economia. O que é que constitui a morte do hospedeiro? É um crash<br />financeiro ou é apenas um sintoma da doença do hospedeiro?<br /><br />*Michael:* Bem, o crash normalmente acaba com o parasitismo porque o<br />crash também derruba o parasita. Na natureza, um parasita inteligente<br />quer manter o hospedeiro vivo até ao fim e é nessa altura que põe os<br />ovos e estes comem o corpo do hospedeiro. A economia utiliza, de facto,<br />no seu vocabulário, a palavra país de acolhimento. Um país anfitrião<br />para os investidores é um país que permite que os investidores<br />estrangeiros comprem as suas infraestruturas ou as suas empresas, a fim<br />de ganharem controlo sobre elas.<br /><br />Assim, o país deixa entrar uma empresa americana ou europeia e a filial<br />americana pede dinheiro emprestado a um banco americano ou talvez a um<br />consórcio de bancos europeus e pede o dinheiro emprestado para investir<br />e, essencialmente, não paga impostos ao governo do país anfitrião,<br />porque finge que pede o dinheiro emprestado a uma filial totalmente<br />detida no estrangeiro, num país que não tem qualquer imposto sobre o<br />rendimento.<br /><br />Pode ser a Libéria, pode ser o Panamá, um país que não é um verdadeiro<br />Estado, que nem sequer tem a sua própria moeda, o que representaria um<br />risco de desvalorização, mas que utiliza o dólar americano como moeda.<br />Por isso, essencialmente, o governo está faminto de dinheiro. E o Fundo<br />Monetário Internacional e o Banco Mundial encorajarão os países a<br />desenvolverem exportações que, por exemplo, exportações de plantações e<br />produtos agrícolas tropicais, que não competem com os produtos<br />americanos, basicamente, não cultivando os seus próprios alimentos. O<br />FMI e o Banco Mundial incentivam um perfil de endividamento que acaba<br />por levar os países a pedir cada vez mais dinheiro emprestado a fim de<br />manter a sua taxa de câmbio.<br /><br />E o FMI subsidiará um país que está a ir rapidamente para a ruína, como<br />diria Adam Smith. Continuará a emprestar-lhes dinheiro desde que sigam<br />políticas que enriqueçam as corporações americanas e os seus países, ou<br />que contribuam para o tipo de especialização mundial do trabalho que os<br />estrategas económicos americanos querem ver, a fim de tornar a América a<br />nação indispensável, a única nação que pode destruir outras economias se<br />os americanos decidirem impor sanções ou ir para a guerra ou financiar<br />mudanças de regime ou assassinatos políticos ou fazer-lhes o que fizeram<br />na Guatemala, nos anos 50 no Irão, em 1954 na Líbia, e garantir que o<br />mundo continua dependente dos Estados Unidos.<br /><br />Assim, os países têm de se endividar cada vez mais. Têm de pedir mais e<br />mais dinheiro emprestado aos detentores de obrigações. E estamos a ver<br />isso na Argentina hoje em dia. A Argentina, uma e outra vez, é governada<br />provavelmente pela oligarquia mais à direita da América Latina. Talvez<br />seja a oligarquia mais à direita do mundo nos últimos 100 anos,<br />certamente, ainda mais do que o Chile de Pinochet. E estão a ter um caso<br />perdido.<br /><br />A oligarquia basicamente tributa a economia como um todo de forma tão<br />pesada que não consegue ter a sua própria indústria. Não pode ter a sua<br />própria agricultura independente. E toda a dívida é contraída em dólares<br />americanos para manter a capacidade de reembolsar os detentores de<br />obrigações. Bem, os detentores de obrigações ianques que estão a ser<br />atacados a toda a hora na imprensa são, na realidade, os próprios<br />argentinos que estão a operar offshore nas Antilhas Holandesas e no<br />Panamá e noutros locais, detendo as obrigações argentinas em dólares<br />estrangeiros, fingindo que, oh sim, estes dólares são horríveis, mas os<br />seus detentores de obrigações americanos têm medo de comprar a dívida<br />argentina porque, compreensivelmente, estão a olhar para estas<br />estatísticas como eu olhei há 50 anos, há 60 anos, e a dizer que, bem,<br />não há maneira de eles poderem pagar a menos que a América lhes<br />empreste. Tudo não passa de uma bolha artificial.<br /><br />Basicamente, os países são mantidos à tona até que finalmente estejam<br />prestes a afundar-se. E é nessa altura que o FMI fala com os oligarcas e<br />diz: "Bem, não podemos fazer mais empréstimos a eles. Tirem o vosso<br />dinheiro daqui agora. Vamos fazer, emprestar dinheiro suficiente à<br />Argentina ou ao Chile ou a outros países para apoiar a moeda. Transfiram<br />o vosso dinheiro da moeda local para dólares o mais rápido possível. E<br />depois puxamos a ficha e deixamos a moeda entrar em colapso. E claro que<br />depois, porque sabemos que vão ser destituídos do poder por um grupo<br />socialista. E então eles dirão, vejam como a economia está a entrar em<br />colapso. Não consegue pagar as dívidas porque não lhe estamos a<br />emprestar dinheiro.<br /><br />Como se só emprestássemos dinheiro a governos neofascistas de direita. E<br />se não fores fascista, não recebes o dinheiro. Esse é o princípio básico<br />de Janet Yellen. Se não tivermos uma oligarquia, não recebemos o<br />dinheiro. Se tentarem a reforma agrária, faremos convosco o mesmo que<br />fizemos com a Guatemala. Não recebem dinheiro, mudam o regime.<br />Essencialmente, espremem-nos até que, finalmente, as pessoas estejam tão<br />desesperadas que votam num maluco como o Sr. Miley na Argentina, que vai<br />dizer, bem, sabe, que se lixe, vamos adotar o dólar americano. Vamos<br />voltar a usar dólares porque assim os ricos não perdem dinheiro nenhum.<br />Para vocês, os 99%, é indiferente porque não têm poupanças. Mas nós<br />queremos dolarizar para não termos de nos preocupar com as taxas de<br />câmbio, o país é completamente um caso perdido.<br /><br />E, como mencionei, isto remonta a cem anos atrás. Herman Kahn, o meu<br />antigo chefe no Hudson Institute, costumava dizer que os anos 50 e 60<br />foram realmente um período fantástico e, no entanto, havia um mal-estar<br />nessa altura. As pessoas não se apercebiam de como era bom. Um país<br />apercebeu-se de como era bom. Foi a Argentina, porque eles não eram<br />bons. Não estavam a receber nada disso. E, de facto, nos anos 1910,<br />1920, antes da Primeira Guerra Mundial, toda a gente pensava que a<br />Argentina ia acabar por ser o país mais rico do mundo. Tinha tudo, um<br />ótimo ambiente, terras ricas, manadas de gado, parecia ter tudo. Mas<br />também tinha uma classe dirigente verdadeiramente parasitária. E era<br />fascista antes de haver fascismo. E sempre houve um estrangulamento na<br />Argentina.<br /><br />A Argentina é um caso em que não há solução para o problema económico na<br />estrutura existente da economia e da sociedade. Seria necessária uma<br />revolução maoísta para limpar esta oligarquia e, de alguma forma,<br />permitir que a Argentina usasse a sua terra, o seu petróleo, as suas<br />matérias-primas, os seus direitos minerais, tudo para a economia em<br />geral, para a população em geral. Mas não o vai fazer porque os<br />americanos financiaram um enorme programa de terrorismo na sequência de<br />Pinochet nos anos 70, terrorismo em massa e assassínio em massa de<br />líderes trabalhistas, de economistas progressistas, de reformadores<br />agrários e, essencialmente, qualquer tentativa de reforma económica<br />progressista na Argentina é uma pena de morte. Portanto, para responder<br />à sua pergunta, é o que acontece quando finalmente o parasita se<br />apercebe de que tem tudo o que pode, deixa a economia morrer, corta-a e<br />tira o que pode e transfere o seu dinheiro da Argentina para novos<br />países, para África, para a Ásia e repete o processo.<br /><br />*Robinson:* Tomando um país como a Grécia, por exemplo, penso que a<br />sabedoria convencional é que se cura uma economia alienígena com medidas<br />de austeridade. E eu pergunto-me onde é que vê as medidas de austeridade<br />nesta história que acabou de contar. E se elas não são a solução, então<br />qual é?<br /><br />*Michael:* Bem, o papel da austeridade é impedir o crescimento<br />económico. O papel da austeridade é, em primeiro lugar, impedir que os<br />trabalhadores aumentem os seus salários. Uma das principais coisas com<br />que os mutuários do FMI têm de concordar é com o facto de se acabar com<br />o movimento sindical. O National Endowment for Democracy americano<br />entrará em cena e fará o que as democracias fazem. Matam-se os líderes<br />sindicais e as suas organizações. A austeridade impede o crescimento de<br />um mercado interno que permita o arranque de uma indústria nacional,<br />porque não há mercado, porque a austeridade empobrece a economia, de<br />modo que os assalariados não têm dinheiro para comprar o que produzem<br />(se é que algum empregador tentaria produzir bens industriais).<br /><br />A austeridade mantém a dependência dos outros países em relação aos<br />Estados Unidos e impede que o seu crescimento económico possa competir<br />de alguma forma com a América e os seus Estados clientes, que costumavam<br />ser a Europa, até que a América decidiu que seria melhor acabar também<br />com a Europa ao estilo argentino.<br /><br />*Robinson:* Bem, talvez voltando ao caso dos Estados Unidos e do sector<br />FIRE. Penso que da última vez discutimos o facto de que provavelmente<br />haveria, ou haveria certamente, uma imensa oposição à redução maciça da<br />dívida que exigiria uma revolução política séria. Mas algo de que não<br />falámos é como deveria ser o sector FIRE. Partindo do princípio de que<br />houve uma redução da dívida e que a dívida dos estudantes, todas estas<br />dívidas imobiliárias, este tipo de coisas foram anuladas, como<br />evitaríamos que isto voltasse a acontecer? Como deve ser o sector FIRE<br />daqui para a frente?<br /><br />*Michael:* Bem, é exatamente sobre isso que Adam Smith, John Stuart<br />Mill, Ricardo, Marx, Alfred Marshall, toda a economia política britânica<br />do século XIX, a economia clássica, se debruçaram. É por isso que não é<br />ensinada. É por isso que não há mais história do pensamento económico no<br />currículo de ciências económicas, porque eles discutiram o assunto e<br />resolveram praticamente o problema.<br /><br />Disseram que o que temos de fazer para evitar isto e para permitir o<br />crescimento do capitalismo industrial é livrarmo-nos dos restos do<br />feudalismo. Os parasitas de Adam Smith, os fisiocratas franceses que o<br />antecederam e os socialistas britânicos que se lhe seguiram eram<br />proprietários de terras. Estes são os herdeiros hereditários dos<br />senhores da guerra que foram patrocinados pela Igreja Católica para<br />conquistar a Inglaterra, herdaram a terra e cobraram rendas. E Mill<br />disse: "Eles fazem rendas enquanto dormem".<br /><br />Bem, a política comum apoiada por toda a economia clássica e, de facto,<br />foi também, a primeira plataforma do /Manifesto Comunista/ foi um<br />imposto sobre a terra. O valor do preço da terra tem aumentado e<br />aumentado à medida que as comunidades se tornam mais prósperas, à medida<br />que a renda da localização sobe, à medida que a vida num bom bairro com<br />escolas, museus e parques aumenta. O preço, o que as pessoas estão<br />dispostas a pagar e as rendas aumentam. Mas não se quer que isso seja<br />pago a uma classe de proprietários, porque eles usam-nas para comprar<br />mais terrenos. Esta deveria ser a base tributária natural. Atualmente,<br />as pessoas associam este nome a Henry George, que foi um jornalista<br />americano que o promoveu, mas foi a base de toda a economia clássica,<br />que se baseava na teoria do valor e do preço. E a distinção entre valor<br />e preço era que o preço era o excesso de valor que representava a renda<br />económica. O valor era o custo de produção. Mas a terra não tem um custo<br />de produção. A natureza produz terra e o proprietário terá o privilégio<br />de cobrar uma renda sobre ela. Mas esta renda, porque não é produtiva, é<br />um rendimento não ganho. Esta renda é uma base fiscal natural.<br /><br />E já em 1913, nos Estados Unidos, no final do ano, quando introduziram a<br />lei do imposto sobre o rendimento no início da Primeira Guerra Mundial,<br />pouco depois, apenas 1% da população americana tinha de apresentar uma<br />declaração de imposto sobre o rendimento, porque o corte só começava<br />quando se era suficientemente rico para se ser um proprietário rico ou<br />um banqueiro.<br /><br />Os rendimentos financeiros, dos seguros e do sector imobiliário eram<br />basicamente as únicas formas de rendimento que eram tributadas. E a<br />economia clássica dizia basicamente: "Bem, não queremos uma classe de<br />proprietários. Não queremos uma classe bancária predadora que não ganha<br />dinheiro para ajudar a economia a crescer, mas que é apenas exploradora.<br />Por isso, os bancos devem ser de utilidade pública. A terra deve ser um<br />bem de utilidade pública. E a habitação deveria ser um direito humano. E<br />os seguros deveriam ser basicamente públicos. E os monopólios não devem<br />ser privatizados, porque se tivermos um monopólio e, normalmente, os<br />bancos insistirão para que os governos paguem a sua dívida criando<br />monopólios para vender. Foi assim que a Inglaterra criou a Companhia das<br />Índias Orientais e Ocidentais, a Bolha dos Mares do Sul em França, a<br />Bolha do Mississipi de John Law e o Banco de Inglaterra foi um monopólio<br />bancário criado para vender 1,2 milhões de libras esterlinas para pagar<br />a dívida de guerra da Grã-Bretanha.<br /><br />Assim, a ideia da economia clássica é que as economias devem basear-se<br />no valor e não na renda. Livramo-nos das classes rentistas, da classe<br />dos proprietários, da classe monopolista e da classe financeira. E foi<br />aí que todos se intitularam socialistas, de uma forma ou de outra, no<br />último quartel do século XIX. Havia o socialismo cristão, o socialismo<br />marxista e até o socialismo libertário. Havia o socialismo utópico, o<br />socialismo científico. Quer dizer, basta pesquisar no Google para<br />encontrar todos os tipos diferentes. Mas o denominador comum de todos<br />eles é a tributação da renda económica.<br /><br />Se a renda económica do aumento da localização for paga como impostos,<br />então não estará disponível para ser paga aos bancos. Bem, atualmente, a<br />América e a Europa já não têm uma classe de proprietários hereditários.<br />O que eles têm é uma classe financeira hereditária. Os proprietários<br />acabaram por se tornar banqueiros e financeiros. Eles venderam a terra.<br />E agora qualquer pessoa pode comprar terra. Não é preciso ter um<br />antepassado que tenha matado a população local para ficar com ela.<br />Podemos comprar a nossa própria casa e terra, mas temos de pedir<br />dinheiro emprestado para o fazer. Assim, no sector bancário atual, os<br />bancos estão na mesma posição em que estavam os proprietários de terras<br />em meados do século XIX.<br /><br />O ideal seria a ideia de Adam Smith de um mercado livre, um mercado<br />livre de rendas económicas, um mercado livre de senhorios, um mercado<br />livre de monopólios, um mercado livre de um sector bancário predatório.<br /><br />Bem, agora que temos o currículo económico atual que expurgou toda esta<br />discussão sobre a filosofia económica clássica, redefiniram o que é um<br />mercado livre. Um mercado livre de regulamentação governamental, um<br />mercado livre de regulamentação anti-monopólio governamental, um mercado<br />livre de impostos sobre a terra para que o valor económico da renda seja<br />pago à classe bancária que lhe empresta dinheiro para fazer subir o<br />preço da terra. E os banqueiros estão a desempenhar o mesmo papel<br />parasitário que os proprietários de terras desempenharam no século XIX.<br /><br />Se lermos Adam Smith e John Stuart Mill, Princípios de Economia<br />Política, e algumas das suas aplicações à filosofia social, apercebemo-<br />nos de como Marx estava simplesmente no rastro da economia clássica. E<br />ele como que refinou a análise económica clássica. E é disso que tratam<br />os volumes dois e três de /O Capital,/ a teoria da renda e a teoria da<br />dívida. A teoria financeira é basicamente a teoria da dívida. E é por<br />isso que a luta contra o marxismo não é só contra Marx, é contra Adam<br />Smith. É contra John Stuart Mill. É contra toda a reforma económica<br />clássica do século XIX da própria economia científica.<br /><br />*Robinson:* Uau. Bem, mais uma vez, Michael, tal como na nossa última<br />discussão, o seu conhecimento enciclopédico destas questões é bastante<br />surpreendente para quem está do outro lado. E, mais uma vez, muito<br />obrigado por ter tido tempo para ter esta conversa comigo.<br /><br />Em<br /><b>Resistir.info</b><br /><a href="https://www.resistir.info/m_hudson/divida_10mar24.html">https://www.resistir.info/m_hudson/divida_10mar24.html</a><br />10/3/2024<br /><br /></p>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-56385931334982707522024-03-14T06:21:00.000-07:002024-03-14T06:21:24.875-07:00 «É na luta nas empresas que se dá o verdadeiro confronto de classes»<p> <br /><br />Por António Azevedo <br /><br /><br />O /AbrilAbril/ esteve à conversa com Tiago Oliveira, o novo secretário-<br />geral da CGTP-IN. Na conversa foi abordado o novo quadro que saiu das<br />eleições do passado domingo, as repostas que se devem dar e os desafios<br />que se colocam. Intensificar a luta é o caminho.<br /><br /><br />Tiago Oliveira foi eleito secretário-geral da CGTP-IN há cerca de duas<br />semanas. A sua eleição ocorreu num quadro de correlação de forças<br />diferente do actual, que mudou radicalmente em pouco tempo. O recém-<br />eleito secretário-geral não nega que a nova composição da Assembleia da<br />República traduz perigos, mas assinala que é com os trabalhadores,<br />mesmo com aqueles cujas opções de voto não traduzem a sua situação<br />social, que se tem que intensificar a luta.<br /><br />Desde a actual situação política, económica e social, os desafios que<br />estão colocados à CGTP-IN e as tarefas que se colocam, Tiago Oliveira<br />vinca que a solução passa pelo desenvolvimento da luta nos locais de<br />trabalho.<br /><br />A tarefa não se avizinha fácil, mas é o próprio que relembra todo o<br />património histórico de luta, intervenção e resistência da central<br />sindical de classe que é a salvaguarda para todos os embates que se<br />aproximam. <br /><br /><br /> Foste eleito há duas semanas e entretanto a correlação de forças<br /> na Assembleia da República alterou-se com o resultado das eleições<br /> de dia 10. Consideras que a CGTP-IN está preparada para dar<br /> resposta ao perigo que se coloca?<br /><br />Se há algo que a CGTP-IN afirmou ao longo dos seus 53 anos de<br />existência, é uma capacidade de resistência, de intervenção, de<br />persistência, de mobilização dos trabalhadores nos locais de trabalho,<br />que atestam que temos todas as condições para continuar a trilhar este<br />caminho em defesa dos interesses, das justas aspirações dos<br />trabalhadores. Não é a alteração do quadro político de domingo que irá<br />alterar a nossa postura, nem a nossa presença nos locais de trabalho,<br />que isso é que é fundamental.<br /><br />Temos que fazer aquilo que sabemos, que é a discussão com os<br />trabalhadores, a mobilização dos trabalhadores, discutir o problema<br />concreto que aflige cada um no seu local de trabalho, e saber dar as<br />devidas respostas. E essa resposta dá-se com a participação deles, com a<br />discussão no coletivo, e no coletivo, encontrando as respostas necessárias. <br /><br /><br /> Num quadro onde as forças reaccionárias ganharam bastante força, a<br /> luta concreta e imediata ganha ainda mais importância nesta fase?<br /><br />O quadro que saiu das eleições do passado domingo é um quadro<br />preocupante e a gente não pode escamotear isso, nem pode deixar de fazer<br />uma avaliação concreta daquilo que foram os resultados eleitorais.<br /><br />Obviamente, remetendo isto para uma maioria de direita, e analisando<br />aquilo que foram as políticas de direita, sempre que estiveram no<br />governo. No período da Troika, aquilo que foi a retirada de direitos aos<br />trabalhadores, o ataque aos salários, o ataque às pensões, o ataque com<br />a retirada de feriados e de férias, achar que a direita alterou aquilo<br />que é o seu objectivo concreto, não alterou. Temos que estar preparados<br />para dar combate àquilo que são políticas de retirada de direitos,<br />àquilo que são políticas de ataque aos direitos dos trabalhadores,<br />àquilo que são políticas de ataque às funções sociais do Estado. Isto<br />vai exigir muito dos trabalhadores, deste coletivo, daqueles que no<br />domingo exerceram o seu direito de voto. Contamos com o seu poder para<br />continuar a trilhar este caminho.<br /><br /><br /> Os votos que a direita conseguiu, a maioria que a direita<br /> conseguiu obter, foi em grande parte também com votos de<br /> trabalhadores. Isto é inegável. Foram os próprios trabalhadores a<br /> dar esta maioria à direita. Como é que encaras este aspecto, até<br /> do ponto de vista da luta, uma vez que, em última análise, é<br /> sempre com ele que nós contamos nas fileiras da luta?<br /><br />Acho que colocaste as coisas na formulação completamente correcta. Nós<br />temos que fazer uma avaliação do porquê deste resultado eleitoral e a<br />primeira avaliação que é feita é que de facto, se olharmos, nós temos<br />uma viragem à direita proveniente do governo de maioria absoluta do<br />Partido Socialista. E isto não é pequena esta observação. Não é pequena<br />porquê? Porque se nós olharmos para aquilo que foi a partir de 2015, com<br />os avanços que se alcançaram, com a recuperação dos direitos e<br />rendimentos, houve uma valorização dessa política por parte dos<br />trabalhadores e do povo português. Portanto, houve uma valorização dessa<br />política. Não vale a pena agora estar aqui a dar nota se o PS, na<br />altura, se apoderou de políticas que não eram deles, mas o facto é que o<br />povo, valorizando uma política de recuperação de rendimentos e de<br />direitos, soube valorizar aquilo que foi essa política, e por isso é que<br />o povo, obviamente, no contexto histórico da altura, e valorizando essa<br />recuperação, votou da forma que votou, dando a maioria absoluta ao<br />governo do PS.<br /><br />A questão aqui é: porque é que falhou para agora haver esta viragem à<br />direita? E a falha tem que estar identificada. E está identificada. Nós<br />não podemos pensar que o povo não sente na pele aquilo que são as<br />políticas colocadas em prática. Nós tivemos, neste período, um conjunto<br />de problemas que recaíram sobre os trabalhadores e aos quais o governo<br />não deu resposta. A questão da crise da habitação e do aumento das taxas<br />de juros: como é que é possível termos trabalhadores com aumentos<br />brutais na sua renda e chegarmos ao fim do mês, vermos que não temos<br />dinheiro para pagar a casa e termos uma concentração de milhares de<br />milhões de euros diárias pelo sector da banca? <br /><br />Como é que é possível estarmos perante um brutal aumento de custos de<br />vida e aqueles que nos vendem o azeite a 10 euros são os mesmos que<br />diariamente têm 2 milhões de euros de lucro? A Jerónimo Martins tem um<br />lucro diário de dois milhões de euros quando há gente que não consegue<br />comprar o azeite, fazer face às despesas diárias. <br /><br />Como é que nós vemos uma política de completo desinvestimentos do<br />Serviço Nacional de Saúde, em que metade do orçamento do SNS vai para os<br />grupos privados e aquilo que fica para o sector do Estado, muito dele é<br />cativado pelo Estado? Depois, quer dizer, não há resposta do SNS, não<br />temos médicos, não temos enfermeiros, não temos equipamentos. Então as<br />pessoas não sentem isto? Claro que sentem isto.<br /><br /><br /> Achas que é um sentimento de revolta mal direccionado?<br /><br />Não diria mal direcionado. Sinto que é um sentimento de revolta, é um<br />sentimento de frustração, é um sentimento daqueles que diariamente<br />precisam de fazer face às suas dificuldades de vida e precisam de resposta.<br /><br />Eu queria até dar aqui um exemplo concreto que acho que é importante. Na<br />empresa em que trabalho, há um mês atrás, estávamos a fazer um plenário<br />e houve um trabalhador, um jovem trabalhador, que disse que teve quase<br />400 euros de aumento na prestação da casa. E ele perguntou-me onde é que<br />se vai buscar esse dinheiro. Eu sou trabalhador e coloco isto assim<br />diretamente na empresa. Eu sou trabalhador, só posso ir buscar dinheiro<br />ao meu trabalho. Se eu só tenho como ferramenta o meu trabalho, tenho<br />que ir buscar dinheiro ao meu trabalho, tenho que ir buscar dinheiro à<br />empresa, com acção reivindicativa, à luta pelo aumento dos salários.<br /><br />Quero dizer com isto o quê? Não é que seja mal direccionado. Nós também<br />não podemos esquecer aquilo que foi uma completa promoção mediática por<br />parte do capital, como é óbvio, aquilo que foi uma promoção mediática de<br />um partido como o Chega, que tem uma política completamente de vazio, no<br />vazio, sem proposta ou com propostas que não passam para fora as reais<br />intenções e que obviamente com esta promoção capitalizou muito o voto do<br />descontentamento. Medidas populistas, medidas de combate à corrupção<br />(obviamente com aquilo que a gente sabe que está por trás deste<br />partido), mas que acho que há um bocado colocaste as coisas no sentido<br />certo. São estes trabalhadores que hoje deram este passo, mas que amanhã<br />vão estar connosco à porta da empresa, na rua, a lutar por melhores<br />condições de vida e trabalho.<br /><br /><br /> Só virando um bocado a página, ao longo destes últimos tempos, o<br /> capital tem até acentuado uma linha narrativa sobre o movimento<br /> sindical, especialmente a CGTP e o Movimento Sindical Unitário, de<br /> não estar adaptado aos novos tempos. Vem até com o conceito vazio<br /> do «sindicalismo moderno» que ninguém sabe bem descrever o que é.<br /> Mas face a isto, consideras que, apesar de tudo, a CGTP tem de se<br /> reforçar num conjunto de áreas? Pergunto-te isto porque há cada<br /> vez mais trabalhadores em teletrabalho e em plataformas digitais.<br /><br />Primeiro dizer-te que costuma-se utilizar muito o palavreado da<br />«cassete». Dizem muitas vezes «a vossa cassete é sempre a mesma». Também<br />estou à espera que um dia o capital mude de cassete, porque nós temos 40<br />anos de política de direita e a cassete do capital nunca mudou. Estão<br />sempre à procura de mais apoios do Estado, sempre à procura de<br />alterações da legislação laboral que supostamente respondam às<br />pretensões do patronato. E o que é certo é que passados 40 anos de<br />política de direita e a cassete é sempre a mesma. Os problemas dos<br />trabalhadores mantêm-se, nunca se alteraram - baixos salários, mais<br />precariedade, desregulação dos horários de trabalho, tentativa de<br />normalização do trabalho ao sábado, domingo e feriado… Com tantas<br />políticas que supostamente iriam permitir ao país alavancar para a<br />frente, passados 40 anos estamos exatamente num processo de regressão<br />naquilo que são os direitos dos trabalhadores.<br /><br />Quanto às cassetes, a CGTP-IN que mantém a sua, estamos do lado certo.<br />Não mudaremos nunca a nossa cassete porque entendemos que temos que dar<br />resposta aos problemas concretos dos trabalhadores.<br /><br />Relativamente às novas formas de trabalho, também não esquecer quem é<br />que as promove e com que intuito as promove. Se a gente olha para aquilo<br />que são as novas formas de trabalho, a questão do teletrabalho ou da<br />uberização, obviamente isto são ferramentas do capital com um objectivo<br />muito concreto de fragilização das relações de trabalho. A questão da<br />tentativa de individualizar a relação de trabalho, a tentativa de<br />desconstruir o espírito de colectivo e de unidade que está inerente aos<br />trabalhadores, e obviamente isto seria hipócrita da minha parte dizer<br />que isto não tem impacto na actuação sindical e no trabalho colectivo<br />que os sindicatos têm a obrigação de realizar. <br /><br />Temos que ter a capacidade de chegar a esses trabalhadores e procurar as<br />melhores formas de chegar a esses trabalhadores, utilizando as mais<br />variadíssimas ferramentas, mas sempre com um objectivo muito concreto<br />que não é estarmos apenas a adaptar as novas formas de trabalho, mas sim<br />discutir com os trabalhadores o porquê que de elas existirem, qual é o<br />intuito dessas formas de trabalho e procurar, de certa forma, ganhar os<br />trabalhadores para a luta em prol de um futuro melhor para eles. <br /><br />Um trabalhador que esteja hoje em dia numa plataforma digital é um<br />trabalhador que tem muitas mais dificuldades reivindicativas, é um<br />trabalhador muito mais explorado, que não tem horários de trabalho, não<br />tem um conjunto de salvaguardas no seu futuro que lhe permitam ter<br />perspectiva de vida. Aquilo que a gente defende é que esse trabalhador<br />deve estar integrado na empresa para a qual presta serviço, na empresa<br />para a qual trabalha. Portanto, há aí um conjunto de manobras do capital<br />que têm em vista, muito concretamente, a individualização das relações<br />de trabalho, a destruição do espírito coletivo. Na nossa parte o que<br />temos que fazer é estarmos presentes.<br /><br /><br /> Estamos a ter esta discussão toda, já abordámos a alteração da<br /> correlação de forças e estes desafios que se colocam. Agora, a<br /> CGTP-IN tem a exigência de Salário Mínimo Nacional de 1000€ para<br /> este ano, uma actualização de 150€ para todos os trabalhadores,<br /> mas paralelamente nós vemos à esquerda um conjunto de cedências,<br /> um recuar nestas reivindicações e até colocam reivindicações<br /> abaixo do que é proposto. Como é que a CGTP vê isto? As exigências<br /> mantêm-se para este ano?<br /><br />A questão fundamental, deixa-me colocar as coisas assim, só para se ter<br />a noção da dimensão da responsabilidade da CGTP, foi a CGTP ter sido a<br />primeira força que avançou com a proposta de salário mínimo para 1000<br />euros para este ano, o que permitiu que, durante a própria campanha<br />eleitoral, este tema fosse um tema tangente na discussão entre os<br />partidos. Logo a partir daí, começaram a surgir diversas discussões em<br />torno do aumento do salário mínimo, obviamente partidos que avançam com<br />a sua proposta apenas de concretização para 2028, mas o que é certo é<br />que quem colocou a questão fundamental do aumento real dos salários foi<br />a CGTP e isto tem a sua dimensão.<br /><br />Fundamentalmente a gente tem é que olhar para aquilo que é a realidade<br />no dia-a-dia das pessoas, da maioria das pessoas, não é olhar para a<br />realidade daqueles que são os muito poucos que ganham muitos milhões.<br />Temos que olhar para a realidade dos muitos milhões que têm muito pouco.<br />As dificuldades do dia-a-dia persistem. As pessoas têm dias a mais no<br />mês para o dinheiro que recebem, para o salário que recebem. As pessoas<br />que não têm resposta aos seus problemas concretos. As pessoas têm<br />dificuldades tremendas para ter uma vida digna.<br /><br />Dizer que a nossa reivindicação vai mudar de alguma forma? Não, pelo<br />contrário. Mais razão ganha dela existir. A questão do aumento do<br />salário mínimo em 1000 euros ainda para este ano e a questão do aumento<br />geral dos salários de 150 euros para todos os trabalhadores. E isto tem<br />uma questão social profunda que é de responder aos problemas concretos<br />que existem.<br /><br />Basta ir na rua, olhar para a cara das pessoas, falar com as pessoas,<br />sentir os problemas que são diários para perceber o real problema e a<br />real dimensão que existe na vida de cada um.<br /><br /><br /> Para finalizar: o que é que se coloca agora? O que é que está em<br /> perspectiva agora e para os próximos meses na agenda da CGTP-IN?<br /><br />A perspectiva agora e para os próximos meses é a continuação da acção<br />reivindicativa, concretamente nas empresa e locais de trabalho e local<br />de trabalho, garantindo que vamos discutir com o máximo de trabalhadores<br />aquilo que são as linhas orientadoras que saíram do 15.º Congresso, as<br />reivindicações centrais da CGTP-IN, e impulsionar os trabalhadores para<br />a luta concreta na empresa. É aí que se dá o verdadeiro confronto de<br />classes, sem nunca esquecer uma questão fundamental: é na empresa que se<br />dá o verdadeiro confronto, mas se as empresas praticam o que praticam é<br />por força de políticas que foram instituídas e são implementadas pelos<br />governos. Por isso nós temos que ter essa ligação constante entre aquilo<br />que é a posição de uma empresa e aquilo que permitiu à empresa ter essa<br />posição.<br /><br />Mas fundamentalmente é discutir com os trabalhadores a acção<br />reivindicativa e, no quadro que saiu das eleições do dia 10 e daquilo<br />que é a previsão da instabilidade futura, garantir que temos um grande<br />25 de Abril e 1º de Maio. São dois grandes momentos de afirmação dos<br />trabalhadores, dois grandes momentos de luta. São os 50 anos do 25 de<br />Abril, com todos os ataques que Abril tem sofrido, o 25 de Abril deste<br />ano tem que ter uma forte resposta e o 1º de Maio, um dia de luta, ser<br />de afirmação, não apenas um dia de festa, mas também um dia de luta e de<br />afirmação.<br /><br />Os trabalhadores têm que se organizar nas suas empresas, pegar no seu<br />pano com as reivindicações concretas e têm que vir para a rua para<br />demonstrar a sua força.<br /><br /><br />Em<br /><b>ABRIL ABRIL</b><br /><a href="https://www.abrilabril.pt/trabalho/e-na-luta-nas-empresas-que-se-da-o-verdadeiro-confronto-de-classes">https://www.abrilabril.pt/trabalho/e-na-luta-nas-empresas-que-se-da-o-verdadeiro-confronto-de-classes</a><br />13/3/2024<br /><br /></p>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-90951815153617008682024-03-12T19:28:00.000-07:002024-03-12T19:28:00.862-07:00La izquierda de moda<p> <br /><br /> <br /><br /><br /><br />DANILO RUGGIERI, ESPECIALISTA EN HISTORIA CONTEMPORÁNEA <br /><br />/*Hablamos de la izquierda, o más exactamente de la izquierda europea,<br />que es neoliberal en economía, partidaria de la arquitectura política de<br />la UE y de la narrativa de la supuesta superioridad democrática y<br />civilizatoria del europeísmo, en política exterior proclive a los<br />satélites del atlantismo angloamericano, en sociedad partidaria de las<br />campañas de opinión sobre los derechos individuales, socia instrumental<br />del mundo feminista y ecologista. */<br /><br />Ir contracorriente es una de las virtudes de Sarah Wagenknecht. La ya ex<br />dirigente del Die Linke alemán, tras una larga batalla interna, rompió<br />hace unos meses y abandonó el partido junto a otros, culpables de un<br />giro liberal y cosmopolita, ya no atento a las luchas sociales,<br />patrimonio tradicional de la histórica izquierda obrerista y<br />socialdemócrata alemana. Esta ruptura fue precedida por la publicación<br />en Alemania en 2021 de un libro suyo («Contra la izquierda neoliberal»)<br />que suscitó muchas discusiones y que se publicará próximamente en España.<br /><br />Hay que decir de una vez que ha pasado mucha agua bajo el puente desde<br />que se escribió el libro.<br /><br />Solo tres años después de su publicación, una alteración sistémica del<br />equilibrio geopolítico ha redibujado los mapas de la confrontación<br />internacional. El inicio de la operación militar especial de Rusia en<br />Ucrania en defensa de las poblaciones rusoparlantes del Donbass, la<br />extensión del conflicto a la OTAN, que dirige y supervisa el esfuerzo<br />bélico ucraniano, la destrucción de las líneas estratégicas de<br />suministro de gas entre Rusia y Europa, y la guerra de exterminio<br />israelí en Gaza en los últimos meses con escenarios de una posible<br />ampliación en Oriente Medio, marcan un cambio de época en la perspectiva<br />política, incluso interna, de los movimientos «antisistema» que se<br />mueven en el continente europeo. <br /><br />El libro se detiene sólo en parte en los efectos nefastos de la crisis<br />pandémica que estalló en 2020 y se silenció en correspondencia con los<br />conocidos sucesos de febrero de 2022. Los rasgos generales del análisis<br />político y social que la autora hace de la situación alemana, y que<br />podrían extenderse a Europa Occidental, se confirman, incluso se<br />refuerzan, al observar las posiciones adoptadas por gran parte de las<br />clases políticas que lideran la izquierda liberal «progresista» y «radical».<br /><br />Podemos decir que la guerra mundial en curso entre el mundo occidental y<br />el mundo oriental contempla a esta izquierda –baste pensar en los<br />socialdemócratas y verdes alemanes, pero sin olvidar a nuestro PD local<br />y arbustos varios– como activa partidaria de las opciones belicistas<br />atlánticas, y animada por un espíritu de presunta superioridad moral y<br />cultural hacia los otros mundos. <br /><br />Dicho esto, el libro tiene el mérito de analizar concretamente y en un<br />lenguaje muy sencillo las contradicciones fundamentales del pensamiento<br />de la izquierda «de moda», correspondiente a nuestra izquierda reflexiva<br />de clase media que vive en la zona residencial de las grandes ciudades<br />metropolitanas. Hay que apreciar la valentía con la que una figura<br />histórica de la izquierda socialista alemana, animadora de batallas<br />históricas, ha decidido coger el toro por los cuernos. <br /><br />Su tesis parte de la constatación de la mutación genética consumada de<br />gran parte de los grupos dirigentes de la izquierda histórica, que ha<br />conducido a la traición de su base social, constituida por los<br />trabajadores de los servicios de bajos ingresos y la clase obrera, que<br />en los últimos treinta años han sufrido todas las contrarreformas del<br />liberalismo económico y el progresivo desplazamiento de las batallas<br />políticas y culturales hacia los temas de los derechos individuales y<br />las minorías sexuales, abandonando por completo el campo de la lucha por<br />la defensa del trabajo público y privado, la sanidad y las condiciones<br />sociales generales de las clases subalternas.<br /><br />Wagenknecht no sólo enumera muchos datos y ejemplos para demostrar esta<br />tesis, sino que dedica un capítulo a definir los nuevos sujetos sociales<br />que representan la base de consenso electoral de esta izquierda liberal,<br />cosmopolita y de moda. <br /><br />Este punto es muy importante porque no se queda en la vaguedad, en una<br />crítica superficial, sino que analiza los grupos sociales que han ganado<br />posiciones económicas y prestigio con el liberalismo y que muy a menudo<br />tienen una actitud de presunta superioridad moral hacia los trabajadores<br />con baja formación, hacia esa parte del proletariado del sector<br />servicios que sufre la «modernidad» liberalista. Conviene citar este<br />pasaje que introduce la tesis del libro:<br /><br />/«Dos personas que proceden de medios sociales diferentes tienen cada<br />vez menos que decirse, precisamente porque viven en mundos diferentes.<br />Si la burguesía acomodada y con estudios universitarios de las grandes<br />ciudades aún consigue encontrarse en la vida real con los menos<br />afortunados, sólo lo hace gracias a la valiosa labor de mediación del<br />sector servicios, que puede ofrecerles quien les limpie la casa, quien<br />les entregue los paquetes y quien les sirva sushi en un restaurante. Las<br />burbujas no sólo existen en las redes sociales. Cuarenta años de<br />liberalismo económico, desmantelamiento del Estado del bienestar y<br />globalización han dividido las sociedades occidentales hasta tal punto<br />que la vida real de muchos ya sólo se mueve en la burbuja en la que se<br />encuentra su clase. Nuestra sociedad, aparentemente abierta, está en<br />realidad llena de muros» /<br /><br />Este pasaje subraya una pequeña verdad cotidiana que marca profundamente<br />la vida social y psicológica de una gran parte del proletariado<br />descompuesto y fragmentado que hoy prevalece en las grandes áreas urbanas. <br /><br />La incomunicabilidad social, la división casi atomística del tejido de<br />las clases subalternas es una de las grandes cuestiones con las que<br />tendrá que contar una izquierda que quiera hablar al abigarrado mundo de<br />los trabajadores típicos y atípicos, por subalternos que sean, como su<br />principal punto de referencia.<br /><br />Pero veamos qué entiende precisamente Wagenknecht por la izquierda de moda:<br /><br />/«El imaginario público de la izquierda social está dominado por una<br />tipología que en adelante denominaremos izquierda de moda, en la medida<br />en que quienes la apoyan ya no sitúan los problemas sociales y político-<br />económicos en el centro de la política de izquierdas, sino las<br />cuestiones relativas al estilo de vida, los hábitos de consumo y los<br />juicios morales sobre el comportamiento. Esta oferta política de una<br />izquierda de moda muestra su forma más pura en los partidos verdes, pero<br />también se ha convertido en una corriente dominante en los partidos<br />socialdemócratas, socialistas y de izquierdas de casi todos los países.»/<br /><br />Aquí habría que decir algunas cosas a modo de aclaración. Si bien el<br />razonamiento básico responde a la mutación real de la izquierda<br />socialista, socialdemócrata o ex comunista, los contextos nacionales<br />también marcan diferencias secundarias pero no irrelevantes. <br /><br />Por ejemplo, en Alemania, los Verdes tienen una historia política y unas<br />raíces sociales que no son comparables a las de nuestro país, sino<br />también a las de otros como Francia. Por el contrario, en Italia la<br />izquierda ex comunista, ex socialdemócrata (depende del punto de vista)<br />ha hecho algo más que abandonar a sus propias clases de referencia, han<br />sido agentes activos de las peores contrarreformas sociales, del peor<br />liberalismo privatizador, gobernando en contra de las clases populares. <br /><br />Al mismo tiempo que esta prolongada carnicería social, los grupos<br />dirigentes de la «izquierda» han recuperado su virginidad defendiendo la<br />imaginería europeísta, las batallas por las libertades sexuales y el<br />estilo de vida moderno como señas de identidad de la izquierda «moderna»<br />del siglo XXI. <br /><br />La naturaleza de esta mutación es profundamente social antes que<br />política. Este aspecto queda bien esbozado en el libro de Wagenknecht,<br />en el que se dedica un capítulo a la base social de esta izquierda<br />cosmopolita, europeísta y «progresista». <br /><br />Hablamos de la izquierda, o más exactamente de la izquierda europea, que<br />es neoliberal en economía, partidaria de la arquitectura política de la<br />UE y de la narrativa de la supuesta superioridad democrática y<br />civilizatoria del europeísmo, en política exterior proclive a los<br />satélites del atlantismo angloamericano, en sociedad partidaria de las<br />campañas de opinión sobre los derechos individuales, socia instrumental<br />del mundo feminista y ecologista. <br /><br />Aquí, todo esto ya no tiene nada que ver con el viejo mundo de la<br />izquierda del siglo XX, comunista o socialdemócrata, obrera y<br />asalariada, aunque nos encontremos con que a menudo los grupos<br />dirigentes, al menos en Italia, proceden de ese mundo. He aquí otro<br />pasaje esclarecedor de Wagenknecht, que en sus líneas generales define<br />un paradigma, un tipo social y un carácter político:<br /><br />/«El representante de la izquierda de moda vive en un mundo<br />completamente distinto y se define por otros temas. Evidentemente, es<br />proeuropeo y cosmopolita, aunque cada cual entienda estas palabras de<br />moda de forma ligeramente diferente. Le preocupa el clima y está<br />comprometido con la emancipación, la inmigración y las minorías<br />sexuales. Está convencido de que el Estado nación es un modelo moribundo<br />y se considera un ciudadano del mundo y sin demasiados lazos con su<br />propio país…»/<br /><br />/y otra vez:/<br /><br />/«Como el izquierdista de moda apenas entra en contacto directo con las<br />cuestiones sociales, éstas le interesan muy poco. Por supuesto, el<br />objetivo sigue siendo una sociedad justa y sin discriminación, pero el<br />camino para llegar a ella ya no pasa por las viejas cuestiones de<br />economía social, es decir, salarios, pensiones, impuestos y subsidios de<br />desempleo, sino principalmente por los símbolos y el lenguaje./<br /><br />/Pero volvamos a las clases sociales de referencia, quedándonos en la<br />situación alemana de la que habla Wagenknecht./<br /><br />El consenso activo y pasivo de esta izquierda está arraigado entre<br />licenciados de clase media que trabajan en la administración pública, en<br />puestos medios-altos, profesionales de la comunicación y el marketing,<br />en servicios financieros que trabajan en obra social, en empresas de<br />movilidad verde, piezas de la burocracia sindical y del abigarrado mundo<br />del ecologismo y las culturas alternativas. <br /><br />En este medio crece y prospera una narrativa posmoderna, de mil<br />lenguajes, de vago pacifismo, de odio hacia cualquier recuperación de<br />una soberanía nacional y popular, etiquetada siempre y en todo caso como<br />un remanente reaccionario y de derechas, y abanderados convencidos de un<br />europeísmo abstracto que no significa otra cosa que un apoyo consciente<br />e interesado a las políticas neoliberales de Bruselas.<br /><br />En resumen, esta izquierda ha cambiado de forma y de contenido desde sus<br />orígenes. Ha optado por representar los intereses, expectativas y<br />sentimientos de aquellas clases que han salido victoriosas y/o<br />aseguradas de las transformaciones sociales de las últimas décadas. <br /><br />Hechas estas breves incursiones en la deriva del mundo de la izquierda<br />políticamente correcta y compatibilista, el valor añadido de la<br />reflexión de la socialista alemana reside en las partes dedicadas a la<br />cuestión del Estado-nación y su recuperación en la lucha política y en<br />el imaginario colectivo por la emancipación social de las clases<br />subalternas. <br /><br />Si no se aborda también hoy claramente esta contradicción, se permanece<br />inevitablemente, voluntaria o involuntariamente, consciente o<br />inconscientemente, de buena o mala fe, en la subordinación total a los<br />intereses del gran capital. <br /><br />Si bien es cierto que la vulgata de la izquierda, incluso y sobre todo<br />de la izquierda radical, según la cual la invocación de la soberanía<br />nacional sería antihistórica, por no decir otra cosa, e ideológicamente<br />decididamente de derechas, cuando no fascista, esta manera de ver las<br />cosas es a menudo el producto de una ignorancia total de la historia del<br />movimiento obrero y socialista internacional. <br /><br />Y eso sería lo de menos, dada la tendencia general en nuestras partes.<br />La cuestión es que referirse a un internacionalismo vago y genérico de<br />los pueblos es, en el mejor de los casos, un signo de extremismo senil<br />incurable y, en el peor, significa trabajar para el enemigo.<br /><br />El nudo es absolutamente contundente, sobre todo en nuestras latitudes,<br />y la guerra de la OTAN contra Rusia confirma la necesidad de reabrir un<br />debate serio en las filas de una izquierda popular, si es que existe. <br /><br />Sobre todo si tenemos en cuenta que nuestros países son naciones de<br />soberanía limitada, no sólo porque hay decenas de bases militares<br />estadounidenses en nuestros territorios, sino esencialmente porque toda<br />decisión digna de relevancia es aprobada y ratificada primero por las<br />oligarquías anglosajonas y el poderoso lobby israelí-sionista. ¿Podemos<br />encogernos de hombros ante esta realidad o limitarnos a vagos eslóganes<br />sobre un internacionalismo sin fronteras?<br /><br />Dicho esto, no faltan debilidades en el marco propositivo de<br />Wagenknecht. En primer lugar, se queda mucho en la superficie sobre la<br />cuestión de la Unión Europea y su carácter estructuralmente<br />antidemocrático y antipopular, una jaula que durante décadas ha<br />aprisionado todo posible proyecto de emancipación popular y de<br />recuperación de una soberanía basada en los intereses de la mayoría de<br />las clases trabajadoras. El texto carece de una idea de fondo, de una<br />vía programática radical que profundice y enfatice el potencial<br />antisistémico.<br /><br />Al tiempo que expresa una dura crítica al capitalismo financiero y de<br />libre mercado, en Wagenknecht existe la idea, en mi opinión ingenua e<br />infundada, de proponer o aspirar a una vuelta a un capitalismo<br />«diferente», «verdaderamente meritocrático», no monopolista (que nunca<br />lo fue), sino en los deseos de la ideología reformista de la<br />socialdemocracia, hija de un mundo que ya no existe y al que no es<br />posible, aunque se quisiera, volver. <br /><br />Cuando se afirma que «la propiedad privada y la búsqueda del beneficio<br />sólo pueden fomentar el progreso tecnológico y aumentar así el potencial<br />de bienestar de la economía allí donde existe una auténtica competencia<br />y unas normas y leyes claras que velan por no gravar a los asalariados y<br />al medio ambiente», el autor se desliza hacia la narración nostálgica de<br />un capitalismo con rostro humano que, si existió, fue el producto<br />histórico y determinado de dos corrientes históricas fundamentales, la<br />existencia de un bloque socialista opuesto al mundo capitalista y una<br />lucha de clases que tenía en la clase obrera y en el proletariado en<br />general una fuerza relativamente homogénea capaz de ganar posiciones y<br />mejoras progresivas. <br /><br />A pesar de algunas debilidades programáticas y, como dirían algunos, de<br />una visión fragmentada de la tarea antisistémica, sigue siendo un libro<br />que ofrece una visión crítica y hunde el cuchillo en el mundo de la<br />izquierda. Lo necesitamos, pero aún queda mucho camino por recorrer.<br /><br />Em<br /><b>OBSERVATORIO DE LA CRISIS</b><br /><a href="https://observatoriocrisis.com/2024/03/13/la-izquierda-de-moda/">https://observatoriocrisis.com/2024/03/13/la-izquierda-de-moda/</a><br />12/3/2024</p>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-36140083519022375352024-03-05T07:20:00.000-08:002024-03-05T07:20:47.579-08:00 A ideologia da guerra na Ucrânia e em Israel<p> <br /><br /> <br />Thierry Meyssan<br /><br />As guerras da Ucrânia e de Gaza assemelham-se mais do que se possa<br />pensar, pelo menos se conhecermos a sua História. A da Ucrânia não<br />começou com a operação militar russa, mas com os massacres no Donbass,<br />enquanto a de Gaza não começou com a operação « Torrente de Al-Aqsa »,<br />mas 75 anos antes com a Nakhba. Com o decorrer do tempo, os responsáveis<br />pelas duas guerras afinam pela mesma ideologia.<br /><br /><br />De um maneira geral, qualquer guerra define quem somos « nós » e quem<br />são« eles ». « Nós » somos o Bem, enquanto « Eles » são o Mal.<br /><br />Os dirigentes ocidentais, embora declarem que a guerra em si é má,<br />afirmam que agora ela é indispensável face às agressões da Rússia e do<br />Hamas. Segundo eles, a Rússia, ou melhor, o seu Presidente Vladimir<br />Putin, sonha apoderar-se dos nossos bens e destruir o nosso sistema<br />político. Depois de ter invadido a Ucrânia, ele invadirá a Moldávia e os<br />países Bálticos; depois continuará para o Ocidente. O Hamas, esse, é uma<br />seita cheia de ódio que começa por violar e decapitar os judeus por<br />causa do anti-semitismo e que irá continuar invadindo o Ocidente em nome<br />da sua religião.<br /><br />É de notar que Israel e os Estados Unidos foram fundados pelos seus<br />exércitos, a Haganah e o Exército Continental. Actualmente, a grande<br />maioria dos seus dirigentes políticos passaram as suas carreiras no<br />Exército ou nos Serviços Secretos. Mas não são os únicos, já que Xi<br />Jinping é um militar e Vladimir Putin é um antigo membro dos Serviço<br />Secreto soviético (KGB).<br /><br />Pergunta-mo-nos sobre o que alimenta as fantasias do Ocidente político e<br />como é que elas os impedem de captar a realidade. A Rússia não invadiu a<br />Ucrânia, tal como a França não invadiu o Ruanda. Moscovo e Paris<br />impediram o massacre dos Ucranianos do Donbass e dos Ruandeses tutsis.<br />Ambas foram movidas pela sua «responsabilidade de proteger» e aplicaram<br />as Resoluções do Conselho de Segurança. Os Palestinianos não violam nem<br />decapitam ninguém por prazer, embora alguns deles pertençam a uma<br />sociedade secreta que o faz. Eles não lutam contra os judeus por anti-<br />semitismo, excepto o braço histórico do Hamas, mas sim contra o sistema<br />de apartheid do qual são vítimas.<br /><br />Talvez a cegueira colectiva tenha por função principal apagar os nossos<br />crimes anteriores : foram as «democracias» dos Estados Unidos e de<br />membros da União Europeia que organizaram o derrube do Presidente<br />ucraniano eleito, Viktor Yanukovych, em 2014. Foram a Alemanha e a<br />França que assinaram os Acordos de Minsk para garantir a paz aos<br />Ucranianos do Donbass (2015), mas que nunca tiveram a intenção de os<br />aplicar e, segundo as confissões da Chancelerina Angela Merkel e as do<br />Presidente François Hollande, utilizaram-nos para armar a Ucrânia contra<br />a Rússia. Esta corrupção da palavra e da assinatura constitui, segundo o<br />Tribunal de Nuremberga, o mais grave de todos os crimes, aquele que é<br />cometido « contra a paz ».<br /><br />Da mesma forma, foi a «maior democracia do Médio-Oriente», Israel, quem<br />roubou por ocupação, e pela contínua apropriação, metro após metro, a<br />maior parte dos Territórios palestinianos fixados pela Resolução 181 do<br />Conselho de Segurança (1947).<br />A menos que se dê o contrário : a nossa cegueira colectiva talvez tenha<br />a função de nos permitir perpetrar os nossos próximos crimes. Neste<br />caso, não nos devemos espantar por estarmos à procura de desfazer a<br />economia russa e, em última análise, reenviar a Rússia para à Idade da<br />Pedra. Muito menos nos devemos espantar com discursos apelando à limpeza<br />étnica da Palestina geográfica e, por fim, à expulsão de um milhão de<br />Palestinianos.<br /><br /><https://www.voltairenet.org/IMG/jpg/220512-2.jpg><br />*Benjamin Netanyahu e Volodymyr Zelensky prestam homenagem em Babi Yar<br />onde 33. 000 judeus foram massacrados pelos nazis e seus colaboradores<br />ucranianos. A hipocrisia da cerimónia nota-se : acede-se ao memorial<br />pela avenida Stepan Bandera, o nome do "Providnyk" (guia) da Organização<br />dos nacionalistas [integralistas] ucranianos. *<br /><br />Estes conflitos não visam a apropriação de recursos, mas sim de<br />territórios. Os nacionalistas integralistas ucranianos de Dmytro Dontsov<br />nunca deixaram de reivindicar, desde 1917, a soberania sobre a<br />Novorossia anarquista de Nestor Makhno e o Donbass e Crimeia<br />bolcheviques. É claro que estes territórios foram fundidos na Ucrânia<br />Soviética pelo Ucraniano Nikita Khrushchev, mas Kiev não pode invocar a<br />história recente para se apropriar deles. De forma idêntica, os<br />sionistas revisionistas de Vladimir Ze’ev Jabotinsky reivindicam, desde<br />1920, a soberania sobre toda a Palestina e, a prazo, sobre o Sinai<br />egípcio, o Líbano, a Jordânia e a Síria, em suma, todos os territórios<br />que vão do « Nilo ao Eufrates ». É claro que o antigo reino de Jerusalém<br />era constituído pela cidade e pelos seus arredores, mas isso não lhes<br />permite invocar a História para reclamar todas estas conquistas.<br /><br />Diz-se frequentemente que a pirâmide etária determina a agressividade<br />dos Estados. Estes, tendo uma maioria de jovens entre os 15 e os 30<br />anos, estariam por natureza virados para a guerra. Ora, não é este o<br />caso da Ucrânia, nem o de Israel. Mais ainda, é a Palestina e não Israel<br />que a pirâmide etária poderá empurrar para a guerra.<br /><br />No fim, é provavelmente a questão ideológica a mais importante. Dmytro<br />Dontsov e o seu homem de mão, Stepan Bandera, glorificaram os<br />combatentes ucranianos, supostos “herdeiros” dos Vikings suecos, os<br />Varenges, que deviam massacrar os «Moscovitas» para poder festejar no<br />Valhalla. Agora, temos o «Führer Branco», Andriy Biletsky, que comandou<br />as tropas da Divisão Azov em Mariupol, a 3ª Brigada de Assalto em<br />Bakhmut/Artemovsk e recentemente em Avdeïevka/Avdiïvka. Da igual forma,<br />Benjamin Netanyahu, filho do secretário particular de Vladimir<br />Jabotinsky, não hesitou em comparar os Palestinianos aos antigos<br />Amalequitas (episódio do Êxodo na Bíblia-ndT). Está sub-entendido, é<br />preciso exterminá-los a todos tal como Yahweh ordena, caso contrário a<br />sua raça ressurgirá contra os Hebreus. Da mesma forma, as FDI destruíram<br />sistematicamente todas as universidades e escolas da Faixa de Gaza e<br />massacraram 30. 000 civis fingindo estar a lutar contra o Hamas.<br /><br />Dmytro Dontsov fez uma aliança com Adolf Hitler, em 1923, quer dizer,<br />antes de este chegar ao Poder, tornando-se depois um dos administradores<br />do Instituto Reinhard Heydrich encarregue da execução da “solução final”<br />das questões judaica e cigana. Vladimir Jabotinsky, que tinha feito uma<br />aliança com Dontsov, em 1922, fundou a escola de quadros do Betar, em<br />Civitavecchi (Itália), com a ajuda do Duce Benito Mussolini, em 1935.<br />Ele não teve a possibilidade de jogar um grande papel durante a Segunda<br />Guerra Mundial, uma vez que morreu em Agosto de 1940. Não há, assim,<br />nenhuma dúvida possível sobre a adesão dos nacionalistas integralistas<br />ucranianos ao nazismo e a dos sionistas revisionistas ao fascismo.<br /><br />Além disso, encontramos a lógica de apropriação territorial dos regimes<br />fascista e nazi no discurso actual do Presidente ucraniano, Volodymyr<br />Zelensky, e no do Primeiro-Ministro israelita, Benjamin Netanyahu.<br />Enquanto os Presidentes russo e palestiniano, Vladimir Putin e Mahmud<br />Abbas, não param de afirmar que defendem os seus respectivos povos.<br /><br /> • Para saber mais sobre o nacionalismo integralista de Dmytro<br /> Dontsov, ler :<br /> « Quem são os nacionalistas integralistas ucranianos ? <https://<br /> www.voltairenet.org/article218410.html> », por Thierry Meyssan, Rede<br /> Voltaire, 17 de Novembro de 2022.<br /> • Para saber mais sobre os sionistas revisionistas de Volodymyr<br /> Jabotinsky, ler :<br /> « Rompe-se o véu : as verdades escondidas de Jabotinsky e Netanyahu<br /> <https://www.voltairenet.org/article220335.html> », por Thierry<br /> Meyssan, Rede Voltaire, 25 de Janeiro de 2024.<br /> e « Em Jerusalém, a « Conferência para a Vitória de Israel » ameaça<br /> Londres e Washington <https://www.voltairenet.org/<br /> article220428.html> », por Thierry Meyssan, Rede Voltaire, 13 de<br /> Fevereiro de 2024.<br /><br />Thierry Meyssan <https://www.voltairenet.org/auteur29.html?lang=pt><br />Tradução<br /><br />Em<br /><b>VOLTAIRE.NET<br /></b><a href="https://www.voltairenet.org/article220523.html">https://www.voltairenet.org/article220523.html</a><br />5/3/2024<br /><br /></p>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-80720168213942863172024-03-04T05:19:00.000-08:002024-03-04T05:19:15.924-08:00 Las redes sociales y la guerra de posiciones<p> <br /><br />CARLOS L. GARRIDO , PROFESOR DE FILOSOFÍA DE LA UNIVERSIDAD DEL SUR DE<br />ILLINOIS, EEUU<br /><br />Visión materialista histórica de las ideas<br /><br />Las ideas que sostenemos están históricamente condicionadas por el modo<br />de vida en el que existimos. Reflejan, en el ámbito de las ideas, las<br />limitaciones y posibilidades del modo de vida social que domina la<br />época, de las formas de relación social que prevalecen en la época.<br />nuestra vida cotidiana. Un campesino feudal no puede preocuparse por sus<br />perfiles en las redes sociales y: por los me gusta que reciben sus<br />publicaciones, y seguidores que ha acumulado. Sin embargo, estas son<br />preocupaciones centrales para la mayoría de la gente hoy en día.<br /><br />Vivimos en la era de la profilicidad <https://www.midwesternmarx.com/<br />articles/imperialism-and-profilicity-by-carlos-l-garrido> como<br />tecnología de identidad dominante. Como es evidente, todas las ideas,<br />inquietudes, experiencias estéticas, deseos, creencias, etc. que están<br />ligadas al modo de identidad basado en perfiles dependen y se basan en<br />los desarrollos tecnológicos que nuestra era ha logrado. <br /><br />En términos marxistas, estos desarrollos en el nivel de cómo pensamos<br />(sobre nosotros mismos y los demás) presuponen desarrollos en las<br />fuerzas de producción. Del mismo modo, en la mayor parte del mundo<br />occidental, ningún joven se preocuparía por con quién concertaría su<br />matrimonio. Estas preocupaciones pertenecen a una era que ya pasó, a un<br />modo de relación social que la humanidad ha superado.<br /><br />Este es un componente central del materialismo histórico: la “ley del<br />desarrollo de la historia humana” que, según nos dice <https://<br />www.marxists.org/archive/marx/works/1883/death/burial.htm>Engels , Marx<br />descubre. Está, formulado concisamente , en el prefacio de 1859 a Una<br />contribución a la crítica de la economía política es según Marx :<br /><br />“/La totalidad de estas relaciones de producción constituye la<br />estructura económica de la sociedad, la base real sobre la que surge una<br />superestructura jurídica y política y a la que corresponden determinadas<br />formas de conciencia social. El modo de producción de la vida material<br />condiciona el proceso general de la vida social, política e intelectual.<br />No es la conciencia de los hombres la que determina su existencia, sino<br />su existencia social la que determina su conciencia”.1/<br /><br />Instituciones ideológicas y falsa conciencia<br /><br />Las ideas que llegan a dominar una forma de vida no existen en un reino<br />trascendental. Más bien, se encarnan materialmente a través de<br />instituciones y personas. La influencia que tienen estas instituciones<br />varía. Su propósito, sin embargo, es el mismo: sostener el<br />consentimiento de las masas (los subalternos) para el orden dominante.<br />Tienen la tarea de garantizar la reproducción del modo de vida actual. <br /><br />Al ser las instituciones dominantes que impregnan la vida cotidiana de<br />las personas, no simplemente logran que demos nuestro consentimiento (lo<br />que implica un acto consciente de aceptación), sino que moldean nuestras<br />visiones del mundo espontáneas y de sentido común hasta tal punto que<br />somos incapaces de reconocer, con la excepción de grandes momentos de<br />ruptura llamados » acontecimientos <https://www.youtube.com/watch?<br />v=pBJbFsM_2uw> » en la historia de la filosofía..<br /><br />Al igual que los esclavos en la alegoría de la cueva <https://<br />classics.mit.edu/Plato/republic.8.vii.html> de Platón , desconocemos las<br />estructuras que contienen el horizonte de cómo vemos la realidad. Platón<br />no podría haber estado más acertado al enfatizar el carácter doloroso<br />del fugitivo de la cueva. No es fácil que nuestras nociones de la<br />realidad sean derribadas tan fácilmente, que nuestros deseos, creencias,<br />experiencias estéticas, etc., sean demolidos. <br /><br />Al igual que el esclavo fugitivo, que necesita con dolor reajustar sus<br />ojos, la superación de la ideología burguesa es un proceso doloroso, no<br />un «momento» espontáneo e inmediato. Cuando nuestras condiciones de vida<br />están tan sistemáticamente impregnadas de mentiras y manipulaciones,<br />todas ellas destinadas a impedir que hagamos olas, la verdad es<br />dolorosa. La verdad es peligrosa. <br /><br />La búsqueda de la verdad siempre ha tenido, como señala WEB Dubois<br /><https://www.jpanafrican.org/ebooks/3.4eBookSoulsofBlackFolk.pdf> , “un<br />elemento de peligro y revolución, de insatisfacción y descontento,<br />[pero] sin embargo, los hombres se esfuerzan por saber”. Desde el<br />asesinato de Sócrates <https://www.hamptonthink.org/read/the-real-<br />reason-why-socrates-was-killed-and-why-class-society-must-whitewash-his-<br />death> hasta el asesinato de King, la sociedad de clases ha demostrado<br />su propensión a contraatacar con saña cuando se ve amenazada por quienes<br />dicen la verdad. Esto ya fue descrito proféticamente por la alegoría de<br />Platón.<br /><br />El capitalismo <https://www.midwesternmarx.com/articles/santa-claus-and-<br />the-contradictions-of-bourgeois-ideology-by-carlos-l-garrido> “/es un<br />orden social que requiere la aceptación general de una comprensión<br />invertida de sí mismo… La realidad [necesita] ponerse patas arriba. Pero<br />esto no es, como señala <https://www.bing.com/search?<br />pglt=41&q=vannessa+wills+racism+and+false+consciousness&cvid=62eff8268330496f8deda079310ba6b1&gs_lcrp=EgZjaHJvbWUyBggAEEUYOTIHCAEQRRj8VdIBCDcyODRqMGoxqAIAsAIA&FORM=ANNAB1&PC=HCTS> Vanessa Wills , un problema de “higiene epistémica”. La raíz del «error» no está en nuestra mente, es decir, en nuestro reflejo de los fenómenos objetivos en cuestión”./<br /><br />Como señalaron <https://www.marxists.org/archive/marx/works/download/<br />Marx_The_German_Ideology.pdf> Marx y Engels hace mucho tiempo: /Si en<br />toda ideología los hombres y sus relaciones aparecen al revés como en<br />una cámara oscura, este fenómeno surge tanto de su proceso vital<br />histórico como la inversión de los objetos en la retina de su proceso<br />vital físico.La ideología capitalista es tan capaz de aceptar la verdad<br />como los vampiros de consumir ajo. La verdad, que casi siempre está del<br />lado de las masas, es su talón de Aquiles./<br /><br />Cambio en los aparatos ideológicos dominantes<br /><br />Sin embargo, no todas las instituciones que nos difunden y nos<br />inculturan en la ideología burguesa desempeñan un papel igual. Algunos<br />son mucho más influyentes que otros. En el mundo medieval la iglesia<br />era, sin duda, el “ Aparato Ideológico del Estado” (ISA) dominante<br /><https://www.marxists.org/reference/archive/althusser/1970/ideology.htm> . <br /><br />En la transición al mundo moderno, como señala Louis Althusser <https://<br />www.marxists.org/reference/archive/althusser/1970/ideology.htm> , “el<br />Aparato Ideológico del Estado que se ha instalado en la posición<br />dominante en formaciones sociales capitalistas maduras como resultado de<br />una violenta lucha de clases política e ideológica contra el viejo<br />Aparato Ideológico es el aparato ideológico educativo. Las escuelas<br />vendrían a reemplazar a la iglesia como piedra angular institucional de<br />la ideología burguesa, la fuerza más dominante para la reproducción de<br />la hegemonía burguesa.<br /><br />En cierto modo, esto sigue siendo así. Es en las universidades, por<br />ejemplo, donde se desarrollan por primera vez en su máxima coherencia<br />las ideas traficadas por la “cultura pop” . Es imposible concebir el »<br />wakeismo <https://www.youtube.com/watch?<br />v=GnUqrF9mAA8&pp=ygUId29rZWlzbSA%3D> «, la forma dominante hoy en día de<br />relación cultural liberal, sin el establecimiento de sus fundamentos<br />ideológicos hace décadas en la academia que instaló la CÍA con la<br />izquierda compatible <https://thephilosophicalsalon.com/the-cia-the-<br />frankfurt-schools-anti-communism/>.<br /><br />La «política de identidad» y la «cultura de la cancelación» tan<br />popularmente debatidas <https://www.bing.com/ck/a?!<br />&&p=03f9e105b3acab53JmltdHM9MTcwNTk2ODAwMCZpZ3VpZD0zZDRiMTI2ZC03YTU2LTY1N2YtMjdkMS0wMTVhN2IxNjY0ODQmaW5zaWQ9NTU3OQ&ptn=3&ver=2&hsh=3&fclid=3d4b126d-7a56-657f-27d1-015a7b166484&u=a1L3ZpZGVvcy9yaXZlcnZpZXcvcmVsYXRlZHZpZGVvP3E9YmlsbCttYWhlcit3b2tlaXNtK2FuZCttYW9pc20mbWlkPTQzRTYzMzgyNjI1RDMwRkM0MkQzNDNFNjMzODI2MjVEMzBGQzQyRDMmRk9STT1WSVJF&ntb=1> en las mesas redondas de la televisión estadounidense están lejos de estar arraigadas en la tradición comunista. Todo lo contrario, lo que hoy los expertos de derecha llaman comunismo fue producido explícitamente para tergiversar los al marxismo. Se les asignó el papel de «recuperadores de radicales», como los llama <https://thephilosophicalsalon.com/the-cia-the-frankfurt-schools-anti-communism/> Gabriel Rockhill . <br /><br />Su trabajo era (y es) recuperar las actitudes disidentes de las masas,<br />especialmente de los jóvenes, hacia el redil anticomunista<br />proimperialista. Como observó correctamente <https://<br />valleysunderground.files.wordpress.com/2020/04/blackshirts-and-reds-by-<br />michael-parenti.pdf> Michael Parenti , estos teóricos del ABC del<br />“despertar” (Todo menos la clase) tienen la tarea de desarrollar<br />“esquemas conceptuales que silencian el análisis de clase del marxismo”. <br /><br />Sin embargo, en la última década un nuevo terreno ideológico ha obtenido<br />la posición dominante dentro de la hegemonía burguesa: las redes<br />sociales. . El estadounidense promedio hoy pasa entre dos y tres horas<br /><https://elitecontentmarketer.com/how-much-time-do-people-spend-on-<br />social-media/<br />#:~:text=As%20of%202022%2C%20the%20time%20spent%20by%20average,average%20of%20only%20two%20hours%20and%20three%20minutes.> en las redes sociales. Mientras que para unos pocos podría estar lleno de imágenes inocentes de lindos gatos, para la gran mayoría de las personas las redes sociales desempeñan un papel similar a una polis tecnológica: un lugar donde la batalla de ideas, o mejor aún, la difusión de las ideas dominantes, ocurre.<br /><br />Si bien las escuelas pueden crear la base ideológica que se inculca a la<br />gente, a menudo se encuentran incapaces de explicar los temas<br />apremiantes del momento. A través de las redes sociales, por otro lado,<br />uno encuentra una manipulación activa e incesante de los acontecimientos<br />en curso, cuyo alcance y consistencia superan con creces la influencia<br />que puedan tener las discusiones universitarias sobre asuntos políticos.<br />Sin embargo, su impacto no puede entenderse simplemente a través de<br />métricas cuantitativas. Cualitativamente, estas redes sociales han<br />revolucionado la forma en que creamos nuestras identidades. Como se ha<br />documentado:<br /><br />/Vivimos en una época de perfiles. Quiénes somos, nuestra identidad,<br />está profundamente arraigado en la selección de nuestros perfiles para<br />pares en general, esos ‘usuarios’ que validan nuestro contenido a través<br />de diversos medios interactivos (me gusta, compartir, retweets, etc.).<br />Nuestras publicaciones futuras están influenciadas por la reacción de<br />publicaciones anteriores. Las que tienden a repietirse y , las que no<br />menudo se eliminan por completo/.<br /><br />La interdependencia dialéctica de lo individual y lo social adquiere una<br />nueva forma en la era de la profilicidad. A través de estos ‘bucles de<br />retroalimentación de validación social’ ( denominados <https://<br />www.theguardian.com/technology/2017/nov/09/facebook-sean-parker-<br />vulnerability-brain-psychology> así por el presidente de Facebook, Sean<br />Parker), ajustamos nuestro contenido a la recepción del público en<br />general. Nuestra identidad se elabora teniendo en cuenta cómo somos<br />«vistos como siendo vistos». <br /><br />La observación o “espionaje” se convierte en la norma; Todo juicio está<br />sujeto a algún grado de mediación por la forma en que el par general ve<br />la cosa juzgada. Estas son algunas de las ideas centrales del libro de<br />Hans Georg Moeller y Paul D’Ambrosio, Tú y tu perfil: identidad después<br />de la autenticidad <https://cup.columbia.edu/book/you-and-your-profile/<br />9780231196017> . Si bien tiene algunos puntos ciegos (que trató de<br />aclarar en mi trabajo <https://www.midwesternmarx.com/articles/<br />imperialism-and-profilicity-by-carlos-l-garrido> ), es sin duda un texto<br />esencial para comprender el modo dominante de tecnología de la identidad<br />en nuestros días.<br /><br />Redes sociales, profilicidad y manipulación ideológica<br /><br />El potencial de manipulación ideológica provocado por el surgimiento de<br />la profilicidad es, en algunos aspectos, mucho más potente que nunca.<br />Después del golpe de 2019 en Bolivia, cuando se utilizaron 68 mil<br />cuentas de bots para hacer viral la narrativa imperialista en Twitter,<br />hice un estudio de caso sobre cómo se utilizó la manipulación de las<br />redes sociales para legitimar el golpe. Esto es lo que he escribí :<br /><br />El uso imperialista de bots y cuentas falsas engendra un par general<br />artificial que funciona como condición para la posibilidad de que el<br />imperialismo controle uno real. Esto se debe a que, en un cierto punto<br />nodal, cuando las cuentas falsas y los robots de refuerzo hacen que algo<br />sea tendencia, la artificialidad de la reacción del par general pierde<br />su carácter artificial, un par general compuesto por personas reales<br />toma el testigo desde allí y barniza la reacción. con una vestimenta<br />‘orgánica’ y ‘espontánea’. En la era de la productividad, la capacidad<br />del imperialismo para controlar a sus pares en general es una<br />herramienta indispensable para lograr sus fines.<br /><br />/Independientemente de cuán poderosas sean las fuerzas armadas de un<br />imperio, si no es capaz de hegemonizar el discurso sobre los<br />acontecimientos históricos y contemporáneos, su legitimidad (tanto a<br />nivel nacional como internacional) se tambaleará y lo hará susceptible<br />de ser derrocado. /<br /><br />Empresas como CLS Strategies, junto con los monopolios cómplices de las<br />redes sociales de Silicon Valley, funcionan como herramientas<br />indispensables del capitalismo-imperialismo en la era de la profilidad.<br />En una época en la que la identidad se construye a través de perfiles<br />mediados por la observación de segundo orden y ciclos de<br />retroalimentación de validación social general impulsados por los pares,<br />la capacidad de manipular a los pares equivale a la capacidad sin<br />precedentes del capital y el Estado para controlar lo que piensa la gente<br />.<br />Además, el carácter abstracto de este par general oculta la manipulación<br />misma. Las personas construyen sus identidades de perfil sobre la base<br />de cómo les gustaría que las vieran, pero el par general que ve tiene<br />los ojos a través de gafas imperialistas de control . La censura es un<br />componente integral que trabaja en conjunto con el control de lo que se<br />ve mediante el uso de bots y otras formas de impulsar narrativas pro-<br />sistema. <br /><br />En todas las principales plataformas de redes sociales (sí, incluso en<br />la llamada ‘X’ amante de la libertad de expresión de Elon Musk),<br />aquellas cuentas con un gran número de seguidores que desafían la<br />narrativa imperialista sobre temas clave a menudo están completamente<br />prohibidas. 2 Es una tecno-polis que funciona de manera muy interesante,<br />donde a ciertos activistas se les ofrece un micrófono para hablar por<br />encima de otros, y “ los otros” se les silencia o se les baja a un<br />volumen prácticamente inaudible, mientras que otros desaparecen por<br />completo.<br /><https://carlosgarrido.substack.com/p/social-media-and-the-war-of-<br />positions/comments><br /><br />El Instituto para el que trabajo no desconoce estas tácticas de censura.<br />Siete de nuestras cuentas de Tiktok, la plataforma en la que tenemos<br />cientos de miles de seguidores y millones de visitas, han sido<br />completamente prohibidas. Como hemos denunciado <https://mronline.org/<br />2023/06/02/the-u-s-censors-dissenting-voices/>Edward Smith, Noah<br />Khrachvik y yo mismo ,<br /><br />Aquellos que mantienen a nuestra gente mal informada e ignorante, que<br />han hecho del propósito de su vida atacar a quienes dicen la verdad, lo<br />hacen bajo el disfraz insidiosamente categorizado de «combatir la<br />desinformación». En su retorcida realidad inventada <https://<br />archive.org/details/michael-parenti-inventing-reality-the-politics-of-<br />the-mass-media-1986-st.-martins-press_202012> , como la llamó Michael<br />Parenti, se postulan como los defensores de la verdad y la libertad de<br />expresión, una paradoja tan ridícula como un carnicero vegano…<br /><br />En el modo de vida capitalista-imperialista, la libertad de expresión y<br />de medios de comunicación es, por lo tanto, en realidad la libertad de<br />expresión y de medios de comunicación procapitalistas . La descripción<br />que hace VI Lenin de los medios de comunicación en la sociedad<br />capitalista es más cierta que nunca <https://www.marxists.org/archive/<br />lenin/works/1919/aug/05.htm> en la década de 2020: están dominados por<br />una “atmósfera de mentiras y engaños en nombre de la ‘libertad e<br />igualdad’ del capital”.. <br /><br />Cualquier declaración absoluta sobre la libertad de prensa debe ir<br />seguida de la pregunta leninista <https://www.marxists.org/archive/<br />lenin/works/1921/aug/05.htm> : “libertad de prensa… ¿para qué clase?” La<br />libertad de los medios capitalistas para engañar a las masas en su<br />defensa del orden existente está en contradicción con los intereses de<br />las masas en buscar y publicar la verdad.<br /><br />El poder de controlar el flujo de ideas a través de estos diversos<br />medios hace que las redes sociales, como terreno ideológico dominante<br />(o, al menos, uno de los dominantes) de nuestros días, sean virtualmente<br />(nunca mejor dicho) incomparables.<br /><br />¿Qué deberían hacer los comunistas?<br /><br />Algunos miembros de la izquierda comunista a menudo denigran el papel en<br />las redes sociales. «Estar sólo en línea, no tiene nada que ver con la<br />realidad», es un sentimiento expresado con frecuencia. A veces, el<br />trabajo ideológico en línea se contrasta desfavorablemente con las<br />protestas en las calles. Se dice que quienes están en las calles en<br />realidad están haciendo algo, mientras que quienes están en línea no lo<br />hacen”. <br /><br />Hay un núcleo racional en este sentimiento general incorrecto. Es cierto<br />que las características antisociales de los ‘socialistas de<br />identidad’ (como los llamo en The Purity Fetish <https://<br />www.barnesandnoble.com/w/the-purity-fetish-and-the-crisis-of-western-<br />marxism-carlos-l-garrido/1143388399> ), aquellos que pasan todos sus<br />días en línea iniciando disputas y divisiones en Twitter, exigen un<br />reavivamiento espiritual con la realidad. Deben «tocar la calle” como<br />dice la expresión.<br /><br />Pero, sobre esta base, es incorrecto denigrar el trabajo en línea en su<br />conjunto o considerarlo «irreal» en relación con las protestas. Como he<br />sostenido, las redes sociales se han convertido en uno de los terrenos<br />ideológicos más importantes de nuestros días. Es un campo donde, como<br />diría Gramsci, se debe librar la guerra de posiciones. No importa cuánta<br />censura, prohibición en la sombra y manipulación se produzca en este<br />campo ideológico, sigue siendo uno de los lugares más importantes en los<br />que los comunistas deben participar, librando la lucha por los corazones<br />y las mentes del pueblo. Ignorar el trabajo en línea hoy en día equivale<br />a que los revolucionarios franceses ignoraran la institución de la<br />Iglesia en sus luchas contra el absolutismo feudal. <br /><br />Por supuesto, aquí hay una diferencia clave. Mientras que en su apogeo<br />la Iglesia como aparato ideológico dominante tenía que ser combatida<br />desde fuera, hoy las redes sociales, como terreno ideológico dominante,<br />presentan un campo de lucha interno.<br /><br />La guerra de posiciones en las redes sociales, por necesaria que sea, no<br />es, por supuesto, suficiente. Si cada cuenta de Twitter (perdón, ‘X’)<br />seguía al Instituto Marx del Medio Oeste, o cualquier otra organización<br />de la izquierda comunista, eso no significa que estemos cerca de tomar<br />el poder. No se puede evitar la verdadera organización en la vida.<br />Organizarse en sus lugares de trabajo y comunidades sigue siendo lo más<br />importante que uno puede hacer. Es ese trabajo básico el que Silicon<br />Valley no puede «prohibir”.<br /><br />Para librar una guerra de posiciones exitosa en las redes sociales se<br />necesitan medios a través de los cuales las personas convencidas de<br />nuestro lado en línea puedan involucrarse en la organización de sus<br />comunidades. La gente debe pasar de estar simplemente de acuerdo con<br />estas ideas en línea a ayudar a construir organizaciones en el terreno,<br />a construir instituciones contrahegemónicas de la clase trabajadora. <br /><br />La guerra de posiciones en línea debe ir acompañada de la preparación de<br />las bases materiales e institucionales (es decir, partidos y<br />organizaciones de masas) para la guerra de maniobras en el terreno. Por<br />supuesto, el hecho de que estas organizaciones estén «en el terreno» no<br />les permite evitar la guerra de posiciones en línea.<br /><br />Guerra de posiciones en línea<br /><br />¿Cuál es la mejor manera de librar la guerra de posiciones online?<br />¿Condenar a todos aquellos con quienes no estamos totalmente de acuerdo<br />es el camino a seguir? Claramente, este modo de compromiso fetichista de<br />la pureza, como he argumentado,i te deja rodeado sólo de aquellos con<br />quienes ya estás de acuerdo. Reduces las tareas pedagógicas y de<br />reclutamiento del comunista a alguien que simplemente canta en el coro. <br /><br />La batalla de ideas, la guerra de posiciones, tiene su raíz<br />fundamentalmente en convencer . No puedes avergonzar a alguien para que<br />esté de acuerdo contigo. Hablar con desprecio a los trabajadores con<br />actitudes condescendientes de la clase media es literalmente lo opuesto<br />a lo que parece una guerra de posiciones exitosa. No querrás que los<br />departamentos directivos de RR.HH. sean lo primero en lo que alguien<br />piense cuando hable contigo. Todo lo contrario.<br /><br />Vivimos bajo un modo de vida capitalista moribundo. Esto se reflejará en<br />algunas de las cosmovisiones espontáneas de sentido común de las<br />personas que este modo de vida produce. Debemos ser pacientes y<br />flexibles, no ágiles y rígidos. Nuestro objetivo es convencer . Para<br />ganarse los corazones y las mentes de las personas. Lo primero que hay<br />que reconocer, entonces, es que cualquier enfoque único que sirva para<br />todos fracasará. El punto de partida (es decir, la visión espontánea del<br />mundo) que tiene la gente difiere, a menudo más o menos dependiendo de<br />ciertas diferencias regionales, generacionales y de otro tipo. Debemos<br />tener esto en cuenta en todas las conversaciones.<br />Pero,¿cómo deberíamos empezar? ¿Que debemos buscar?<br /><br />Bueno, Gramsci es aquí quizás nuestro maestro más importante. Si quiero<br />ir de A a B, no puedo simplemente teletransportarme directamente de A a<br />B. Tal vez algún día llegue la tecnología que me permita hacerlo. Por<br />ahora, si quiero ir de A a B, necesito encontrar un punto de contacto,<br />un camino o una serie de caminos, que conectados en mi trayecto me<br />permitan llegar a mi destino. El proceso de convencer no es diferente.<br />Si no hay un punto de contacto, no podremos «ganar» a alguien para que<br />se ponga de nuestro lado. El proceso de «conquistar», como el proceso de<br />llegar de A a B, es un viaje , una empresa o, en resumen, un proceso .<br />No sucede instantáneamente. Toma tiempo.<br /><br />Para que este proceso pueda comenzar es necesario encontrar el punto de<br />contacto. Cada visión espontánea del mundo que sostienen las masas,<br />aunque esté profundamente arraigada en diversas formas de ideología<br />burguesa, debe contener algunos núcleos racionales, «puntos de contacto»<br />que podamos localizar e iniciar el viaje. Ésta es, para Gramsci, la<br />esencia de la guerra de posiciones. <br /><br />La tarea de los comunistas, de la dirección intelectual del movimiento<br />de la clase trabajadora, es encontrar, en las interpretaciones y<br />sentimientos incoherentes, ambiguos y espontáneos del sentido común de<br />las masas, esos núcleos racionales que puedan desarticularse de su<br />visión actual del mundo y rearticularse hacia Marxismo. (Para más<br />información, consulte mi capítulo con JP Reed <https://<br />www.elgaronline.com/edcollchap/book/9781802208603/book-<br />part-9781802208603-16.xml> en la antología de Elgars sobre Gramsci).<br />Concretamente, ¿cómo se ve esto?<br /><br />Bueno, por ejemplo, en Estados Unidos la gran mayoría de la gente está<br />de acuerdo con los valores de la Declaración de Independencia. Sin<br />embargo, los valores de la vida, la libertad, la búsqueda de la<br />felicidad, el derecho a la revolución, etc., no han sido realizados para<br />las masas bajo el orden dominante. ¿Cómo pueden actualizarse estos<br />valores igualitarios y emancipadores bajo un sistema que produce, por un<br />lado, una enorme riqueza controlada por unos pocos y, por el otro,<br />inmensa miseria, deuda y opresión para la mayoría? Es imposible. <br /><br />Los ideales universales de la clase capitalista siempre se han limitado<br />a su clase; nunca ha sido, desde el principio, nada más que la libertad<br />del capital para explotar y la falsa «democracia» de los capitalistas<br />para elegir a los títeres políticos que gobiernan. sobre la masa de<br />gente. Por eso, lo he señalado antes <https://www.midwesternmarx.com/<br />articles/a-fraternal-hand-the-american-tradition-of-socialist-democracy-<br />and-chinese-socialism-by-carlos-l-garrido> ,<br /><br />Frente a las crecientes desigualdades y disparidades, [en las décadas de<br />1820 y 1830] pensadores como Langdon Byllesby, Cornelius Blatchley,<br />William Maclure, Thomas Skidmore y otros, desarrollaron los ideales<br />jeffersonianos de la Declaración de Independencia en socialismo, lo que<br />consideraban su conclusión práctica y lógica…<br /><br />A lo largo de los siglos, generaciones de socialistas estadounidenses<br />han apelado a la Declaración de Independencia para defender el<br />socialismo de una manera que conecte con el sentido común del pueblo<br />estadounidense. Los principales historiadores y teóricos de la tradición<br />socialista estadounidense, pensadores como Staughton Lynd, Herbert<br />Aptheker, WEB Dubois, Eugene Debs, William Z. Foster y otros, han<br />profundizado en el tema, señalando que, independientemente de las<br />limitaciones encontradas en la fundación de la Unión Americana,<br />experimento que fue un acontecimiento histórico progresista, cuyo<br />espíritu [sólo puede] ser llevado a cabo hoy por socialistas y comunistas.<br /><br />Así que aquí tenemos un ejemplo de un punto de contacto, un núcleo<br />racional, dentro del sentido común de nuestro pueblo que puede ser y<br />rearticulado ( a pesar de sus orígenes burgueses).<br /><br />Este es un ejemplo que se ha utilizado desde la década de 1820. Pero,<br />¿cómo podemos, en la era de la profilidad, hacer esto específicamente a<br />través de las redes sociales?<br /><br />Los elementos esenciales siguen siendo los mismos. Encontrar a las<br />personas e instituciones que desempeñan los papeles más influyentes en<br />la configuración del sentido común de diversos sectores de las masas<br />estadounidenses. Dentro de las visiones del mundo que elaboran,<br />encontrar los núcleos racionales, los puntos de contacto con los que<br />puede establecer un terreno común en las discusiones con los<br />espectadores y lectores de estos ideólogos de la clase trabajadora.<br />Siempre habrá que comenzar las discusiones con esos puntos de contacto y<br />las ideaa que pueden ser utilizadas como un camino para la nueva<br />perspectiva. Estos núcleos racionales, por supuesto, diferirán según las<br />diferentes fuentes.<br /><br />Por ejemplo, hace unas semanas comenté <https://www.youtube.com/watch?<br />v=W82K8FRPT1A> un vídeo de Andrew Tate, el hombre que alguna vez fue la<br />persona más viral de Internet. Se trata de alguien que tiene una gran<br />influencia ideológica en nuestras sociedades, específicamente en la<br />juventud, que encarna el futuro de cualquier proyecto revolucionario. El<br />vídeo que comento es uno en el que Tate describe el trabajo asalariado<br />como una forma de esclavitud asalariada. Para los marxistas, éste es<br />claramente un punto de contacto, un «núcleo racional» dentro de la<br />cosmovisión tateiana.<br /><br />Sobre la base de este punto de contacto, el desarrolla la historia, a<br />menudo políticamente ambigua, de la crítica de la esclavitud asalariada<br />(por ejemplo, si bien fue un pilar de la crítica socialista del<br />capitalismo, también fue un componente central de la defensa de la<br />esclavitud por parte de los plantadores del sur). la esclavitud de<br />bienes muebles, que supuestamente era menos malvada y nefasta que la<br />esclavitud asalariada.<br /><br />Luego, sobre la base del acuerdo con Tate sobre el carácter servil del<br />trabajo asalariado, desarrollo una crítica de cómo esta comprensión es<br />sofocada por la cosmovisión tateiana que acababa de formularla. Para<br />Tate, la crítica de la esclavitud asalariada y de la «matriz» no es la<br />base de un proyecto emancipatorio colectivo. No tiene sus raíces en una<br />comprensión científica y marxista de la economía política capitalista.<br />Por lo tanto, desconoce por completo las leyes internas del movimiento y<br />las contradicciones que empujan al sistema hacia su propia destrucción.<br />No es consciente del papel del proletariado como sepulturero del modo de<br />vida que lo produjo como clase.<br /><br />Quizás sea menos una cuestión de ignorancia por parte de Tate, y más una<br />cuestión de conciencia de sus intereses de clase como parte de la (a<br />menudo objeto de burla) nueva burguesía. De cualquier manera, el<br />resultado es el mismo: una comprensión de ese fenómeno hacia el que<br />hemos gravitado como un «punto de contacto» y una formulación<br />individualizada de «escapar de la matriz» haciéndose rico uno mismo (un<br />trabajo que a través de la «Universidad de Hustlers» de lo que se<br />beneficia enormemente). Tate no creó esta forma de recuperación radical,<br />ni es el único que la predica hoy.<br /><br />Es fundamental para lo que Dubois llamó <https://archive.org/details/<br />blackreconstruct00webu> la Asunción Americana, la noción de que a través<br />del trabajo duro uno puede elevarse y hacerse rico. La diferencia es que<br />en los siglos XIX y XX esta ideología se produjo dentro de los límites<br />de una apologética directa del capitalismo estadounidense.<br /><br />El capitalismo posterior a 1848 entra en una etapa claramente<br />reaccionaria, en la que incluso el barniz de progresismo que dominó el<br />período anterior se deshace. En este mundo posterior a 1848, como señaló<br />hace mucho tiempo <https://archive.org/details/the-destruction-of-<br />reason-by-gyorgy-lukacs> Georg Lukács , la defensa del capitalismo tiene<br />que presentarse, de una forma u otra, como una “apologética indirecta”.<br />La crítica superficial y culturalista de un ‘capitalismo’ (o matriz) a<br />menudo mal identificado se ha convertido en un componente esencial para<br />la aquiescencia al sistema que la crítica toma como objeto de crítica.<br /><br />Lo que ocurrió en el comentario de la Tate es precisamente lo que<br />Gramsci espera de nosotros en la guerra de posiciones. Localizamos el<br />núcleo racional y, sobre la base de una comprensión superior del<br />fenómeno, lo dislocamos de la cosmovisión tateiana hacia una marxista.<br />En el proceso mostramos el papel que juega Tate como recuperador radical<br />de la ‘matriz’; él, de una manera muy sofista, encarga a las personas<br />que le ayuden a ‘escapar’.<br /><br />Después, salieron hordas de liberales que piensan que la hoz y el<br />martillo en las redes sociales los convierte en comunistas, nos<br />persiguieron construir una «plataforma» a lo Tate y dar crédito a sus<br />ideas. Esta crítica, por supuesto, está desprovista de cualquier<br />apariencia de comprensión marxista de la guerra de posiciones. Ni<br />convencer al propio Tate ni compartir sus ideas es el objetivo. Lo que<br />intentamos es literalmente lo contrario: ser lo más eficiente posible<br />para alejar a la gente de Tate y acercarla al marxismo.<br /><br />Se puede argumentar que he fracasado en esta empresa y que se podría<br />haber hecho un trabajo mejor. Pero no podemos negar, sin embargo, que<br />ésta es la mejor vía para combatir a los oponentes ideológicos. Produce<br />un doble golpe, la eliminación de un seguidor de tu oponente y la<br />adición de un seguidor a tu proyecto revolucionario. Este es el mismo<br />doble efecto que tuvo la huelga general del proletariado negro durante<br />la Guerra Civil (eliminando la base productiva de la economía del Sur<br />mientras agregaba soldados, espías y trabajadores a las fuerzas del<br />Norte), permitiéndoles ganar la batalla por las fuerzas de la humanidad.<br />liberación.<br /><br />Tate está lejos de ser el único individuo con el que deberíamos hacer<br />esto. En el Instituto, todos los expertos importantes de la burguesía,<br />incluso aquellos que se presentan como «antisistema» y «anti-Estado<br />profundo», deberían recibir este tratamiento. Hemos opinado sobre<br />figuras de todo el espectro político burgués estadounidense, desde David<br />Packman hasta Ben Shapiro y Jordan Peterson.<br /><br />En cada caso intentamos encontrar el punto de contacto (los núcleos<br />racionales) que pueden ser dislocados de estas visiones del mundo y<br />rearticulados hacia el marxismo. Interactuar con estas figuras también<br />es una excelente fuente para superar la insularidad algorítmica que<br />estructura los espacios en línea. Las personas que no encontrarían<br />posiciones marxistas en sus algoritmos se abren a la posibilidad de este<br />encuentro cuando discutimos los ideólogos que habitan sus algoritmos.<br /><br />Naturalmente, las personas quieren darle sentido al mundo que las rodea.<br />“Todos los hombres por naturaleza”, como señaló Aristóteles hace mucho<br />tiempo <https://classics.mit.edu/Aristotle/metaphysics.html> , “desean<br />saber”. Ninguna cosmovisión es capaz de comprender mejor el mundo, de<br />ayudar a la gente a darle sentido, que el marxismo. Se trata, pues, de<br />una tarea que a menudo resulta bastante fructífera. Eso no significa,<br />por supuesto, que no nos encontremos con fanáticos que creen<br />religiosamente estas visiones del mundo de manera dogmática.<br /><br />Pero a menudo son la excepción, especialmente entre los jóvenes. La<br />mayoría de las personas están dispuestas, si se les aborda<br />correctamente, a aceptar la transición hacia una perspectiva que les<br />ayude a comprender mucho mejor su entorno: una perspectiva que, como nos<br />enseña el gran Henry Winston <https://mltoday.com/the-50th-anniversary-<br />of-henry-winstons-strategy-for-a-black-agenda/> , nos da visión incluso<br />cuando la hemos perdido.<br /><br />Para tener éxito en esta tarea es necesario ensuciarse las manos; tener<br />la voluntad de dialogar con algunos de los ideólogos burgueses más<br />repugnantes con la esperanza, no de convencerlos a ellos, sino a sus<br />oyentes de la clase trabajadora, de que una alternativa no sólo es<br />posible, sino necesaria. Ésta es la tarea que tienen entre manos los<br />comunistas dispuestos a librar la guerra de posiciones en las redes<br />sociales, uno de los campos ideológicos más importantes e influyentes<br />del mundo contemporáneo.<br /><br />El articulista:<br /><br /> * Carlos L. Garrido es profesor de filosofía cubanoamericano en la<br /> Universidad del Sur de Illinois, Carbondale. Es director del<br /> Midwestern Marx Institute y autor de The Purity Fetish and the<br /> Crisis of Western Marxism <http://www.midwesternmarx.com/books><br /> (2023), Marxism and the Dialectical Materialist Worldview <http://<br /> www.midwesternmarx.com/books> (2022) y el próximo libro Hegel,<br /> Marxism, and Dialectics (2024). Ha escrito para docenas de<br /> publicaciones académicas y populares en todo el mundo y dirige<br /> varios programas transmitidos en vivo para el YouTube del Midwestern<br /> Marx Institute <https://www.youtube.com/midwesternmarx> .<br /><br />Notas:<br /><br /> 1. ↩ Mi artículo sobre cómo esta relación de determinación no es<br /> fatalista: ‘ Crítica del malentendido sobre la metáfora espacial<br /> base-superestructura de Marx <https://www.bing.com/search?<br /> q=carlos+garrido+superstructure+&qs=n&form=QBRE&sp=-1&ghc=1&lq=0&pq=carlos+garrido+superstructure+&sc=6-30&sk=&cvid=67724CE6B9814605B5CF538693C0950F&ghsh=0&ghacc=0&ghpl=> ‘.<br /> 2. ↩ Una de las formas de solucionarlo es a través de informes masivos,<br /> como los que hemos visto en los últimos meses en el movimiento<br /> antigenocidio y pro Palestina. Sin duda, estas fuerzas han ganado la<br /> guerra de la información, en gran parte gracias a la avalancha de<br /> vídeos escalofriantes que dicen la verdad sobre la campaña genocida<br /> israelí contra Gaza. Al igual que los bancos que nos dijeron que<br /> eran «demasiado grandes para quebrar», estas imágenes que desafiaban<br /> la narrativa imperialista eran demasiado populares y generalizadas<br /> para censurarlas. Si bien Silicon Valley definitivamente ha<br /> censurado a las principales voces que hablan a favor de Palestina,<br /> no han logrado censurar los millones de cuentas relativamente más<br /> pequeñas que se han encargado de documentar la verdad y exponer las<br /> mentiras de la élite.<br /><br />Em<br /><b>OBSERVATORIO DE LA CRISIS</b><br /><a href="https://observatoriocrisis.com/2024/03/03/las-redes-sociales-y-la-guerra-de-posiciones/">https://observatoriocrisis.com/2024/03/03/las-redes-sociales-y-la-guerra-de-posiciones/</a><br />3/3/2024<br /><br /></p>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-28405187842008277582024-02-29T10:45:00.000-08:002024-02-29T10:45:01.740-08:00 Para uma identificação dos partidos como forças de classe<p> <br /><br /><br /><br /><br /><br /> Manuel Raposo <br /><br />O jargão parlamentar e comunicacional impôs na opinião pública uma<br />identificação das forças partidárias segundo critérios de tipo<br />topográfico (esquerda, direita, centro) ou de tipo comportamental<br />(extremista, radical, moderado) que na verdade pouco ou nada nos dizem<br />sobre a sua natureza política. Importa lembrar que os partidos, todos<br />eles, representam classes sociais, mesmo quando a ligação entre aqueles<br />e estas se mostra obscura e difícil de estabelecer. Apagar esta matriz<br />significa esconder os interesses de classe que se alinham nas políticas<br />das diversas forças partidárias, não apenas no que por elas é proposto,<br />mas também no que respeita à sua acção prática.<br /><br />As ideias políticas avançadas por cada partido só parcialmente permitem<br />identificar esses interesses, que se apresentam, na maior parte das<br />vezes, revestidos por uma roupagem de “interesse geral” pretensamente<br />dirigido a qualquer classe social. “O país”, “os cidadãos”, “os<br />portugueses” são termos que identificam essa roupagem enganadora. O<br />primeiro elemento de demagogia das campanhas de propaganda partidárias<br />está exactamente aqui: no obscurecimento da raiz de classe de um<br />partido, dos interesses que defende por debaixo das palavras que usa,<br />das propostas que faz, ou do público a que se dirige.<br /><br />De um modo geral, numa sociedade que não atravesse uma situação<br />revolucionária, os partidos dominantes são os partidos das classes<br />dominantes. As classes trabalhadoras, massacradas pela propaganda<br />oficial, são convidadas a escolher entre eles sem alternativa. Torna-se<br />difícil, nessas situações, que uma via política de classe, independente<br />e radical, obtenha o apoio da maioria dos trabalhadores. Mas pode sempre<br />mobilizar uma minoria significativa de trabalhadores combativos.<br /><br />Como as campanhas eleitorais são terreno propício para o adensamento<br />daquele tipo de nevoeiro, aqui se deixa uma contribuição para<br />identificar, em cada força partidária do espectro parlamentar, a<br />natureza de classe dos interesses que defende e que ligação isso tem com<br />as formulações políticas que avança.<br /><br />*Chega*<br /><br />É o partido dos despolitizados. Capta abstencionistas de longa data,<br />gente que está farta de viver mal e de ser ignorada, que nutre justo<br />desprezo pelo sistema dominante (político, social, económico, cultural)<br />mas que não tem visão política de como sair da situação, e decide<br />apostar às cegas.<br /><br />As opiniões políticas e outras destas camadas sociais não resultam de<br />uma análise racional da realidade, mas sim de sentimentos de raiva e<br />inveja. Raiva contra os responsáveis pela sua má vida e inveja dos bem-<br />sucedidos cujo nível sentem nunca poder atingir. Por ignorância, são<br />facilmente levadas a identificar erradamente os culpados dos seus males:<br />viram-se contra os imigrantes que acusam de “roubar o nosso trabalho” e<br />de viverem “à pala do subsídio”, ou contra “os comunas” e “os xuxas” que<br />acusam de destruir a economia e os bons costumes, ou contra os grevistas<br />que acusam de “querer ganhar sem fazer nenhum”.<br /><br />O Chega cumpre o papel histórico de todo o fascismo: arrastar para o<br />campo da burguesia a pequena burguesia arruinada, amedrontada e<br />desorientada, procurando colmatar a brecha que a decadência do<br />capitalismo abriu entre uma e outra. Atrás desta, seguem franjas das<br />classes populares. As promessas de “mudança”, com demagogia a rodos,<br />procuram colocar os que pouco ou nada têm a reboque dos que estão bem na<br />vida.<br /><br />A despolitização da população trabalhadora abre campo e fornece apoios a<br />este novo fascismo. A sua política é uma amálgama de estatismo para<br />atrair a massa empobrecida e de liberalismo para contentar o capital e<br />suscitar o seu apoio. Os seus líderes vociferam contra “o sistema” para<br />ganharem um lugar no sistema. Os apoios financeiros que vão recebendo<br />mostram a quem servem. A crise da democracia burguesa parlamentar que<br />acompanha a falência do capitalismo fornece-lhes espaço de manobra e<br />argumentos.<br /><br />O seu campo de recrutamento é a pequena burguesia desesperada, as forças<br />repressivas (às quais um poder “forte” beneficia), o proletariado mais<br />miserável empurrado para fora do regime do salariado, franjas dos<br />trabalhadores que não vêem ou desesperaram de ver soluções próprias da<br />sua classe. Cativa ainda faixas da população jovem que não se encaixam<br />numa única classe social – “a malta nova”, igualmente despolitizada,<br />atraída pela vozearia “anti-sistema” e pela rebeldia teatral do líder do<br />partido. Tem pés assentes em sectores da alta burguesia, bem<br />identificáveis pelos resultados obtidos em mesas eleitorais das<br />freguesias mais ricas. <br /><br />O capital espera para ver o êxito da manobra. Entretanto, financia-a. A<br />burguesia acolhe sempre as organizações fascistas e de extrema-direita<br />como forças políticas de reserva.<br /><br />*Iniciativa Liberal*<br /><br />São os apóstolos da liberdade total para o capital. Representam os<br />interesses monopolistas arvorando a “iniciativa individual” como<br />bandeira. Defendem (com atraso de 40 anos) a ideia de que quanto mais<br />ricos forem os de cima, mais poderá sobrar para os de baixo. A prática<br />já mostrou que, por tal via, nem crescimento económico, nem diminuição<br />da pobreza – mas isso não lhes interessa. São os paladinos da<br />desigualdade de classes como motor da economia. <br /><br />Constituem a resposta extremada da direita e do capital ao marasmo dos<br />negócios capitalistas: privatizar tudo o que possa dar lucro para que o<br />capital tenha mais pasto. Daí, transferir as verbas sociais do Estado<br />para bolsos privados. Daí, o favorecimento do negócio privado da saúde à<br />custa do SNS. Daí, a privatização da CGD, para as mãos da banca<br />espanhola e europeia. Daí, a privatização da TAP, para as mãos das<br />grandes transportadoras europeias.<br /><br />Apoiam-se numa média burguesia urbana (universitários, quadros<br />qualificados de empresas privadas). A IL faz junto das classes altas e<br />dos quadros do capital politizados aquilo que o Chega faz junto das<br />camadas populares despolitizadas e desesperadas. Completam-se.<br /><br />*PS e PSD*<br /><br />São os dois grandes partidos da burguesia. Separa-os a forma de conduzir<br />a política do capital, particularmente difícil numa situação de crise<br />geral dos negócios que se prolonga sem fim à vista. A alternância de um<br />e outro no poder, sem que nada de essencial mude, prova o serviço comum<br />que prestam ao capitalismo e às classes dominantes. <br /><br />São, por igual, serventuários do poder imperialista, sejam os monopólios<br />da UE, sejam os monopólios mundiais liderados pelos EUA. São<br />responsáveis por amarrarem o país aos propósitos bélicos dos EUA, da<br />NATO e da UE. As garantias que ambos dão de aumentar os gastos militares<br />vão traduzir-se num ataque ruinoso às políticas de apoio social.<br /><br />*O PS*baseou a sua política dos últimos nove anos num tripé: 1) pagar a<br />dívida do Estado (na maioria, dívida do capital privado assumida pelo<br />Estado) com os recursos de todos; 2) distribuir migalhas aos<br />pensionistas e aos trabalhadores assalariados; 3) canalizar as colossais<br />verbas europeias (nomeadamente, do PRR) para reforço do capital. Assim,<br />a dívida do capital (que não tem fim) vai sendo saldada pela massa do<br />povo, que em troca recebe pequenos benefícios que lhe calam a boca.<br /><br />O governo do PS beneficiou da devastação causada pela troika entre 2011<br />e 2014. Diante da brutalidade das medidas antipopulares do governo PSD-<br />CDS, qualquer pequena melhoria passou por ser um grande alívio. Não foi:<br />os desníveis sociais continuaram a aumentar, a pobreza avançou, o<br />trabalho precário proliferou, as medidas sociais pautaram-se pela busca<br />de um “equilíbrio” que não pusesse em causa os negócios privados (na<br />saúde, na habitação, na política salarial, na legislação laboral).<br /><br />De 2015 a 2019, o PS tirou partido do apoio dado pelo BE e pelo PCP. As<br />lutas sociais (sindicais, etc.) em vez de crescerem, na sequência da<br />derrota da direita, foram amortecidas. Alimentou-se a esperança vã de<br />que o Governo resolveria os males dos trabalhadores pela via parlamentar<br />e negocial. Em vez de se ver apertado pelo movimento popular e laboral<br />(que tinha encurralado o governo da troika), o governo do PS ficou de<br />mãos livres. Resultado: a recuperação das perdas vindas do tempo da<br />troika não foi feita, nem na totalidade, nem no que era essencial. Por<br />exemplo, a legislação laboral permaneceu intocada na questão decisiva da<br />contratação colectiva, retirando poder negocial aos sindicatos. <br /><br />No final de quatro anos, o PS obteve maioria absoluta à custa dos seus<br />apoiantes, canibalizando-os. O baixo nível das lutas sociais,<br />nomeadamente operárias, durante esses quatro anos explica o sucedido. E<br />vem igualmente daí – da falta de oposição popular de massas com voz<br />política própria – o à-vontade com que crescem a direita e a extrema-<br />direita.<br /><br />O PS é o principal partido das camadas médio-burguesas e pequeno-<br />burguesas reformistas, o que lhe permite apresentar-se diante do<br />capital, grande e pequeno, como o partido da “estabilidade” e das<br />medidas “equilibradas”. Consegue, com este estatuto, neutralizar grande<br />parte da massa trabalhadora, a qual deposita esperanças no reformismo<br />que o PS apregoa abdicando da sua independência política. É isto que faz<br />dele o melhor instrumento político do sistema capitalista em momentos de<br />crise social – como se viu no verão de 1975 e recentemente com a<br />política terrorista da troika.<br /><br />*O PSD*é o outro actor para a mesma política de fundo. Com uma<br />particularidade na situação presente: tira partido do marasmo das lutas<br />operárias e populares e da despolitização geral da população<br />trabalhadora. Acha por isso possível ir mais longe que o PS: privatizar<br />empresas estatais rentáveis, libertar de impostos o capital e diminuir<br />os apoios sociais, beneficiar abertamente o negócio privado da saúde,<br />sacrificar as políticas sociais de habitação aos interesses<br />imobiliários, agravar sempre que possível a legislação laboral dando<br />mais liberdade de manobra ao capital. <br /><br />O seu modelo é a IL, só que um passo atrás. Admite abertamente uma<br />coligação com a IL e não a põe de lado com o Chega se isso for<br />necessário para formar governo.<br /><br />Apoia-se no grande capital, nas classes médio-burguesas e pequeno-<br />burguesas proprietárias, urbanas e rurais, em quadros de empresas, nas<br />camadas assalariadas dos serviços com maiores rendimentos. A sua base de<br />apoio social e eleitoral cruza-se em larga medida com a do PS, e daí<br />serem intermutáveis para efeitos de governo.<br /><br />*BE e PCP*<br /><br />São a esquerda do regime político vigente. Ambos estão integrados no<br />sistema capitalista. É na qualidade de esquerda institucional que levam<br />a cabo a sua crítica dos males do regime. Criticam-no pelos seus<br />excessos e injustiças, mas não pela sua natureza de classe, não pela sua<br />natureza de sistema de exploração que deva ser abolido. A luta política<br />parlamentar, no quadro das instituições, é o centro da sua actividade.<br />Mobilizar as massas trabalhadoras contra o sistema capitalista numa<br />acção política independente está fora dos seus horizontes. <br /><br />Vivem na dependência estratégica do PS. Qualquer uma das fórmulas de<br />“governo de esquerda” avançadas pelo BE ou o PCP depende inteiramente de<br />uma posição hegemónica do PS no eleitorado popular. O acordo governativo<br />de 2015 foi disso exemplo.<br /><br />*O BE*tornou-se um simples apêndice de esquerda do PS, o grilo falante<br />que aponta os males que continuam por debelar. Sem bases seguras na<br />massa popular e trabalhadora – sindicatos, comissões de trabalhadores,<br />autarquias, que perdeu progressivamente ao privilegiar a acção eleitoral<br />e parlamentar – não tem hoje outra via de intervenção que não seja<br />constituir-se como a consciência crítica do reformismo (mal) corporizado<br />pelo PS. <br /><br />Abandonou qualquer demarcação face à UE enquanto formação imperialista<br />do capital europeu. Abandonou igualmente a crítica à NATO enquanto braço<br />armado do imperialismo. O alinhamento pelo Ocidente na guerra da Ucrânia<br />coloca-o ao arrasto da política guerreira do imperialismo EUA-UE, a par<br />dos partidos da burguesia capitalista.<br /><br />Pôs de lado qualquer ideia de luta pelo socialismo em favor de uma via<br />de “melhoramentos” do sistema capitalista. As causas sociais parcelares<br />a que se dedica não constituem, todas somadas, uma linha política<br />anticapitalista. Esqueceu que é a luta das massas populares pela<br />transformação social radical que dá sentido a cada luta particular e a<br />cada reivindicação.<br /><br />A sua base de apoio cruza-se em parte com a do PS. Recruta entre as<br />camadas pequeno-burguesas reformistas mais à esquerda, principalmente<br />urbanas, meios universitários, sectores de trabalhadores precários,<br />trabalhadores que abandonaram a perspectiva da revolução social, camadas<br />de classe que pugnam por causas sectoriais (ambiente, direitos de<br />minorias, etc.). Muitas destas camadas, pela posição de classe e pela<br />ideologia, oscilam entre o BE e o PS, como se viu nas eleições de 2022.<br /><br />*O PCP*é o único partido que mantém bases na classe operária, em<br />diversos outros sectores de trabalhadores assalariados, nos sindicatos e<br />noutras organizações de massas. Esta influência está em perda. Cada vez<br />mais, a intervenção do partido se reduz ao parlamento e à actividade<br />sindical. A sua política definha por isso mesmo. <br /><br />Operou, sobretudo nos últimos anos, o que se pode chamar uma<br />sindicalização da actividade política – justamente o que Lenine apontou<br />como um sinal da secundarização da luta política, de classe, junto dos<br />trabalhadores. Reduzir a luta de massas à acção sindical e<br />reivindicativa conduz em linha recta à despolitização dos trabalhadores.<br />Esse efeito está hoje bem à vista: a maioria absoluta do PS obtida há<br />dois anos e o crescimento da direita são também resultado dessa<br />despolitização.<br /><br />Na propaganda do PCP, o 25 de Abril é uma bandeira puramente<br />democrática, sem referência ao seu lado popular-revolucionário,<br />anticapitalista. A luta no quadro da Constituição é o limite a que as<br />acções de massas se subordinam. Aqui reside uma das principais razões da<br />perda de apoio eleitoral do partido, da degradação da sua política, do<br />seu esgotamento ideológico, do apagamento das suas palavras de ordem, da<br />perda de quadros, da dificuldade em recrutar apoios jovens. <br /><br />Mantém, em relação à guerra na Ucrânia, uma demarcação das posições<br />oficiais que é única no quadro das forças parlamentares. Mas a sua<br />posição a respeito do papel da NATO e da atitude das autoridades<br />portuguesas sobre o assunto manifesta-se em surdina, limitando-se a<br />lembrar o preceito constitucional de dissolução dos blocos militares e a<br />clamar pela paz – apagando a crítica política directa aos desmandos do<br />imperialismo na situação concreta.<br /><br />O PCP apoia-se em sectores do proletariado (operários e outros<br />trabalhadores assalariados), nos activistas sindicais, em estratos da<br />pequena burguesia mais pobre (assalariada ou proprietária), em camadas<br />democráticas saudosas do 25 de Abril sem ambições revolucionárias. <br /><br />*Livre e PAN*<br /><br />São o que se pode chamar adereços do regime político. Não cumprem nenhum<br />papel que seja distinto do dos demais partidos, apesar da especificidade<br />que reivindicam para si. <br /><br />A aposta do*Livre*no “projecto europeu” e no “aperfeiçoamento” do regime<br />democrático não o diferencia dos partidos que promovem a mesma utopia<br />sem atacarem a natureza imperialista da UE e sem encararem uma alteração<br />radical do regime social. A sua base de apoio não se distingue da do BE<br />ou da esquerda do PS.<br /><br />O *PAN*cultiva a aparência de partido insubstituível no que toca às<br />causas “do planeta”. Ignora que, sem tocar na raiz do problema, a<br />natureza predatória do capitalismo, nada no planeta se resolverá.<br />Afirmando-se nem de esquerda nem de direita, assume o papel oportunista<br />de buscar alianças sem princípios, em qualquer azimute político, numa<br />via de protagonismo fácil. Colhe apoios residuais em camadas pequeno-<br />burguesas “apartidárias”, principalmente urbanas.<br /><br />*Abstenção e abstencionismo*<br /><br />A abstenção atinge mais de metade do eleitorado nominal, mas não<br />constitui uma força política, como por vezes se pretende. É uma mistura<br />que reúne tanto simples desinteressados da política de todas as classes,<br />como estratos burgueses que acham desnecessário votar porque sentem o<br />regime seguro, como estratos proletários e populares que não se sentem<br />representados por nenhum partido. Reúne num mesmo saco tanto adeptos<br />passivos do regime político como opositores que o desprezam mas não lhe<br />vêem alternativa.<br /><br />Deste saco podem sair votantes para qualquer força partidária quando as<br />circunstâncias os fazem decidir, como acontece em períodos de grande<br />agitação social ou quando uma força política nova parece abrir caminho.<br />Nessas alturas, o aparente bloco da abstenção divide-se segundo as<br />clivagens de classe ou as ilusões do momento.<br /><br />A ideia, presente em alguma esquerda anticapitalista, de que uma<br />abstenção elevada “retira legitimidade” ao regime político burguês<br />esquece as razões muito diversas e as origens de classe distintas da<br />abstenção. Se a abstenção tivesse em si mesma tal virtude, há muito que<br />a maioria dos regimes parlamentares teria caído.Neste sentido, o<br />abstencionismo é uma outra forma de apoliticismo, directamente<br />resultante da fraqueza e da desorganização da esquerda anticapitalista.<br /><br /> <br />Em<br /><b>JORNAL MUDAR DE VIDA </b><br /><a href="https://www.jornalmudardevida.net/2024/02/26/para-uma-identificacao-dos-partidos-como-forcas-de-classe/">https://www.jornalmudardevida.net/2024/02/26/para-uma-identificacao-dos-partidos-como-forcas-de-classe/</a><br />26/2/2024<br /><br /></p>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-25136303573013834762024-02-27T15:13:00.000-08:002024-02-27T15:13:45.064-08:00 La Unión Europea: un proyecto de EEUU convertido en el brazo político de la OTAN<p> <br /><br /><br /><br /><br />ANDRÉS PIQUERAS, PROFESOR DE LA UNIVERSIDAD JAUME I<br /><br />/*Macron es uno de los principales guerreristas contra Rusia y acaba de<br />proponer -ante la evidente y por otra parte irremediable derrota de<br />Ucrania- en la muy reciente reunión de París (de 26 de febrero de 2024),<br />con más de 20 dirigentes de la OTAN y su brazo político, la UE, la<br />posibilidad del envío de tropas de la OTAN al campo de batalla ucraniano. */<br /><br />A principios del siglo XIX el canciller austriaco von Metternich había<br />propuesto la necesidad de instaurar un Concierto Europeo supranacional,<br />por encima de los intereses de cada Estado, como método de defensa común<br />contra las revoluciones. <br /><br />Las diferencias entre el Viejo Orden y el Nuevo que se iba asentando, lo<br />impedirían en la práctica. Fuera de ello, la idea de una Europa Común ya<br />en el siglo XX en realidad no es europea sino estadounidense. La<br />estrategia de Washington tras la Segunda Guerra Mundial para asegurarse<br />su dominio del mundo capitalista estuvo basada en la apertura de los<br />mercados de trabajo europeos a su capital, y de los mercados en general<br />a sus bienes industriales. <br /><br />Algo en lo que se empeñó muy especialmente y obtuvo de la Alemania<br />vencida, a la que impuso la total apertura de su economía a las<br />mercancías norteamericanas y a su inversión externa directa. Después<br />presionó para una integración de la Europa Occidental a través de<br />tratados que garantizasen la apertura de la economía de cada país a las<br />mercancías de los demás. De esta forma, desde su base alemana, los<br />capitales industriales norteamericanos tendrían a su alcance la<br />totalidad de mercados de la Europa Occidental. <br /><br />Durante cerca de 30 años EE.UU. lideró indiscutiblemente el espacio<br />político y económico unificado en que había convertido al hasta entonces<br />conjunto disperso de potencias capitalistas. Sin embargo, a partir de<br />los años 70 del siglo XX los EE.UU., tras desatar la segunda<br />“globalización” (la primera había sido emprendida entre el último cuarto<br />del siglo XIX y el primero del XX), inicia la carrera hacia el liderazgo<br />mundial, rompiendo las reglas del juego con sus antiguos “socios” y<br />financiarizando los entresijos económicos internacionales.<br /><br />Es por ello que Europa se ve forzada a buscar su reacomodo ante la falta<br />de reglas y el uso de la fuerza militar a conveniencia que presidirán la<br />nueva dinámica hegemónica norteamericana tras la caída del Este.<br /><br />Las clases dominantes europeas han ido dando los pasos pertinentes para<br />aproximarse al modelo capitalista norteamericano (el más proclive a lo<br />que se ha conocido como “capitalismo salvaje”). <br /><br />Desde el Tratado de Maastricht de 1992 a la Cumbre de Lisboa de 2001, el<br />rosario de cumbres y acuerdos o tratados que salpican esos 10 años<br />responde a un cuidadoso plan de desregulación de los mercados de trabajo<br />(lo que significa la paulatina destrucción de los derechos y conquistas<br />laborales), de liberalización económica (en detrimento de la<br />intervención de carácter social de los Estados y en beneficio del papel<br />que éstos juegan a favor del gran capital), y de ruptura unilateral, en<br />suma, de los “pactos de clase” que habían mantenido el equilibrio social<br />en la larga postguerra europea, extremando e adelante las desigualdades<br />tanto intra como intersocietales entre los países de la Unión.<br /><br />La UE se ha venido conformando, pues, como la mayor expresión del<br />capital oligopólico transnacional “financiero”, una vía para puentear<br />los parlamentos y las instituciones locales, sustrayendo las decisiones<br />e intereses del Gran Capital a las luchas de clase a escala estatal que<br />forjaron las distintas expresiones nacionales de la correlación de<br />fuerzas entre el Capital y el Trabajo. <br /><br />Se trata de una construcción supraestatal destinada a mantener<br />relaciones de desequilibrio entre sus partes, un sistema deficitario-<br />superavitario diseñado para trasvasar riqueza colectiva de unos Estados<br />(la mayoría) a unos pocos (sobre todo Alemania y su “hinterland”<br />centroeuropeo), especialmente mediante el mecanismo de la moneda única.<br /><br />Constituye el mayor ejemplo mundial de institucionalización del<br />neoliberalismo a escala de un continente entero; el primer experimento<br />de ingeniería social a escala regional o supraestatal en favor de la<br />institucionalidad de las estructuras financieras de dominación.<br /><br />Si la “Europa socialdemócrata” fue la mayor manifestación del reformismo<br />capitalista cuando éste todavía impulsaba con vigor el desarrollo de las<br />fuerzas productivas, hoy la Unión Europea es el primer experimento de<br />ingeniería social a escala regional o supraestatal en favor de la<br />institucionalidad de las estructuras financieras de dominación.<br /><br />Supone en sí un cuidadoso plan de desregulación social de los mercados<br />de trabajo y de las condiciones de ciudadanía, que se dota de todo un<br />conjunto de disposiciones y requisitos, de toda una institucionalidad<br />concebida y conformada para ser irreformable (pues requiere de<br />unanimidades casi imposibles para que no sea así).<br /><br />Se inspiraba la UE en la idea del “constitucionalismo económico” de<br />finales de los pasados años 70, y desarrollada en los años 80 por la<br />flor y nata del neoliberalismo (Buchanan, Milton Friedman, Hayek…) para<br />restringir los poderes económicos, monetarios y fiscales de los<br />gobiernos, “evitando que los gobernantes de turno pudieran tomar<br />decisiones circunstanciales”, según su jerga, y que no quiere decir sino<br />que tales decisiones pudieran estar influidas por las luchas populares.<br />Se trataba, por tanto, de establecer determinados principios<br />obligatorios, inamovibles, fuera quien fuese que llegara al gobierno en<br />cada país. <br /><br />Pero un derecho petrificado deja ser útil no sólo para las clases<br />populares, sino llegado un punto también para la propia clase<br />capitalista. Así cuando ésta ha querido aumentar aún más el grado de<br />explotación social y ambiental o la “financiarización” de las economías,<br />ha tenido que recurrir a puentear a la propia UE, creando nuevas<br />instancias de eso que ellos llaman “gobernanza”, en definitiva,<br />estructuras de poder dual respecto de la Unión. <br /><br />Así, por ejemplo, el Tratado de Estabilidad, Coordinación y Gobernanza<br />de la Unión Económica y Monetaria, para consolidar la penetración<br />financiera de los Estados, y el Mecanismo Europeo de Estabilidad, para<br />asegurar los Programas de Ajuste Estructural que garanticen el pago de<br />las deudas en favor del gran capital a interés global acreedor y en<br />detrimento de las condiciones sociales, laborales y, en conjunto, de<br />“seguridad social”, de las poblaciones de los respectivos Estados (ver<br />sobre estas cuestiones, Albert Noguera, /El sujeto constituyente. Entre<br />lo viejo y lo nuevo/. Trotta. Madrid). <br /><br />De hecho, si hace falta, se modifican las propias constituciones, de<br />manera que sea “anticonstitucional” intentar cambiar la falta de<br />soberanía nacional, como el tándem PP-PSOE demostró al meter mano al<br />artículo 135, subordinando los derechos sociales reconocidos en la<br />constitución española al pago de la deuda externa.<br /><br />Ese complicado entramado de blindaje va, por tanto, de la mano de un<br />sistemático debilitamiento de las capacidades de regulación social<br />expresadas a través del Estado, para debilitar todas las opciones<br />democráticas que las poblaciones pudieran conseguir para defenderse. <br /><br />La des-substanciación de las instituciones de representación popular<br />está garantizada desde el momento en que las decisiones parlamentarias<br />estatales quedan subordinadas a los marcos dictatoriales dados por la UE<br />sobre inflación, déficit presupuestario, deuda pública o tipos de<br />interés, por ejemplo. <br /><br />Pero el Eje Anglosajón (EE.UU. + Inglaterra) más la Red Sionista Mundial<br />obligan a Europa a ir más allá en su (auto-)destrucción.<br /><br />Autodestrucción forzada de Europa<br /><br />“Desde el final de la Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos ha apostado<br />por la integración militar, política y económica de los países de Europa<br />y Japón en un bloque que controla. A través de la estructura OTAN+,<br />Estados Unidos se aseguró un dominio militar completo dentro del grupo<br />imperialista, desplegando muchas bases militares en países derrotados en<br />la Segunda Guerra Mundial, como en Japón (120), Alemania (119) e Italia<br />(45). Esta última alberga a más de 12.000 militares estadounidenses. <br /><br />Tras la caída de la Unión Soviética y la posterior reunificación de<br />Alemania, la burguesía alemana codiciaba los mercados y la energía de<br />bajo coste de Rusia. Deseaba establecer lazos económicos con Rusia, pero<br />sólo mientras ellos y sus compatriotas franceses pudieran mantener su<br />dominio sin trabas del proyecto europeo, que habían mantenido desde la<br />Segunda Guerra Mundial. Esto significaba establecer dichos lazos, pero<br />excluyendo a los dirigentes políticos rusos de cualquier participación<br />en pie de igualdad en los asuntos, decisiones o estructuras políticas de<br />Europa. <br /><br />A su vez, la estrategia estadounidense había consistido en evitar<br />cualquier relación estratégica entre Rusia y Alemania, ya que su fuerza<br />combinada crearía un formidable competidor económico en Europa.”<br />Hiperimperialismo: Una nueva etapa decadente y peligrosa<br />(thetricontinental.org) <https://thetricontinental.org/es/estudios-<br />sobre-dilemas-contemporaneos-4-hiper-imperialismo/><br /><br />En realidad, este objetivo forma parte del Eje Anglosajón desde el siglo<br />XIX: impedir a toda costa, y digo a “toda costa” con lo que eso<br />significa (asedio, ofensivas económicas y diplomáticas, guerras<br />mundiales, guerra hoy en Ucrania, voladura de los conductos gasíferos,<br />sanciones, golpes de Estado…), que Eurasia pueda constituirse en una<br />entidad política, geoestratégicamente entrelazada. Eso sería el fin de<br />la dominación anglosajona del mundo.<br /><br />Ahora bien, ¿por qué la clase capitalista industrial alemana acepta hoy<br />que le corten el cuello? Para empezar, hay que insistir en que Alemania<br />es un país ocupado militarmente por EE.UU., con miles de tropas y<br />armamento nuclear.<br /><br />En segundo lugar, hay que tener en cuenta eso que se ha llamado<br />“financiarización de la economía” dentro del capitalismo actual, y que<br />no es sino una alusión a la importancia que cobra la forma autonomizada<br />del capital dinero como capital a interés ficticio en la dinámica de<br />acumulación del capital, lo que supone que las finanzas pasen de jugar<br />un papel importante pero intermediario para la producción, a asumir la<br />responsabilidad del crecimiento mediante una función parasitaria,<br />focalizada principalmente en la extracción rentista. <br /><br />Se trata de un /dinero/ que busca reproducirse a sí mismo por fuera del<br />capital productivo como capital industrial (es decir, más allá de la<br />generación de /nuevo valor/ como plusvalor), pero que también, y este es<br />el gran juego de la economía capitalista cuando las cosas van mal, puede<br />hacer las veces de dinero-capital, listo para engrasar de nuevo los ejes<br />de aquélla, como si procediera de la valorización del trabajo humano (de<br />ahí su creciente “ficción” y la de la economía que sustenta, aunque<br />pueda hacerla seguir funcionando, a pesar de todo y de los problemas que<br />va acumulando. <br /><br />Es algo substancialmente diferente de una fase financiera del capital y<br />tiene consecuencias mucho más profundas. Se ha perfilado como un colosal<br />mecanismo de disciplinamiento social, de expropiación universal y de<br />gubernamentalización de las exigencias cada vez más parasitarias del /<br />capital/.<br /><br />Así, al menos en las cuatro últimas décadas la capacidad del capital<br />para desmaterializarse y moverse en tiempo instantáneo a escala<br />planetaria en un número creciente de formas, como acciones, pagarés,<br />bonos, bienes inmuebles, bienes raíces y una gran variedad de derivados,<br />especulación sobre alimentos, monedas, energía, incluso el agua, etc.,<br />permite a la clase capitalista realizar todo tipo de ganancias usureras<br />y especulativas a corto, medio y largo plazo. <br /><br />Mucho de todo ese complejo financiero se va centralizando en los grandes<br />fondos de inversión o “fondos buitre” (Vanguard, State Street,<br />Blackrock, entre los más destacados), que a su vez están participados<br />por miríadas de capitales privados de muy distinta procedencia (aunque<br />dominados por personajes y corporaciones privadas sobre todo sionistas).<br />De esta forma tenemos que una empresa alemana que sale a bolsa puede<br />hacerlo tanto en la bolsa estadounidense como en la alemana. Con el<br />tiempo, los accionistas originales de esta empresa pueden vender sus<br />acciones, que ahora cotizan en bolsa. Ya no dependen de la gestión de su<br />patrimonio a través de su inversión en una empresa. <br /><br />En lugar de ello, contratan a gestores de patrimonio, ya sea a través de<br />empresas como Goldman Sachs o de sus propios asesores, que a su vez<br />invierten los ingresos en efectivo de la venta de acciones. A muchos<br />capitalistas, sus asesores les harán invertir bastante más del 50% de su<br />cartera en la bolsa estadounidense, que se erigió tras los años 80 del<br />siglo pasado en la “atractora” mundial del capital a interés<br />especulativo parasitario.<br /><br />Las consecuencias económicas, políticas y sociales de este cambio en los<br />mercados de capitales y en la propiedad son enormes. Este nuevo<br />capitalista global —antes «alemán»— se comporta de forma muy parecida a<br />sus homólogos franceses, ingleses, suecos o estadounidenses.<br /><br />Por lo que este nivel de integración del capital conlleva su /<br />desnacionalización/, lo que refuerza finalmente la preponderancia de eso<br />que llaman “capital financiero” estadounidense, y por consiguiente, el<br />poder político de Estados Unidos. <br /><br />“La situación actual de Alemania ilustra claramente la eficacia de este<br />proceso de integración y consolidación económica por parte de Estados<br />Unidos. Según datos de IHS Markit de 2020, sólo el 13,3% del valor del<br />mercado bursátil alemán pertenece a alemanes, mientras que los<br />inversionistas de Norteamérica y el Reino Unido poseen el 58,3% (…) Las<br />principales empresas de la economía alemana no son primordialmente<br />propiedad de alemanes. El valor agregado industrial de Alemania ha<br />descendido del 9% mundial a poco más del 6% en los últimos 18 años. (…) <br /><br />La pérdida de la energía barata rusa y su adaptación al desacoplamiento<br />con gestión de riesgos serán probablemente desastrosas para su<br />competitividad internacional. En 2022, la inversión extranjera directa<br />(IED) en Alemania disminuyó un 50,4% interanual. (…) En el transcurso de<br />15 trimestres, a partir del tercer trimestre de 2019, el PIB de Alemania<br />aumentó un mísero 0,6% en total, a precios constantes…”<br />Hiperimperialismo: Una nueva etapa decadente y peligrosa<br />(thetricontinental.org) <https://thetricontinental.org/es/estudios-<br />sobre-dilemas-contemporaneos-4-hiper-imperialismo/><br /><br />Esto se traduce para Alemania en una falta de voluntad política soberana<br />y en la aceptación de que su clase capitalista industrial se corte las<br />venas.<br /><br />“El colapso de la «voluntad nacional», la voluntad de seguir un camino<br />que corresponda a sus intereses capitalistas nacionales, demostrada por<br />Alemania en el contexto de la guerra en Ucrania, muestra que Alemania ha<br />sido derrotada por tercera vez desde principios del siglo XX (…) Estados<br />Unidos seguirá privando a la burguesía alemana de todas las opciones<br />importantes para afirmar posiciones políticas independientes. <br /><br />Con la ayuda de los vínculos de propiedad del capital que hemos<br />descrito, la burguesía alemana se enfrentará a la subsunción absoluta de<br />las opciones de acción del capital alemán bajo la égida estadounidense.<br />La hostilidad hacia Rusia actúa como motor de la subordinación de Europa<br />a Estados Unidos y como pérdida de cualquier posibilidad de desarrollo<br />independiente.” Hiperimperialismo: Una nueva etapa decadente y peligrosa<br />(thetricontinental.org) <https://thetricontinental.org/es/estudios-<br />sobre-dilemas-contemporaneos-4-hiper-imperialismo/><br /><br />La desindustrialización de los centros del Sistema Mundial capitalista y<br />especialmente del Eje Anglosajón ha venido cobrando existencia desde<br />hace décadas, en favor del Mundo Emergente. <br /><br />Faltaba, sin embargo, Alemania y su hinterland más próximo. El Eje<br />Anglosajón busca eliminar esa competencia, y la del conjunto de la UE,<br />al tiempo que abortaba la posibilidad de la vinculación<br />infraestructural, económica y política de Eurasia. Las sanciones a Rusia<br />se han convertido en un elemento estelar para ese objetivo.<br /><br />Todo lo cual para Europa en su conjunto tiene unos costos energéticos y<br />económicos de enorme gravedad, que está reportando cuantiosas pérdidas<br />en sus sectores primario e industrial y, en general, la desarticulación<br />de sus economías, con el consiguiente desmontaje de su “capitalismo<br />social” (eso que en otros tiempos llamaron “Estado del Bienestar”).<br />Circunstancia que además de causar el paulatino arruinamiento de sus<br />poblaciones, está tensionando a la propia UE, por ejemplo, hasta el<br />punto de que pronto podría fragmentarse.<br /><br />Todos sabemos que Alemania no sólo ha sido y es “la locomotora” de<br />Europa, como nos insisten si cesar en los grandes media, sino que<br />también lleva la dirección vicaria de la misma (vicaria de EE.UU.). Eso<br />quiere decir que si Alemania se entrega con todos los pertrechos y<br />bagajes a EE.UU., todos los demás países europeos subalternos, sin<br />soberanía alguna, también. Francia fue la única excepción europea, con<br />su orgulloso “gaullismo”, pero desde la llegada de Sarkozy, cuando De<br />Villepin y los gaullistas fueron derrotados, entrega también su<br />política exterior.<br /><br />Hoy Macron es uno de los principales guerreristas contra Rusia y acaba<br />de proponer -ante la evidente y por otra parte irremediable derrota de<br />Ucrania- en la muy reciente reunión de París (de 26 de febrero de 2024),<br />con más de 20 dirigentes de la OTAN y su brazo político, la UE, la<br />posibilidad del envío de tropas de la OTAN al campo de batalla ucraniano. <br /><br />Es decir, parece que los subalternos líderes europeos contemplan dar un<br />paso más en la escalada bélica, convirtiendo de nuevo a Europa en un<br />terrorífico campo de guerra en favor del sostenimiento del liderazgo<br />mundial de EE.UU.<br /><br />En general, como vengo diciendo, la /otanización/ del conjunto de Europa<br />(la del Este en sus formas más agresivas) pasa también por<br />“americanizar” la economía y la sociedad europeas, lo que es sinónimo de<br />completar su conversión al capitalismo salvaje. La UE y su Constitución<br />y Tratados se vienen encargando de ello. <br /><br />La sumisión europea está claramente completada y exhibida con la guerra<br />proxy en Ucrania del Eje Anglosajón y la Red Sionista Mundial contra<br />Rusia, donde una nueva inmolación europea cobra tintes cada vez más<br />probables.<br /><br />Ante todo ello, la pregunta que queda por plantearse es si /están<br />dispuestos a llegar al enfrentamiento nuclear/.<br /><br />Las declaraciones, amenazas y avisos a sus propias poblaciones de los<br />distintos ministros de la guerra europeos, parecen ominosamente mostrar<br />que es así.<br /><br />Sea como fuere, y ante estas dramáticas circunstancias, cualquier<br />izquierda ya no sólo mínimamente alternativa, sino con una décima de<br />honradez coherente, debería tener muy claro que romper con la UE deviene<br />vital para poder salvar algunas de las bases sociales de nuestras<br />sociedades y que romper con la OTAN es básico para la propia supervivencia.<br /><br />Cualquier visión o esperanza de mejora social y de “bienestar económico”<br />dentro de la férula de esas instituciones constituye un tremendo<br />autoengaño, cuando no deliberado colaboracionismo para la destrucción de<br />las sociedades.<br /><br />Publicado en: Artículos <https://observatoriocrisis.com/category/<br />articulos/>, Inicio <https://observatoriocrisis.com/category/inicio/><br /><br />Em<br /><b>OBSERVATORIO DE LA CRISIS</b><br /><a href="https://observatoriocrisis.com/2024/02/27/la-union-europea-un-proyecto-de-eeuu-convertido-en-el-brazo-politico-de-la-otan/">https://observatoriocrisis.com/2024/02/27/la-union-europea-un-proyecto-de-eeuu-convertido-en-el-brazo-politico-de-la-otan/</a><br />27/2/2024<br /><br /></p>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-72508728328719073822024-02-25T04:54:00.000-08:002024-02-25T04:54:11.472-08:00 «Nós somos trabalhadores, não somos capitalistas!»<p> <br /><br /> <br /><br />AbrilAbril<br /><br />24 de Fevereiro de 2024<br /><br /><br />Acabou hoje o XV Congresso da CGTP-IN, a organização de classe de todos<br />os trabalhadores. No encerramento, o recém-eleito secretário-geral,<br />Tiago Oliveira, sistematizou o que foi discutido nos últimos dois dias e<br />apontou baterias para o futuro.<br /><br /><br />Começando por fazer uma caracterização da situação política nacional,<br />Tiago Oliveira rapidamente disse aquilo que é uma evidência para muitos,<br />mas que uns poucos (os que ganham com as guerras e confrontações) não<br />querem que seja dito. «Em qualquer conflito quem sofre são os<br />trabalhadores. É o povo quem sofre. São aqueles que não podem fugir, são<br />aqueles que não têm como fugir, nem para onde fugir. São os mais pobres,<br />os que menos recursos têm», começou por dizer.<br /><br />O novo secretário-geral da CGTP afirmou, sem medos, que é num plano de<br />conflitos «em que se desenvolve a luta de classes», sendo que «a guerra<br />é a destruição das forças produtivas, motor único do desenvolvimento<br />humano», complementando, dizendo que «a guerra é a negação de tudo o que<br />nós, os trabalhadores, somos. A força de quem trabalha é o factor único<br />do desenvolvimento de tudo o que de bom existe nas nossas vidas».<br /><br />O traço solidário e internacionalista característico da CGTP manteve-se<br />presente na intervenção, com Tiago Oliveira apelar a uma saudação a<br />todas as organizações internacionais presentes no Congresso, «porque a<br />luta é de todos e ultrapassa todas as fronteiras», destacando, assim, a<br />presença das delegações da Palestina, de Cuba e do Sahara Ocidental que<br />marcaram presença.<br /><br /><br /> As três mensagens - passado, presente e futuro<br /><br />Relativamente à situação nacional, o secretário-geral da intersindical<br />nacional quis começar por deixar três mensagens - uma sobre o passado,<br />uma sobre o presente e outra sobre o futuro. Sobre o passado destacou o<br />património de intervenção, resistência e luta da CGTP que, «perante as<br />mais difíceis circunstâncias, não abandonou, não deixou de estar<br />presente, não esqueceu» os locais de trabalho e as justas aspirações dos<br />trabalhadores.<br /><br />Sobre o presente, Tiago Oliveira procurou situar as dificuldades com que<br />os trabalhadores estão confrontados e que foram expostas no Congresso:<br />os baixos salários e a perda de poder de compra; a precarização das<br />relações laborais, nomeadamente nos vínculos de trabalho; a facilitação<br />e o embaratecimento dos despedimentos; o contínuo ataque à contratação<br />colectiva; a desregulação dos horários de trabalho com a tentativa de<br />normalização do trabalho aos fins de semana, o trabalho por turnos e<br />noturno, entre outras; o aumento do custo de vida; e o aumento brutal<br />nos custos da habitação. Para o mesmo, «se estas dificuldades hoje<br />existem, então temos que responsabilizar aqueles que, no passado, nada<br />fizeram para reverter o rumo que seguimos e que nos trouxe aqui».<br /><br />Relativamente ao futuro, o novo representante da CGTP-IN colocou a visão<br />na construção, «definir o que temos para fazer é muito fácil». Para o<br />mesmo, não há meios caminhos a se escolher, não é possível estar ao lado<br />dos interesses dos accionistas de empresas como a Galp que lucra milhões<br />enquanto quem trabalha e recebe o Salário Mínimo Nacional «não consegue<br />chegar ao fim do mês tendo uma vida minimamente digna e desafogada».<br /><br />Foi desta forma que futuro foi mesmo a tónica da intervenção, mas não o<br />projectado pelos trabalhadores, mas sim no plano da luta que se deve<br />travar entre o trabalho e o capital, sendo dados vários exemplos das<br />contradições e contrastes. «Não é possível engolirmos os discursos<br />bafientos dos aumentos salariais dependentes de objectivos e pretensos<br />ganhos de produtividade, quando, ao longo dos anos, assistimos à descida<br />da parte que cabe às retribuições do trabalho na riqueza total produzida<br />no país, e, simultaneamente, à subida dos rendimentos do capital»,<br />reafirmou Tiago Oliveira, indo assim embalado para a restante análise. <br /><br />Da juventude, ao Serviço Nacional de Saúde, passando pela Escola<br />Pública, enumerando cada uma das contradições presentes entre os<br />interesses dos trabalhadores e aqueles os exploram e promovem a política<br />de exploração, o novo secretário-geral pediu permissão para reafirmar<br />que «não existe meio termo», que «existem opções políticas» e que «ou<br />estamos ao lado de quem trabalha, ou ao lado de quem explora».<br /><br />Se no presente vive-se a situação que se vive e no futuro tem que se<br />travar as várias batalhas, isso, segundo Tiago Oliveira «advêm de<br />partidos que ao longo de mais de 40 anos têm decidido perpetuar e<br />intensificar políticas de direita que respondem aos interesses duns<br />poucos e que deitam por terra as justas aspirações da maioria, dos<br />trabalhadores, dos reformados e pensionistas, dos jovens. Aspirações dos<br />homens e mulheres que conduzem, esses sim, através do seu trabalho, o<br />país para a frente».<br /><br />Puxando ao sentimento de classe, dizendo «nós somos trabalhadores, não<br />somos capitalistas. Nós somos aqueles que têm mês a mais para o ordenado<br />que temos. Nós somos aqueles que sentem na pele as desigualdades, a<br />exploração, a retirada de direitos. Nós somos aqueles que não sentem<br />valorizado o trabalho que desenvolvem», o secretário-geral da central<br />sindical lançou o desafio a todos os presentes e a toda a estrutura de<br />«levar esta discussão do futuro que merecemos para os locais de<br />trabalho. Por um país assente nos valores de Abril (...)».<br /><br />Assumindo que face aos problemas foram identificados os responsáveis e<br />encontradas as soluções e as ferramentas para lhes dar o verdadeiro<br />combate, é hora de dar seguimento às reivindicações assumidas, como a<br />luta pelo aumento dos salários em 15% com um mínimo de 150 euros; a luta<br />pela valorização das carreiras e profissões, do aumento geral dos<br />salários para todos os trabalhadores, do aumento do salário médio e<br />também do aumento do salário mínimo nacional; a luta pela redução dos<br />horários de trabalho das 40h para as 35h semanais; ou luta pela rejeição<br />de todas as tentativas de desregulação dos horários de trabalho, bancos<br />de horas e adaptabilidades.<br /><br />A concluir a luta pelo futuro, Tiago Oliveira lançou também os desafio<br />para dentro da própria central sindical, identificando como necessário<br />«avançar na organização, na sindicalização, na eleição de delegados<br />sindicais e representantes para SST». Estes elementos estão a par com a<br />necessidade de «continuar a dar destaque à acção nas empresas e locais<br />de trabalho hoje prioritários», de forma a «assegurar intervenção, acção<br />reivindicativa, sindicalização e organização em mais 2 mil empresas,<br />locais de trabalho e serviços em que hoje não existe».<br /><br />Todos estes elementos ganham ainda mais importância nos 50 anos da<br />Revolução de Abril, «momento ímpar de libertação do nosso povo! Marco<br />indelével na história do século XX do nosso país e exemplo e esperança<br />para o mundo». Lançando o desafio a todos, Tiago Oliveira, apelou ao<br />compromisso da CGTP em contribuir para a construção de uma grande<br />evocação do 25 de Abril «seja nas empresas, seja nas ruas», mas com «a<br />responsabilidade de levar os valores de Abril a todos os trabalhadores,<br />de e para todos aqueles que o construíram».<br /><br />Ao finalizar a sua intervenção, o secretário-geral da CGTP deu ainda o<br />caderno de encargos: a Semana da Igualdade de 18 a 22 Março, comemorando<br />o Dia Internacional da Mulher em luta; dia 27 de Março com a realização<br />de uma grande Manifestação de Jovens Trabalhadores; reafirmou a<br />importância das celebrações populares do 25 de Abril; e destacou a<br />import ncia da realização de um grandioso 1º de Maio por todo o país.<br /> <br />Em<br /><b>ABRIL ABRIL</b><br /><a href="https://www.abrilabril.pt/trabalho/nos-somos-trabalhadores-nao-somos-capitalistas">https://www.abrilabril.pt/trabalho/nos-somos-trabalhadores-nao-somos-capitalistas</a><br />24/2/2024<br /><br /><br /></p>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-6188592158721500462024-02-24T11:01:00.000-08:002024-02-24T11:01:52.302-08:00 Isabel Camarinha: «Estamos do lado certo da história» [Entrevista com a secretária Geral da CGTP]<p> <br /><br /><br /> Isabel Camarinha: «Estamos do lado certo da história» [Entrevista com a secretária Geral da CGTP]<br /><br />AbrilAbril<br /><br />Por João Manso Pinheiro 22 de Fevereiro de 2024<br /><br /> <br /><br />Em vésperas do XV Congresso da CGTP (23 e 24 de Fevereiro), o /<br />*AbrilAbril*/ conversou com Isabel Camarinha, secretária-geral cessante,<br />sobre os desafios, presentes e futuros, colocados ao sindicalismo e ao<br />seu «projecto de transformação da sociedade».<br /><br />CréditosEstela Silva / Agência Lusa<br /><br />O mandato de Isabel Camarinha, a primeira mulher a assumir o cargo de<br />secretária-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses —<br />Intersindical Nacional (CGTP-IN), termina no XV Congresso (23 e 24 de<br />Fevereiro, no Seixal) por limite de idade. Tiago Oliveira, de 43 anos,<br />mecânico e coordenador da União de Sindicatos do Porto, é o nome<br />proposto pela Comissão Executiva da CGTP para a substituir.<br /><br />Ao */AbrilAbril/*, a sindicalista, que vai agora regressar aos quadros<br />do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de<br />Portugal (CESP/CGTP-IN), fez o balanço de um mandato que começou com uma<br />pandemia e acabou com um dos maiores aumentos do custo de vida (para os<br />trabalhadores) das últimas gerações. No entanto, uma coisa é certa: a<br />CGTP continua a trilhar caminho «rumo a uma sociedade em que se acabe de<br />vez com a exploração».<br /><br /><br /> Foste eleita Secretária-Geral da CGTP em Fevereiro de 2020. Um mês<br /> depois, o país entrava em estado de emergência e confinamento por<br /> causa da pandemia Covid-19. De um momento para o outro, a realidade<br /> laboral do nosso país sofreu alterações significas, afectando<br /> centenas de milhares de pessoas. Os sindicatos estavam preparados?<br /><br /><br /> Acusar quem luta no espaço público «não é compatível com a democracia»<br /><br /><https://www.abrilabril.pt/trabalho/acusar-quem-luta-no-espaco-publico-<br />nao-e-compativel-com-democracia><br /><br />Foi, de facto, um desafio muito grande. Não só porque se tentou instalar<br />um medo colectivo (e havia um efectivo medo por parte dos trabalhadores,<br />das populações, em relação a uma situação que nunca tínhamos vivido, uma<br />pandemia com as características que teve a Covid-19), mas pela<br />tentativa, por parte do patronato, do capital, de aproveitamento da<br />situação sanitária para aumentar ainda mais a exploração dos trabalhadores.<br /><br />Colocou-se-nos um desafio enorme, começando logo pela exigência de<br />garantia de segurança e saúde aos trabalhadores que, na sua esmagadora<br />maioria, tiveram que continuar a trabalhar (não obstante ter havido<br />muitos que, pelos /lay-offs/, pelo confinamento, pelo<br />teletrabalho, acabaram por não estar nos seus locais de trabalho). Era<br />preciso garantir a sua saúde, toda a protecção relativamente à epidemia,<br />e garantir os seus direitos. E isso foi, de facto, o desafio maior,<br />porque o patronato tentou que os direitos dos trabalhadores fossem,<br />muitos deles, eliminados. Até mesmo o direito à liberdade sindical,<br />direito de reunião, direito de protesto, direito de manifestação. Ora,<br />os sindicatos da CGTP e a CGTP assumiram logo esta necessidade de apoiar<br />e defender os direitos dos trabalhadores e a sua protecção.<br /><br />Essa foi a nossa principal intervenção no início da pandemia, assim como<br />toda a exigência, junto do governo e do patronato, da garantia dos<br />postos de trabalho e dos salários que foram postos em causa. <https://<br />www.abrilabril.pt/trabalho/propostas-para-enfrentar-pandemia-e-<br />assegurar-o-emprego><br /><br /><br /> O custo para os trabalhadores foi desproporcionado, na pandemia, em<br /> relação ao que foi exigido às empresas e aos patrões?<br /><br />Nós atravessámos ali um período em que estavam muitos milhares de<br />trabalhadores em /lay-off/, com o /lay-off/ simplificado. Em 2020, esses<br />trabalhadores tiveram um corte de 30% nos seus salários, coisa que a<br />CGTP, desde a primeira hora, exigiu que não acontecesse.<br /><br />Assistimos ao despedimento de todo um conjunto de trabalhadores que<br />tinham vínculos precários: foram os primeiros a ser despedidos, apenas<br />porque o Governo não aceitou a nossa exigência de garantir que não havia<br />despedimentos de nenhum trabalhador, fosse qual fosse o seu vínculo,<br />durante a pandemia. Ora, o que aconteceu foi que o Governo PS acabou por<br />colocar na legislação e nas medidas que foi tomando o impedimento de<br />despedimento dos trabalhadores dos quadros das empresas, mas os<br />trabalhadores com vínculo precário ficaram de fora dessa medida.<br /><https://www.abrilabril.pt/trabalho/milhares-perderam-emprego-devido-<br />precariedade><br /><br />Basta ir ver os números do desemprego naquele período para perceber que<br />esses foram os primeiros a ser despedidos: os trabalhadores com vínculo<br />precário.<br /><br /><br /> Valeu a pena, em 2020, celebrar o 1.º de Maio em Lisboa? A CGTP foi<br /> alvo de muitos ataques e críticas...<br /><br /><br /> 1.º de Maio: não haveria «avanços» se a luta confinasse<br /><br /><https://www.abrilabril.pt/trabalho/1o-de-maio-nao-haveria-avancos-se-<br />luta-confinasse><br /><br />O nosso 1.º de Maio constituiu não só uma garantia para os trabalhadores<br />de que a CGTP e os seus sindicatos não arredavam pé da defesa dos seus<br />direitos, como demonstrou que, mesmo em estado de emergência, mesmo com<br />pandemia, desde que fosse assegurada a protecção sanitária, nós tínhamos<br />o direito de exercer a liberdade sindical, o direito de manifestação. O<br />1.º de Maio de 2020 constituiu, de facto, uma mola que impulsionou a<br />luta dos trabalhadores em muitíssimos locais de trabalho, aliás, poucos<br />dias depois houve uma marcha de trabalhadores em Évora e trabalhadores<br />de um conjunto vastíssimo de empresas fizeram reuniões à porta dos seus<br />locais de trabalho <https://www.abrilabril.pt/trabalho/figura-do-ano>.<br /><br />O que estava a acontecer era o aumento da exploração, o incumprimento<br />dos direitos, o tentar atropelar os direitos dos trabalhadores<br />aproveitando a pandemia. Não podia ser.<br /><br />As empresas conseguiram, da parte do Governo, a adopção de um conjunto<br />de medidas, de apoios, de subsídios a seu favor, mas não ficaram<br />garantidos todos os direitos dos trabalhadores. <https://<br />www.abrilabril.pt/trabalho/lay-empresa-fica-com-o-lucro-e-estado-paga-<br />os-salarios><br /><br /><br /> O PS fez, recentemente, grande alarde com a adopção da chamada<br /> Agenda do Trabalho Digno (ATD). A CGTP não acompanha esse projecto?<br /><br />A CGTP participou em toda a discussão, quer ao nível da concertação<br />social, quer com os trabalhadores, em torno da chamada Agenda do<br />Trabalho Digno <https://www.abrilabril.pt/trabalho/cgtp-entregou-<br />pareceres-contra-alteracoes-legislacao-laboral>, colocando logo desde o<br />início a necessidade de resolução dos problemas estruturais introduzidos<br />pela aprovação do Código do Trabalho em 2013 e as suas sucessivas<br />alterações. E o que é que aconteceu? <br /><br />Sempre combatemos todas as alterações à legislação laboral que<br />retirassem direitos aos trabalhadores, promovessem a individualização<br />das relações de trabalho ou que negassem a efectivação do direito de<br />negociação colectiva. Essas foram umas das principais matérias que nos<br />levaram a não concordar com a chamada Agenda do Trabalho Digno.<br /><br />A ATD não resolveu os problemas estruturais da legislação laboral:<br />a contratação colectiva e a caducidade das convenções colectivas, a não<br />reposição do princípio de tratamento mais favorável ao trabalhador,<br />a manutenção de uma permissividade de vínculos precários num conjunto<br />muito vasto de actividades, não restringindo, por exemplo, a<br />possibilidade das empresas contratarem, por exemplo, a termo certo,<br />e permitindo a externalização a empresas de trabalho temporário.<br /><https://www.abrilabril.pt/trabalho/mudar-na-forma-e-nao-no-conteudo><br /><br />Também em termos de horários de trabalho não houve a ousadia de<br />continuar um processo que tem de continuar, de redução do horário de<br />trabalho. Para garantir a conciliação da vida pessoal com a vida<br />familiar e da vida pessoal com a vida profissional, para garantir a<br />saúde dos trabalhadores com a regulação dos horários de trabalho e a sua<br />redução. Foram opções, por parte do governo, do Partido Socialista, que<br />não garantiram, de facto, a melhoria no progresso da legislação laboral<br />e o que provocam. Não garantindo a revogação dessas normas gravosas e a<br />reposição de direitos dos trabalhadores, o que provocam é o piorar das<br />condições de trabalho.<br /><br />Tem sido uma das bandeiras do Partido Socialista. Quando se diz: não se<br />alterou para pior, pela primeira vez não se alterou a legislação laboral<br />para pior, o que é que isto significa? Quando não se altera, retirando<br />aquilo que faz com que a situação dos trabalhadores piore, está-se a<br />permitir que a situação dos trabalhadores continue a piorar! Isso não é<br />nada de positivo, pelo contrário, e por isso a CGTP não acompanhou. A<br />ATD tem até algumas melhorias, mas são muito insuficientes.<br /><br /><br /> Não temos visto os sindicatos particularmente investidos na ideia da<br /> semana de 4 dias. Porque é que a opção passa sempre pela luta pelas<br /> 35 horas semanais?<br /><br />A CGTP defende a redução do horário de trabalho para as 35 horas no<br />máximo, sem perda de retribuição. Isso é o que garante, de facto, a<br />possibilidade dos trabalhadores terem um horário que lhes permita<br />organizar a sua vida, compatibilizar a sua vida profissional com a sua<br />vida pessoal.<br /><br /> «Sobre uma semana de 4 dias, que efetivamente garanta que os<br /> trabalhadores não trabalham mais de 8 horas por dia, nós não temos<br /> nada contra... Pelo contrário! É benéfico para os trabalhadores,<br /> naturalmente, passarem a ter 3 dias de descanso e poderem ter uma<br /> vida diferente. Agora, a verdade é que, na esmagadora maioria dos<br /> casos, o que se faz é aumentar o horário diário de trabalho. Ora,<br /> isso não propicia a conciliação da vida profissional com a vida pessoal»<br /><br />Nós não temos nada contra a semana dos 4 dias. O que verificamos é que<br />muitas vezes o que isso propicia é não uma redução do horário de<br />trabalho, mas uma alteração da sua organização, aumentando as horas<br />trabalhadas.<br /><br />Sobre uma semana de 4 dias, que efetivamente garanta que os<br />trabalhadores não trabalham mais de 8 horas por dia, nós não temos nada<br />contra... Pelo contrário! É benéfico para os trabalhadores,<br />naturalmente, passarem a ter 3 dias de descanso e poderem ter uma vida<br />diferente. Agora, a verdade é que, na esmagadora maioria dos casos, o<br />que se faz é aumentar o horário diário de trabalho. Ora, isso não<br />propicia a conciliação da vida profissional com a vida pessoal, não<br />garante tempo para a família, para o lazer, para o desporto, para a<br />cultura, para se fazer o que se quiser.<br /><br />A redução do horário de trabalho para as 35 horas, para além de tudo,<br />será um avanço civilizacional, porque é nesse sentido que temos que<br />caminhar. Os avanços da ciência e da técnica foram enormíssimos,<br />permitem formas de produção com menos trabalhadores e em menos<br />tempo. Ora, quem tem beneficiado destes avanços da ciência e da técnica<br />tem sido apenas o capital, porque unicamente serve para aumentar os lucros.<br /><br /><br /> E a CGTP está pronta para a transformação que a evolução da ciência<br /> e da técnica vão ter, nos próximos anos, no mercado de trabalho?<br /><br />Temos aqui duas abordagens a essa questão.<br /><br />A evolução da forma que as relações de trabalho têm, não alterou a<br />natureza da exploração dos trabalhadores. Portanto, desse ponto de<br />vista, seja em teletrabalho, seja com máquinas altamente<br />sofisticadas, seja com o trabalho tradicional, os trabalhadores estão a<br />vender a sua força de trabalho. Há quem tenha de vender a sua força de<br />trabalho e há quem queira apropriar-se do que os trabalhadores produzem,<br />apropriar-se o mais possível. <https://www.abrilabril.pt/trabalho/pingo-<br />doce-onde-os-lucros-sao-doces-e-os-salarios-amargos><br /><br />Portanto, há aqui a continuação de uma luta para garantir uma<br />distribuição diferente da riqueza, garantir a valorização do trabalho<br />dos trabalhadores, garantir que os trabalhadores são justamente<br />compensados pelo trabalho que realizam.<br /><br />Por outro lado, a redução do horário de trabalho permitirá também a<br />criação de mais postos de trabalho. Naturalmente que, depois, teremos de<br />enfrentar os interesses do capital (que quer é produzir o maior lucro<br />possível com o mínimo de gastos), mas aí a luta dos trabalhadores é<br />fundamental. Nós assistimos já, na nossa história, a estes momentos, em<br />que houve esse salto civilizacional, como quando atingimos as 40 horas<br />de trabalho como limite máximo da duração do trabalho semanal. <https://<br />www.abrilabril.pt/nacional/origens-e-actualidade-do-1o-de-maio><br /><br />O fundamental é garantir que esse emprego, naturalmente, seja um emprego<br />com direitos, assegurando que os trabalhadores beneficiam dos avanços<br />que tem havido nos métodos de produção, como dizia, com a ciência e com<br />a técnica, e que lhes é garantido o direito a terem vida familiar, vida<br />pessoal, sem a pressão da empresa, o patrão ou do Estado.<br /><br /><br /> A desregulação de horários afecta muita gente?<br /><br /><br /> Banco de horas: mais trabalho, mais desregulação de horários e menos<br /> rendimentos<br /><br /><https://www.abrilabril.pt/trabalho/banco-de-horas-mais-trabalho-mais-<br />desregulacao-de-horarios-e-menos-rendimentos><br /><br />Temos, em Portugal, mais de um milhão e oitocentos mil trabalhadores que<br />têm formas diversificadas de desregulação dos horários, com trabalho por<br />turnos, com trabalho noturno, com laboração contínua, com horários<br />diversificados. Muitas vezes, os trabalhadores têm um horário num dia,<br />no seguinte já têm outro, e a seguir, e a seguir... isto inferniza<br />completamente a vida dos trabalhadores e das trabalhadoras, impede uma<br />vida familiar, incide inclusive nos direitos das próprias crianças! É<br />impossível conciliar esta realidade no caso dos trabalhadores com<br />crianças. É impossível. <https://www.abrilabril.pt/nacional/carlos-neto-<br />temos-um-estado-negligente-com-criancas><br /><br />Precisamos de fazer este caminho de garantir, de facto, a redução do<br />horário de trabalho, salários dignos e que o trabalhador seja,<br />efetivamente, compensado pela prestação do seu trabalho.<br /><br /><br /> A caducidade...<br /><br />É a contratação colectiva que contém os direitos dos trabalhadores. É<br />através da negociação da contratação colectiva que se faz a actualização<br />anual dos salários de todos os trabalhadores em todos os sectores, e não<br />apenas do Salário Mínimo Nacional, que é muitíssimo importante para<br />garantir o mínimo necessário, o que, no nosso caso, não é o que acontece<br />(820 não é o mínimo necessário para viver com dignidade, daí a nossa<br />proposta de atingirmos os 1000 euros de salário mínimo ainda em 2024,<br />com 910 com retroactivos a Janeiro).<br /><br /><br /> Ana Pires: «Há riqueza suficiente para que todos possamos viver com<br /> dignidade»<br /><br /><https://www.abrilabril.pt/trabalho/ana-pires-ha-riqueza-suficiente-<br />para-que-todos-possamos-viver-com-dignidade><br /><br />Precisamos do aumento geral e significativo dos salários, os 15% com um<br />mínimo de 150 euros em 2024 para todos os trabalhadores. É a negociação<br />da contratação colectiva que assegura esta necessidade de<br />valorização dos salários e das condições de trabalho. Houve uma opção<br />política de manter todo o bloqueio que existe na contratação colectiva,<br />a tal caducidade, que permite que a contratação colectiva expire, contra<br />a vontade dos trabalhadores. <https://www.abrilabril.pt/trabalho/o-que-<br />e-afinal-caducidade-da-contratacao-colectiva><br /><br />Neste momento, temos cerca de 750 mil trabalhadores abrangidos pela<br />renovação da contratação coletiva. Desses, apenas 690 mil vão ter<br />alterações salariais. Estamos a falar de um universo de cerca de 5<br />milhões de trabalhadores. Isto é muito pouco, é mesmo muito pouco, é uma<br />taxa de abrangência da renovação da contratação colectiva muito diminuta<br />e que não garante o aumento dos salários. <https://www.abrilabril.pt/<br />trabalho/caducidade-da-contratacao-colectiva-um-exemplo-pratico> Para<br />garantir o progresso nas relações de trabalho, nas condições<br />laborais, tem de se efectivar a contratação colectiva.<br /><br /><br /> Isso não pode explicar um pouco a redução das taxas de<br /> sindicalização em Portugal? Os trabalhadores deixam de ter<br /> capacidade de melhorar as suas condições através da sua acção<br /> colectiva e, eventualmente, deixam de acreditar ser possível<br /> conquistar seja o que for? Lembro-me da situação do MyAuchan da<br /> Amadora, a empresa obrigou centenas de trabalhadores a fazerem a<br /> limpeza das lojas e casas de banho públicas (despedindo os<br /> trabalhadores das limpezas, e apenas 8 trabalhadores reagiram, a<br /> maioria aceitou um abuso flagrante. <br /><br />Há uma pressão muito grande das empresas sobre os trabalhadores. O<br />Código do Trabalho e as alterações que nele foram introduzida promovem a<br />individualização das relações de trabalho e isso propicia, digamos<br />assim, uma maior pressão das empresas sobre os trabalhadores para<br />aceitarem, inclusive, que não sejam cumpridos os seus direitos.<br /><br /><br /> Auchan da Amadora: empresa ameaça despedir todos os trabalhadores<br /> grevistas<br /><br /><https://www.abrilabril.pt/trabalho/auchan-da-amadora-empresa-ameaca-<br />despedir-todos-os-trabalhadores-grevistas><br /><br />Quando se diz que a sindicalização está a diminuir, a CGTP não tem essa<br />visão. Temos o nosso Congresso a 23 e 24 de Fevereiro, e a verdade é que<br />estamos ainda a terminar o balanço deste mandato em termos de<br />sindicalização e o resultado que temos é muitíssimo significativo no que<br />toca ao número de trabalhadores sindicalizados.<br /><br />Agora, naturalmente que com o nível de precariedade que temos no nosso<br />país, com esta possibilidade de ter trabalhadores que não são vinculados<br />à empresa para quem efectivamente trabalham, como é o caso das empresas<br />de trabalho temporário <https://www.abrilabril.pt/trabalho/<br />trabalhadores-dos-call-centers-querem-vinculo-com-empresas-onde-<br />trabalham>, de um conjunto de plataformas digitais (uma das tais novas<br />formas de relação de trabalho), alterações à legislação laboral que não<br />vieram a resolver os problemas na totalidade... mas tem havido<br />também o desenvolvimento de intensíssima luta, este mandato fica<br />marcado exactamente por isso.<br /><br /><br /> Os estafetas das plataformas digitais são, talvez, a face mais<br /> visível do que significa ter um mercado laboral desregulado...<br /><br />Os trabalhadores que exercem por conta dessas plataformas digitais têm<br />de ser considerados trabalhadores por conta de outrem. Aliás, no que<br />toca a este nível d4 precariedade, um dos problemas da nossa legislação<br />é que é muito permissiva, seja em relação às plataformas digitais, seja<br />em relação aos trabalhadores, por exemplo, a recibos verdes. <https://<br />www.abrilabril.pt/trabalho/novas-leis-para-plataformas-obrigado-por-<br />nada> Sabemos bem que há milhares e milhares de trabalhadores, os<br />chamados trabalhadores independentes, que têm um vínculo efectivo, que<br />fazem uma efectiva prestação de trabalho subordinado a empresas para as<br />quais, na realidade, trabalham.<br /><br />Houve ali umas pequenas alterações que melhoraram ligeiramente, mas<br />acaba-se por criar uma terceira condição de trabalhador, que nem é<br />trabalhador independente, nem é trabalhador por conta de outrem, com<br />acesso a alguns direitos, mas sem os ter a todos. Precisamos, todos, de<br />garantir que um a posto de trabalho permanente corresponde efectivamente<br />a um vínculo efetivo. Não foi isso que se fez, mais uma razão para a<br />CGTP não ter estado de acordo com a Agenda do Trabalho Digno:<br />não resolve os principais problemas com que os trabalhadores se<br />confrontam no seu dia-a-dia.<br /><br /><br /> Referiste a individualização do trabalho. Como é que os sindicatos<br /> podem organizar trabalhadores em teletrabalho, onde cada um vive em<br /> bairros, cidades ou até países diferentes, separados por grandes<br /> distâncias? Centenas de milhares de trabalhadores, em Portugal,<br /> estão já neste regime, a tempo parcial ou inteiro<br /><br /><br /> Teletrabalho ou Televida? As armadilhas do futuro<br /><br /><https://www.abrilabril.pt/trabalho/teletrabalho-ou-televida-armadilhas-<br />do-futuro><br /><br />Nós mantemos, de uma maneira geral, a nossa acção e intervenção muito<br />ligada ao local de trabalho, porque é onde os trabalhadores estão<br />concentrados em maior número e onde há maiores possibilidade de<br />organizar e mobilizar os trabalhadores. Agora há esta realidade, que a<br />pandemia acabou por ampliar, de um número muito significativo de<br />trabalhadores cuja actividade laboral na empresa é feita remotamente, a<br />partir de casa ou de outros locais. Temos, sindicatos, de fazer um<br />investimento muito grande em todas as formas de contacto, utilizando os<br />meios digitais, inserindo estas questões nos cadernos reivindicativos e<br />nas propostas de negociação da contratação coletiva, etc... <br /><br />Há muitos outros direitos que não podem ser esquecidos relativamente aos<br />trabalhadores que estão em teletrabalho <https://www.abrilabril.pt/<br />trabalho/teletrabalho-da-promessa-da-autonomia-realidade-da-exploracao>,<br />nomeadamente, por exemplo, os placares digitais de informação sindical,<br />o assegurar, por parte da empresa, dos direitos dos trabalhadores ao<br />nível da informação, da participação na vida dos sindicatos, na sua<br />eleição como delegados sindicais, como dirigentes, etc...<br /><br />É natural que o isolamento provoque ainda maior individualização da<br />relação de trabalho, mas, para a CGTP, a questão que se coloca é<br />garantir os direitos desses trabalhadores e nesses direitos também se<br />incluir o direito de participação e de liberdade sindical.<br />Tivemos alguns resultados muito positivos, temos sectores em que se<br />fazem plenários com centenas e centenas de trabalhadores por<br />videoconferência, por exemplo, em que os trabalhadores participam e a<br />partir das suas casas, a partir do local de onde prestam a sua<br />actividade profissional e dão o seu contributo. <br /><br />Agora, apesar desta realidade ter aumentado muito, a esmagadora maioria<br />dos trabalhadores continua a estar nos seus locais de<br />trabalho. Portanto, o contacto directo, o plenário, a reunião, a<br />informação que se leva aos trabalhadores , envolvendo-os na forma de<br />resolver os seus problemas e de aprovar as suas reivindicações.<br /><br /><br /> Os resultados dessas lutas têm sido positivos?<br /><br />Há um conjunto enormíssimo de lutas que têm sido desenvolvidas em<br />empresas, em sectores, em locais de trabalho, em serviços. Seja no<br />sector privado, seja no sector público. E com resultados!<br /><br /><br /> Trabalhadores venceram! Matutano condenada por impor horário de<br /> laboração contínua<br /><br /><https://www.abrilabril.pt/trabalho/trabalhadores-venceram-matutano-<br />condenada-por-impor-horario-de-laboracao-continua><br /><br />Temos tido aumentos salariais, muitos deles acima até das propostas-base<br />que nós temos reivindicado ao longo dos anos. Já em 2024 tivemos<br />trabalhadores a alcançarem aumentos de 150 euros (e mais ainda) mensais,<br />garantindo a melhoria das suas condições de vida. Também ao nível dos<br />direitos (nomeadamente da organização dos horários de trabalho)<br /><https://www.abrilabril.pt/trabalho/trabalhadores-da-samsic-conquistam-<br />horarios-de-trabalho-dignos>, da passagem de trabalhadores com vínculos<br />precários a contratos efectivos <https://www.abrilabril.pt/trabalho/<br />science4you-obrigada-reintegrar-trabalhadora>. Onde os trabalhadores<br />lutam, há resultados.<br /><br />E temos agora um conjunto vasto de sectores que estão a vir à luta,<br />alguns que até nem é muito tradicional e habitual lutarem e que estão a<br />vir à luta <https://www.abrilabril.pt/trabalho/accenture-centenas-de-<br />trabalhadores-aderiram-greve-que-se-repete-2-de-janeiro>, porque o<br />descontentamento é mesmo muito profundo e generalizado. Em todas as<br />áreas, em todos os sectores, os trabalhadores sentem esta injustiça,<br />este aumento das desigualdades, o empobrecimento. Sentem que o aumento<br />dos salários é fundamental para garantir condições de vida e que o que<br />tem acontecido é que a isso não tem sido dada uma resposta efectiva.<br /><br /><br /> Há alguma empresa ou sector, dos que acabaste de mencionar, que não<br /> era comum ter uma grande prática reivindicativa e que te tenha<br /> impressionado nestes últimos anos?<br /><br />São muitos exemplos. Em todos os sectores, houve lutas em empresas que,<br />há muitos anos, não lutavam. Foi anunciada uma greve geral dos<br />jornalistas, algo que não acontecia há muitos anos <https://<br />www.abrilabril.pt/nacional/congresso-de-jornalistas-aprova-greve-geral-<br />por-unanimidade>. Isto tem a ver com a percepção dos trabalhadores<br />(neste caso os jornalistas), de que a exploração aumentou muito, não<br />lhes são garantidas as suas condições de trabalho e salariais dignas.<br /><br />Neste caso concreto, há ainda a questão da própria liberdade de imprensa<br />e da forma como os órgãos de comunicação social estão dominados pelo<br />capital. Ao aproveitarem todas as formas de exploração, baixos salários,<br />precariedade, acabam por não permitir que o direito à informação seja<br />garantido como devia ser.<br /><br /><br /> Abril ainda é projecto da CGTP?<br /><br />Precisamos é de o concretizar! Para desenvolver o nosso país e<br />estas matérias dos direitos dos trabalhadores, que são direitos<br />fundamentais, do pleno emprego, do direito ao trabalho com direitos, de<br />um salário que permita viver com dignidade, o direito de negociação e<br />contratação colectiva, o direito à liberdade sindical, à liberdade de<br />imprensa, o direito à saúde, à educação, à protecção social e<br />aos serviços públicos. Que nos permita viver com dignidade sem haver<br />essa injustiça e essa diferenciação e discriminação de que os ricos é<br />que podem. Isto tudo se liga com o 25 de Abril, com os 50 anos da<br />revolução e com o nosso projecto de transformação da sociedade da<br />própria CGTP.<br /><br />Garantindo a emancipação da sociedade. Garantindo aos trabalhadores os<br />seus direitos e liberdades, caminhando rumo a uma sociedade em que se<br />acabe de vez com a exploração. Onde não haja explorados nem<br />exploradores, como temos neste sistema capitalista em que vivemos. <br /><br /><br /> A Comarca de Lisboa reconheceu recentement o vínculo laboral entre<br /> os estafetas e as plataformas digitais. Dias depois, saiu uma<br /> reportagem em que alguns destes trabalhadores, imigrantes<br /> muitos, assumiam algum receio com as consequências que advinham<br /> desta regularização dos contratos, por ficarem presos a contratos<br /> sem direitos e de salário mínimo. Como é que se conciliam estas duas<br /> necessidades: trabalhadores precários (maioritariamente imigrantes a<br /> viver em situações indignas) a procurar fazer o máximo de dinheiro<br /> possível e a necessidade premente de se assegurarem direitos<br /> laborais como a estabilidade, direito ao descanso, horários?<br /><br />Por isso é que é tão importante este aumento geral e significativo de<br />todos os salários, que garantam, de facto, que os<br />trabalhadores são compensados justamente pela prestação do seu trabalho.<br />Há um aumento enorme da imigração no nosso país, os patrões a dizer que<br />precisam dos imigrantes porque não estão a conseguir contratar<br />trabalhadores portugueses para os postos de trabalho que precisam de ser<br />ocupados. Ora, isto é resultado deste modelo de baixos salários de<br />precariedade que o patronato se recusa a alterar. <https://<br />www.abrilabril.pt/nacional/imigracao-em-portugal-o-problema-nao-e-o-<br />nosso-humanismo-mas-o-vosso-capitalismo-0><br /><br /><br /> CGTP-IN: migrantes devem ser «acolhidos, integrados e protegidos»<br /><br /><https://www.abrilabril.pt/nacional/cgtp-migrantes-devem-ser-acolhidos-<br />integrados-e-protegidos><br /><br />O patronato aproveita-se da vinda de milhares de trabalhadores de outros<br />países, que procuram uma vida melhor, naturalmente (como acontece em<br />Portugal, aliás, são muitos os que daqui emigram, saem do nosso país<br />para procurar melhores condições de vida porque as que temos cá não<br />permitem uma vida de facto digna) e o patronato, o capital, aproveita-se<br />desses trabalhadores tentando baixar, no fundo, o nível, quer salarial,<br />quer de direitos praticados no nosso país. <https://www.abrilabril.pt/<br />trabalho/sindicato-faz-denuncia-ao-papa-sobre-exploracao-de-<br />trabalhadores-imigrantes-em-fatima><br /><br />E é isto que não pode ser permitido e isso exige medidas por parte dos<br />governos, exige uma legislação laboral que garanta os direitos de todos<br />os trabalhadores, imigrantes ou não, e exige fiscalização permanente por<br />parte, nomeadamente, da Autoridade para as Condições de Trabalho, que<br />impeça que haja este aproveitamento dos imigrantes, muitos deles a<br />viver inclusive em condições indignas, até de habitação.Tem havido<br />fortes movimentações, também por parte dos sindicatos da CGTP, das<br />nossas estruturas, para exigir que sejam garantidas essas condições de<br />vida. <https://www.abrilabril.pt/trabalho/cgtp-portugal-tem-o-dever-de-<br />defender-e-proteger-imigrantes-timorenses><br /><br /><br /> O secretário de Estado do Turismo do Governo PS (Nuno Fazenda)<br /> afirmou que 2023 foi o melhor ano de sempre no turismo, em termos de<br /> receitas e lucros. No entanto, não passa uma semana sem recebermos<br /> informação sobre despedimentos e abusos contra trabalhadores, na sua<br /> maioria precários, neste sector recordista da Hotelaria...<br /><br />Aliás, é curioso que alguns dos sectores que alcançam melhores<br />resultados, quer para o nosso PIB, quer para a economia em geral, que<br />garantem maiores resultados para as empresas, em lucros, são muitos<br />deles os que mais baixos salários pagam <https://www.abrilabril.pt/<br />nacional/os-lucros-aumentam-pobreza-tambem>. Temos isso no caso do<br />turismo, da restauração, do comércio, das empresas de distribuição, que<br />são das que mais lucros têm e que pagam salários baixíssimos, recusam-<br />se a negociar a contratação coletiva.<br /><br /><br /> Isabel Camarinha: «Nos nossos sacrifícios está o lucro deles»<br /><br /><https://www.abrilabril.pt/trabalho/isabel-camarinha-nos-nossos-<br />sacrificios-esta-o-lucro-deles><br /><br />Portanto, há que organizar e mobilizar os trabalhadores para exigirem,<br />de facto, alteração das suas condições, é isso que está colocado aos<br />nossos sindicatos, à CGTP, é esta intensificação e envolvimento dos<br />trabalhadores e, naturalmente, a organização desses trabalhadores e,<br />para isso, a sindicalização é fundamental também, para os trabalhadores<br />ganharem consciência de que, unidos, são uma força imensa.<br /><br />Um país não se desenvolve com este modelo que temos de<br />desindustrialização, de não investimento na produção nacional, de<br />continuar as privatizações de empresas e sectores que são estratégicos<br />para o nosso desenvolvimento e para a nossa própria soberania <https://<br />www.abrilabril.pt/nacional/cgtp-privatizacao-da-tap-e-um-ataque-<br />soberania-nacional>. Este modelo de baixos salários, de uma produção de<br />baixo valor.<br /><br /><br /> Referiste à pouco as privatizações. Com a tua experiência acumulada<br /> na CGTP, acompanhando várias privatizações, o que dirias que estes<br /> trabalhadores, embrulhados nestes processos, podem esperar? Quais<br /> são as consequências principais de uma privatização, em termos laborais?<br /><br />Para além das consequências para a economia, para o desenvolvimento do<br />país, que são sempre negativas, especialmente quando são sectores<br />estratégicos, o que nós verificamos é que as empresas públicas que foram<br />privatizadas passaram a ter um nível de precariedade enorme: EDP,<br />Altice, etc... Assim que são privatizadas, começam a recorrer a todos os<br />meios que a lei continua a permitir, de externalização de serviços, de<br />contratação com vínculo precário, de redução do número de trabalhadores<br />para garantir maior lucro... <https://www.abrilabril.pt/trabalho/por-<br />detras-do-glamour-do-desenvolvimento-tecnologico><br /><br />Quando se privatiza uma empresa, o serviço que se presta deixa de estar<br />no topo das prioridades de quem a gere: o foco passa a estar na<br />acumulação de mais lucro.<br /><br />Neste momento, a EDP tem quase mais trabalhadores sem vínculo à empresa<br />do que trabalhadores nos quadros, efectivos. Ora, isto é uma<br />desregulação da relação de trabalho, é o não garantir que, de facto, um<br />trabalhador deve ter um vínculo à empresa para quem presta o seu serviço<br /><https://www.abrilabril.pt/trabalho/sindicatos-preparam-campanha-<br />nacional-contra-precariedade-na-edp>. Isto resulta em que, muitas<br />vezes, estes trabalhadores tenham condições inferiores aos outros,<br />efectivos, quer em termos salariais ou de direitos de trabalho.<br /><br />Para além, claro, de muitas vezes a privatização conduzir a<br />reestruturações, como eles chamam, que significam despedimentos, redução<br />do número de trabalhadores. O que vemos hoje em dia nas grandes empresas<br />e grupos económicos é um número de trabalhadores muito insuficiente para<br />as necessidades que têm que ser executadas, o que depois promove o<br />trabalho extraordinário, muitas vezes não pago, os bancos de horas, as<br />adaptabilidades: um conjunto de desregulação de horários de trabalho e<br />de aumento da exploração <https://www.abrilabril.pt/trabalho/lidl-o-<br />trabalho-nao-pode-ser-borla>.<br /><br /><br /> No ano passado, a Célia Lopes, dirigente do CESP/CGTP, comentava o<br /> facto de as empresas da grande distribuição estarem a abrir cada vez<br /> mais supermercados, às centenas, mantendo, no entanto, o mesmo<br /> número de trabalhadores que tinham com operações muito mais reduzidas<br /><br /><br /> Célia Lopes: abrem mais supermercados mas não criam novos postos de<br /> trabalho<br /><br /><https://www.abrilabril.pt/trabalho/celia-lopes-abrem-mais-<br />supermercados-mas-nao-criam-novos-postos-de-trabalho><br /><br />Exactamente. Isso acontece nas empresas de distribuição, nestes grandes<br />grupos, Jerónimo Martins, Sonae, Auchan, etc... mas acontece também<br />noutros sectores. Ou seja, tenta-se cada vez fazer mais, com muito menos<br />trabalhadores. Isto é um grau de exploração que é inaceitável.<br />Precisamos que a sociedade evolua garantindo dignidade de vida,<br />condições de vida, garantindo os direitos a ter vida própria, para além<br />da vida laboral, garantindo direito à família, aos amigos, à ocupação<br />dos tempos livres, com cultura, com lazer.<br /><br /><br /> Ao longo dos últimos anos travaste conhecimento com a realidade de<br /> milhares de trabalhadores, de centenas de diferentes empresas de<br /> diferentes sectores. Há alguma experiência que te tenha<br /> marcado nessas acções de contacto? O casal que trabalhava em turnos<br /> diferentes, na Matutano, foi referido recentemente...<br /><br />Infelizmente, temos muitas situações dessas, em que os trabalhadores,<br />devido à desregulação dos horários de trabalho, muitas vezes trocam o<br />filho no parque de estacionamento da empresa ou do local de trabalho.<br />Acho que não tenho assim uma empresa, um local, porque foram tantas as<br />situações, as ações de luta, os plenários, as acções onde participei,<br />que o que me ficou deste mandato, ou seja, desta função que me permitiu<br />também ter uma experiência muito diversificada em relação aos vários<br />sectores foi a importância dos trabalhadores tomarem consciência da<br />força que têm quando se organizam e se mobilizam. <br /><br /> «Realizámos um conjunto tão vasto de acções durante este mandato que<br /> a mobilização dos trabalhadores, das trabalhadoras, em defesa dos<br /> seus direitos é, de facto, a marca que fica deste e de todos os<br /> mandatos»<br /><br />E isto para mim foi o mais importante que eu vivi neste mandato, foi o<br />poder contribuir para que esta consciência seja alcançada pelos<br />trabalhadores, garantindo que com essa organização e mobilização depois<br />tenham obtido resultados. E isso é muito, muito positivo.<br /><br />Naturalmente que, se calhar, aquele 1.º de Maio de 2020 pode ser um<br />momento que me deixou uma marca muito profunda pelas condições em que<br />estávamos a realizar. Mas nós realizámos um conjunto tão vasto de acções<br />durante este mandato que a mobilização dos trabalhadores, das<br />trabalhadoras, em defesa dos seus direitos é, de facto, a marca que fica<br />deste e de todos os mandatos.<br /><br />São 53 anos de vida desta CGTP Intersindical Nacional, sempre com esta<br />matriz, esta história que queremos honrar e prosseguir de defesa<br />intransigente dos direitos e interesses dos trabalhadores. <br /><br /><br /> O que faz um bom sindicalista? Que características são imprescindíveis?<br /><br /><br /> «A CGTP está onde tem de estar, ao lado dos trabalhadores e das suas<br /> lutas»<br /><br /><https://www.abrilabril.pt/trabalho/cgtp-esta-onde-tem-de-estar-ao-lado-<br />dos-trabalhadores-e-das-suas-lutas><br /><br />Para já, a consciência de classe, ou seja, consciência de que há<br />explorados e exploradores, e que os explorados devem unir-se para<br />combater essa exploração e lutar por melhores condições. Mas também,<br />naturalmente, é uma opção de vida, exige disponibilidade, exige<br />empenho, exige, no fundo, que nos coloquemos esta opção, de vida, em<br />tudo o que fazemos, mesmo no nosso percurso não laboral.<br /><br />Não estamos a trabalhar para alguém, estamos a trabalhar para o conjunto<br />dos trabalhadores e eu acho que isso é muito gratificante. Sabemos que<br />estamos do lado certo da história, sabemos que estamos a lutar por um<br />Portugal, por um mundo, melhor, para acabar com as injustiças, as<br />desigualdades.<br /><br /><br /> Quais são as expectativas para este XV Congresso da CGTP?<br /><br />O Congresso, para já, será um grande congresso, com todos os sectores<br />e regiões do país representados. Através dos delegados, vão ser<br />discutidas e aprovadas as linhas de acção para o próximo mandato, e<br />também, naturalmente, as medidas imediatas que precisamos de ver<br />garantidas para alterar esta situação.<br /><br />O congresso da CGTP insere-se e articula-se com a intenção de luta que<br />os trabalhadores estão a desenvolver, será um congresso muito ligado à<br />realidade, à vida dos trabalhadores nos seus locais de trabalho, mas<br />também de outras camadas da população, afectadas pela política que tem<br />vindo a ser seguida, e com a proposta e o projeto que garante, de facto,<br />a mudança que precisamos de rumo no nosso país, para efectivar um país<br />de progresso, de justiça social. Isto sempre sempre esteve presente na<br />acção da CGTP<br /><br />O congresso é um momento alto, momento de reforçar e de renovar e<br />rejuvenescer a direcção da própria CGTP e garantir a continuidade deste<br />projeto transformador que é o desta Central Sindical de Classe.<br /><br />Em<br /><b>ABRIL ABRIL</b><br /><a href="https://www.abrilabril.pt/trabalho/isabel-camarinha-estamos-do-lado-certo-da-historia">https://www.abrilabril.pt/trabalho/isabel-camarinha-estamos-do-lado-certo-da-historia</a><br />22/2/2024<br /><br /></p>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-81534422119150154562024-02-21T17:01:00.000-08:002024-02-21T17:01:26.187-08:00 A UE no fio da navalha<p> <br /><br /><br /><br /> Daniel Vaz de Carvalho [*] <br />Destruição da agricultura na UE.<br /><br />*1 – A UE segue o seu destino*<br /><br />E segue-o sem honra nem glória num inevitável declínio da economia à<br />cultura. Nem algo diferente era de esperar. Aquilo a que se chama UE é<br />apenas a entidade encarregada da gestão económica e (anti)social da área<br />UE/NATO europeia. Segue uma doutrina económica totalmente errada, mais<br />que evidenciado na teoria e na prática: o neoliberalismo. Em termos<br />geopolíticos identifica-se como os interesses de uma potência a 10 000<br />km de distância, funcionando como um espaço colonizado ou um protetorado.<br /><br />Fez da democracia uma farsa dominada por burocracias federalistas, meros<br />agentes da finança e do poder hegemónico. Uma burocracia desligada dos<br />interesses das populações, que alojada na CE e no BCE controla as<br />políticas dos Estados com poder de aplicar sanções. Contudo nada mais<br />produz que medidas desadequadas, agindo atrás dos acontecimentos e<br />crises na tentativa de remediar os erros das suas decisões, mas sem<br />alterar os procedimentos. Quanto ao PE é um espaço de poder virtual, bom<br />para os respetivos membros obterem prebendas.<br /><br />Nos Estados apenas são governantes os que aceitam o poder hegemónico<br />transatlântico e o da burocracia. Uma ou outra exceção é sujeita a<br />constantes pressões, ameaça de sanções ou equivalente, discriminação e<br />descredibilização mediática.<br /><br />Outro aspeto fundamental da UE é a incompetência dos seus principais<br />dirigentes. É difícil encontrar algo no mínimo com bom senso, dito pela<br />sra. von der Leyen. O mesmo se aplica genericamente aos demais elementos<br />da burocracia europeia. O Stoltenberg da NATO é incapaz de articular uma<br />frase consequente. Fica-se a duvidar da sua lucidez militar e<br />geopolítica. Os governos acabam nas mãos de trafulhas como Macron ou<br />Scholtz. A incompetência geral é disfarçada com propaganda e alardear de<br />ilusões sem qualquer sentido realista. A extrema-direita aproveita este<br />contexto para desacreditar e vir a liquidar o que resta de democracia e<br />direitos sociais.<br /><br />Os debates centram-se na mediocridade de se falar de pessoas ou relatos<br />dos media, sempre dentro dos dogmas instituídos. É o resultado do<br />combate à cultura, ao sindicalismo de classe, à formação integral dos<br />indivíduos. O proletariado levado por estas políticas, prosseguidas por<br />décadas, foi colocado ao nível de lumpen e levado a aceitar a demagogia<br />que reforça este sistema destrutivo. É um círculo vicioso.<br /><br />Para garantir a “unidade” do complexo divergente de Estados que é a UE/<br />NATO, foram instituídos inimigos: a Rússia, a China, etc. Todos para os<br />quais os neocons de Washington apontarem. Azar – o nosso, claro – o tal<br />país que é suposto defender em nome da “democracia e valores do<br />ocidente”, é um reduto de neonazis em que Stepan Bandera e outros<br />criminosos nazis, responsáveis pelo assassinato de milhares de judeus,<br />russos e polacos, foram transformados em heróis nacionais, com estátuas<br />e ruas em sua homenagem. Um regime em que militantes realizam desfiles<br />neonazis, glorificam criminosos da 2ª Guerra Mundial, usam insígnias e<br />emblemas da divisão SS ucraniana e colocam símbolos da Wehrmacht em<br />equipamento militar fornecido pela NATO. Um regime assim, nascido de um<br />golpe, organizado pelos EUA em 2014, tinha obviamente ser apoiado pela<br />UE/NATO.<br /><br />Apartamento de Zelensky no Dubai.<br /><br />Uma das características do fascismo e dos regimes de extrema-direita é<br />além do terrorismo de Estado, a corrupção, por muito que se apresentem<br />como “regeneradores” quer raciais quer da moral pública. O regime de<br />Kiev está neste caso, é considerado um mundo de corrupção e os exemplos<br />vêm dos chefes: são os desvios de dezenas de milhões que vêm UE/NATO<br />para munições. São as mansões de Zelensky, a última registada no Dubai<br />por 16 milhões de dólares em 22 de dezembro. (Geopolítica ao vivo<br /><https://t.me/geopolitics_live/15710>, Telegram, 07/02)<br /><br />Em conformidade com o que exibem, nos serviços de segurança (SBU) a<br />prática de prisões arbitrárias e tortura é corrente desde o início do<br />regime, tudo abafado na censura mediática e negação. O que poderia ser<br />um escândalo ou rebate de consciência dos defensores dos “valores do<br />ocidente”, ocorreu recentemente com o jornalista cidadão dos EUA,<br />Gonzalo Lira, morto em janeiro de 2024 depois de torturado nas masmorras<br />do regime de Kiev por publicar textos críticos sobre Zelensky.<br /><br />Outro aspeto negro do que a UE/NATO apoia intransigentemente é o site<br />Mirotvorets (onde Gonzalo Lira estava listado como “propagandista anti-<br />ucraniano”). O Mirotvorets, fundado em março de 2014 é um banco de dados<br />na internet, com extensas informações sobre pessoas classificadas como<br />"inimigos da Ucrânia", chefiado por Roman Zaitsev, ex-funcionário da<br />SBU, e supostamente controlado pelo SBU. Contém imagens de cadáveres e<br />mutilados e apelos ao massacre dos russos e de outros “inimigos” da<br />Ucrânia, inclui jornalistas ucranianos e estrangeiros, políticos,<br />figuras da oposição, bloguistas e nada menos que 327 menores de idade,<br />conforme relatado pela Foundation to Battle Injustice <https://<br />dcweekly.org/2023/12/01/the-ukrainian-governments-misuse-of-myrotvorets-<br />an-investigation-by-the-foundation-to-battle-injustice/>. Entre os<br />indivíduos assassinados que estavam na "lista de mortes" constam o<br />publicitário ucraniano Oles Buzina, o legislador Oleg Kalashnikov,<br />jornalistas russos como Zemfira Suleimanova, Anton Voloshin, Andrey<br />Stenin, Vladlen Tatarsky e a jovem Daria Dugina. A foto-jornalista<br />italiana Andrea Rocchelli também foi alvejada e morta. Entre os<br />numerosos cidadãos americanos na “lista de morte” do regime de Kiev<br />estão Tucker Carlson, Scott Ritter, Tulsi Gabbard, Oliver Stone, Douglas<br />McGregor, Ray McGovern, Roger Waters (dos Pink Floyd), etc. (Geopolítica<br />ao vivo <https://t.me/geopolitics_live/15759>, Telegram, 08/02)<br /><br />*2 - Um sistema em colapso*<br /><br />As “regras” do Pacto de Estabilidade e Crescimento, não trouxeram nem<br />estabilidade nem crescimento sendo retomadas com ligeiras “adaptações”:<br /> os excedentes orçamentais terão de ser utilizados para reduzir a<br />dívida pública até 60% do PIB, com uma fase mais rigorosa até a 90% do<br />PIB. *A austeridade é o lema e os trabalhadores e seus direitos<br />continuam a ser a variável de ajustamento económico, enquanto /o império<br />impõe mais despesas militares./ Compete aos políticos do sistema e aos<br />media irem mantendo ilusões e “jogo democrático”, de acordo com decisões<br />tomadas longe da plebe, como nas reuniões semestrais do Institut<br />International d'Etudes Bancaires <https://en.wikipedia.org/wiki/<br />Institut_International_d%27Etudes_Bancaires>, com dirigentes dos<br />principais bancos europeus. Trata-se de uma organização cujo secretismo<br />é de norma, não mantém um site nem divulga os seus membros.*<br /><br />*Ao “país excecional” não se aplicam as mesmas regras que aos vassalos.*<br />Nos EUA a dívida federal é de 122,7% do PIB e incluindo a dos Estados e<br />locais 136%, tendo crescido nos últimos quatro anos, 1,6 milhões de<br />milhões de dólares ao ano, embora aumente a pobreza, as desigualdades e<br />a insegurança e prossigam a queda do nível de vida, a degradação das<br />infraestruturas, a par das guerras sem solução.<br /><br />O BCE não consegue controlar a inflação, 6,2% em 2023, muito acima da<br />meta nunca explicada de 2%, persistindo em taxas de juro que levam a<br />economia para a estagnação ou mesmo em alguns países à recessão. Mas a<br />banca agradece.<br /><br />Não se trata de uma conjuntura: a estagnação económica é persistente.<br />De 2000 a 2023, o crescimento anual em valores constantes foi na UE de<br />1,4%, Zona Euro 1,15%, Alemanha 1,2%, França 1,12%, Portugal 0,8%, na<br />Itália e Grécia ainda menos. As perspetivas são sombrias, sem energia<br />abundante e barata não será possível reverter o processo de<br />desindustrialização nem garantir a competitividade dos seus produtos,<br />mesmo os agrícolas dependentes de combustíveis e fertilizantes<br />encarecidos pelo clima de guerra e sanções, além da sabotagem do Nord<br />Stream que garantiu aos EUA a exportação de gás natural liquefeito, com<br />preços 30-40% mais elevados que o gás natural russo.<br /><br />Desindustrialização alemã.<br /><br />O RU, o mais assanhado militarista do bloco UE/NATO encaminha-se para a<br />recessão. A Alemanha – considerada economia líder da UE – tenta sair da<br />recessão, com a *produção industrial a cair meses consecutivos, como a<br />do importante sector químico alemão que entrou em crise em 2023,<br />atingido pela crise energética na sequência das sanções. Segundo a<br />Bloomberg: “Os dias da Alemanha como superpotência industrial estão a<br />chegar ao fim”. Industriais e responsáveis económicos partilharam esta<br />perspetiva sombria. “Já não somos competitivos”, admitiu o ministro das<br />Finanças alemão. Muitas empresas fecham ou mudam-se para o estrangeiro”.<br />Mas a Alemanha continua a pagar quantias absurdas pelo gás natural<br />liquefeito americano, ao mesmo tempo que mantém as sanções ao gás<br />russo.* (Geopolítica ao vivo <https://t.me/geopolitics_live/16014>,<br />Telegram, 10/02).<br /><br />Numa coisa os políticos do sistema e burocratas são férteis: na<br />prosápia. Como vão obter fundos para as despesas militares impostas pelo<br />império, onde está a fanfarronada da economia digital iludindo a<br />desindustrialização, quando *a UE produz apenas 10% <https://<br />commission.europa.eu/strategy-and-policy/priorities-2019-2024/europe-<br />fit-digital-age/european-chips-act_fr>, dos semicondutores a nível<br />mundial; produzia 40% há trinta anos.*<br /><br />*Mas há mais problemas que a burocracia dirigente é incapaz de resolver,<br />agravando-os todos. Não existe uma real estratégia de desenvolvimento,<br />além de palavreado inconsequente face a concorrentes como a China ou a<br />Índia. Que solução têm para resolver os problemas energéticos ou de<br />matérias-primas e componentes para equipamentos eletrónicos necessários<br />para praticamente todas as atividades, ou lítio para baterias de<br />viaturas elétricas? /O bloco UE/NATO tem ainda de enfrentar o problema<br />do tráfego de navios no Mar Vermelho que caiu para metade./ Com isto as<br />indústrias enfrentam interrupções nos fornecimentos, cortes na produção,<br />aumentos de preço. Até agora as prioridades políticas reduzem-se a<br />apoiar guerras, favorecer a finança ou os oligopólios da grande<br />distribuição e que os governos não incomodem o grande capital.*<br /><br />Sobrepreço do GN adquirido pela UE.<br /><br />Segundo o vice-ministro russo das Relações Exteriores, as perdas totais<br />da UE devido às sanções à Rússia atingiram 1,5 milhão de milhões /<br />(trillion) /de dólares. (Geopolítica ao vivo <https://t.me/<br />geopolitics_live/9043>, Telegram, 03/11/2023). A partir dos dados do<br />Eurostat, os países da UE tiveram de pagar cerca de 185 mil milhões de<br />euros adicionais em gás natural nos últimos 20 meses, ao cortarem o<br />acesso ao gás russo. (Geopolítica ao vivo <https://t.me/<br />geopolitics_live/12834>, Telegram, 02/01)<br /><br />As sanções criaram pelo contrário um dinamismo económico na Rússia e na<br />China que atraiu países de todos os continentes estabelecendo com eles<br />relações preferenciais, em detrimento do ocidente. A Rússia apresentou<br />recordes de exportações estratégicas, como combustíveis e cereais,<br />tornando-se um país fundamental na oferta mundial destes bens. Em 2023 o<br />orçamento russo apresentava um excedente equivalente a 2 300 milhões de<br />dólares. (Geopolítica ao vivo <https://t.me/geopolitics_live/5092>,<br />Telegram, 08/09/2023)<br /><br />Expulsa da plataforma de trocas financeiras SWIFT, fundamental para o<br />comércio internacional, a Rússia criou um sistema alternativo, à qual<br />cerca de 159 participantes estrangeiros de 20 países tinham aderido em<br />2023, estando em curso o alargamento da adesão à plataforma financeira<br />russa.<br /><br />*3 – O agravamento da degradação social*<br /><br />Agrava-se a situação social na UE e aumentam as lutas económicas em<br />praticamente todos os setores, mas também protestos contra a hipocrisia<br />do conluio em relação aos crimes de Israel contra os palestinos,<br />exigindo um cessar-fogo na Faixa de Gaza.<br /><br />As lutas económicas ainda não têm grande expressão política no sentido<br />de refletirem uma rejeição consciente das políticas discricionárias e<br />dogmas absurdos mantidos por uma burocracia zelosa. O aumento do<br />ativismo da classe trabalhadora é um facto, apesar da<br />desindustrialização, da promoção do individualismo e da propaganda<br />contra tudo o que é coletivo. São programas de que a oligarquia não<br />prescinde e que os defensores do liberalismo apoiam com a vacuidade dos<br />“equilíbrios automáticos do mercado”. Porém, conduzem à desestruturação<br />das sociedades, nas quais também o crime organizado prospera,<br />aproveitando a impotência, a solidão, a fragilidade dos seres humanos –<br />sociais por natureza – reduzidos a formas de isolamento e insegurança.<br /><br />Com a desindustrialização, o grande capital pensava ter ganho o seu<br />“jogo democrático”, mas eis que o descontentamento se alarga por toda a<br />UE aos agricultores. Manifestações, bloqueios de estradas e cidades com<br />tratores e camiões na Alemanha, França, Bélgica, Holanda, Polónia,<br />República Checa, Áustria, Suíça, também em Portugal. Os protestos têm<br />que ver com aumento dos combustíveis e fertilizantes, consequência<br />direta das sanções, corte de subsídios (a austeridade), políticas<br />ambientais inconsistentes ditadas pela burocracia, importação de cereais<br />ucranianos, pagamentos irrisórios face às despesas, que se refletem nos<br />lucros dos oligopólios da distribuição.<br /><br />Os governos tentam fazer algumas concessões aos agricultores, mas como<br />habitualmente não tocam no essencial. A CE permite (!?) aos países que<br />fazem fronteira com a Ucrânia restringirem as importações de produtos<br />agrícolas ucranianos, o que mostra o estado de desorientação que reina<br />entre a burocracia. A sra. von der Leyen, fazendo jus à sua<br />irresponsabilidade culpou a Rússia e as alterações climáticas pelos<br />problemas dos agricultores!<br /><br />No meio da degradação a todos os níveis da UE, desenvolve-se a extrema-<br />direita como parasita das crises. A extrema-direita sempre foi o recurso<br />do grande capital confrontado com a sua incapacidade de dar solução às<br />contradições e antagonismos que origina. É também, o recurso para<br />impedir que se evidenciem e desenvolvam soluções da esquerda.<br /><br />O crescimento da extrema-direita é mais um símbolo da decadência da UE.<br />Os erros, as sucessivas crises, as medidas antissociais são a base da<br />sua promoção aproveitando a despolitização resultante de décadas de<br />desindustrialização, propaganda neoliberal e manipulação mediática.<br /><br />Demagogia sem limites, *linguagem boçal e arruaceira, a extrema-direita<br />e o extremismo liberal, seu parente snobe*, aproveitam a corrupção e<br />disfuncionalidade gerada pelo sistema ao serviço do grande capital.<br />Exibem-se como querendo mudar o sistema, mas apenas para o tornar ainda<br />mais drástico. Procuram impor uma agenda fascizante entre a pura<br />aldrabice e a distorção de factos. Apesar das diferenças, a extrema-<br />direita na UE em certos casos aparentemente contra algumas políticas da<br />CE, alinha no essencial com a burocracia.<br /><br />Como afirma Prabhat Patnaik <https://resistir.info/patnaik/<br />patnaik_18fev24.html>, "a crise produziu regimes fascistas /no interior/<br />de muitos países; mas está também a produzir uma ordem global<br />extremamente repressiva, em que tanto poderes capitalistas fascistas<br />como não fascistas se combinam para suprimir o povo trabalhador, tanto a<br />nível interno como externo. Não há lugar para qualquer moralidade nesta<br />repressão e as potências capitalistas estão unidas na defesa desta<br />barbárie, independentemente da potência específica que a perpetra".<br /><br />O declínio da UE, exacerbado pela russofobia, colocou os países à beira<br />do colapso económico e social, que tentam iludir através da propaganda e<br />do colaboracionismo dos partidos alinhados com o sistema. Assim, na<br />Cimeira da UE, os líderes aprovaram 50 mil milhões de euros de ajuda<br />financeira à Ucrânia. Em conformidade com a lógica capitalista, cabe à<br />classe trabalhadora e aos sectores explorados da pequena burguesia, como<br />os agricultores, suportar os custos da guerra e do militarismo, defender<br />o império e apoiar a oligarquia… liberal. É este o sistema que está em<br />causa e tem de ser mudado.<br /><br /><br />Em<br /><b>RESISTIR.INFO</b><br /><a href="https://www.resistir.info/v_carvalho/ue_fio_da_navalha.html#asterisco">https://www.resistir.info/v_carvalho/ue_fio_da_navalha.html#asterisco</a><br />21/2/2024</p>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-68122037835482436222024-02-21T05:54:00.000-08:002024-02-21T05:54:31.640-08:00 É hora de Lula firmar pacto com a produção para enfrentar o golpismo, por Luís Nassif<p> <br /><br /><br /><br />Ou Lula se movimenta rápido e ampara-se no poder político das<br />indústrias. Ou, em breve, o Brasil voltará ao caos<br /><br /><br /><br />O banzé montado em cima das declarações de Lula – invocando o Holocausto<br />como uma maneira de radicalizar as críticas contra o genocídio de Gaza –<br />tem o claro intuito de desestabilizar o governo. Não há outra explicação<br />para esse carnaval no qual colunistas se vestem com as lantejoulas da<br />adjetivação forte para aparecerem na passarela da mídia. Perto desse<br />show de vaidades vazias, o BBB parece uma reality de pessoas maduras.<br /><br />Os fatos centrais são deixados de lado:<br /><br /> 1. O genocídio de Gaza, que vitima mulheres e crianças, destroi<br /> escolas, universidades e hospitais e deixa clara a intenção de<br /> Israel de expulsar 2 milhões de pessoas de Gaza.<br /> 2. A inércia do mundo ocidental, a ponto de dezenas de países<br /> interromperem ajuda humanitária porque supostamente se descobriu que<br /> meia dúzia de funcionários da ONU seriam simpáticos ao Hamas.<br /> 3. A humilhação que a chancelaria de Israel submeteu o Brasil (o<br /> Brasil, sim, seus viralatas!) ao levar o embaixador brasileiro ao<br /> museu do Holocausto e gravar a humilhação a que ele foi submetido.<br /><br />Com raras exceções, vira-latas mesmo! Na linha de frente, colunistas sem<br />nenhuma noção sobre soberania nacional, sobre os rituais da diplomacia,<br />analfabetos em geopolítica, colocando-se como um professor Girafalaes<br />arrotando lições a Lula e deixando passar em branco o ataque à soberania<br />nacional perpetrado pela chancelaria de Israel. Atrás, o coral dos<br />colunistas secundários aplaudindo a comissão de frente, rápidos em<br />engrossar o cordão dos puxa-sacos, porque conta pontos junto às<br />respectivas empresas de comunicação. No meio, vozes minoritárias<br />tentando exercitar um mínimo de jornalismo.<br /><br />Qual a intenção dessa tentativa clara de desestabilizar o governo Lula?<br />O fator Milei. Não bastou o desmonte do Estado, perpetrado a partir de<br />Michel Temer. Não bastaram as 700 mil mortes na pandemia, a tomada do<br />poder pelas milícias de Bolsonaro e pelos golpistas de Braga Neto. Não<br />bastaram o desmonte de estatais, as negociatas com refinarias. Agora se<br />quer o fim da saúde pública, da educação pública. E o Holocausto serve<br />de állibi.<br /><br />Não bastam as concessões ao mercado, o arcabouço fiscal e a missão<br />impossível do déficit zero, o extremo cuidado do BNDES para tirar leite<br />de pedra e montar fundos de investimento com capital privado, a<br />reconstrução da saúde e da educação. Dia desses, dois dos jornalões<br />saíram com editoriais criticando os gastos brasileiros com … educação!<br /><br /> * *No mundo:* O Brasil ocupa a 45ª posição entre 178 países, em gastos<br /> com educação como proporção do PIB, de acordo com o Relatório<br /> Mundial de Competitividade 2023 do IMD.<br /> * *Na América Latina:* O Brasil ocupa a 6ª posição entre 18 países, de<br /> acordo com o Panorama Social da América Latina 2022 da Comissão<br /> Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).<br /> * *Na OCDE:* O Brasil ocupa a 36ª posição entre 38 países, de acordo<br /> com o Education at a Glance 2023 da OCDE.<br /><br />E os jornalões criticando os gastos com educação.<br /><br />Depois, abriram manchetes para o pedido de impeachment de Lula pelo<br />partido Novo, por ter enviado uma ajuda humanitária brasileira ao<br />departamento da ONU que ampara as vítimas de Gaza!<br /><br />E por que isso? Porque querem uma Petrobrás privatizada, querem o fim do<br />ensino público, querem o fim do SUS, dos últimos bancos públicos. E não<br />se envergonham de compor uma frente com garimpeiros, millicianos,<br />militares golpistas, pastores neopentecostais que se apropriam das<br />verbas assistenciais.<br /><br />Repito o artigo de ontem à tarde, no auge das manifestações contra Lula:<br /><br />Há um conjunto de elementos para se acreditar em uma tentativa de pacto<br />entre o crime organizado, o garimpo e igrejas neopentecostais para<br />reorganizar a aliança que elegeu Jair Bolsonaro.<br /><br />O presidente eleito Jair Bolsonaro recebe a visita do primeiro-ministro<br />de Israel, Benjamin Netanyahu, em Copacabana.<br /><br />Os indícios são muitos:<br /><br /> 1. O importante “De Olho nos Ruralistas” <https://tinyl.io/AJcB><br /> mostrou as conexões históricas entre Valdemar da Costa, presidente<br /> do PL, e o garimpo.O artigo foi reproduzido no ICL <https://<br /> tinyl.io/AJcp>. O mesmo fez a UOL <https://tinyl.io/AJcE>.<br /> 2. Há tempos, Aldo Rebelo vem defendendo <https://tinyl.io/AJcH>, junto<br /> aos militares, a exploração do garimpo na Amazônia como um ato de<br /> afirmação nacional. Hamilton Mourão já criticou <https://tinyl.io/<br /> AJcf> o controle do garimpo em terras yanomami. General Heleno<br /> autorizou <https://tinyl.io/AJcg> garimpo em Roraima. A Polícia<br /> Federal confirmou o boicote <https://tinyl.io/AJch> do Exército em<br /> ação contra o garimpo no Pará. A PF prendeu um general três estrelas<br /> <https://tinyl.io/AJci> que extorquia garimpeiros. Em 2020, o<br /> Ministério da Defesa <https://tinyl.io/AJcv>proibiu uma ação do<br /> Exército contra o garimpo.<br /> 3. Leve-se em conta que o garimpo – e o jogo de bicho – foram os<br /> setores oferecidos aos membros dos porões, quando veio a<br /> redemocratização.<br /> 4. No momento, há um movimento que pretende formar uma frente PL-MDB-<br /> PSD entre outros para fazer oposição a Lula. Segundo a Folha, o MDB<br /> lotou de lideranças a posse de Aldo como Secretário do prefeito<br /> <https://tinyl.io/AJcK> Nunes de São Paulo. Se essa frente se<br /> consolida e elege o sucessor de Artur Lira – com David Alcolumbre<br /> como presidente do Senado – acaba o governo Lula e qualquer<br /> pretensão de normalização democrática.<br /> 5. Na outra ponta, o hoje inexpressivo Roberto Mangabeira Unger,<br /> reeditando os velhos vendedores de Bíblias do Velho Oeste, coloca<br /> seu projeto de país nas costas e sai vendendo – agora, para o<br /> próprio Bolsonaro.<br /> 6. E a mídia avança em dois temas nítidos. O primeiro, a hiper-<br /> dramatização da fala de Lula, comparando Gaza ao Holocausto. Só a<br /> Folha de hoje traz 11 (onze!) <https://tinyl.io/AJcj> matérias sobre<br /> o tema.<br /> 7. O segundo tema são os ataques diários dos jornalões – especialmente<br /> nos editoriais – a Alexandre de Moraes. Jornais, como o Estadão, que<br /> saudaram a prisão preventiva de Lula, hoje utilizam o garantismo<br /> como arma de guerra contra o Supremo. Mesmo sabendo que Alexandre<br /> foi o grande defensor da democracia, inclusive correndo riscos de<br /> vida. Não fosse sua coragem e firmeza, Bolsonaro e seus militares<br /> certamente já teriam imposto censura à imprensa. Mas a imbecilidade<br /> brasileira é galopante.<br /><br />É mais do que hora de Lula construir pontes políticas com a sociedade. O<br />caminho é óbvio: um pacto de desenvolvimento e de governabilidade com a<br />indústria e a produção – por tal entendendo-se a extensa rede de<br />federações empresariais (da economia real), cooperativismo, agricultura<br />familiar. A política industrial tem que ser conduzida diretamente pelo<br />presidente da República.<br /><br />Ou Lula se movimenta rápido, encontra uma marca para seu governo,<br />reconstrói alianças com setor privado – depois da destruição das<br />empreiteiras pela Lava Jato -, ampara-se no poder político das<br />indústrias. Ou, em breve, o Brasil voltará ao caos e à destruição que<br />caracterizaram o governo Bolsonaro. O antipetismo visceral fez a mídia<br />bolsonarar novamente.<br /><br />Em<br /><b>JORNAL GGN</b><br /><a href="https://jornalggn.com.br/noticia/e-hora-de-lula-firmar-pacto-com-a-producao-para-enfrentar-o-golpismo-por-luis-nassif/">https://jornalggn.com.br/noticia/e-hora-de-lula-firmar-pacto-com-a-producao-para-enfrentar-o-golpismo-por-luis-nassif/</a><br />21/2/2024<br /><br /></p>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-80045935871483037782024-02-16T06:36:00.000-08:002024-02-16T06:36:37.911-08:00Guerra por procuração dos NeoCons "contra a Ucrânia": – A guerra nuclear está sobre a mesa – A privatização da Ucrânia <p> </p><br /><h2 class="autor">Prof Michel Chossudovsky <a href="https://www.resistir.info/chossudovsky/ucrania_13fev24.html#asterisco">[*]</a></h2>
<img alt="Abutres." src="https://www.resistir.info/chossudovsky/imagens/abutres.jpg" title="" width="40%" />
<div class="doc">
<p>Neste artigo, vou concentrar-me na agenda NeoCon, em grande parte inspirada no <a href="https://resistir.info/livros/rebuilding_americas_defenses.pdf" rel="noopener noreferrer" target="_blank"><b>Project for a New American Century</b></a> (PNAC).</p>
<p>Os neoconservadores exercem controle sobre a política externa.
Eles estão envolvidos em subornar e manipular políticos e tomadores de
decisão. Eles desempenharam um papel fundamental na definição da
doutrina nuclear em nome de poderosos interesses financeiros.</p>
<p>O PNAC pediu o estabelecimento da <b>"Superioridade em Armas Nucleares"</b> (aplicada à Rússia) juntamente com uma expansão orientada para o lucro do complexo industrial militar.</p>
<p>A agenda NeoCon, tal como formulada pelo PNAC (2000) segue os passos da "Doutrina Truman" da Guerra Fria Nas palavras de <b>George Kennan</b>:</p>
<p>"Não está longe o dia em que teremos que lidar com conceitos de
poder diretos. Quanto menos formos prejudicados por slogans idealistas,
melhor"</p>
<p>Os NeoCons não pretendem <b>"Vencer a Guerra"</b>.</p>
<p>Sua agenda é "destruir países".</p>
<p>É uma agenda voltada para o lucro: "Destruição" leva à "Reconstrução".</p>
<p>O que está em jogo é a destruição econômica e social
arquitetada de Estados nacionais soberanos. Os credores estão lá para
"recolher os pedaços" e "se apropriar da riqueza real".</p>
<p><b>A segunda parte deste artigo focalizará a agenda dos NeoCons de "privatizar países" em prol do establishment financeiro.</b></p>
<p><b>A privatização da Ucrânia</b> como um Estado-nação
empobrecido e abandonado já começou por meio da criação do Ukraine
Reconstruction Bank (URB) pela BlackRock e JPMorgan.</p>
<p>A Ucrânia é um país com um vasto território e enormes recursos.
O regime de Kiev tem uma dívida externa intransponível na casa dos
milhões de milhões <i>(trillions)</i>que se vem acumulando desde o golpe de Estado neonazista EuroMaidan, em fevereiro de 2014, instrumentado por Washington.</p>
<p>Não estamos mais no reino da "medicina fortemente econômica" do FMI.</p>
<p>O que está se desdobrando é a <b>tomada de controle e apropriação corporativa de um país inteiro</b>.</p>
<h2>O perigo da guerra nuclear</h2>
<p>O uso de armas nucleares está na mesa de desenho do Pentágono. Tem o apoio do Departamento de Estado dos EUA.</p>
<p>Enquanto isso, está a ser apresentada no Congresso dos EUA uma legislação para iniciar a Terceira Guerra Mundial.</p>
<blockquote>
<p>"Os senadores <b>Lindsey Graham</b> (R-SC) e <b>Richard Blumenthal</b>
(D-CT) apresentaram em 22 de junho uma resolução que, se aprovada e
assinada pelo presidente Biden, (...) comprometeria os EUA como chefe da
OTAN a lançar, em nome da OTAN, guerra diretamente contra a Rússia (ver
<a href="https://www.globalresearch.ca/two-u-s-senators-propose-nuclear-war-against-russia/5823630" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Eric Zuesse</a>, Duran, 20 de junho de 2023)</p>
</blockquote>
<div align="center">
</div>
<h2>A Agenda NeoCon: O Projeto para o Novo Século Americano</h2>
<p>Os NeoCons estão firmemente por trás da agenda ucraniana.</p>
<p>O <a href="https://cryptome.org/rad.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Projeto para o Novo Século Americano</a> (PNAC) domina a política externa dos EUA em nome de poderosos interesses financeiros.</p>
<p>O PNAC afasta o planeamento de operações militares "consecutivas". Ele descreve da seguinte forma as <b>"Longas Guerras"</b> dos Estados Unidos :</p>
<blockquote>
<p><b>"lutar e vencer decisivamente múltiplas guerras simultâneas em diferentes teatros"</b></p>
</blockquote>
<p>A condução de <b>"Guerras em teatros simultâneos"</b> é a espinha dorsal da agenda hegemônica dos Estados Unidos.</p>
<p>É um projeto de guerra global. O PNAC controlado pelos NeoCons também afasta a realização de negociações de paz reais.</p>
<h2>A Agenda Nuclear e a Guerra Global</h2>
<img alt="Organizadores do PNAC." src="https://www.resistir.info/chossudovsky/imagens/pnac_org.jpg" title="" width="30%" />
<p>O PNAC foi publicado no auge da campanha eleitoral presidencial
em setembro de 2000, apenas dois meses antes das eleições de novembro
de 2001. Tornou-se a espinha dorsal da política externa dos EUA. É a
base para a realização de uma agenda hegemônica de guerra global, aliada
à imposição de uma "Ordem Mundial Unipolar".</p>
<p><b>Victoria Nuland</b> que tem assento no Departamento de Estado, atualmente a assessorar o presidente Biden, é a esposa de <b>Robert Kagan</b>, do PNAC.</p>
<p>Por que o governo Biden <b>exige um programa de armas nucleares de US$ 1,3 milhão de milhões, que deve aumentar para US$ 2,0 milhões de milhões em 2030?</b></p>
<p>A <b>superioridade na Guerra Nuclear</b> é a espinha dorsal da agenda NeoCon, tal como exposta no PNAC.</p>
<p>O objetivo é "<a href="https://web.archive.org/web/20130817122719/http://www.newamericancentury.org/RebuildingAmericasDefenses.pdf" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Manter a Superioridade Nuclear</a>", especificamente em relação ao equilíbrio EUA-Rússia.</p>
<table align="center" bgcolor="#0000ff" border="0" cellpadding="1" cellspacing="0" style="width: 95%;">
<tbody><tr>
<td>
<table bgcolor="#999999" border="0" cellpadding="8" cellspacing="0" style="width: 100%;">
<tbody><tr>
<td>
<b>ESTABELECIMENTO DE QUATRO MISSÕES CENTRAIS para as forças militares dos EUA:
<ul><li>defender a pátria americana;</li><li>combater e vencer decisivamente guerra simultâneas em teatros múltiplos;</li><li>executar os deveres “policiais” associados à modelação do ambiente de segurança em regiões críticas;</li><li>transformar as forças dos EUA para explorar a “revolução nos assuntos militares”;</li></ul>
Para executar estas missões centrais precisamos
providenciar força e verbas orçamentais suficientes. Em particular, os
Estados Unidos devem:<br />
MANTER SUPERIORIDADE ESTRATÉGICA NUCLEAR, com base na
dissuasão nuclear estado-unidense, com avaliação nuclear líquida que
pondere o conjunto pleno de ameaças correntes e emergentes, não
meramente o equilíbrio EUA-Rússia.</b>
</td>
</tr>
</tbody></table>
</td>
</tr>
</tbody></table>
<h2>A era do Pós-Guerra</h2>
<p>Os EUA conduziram numerosas guerras desde o fim da eufemisticamente chamada era do pós-guerra:</p>
<p>Coreia, Vietname, Camboja, Laos, Afeganistão, Jugoslávia, Iraque, Líbia, Síria, Iémen... e agora a Ucrânia.</p>
<p>O objetivo não declarado <b>não é "vencer a guerra"</b>, mas <b>engendrar a destruição de países inteiros</b>,
criar caos político e social, tendo em vista finalmente "recolher os
pedaços" e assumir o controle das economias nacionais de Estados
nacionais soberanos.</p>
<p>Esta agenda também é conduzida por meio de "mudanças de
regime", "revoluções coloridas" e da concomitante liquidação e
criminalização do aparelho estatal, a par de "forte medicina econômica" e
da imposição de uma dívida crescente denominada em dólar.</p>
<p><a href="https://www.globalresearch.ca/who-won-the-vietnam-war-2/172" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Foi o que aconteceu no Vietname</a>. A destruição de um país inteiro, o qual foi então "privatizado" no início dos anos 1990:</p>
<blockquote>
<p>"O Vietname nunca recebeu pagamentos de reparações de guerra
dos EUA pela perda maciça de vidas e destruição, mas um acordo alcançado
em Paris em 1993 exigiu que Hanói reconhecesse as dívidas do extinto
regime de Saigon do general Thieu. Este acordo equivale, em muitos
aspectos, a obrigar o Vietname a compensar Washington pelos custos da
guerra".</p>
</blockquote>
<p>E agora o que está em curso na Ucrânia é a <b>privatização total de um país inteiro.</b></p>
<h2>A privatização da Ucrânia</h2>
<p>A BlackRock, que é a maior companhia de investimentos em
carteira do mundo, juntamente com o JPMorgan, vieram ao resgate da
Ucrânia. Eles estão conluiados para criar o
<a href="https://www.ft.com/content/3d6041fb-5747-4564-9874-691742aa52a2" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Banco de Reconstrução da Ucrânia</a>.</p>
<p>O objetivo declarado é "atrair milhares de milhões de dólares
em investimento privado, para atender projetos de reconstrução num país
devastado pela guerra". (FT, 19/junho/2023)</p>
<blockquote>
<p>"... BlackRock, JP Morgan e investidores privados têm como
objetivo lucrar com a reconstrução do país juntamente com 400 companhias
globais, incluindo Citi, Sanofi e Philips. ... Stefan Weiler, do JP
Morgan, vê como <b>uma "tremenda oportunidade" para investidores privados</b>. (Colin Todhunter, Global Research 28/junho/2023)</p>
</blockquote>
<p>O regime neonazista de Kiev é um parceiro nessa empreitada. <b>A guerra é boa para os negócios. Quanto maior a destruição, maior o sufoco da Ucrânia por parte dos "investidores privados":</b></p>
<blockquote>
<p>"A BlackRock e o JPMorgan Chase estão a ajudar o governo
ucraniano a estabelecer um banco de reconstrução para pilotar capital
inicial público a projetos de reconstrução que possam atrair centenas de
milhares de milhões de dólares em investimento privado." (FT, op cit)</p>
</blockquote>
<img alt="Fink dá instruções a Zelensky." src="https://www.resistir.info/chossudovsky/imagens/fink_zelensky.jpg" title="" width="30%" />
<p><b>A privatização da Ucrânia</b> foi lançada em novembro de 2022 em ligação com a consultora <b>McKinsey</b>,
da BlackRock, uma firma de relações públicas que tem sido a grande
responsável por cooptar políticos e funcionários corruptos em todo o
mundo, sem mencionar cientistas e intelectuais, em nome de poderosos
interesses financeiros.</p>
<p>"O governo de Kiev contratou o braço de consultoria da
BlackRock em novembro para determinar a melhor forma de atrair esse tipo
de capital e a seguir, <b>em fevereiro acrescentou o JPMorgan</b>. O
presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, anunciou no mês passado que o
país estava a trabalhar com os dois grupos financeiros e consultores da
McKinsey.</p>
<p>A BlackRock e o Ministério da Economia da Ucrânia assinaram um Memorando de Entendimento em novembro de 2023.</p>
<p>No final de dezembro de 2022, o <b>presidente Zelensky</b> e o CEO da BlackRock, <b>Larry Fink</b>, acordaram uma estratégia de investimento.</p>
<h2>Reconstrução da Ucrânia: O local da conferência em Londres</h2>
<p>Sincronização cuidadosa (ver cronograma abaixo). O <b>"Golpe Fracassado" Prigozhin-Wagner</b>
(23 e 24 de junho de 2023) foi iniciado no dia seguinte à Conferência
de Reconstrução da Ucrânia em Londres, organizada pelo Regime de Kiev e
pelo <a href="https://www.royal.uk/news-and-activity/2023-06-21/the-king-hosts-a-reception-ahead-of-the-ukraine-recovery-conference" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Governo de Sua Majestade em 21 e 22 de junho de 2023</a>. Será uma coincidência?</p>
<blockquote>
<p>"O Fundo de Desenvolvimento da Ucrânia permanece nos estágios
de planeamento e não deve ser totalmente lançado até o fim das
hostilidades com a Rússia. Mas esta semana os investidores terão <b>uma visão prévia numa conferência em Londres coorganizada pelos governos britânico e ucraniano.</b></p>
<p>O Banco Mundial estimou em março que a Ucrânia precisaria de
US$ 411 mil milhões para se reconstruir após a guerra e os recentes
ataques russos elevaram esse número.</p>
<p>Nenhuma meta formal de arrecadação de fundos foi
estabelecida, mas pessoas familiarizadas com as discussões dizem que o
fundo procura levantar capital de baixo custo de governos, doadores e
instituições financeiras internacionais e alavancá-lo para atrair entre
cinco e 10 vezes mais investimento privado.</p>
<p>A BlackRock e o JPMorgan estão a doar os seus serviços, embora o trabalho lhes dê <b>uma visão antecipada de possíveis investimentos no país</b>. A missão também aprofunda o relacionamento do JPMorgan com um cliente de longa data.</p>
<p>O que a Ucrânia precisava, aconselhou a BlackRock, era de um
banco de financiamento de desenvolvimento para encontrar oportunidades
de investimento em setores como infraestrutura, clima e agricultura e
torná-las atraentes para fundos de pensão e outros investidores e
credores de longo prazo. O JPMorgan foi contratado em parte pela sua
experiência em dívida.</p>
<p>... <b>A maior parte dos investidores quer esperar o fim das hostilidades</b>. "A parte importante é que a Ucrânia já está pensando no futuro", disse Weiler. <b>"Quando a guerra acabar, eles vão querer estar prontos e iniciar o processo de reconstrução imediatamente".</b> (FT, 19/junho/2023, sublinhado nosso)</p>
</blockquote>
<img alt="Os hóspedes do rei numa recepção no Palácio de St. James." src="https://www.resistir.info/chossudovsky/imagens/rei_carlos2.jpg" title="" width="40%" />
<p>O <b>rei Carlos V</b> organizou uma recepção no Palácio de St. James na véspera da Conferência de Recuperação da Ucrânia. </p>
<h2>A cronologia da privatização da Ucrânia</h2>
<span><ul><li>Novembro de 2022. Contrato com BlackRock e McKinsey, Ministério da Economia da Ucrânia</li><li>Dezembro/2022. Acordo entre o CEO da BlackRock, Larry Fink, e o presidente Zelensky</li><li>Fevereiro/2023. JPMorgan se junta ao projeto BlackRock Reconstruction Bank</li><li>18/junho/2023. Iniciativa de Paz da África em São
Petersburgo, Declaração do Presidente Putin sobre as negociações de paz
frustradas de março de 2022.</li><li>21-22/junho/2023. Conferência de Londres sobre o Banco de
Reconstrução da Ucrânia coorganizada pelos governos britânico e
ucraniano.</li><li>23-24/junho/2023. A "Rebelião" de Prigozhin Wagner</li></ul></span>
<h2>Considerações Finais</h2>
<p>Todos os principais actores financeiros e políticos estiveram presentes na Conferência de Reconstrução da Ucrânia em Londres.</p>
<p>A Ucrânia está nas garras do Big Money. BlackRock e JPMorgan.</p>
<p>A destruição é a força motriz por trás da "Reconstrução".</p>
<p>A paz, bem como o "cessar-fogo" não são "bons para os negócios".</p>
<blockquote>
<p>"O povo da Ucrânia precisa desesperadamente de um futuro
baseado no bem-estar e na paz, mas na realidade a Ucrânia está a ser
levada para o tipo de enorme endividamento que leva à subserviência e ao
domínio." (Bharat Dogra, Global Research, 28/junho/2023)</p>
</blockquote>
<p>O resultado é a pobreza em massa e a devastação social de um país inteiro, sob o pretexto de "reconstrução".</p>
<h2>Atualização: janeiro de 2024</h2>
<p>Desenvolvimentos recentes, previstos para o início de 2024: <b>o Fundo Imobiliário Estatal da Ucrânia planeia colocar cerca de 1.000 ativos para privatização</b></p>
<img alt="Fórum SBU." src="https://www.resistir.info/chossudovsky/imagens/forum.jpg" title="" width="40%" />
<p>O plano foi delineado no Fórum Nacional dos Seis SMB intitulado</p>
<blockquote>
<p> "<b>Development of SMB 2023: opportunities, sustainability and recovery</b>" (dezembro de 2023)</p>
</blockquote>
<p>Não há oportunidades: os mecanismos descritos sugerem que esses
1000 ativos (ou mais) serão retomados. As pequenas e médias empresas,
incluindo as PME agrícolas e industriais, serão dizimadas. <b>Muitos desses ativos serão comprados a um preço negativo.</b></p>
<blockquote>
<p>Vitaliy Koval, presidente do Fundo Imobiliário do Estado da Ucrânia, apresentou o plano SPFU 2024. <b>Ele enfatizou que as pequenas e médias empresas seriam as principais beneficiárias desse processo.</b></p>
<p> <b>"Consideramos que as pequenas e médias empresas devem estar no centro do processo de privatização.</b></p>
</blockquote>
<p>Segundo Vitaliy Koval, em 2024 o Fundo planeIa colocar <b>para
privatização cerca de mil objetos que abrem novas oportunidades de
negócios. Esses ativos serão leiloados, garantindo um processo justo e
transparente.</b></p>
<p>O tal procedimento transparente, emparelhado com os leilões
fraudados, é forjado na fraude e na corrupção. É semelhante a assaltos
na estrada:</p>
<p><b>Ele convidou as empresas a cooperarem na busca de ativos para a privatização.</b></p>
<p><b>"Nós os convidamos a tornarem-se embaixadores na busca de ativos para a privatização.</b></p>
<p><b>Muitas cidades, vilas e aldeias têm ativos dormentes desde
há 10-15 anos. Aguardamos vossas propostas de privatização e fazemos o
melhor para que o caminho para o leilão transparente seja o mais curto",</b> disse Vitaliy Koval. (<a href="https://www.spfu.gov.ua/en/news/10176.html" rel="noopener noreferrer" target="_blank">State Property Fund of Ukraine</a>, sublinhado nosso)</p>
</div>
<div align="right" style="margin-right: 10px;">
<h4> 13/Fevereiro/2024</h4></div>
<div align="left">
<h2><a name="asterisco">[*]</a> Economista, Editor do Global Research.</h2>
<h2>O original encontra-se em <a href="https://www.globalresearch.ca/the-neocons-proxy-war-against-ukraine-nuclear-war-is-on-the-table-the-privatization-of-ukraine/5823896" rel="noopener noreferrer" target="_blank"> www.globalresearch.ca/the-neocons-proxy-war-against-ukraine-nuclear-war-is-on-the-table-the-privatization-of-ukraine/5823896</a> </h2>
<h2>Este artigo encontra-se em <a href="https://resistir.info" rel="noopener noreferrer" target="_blank"> resistir.info</a></h2><h2>13/2/2024</h2><h2><a href="https://resistir.info/chossudovsky/ucrania_13fev24.html">https://resistir.info/chossudovsky/ucrania_13fev24.html</a></h2><h2><br /></h2>
</div>
<span>
</span>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-7637165233129779472024-02-15T07:05:00.000-08:002024-02-15T07:05:35.766-08:00 ¿Por qué el genocidio, por qué ahora?<p> <br /><br /><br /><br /> <br /><br /><br />Por William I. Robinson <https://rebelion.org/autor/william-i-robinson/><br />| 15/02/2024 | Palestina y Oriente Próximo <https://rebelion.org/<br />categoria/territorios/palestina-y-oriente-proximo/><br /><br /><br /><br />“Los genocidios nunca se declaran de antemano”, advirtió Adila Hassim,<br />del equipo jurídico sudafricano, en sus declaraciones iniciales ante la<br />Corte Internacional de Justicia (CIJ), convocada en enero de 2024 para<br />conocer la acusación contra Israel por el crimen de genocidio, definido<br />por la Convención de las Naciones Unidas como un crimen cometido con la<br />intención de destruir a un grupo nacional, étnico, racial o religioso,<br />total o parcialmente.<br /><br /> Pero esto no es necesariamente cierto en el caso de<br />Palestina. La destrucción del pueblo palestino es quizás lo más cercano<br />que el mundo puede llegar a un genocidio anunciado. Las señales de que<br />el Estado judío estaba avanzando hacia el genocidio se han multiplicado<br />durante años. La posibilidad ha sido inherente al proyecto sionista, que<br />desde sus inicios a finales del siglo XIX fijó como objetivo el<br />establecimiento de un Estado exclusivamente judío en la tierra de Palestina.<br /><br /> El genocidio nunca podría llevarse a cabo sin el<br />respaldo, implícito o explícito, de los grupos gobernantes del eje<br />occidental del capitalismo transnacional que, bajo el liderazgo de<br />Estados Unidos, han servido como principales patrocinadores de Israel.<br />Lo que ahora puede haber hecho que el genocidio sea aceptable para estos<br />grupos gobernantes es la creciente crisis del capitalismo global. El<br />sistema enfrenta una crisis estructural de sobreacumulación y<br />estancamiento crónico. Pero los grupos gobernantes también enfrentan una<br />crisis política de legitimidad estatal, hegemonía capitalista y una<br />desintegración social generalizada, una crisis internacional de<br />confrontación geopolítica y una crisis ecológica de proporciones<br />trascendentales.<br /><br /> La campaña de Israel en Gaza constituye un espantoso<br />experimento sobre cómo los grupos gobernantes pueden moldear el<br />interminable caos político y la inestabilidad financiera en una nueva<br />fase más mortífera del capitalismo global destinada a abrir<br />violentamente nuevos espacios para la expansión capitalista e imponer<br />métodos políticos más coercitivos de control social, desde el<br />autoritarismo y la dictadura hasta el fascismo absoluto en un intento de<br />contener la rebelión popular y las filas del excedente de humanidad.<br /><br /> Las presiones genocidas se estaban acumulando contra los<br />palestinos mucho antes del asedio de Gaza que comenzó tras el ataque de<br />Hamás del 7 de octubre de 2023. En Israel ahora es perfectamente normal<br />abogar por el genocidio contra los palestinos, mientras que, por el<br />contrario, defender la vida palestina se considera una traición. En<br />Israel ya estaban llamando por una limpieza étnica y genocidio contra<br />los habitantes de Gaza en los días previos al anterior asalto a gran<br />escala contra el territorio, llevado a cabo en 2014 y denominado<br />Operation Protective Edge (Operación Margen Protector). Casi la mitad de<br />la población judía de Israel en ese momento declaró que apoyaba una<br />política de limpieza étnica de los palestinos, y una gran parte de la<br />población apoyaba la anexión completa de los territorios ocupados y el<br />establecimiento de un Estado de apartheid.<br /><br /> El periódico, /The Times of Israel/, por ejemplo, publicó<br />un editorial días antes del lanzamiento del operativo titulado “Cuando<br />el genocidio es permisible,” afirmando que “tendrá que llegar un momento<br />en el que Israel se sienta lo suficientemente amenazado como para no<br />tener otra opción que desafiar las advertencias internacionales”.<br />Continuó: “¿Qué otra manera hay entonces de lidiar con un enemigo de<br />esta naturaleza que no sea destruirlo por completo? El primer ministro<br />Benjamín Netanyahu declaró claramente al comienzo de Margen Protector<br />que su objetivo es restablecer una tranquilidad sostenible para los<br />ciudadanos de Israel… Si los líderes políticos y los expertos militares<br />determinan que la única manera de lograr su objetivo de mantener la<br />tranquilidad es ¿A través del genocidio está entonces permitido alcanzar<br />esos objetivos responsables?”<br /><br /> Haciéndose eco de estos sentimientos, el vicepresidente<br />del parlamento israelí en ese momento, Moshe Feiglin, miembro del<br />partido Likud del primer ministro Benjamín Netanyahu, instó al ejército<br />israelí a matar indiscriminadamente a los palestinos en Gaza y a<br />utilizar todos los medios posibles para lograr que se fueran. “El Sinaí<br />no está lejos de Gaza y pueden irse. Éste será el límite de los<br />esfuerzos humanitarios de Israel”, afirmó. “Las FDI [Fuerzas de Defensa<br />de Israel] conquistarán toda Gaza, utilizando todos los medios<br />necesarios para minimizar cualquier daño a nuestros soldados, sin otras<br />consideraciones. … La población enemiga que es inocente de malas<br />acciones y se separó de los terroristas armados será tratada de acuerdo<br />con el derecho internacional y se le permitirá irse”.<br /><br /> En un artículo que publiqué inmediatamente después de la<br />Operación Margen Protector de 2014, señalé que el hecho de que las<br />presiones estructurales para el genocidio se materialicen o no en un<br />proyecto de genocidio dependerá de la coyuntura histórica de la crisis,<br />la situación política y condiciones ideológicas que hacen posible el<br />genocidio, y un agente estatal con los medios y la voluntad para<br />llevarlo a cabo. Califiqué la situación en aquel entonces como “un<br />genocidio a cámara lenta”.<br /><br /> Entre 2014 y 2023, el clima político en Israel siguió<br />girándose tan bruscamente hacia la derecha que un discurso fascista se<br />hizo palpable en la vida cotidiana del país, y funcionarios del gobierno<br />pidieron nuevas rondas de limpieza étnica para ampliar los asentamientos<br />judíos en Cisjordania y promoviendo una escalada de la violencia de los<br />colonos y los ataques de las Fuerzas de Defensa Israelitas (FDI, por sus<br />siglas en inglés) . A raíz del ataque de Hamás en octubre de 2023, el<br />proyecto sionista, basado en la limpieza étnica sistemática y el<br />terrorismo contra los palestinos, pasó de una cámara lenta a una campaña<br />de genocidio en tiempo real y transmitido en vivo contra los habitantes<br />de Gaza.<br /><br />*El proletariado palestino y la globalización de Israel*<br /><br /> La rápida globalización de Israel que comenzó a finales<br />de los años 1980 coincidió con las dos intifadas (levantamientos)<br />palestinos y con los Acuerdos de Oslo, que se negociaron entre 1991 y<br />1993 y luego fracasaron en los años siguientes. Respaldados y empujados<br />por Estados Unidos y las elites transnacionales a medida que la Guerra<br />Fría iba llegando a su fin, así como por poderosos grupos capitalistas<br />israelíes, los gobernantes israelíes entablaron negociaciones con los<br />dirigentes palestinos en la década de 1990, en gran parte como respuesta<br />a la escalada de la resistencia palestina en forma de la primera<br />intifada (1987-1991). Los Acuerdos de Oslo, firmados en 1993, entregaron<br />una autonomía similar a un bantustán a la Autoridad Palestina (AP). Sin<br />embargo, durante el período de Oslo de 1991 a 2003, cuando el proceso<br />finalmente fracasó por completo, la ocupación israelí de Cisjordania y<br />Gaza se intensificó enormemente. ¿Por qué fracasó este “proceso de paz”?<br /><br /> En primer lugar, el proceso no pretendía resolver la<br />difícil situación de la mayoría palestina desposeída. Su objetivo era<br />integrar a una elite palestina emergente en el nuevo orden global<br />dándole a la elite un interés en defender ese orden. Se esperaba que la<br />AP mediara en la acumulación de capital transnacional en los territorios<br />ocupados mientras vigilaba internamente a las masas palestinas. A<br />cambio, el “proceso de paz” permitió a la burguesía palestina participar<br />en un proceso de construcción de un Estado, sin importar cuán truncado y<br />castrado fuera ese Estado.<br /><br /> En segundo lugar, la economía israelí se globalizó sobre<br />la base de un complejo de alta tecnología, militar, seguridad y<br />vigilancia, cuya importancia quedará clara momentáneamente. Ha habido<br />una interpenetración cada vez más profunda del capital israelí con el<br />capital corporativo transnacional de América del Norte, Europa, Asia y<br />otros lugares. Oslo contribuyó a este proceso, facilitando una presencia<br />capitalista transnacional israelí en todo Oriente Medio y más allá, en<br />parte permitiendo a los regímenes árabes conservadores levantar el<br />boicot económico regional a Israel y en parte negociando la creación de<br />una Zona de Libre Comercio en Oriente Medio (MEFTA) que insertó la<br />economía israelí en las redes económicas regionales e integró a toda la<br />región mucho más profundamente en el capitalismo global.<br /><br /> Y tercero, estrechamente relacionado, si la burguesía<br />palestina ha visto su formación de clase frustrada por la ocupación<br />israelí y por su falta de acceso a un aparato estatal viable, lo que<br />ayuda a explicar su creciente postura colaboracionista, el proletariado<br />palestino se ha convertido rápidamente en un excedente de humanidad que<br />se encuentra en pie el camino del capital transnacional en Israel y el<br />Medio Oriente. El proletariado palestino de los territorios ocupados<br />constituyó hasta los años 1990 una mano de obra barata y un mercado<br />cautivo para Israel y la burguesía palestina. Pero a partir de la década<br />de 1990 y acelerándose en los últimos años, la economía israelí comenzó<br />a recurrir a mano de obra migrante transnacional de África, Asia y otros<br />lugares, a medida que el neoliberalismo y la crisis han desplazado a<br />millones de personas en las regiones del antiguo Tercer Mundo.<br /><br /> El surgimiento de nuevos sistemas de movilidad y<br />reclutamiento laboral transnacional ha hecho posible que los grupos<br />dominantes en todo el mundo reorganicen los mercados laborales y<br />recluten fuerzas laborales transitorias, privadas de derechos y fáciles<br />de controlar. Los trabajadores migrantes transnacionales en Israel no<br />necesitan estar sujetos al sistema de apartheid impuesto a los<br />palestinos porque su condición de migrantes temporales logra su control<br />social y su privación de sus derechos de manera más efectiva y, por<br />supuesto, porque no exigen la devolución de las tierras ocupadas y no<br />tienen un reclamo político. a un estado.<br /><br /> La Nakba de 1948 que estableció el Estado judío implicó<br />la expulsión violenta de los palestinos y la expropiación de sus<br />tierras, pero también la incorporación subordinada de cientos de miles<br />de trabajadores palestinos para trabajar en granjas, obras de<br />construcción, industrias, cuidados y otros trabajos de servicios y<br />servicios israelíes. Hasta que la globalización despegó a finales del<br />siglo XX, la relación de Israel con los palestinos reflejaba el<br />colonialismo clásico, en el que la potencia colonial había usurpado la<br />tierra y los recursos de los colonizados y luego explotaba su trabajo.<br />Pero la integración de Oriente Medio en la economía y la sociedad<br />globales sobre la base de una reestructuración económica neoliberal<br />ayudó a desatar los movimientos sociales y de trabajadores y presiones<br />desde las bases populares para la democratización, reflejados en las<br />intifadas palestinas, el movimiento laboral en todo el norte de África,<br />y, más visiblemente, en los levantamientos de la Primavera Árabe de 2011.<br /><br /> Esta oleada de resistencia, que comenzó con la primera<br />intifada, agravó la tensión histórica entre el impulso hacia una<br />limpieza étnica del Estado judío y la necesidad que tenía de mano de<br />obra barata y étnicamente demarcada. A partir de la década de 1990,<br />Israel comenzó a resolver esta tensión entre desposesión/<br />superexplotación y desposesión/expulsión a favor de esta última. En la<br />década de 2000, cientos de miles de trabajadores migrantes –según<br />algunas estimaciones hasta 600.000– de Tailandia, China, Nepal, Sri<br />Lanka, India, Europa del Este, Filipinas, Kenia y otros lugares llegaron<br />a formar la fuerza laboral predominante en la agroindustria israelí<br />durante el gobierno israelí. las mismas condiciones precarias de<br />superexplotación y discriminación que enfrentan los trabajadores<br />migrantes en todo el mundo. A principios de 2024, incluso en medio de<br />la guerra, miles de trabajadores indios estaban llegando a Israel.<br /><br /> A medida que la inmigración ha reducido la necesidad de<br />Israel de mano de obra palestina barata, los palestinos se han<br />convertido en una población excedente cada vez más marginada. De 1993 a<br />2000 –supuestamente los años en los que se estaba implementando un<br />acuerdo de “paz” que pedía el fin de la ocupación israelí– los colonos<br />israelíes en Cisjordania se duplicaron a 400.000, luego aumentaron a<br />medio millón a mediados de la década de 2010 y llegó a 700.000 en 2023.<br />Mucho antes de que comenzara el genocidio israelí en octubre de 2023, la<br />desnutrición aguda en Gaza estaba en la misma escala que en algunas de<br />las naciones más pobres del mundo, con más de la mitad de todas las<br />familias palestinas comiendo solo una comida al día.<br /><br /> Entre los distintos tipos de estructuras racistas<br />observados en la sociología de las relaciones raciales/étnicas, se<br />destacan dos con respecto a Palestina. Uno es la superexplotación/<br />desorganización de la clase trabajadora. Se trata de una situación en la<br />que el sector subordinado y oprimido dentro de las clases explotadas<br />ocupa los peldaños más bajos de la economía y la sociedad particulares<br />dentro de una clase trabajadora racial o étnicamente estratificada. Lo<br />clave aquí es que el sistema dominante necesita el trabajo del grupo<br />subordinado –es decir, sus cuerpos, su existencia– incluso si el grupo<br />experimenta marginación cultural y social y privación de derechos<br />políticos. Esta fue la experiencia histórica post-esclavitud de los<br />afroamericanos y chicanos en los Estados Unidos, así como la de los<br />irlandeses en Gran Bretaña, los indios mayas en Guatemala, los africanos<br />en Sudáfrica bajo el apartheid y la mano de obra migrante étnicamente<br />demarcada actualmente en Estados Unidos.<br /><br /> La otra es la exclusión y apropiación de los recursos<br />naturales. Se trata de una situación en la que los grupos dominantes<br />necesitan los recursos del grupo subordinado pero no su mano de obra, es<br />decir, no sus cuerpos, ni su existencia física. Ésta es la estructura<br />racista que con mayor probabilidad conducirá al genocidio. Fue la<br />experiencia de los indígenas en América del Norte. Los grupos dominantes<br />necesitaban sus tierras, pero no su mano de obra ni sus cuerpos (ya que<br />los esclavos africanos y los inmigrantes europeos proporcionaban la mano<br />de obra necesaria para el nuevo sistema) y por eso experimentaron un<br />genocidio.<br /><br /> Ahora, al igual que los indígenas antes que ellos –y a<br />diferencia de los sudafricanos negros–, el Estado sionista, los colonos<br />y los aspirantes a colonos, y el capital transnacional necesitan los<br />recursos palestinos, específicamente la tierra y la riqueza en el<br />subsuelo, pero los cuerpos palestinos no son ya no son necesarios y<br />simplemente se interponen en el camino. Este cambio hacia un excedente<br />de humanidad parece ser más avanzado para los habitantes de Gaza, que<br />han sido relegados al campo de concentración que lo ha sido desde 2007,<br />cuando Israel encerró a los habitantes de Gaza en la franja e impuso un<br />bloqueo total.<br /><br />*La economía política del genocidio del siglo XXI*<br /><br /> Si el problema del excedente de capital es endémico al<br />capitalismo, en las últimas dos décadas ha alcanzado niveles<br />extraordinarios. A medida que los mercados globales se saturan, las<br />principales corporaciones transnacionales y conglomerados financieros<br />han registrado ganancias récord al mismo tiempo que los ingresos de la<br />mayoría han disminuido y la inversión corporativa ha disminuido. La<br />clase capitalista transnacional (CCT) ha acumulado más riqueza de la que<br />posiblemente puede gastar, y mucho menos reinvertir. Cuanto más acumula<br />la TCC, más debe emprender búsquedas desesperadas de nuevas salidas para<br />descargar esta creciente masa de ganancias. La especulación financiera,<br />el crecimiento impulsado por la deuda y el saqueo de las finanzas<br />públicas están llegando a sus límites como soluciones temporales frente<br />al estancamiento crónico. Hay que abrir violentamente nuevas salidas<br />para descargar el excedente de capital acumulado.<br /><br /> El excedente de capital encuentra su alter ego en el<br />excedente de trabajo a medida que las crisis de sobreacumulación<br />expanden los dos polos antagónicos de esta unidad dialéctica. Décadas de<br />globalización y neoliberalismo han relegado a grandes masas de personas<br />en todo el mundo a una existencia marginal. En los próximos años, las<br />nuevas tecnologías basadas en inteligencia artificial combinadas con los<br />desplazamientos generados por los conflictos, el colapso económico y el<br />cambio climático aumentarán exponencialmente las filas de la humanidad<br />excedente. Gaza se convierte así en un potente símbolo de la difícil<br />situación de los desposeídos en todo el mundo, un espejo aterrador que<br />refleja posibles futuros para masas de personas a las que el capital no<br />necesita.<br /><br /> Sin embargo, Israel sigue siendo un caso especial con su propia<br />especificidad histórica de colonialismo, apartheid e ideología<br />fundacional fascista. En el siglo XX se produjo al menos cinco casos de<br />genocidio reconocidos y probablemente muchos más de cinco. El actual<br />genocidio israelí, sin embargo, puede ser más comparable al de los<br />nazis, ya que, en términos generales, ambos son respuestas a una crisis<br />general de colapso capitalista mundial. Las presiones genocidas se han<br />incorporado al proyecto sionista desde su nacimiento a finales del siglo<br />XIX, en la medida en que pedía un Estado exclusivamente judío libre de<br />palestinos. <br /><br />La “hasbara” sionista, o maquinaria de propaganda, ha convertido tales<br />comparaciones entre sionismo y nazismo en un tabú, pero la comparación<br />es histórica y analíticamente importante. Tanto el sionismo como el<br />nazismo surgieron de la ola de nacionalismo racial que arrasó Europa a<br />finales del siglo XIX, según la cual todas las personas pertenecen a uno<br />u otro grupo “racialmente puro” que se remonta a orígenes míticos y que<br />corresponden a pueblo-nación racialmente puro. Alemania era<br />exclusivamente para la raza aria supuestamente remontándose a las tribus<br />teutónicas y antes, los franceses remontándose a la Galia, los<br />británicos a los anglosajones y los judíos a Palestina. Las campañas de<br />“sangre y tierra” debían organizar el mundo según esta ideología. En las<br />campañas de sangre y tierra que surgieron del nacionalismo racial<br />estaban la expulsión, el apartheid y el espectro del genocidio.<br /><br /> Para legitimar la conquista, la limpieza étnica y el<br />colonialismo de asentamiento, el programa sionista de sangre y suelo en<br />Palestina requirió la invención del “pueblo judío” que pertenece a una<br />antigua patria judía, un mito fundacional que convertiría una comunidad<br />de fe entre diversas culturas, lugares e historias en un pueblo-nación<br />judío racialmente puro que debe regresar a su patria ancestral. Para que<br />esto sucediera, los palestinos tenían que ser eliminados y borrados de<br />la historia.<br /><br /> Los sionistas y los defensores del Estado de Israel se<br />sienten muy ofendidos por esta analogía entre las acciones de los nazis<br />y el Estado de Israel, incluida la acusación de genocidio, en parte<br />porque el Estado de Israel y el proyecto político sionista utilizan el<br />holocausto judío como mecanismo de legitimación, por lo que establecer<br />tales analogías es socavar el discurso legitimador de Israel. Para que<br />los judíos sean arrastrados al sionismo, se les debe hacer sentir que<br />existe una amenaza existencial de la que sólo pueden protegerse mediante<br />la defensa ciega de Israel, incluso si esto significa apoyar el<br />genocidio de los palestinos junto con la criminalización de los críticos<br />de Israel.<br /><br /> Israel trae así a la luz la tensión mundial entre la<br />necesidad económica que tienen los grupos gobernantes de mano de obra<br />superexplotable y la necesidad política que tienen de neutralizar la<br />rebelión real y potencial del excedente de humanidad. Las estrategias<br />de contención de la clase dominante se vuelven primordiales y las<br />fronteras entre jurisdicciones nacionales se convierten en zonas de<br />guerra y zonas de muerte. Palestina es una de esas zonas de muerte,<br />quizás la más atroz, porque está ligada a la ocupación, el apartheid y<br />la limpieza étnica.<br /><br />*El culto a la muerte del capitalismo global en crisis*<br /><br /> El asedio de Gaza y Cisjordania es una forma de<br />acumulación primitiva. A finales de octubre, cuando se intensificaron<br />los bombardeos israelíes, Israel se dispuso a conceder licencias a<br />empresas energéticas transnacionales para la exploración de gas y<br />petróleo frente a la costa mediterránea, parte de su plan para<br />convertirse en un importante productor regional de gas y centro<br />energético, así como una alternativa al gas ruso. para Europa<br />Occidental. Una empresa inmobiliaria israelí conocida por construir<br />asentamientos en territorios palestinos ocupados publicó un anuncio en<br />diciembre para la construcción de casas de lujo en barrios bombardeados<br />de Gaza, mientras que otros hablaban de resucitar el Proyecto del Canal<br />Ben Gurion que ha estado inactivo desde se propuso originalmente en la<br />década de 1960. Lo único que detiene el proyecto del Canal recientemente<br />revisado es la presencia de palestinos en Gaza.<br /><br /> La economía israelí está bien equipada para el genocidio.<br />Su economía se ha globalizado específicamente a través de la<br />militarización de alta tecnología de su economía. Al igual que la<br />economía global más amplia de la que forma parte, se alimenta de la<br />violencia, los conflictos y las desigualdades locales, regionales y<br />globales. La población palestina cautiva bajo ocupación sirve como<br />objetivo conveniente y campo de pruebas para sistemas de represión<br />masiva que luego se han exportado a todo el mundo para controlar<br />poblaciones inquietas y excedentes de humanidad.<br /><br /> Esta acumulación militarizada y acumulación por represión<br />se ha vuelto central para toda la economía y la sociedad global. Cada<br />nuevo conflicto en el mundo abre nuevas posibilidades de obtención de<br />ganancias para contrarrestar el estancamiento. Una ronda interminable de<br />destrucción seguida de reconstrucción alimenta la obtención de ganancias<br />no sólo para la industria armamentista, sino también para las empresas<br />de ingeniería, construcción y suministros relacionados, la alta<br />tecnología, la energía y muchos otros sectores, todos integrados con los<br />conglomerados transnacionales financieros y de gestión de inversiones<br />que ocupan el eje central de la economía global.<br /><br /> Existe una convergencia entre la necesidad política de<br />contener el excedente de humanidad y la necesidad económica de abrir<br />nuevos espacios para la acumulación. Puede que la paz no rinda frutos,<br />pero en el contexto de un capitalismo transnacional en crisis, el<br />genocidio se vuelve rentable y políticamente conveniente para los grupos<br />gobernantes. Gaza es una alarma en tiempo real de que el genocidio puede<br />convertirse en una herramienta política en las próximas décadas para<br />resolver la intratable contradicción del capital entre el excedente de<br />capital y el excedente de humanidad.<br /><br /> Es un error, muy grande, reducir el proyecto de genocidio<br />en Palestina a los Estados israelí y occidental. Los estados<br />capitalistas individuales y las elites transnacionales fuera de<br />Occidente pueden condenar el genocidio y retirar el apoyo político a<br />Israel, pero no están –y no pueden estar- en contra de los imperativos<br />de la acumulación global de capital que sustentan el impulso genocida.<br />Por el contrario, la oposición política al genocidio simultáneamente a<br />la promoción de la expansión capitalista mundial es una contradicción al<br />interior del capitalismo global. Los capitalistas transnacionales<br />israelíes, árabes y extrarregionales comparten intereses de clase<br />comunes que superan las diferencias políticas sobre Palestina más allá<br />de la coyuntura inmediata de la guerra de Gaza.<br /><br /> Palestina se ha convertido en un espacio ejemplar para<br />llevar a cabo el exterminio a una escala global más amplia, un lugar<br />para el ejercicio de nuevas formas de poder despótico absoluto que no<br />necesita legitimidad política. Esto es más que el anticuado colonialismo<br />de colonos; es la cara de un sistema capitalista global que sólo puede<br />reproducirse mediante el derramamiento de sangre, la deshumanización, el<br />sadismo y la aniquilación.<br /><br /> El destino de las clases populares y trabajadoras<br />globales, incluidas las arrastradas y expulsadas de los circuitos<br />globales de acumulación, puede depender del resultado del genocidio<br />israelí. El centro se está derrumbando. La total quiebra del liberalismo<br />burgués ha abierto espacio para que los fascistas populistas manipulen<br />la inseguridad masiva y la ansiedad sobre el futuro. Las líneas de<br />batalla que se están trazando en Medio Oriente reflejan las líneas de<br />batalla globales. Netanyahu, Trump, Milei, Bolsonaro, etcétera – estos<br />neofascistas no representan aberraciones sino formas políticas<br />emergentes de la gobernación despótica del capital.<br /><br />*Una versión más extensa de este artículo será publicada en marzo en la<br />revista /Journal of World-Systems Research/.*<br /><br />William I. Robinson, Distinguido Profesor de Sociología. Universidad de<br />California en Santa Barbara<br /><br />Em<br />REBELION<br /><a href="https://rebelion.org/por-que-el-genocidio-por-que-ahora/">https://rebelion.org/por-que-el-genocidio-por-que-ahora/</a><br />15/2/2024</p>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-26602451494879810912024-02-12T07:40:00.000-08:002024-02-12T07:40:03.086-08:00 ¿Qué pasa con el campo? ***<p> <br /><br /><br /><br /><br /><br />ANDRÉS PIQUERAS, PROFESOR DE LA UNIVERSIDAD JAUME I<br /><br />*De la desposesión a la sobreacumulación*<br /><br />*Consideraciones previas*<br /><br />1) El trabajo productivo (y por extensión “capital productivo”) desde el<br />punto de vista de la /totalidad social /o la economía en su conjunto es<br />aquel que no sólo produce plusvalía, sino que además produce /nuevo<br />valor/, es decir, nuevos productos convertidos en mercancías. Esto es<br />propio exclusivamente del capital industrial o productivo. “Efectivo”<br />como lo llamara Marx.<br /><br />Tal circunstancia es la que explica que fuera la parte obrera industrial<br />de la clase trabajadora la que albergara en sí la mayor potencialidad<br />revolucionaria del orden social, mediante su accionar consciente. <br /><br />El proletariado lo constituye el conjunto de población que ha sido<br />desposeída de sus medios de producción. Obligada, por<br />tanto, a asalarizarse, convirtiéndose en “fuerza de trabajo” o clase<br />trabajadora. La clase obrera es la parte industrial de la clase trabajadora.<br /><br />En las formaciones socioestatales de capitalismo primigenio o<br />avanzado, el desarrollo de las fuerzas productivas propició, sin<br />embargo, que el peso del sector servicios fuera haciéndose mayor,<br />reduciéndose el peso de la fuerza de trabajo obrera dentro de la clase<br />trabajadora. Con ello se fue diluyendo también la<br />conciencia identitaria de clase y por ende potencialmente<br />revolucionaria. Buena parte de la clase trabajadora experimentaría un<br />desclasamiento o primacía de identidades profesionales por encima de la<br />de clase, que la proporcionaban “nuevos estilos de vida”, muy diferentes<br />estatus y sin embargo una generalizada autoadscripción de “clase media”.<br />De ahí saldrían los “nuevos movimientos sociales”, separados del mundo<br />de la producción –y por tanto del movimiento obrero-, para centrarse en<br />aspectos socialmente importantes pero no centrales para la acumulación<br />de capital.<br /><br />2) Las formas del capital, en su ciclo completo de acumulación, son<br />capital productivo, capital dinero y capital mercancía. A pesar de estar<br />inseparablemente imbricados en el movimiento total del capital, lo que<br />hace el capital-dinero autonomizado como capital a interés, y el<br />capital-mercancía autonomizado como capital comercial, es distribuirse<br />el monto total de plusvalía generada en la producción por el capital<br />productivo<br /><br />Es decir, las otras formas funcionales del capital retraen parte de la<br />ganancia del capital productivo que éste consigue a través de la<br />plusvalía extraída en la producción mediante la explotación de la fuerza<br />de trabajo industrial. Partes de esa plusvalía derivan como ganancia en<br />favor del capital a interés y el capital comercial. La explotación de la<br />fuerza de trabajo por parte de los capitalistas comerciales y<br />bancarios no crea plusvalía pero permite a los capitalistas bancarios y<br />comerciales apropiarse de parte de la plusvalía total generada. <br /><br />En ese reparto entre capitalistas hemos de contar también con las<br />actividades rentistas de la economía. La plusvalía que queda para las<br />tres formas de capital tiende a ser menor, al tener que pagar el<br />alquiler (renta) de terrenos o solares o, en general, de cualquier bien<br />no reproducible. Esto ha sido especialmente importante para el sector<br />agrícola.<br /><br />*Caracterización del sector agrícola** y su dilución globo-industrial*<br /><br />El sector primario de la economía, el agrícola, está en vías de ser<br />diluido en el sector industrial. Hoy se producen industrialmente cada<br />vez más parte de nuestros alimentos. No tanto por la utilización de<br />maquinaria para ello, sino por los procesos artificiales y de<br />laboratorio implicados en la “creación” y recreación de semillas,<br />insumos y toda clase de productos utilizados para la producción de<br />alimentos, ya no tan “naturales” (cada vez menos pueden ser vistos como<br />recursos dados y arrancados de la naturaleza –como las semillas<br />“terminator”-, incluida la propia ganadería una vez que la biogenética<br />empieza a extenderse por todo el sector agrícola). Todo ello hace que<br />tengamos que replantearnos cuestiones como el /valor/, la /<br />plusvalía/ y la /renta/ en el mundo agrario.<br /><br />El sector agrícola es el que hasta hoy más ha aguantado el proceso de<br />proletarización o desposesión de medios de producción, no porque no se<br />haya venido desposeyendo a millones y millones de campesinos/as en todo<br />el mundo desde la Primera Revolución Industrial, sino porque buena parte<br />de la poca población activa que quedó en él ha sido propietaria, aunque<br />fuera de una pequeña parcela de tierra, con la consiguiente conciencia<br />no-proletaria, a menudo anti-socialista y, en todo caso,<br />renuente a lacolectivización. Esto siempre dio quebraderos de cabeza en<br />los procesos revolucionarios a la hora de intentar congeniar intereses<br />obreros y campesinos, como los bolcheviques tuvieron que aprender rápido. <br /><br />Obviamente, jornaleros y asalariados agrícolas en general no entran en<br />esa categoría, pues sí son por lo general proletarios (a veces se<br />combinan formas de pequeña o muy pequeña propiedad con trabajos<br />asalariados temporales).<br /><br />Con la industrialización del sector agrícola tenemos varios procesos<br />concomitantes (el referente aquí es sobre todo Europa, aunque en gran<br />medida lo dicho es extrapolable al conjunto del planeta):<br /><br />1. Se acentúa de nuevo la expulsión de población activa –pequeños sobre<br />todo,pero también medianos propietarios-. <br /><br />Entre los principales factores y procedimientos que contribuyen a ello<br />y, en general, a la despoblación rural, tenemos:<br /><br />• La Agenda 2030 y sus inviables requisitos dentro de la ley del<br />valor del capital<br /><br />• Las directrices de la UE que van en la misma línea de ahogar la<br />pequeña propiedad<br /><br />• La Política Agraria Común, que transfiere sin parar fondos a los<br />grandes propietarios<br /><br />• Los Tratados de Libre Comercio, en favor de las transnacionales<br /><br />• El IPOD (índice de precios en origen y destino – ver cuadro más abajo,<br />para el Reino de España-), que reduce peligrosamente los márgenes de<br />beneficio en favor de la intermediación y distribución comercial –<br />como grandes cadenas de supermercados del estilo de Mercadona,<br />Carrefour, AuChan, Lidl…, que disparan sus márgenes para los alimentos<br />básicos hasta 10 veces más que el IPC-<br /><br />• La destrucción del campo en pro de la “industria<br />ecológica” (con la “siembra” por doquier de placas solares y molinos de<br />viento, por ejemplo)<br /><br />• Las sanciones a Rusia impuestas por EE.UU. a la UE, en favor de la<br />economía norteamericana, que están significando pérdidas millonarias<br />mensuales al sector agrícola europeo. Rusia era el 6º país destinatario<br />de sus exportaciones agrícolas. <br /><br /> Cuadro <br /><br />El IPOD general, que incluye tanto los productos agrícolas como<br />ganaderos, se sitúa en 3.92. Además de productos agrarios como la<br />naranja, el plátano, el repollo, el ajo o la misma patata, que rompen<br />barreras, en el sector ganadero destacan productos como la ternera y el<br />cordero con incrementos de 286% y 310% respectivamente, como puede<br />apreciarse en el cuadro de la COAG.<br /><br />2. La asfixia de la pequeña –y mediana- propiedad da paso a una<br />creciente concentración agraria. Transnacionales y sobre todo grandes<br />fondos buitre (que controlan la mayor parte de la propiedad del mundo,<br />incluida la de las mayores empresas transnacionales) pasan a ser los<br />grandes propietarios. Esto significa, entre muchas otras cosas, que cada<br />vez más los productores agrícolas-industriales son los propios<br />detentadores de la propiedad, con lo cual el factor renta pierde<br />relevancia para ellos. En cambio, pueden utilizar las tierras para<br />aumentar su ganancia rentista a costa de otros capitalistas que quieran<br />producir, o también a costa de la propia clase trabajadora mediante por<br />ejemplo la “chaletización” del campo, la conversión de territorios en<br />“parques temáticos”de aventuras, actividades deportivo-recreativas,<br />complejos turísticos en general, etc.<br /><br />3. Se da un proporcional aumento de la asalarización en relación a la<br />población activa agrícola, que en total disminuye. En el Reino de<br />España la mano de obra en las explotaciones agrícolas pasó de 828.200<br />personas en 2008, a 774.800 en 2022, (Trabajadores por sector económico<br />en España 2008-2022 | Statista <https://es.statista.com/estadisticas/<br />475096/numero-de-empleados-en-espana-por-sector-economico/>); ya sólo<br />representa el 6,9% de la población activa total. En 2020 la mano de obra<br />del titular bajó un 3,7% y la referida a los familiares del titular un<br />49,8%. Por el contrario, la mano de obra contratada aumentó un 16,3% y<br />la subcontratada un 13,9%, según el INE (https://es.statista.com/<br />estadisticas/475096/numero-de-empleados-en-espana-por-sector-economico/<br /><https://es.statista.com/estadisticas/475096/numero-de-empleados-en-<br />espana-por-sector-economico/>). <br /><br />.<br /><br />4. La /sobreacumulación de capital/ (exceso de maquinaria en relación a<br />la fuerza de trabajo empleada por unidad de capital invertido -causa<br />principal de la caída de la tasa de ganancia, dado que la plusvalía sólo<br />se extrae de los seres humanos-) va llegando también al campo. Tal<br />proceso busca compensarse a través de una explotación extensiva y a<br />menudo una sobreexplotación de la fuerza de trabajo agrícola (cuando el<br />salario no cubre la propia reproducción del trabajador/a). Para ello se<br />deslocaliza la inversión en explotaciones agrícolas hacia lugares donde<br />la mano de obra sea más barata, o bien sirviéndose de<br />población inmigrante altamente precarizada. En el sector se da<br />asimismo con frecuencia una explotación de mano de obra servil<br />o semiservil e incluso esclava, a escala planetaria. Contra los precios<br />de esa explotación globalizada (a menudo llevada a cabo por el<br />empresariado connacional) la pequeña y mediana propiedad no<br />pueden competir. La globalización de fuentes de plusvalía y beneficios<br />se da, pues, como en cualquier otro sector.<br /><br />5. Técnicas nocivas empeladas por la agroindustria se acompañan de<br />productos dañinos para la salud, cada vez más genéticamente modificados,<br />los cuales forman parte de la continuación de la desposesión o /<br />acumulación tardía// de capital/ en el campo. Monocultivos en gran<br />escala, pérdida masiva de variedadesagrícolas y de especies vegetales,<br />deforestación extensiva e intensiva, pérdida de formas de vida y<br />culturales, son algunas de las peores consecuencias, las cualesademás<br />arrastran consigo otras de la misma terrible condición, como la mayor<br />recurrencia de plagas y enfermedades, más utilización de químicos y<br />productos nocivos para intentar compensarlo, menor resistencia y<br />adaptación natural al estrés climático que padecemos, así como a los que<br />quieren llamar “desastres naturales”, mayores hambrunas, mayor pobreza y<br />migraciones en masa, etc…<br /><br />Así que lo que tenemos es una ofensiva en toda la regla para terminar la<br />desposesión en el mundo rural, con una gran concentración de la<br />propiedad en él. Quien de momento están protestando contra ello no es la<br />clase asalariada agrícola [que en todo caso lucha por sus condiciones<br />laborales (¿alguien recuerda todavía cuándo fue la última huelga de<br />jornaleros –magrebís- en Andalucía, por ejemplo?)], sino los pequeños<br />propietarios en vías de proletarización y hasta medianos<br />propietarios que ven menguar más y más sus beneficios.<br /><br />El sector agrícola que ha permitido la vida laboral de una decreciente<br />población rural está seriamente puesto en peligro por el modo de<br />producción capitalista y su crisis no tiene solución dentro de él. Por<br />eso su defensa desde posiciones de transformación social sólo puede ir<br />acompañada de procesos de cooperativización y socialización de las<br />explotaciones agrícolas y de sus productos. No se trata de volver atrás<br />hacia el pequeño capital agrícola, ni de fomentar un nuevo<br />proteccionismo que se beneficie de la división internacional del trabajo<br />capitalista y sus relaciones de intercambio desigual, sino aprovechar el<br />descontento general y la falta de soluciones al mismo, para poco a<br />poco ir transformando las relaciones sociales agrícolas de producción.<br /> Eso pasa por comenzar a revertir los procesos causales de su ruina<br />antes mencionados. Para empezar, rompiendo con la UE y denunciando los<br />Tratados de Libre Comercio. <br /><br />Las organizaciones comunistas europeas (y del resto del mundo) dignas<br />de tal nombre tienen la enorme responsabilidad de estar a la altura de<br />las circunstancias y comenzar a actuar en ese sentido. El trabajo de<br />base en y con el sector agrícola es imprescindible. De él y a través de<br />él puede afrontarse el reto de que comience a levantarse una conciencia<br />de clase entre su población activa.<br /><br />Lo cual a su vez es vital, pues sólo a través del socialismo se podrá<br />tener una base agrícola sustentable y sana como fuente de vida de una<br />parte importante de la población y como posibilitadora de vida del<br />conjunto de ella.<br /><br />Publicado en: Artículos <https://observatoriocrisis.com/category/<br />articulos/>, Inicio <https://observatoriocrisis.com/category/inicio/><br /><br />Em<br /><b>OBSERVATORIO DE LA CRISIS</b><br /><a href="https://observatoriocrisis.com/2024/02/11/que-pasa-con-el-campo/">https://observatoriocrisis.com/2024/02/11/que-pasa-con-el-campo/</a><br />11/2/2024<br /><br />***<br />Artigo estratégico. <br />Inclusive para entender a quetão da reforma agrária. <br />Inclusive a questão da reforma agrária nos anos sessenta. <br />Aparentemente, esclarece as atividades do MST em sua luta pela reforma agrária<br />e pela transformação da propriedade privada agraária em cooperativização e TRAALHO ASSO-<br />CIADO.Igualmente, as políticas educacionais. <br />Seria necessária uma análise a partir dos dados do campo hoje. <br />Isso também mostra que, quaisquer que tenham sido os erros, <br />a luta aberta pela REFORMA AGRÁRIA nos anos sessenta estava <br />no mínimo tendencialmente certa. <br />Com relação a isso, o "no o sidicalismo", o "novo MO" e o PT, parece que<br />jogaram fora o bebê com a água do banho. <br />Digo, a tentavia de corte, de se dissociarem compeltamente de <br />velhas lutas, do chamado "velho" sindicalismo" e por aí vai. <br /></p>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-69643255388135879332024-02-12T05:37:00.000-08:002024-02-12T05:37:14.360-08:00A importância teórica de /O imperialismo/ de Lenine<p> <br /> <br /><br /><br /> – O centésimo aniversário da morte de Lenine, completado a 21 de<br /> Janeiro deste ano, foi ocasião para recordar a importância teórica<br /> e política do tema Imperialismo. Tanto mais quanto o estado de<br /> guerra permanente em que o mundo está envolvido se agrava a olhos<br /> vistos – na Ucrânia, na Palestina, no Oriente Próximo ou no<br /> Extremo Oriente. Esta análise de /O imperialismo,/ obra publicada<br /> em 1916, tem um duplo mérito: recorda de forma concisa o inovador<br /> contributo de Lenine e, do mesmo passo, alerta para as mudanças<br /> entretanto ocorridas no mundo – exorta-nos a desbravar terrenos<br /> que são cruciais para a afirmação do socialismo no nosso tempo.<br /><br /><br /> Prabhat Patnaik [*] <br /><br /><br />A importância de /O imperialismo/ [NT] <#nt> de Lenine está no facto de<br />ter revolucionado a percepção da revolução. Marx e Engels já haviam<br />admitido a possibilidade de países coloniais e dependentes terem<br />revoluções próprias antes mesmo da revolução proletária nas metrópoles,<br />mas esses dois conjuntos de revoluções eram vistos como desarticulados;<br />e tanto a trajetória da revolução na periferia como a sua relação com a<br />revolução socialista nas metrópoles permaneceram obscuras.<br /><br />/O imperialismo/ de Lenine não apenas ligou os dois conjuntos de<br />revoluções, mas também considerou a revolução nos países periféricos<br />como parte do processo de transição da humanidade para o socialismo.<br /><br />Ele via, portanto, o processo revolucionário como um todo integrado.<br />Visualizou um único processo revolucionário mundial que, a partir de uma<br />ruptura no elo mais fraco da cadeia, não importando onde esse elo<br />estivesse localizado, derrubaria todo o sistema.<br /><br />E afirmava também que chegara o tempo de tal revolução mundial, pois o<br />capitalismo atingira um estágio em que enredara a humanidade em guerras<br />catastróficas: tinha “coberto” o mundo inteiro sem deixar “espaços<br />vazios”, dividindo-o completamente em esferas de influência de<br />diferentes potências metropolitanas, de modo que só poderia agora<br />ocorrer uma nova repartição; e essa redivisão só poderia ocorrer por<br />meio de guerras interimperialistas, das quais a Primeira Guerra Mundial<br />foi um clássico.<br /><br />A posição teórica que informa /O imperialismo/ ampliou o marxismo em<br />pelo menos cinco direcções principais.<br /><br />*Primeiro*, trouxe as “regiões periféricas” do mundo, países que Hegel<br />havia descartado como não tendo história, para o âmbito da revolução<br />mundial. De facto, com o passar do tempo e com o desaparecimento das<br />esperanças de uma revolução na Europa após a Revolução Bolchevique,<br />esses países passaram para o centro da revolução mundial.<br /><br />Num dos seus últimos escritos, Lenine não apenas depositou as suas<br />esperanças numa revolução na China e na Índia para suceder à Revolução<br />Russa, mas sublinhou mesmo o facto de a Rússia, a China e a Índia em<br />conjunto representarem quase metade da humanidade, de modo que as<br />revoluções nesses três países mudariam decisivamente a balança em favor<br />do socialismo. Não por acaso, a Internacional Comunista que ele ajudou a<br />criar era diferente de tudo o que o mundo já tinha visto até então, onde<br />delegados da Índia, China, México e Indochina ombreavam com os da<br />França, Alemanha e Estados Unidos.<br /><br />Em *segundo* lugar, e paralelamente, ampliou o escopo do marxismo de uma<br />teoria da revolução proletária nos países capitalistas avançados para<br />uma teoria da revolução mundial. É claro que reconhecer o alcance muito<br />mais amplo do marxismo – uma reflexão acerca da dominação mundial do<br />capital que /O imperialismo/ enfatizou – ainda exigia que a tarefa<br />específica de analisar a história das sociedades não europeias com base<br />na teoria marxista tivesse que ser realizada.<br /><br />Mas a extensão e o florescimento do marxismo no terceiro mundo<br />forneceram a base para tais análises, estimuladas pelo Comintern mesmo<br />quando as leituras políticas específicas deste último se mostravam<br />erradas. /O imperialismo/ deu, assim, ao marxismo uma vitalidade sem<br />precedentes.<br /><br />Na verdade, Lenine não foi o primeiro a falar de imperialismo. Antes<br />dele, Rosa Luxemburgo havia feito uma análise extremamente aguda e<br />perspicaz explicando por que razão o capitalismo precisava de usurpar os<br />mercados pré-capitalistas. Mas a análise de Luxemburgo sofreu com o<br />facto de considerar que tal usurpação resultaria numa assimilação do<br />segmento pré-capitalista pelo capitalismo. O segmento pré-capitalista<br />não permaneceria como uma entidade devastada: passaria a fazer parte<br />do segmento capitalista.<br /><br />O foco da análise de Luxemburgo continuou, portanto, a ser a revolução<br />proletária europeia. Apesar de observações dispersas em contrário, não<br />via um mundo permanentemente segmentado a ser criado pelo capitalismo<br />metropolitano. /O imperialismo/ de Lenine, no entanto, visualizou um<br />mundo permanentemente segmentado e é aí que reside a sua força.<br /><br />Em *terceiro* lugar, a teoria de Lenine proporcionou uma interpretação<br />radicalmente nova do conceito de “obsolescência histórica” do<br />capitalismo. Até então, com base nas breves observações de Marx no<br />prefácio de /Contribuição para a Crítica da Economia Política,/ o<br />entendimento era que um modo de produção se tornava historicamente<br />obsoleto e, portanto, maduro para ser derrubado, apenas quando o espaço<br />para qualquer desenvolvimento adicional das forças produtivas dentro<br />dele se esgotasse; e tal esgotamento deveria manifestar-se tipicamente<br />na forma de uma crise.<br /><br />A ausência de qualquer crise desse tipo, de facto, levou à exigência de<br />Bernstein de “rever” o marxismo, colocando como desiderato do<br />proletariado não o derrube, mas uma reforma do sistema capitalista.<br />Aqueles que aderiram à tradição revolucionária, contra Bernstein,<br />procuraram provar que uma tal crise terminal, que talvez ainda não<br />tivesse surgido, era, no entanto, inevitável.<br /><br />A teoria do imperialismo de Lenine abriu aqui caminhos completamente<br />novos. A manifestação da obsolescência histórica do capitalismo, a sua<br />maturidade para ser derrubado, não estava em qualquer crise económica,<br />mas no facto de ter entrado numa fase em que envolveu a humanidade em<br />guerras devastadoras, guerras em que os trabalhadores de um país foram<br />obrigados a lutar contra os trabalhadores de outro país, de trincheira<br />para trincheira. Quando isto se verificou, chegou o momento de converter<br />a guerra imperialista em guerras civis, de desviar as armas dos<br />camaradas de trabalho e apontá-las aos capitalistas de cada país.<br /><br />*Quarto*, o socialismo seria agora o objectivo de todas as revoluções,<br />independentemente do local onde ocorressem. A ideia de a revolução<br />democrática não ser levada avante pela burguesia (que historicamente<br />desempenhou o papel de seu arauto) nos países que chegaram tarde ao<br />capitalismo tinha já aparecido na obra de Lenine /Duas táticas da<br />socialdemocracia./ Em tais sociedades, a tarefa de levar adiante a<br />revolução democrática cabia ao proletariado, que entraria em aliança com<br />o campesinato e, tendo liderado a revolução democrática, não pararia por<br />aí, mas continuaria no sentido de construir o socialismo.<br /><br />Mas agora esta perspectiva de uma revolução numa sociedade periférica –<br />inicialmente contra o imperialismo e baseada numa ampla aliança de<br />classe de operários e camponeses no seu núcleo, e depois passando para a<br />fase socialista – tornou-se generalizada. Em suma, a tarefa de construir<br />o socialismo já não era uma preocupação apenas dos trabalhadores dos<br />países avançados: era uma tarefa /a ser alcançada através de etapas/<br />que tinha entrado na agenda de todas as sociedades.<br /><br />*Finalmente*, surgiu uma questão fundamental: porque é que houve um tal<br />crescimento do “reformismo” no movimento da classe operária europeia a<br />ponto de tantos líderes da Segunda Internacional adoptarem posições<br />oportunistas ou completamente social-chauvinistas durante a guerra?<br />Lenine forneceu uma resposta a esta questão, com base numa sugestão<br />anterior de Engels, ao desenvolver o conceito de uma “aristocracia<br />operária” que tinha sido “subornada” pelos superlucros imperiais.<br /><br />/O imperialismo/ foi uma grande conquista teórica. Lenine observou certa<br />vez que a força do marxismo reside em ser verdadeiro. Pode-se fazer uma<br />afirmação semelhante também sobre a teoria do imperialismo de Lenine.<br />Constituindo um notável avanço, forneceu respostas, com extraordinário<br />brilhantismo, a toda uma série de questões que tinham surgido na nova<br />conjuntura e clamavam por respostas. Poder-se-á discordar deste ou<br />daquele detalhe da argumentação de Lenine, mas a sua orientação geral<br />foi quase esmagadoramente correcta. E um indício da sua correcção é a<br />forma quase estranha como antecipou os desenvolvimentos no mundo no<br />período entre 1914 e 1939.<br /><br />O mundo de hoje, porém, afastou-se daquilo que Lenine tinha escrito em /<br />O imperialismo/.<br /><br />Uma característica importante desta diferença é que a centralização do<br />capital avançou muito mais do que no tempo de Lenine, dando origem a<br />um /capital financeiro internacional,/ no lugar dos /capitais<br />financeiros nacionais/ que então dominavam. Consequentemente, as<br />rivalidades inter-imperialistas foram abafadas, uma vez que o capital<br />financeiro internacional não quer que o mundo seja dividido em<br />diferentes esferas de influência. Quer, em vez disso, um mundo não<br />dividido para o seu movimento irrestrito. A questão das guerras causadas<br />pela rivalidade interimperialista já não se coloca.<br /><br />Isto, porém, não significa o início de uma era de paz. A ofensiva<br />implacável do capital financeiro internacional contra todos os esforços<br />nacionais no terceiro mundo que vão no sentido da independência<br />económica e da auto-suficiência económica (incluindo a alimentação) deu<br />origem a uma onda de conflitos locais, opondo um imperialismo unido a<br />determinados países.<br /><br />Ao mesmo tempo, a exploração dos trabalhadores do terceiro mundo<br />intensificou-se enormemente, assim como a oligarquia empresarial-<br />financeira dentro dele se integrou com o capital financeiro<br />internacional. O resultado é um crescimento maciço da desigualdade no<br />terceiro mundo, a tal ponto que grandes sectores da população<br />testemunharam um aumento da pobreza absoluta em termos nutricionais.<br /><br />Ao mesmo tempo, a maior disponibilidade do capital metropolitano para<br />deslocalizar actividades para o sul global enfraqueceu os sindicatos nas<br />metrópoles e levou a um aumento da desigualdade dentro das próprias<br />metrópoles. A hegemonia do capital financeiro internacional, expressa<br />numa ordem neoliberal, implicou, portanto, um agravamento significativo<br />em termos relativos, e mesmo absolutos, nas condições dos trabalhadores<br />do mundo.<br /><br />Isto deu origem a uma crise de superprodução para a qual não há solução<br />dentro da ordem global neoliberal. E esta crise deu origem a um<br />recrudescimento do fascismo e do neofascismo em todo o mundo, com as<br />oligarquias corporativas-financeiras em vários países a entrarem em<br />alianças com grupos fascistas para manter a sua hegemonia.<br /><br />A luta pelos direitos democráticos, a luta contra o desemprego e a luta<br />pelas liberdades civis passaram assim para a linha da frente, e esta<br />luta está ligada à luta pelo socialismo. O revolucionamento trazido por<br />Lenine à perspectiva da revolução mundial continua válido, embora o foco<br />imediato da revolução tenha mudado com o tempo.<br /><br /><br /> 21/Janeiro/2024<br />Em<br /><b>RESISTIR.INFO</b><br /><a href="https://www.resistir.info/patnaik/patnaik_21jan24.html">https://www.resistir.info/patnaik/patnaik_21jan24.html</a><br />21/1/2024<br /><br /></p>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-80379744516289992342024-02-06T05:37:00.000-08:002024-02-06T05:39:51.046-08:00A Rússia, um feito inédito na história da geopolítica do século 21<p> <br /><br /><br /> <br /><br />Há análises que fogem à questão central: a herança recebida da União<br />Soviética pela Rússia atual.<br /><br /><br />*Por Nivaldo Manzano (*) - <br /><br /><br />*No período de vinte anos, compreendido <br />entre o fim da União Soviética e a guerra dos EUA contra a Rússia na<br />Ucrânia, a Rússia, considerada em 1991 por um guru da Casa Branca como<br />uma mera “potência regional” despicienda, converteu-se numa<br />superpotência, somente comparável em poderio bélico aos EUA e à China.<br />Como explicar? Tenho lido explicações que fogem, por desconforto e<br />inconveniência ideológica, à questão central, que é a herança recebida<br />pela Rússia da cultura (em amplos termos) da União Soviética, que ainda<br />veste o manequim de seu líder Vladimir Putin, herança responsável,<br />talvez, pela sua aprovação, há vinte anos, de pelo menos 80% de seus<br />eleitores (um “tirano”, segundo a imprensa ocidental).<br /><br />O francês Emmanuel Todd, demógrafo, antropólogo e historiador –<br />reconhecido pela imprensa nos últimos meses como um luminar na análise<br />geopolítica, pelo elevado número de suas previsões certeiras ao longo de<br />40 anos -, acaba de lançar em Paris o livro “La Défaite de l’Occident”,<br />que ganha manchetes em cadernos literários de todo o mundo e torna-se<br />tema assíduo em debates e entrevistas com o autor.<br /><br />continua após o anúncio<br /><br />Até então, Todd, autor de 20 livros, era um pesquisador (assim ele se<br />apresenta) ignorado e desprezado pela imprensa ocidental durante as<br />últimas três décadas, por razões ideológicas.<br /><br />Emmanuel Todd nada tem de comunista e se defende dizendo que não é<br />russófilo, embora valorize os achados de Marx. Obviamente, o tema não é<br />novo, mas o que chama a atenção é o embate acirrado entre esquerda e<br />direita que o livro desperta, a propósito de suas ideias “heterodoxas”,<br />que vicejam ao largo das crônicas tanto profundas como ligeiras que<br />caracterizam o debate atual sobre geopolítica. Aqui,limito-me a<br />apresentar algumas de suas referências históricas e metodológicas sobre<br />as quais o autor fundamenta o conjunto de sua obra, que amadureceu ao<br />longo do tempo.<br /><span> </span>A sua originalidade: como demógrafo, Todd destaca a interface da<br />demografia no contexto das análises de geopolítica, ao lado de outras,<br />como a interface econômica, por exemplo, o que não quer dizer que a<br />desconsidere. Não há no pensamento de Todd uma “determinação em última<br />instância”, de ordem ontológica, uma ordenação hierárquica dos conceitos<br />e das atribuições de valor que se fazem à realidade sob escrutínio, em<br />prejuízo de outras, nem infraestrutura nem superestrutura, em que pese a<br />contingência histórica, por ele reconhecida, de um mundo dominado na<br />atualidade pelo Capital. À luz desse entendimento, faria sentido a<br />indagação sobre a diferença entre o contingente e o necessário, entre a<br />Lógica e a História, como ocorre no pensamento de Hegel? Como dissociar<br />a proposta metodológica de Todd das últimas reflexões de Marx, expressa<br />na carta (não enviada) à revolucionária russa Vera Zasulitch em 1882, na<br />qual ele afirma que a capacidade da imaginação é ilimitada e que é<br />preciso deixar de lado a estreiteza de nossos esquemas abstratos, como<br />condição para se enxergar o novo? E, como discípulo da École des<br />Annales, Todd valoriza os elementos quantitativos, associados ao estudo<br />das temporalidades longas, da qual procedem renomados historiadores<br />franceses, como Marc Bloch e Fernand Braudel.<br /><br />Embora sinta ojeriza por toda classificação acadêmica, no papel de<br />antropólogo e demógrafo, na perspectiva da temporalidade longa Todd<br />detém-se na relevância que atribui ao papel da estrutura e organização<br />familiar na formação social. E daí ele retira as surpreendentes sacadas<br />originais, de superlativa atualidade, motivo de ter sido convertido<br />repentinamente em best seller. À estabilidade da estrutura e organização<br />familiar, Todd associa os processos de longa temporalidade, da coesão<br />comunitária, condição social que implica uma perspectiva de futuro<br />assegurado no horizonte. A essas interfaces demográficas, ele aproxima<br />outras, como os indicadores de escolaridade, fecundidade, mortalidade,<br />religiosidade e outras.<br /><br /><br /><br />Munido desse instrumental, o pesquisador mergulha no estudo da crise da<br />formação social dos EUA, país que teria destroçado a sua herança<br />protestante (o sistema escolar que foi modelo para o Ocidente, a escrita<br />e leitura em massa, trabalho, disciplina, a vocação excepcionalista auto<br />assumida), daí resultando e provocando a catastrófica fratura social,<br />total ausência de espírito comunitário (cada um por si contra todos),<br />frustração coletiva, ausência da visão de futuro, ressentimento, estado<br />de guerra permanente, ruína da nação e do Império, “grau zero” da<br />civilização, nos seus termos. Não seria possível afundar ainda mais,<br />ante a iminência do colapso fatal. (Atenção: As análises de Todd<br />circunscrevem-se unicamente ao chamado Mundo Ocidental; daí o seu<br />desinteresse metodológico pelas questões referentes à unipolaridade e<br />multipolaridade da geopolítica mundial no seu todo).<br /><br />Já a Rússia, em contraste, teria herdado tudo o que havia de virtuoso no<br />regime soviético, como a estrutura e organização familiar laicizada no<br />socialismo (trabalho e remuneração idêntica para ambos os sexos,<br />equivalência nas hierarquias sociais), estabilidade econômica e<br />política, expectativa positiva de futuro, forte senso de comunidade,<br />herdado das comunas camponesas e reforçado pelo regime soviético,<br />especialmente no pós-II Guerra Mundial, manifesto na bravura de seus<br />heróis e de suas heroínas e reavivado intensamente a cada ano, como pode<br />observar-se na grande afluência às comemorações do término da guerra na<br />Praça Vermelha frente ao Kremlin. (A União Soviética perdeu 20 milhões<br />de combatentes na II Guerra Mundial).<br /><br /><br /><br />A isso deve associar-se o legado do excelente sistema educacional<br />soviético, evocado recentemente por Putin, ao proclamar a necessidade de<br />“voltarmos à qualidade que tínhamos antes”). Explica-se: Frente ao<br />inimigo externo que assediava a URSS de toda parte, no período da guerra<br />fria, o Estado soviético cuidou de formar legiões e legiões de técnicos,<br />engenheiros, físicos, geólogos, psicólogos, cientistas em geral,<br />diplomatas etc.). A busca da autossuficiência era imperiosa, e não havia<br />outra saída para a construção do socialismo e a reconstrução da URSS.<br /><br />Mais gente capacitada do que se imagina teria decidido permanecer na<br />Rússia após o fim da URSS, atraída menos pelos salários do que pelas<br />expectativas oferecidas por Putin para conter a diáspora promovida pela<br />rejeição a Yeltsin e pelas promessas fantasiosas do Ocidente, hoje<br />ironicamente simbolizada pela grande placa do Mc Donald’s na Praça<br />Vermelha, agora invertida de cabeça para baixo pela empresa proprietária<br />da rede, para gáudio da clientela.<br /><br /><br /><br />No empenho da recuperação, reconstrução e valorização cultural da<br />sociedade russa, Putin fez uso do profundo do sentimento de<br />nacionalidade, que vincou a sua história, um chamado de intensa<br />reverberação patriótica, em especial a lembrança do sacrifício, nas<br />guerras civis e nas batalhas de Leningrado (cerco de dois anos e meio e<br />dois milhões de russos mortos, de Kursk etc. Em matéria de manifestações<br />e comemorações de caráter histórico e símbolos remanescentes entranhados<br />na cultura, é quase impossível dissociar-se a nova Rússia da Rússia<br />soviética. Uma pesquisa recente mostra que supera em mais de 50% o<br />número de cidadãos que evocam os “bons tempos” da URSS. Observe-se que o<br />Partido Comunista da Rússia, que apoia Putin, é a segunda força política<br />na Duma, com 20% das cadeiras. No coração do russo da velha Rússia<br />soviética e do russo da nova Rússia pós-hecatombe Yeltsin pulsa o mesmo<br />sentimento de pertencimento, intuição que a sagacidade do estadista<br />Putin soube preservar e estimular, herança responsável, talvez, pela sua<br />aprovação, há vinte anos, de pelo menos 80% de seus eleitores (um<br />“tirano”, segundo a imprensa ocidental).<br /><br />Assim é que, firmemente apoiado no que a Rússia tem de permanente no seu<br />imaginário, na perspectiva da temporalidade longa, para além das<br />contingências do capitalismo e do socialismo, sob o cerrado cerco das<br />sanções econômicas, o eleitorado russo celebra o desempenho econômico<br />superior a todos os países da Europa em 2023 e que deverá repetir-se em<br />2024, para a estupefação do OTANistão, como diz o jornalista Pepe<br />Escobar. Está aí a prova dos nove, que instiga a compreender o jogo das<br />temporalidades de Todd.<br /><br /><br /><br />Em recente entrevista na primeira quinzena de janeiro à equipe do<br />programa diário The Duran na internet, produzido por Alexander<br />Mercouris, Gordon Hahn, um conhecido estudioso da Rússia e da Eurásia,<br />observou: “Para a Rússia, parece agora, o Ocidente já não é o seu<br />'Outro'.… A Rússia sempre se identificou, motivou-se, impulsionou-se em<br />relação à Europa. Agora Putin está se afastando disso. Disse que já não<br />devemos definir-nos, olhar para nós próprios, através do prisma europeu.<br />Por enquanto, colocaremos todos os nossos ovos na mesma cesta, e essa é<br />a Eurásia…. Esta estreita relação bilateral, da Europa como o Outro da<br />Rússia, está a terminar e, portanto, o ciclo [doconservadorismo à<br />ocidentalização e vice-versa] está provavelmente a terminar.” <br /><br />No entendimento de Gordon Hahan, essas palavras de Putin deveriam ser<br />interpretadas como a manifestação diplomática mais importante até agora<br />no século XXI.<br /><br /><br /><br />Isso posto, frente ao destrambelhamento da sociedade estadunidense - um<br />bólido desgovernado, à luz da antropologia de Todd -,junto as pinceladas<br />de minha responsabilidade no quadro desta crônica à “heterodoxia”<br />geopolítica do autor de “La “Défaite de L’Occident”, para afirmar a<br />minha crença na indiscutível capacidade da Rússia de fazer frente à<br />russofobia do OTANistão. <br /><br />(*) Jornalista <br /><br />Em<br />BRASIL 247<br /><a href="https://www.brasil247.com/ideias/a-russia-um-feito-inedito-na-historia-da-geopolitica-do-seculo-21-04e8n1p6">https://www.brasil247.com/ideias/a-russia-um-feito-inedito-na-historia-da-geopolitica-do-seculo-21-04e8n1p6</a><br />6/2/2024<br /><br /></p>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-22100519347083116572024-01-31T05:22:00.000-08:002024-01-31T05:22:10.057-08:00A dívida é o que faz o mundo girar<p> </p><div class="entry-header">
<h1 class="entry-title"><br /></h1>
</div>
<div class="entry-content">
<article>
<p>Michael Hudson e Radhika Desai – 13 de janeiro de 2024</p>
<pre class="wp-block-verse"><strong><em>50% dos americanos não possuem quaisquer bens, mas têm uma grande dívida.</em></strong></pre>
<p></p>
<p> RADHIKA DESAI: Olá e bem-vindo(a) à 21ª hora da economia
geopolítica, o programa que examina a economia política e geopolítica em
rápida mudança do nosso tempo. Bem-vindo(a) também a um novo ano que
promete ser nada além de difícil, então vamos ajudar a colocá-lo(a) na
direção certa. Eu sou Radhika Desai. </p>
<p>
MICHAEL HUDSON: E eu sou Michael Hudson.
</p>
<p>
RADHIKA DESAI: Há um velho ditado que diz que o dinheiro faz o mundo
girar. Como tantas outras verdades, o neoliberalismo também alterou isso
subtil mas decisivamente. Pode-se dizer que o ditado da era neoliberal é
“a dívida faz o mundo girar”. Na verdade, a dívida não está apenas
fazendo o mundo girar, mas também a fazê-lo girar loucamente. Tão
loucamente que a possibilidade de sair do controle está sempre presente.
Para onde quer que você olhe, há uma crise de dívida. Há uma crise da
dívida estudantil, a crise das hipotecas de 2008 nunca desapareceu, há a
crise do imobiliário comercial, há uma crise da dívida governamental e,
claro, há a crise da habitação. Quero dizer dívida de cartão de
crédito, dívida de automóveis, etc. Para manter o ciclo da dívida, a
Reserva Federal está até mudando a sua tolerância de uma década à
intolerância à inflação. Para o Federal Reserve, a inflação é aceitável
em 3,5%. De acordo com alguns relatos. Prefere tolerar uma inflação de
3,5% do que sacrificar os mercados de ativos que continuam a subir
graças aos quais continuaram a subir graças às baixas taxas de juro, e
não quer levar as taxas de juro para além de um certo nível. Aumentar as
taxas de juro neste momento significa tornar mais difícil para os
mercados de ativos subirem e permanecerem em alta, e é por isso que o
Federal Reserve vai cortar as taxas de juro, independentemente de ter
conseguido resolver o problema da inflação ou não.
</p>
<p>
Portanto, hoje, vamos continuar olhando mais de perto para mais de
quatro décadas de política neoliberal e como elas mudaram a nossa
economia, concentrando-nos no triângulo da dívida, do imobiliário e da
instabilidade financeira. Em suma, vamos falar sobre como, nestas
décadas, enquanto os rendimentos estagnaram, a dívida expandiu-se de tal
forma que as famílias, os governos e as empresas ficaram todos
endividados até às guelras. Hoje, um dos relatórios mostra que o próprio
serviço da dívida aumentou 50% e hoje representa quase um sexto da
despesa total do governo nos Estados Unidos. Como tanto o imobiliário
residencial como o comercial ficaram ligados ao vórtice da
financeirização é outra coisa sobre a qual queremos falar, porque não
são os produtores, mas sim os rentistas que beneficiam deste tipo de
economia, e até a renda está sendo convertida pela alquimia da
financeirização em juros. Portanto, no final das contas, até mesmo a
propriedade da terra e da casa própria não importa mais. O que importa é
quanto dinheiro você tem e como você pode ganhar dinheiro, ganhar mais
dinheiro.
</p>
<p>
Por isso, finalmente, vamos falar sobre como, embora tudo isto tenha
beneficiado o setor financeiro, dada a sua própria natureza, a expansão
do setor financeiro só pode conduzir à crise, e como a montanha de
dívidas hoje ameaça a estabilidade do o setor financeiro dos EUA e, por
sua vez, a economia dos EUA e, como Michael e eu discutimos tantas
vezes, o próprio sistema do dólar. Então, vamos começar a olhar para
este gráfico. Michael, este é um gráfico, deixe-me encontrá-lo, este é o
gráfico do endividamento total nos Estados Unidos.
</p>
<div class="wp-block-image">
<figure class="aligncenter"><img alt="" class="wp-image-23588 lazy loaded" data-sizes="(max-width: 1024px) 100vw, 1024px" data-src="http://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-1.jpeg" data-srcset="https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-1.jpeg 1024w, https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-1-300x169.jpeg 300w, https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-1-768x432.jpeg 768w" data-was-processed="true" decoding="async" height="576" sizes="(max-width: 1024px) 100vw, 1024px" src="http://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-1.jpeg" srcset="https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-1.jpeg 1024w, https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-1-300x169.jpeg 300w, https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-1-768x432.jpeg 768w" width="1024" /></figure></div>
<p>
Então você vê aqui, este é simplesmente o nível agregado de
endividamento. O tipo de parte azul na parte inferior é a dívida
empresarial, esta parte verde aqui é a dívida das famílias, esta parte
roxa aqui é a dívida federal e, no topo, você tem a dívida do governo
estadual e local que, claro, como as pessoas saberão, foi restrita por
meios constitucionais, por meios legais. Então o que temos aqui é a
dívida a partir da década de 1960, e podemos ver claramente que
realmente a dívida, a acumulação de dívida só começa a decolar na era
neoliberal a partir da década de 1980, e realmente começa a decolar por
volta da década dos anos 2000, quando, claro, o Federal Reserve dos
Estados Unidos experimentou pela primeira vez políticas de juros baixos
e, claro, que foram retomadas após a crise financeira de 2008.
</p>
<p>
MICHAEL HUDSON: Bem, você pode olhar para a varredura básica, que é
uma varredura ascendente, um crescimento exponencial. Qualquer dívida é
um tempo de duplicação, e há algo muito único nesse tipo de inclinação. A
economia não cresce assim, a economia cresce em ciclos econômicos, para
cima e para baixo. O que não se vê aqui é uma grande descida, e isso
acontece porque o crescimento da dívida continua a aumentar através dos
juros compostos. Os credores, os bancos, simplesmente reinvestem todos
os juros que obtêm na concessão de novos empréstimos, o que é
exponencial, e podem criar o seu próprio dinheiro simplesmente nos seus
próprios computadores.
</p>
<p>
Então, este gráfico realmente deveria ser justaposto a um dos ciclos
de negócios, então você verá que qualquer dívida que cresça rapidamente
excede a capacidade de ser paga, e essa é a característica distintiva da
dívida dos últimos 5.000 anos. A tendência natural da dívida é exceder a
capacidade de pagamento.
</p>
<div class="wp-block-image">
<figure class="aligncenter"><img alt="" class="wp-image-23589 lazy loaded" data-sizes="(max-width: 1024px) 100vw, 1024px" data-src="http://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-2.jpeg" data-srcset="https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-2.jpeg 1024w, https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-2-300x169.jpeg 300w, https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-2-768x432.jpeg 768w" data-was-processed="true" decoding="async" height="576" sizes="(max-width: 1024px) 100vw, 1024px" src="http://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-2.jpeg" srcset="https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-2.jpeg 1024w, https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-2-300x169.jpeg 300w, https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-2-768x432.jpeg 768w" width="1024" /></figure></div>
<p>
Agora, este gráfico mostra simplesmente a dívida do setor que a
possui, o setor das famílias, das empresas. O que não indica é para que
serve esta dívida. Para que é garantido? Bem, quase toda a dívida das
famílias é para imóveis, e o mesmo acontece com a dívida dos bancos
comerciais. 80% dos empréstimos bancários para esta dívida são
empréstimos imobiliários. E o gráfico azul da dívida pública realmente
não importa muito porque o governo simplesmente cria a dívida. E é uma
dívida que nunca espera ser paga. As famílias e as empresas têm de pagar
a dívida. É isso que está causando o problema. Ninguém nunca teve
problemas com dívidas. O governo não tem problemas em endividar-se
porque pode simplesmente imprimir o dinheiro para pagar. Mas indivíduos,
famílias e empresas têm que pagar. E quando não conseguem pagar, isso
prejudica os bancos, e os bancos vão à falência. E o objetivo do Federal
Reserve é garantir que esta dívida continue a crescer apesar de estar
sufocando a economia e conduzindo à depressão.
</p>
<p>
O papel do banco central é impor austeridade a todo o resto da
economia para nos fazer parecer um país do terceiro mundo no pagamento
da dívida, porque este é exatamente o mesmo tipo de varredura que temos
para os países do Sul global devido às suas dívida externa e para todos
os países do Ocidente. Portanto, todo o Ocidente, a Europa, os Estados
Unidos, têm um gráfico exatamente como este, e todos estão a abrandar, e
estão todos no que é chamado de deflação da dívida neste momento.
</p>
<p>
RADHIKA DESAI: Bem, você sabe, eu só gostaria de acrescentar mais
alguns pontos porque este gráfico é realmente mais interessante do que
pode parecer à primeira vista. É claro que há o movimento ascendente de
que fala, Michael, mas há também o fato de que se olharmos para o
período essencialmente entre cerca de 1950 e o final da década de 1970,
há um movimento ascendente, mas não é tão pronunciado. O que vemos agora
na era neoliberal depois de 1980, e particularmente depois de cerca de
2000, é quando vemos o aumento realmente exponencial da dívida. E penso
que isso, como digo, coincide com duas coisas muito importantes.
</p>
<p>
Em primeiro lugar, a revogação da Lei Glass-Steagall, o que
significava que esta era essencialmente uma permissão para o setor
financeiro dos EUA simplesmente entrar na competição mais acirrada entre
si, a fim de emprestar cada vez mais, especular cada vez mais, e assim a
esse respeito. Então é isso que você está olhando. E, claro, a outra
parte é a decisão histórica após o crash de 2000, o crash da bolha
pontocom, quando o Federal Reserve começou a experimentar taxas de juro
baixas. Então tivemos uma espécie de taxa de juro entre um e dois por
cento desde cerca de 2000 até cerca de 2004-5, quando, porque o dólar
estava sob muita pressão, o Federal Reserve foi forçado a começar a
aumentar as taxas de juro. E essa série gradual de aumentos das taxas de
juro foi, claro, o que acabou por rebentar a bolha imobiliária e de
crédito. Então, quero dizer, isso é uma coisa.
</p>
<p>
A segunda coisa também é a dívida do governo dos Estados Unidos. Você
sabe, em certo nível você pode dizer que, sim, claro, a dívida do
governo não precisa ser paga. Mas a questão é que não é que a dívida
pública não importe. No final das contas, mesmo quando o governo dos
EUA, ou mesmo quando o governo dos EUA toma muito dinheiro emprestado,
ele sofre. Porque hoje, o governo dos EUA tem de pagar muito mais
dinheiro em troca da sua dívida para obter empréstimos no mercado do que
antes. Assim, e mesmo na era de taxas de juro baixas, o governo dos EUA
pagou um prêmio mais elevado, taxas de juro mais elevadas sobre a sua
dívida do que, digamos, um país como a Alemanha, por exemplo.
</p>
<p>
Então, nesse sentido, penso que o que vemos aqui, particularmente
depois do aumento da dívida na era neoliberal, este aumento inicial aqui
que vemos até 2008, é basicamente criado essencialmente pela concessão
de reduções de impostos às pessoas ricas. Então isso expandiu o défice
federal, apesar de terem havido cortes na Segurança Social e assim por
diante. E hoje, uma grande parte da dívida dos EUA vai, na verdade, para
pagar taxas de juros, pagar juros sobre a dívida do governo dos EUA.
Então, nesse sentido, é importante.
</p>
<p>
E então, finalmente, é claro, a expansão da dívida das famílias, que,
novamente, você vê que aumenta, aumentou um pouco na década de 1980,
depois meio que desacelerou, mas depois você a vê aumentando
particularmente na década de 2000 com o setor imobiliário e bolha de
crédito. Depois desacelera novamente e, mais uma vez, aumenta. E este
aumento, claro, deve-se quase inteiramente às dificuldades em que se
encontram as famílias norte-americanas. Assim, por um lado, no topo do
endividamento, é claro, temos empréstimos para consumir mais, para
gastar mais de uma forma ou de outra, inclusive para especular mais nos
mercados de ações. Mas, por outro lado, você também tem muitos
empréstimos inadimplentes. Então é isso que estamos olhando.
</p>
<p>
E, finalmente, este aumento da dívida empresarial também se deve
essencialmente ao fato de o que tem acontecido nas últimas décadas é que
as empresas são compradas por outras empresas. E então o que estas
empresas fazem é sobrecarregar todos os negócios que compram com o
máximo de dívida possível, a fim de utilizarem essencialmente o dinheiro
para outros fins, incluindo dar grandes dividendos aos proprietários e
assim por diante. Mas é isso que você está vendo. Portanto, estamos
diante de um mundo altamente e altamente endividado.
</p>
<p>
MICHAEL HUDSON: Bem, também há vários pontos nesse gráfico. Depois de
2000, grande parte dessa dívida governamental era dívida de guerra,
dívida da Guerra do Iraque. De 1950 até cerca de 1980, quase todo o
crescimento da dívida pública foi proveniente de gastos militares no
exterior. E esta dívida não é apenas devida aos detentores dos Estados
Unidos e ao Federal Reserve, mas também ao governo estrangeiro. Então
isso não está incluído no gráfico, mas é grande parte do crescimento. O
interessante também é que vemos esta aceleração da dívida depois de
2008, e ainda assim esse foi o período da política de taxa de juro zero.
</p>
<p>
Quando ocorreu o colapso de Obama, afirmou o Federal Reserve, a única
coisa que temos de garantir é que as famílias suportam o peso desta
enorme fraude financeira, dos maus empréstimos e das hipotecas de alto
risco que ocorreram. Queremos salvar os bancos e sacrificar os
proprietários por isso. Queremos fazer com que o público pague aos
bancos para garantir que os proprietários percam as suas casas e percam
dinheiro. As empresas vão à falência, mas os bancos continuam a ficar
cada vez mais ricos com esta dívida, e esta dívida não será eliminada
pela falência. Vai crescer cada vez mais, assim como cresceu a dívida de
empréstimos estudantis. E você vê muita dívida comercial aumentando,
mas essa dívida comercial era quase sem juros, muito baixa.
</p>
<p>
O que o gráfico deveria estar correlacionado, se realmente tivéssemos
um grupo de gráficos, é que toda essa dívida foi gasta não na produção
de bens e serviços, não na construção de fábricas e meios de produção,
não no emprego de mão de obra, mas na compra de ações e títulos e
especulação. Tudo foi usado para comprar empresas e endividá-las. E,
portanto, esta dívida corporativa que está aumentando é o resultado de
fusões e aquisições, de ataques corporativos, de aquisições corporativas
e de tratar as empresas de uma forma que geraria dinheiro para os seus
acionistas e proprietários privados, mas não para a economia em geral.
</p>
<p>
Então, uma empresa ganharia dinheiro, suponha que você assumisse o
controle da Sears ou da Toys R Us, o capital privado que assumiria o
controle, eles pegariam o dinheiro emprestado, quase nenhum juro de um
banco, 100%, comprariam a Sears ou outra empresa. A primeira coisa que
fariam seria dizer, ok, agora que assumimos o controle da empresa,
poderia ser o Chicago Tribune, vamos pegar nos fundos de pensões que
estão investidos em ações e vamos contrair empréstimos contra isso.
Vamos deixar que os fundos de pensões emprestem dinheiro à empresa e
vamos pedir mais dinheiro emprestado aos bancos à empresa. E com o
dinheiro que pedirmos emprestado, pagaremos então um dividendo especial
para nós mesmos. Assim, o dinheiro vai dos bancos para os proprietários
sem ter qualquer efeito positivo, mas tendo um efeito muito negativo.
Isso deixa a empresa tão profundamente endividada que ela vai à
falência, como a Sears ou a Toys R Us ou todas as outras empresas que
basicamente foram à falência. E quando vão à falência, são vendidas para
empresas cada vez maiores. E assim esta dívida tem o efeito de
concentrar a propriedade dentro do setor.
</p>
<p>
E a dívida das famílias aumentou porque à medida que aumenta a
quantidade de dinheiro que os bancos emprestam para habitação, os bancos
têm competido. Quem pode emprestar mais dinheiro para casas para novas
famílias que desejam comprar uma casa? Bem, os bancos competem para
emprestar tanto dinheiro que, se formos uma família que compra uma casa,
temos de pedir mais dinheiro emprestado do que o nosso rival, que está
pedindo emprestado ao banco deles, e os bancos acabaram de criar uma
nova bolha imobiliária. E é nisso que estamos agora. Os preços dos
imóveis subiram tanto, o preço dos aluguéis é tão alto que um dos
subprodutos disso é o aumento do número de sem-teto. E com toda esta
dívida, de alguma forma as pessoas não têm dinheiro suficiente para
comprar bens e serviços, e os padrões de vida diminuíram. Estamos a
viver num plano de austeridade crescente no Terceiro Mundo, como
resultado deste aumento da dívida.
</p>
<p>
RADHIKA DESAI: Não, absolutamente. E você sabe, o que você diz me
lembra que já dissemos que uma das razões pelas quais as famílias
especialmente pobres contraem empréstimos é porque basicamente não
conseguem fazer face às despesas. Eles precisam pedir emprestado e,
portanto, estão se endividando.
</p>
<p>
Mas há outra razão, e esta é, vocês sabem, porque é que nas décadas
neoliberais houve uma explosão tão grande na dívida estudantil? É porque
os cortes governamentais deixaram de financiar as universidades na
mesma medida. Então as taxas sobem. E, claro, o custo de vida aumenta
para os estudantes porque é claro que você não pode alugar nada meio
decente, ou mesmo indecente, a menos que pague muito dinheiro. E assim
todas estas coisas aumentam o custo da educação, o que significa que os
estudantes têm de obter um empréstimo, e assim por diante.
</p>
<p>
Então, essencialmente, cortes nos serviços sociais, incluindo, aliás,
não falamos sobre dívida médica. Grande parte da dívida ocorre porque as
pessoas precisam pedir dinheiro emprestado se quiserem pagar por
determinados procedimentos médicos. Portanto, todas estas coisas apenas
mostram que, mais uma vez, sob o neoliberalismo, são as pessoas comuns,
os trabalhadores e os pobres que ficam realmente enganados.
</p>
<p>
Há outra maneira pela qual essas pessoas são enganadas. Quando você
tem uma competição alimentada por taxas de juros baixas para comprar
casas, normalmente a competição mais acirrada acontece na extremidade
inferior do mercado. Assim, o mercado de gama baixa, ou seja, o tipo de
casas que os compradores de primeira viagem irão comprar, tende a ver a
maior valorização dos preços como resultado da concorrência entre os
compradores de gama baixa. E é isso que prejudica tantas pessoas.
</p>
<p>
Mas uma última coisa que quero dizer é que esta expansão da dívida
também é interessante porque ocorreu exatamente naquela época em que o
governo, logo no início da década de 1980, se comprometeu a restringir a
oferta monetária, comprometeu o Federal Reserve a restringir a oferta
monetária para matar o dragão da inflação. Mas o que isso significa
essencialmente é ter uma economia em que as pessoas ganham menos
dinheiro mas incorrem em mais dívidas. E essencialmente a dívida
torna-se a forma como o dinheiro é emitido para a economia.
</p>
<p>
E, claro, o próprio Federal Reserve manteve uma política que remonta a
1987, em que nenhuma quantidade de criação de dinheiro é excessiva para
salvar o setor financeiro. Assim, a partir de 1987, quando houve o
crash de 1987, Greenspan envolveu-se pela primeira vez neste tipo de
provisão de liquidez para salvar o setor financeiro. Foi chamado de put
de Greenspan. Agora, ao longo dos anos, tornou-se uma opção de venda do
Federal Reserve. E o resultado é que acabamos de mostrar o gráfico do
endividamento. E de acordo com o Federal Reserve, a dívida total ou
dívida não financeira nos Estados Unidos está agora perto de três vezes o
PIB dos EUA. Duplicou desde 1980.
</p>
<p>
Há outro ponto que é realmente interessante. Estes gráficos, o gráfico
que mostramos, não incluem a vasta quantidade de dívida que o próprio
Federal Reserve criou para salvar o setor financeiro. E o topo do setor
empresarial, a partir de 2020, no qual o setor financeiro depende para
obter os seus melhores ativos.
</p>
<p>
Então, essencialmente, e isto foi muito surpreendente para mim, em
2008, um estudioso chamado James Falkerson, da sua universidade,
Michael, da UMKC, mostrou que o Federal Reserve não poderia lidar com a
crise de 2008 apenas desempenhando o seu papel normal de credor do
último resort, fornecendo ampla liquidez, reduzindo as taxas de juros,
etc. Cortou as taxas de juros naquela época de 5% para 0%. Mas isto não
funcionou para estabilizar o sistema e até o piorou. E depois, segundo
Falkerson, o Federal Reserve envolveu-se numa série de medidas não
convencionais, sem precedentes em termos de dimensão ou âmbito e de
legalidade questionável. São as palavras dele. E o objetivo destas era
melhorar explicitamente as condições de mercado. E esse programa,
segundo ele, totalizou 29 trilhões de dólares.
</p>
<p>
MICHAEL HUDSON: Você passou por isso muito rapidamente e quero mostrar
o quão revolucionário isso foi. Até à fundação do Federal Reserve até
2008, existia uma filosofia básica dos bancos centrais que remontava ao
Banco de Inglaterra e às regras que as pessoas discutiam nas décadas de
1880 e 1890. Na ideia de bancos centrais, você usa a palavra credor de
último recurso. Isso significa que todos perceberam que, por vezes,
quando havia uma recessão nos negócios ou uma mudança nas taxas de juro,
as pessoas teriam propriedades muito sólidas. Os edifícios não foram
destruídos quando se tornaram insolventes. As empresas não foram
destruídas. Mas o problema é que houve uma desaceleração temporária no
ciclo econômico. Portanto, os bancos devem apenas contrair empréstimos a
curto prazo e com elevadas taxas de penalização. Todos os bancos
centrais do mundo seguiram a política. Você não subsidia taxas de
crédito para bancos.
</p>
<p>
Desde 2008, os bancos assumiram o controlo do Tesouro dos EUA e do
Federal Reserve para obterem todo o dinheiro que desejam de graça. Na
verdade, eles são pagos para pedir emprestado. Depois de 2008, disse o
Fed, temos de tornar os banqueiros mais ricos. Apesar de estarem a pagar
a si próprios mais do que qualquer outro setor, não têm dinheiro
suficiente para continuar a emprestar. Daremos a eles todo o dinheiro
que quiserem. A forma como faremos isso é através dos bancos concederem
empréstimos a empresas para aquisições, concederem empréstimos para
imóveis comerciais. Eles transferirão esses IOUs para o Federal Reserve
em depósitos. O Federal Reserve lhes emprestará dinheiro em troca disso.
Os bancos colocaram todos os seus empréstimos inadimplentes e instáveis
no Federal Reserve. O Federal Reserve paga-lhes juros sobre estes
depósitos. Os bancos cobram juros não aos mutuários empresariais, mas o
Federal Reserve está criando os juros para pagar aos bancos para fazerem
este enorme aumento nos empréstimos. Você pode ver isso como um braço
do Chase Manhattan e do Citibank. Essencialmente, eles assumiram o
controle do Federal Reserve.
</p>
<p>
Esse é realmente o ideal libertário de uma economia planificada
centralmente, planeada pelos bancos. Quando os libertários dizem, vamos
tirar os governos do mercado, vamos fazer com que os governos [não]
tenham um défice, isso significa que se o governo não tiver um défice,
irá cortar impostos, irá cortar despesas. Isso significa que todo o
crédito de que as pessoas precisam, que a economia precisa, será
produzido pelos bancos.
</p>
<p>
O Fed disse: agora vamos realmente apertar os parafusos. Vamos deixar
os bancos ganharem 5% do dinheiro. De repente, este crescimento no azul,
a dívida pública que vocês viram, vai disparar. As taxas de juros
representarão uma proporção tão grande dos gastos do governo de que já
falam que teremos de cortar a Segurança Social e o Medicare. É o que diz
Haley, a candidata republicana. Os republicanos querem dizer que, se
houver uma escolha entre pagar a Segurança Social e o Medicare ou pagar
juros aos bancos e aos detentores de títulos, os detentores de títulos
vêm em primeiro lugar porque são os nossos contribuintes de campanha.
Você não consegue contribuidores de campanha de pessoas que estão
falidas porque não têm o dinheiro que os bancos têm. Claro, vamos
resgatar nossos contribuidores de campanha. O próprio governo foi
privatizado. Isso é o que é o neoliberalismo. Isso é o que é o
libertarianismo antigovernamental. Significa liberdade para os bancos e
sistema de dívida para a população em geral. É isso que esses gráficos
sugerem.
</p>
<p>
RADHIKA DESAI: Absolutamente. Eu diria apenas uma coisa. É claro que a
maioria das pessoas saberá isto, mas caso não o saibam, o Federal
Reserve é peculiar entre os bancos centrais do mundo por ainda ser
propriedade privada. Nesse sentido, acho que o que o Michael diz é muito
relevante. Essencialmente, o que o Federal Reserve tem feito é, ao
longo das últimas décadas, transformar a economia dos EUA numa economia
em que a principal forma, a melhor forma, a forma mais rápida de ganhar
dinheiro é essencialmente especulando, e não investindo no produção de
bens e serviços de que as pessoas comuns necessitam, mas inflacionando o
valor dos bens e serviços já produzidos.
</p>
<p>
Aqueles de vocês que conhecem um pouco de marxismo podem apreciar
isso, mas se Marx estivesse por perto, ele teria chamado isso de uma
forma muito peculiar de necromancia. O que quero dizer com isso? Porque
os bens e serviços já produzidos contêm o trabalho morto que
desapareceu, agora está morto, já não está vivo, foi utilizado para
produzi-lo e você está a inflacionar o valor disso. Ao passo que, ao
fazer isso, estamos a desvalorizar o trabalho vivo, grande parte do qual
pode permanecer desempregado, e todo o qual é necessário para produzir
os novos bens e serviços de que todos os anos, em todos os períodos, as
pessoas comuns necessitam. Precisamos de mais comida, precisamos de mais
roupas, precisamos de mais transporte, precisamos de mais moradia,
etc., etc. E são essas coisas que estão estranguladas. O trabalho vivo é
estrangulado enquanto o trabalho morto aumenta. Porque há algo muito
peculiar.
</p>
<p>
Lembre-se, como Michael salientou, e como eu salientei, grande parte
desta dívida foi contraída. Na verdade, a maior parte foi incorrida para
especular, para inflacionar o valor de ativos já existentes. E tem algo
muito peculiar nisso, porque imagine uma casa que sobe de preço 30%,
40%, 50%. Nada nela pode ter mudado, mas seu preço aumenta de qualquer
maneira. Nada é produzido, mas aumenta de preço. Então, este é o tipo de
economia que foi criada.
</p>
<p>
E também quero mostrar-lhes outro resultado, apenas o meu último ponto
desta vez, mas outro resultado deste vasto aumento, deste vasto
programa do governo federal para resgatar as instituições financeiras.
Então, vejam aqui, este é um gráfico dos ativos totais no balanço do
Federal Reserve. E vejam aqui, até a década de 2000, estava basicamente
oscilando em pouco menos de um trilhão de dólares. Na crise financeira
de 2008, duplicou, um pouco mais do que duplicou, para mais de dois
biliões de dólares. Depois, ao longo da década que se seguiu, graças à
flexibilização quantitativa, em que o governo federal iniciou
essencialmente um programa para comprar os ativos sem valor das
instituições financeiras por um bom dinheiro. Isto foi uma
flexibilização quantitativa, e assim foi aumentando, aumentando o seu
próprio balanço, ao mesmo tempo que essencialmente reparava os balanços
danificados das mesmas instituições financeiras que causaram a crise
financeira de 2008. E então estava começando a reduzir seu balanço
quando chegou 2020, veio a pandemia, e então você vê que viu um aumento
absolutamente sem precedentes para US$ 9 trilhões em ativos no governo
federal. E isto é o resultado do esforço no valor de 29 biliões de
dólares que o Federal Reserve fez para resgatar o setor financeiro.
</p>
<p>
Então, por favor, Michael, vá em frente. Sim.
</p>
<p>
MICHAEL HUDSON: Quando você usa a [frase] “ativos sem valor”, eles não
seriam exatamente inúteis se você pudesse obter 100% do Federal
Reserve. A palavra que foi usada por Marx e por quase todos no século
XIX e hoje foi “capital fictício”. Ou seja, todas essas dívidas e ativos
bancários foram contabilizados como ativo. Se um banco concede um
empréstimo a uma grande empresa proprietária de um prédio comercial, o
banco tem isso como um ativo. Mas, como vemos hoje, estes preços de
ativos não podem ser concretizados. Em outras palavras, e se o banco
dissesse: ok, agora sua hipoteca está vencendo porque é uma hipoteca
balão, você tem que pagar isso. A cada poucos anos, você terá que pagar o
valor total ou emprestá-lo novamente. Bem, de repente, se foram
emprestados 100 milhões de dólares a um edifício de escritórios, e o
edifício de escritórios vale agora 40 milhões de dólares, porque é que
um banco emprestaria 100 milhões de dólares ao proprietário de um
edifício de escritórios de 40 milhões de dólares? Essa é a situação em
que estamos hoje.
</p>
<div class="wp-block-image">
<figure class="aligncenter"><img alt="" class="wp-image-23590 lazy loaded" data-sizes="(max-width: 1024px) 100vw, 1024px" data-src="http://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-3.jpeg" data-srcset="https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-3.jpeg 1024w, https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-3-300x169.jpeg 300w, https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-3-768x432.jpeg 768w" data-was-processed="true" decoding="async" height="576" sizes="(max-width: 1024px) 100vw, 1024px" src="http://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-3.jpeg" srcset="https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-3.jpeg 1024w, https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-3-300x169.jpeg 300w, https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-3-768x432.jpeg 768w" width="1024" /></figure></div>
<p>
Agora, olhe para esses dois saltos. O primeiro salto que você tem
depois de 2008 é o salto das hipotecas lixo. Todos estes empréstimos
foram contra hipotecas fictícias, hipotecas que fingiam que havia valor
ali, mas havia hipotecas principalmente a mutuários negros e hispânicos
por bancos que os enganaram, que sobreavaliaram os preços. Os bancos em
geral descobriram uma nova forma de ganhar dinheiro depois de cerca de
2004. Eles podiam ganhar dinheiro cobrando às minorias raciais taxas
muito mais elevadas, quase o dobro das taxas que cobravam aos brancos.
Havia bancos e corretores inteiros especializados nisso, e esse era
basicamente o grupo de hipotecas de alto risco. Em todo o país, o
Financeiro foi o beneficiário mais óbvio disto.
</p>
<p>
Vários bancos notórios acabaram sendo fundidos. O Bank of America era
um dos bancos corruptos. O Citibank era um dos bancos mais corruptos,
como está muito bem documentado. Randal Wray, do Levy Institute e de
Kansas City, publicou uma grande explicação sobre para quem eram esses
US$ 29 trilhões e US$ 27 trilhões em empréstimos. Acabou que muitos
destes empréstimos foram prorrogados e reemprestados, pelo que o
montante líquido não foi de 27 biliões de dólares, mas foi esse o valor
que foi dado aos bancos com este enorme salto. Em vez de mandarem os
banqueiros para a prisão, tornaram-nos bilionários. Eles os
recompensaram. Essa foi a política de Obama, e é isso que faz dele um
dos presidentes mais cruelmente racistas da história americana moderna. O
Partido Democrata comprometeu-se a regressar às suas políticas racistas
anteriores à Guerra Civil.
</p>
<p>
Bem, o próximo grupo é o de 2020-21, esse enorme salto nos empréstimos
bancários. De onde eles eram? O Federal Reserve começou a aumentar as
taxas de juros. Quando o Federal Reserve aumenta as taxas de juro de
menos de 1% para 5%, isso significa que, de repente, os devedores
tiveram de pagar 10 vezes mais juros do que pagavam antes. O que isso
fez foi reduzir o preço de um ativo. É uma proporção inversa da taxa de
juros. De repente, as ações e os títulos detidos pelos bancos que
faliram tornaram-se fictícios. Na verdade, embora o Silicon Valley Bank e
o New York Bank tenham falido, todos os bancos, especialmente o
Citibank e o Chase Manhattan, tinham todos os empréstimos que tinham. De
repente, eles não valiam nem perto do que carregavam nos livros. Os
bancos estavam insolventes.
</p>
<p>
Agora, aqui estava uma oportunidade maravilhosa. O Federal Reserve
poderia tê-los assumido pelo governo e dito: você está insolvente. Vamos
eliminar os acionistas e os detentores de títulos porque vocês fizeram
empréstimos inadimplentes. Em vez disso, o Federal Reserve disse: bem,
em vez de tornar os bancos insolventes, vamos tornar a economia
insolvente. Essa é a política que adotamos hoje. Este aumento nos
empréstimos do Federal Reserve tem servido para apoiar este aumento do
crédito que está a aumentar a carga. Todo este aumento no crédito está
muito à frente dos salários e ordenados que as pessoas estão a receber.
De alguma forma, todo este aumento nos encargos com juros, amortizações e
multas acaba empobrecendo a economia, deixando menos para gastar em
alimentação, vestuário e outras despesas de consumo. Se os gastos do
consumidor estão aumentando, é por causa da inflação.
</p>
<p>
RADHIKA DESAI: Uma pequena correção. Este grande aumento, é claro, foi
aumentado porque o Federal Reserve iniciou um novo e massivo programa
de provisão de liquidez, um programa de flexibilização quantitativa,
quando a pandemia atingiu. E aquele de que você está falando, onde
essencialmente eles estavam resgatando o Banco do Vale do Silício, etc.,
este é o pequeno aumento aqui, que foi o que aconteceu depois que as
taxas de juros começaram a subir. Mas durante todo este período, até
aqui, as taxas de juro permaneceram em mínimos históricos.
</p>
<p>
E só mais uma coisa que eu queria dizer sobre isso antes de
encerrarmos esta conversa, que é que, você sabe, por volta de 2013, mais
ou menos aqui, essencialmente, o Federal Reserve decidiu que iria
tentar diminuir o tamanho do seu balanço patrimonial . Então você pode
ver, você sabe, ainda eram apenas cerca de três trilhões e meio, não os
nove trilhões que são hoje. Mas você sabe o que as instituições
financeiras e o setor financeiro fizeram? O setor financeiro da altura,
em 2013, teve um “ataque de raiva”. O Federal Reserve estava a ameaçar
reduzir os seus balanços, essencialmente, para os diminuir. E eles
disseram, não vamos aceitar. Você tem que continuar nos apoiando e
comprar nossos ativos. E assim, essencialmente, o Federal Reserve
agradou-lhes o seu acesso de raiva e eles continuaram a expandir o
balanço. E então, como vimos na pandemia, fizemos ainda mais, etc.
</p>
<p>
E a outra coisa que eu só queria salientar, é claro, é que, você sabe,
eu concordo completamente com tudo o que Michael disse sobre o quão
racista é o sistema, porque no final das contas, você sabe, as pessoas
pensam que a dívida é uma relação de mercado. A dívida não é uma relação
de mercado. É uma relação entre, em geral, pessoas relativamente
privilegiadas, uma das quais decide emprestar dinheiro à outra.
Portanto, a ideia de que, de alguma forma, ao aprovar uma peça
legislativa, se pode transformar os pobres dos Estados Unidos, os negros
dos Estados Unidos, o povo hispânico dos Estados Unidos em
proprietários de casas, sempre foi um pouco problemática.
</p>
<p>
E no final, toda a crise financeira de 2008, a vasta acumulação de
dívida que a precedeu, apenas uma pequena fração, que aconteceu mesmo no
final desse vasto aumento, foi na verdade empréstimos a mutuários
subprime. As instituições financeiras só começaram a emprestar aos
mutuários subprime depois de terem enchido os mutuários principais até
às guelras com toda a dívida que podiam assumir, e só então se mudaram. E
assim, em muitos aspectos, os mutuários subprime ficaram em último
lugar e foram também, claro, os que mais sofreram. Então, sim, quero
dizer, acho que estamos realmente vivendo em uma economia inundada de
dívidas, como estávamos dizendo, e é realmente o oposto do tipo de
economia que deveríamos ter.
</p>
<p>
E Michael, você sabe, uma das coisas sobre todas as concepções
clássicas de terra, renda e juros e assim por diante é, claro, que a
economia política clássica sempre menosprezou coisas assim, como juros e
renda, porque via isso como renda não obtida, não é?
</p>
<p>
MICHAEL HUDSON: Bem, eu poderia dedicar uma hora inteira para isso,
mas quero continuar com alguns gráficos sobre o elemento racial disso.
Já falamos sobre como o volume da dívida é muito grande para ser pago,
mas quero dizer que há outro aspecto da dívida, e se você pudesse
mostrar o racial, isso mesmo, esse gráfico é muito interessante.
</p>
<p>
Um dos resultados da dívida é a criação de uma economia bifurcada, e
isso significa que estamos numa espécie de economia do apartheid.
Estamos em uma economia de apartheid financeiro. 10% da população possui
mais de 75% das ações e títulos da população, e é quase inteiramente
uma população branca. Já falamos sobre a dívida hipotecária representar
80% do peso total da dívida. Quero mostrar o que aconteceu muito antes
do início do gráfico em 2002.
</p>
<p>
Quero começar em 1945, no final da Segunda Guerra Mundial. Isso foi
realmente quando as casas não foram construídas durante a Depressão
porque, gente, não havia mercado para elas. Não foram construídas
durante a Segunda Guerra Mundial porque todas as matérias-primas iam
para o esforço de guerra, e a dívida de toda a economia era muito, muito
baixa em 1945 porque não havia nada para pedir dinheiro emprestado. Não
se podia pedir dinheiro emprestado para consumir porque, de qualquer
forma, tudo era racionado.
</p>
<p>
Mas finalmente começaram a conceder empréstimos, o que impulsionou a
decolagem americana e de outros países. Todos os países da Europa, da
América e de outros lugares estavam em reconstrução após a guerra, e a
maior parte desta reconstrução foi a reconstrução para habitação. Foi
quando a grande habitação estava acontecendo. Aqui no Queens, você teve
grandes desenvolvedores, não apenas o pai de Trump, mas todos os famosos
experimentos e habitações coletivas foram feitos.
</p>
<div class="wp-block-image">
<figure class="aligncenter"><img alt="" class="wp-image-23591 lazy loaded" data-sizes="(max-width: 1024px) 100vw, 1024px" data-src="http://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-4.jpeg" data-srcset="https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-4.jpeg 1024w, https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-4-300x169.jpeg 300w, https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-4-768x432.jpeg 768w" data-was-processed="true" decoding="async" height="576" sizes="(max-width: 1024px) 100vw, 1024px" src="http://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-4.jpeg" srcset="https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-4.jpeg 1024w, https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-4-300x169.jpeg 300w, https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-4-768x432.jpeg 768w" width="1024" /></figure></div>
<p>
Só havia uma coisa. Os brancos conseguiram comprar casas por talvez
US$ 10.000, era o preço típico de uma casa que agora custa um milhão de
dólares. O problema é que os bancos apenas, para comprar uma casa,
teriam de contrair uma hipoteca. Ninguém tem dinheiro suficiente para
comprar o valor total de uma casa, e se os salários fossem talvez de
3.000 ou 4.000 dólares por ano em 1945, não seria possível comprar uma
casa de 10.000 dólares. Ninguém teve isso. Você teve que ir aos bancos.
Os bancos, até cerca de 2000, 2001, só concediam empréstimos
hipotecários quase inteiramente a pessoas brancas, a menos que você
fosse um negro muito, muito rico ou um hispânico.
</p>
<p>
O que você criou foi uma sociedade bifurcada. As pessoas que compraram
as casas em 1945 – regressaram da guerra. Eles aceitaram empregos
civis. Compraram uma casa e muitos morreram de velhice, mas deixaram as
casas para os filhos. E houve uma geração após outra geração de brancos
deixando a casa para os filhos, deixando-lhes herança suficiente para
terem uma casa própria e uma educação própria. Então o que havia era uma
classe branca educada e dona de casa, mas isso não estava disponível
para os não-brancos neste país. Então, qual é a profundidade da
restrição do crédito aos principais seres humanos, e não aos tomadores
de empréstimos não preparados? Estamos falando de uma política bastante
racista. Foi muito responsável pelo fato de que agora você tem 75 anos –
bem, mais do que isso, 75 anos desde a Segunda Guerra Mundial – você
tem uma classe desprivilegiada e não-branca nos Estados Unidos de
proprietários hereditários que podem entrar na faculdade porque seus
pais e avós estudaram em uma universidade da Ivy League. E há um
monopólio da habitação, da educação e da riqueza no topo da pirâmide
econômica, e o resto da economia está essencialmente privado de
direitos, como se estivéssemos na nossa própria economia de apartheid
financeirizada.
</p>
<div class="wp-block-image">
<figure class="aligncenter"><img alt="" class="wp-image-23592 lazy loaded" data-sizes="(max-width: 1024px) 100vw, 1024px" data-src="http://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-5.jpeg" data-srcset="https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-5.jpeg 1024w, https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-5-300x169.jpeg 300w, https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-5-768x432.jpeg 768w" data-was-processed="true" decoding="async" height="576" sizes="(max-width: 1024px) 100vw, 1024px" src="http://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-5.jpeg" srcset="https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-5.jpeg 1024w, https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-5-300x169.jpeg 300w, https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/word-image-23587-5-768x432.jpeg 768w" width="1024" /></figure></div>
<p>
RADHIKA DESAI: Sim, e há alguns outros pontos. A propósito, neste
gráfico, devo apenas explicar que a linha superior aqui mostra
essencialmente as taxas de propriedade de casa própria, ou seja, cerca
de 75%, dos brancos não-hispânicos nos Estados Unidos. A linha vermelha,
que está aqui embaixo, é apenas dos negros nos Estados Unidos, e a
linha verde é dos hispânicos de qualquer raça nos Estados Unidos. Então
isso provavelmente inclui, por exemplo, se você fosse um hispânico
relativamente branco, e eles se saíssem um pouco melhor. Mas podemos ver
que a taxa de propriedade dos negros desde o início dos anos 2000 até
hoje realmente não mudou. Na verdade, está um pouco pior hoje do que
costumava ser naquela época, e tornou-se consideravelmente pior pouco
antes da pandemia, atingindo um nível muito baixo, de cerca de 40%, na
verdade. De qualquer forma, é isso.
</p>
<p>
Mas, além destas coisas, o tipo de economia financeirizada em que
vivemos, cada vez mais proprietários de casas e terrenos, etc., não
necessariamente, por causa das hipotecas, a propriedade de terrenos ou
casas não confere necessariamente a você qualquer privilégio, porque os
proprietários descobrem que estão a pagar juros aos bancos, e mesmo os
proprietários normalmente estão altamente alavancados, de modo que a
maior parte do que estão a cobrar em rendas acaba na verdade como juros
para os bancos. Portanto, num certo sentido, o que estamos a tentar
dizer é que o Federal Reserve concebeu uma economia na qual não só os
lucros e os salários se tornaram essencialmente dependentes do pagamento
de juros, são usados para pagar juros, mas também a renda. Portanto,
esses juros tornaram-se a principal forma de rendimento, no topo da
pirâmide de rendimentos, por assim dizer.
</p>
<p>
E isso é resultado também de mudanças na estrutura tributária. Assim,
por exemplo, no sistema fiscal dos EUA, os rendimentos provenientes de
juros e rendas são tratados de forma muito mais branda, muito mais
favorável do que os nossos rendimentos do trabalho. Este é um problema
enorme.
</p>
<p>
MICHAEL HUDSON: Isso remonta à teoria do valor que acho que requer uma
discussão totalmente separada, porque é muito fundamental. Toda a ideia
da economia clássica e do mercado livre era um mercado livre de rendas,
sendo a renda rendimento não ganho. O aluguel é o que os proprietários
ganham enquanto dormem. A renda não é criada pelo trabalho, e a maioria
das pessoas não percebe o que é chamado de teoria do valor-trabalho, que
se baseia em Ricardo e Marx e em todo o século XIX. A ideia era separar
o valor, que é criado pelo trabalho, da renda econômica, que é criada
pela herança, pelo privilégio, pela propriedade, pelo proprietário,
pelos bancos, e pelos monopolistas, e pelos proprietários que ganham o
seu dinheiro, a renda econômica, por possuir um imóvel alugado, ou por
emprestar dinheiro e ganhar juros, ou por ter uma empresa, um monopólio.
E você apenas aumenta os preços, e grande parte da inflação, como
Radhika mencionou no início da palestra, eles chamam de inflação de
lucros, ou seja, uma empresa simplesmente decide, vamos aumentar o preço
dos medicamentos.
</p>
<p>
Por exemplo, minha esposa tem um empregador, o plano United
Healthcare. O preço que ela tem que pagar, as farmácias locais
quintuplicaram no dia 1º de janeiro, porque a seguradora de saúde disse,
podemos ganhar dinheiro quintuplicando o preço. As empresas
farmacêuticas têm aumentado os preços de forma generalizada, não porque
produzam mais, não porque os seus custos tenham subido, o que seria, em
última análise, o custo seria um custo de produção, mão-de-obra e
materiais, mas simplesmente porque nos tornamos um monopólio. E o
Partido Democrata sempre foi o grande protetor dos monopólios, porque
são contribuintes de campanha. E se olharmos para quem dirige os comitês
de saúde e os outros no Congresso, comités relacionados no Congresso,
os seus contribuidores de campanha vêm da indústria farmacêutica.
Portanto, temos os governos que representam os seus contribuintes de
campanha, os departamentos militares e estaduais no Senado e na Câmara
são subsidiados e pagos pelo complexo industrial militar, os
departamentos de saúde das empresas farmacêuticas, e assim por diante.
</p>
<p>
Portanto, somos parte do problema que fez da América uma economia
falida. E é uma economia falida devido à austeridade que este apartheid
da dívida criou.
</p>
<p>
RADHIKA DESAI: E provavelmente em breve deveremos passar a falar sobre
soluções. Mas deixem-me apenas acrescentar um pequeno ponto ao que
estavam a dizer, que é que, claro, se olharem para a economia dos EUA
hoje, verão que durante o período neoliberal, o que aconteceu é que ela
se tornou dominada, de claro, pelo setor financeiro, o chamado sector
FIRE, finanças, seguros e imobiliário. E, além disso, se olharmos para
quais são os outros setores da economia dos EUA, que são realmente
importantes e lucrativos, veremos que são o complexo industrial militar,
são a grande indústria farmacêutica e são os da informação e das
comunicações e tecnologia.
</p>
<p>
E em praticamente todos estes casos, estes sectores são caracterizados
por um elevado grau de monopólio, um elevado grau de procura de renda,
no sentido de que um complexo industrial militar, por exemplo, depende
essencialmente de vastos contratos governamentais, que são arriscados,
no qual eles podem aumentar os custos tanto quanto quiserem. E as
grandes empresas farmacêuticas e as tecnologias de informação e
comunicação dependem dos direitos de propriedade intelectual para
garantir o seu monopólio.
</p>
<p>
Portanto, de todas estas formas, isto criou uma economia que é muito
pouco dinâmica, não é muito eficiente, mas, ao mesmo tempo, é muito
lucrativa para aqueles que a possuem, o que, claro, coloca um fardo
adicional sobre os americanos comuns.
</p>
<p>
MICHAEL HUDSON: Bem, um dos problemas de não ser dinâmico é que
estamos tendo um declínio no espaço de escritórios e no setor
imobiliário comercial. Temos conversado sobre as taxas de aquisição de
casa própria e como isso é injusto, mas você se lembra que em 2008,
quando houve a queda dos preços dos imóveis, você tinha o que era
chamado de “jingle mail”. Você teria compradores, especialmente em
Nevada e na Flórida, onde houve um grande aumento nos preços das
moradias, eles diriam, ok, devo US$ 500.000 por esta casa, mas agora a
casa como esta ao lado está sendo vendida por US$ 300.000. Vou apenas
devolver as chaves para o banco e dizer, ok, estou inadimplente, você
pode ficar com a casa, só não vou pagar, vou fazer um novo empréstimo e
comprar a casa próxima.
</p>
<p>
Bem, esse fenômeno está acontecendo agora para as empresas.
Aparentemente [apenas] 40% das propriedades comerciais dos EUA estão
ocupadas. Por outras palavras, desde a COVID, e acima de tudo, desde que
a economia começou a encolher como resultado desta deflação da dívida,
as empresas têm saído do mercado. Mesmo quem está no mercado, tem gente
trabalhando em casa. Agora, se você tem a taxa média de ocupação dos
prédios de apenas 40%, como é que o proprietário vai ter dinheiro para
pagar o banco?
</p>
<p>
Pois bem, porque os bancos emprestaram quase 100% do valor do prédio
ao proprietário que está disposto a pagar todas as rendas a título de
juros, a renda é para pagar juros, esse é o lema básico. O que eles
querem é o ganho de capital no preço do prédio. Eles percebem que não
serão um ganho de capital. Tudo isso era capital fictício, está caindo,
estamos enviando nossas chaves de volta ao banco e estamos saindo do
prédio.
</p>
<p>
Este ano e no próximo, há tantos biliões de dólares em imóveis
comerciais a vencer, não só aqui, mas na Inglaterra e noutros países,
que os bancos vão, de repente, ficar com hipotecas por pagar. Contra
estas hipotecas, eles têm responsabilidades para com os seus
depositantes, para com os detentores de títulos e, acima de tudo, querem
pagar milhões de dólares ao, penso que Jamie, o chefe do Chase
Manhattan, recebe 29 milhões de dólares por ano por gerir uma empresa
que faliu e é mantido vivo porque dá parte desses 29 milhões de dólares
aos políticos que continuam a nomear pessoas do Federal Reserve que irão
salvá-los. Isso é o que você chama de fluxo circular.
</p>
<p>
O que você vai fazer quando, de repente, os bancos estiverem falindo?
Bem, normalmente, se eles fizeram um empréstimo inadimplente, alguém tem
que sofrer. Quem vai sofrer? Tal como Bill Clinton disse quando lhe
disseram que é preciso fazer o que Alan Greenspan diz e apoiar os
bancos, Clinton disse: ah, é tudo uma questão de detentores de
obrigações. Em 2009, quando Obama chegou e decidiu resgatar os bancos,
Sheila Baer, chefe da Corporação Federal de Seguros de Depósitos,
disse: espere um minuto, temos um banco corrupto e incompetente. Há um
banco na América que é mais corrupto do que todos os outros e mais
incompetente. Esse é o Primeiro Banco Nacional da Cidade. Vamos assumir
isso. Vamos torná-lo um banco público. Não se pode deixar que este banco
destrua toda a economia sendo tão ganancioso que concede empréstimos
muito superiores ao valor da propriedade e continua à espera de ser
socorrido para poder ganhar mais juros e pagar mais aos seus
funcionários. Vamos afundar. E Obama e o seu secretário do Tesouro, Tim
[Geithner], disseram que tudo gira em torno dos detentores de obrigações
que possuem o banco.
</p>
<p>
Portanto, a questão é: o que farão os bancos quando todos estes
empréstimos hipotecários falirem? Bem, acabe com os acionistas. Mas os
detentores de títulos são o 1% mais rico da população. São eles que
possuem a maior parte dos títulos bancários. Quem você acha que o
governo vai apoiar? Irá apoiar a economia, os acionistas ou o 1%? É
realmente assim que se deve pensar numa economia como uma economia de
apartheid, não apenas étnica e racialmente, mas financeiramente. Esse é o
verdadeiro apartheid entre credores e devedores que penso que todos os
nossos programas examinam de diferentes perspectivas.
</p>
<p>
RADHIKA DESAI: Bem, gostaria apenas de acrescentar alguns pontos ao
que você estava dizendo, Michael. Isto é muito interessante porque se
olharmos para o imobiliário comercial, não há dúvida de que nos últimos
meses tem havido manchetes sobre como há um colapso nos preços dos
imóveis comerciais. Está chegando. Na verdade, isso já está acontecendo.
Como diz Michael, a queda no valor dos imóveis comerciais já está em
curso pelo que lemos na imprensa financeira. Os edifícios de prestígio
realmente grandes podem não ser afetados, mas na próxima camada e
abaixo, todos esses edifícios serão afetados. Qualquer pessoa que tenha
andado por uma grande cidade na América do Norte ou em qualquer outro
lugar da Europa verá que o espaço comercial está essencialmente a
diminuir. Muitos estão fechados com tábuas. Muitos estão vazios e assim
por diante.
</p>
<p>
E de acordo com uma medida, cerca de 10% dos activos bancários dos EUA
dependem, na verdade, do valor dos imóveis comerciais. Agora, Michael
pergunta, você sabe, quando a crise chegar, bem, a crise já está aqui.
Então, quem o Federal Reserve vai ajudar? Mas quer saber, eu nem tenho
certeza. E o governo dos EUA, quem eles vão ajudar? Quem as autoridades
dos EUA vão ajudar? Nem sequer tenho a certeza se conseguirão ajudá-los,
porque o fato é que, à medida que o valor destes ativos diminui, os
bancos já têm de reportá-los se estiverem cotados publicamente numa base
contínua, o que significa que as suas ações já vai cair. E não há
dúvida de que um crash virá. E quando chegar, sim, o Federal Reserve irá
mais uma vez, como vocês viram com o Banco do Vale do Silício,
essencialmente, na verdade, havia outro ponto que eu queria destacar.
Essencialmente, a Sra. Yellen deu um passo à frente e disse: vamos
garantir a todos os depositantes, mesmo que os seus depósitos sejam
superiores a 250.000 dólares.
</p>
<p>
Agora, você pode pensar que isso é, de alguma forma, uma coisa muito
democrática. Mas, pelo contrário, se olharmos para o tipo de banco que o
Silicon Valley Bank era, essencialmente, era como um clube no qual um
seleto grupo de pessoas ricas, todas ligadas entre si, emprestavam-se
mutuamente grandes quantidades de dinheiro.
</p>
<p>
Agora, o que significa empréstimo? Significa que vou até meu amigo e,
você sabe, o Banco do Vale do Silício e digo, você sabe, por favor, me
dê US$ 5 milhões. Vou ter uma startup. Você nem mesmo analisa se vale a
pena apoiar minha startup. Basta dizer, ok, vou te dar, vou mostrar um
depósito de US$ 5 milhões em sua conta. Estes são os depósitos que a
Sra. Yellen estava protegendo.
</p>
<p>
Este nem é o dinheiro que depositaram no banco. Este é o dinheiro que
está depositado em meu nome porque me foi emprestado. Portanto, se
pensarmos em quão enorme é o desperdício que protege os interesses da
pequena minoria dos muito ricos, espero que neste programa lhe tenhamos
dado uma ideia de até que ponto as autoridades dos EUA se esforçaram
para proteger os riqueza desta minoria. E no nosso próximo programa,
talvez o que façamos seja dedicá-lo inteiramente a falar sobre o que
precisa de acontecer se quisermos afastar-nos deste tipo de economia.
</p>
<p>
MICHAEL HUDSON: Essa é uma boa maneira de terminar. Há tanta coisa
para onde isso está levando. E a última coisa que o Federal Reserve
pretende é: e se os bancos reportassem o valor real de mercado dos seus
ativos? Quando você tem um balanço patrimonial, ativos e passivos, eles
mantêm os ativos pelo preço pelo qual fizeram o empréstimo, digamos, US$
100 milhões por um edifício. Mas e se eles declarassem que os seus
ativos eram de apenas 40 milhões de dólares para o edifício? Você teria
ativos bancários aqui e passivos aqui. Eles seriam parecidos com a
maioria das pessoas na América. 50% dos americanos não possuem quaisquer
bens, mas têm uma grande dívida. Esse é um gráfico de barras
interessante para mostrar ativos e passivos. E você pode analisar por
grupo de renda.
</p>
<p>
O Federal Reserve não produz estatísticas credíveis sobre a dívida
como proporção do rendimento. Se olharmos para as estatísticas do
Federal Reserve sobre a dívida em relação ao rendimento por percentil,
10%, 20%, nada mudou nos últimos 50 anos. Ninguém está endividado.
Porque dizem, vamos supor que a dívida seja constante durante o último
meio século. As estatísticas são fictícias. E são fictícios porque isso
protege o fato de que a maior parte disto, o que é considerado capital
bancário, é fictício. Quero dizer, estamos em uma economia fictícia. É
como tentar ler sobre assuntos internacionais no New York Times. Isto é
tão realista quanto as estatísticas do Federal Reserve.
</p>
<p>
RADHIKA DESAI: Exatamente. Quero dizer, é basicamente que as pessoas
ricas dos Estados Unidos e as grandes instituições financeiras dos EUA
estão numa situação em que, você sabe, fazem um mau investimento, têm
prejuízo e dizem, opa. E então o Federal Reserve, que é o seu sugar
daddy, vem essencialmente e compensa todas as suas perdas. Dá-lhes mais
dinheiro para tapar os buracos nos seus balanços que eles próprios
criaram devido à sua própria ganância, julgamento equivocado e mau
julgamento. Então só temos isso. É com este tipo de economia que,
infelizmente, os Estados Unidos estão hoje sobrecarregados. E então
surge naturalmente a questão: que tipo de economia os americanos
precisam em seu lugar?
</p>
<p>
MICHAEL HUDSON: Quero acrescentar um ponto. O importante é que essas
pessoas ricas que não pagam as suas dívidas não tenham de pagar multas.
Os grandes empresários que têm dívidas não pagam multas. Você sabe que
se você é uma família e está com dívidas no cartão de crédito, se perder
um pagamento da conta de luz ou de qualquer outro lugar, sua taxa sobe
de 19% para 30% ou mais. Esse não é o caso. Se vocês são pessoas ricas,
há um conjunto de taxas de juros e penalidades para 99% da população,
outro conjunto para 1 a 10% da população mais rica, e vocês não estão
nele.
</p>
<p>
RADHIKA DESAI: E é isso que chamamos de apartheid financeiro. Então,
acho que com isso, Michael e eu nos despediremos e esperamos vê-lo em
algumas semanas e, em vez disso, conversaremos sobre que tipo de
economia precisamos. Muito obrigado por se juntar a nós e nos vemos em
algumas semanas. Bye Bye.
</p>
<p> Fonte: https://michael-hudson.com/2024/01/debt-makes-the-world-go-around/</p><p>Em</p><p>SAKERLATIM</p><p><a href="https://sakerlatam.org/a-divida-e-o-que-faz-o-mundo-girar/">https://sakerlatam.org/a-divida-e-o-que-faz-o-mundo-girar/</a></p><p>31/1/2024</p>
<hr class="wp-block-separator has-alpha-channel-opacity" /></article></div>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-36763462324331256152024-01-29T09:49:00.000-08:002024-01-29T09:49:23.974-08:00Rompe-se o véu : as verdades escondidas de Jabotinsky e Netanyahu<p> </p><article class="hnews hentry item">
<h1 class="crayon article-titre-220335 entry-title"><br /></h1>
<div class="article-author author"> <span class="fn"><span lang="fr">Thierry Meyssan</span></span></div>
<div class="article-chapo crayon article-chapo-220335 entry-content"><p>O
grupo que assassinou 25. 000 Palestinianos em Gaza não é representativo
dos judeus em geral. É o herdeiro de uma ideologia que não cessou de
cometer estes crimes desde há um século. Thierry Meyssan retoma a
história dos « sionistas revisionistas » de Vladimyr Ze’ev Jabotinky até
Benjamin Netanyahu.</p></div>
</article>
<div class="article-date">
<span class="source-org dateline">Rede Voltaire </span> <i>|</i>
Paris (França) <i>|</i>
<span class="updated" title="2024-01-25">25 de Janeiro de 2024</span>
</div>
<div class="line"></div>
<div class="article-lang">
<a href="https://www.voltairenet.org/article220326.html" hreflang="de" rel="alternate" title="Der Schleier zerreißt: Die verborgenen Wahrheiten von Jabotinsky und Netanjahu">Deutsch</a>
<a href="https://www.voltairenet.org/article220316.html" hreflang="el" rel="alternate" title="Έπεσαν οι μάσκες: οι κρυμμένες αλήθειες του Γιαμποτίνσκι και του Νετανιάχου">ελληνικά</a>
<a href="https://www.voltairenet.org/article220334.html" hreflang="en" rel="alternate" title="The veil is being torn: the hidden truths of Jabotinsky and Netanyahu">English</a>
<a href="https://www.voltairenet.org/article220308.html" hreflang="es" rel="alternate" title="Cuando el velo se desgarra: las verdades ocultas, de Jabotinsky a Netanyahu">Español</a>
<a href="https://www.voltairenet.org/article220307.html" hreflang="fr" rel="alternate" title="Le voile se déchire : les vérités cachées de Jabotinsky et Netanyahu">français</a>
<a href="https://www.voltairenet.org/article220317.html" hreflang="it" rel="alternate" title="Il velo si squarcia: le verità nascoste di Jabotinsky e Netanyahu">italiano</a>
<a href="https://www.voltairenet.org/article220318.html" hreflang="nl" rel="alternate" title="De sluier eraf: de verborgen waarheden van Jabotinsky en Netanyahu">Nederlands</a>
<a href="https://www.voltairenet.org/article220327.html" hreflang="ru" rel="alternate" title="Завеса сорвана: истинные идеи Жаботинского и Нетаньяху">русский</a>
</div>
<div class="clear"></div>
<div class="zoom"></div><div class="clear"></div>
<article class="entry-content">
<div class="article-text" id="article-text" style="height: auto !important;">
<div class="article-text-images crayon article-texte-220335 ">
<div class="spip_document_244424 spip_document spip_documents spip_document_image spip_documents_center spip_document_center spip_document_avec_legende" data-legende-len="69" data-legende-lenx="xx">
<figure class="spip_doc_inner">
<a class="spip_doc_lien mediabox" href="https://www.voltairenet.org/IMG/jpg/220307-1-7.jpg" type="image/jpeg">
<img alt="" height="600" src="https://www.voltairenet.org/local/cache-vignettes/L800xH600/220307-1-7-5d5fc.jpg?1706157505" width="800" /></a>
<figcaption class="spip_doc_legende">
<div class="spip_doc_titre crayon document-titre-244424 "><strong>Josep Borrell denuncia os laços entre Benjamin Netanyahu e o Hamas.
</strong></div>
</figcaption></figure>
</div>
<p class="lettrine">Josep Borrell, Alto Representante da União Europeia
para os Negócios Estrangeiros(Relações Exteriores-br) e a Política de
Segurança, ao receber um doutoramento <i>honoris causa</i> em
Valladolid, afirmou: « Pensamos que uma solução de dois Estados
[israelita e palestiniano] deve ser imposta do exterior a fim de trazer a
paz. Mesmo que, e eu insisto, Israel reafirme a sua recusa [desta
solução] e, para a impedir, tenha ido ele próprio ao ponto de criar o
Hamas (…) O Hamas foi financiado pelo governo israelita para tentar
enfraquecer a Autoridade Palestiniana da Fatah. Mas se não intervirmos
firmemente, a espiral do ódio e da violência prosseguirá de geração em
geração, de funeral em funeral».</p>
<p>Dizendo isto, Josep Borrell rompia com o discurso oficial ocidental
segundo o qual o Hamas é o inimigo de Israel, que teria atacado de
surpresa em 7 de Outubro ; justificando a actual resposta israelita e já
o massacre de 25. 000 civis palestinianos. Assim, ele afirmava que os
inimigos dos judeus podem ser apoiados por outros judeus, Benjamin
Netanyahu em particular. Ele recusava a leitura comunitária da História e
punha em exame as responsabilidades pessoais.</p>
<p>Esta mudança narrativa tornou-se possível graças à saída, há quatro
anos, do Reino Unido da União Europeia. Josep Borrell sabe que a União
Europeia financiou o Hamas desde o seu Golpe de Estado de 2006, portanto
está hoje livre para dizer o que pensa. Ele não mencionou as ligações
do Hamas com a Confraria dos Irmãos Muçulmanos, cuja organização
reivindica ser o «ramo palestiniano», nem os laços com o MI6, o Serviço
Secreto britânico. Ele simplesmente sugeriu sair desse vespeiro.</p>
<p>Progressivamente, o véu rompe-se. É preciso fazer aqui um
recordatório histórico. Os factos são conhecidos, mas nunca foram
ligados entre si, nem enumerados em sequência. Eles têm um efeito
cumulativo esclarecedor. Ocorreram principalmente ao longo da Guerra
Fria, quando o Ocidente fechava os olhos aos crimes que favoreciam os
seus interesses, mas, na realidade, começaram no entanto vinte anos mais
cedo.</p>
<p>Em 1915, o Ministro do Interior judeu britânico, Herbert Samuel, redigiu um memorando sobre o <i>Futuro da Palestina</i>.
Ele desejava criar um Estado judaico, mas de pequeno tamanho, de modo a
que «não possa ser grande o suficiente para se defender». Assim, a
diáspora judaica serviria a longo prazo os interesses do Império
Britânico.</p>
<p>Ele tentou em vão convencer o Primeiro-Ministro, à época o liberal H.
H. Asquith, a criar um Estado judaico na Palestina no fim da Guerra
Mundial.</p>
<p>No entanto, após o encontro de Herbert Samuel com Mark Sykes, logo
após a conclusão dos Acordos Sykes-Picot-Sazonov sobre a repartição
colonial do Médio-Oriente, os dois homens prosseguiram o projecto e
beneficiaram do apoio dos «protestantes não-conformistas» ( diríamos
hoje «cristãos sionistas»), entre os quais o novo Primeiro-Ministro,
David Lloyd George. Este e o seu gabinete deram indicação para a famosa <i>Declaração Balfour</i> a fim de esclarecer um dos pontos dos Acordos Sykes-Picot-Sazonov anunciando um « lar nacional judaico ».</p>
<p>Simultaneamente, os protestantes não-conformistas, por intervenção do
Juiz do Supremo Tribunal dos Estados Unidos, Louis Brandeis,
convenceram o Presidente Woodrow Wilson a apoiar o este projecto.</p>
<p>Ainda durante a Primeira Guerra Mundial, aquando da Revolução Russa,
Herbert Samuel propôs integrar judeus do antigo Império Russo, que
fugiam do novo regime, numa unidade especial, a Legião Judaica. Esta
proposta foi aceite por um judeu ucraniano, Vladimir Ze’ev Jabotinsky, o
qual imaginou que a sua recompensa no após-guerra poderia ser um Estado
judaico na Palestina. Herbert Samuel confiou-lhe o recrutamento de
soldados entre os emigrados russos. Entre estes, ele encontrou,
nomeadamente, o Polaco (polonês-br) David ben-Gurion (então marxista),
ao qual se juntou o Britânico Edwin Samuel, filho do próprio Herbert
Samuel. Eles vieram a destacar-se em especial durante a batalha perdida
contra os otomanos em Galípoli.</p>
<p>No fim da guerra, o fascista Jabotinsky exigiu a criação de um Estado
como algo que lhe era devido, mas os Britânicos não tinham qualquer
vontade de se separar da sua colónia palestiniana. Portanto, eles
mantiveram o seu compromisso do «lar nacional», sem mais. Em 1920, uma
parte dos Palestinianos, liderada por Izz al-Din al-Qassam (a figura que
inspira o braço armado do actual Hamas, as Brigadas al-Qassam)
revoltou-se e massacrou brutalmente os imigrantes judeus, enquanto uma
milícia judaica lhes respondia. Foi este o início do conflito
israelo-palestiniano. Londres restabeleceu a ordem prendendo os
fanáticos, tanto os jiadistas como os judeus. Jabotinsky, em casa de
quem foi descoberto um arsenal, foi condenado a 15 anos de prisão.</p>
<p>No entanto, o governo « protestante não-conformista » de David Lloyd
George nomeou Herbert Samuel governador da Palestina. Logo que chegou a
Jerusalém, ele perdoou e libertou o seu amigo Jabotinsky. Depois nomeou o
anti-semita e futuro colaborador do Reich, Mohammad Amin al-Husayni,
Grande Mufti de Jerusalém.</p>
<div class="spip_document_244425 spip_document spip_documents spip_document_image spip_documents_center spip_document_center spip_document_avec_legende" data-legende-len="63" data-legende-lenx="x">
<figure class="spip_doc_inner">
<img alt="" height="576" src="https://www.voltairenet.org/local/cache-vignettes/L768xH576/220307-2-7-a4799.jpg?1706157505" width="768" />
<figcaption class="spip_doc_legende">
<div class="spip_doc_titre crayon document-titre-244425 "><strong>Mural em homenagem a Vladimir Jabotinski em Odessa (Ucrânia).
</strong></div>
</figcaption></figure>
</div>
<p>Jabotinsky foi então eleito administrador da Organização Sionista
Mundial (WZO). Mas voltou a partir para o antigo Império Russo, onde
Symon Petliura acabava de criar uma República Popular Ucraniana.
Jabotinsky e Petliura assinaram um acordo secreto para conquistar um
lugar nas terras dos bolcheviques a Leste e dos anarquistas, de Nestor
Makhno ,a Sul (a Novorossia actual). Petliura era um anti-semita
fanático, os seus homens estavam rotinados a massacrar famílias ou
aldeias judias no próprio país. Petliura era o protector dos
«nacionalistas integralistas» ucranianos e do seu mentor, Dmytro
Dontsov, o qual irá mais tarde tornar-se administrador do Instituto
Reinhard Heydrich encarregado da execução da « solução final da questão
judaica »<span class="spip_note_ref"> [<a class="spip_note" href="https://www.voltairenet.org/article220335.html#nb1" id="nh1" rel="appendix" title="“Quem são os nacionalistas integralistas ucranianos ?”, Thierry Meyssan, (...)">1</a>]</span>.</p>
<p>Quando se espalhou a notícia que Jabotinsky tinha feito uma aliança
com os «exterminadores de judeus», a Organização Sionista Mundial
convocou-o a fim de se explicar. Mas ele preferiu demitir-se das suas
funções comunitárias em vez de responder às perguntas. Criou então a
Aliança dos « sionistas revisionistas » (presente sobretudo na diáspora
polaca e letã) e a sua milícia, a Betar. Ele afastou-se do Império
Britânico e entusiasmou-se com a Itália fascista. Criou uma academia
militar para o Betar nos arredores de Roma com o apoio do duce Benito
Mussolini.</p>
<div class="spip_document_244426 spip_document spip_documents spip_document_image spip_documents_center spip_document_center spip_document_avec_legende" data-legende-len="79" data-legende-lenx="xx">
<figure class="spip_doc_inner">
<img alt="" height="408" src="https://www.voltairenet.org/local/cache-vignettes/L544xH408/220307-3-7-6135d.jpg?1706157505" width="544" />
<figcaption class="spip_doc_legende">
<div class="spip_doc_titre crayon document-titre-244426 "><strong>Guarda de honra do Betar diante do retrato de Jabotinky na cidadela de Ze’ev.
</strong></div>
</figcaption></figure>
</div>
<p>Em 1936, Jabotinsky imaginou um «plano de evacuação» dos judeus da
Europa Central e Oriental para a Palestina. Ele obteve o apoio do Chefe
de Estado polaco, o Marechal Józef Piłsudski, e do seu Ministro dos
Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-br), Józef Beck. Mas também o
do regente húngaro, o Almirante Miklós Horthy, sem esquecer o do
Primeiro-Ministro romeno, Gheorghe Tătărescu. Este plano nunca foi
aplicado porque os judeus da Europa Central e Oriental estavam
assustados com os aliados de Jabotinsky e porque o Império Britânico se
opôs a uma emigração maciça para a Palestina. Por fim, Chaim Weizmann,
então presidente da Organização Sionista Mundial, garantiu que
Jabotinsky estava envolvido no plano franco-polaco-nazi para deportar os
judeus para Madagáscar.</p>
<p>Foi neste período que Vladimir Jabotinsky profetizou o Holocausto
perante audiências judias espantadas. Segundo ele, ao recusar o seu
plano de evacuação, a diáspora ia provocar uma explosão de violência
contra si. Para surpresa geral, foi o que os seus amigos puseram
realmente em prática : o extermínio de milhões de judeus.</p>
<div class="spip_document_244427 spip_document spip_documents spip_document_image spip_documents_center spip_document_center spip_document_avec_legende" data-legende-len="104" data-legende-lenx="xx">
<figure class="spip_doc_inner">
<img alt="" height="491" src="https://www.voltairenet.org/local/cache-vignettes/L655xH491/220307-4-7-cbb41.jpg?1706157505" width="655" />
<figcaption class="spip_doc_legende">
<div class="spip_doc_titre crayon document-titre-244427 "><strong>Vladimir Jabotinky (à direita) e Menahem Begin (à esquerda), durante uma reunião do Betar em Varsóvia.
</strong></div>
</figcaption></figure>
</div>
<p>Em 1939, Jabotinsky elaborou um plano para uma revolta dos judeus da
Palestina contra o Império Britânico, que ele enviou à secção local dos
«sionistas revisionistas», a Irgun. A Segunda Guerra Mundial adiou este
projecto para mais tarde. Jabotinsky não se fixou na Itália fascista,
mas nos Estados Unidos, então neutros, onde um dos seus discípulos se
lhe juntou para se tornar seu secretário particular. Foi Benzion
Netanyahu, o pai de Benjamin Netanyahu.</p>
<p>Durante o período da guerra, Vladimir Jabotinsky e Benzion Netanyahu
receberam a visita de um professor de filosofia de Chicago, Léo Strauss.
Ele também era um judeu fascista. Fora forçado a deixar a Alemanha
devido ao anti-semitismo nazi, mas continuava a ser um fascista
convicto. Léo Strauss tornou-se posteriormente a referência dos «
neoconservadores » nos EUA. Ele criou a sua própria escola de
pensamento, garantindo aos seus poucos discípulos, após a Segunda Guerra
Mundial, que o único meio para os judeus de evitar uma nova Shoah era
criar a sua própria ditadura. Entre os seus alunos, conta-se tanto Paul
Wolfowitz como Elliott Abrams, o homem que agora está por trás de
Benjamin Netanyahu e que financiou a sua «reforma das instituições»
neste Verão.</p>
<p>Vladimir Jabotinsky morreu em Nova Iorque, em 1940. David ben-Gurion
opôs-se à transferência das suas cinzas para Israel, mas em 1964 o
Primeiro-Ministro de Israel, o Ucraniano Levi Eshkol, autorizou-a.</p>
<div class="spip_document_244428 spip_document spip_documents spip_document_image spip_documents_center spip_document_center spip_document_avec_legende" data-legende-len="97" data-legende-lenx="xx">
<figure class="spip_doc_inner">
<img alt="" height="567" src="https://www.voltairenet.org/local/cache-vignettes/L756xH567/220307-5-7-38d0a.jpg?1706157505" width="756" />
<figcaption class="spip_doc_legende">
<div class="spip_doc_titre crayon document-titre-244428 "><strong>O Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu presta homenagem ao seu herói, Vladimir Ze’ev Jabotinky.
</strong></div>
</figcaption></figure>
</div>
<p>Após a Guerra Mundial, os “sionistas revisionistas” da Irgun declaram
guerra ao Império Britânico por ter limitado a emigração judaica para a
Palestina. Sob o comando do futuro Primeiro-Ministro, o Bielorrusso
Menachem Beguin, organizam uma série de atentados, entre os quais o do
hotel King David que causou 91 mortos e o massacre de Deir Yassin que
fez, pelo menos, uma centena de vítimas.</p>
<p>Em Novembro de 1947, a Assembleia Geral das Nações Unidas adoptou um
plano de partilha da Palestina entre duas zonas, judaica e árabe, a fim
de formar um Estado binacional. Aproveitando-se da lentidão da
organização intergovernamental, David ben-Gurion adianta-se e proclama
unilateralmente o Estado de Israel, em 14 de Maio de 1948. Os Estados
árabes reagem com as armas, enquanto milícias judaicas iniciam a
expulsão de 750 mil Palestinianos, a <i>Nakba</i>. Preocupada com estes
rápidos desenvolvimentos, a Assembleia Geral envia um emissário sueco, o
Conde Folke Bernadotte, para demarcar os dois Estados federados. Mas,
em 17 de Setembro de 1948, outros «sionistas revisionistas»,
pertencentes à Lehí (dita « Grupo Stern »), sob o comando de outro
futuro Primeiro-Ministro, o Bielorrusso Yitzhak Shamir, assassinam-no.
Eles foram todos condenados por um tribunal israelita. O Ministro dos
Negócios Estrangeiros, o Ucraniano Moshe Shertok (ou Sharett), escreve à
Assembleia Geral solicitando a adesão de Israel às Nações Unidas. Ele «
declara que o Estado de Israel aceita pela presente, sem quaisquer
reservas, as obrigações decorrentes da Carta das Nações Unidas e que se
compromete a observá-las a partir do dia em que se tornar Membro das
Nações Unidas ». Sob estas declaradas condições, Israel torna-se membro
da ONU, em 11 de Maio de 1949. Nos dias que se seguem, Yehoshua Cohen, o
assassino do Conde Bernadotte, é discretamente libertado. Torna-se
guarda-costas do Primeiro-Ministro, David ben-Gurion.</p>
<div class="spip_document_244429 spip_document spip_documents spip_document_image spip_documents_center spip_document_center spip_document_avec_legende" data-legende-len="44" data-legende-lenx="x">
<figure class="spip_doc_inner">
<img alt="" height="400" src="https://www.voltairenet.org/local/cache-vignettes/L533xH400/220307-6-7-77d6d.jpg?1706157505" width="533" />
<figcaption class="spip_doc_legende">
<div class="spip_doc_titre crayon document-titre-244429 "><strong>Benjamin Netanyahu jovem e Yitzhak Shamir.
</strong></div>
</figcaption></figure>
</div>
<p>De 1955 a 1965, Yitzhak Shamir dirige um departamento da Mossad, os
Serviços Secretos do exterior do novo Estado. Sem informar os seus
superiores, ele estrutura a polícia secreta do Xá do Irão, a Savak.
Cerca de duzentos dos seus homens vêm ensinar a torturar ao lado de
antigos nazis<span class="spip_note_ref"> [<a class="spip_note" href="https://www.voltairenet.org/article220335.html#nb2" id="nh2" rel="appendix" title="«SAVAK: A Feared and Pervasive Force», Richard T. Sale, Washington Post, (...)">2</a>]</span>. <br class="autobr" />
Depois, enquanto negoceia os Acordos de Camp David com o Egipto,
transfere os operacionais que tinha no Irão para o Congo, em 1979.
Provavelmente com o apoio da CIA norte-americana, agora eles enquadram a
polícia secreta de Mobutu Sese Seko. Ele viaja para o local para
supervisionar pessoalmente os seus homens.</p>
<p>No quadro da Guerra Fria, Yitzhak Shamir ajuda também a ditadura taiwanesa<span class="spip_note_ref"> [<a 1983.="" 31="" class="spip_note" foreign="" href="https://www.voltairenet.org/article220335.html#nb3" id="nh3" israel:="" nbsp="" rel="appendix" title="תמכור נשק.">3</a>]</span>.</p>
<p>Depois, sem o conhecimento dos Estados Unidos, ele cria um grupo
terrorista em Nova Iorque, a Liga de Defesa Judaica do Rabino Meir
Kahane.<span class="spip_note_ref"> [<a class="spip_note" href="https://www.voltairenet.org/article220335.html#nb4" id="nh4" rel="appendix" title="The False Prophet: Rabbi Meir Kahane, From FBI Informant to Knesset (...)">4</a>]</span>.
E supervisiona uma campanha pela emigração de judeus soviéticos para
Israel, atentados contra a delegação soviética na ONU e, por fim, contra
a legação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).</p>
<p>Ele firma aliança com a África do Sul<span class="spip_note_ref"> [<a class="spip_note" href="https://www.voltairenet.org/article220335.html#nb5" id="nh5" rel="appendix" title="The Unspoken Alliance: Israel’s Secret Relationship with Apartheid South (...)">5</a>]</span>.
Participa na criação dos « bantustões », falsos Estados africanos que
permitem à África do Sul não considerar a sua população negra como tendo
cidadania, mas como sendo emigrante ; um modelo que os « sionistas
revisionistas » aplicarão posteriormente aos Palestinianos.<br class="autobr" />
Nesta onda, fez com que Israel financiasse as pesquisas do médico
pessoal do Presidente Pieter Botha, o Doutor Wouter Basson. Este, à
frente de 200 cientistas, pretende criar doenças que apenas afectarão os
negros e os árabes (Projet Coast<span class="spip_note_ref"> [<a class="spip_note" href="https://www.voltairenet.org/article220335.html#nb6" id="nh6" rel="appendix" title="Project Coast: Apartheid’s Chemical and Biological Warfare Programme, (...)">6</a>]</span>)<span class="spip_note_ref"> [<a class="spip_note" href="https://www.voltairenet.org/article220335.html#nb7" id="nh7" rel="appendix" title="«Sudáfrica, antiguo laboratorio secreto de terrorismo biológico de varios (...)">7</a>]</span>.</p>
<p>Um crime levando a outro, ele apoia também a Rodésia<span class="spip_note_ref"> [<a class="spip_note" href="https://www.voltairenet.org/article220335.html#nb8" id="nh8" rel="appendix" title="«The Rhodesian Army: Counter-insurgency 1972-1979» in Armed forces and (...)">8</a>]</span> e a luta contra a independência das colónias portuguesas de Moçambique e de Angola.</p>
<p>Na Guatemala, Yitzhak Shamir aproxima-se da ditadura do General Rios
Montt. Ele não se contenta apenas em fornecer-lhe armas, mas
supervisiona também a sua polícia secreta. Põe em prática um instituto
de informática que vigia o consumo de água e electricidade e pode,
assim, detectar e localizar actividades clandestinas. Ele organiza a
população Maia em kibutzim de maneira a fazê-la trabalhar e a vigiá-la
sem ter de proceder a uma reforma agrária. Assim protegido, Rios Montt
assassina 250. 000 pessoas<span class="spip_note_ref"> [<a class="spip_note" href="https://www.voltairenet.org/article220335.html#nb9" id="nh9" rel="appendix" title="«Israeli Connection Not Just Guns for Guatemala», George Black, NACLA (...)">9</a>]</span>
; um modelo que os sionistas revisionistas desejam aplicar aos
Palestinianos. A propósito da experiência guatemalteca, os relatórios
entre Israel e os Estados passam pelo straussiano Elliott Abrams.</p>
<p>Deve salientar-se que durante toda a Guerra Fria, os «sionistas
revisionistas» não agiram no interesse do campo ocidental, eles
aproveitaram as oportunidades que se apresentavam para fazer aquilo que
Vladimir Ze’ev Jabotinky sempre havia feito : exercer o Poder pela da
força sem qualquer consideração por ninguém.</p>
<div class="spip_document_244430 spip_document spip_documents spip_document_image spip_documents_center spip_document_center spip_document_avec_legende" data-legende-len="224" data-legende-lenx="xxx">
<figure class="spip_doc_inner">
<a class="spip_doc_lien mediabox" href="https://www.voltairenet.org/IMG/jpg/220307-7-7.jpg" type="image/jpeg">
<img alt="" height="767" src="https://www.voltairenet.org/local/cache-vignettes/L800xH767/220307-7-7-32843.jpg?1706157505" width="800" /></a>
<figcaption class="spip_doc_legende">
<div class="spip_doc_titre crayon document-titre-244430 "><strong>No
fim da Conferência de Madrid, a delegação israelita “desenterrou” este
velho cartaz da polícia britânica na Palestina do mandato : ele pede
informações sobre o grupo terrorista Lehi. Ao alto à esquerda : Menahem
Beguin.
</strong></div>
</figcaption></figure>
</div>
<p>No fim da Guerra Fria, o Presidente Bush Sr convocou a Conferência de
Madrid para resolver finalmente a questão israelo-palestiniana. Durante
esta, a delegação israelita, presidida por Yitzhak Shamir, agora
Primeiro-Ministro, exigiu a revogação da Resolução 3379 da Assembleia
Geral das Nações Unidas<span class="spip_note_ref"> [<a class="spip_note" href="https://www.voltairenet.org/article220335.html#nb10" id="nh10" rel="appendix" title="«Calificación del sionismo», Red Voltaire , 10 de noviembre de 1975.">10</a>]</span>
antes do prosseguimento dos debates. Esta declara que « o sionismo é
uma forma de racismo e de discriminação racial ». « Com um coração
aberto, apelamos aos dirigentes árabes para darem o passo corajoso e
responder à nossa mão estendida em paz », declama Shamir,
grandiloquente. Ansiosa por chegar a um acordo, a Assembleia Geral
contemporiza. Mas, enganando os seus interlocutores, Israel não assumirá
nenhum compromisso e fará mesmo tudo usando a sua influência para fazer
fracassar a candidatura de George H. Bush a um segundo mandato.</p>
<p>Antes de concluir, um comentário rápido sobre as personalidades deste sistema hoje em dia.</p>
<div class="spip_document_244431 spip_document spip_documents spip_document_image spip_documents_center spip_document_center spip_document_avec_legende" data-legende-len="88" data-legende-lenx="xx">
<figure class="spip_doc_inner">
<img alt="" height="250" src="https://www.voltairenet.org/local/cache-vignettes/L400xH250/220307-8-7-13541.jpg?1706157505" width="400" />
<figcaption class="spip_doc_legende">
<div class="spip_doc_titre crayon document-titre-244431 "><strong>O Presidente judeu ucraniano Volodymyr Zelenski e o « führer branco », Andriy Biletsky
</strong></div>
</figcaption></figure>
</div>
<p>A aliança dos «sionistas revisionistas» e dos «nacionalistas
integralistas» ucranianos reformou-se com a dissolução da União
Soviética. Um oligarca mafioso, o judeu Ihor Kolomoisky, impulsionou
politicamente um jovem comediante judeu, Volodymyr Zelensky, ao mesmo
tempo que financiava as milícias nacionalistas integralistas que
sitiavam e bombardeavam as populações ucranianas russófonas do Donbass. O
“refusenik” Natan Sharansky, antigo Ministro de Ariel Sharon, organiza
reuniões entre personalidades judaicas mundiais e o gabinete do
Presidente ucraniano. Enquanto isso Voldymyr Zelensky confiou o comando
das duas grandes batalhas de Mariupol e Bakhmut a Andriy Biletsky, o
«Führer Branco».</p>
<p>Em 19 de Julho de 2018, por iniciativa dos «sionistas revisionistas»,
o Knesset adopta uma lei proclamando Israel como um « Estado judeu »,
com o hebraico como única língua oficial e Jerusalém unificada como sua
capital. Os colonatos judaicos em território palestiniano são
considerados como integrando o «interesse nacional».</p>
<p>Quatro anos depois dessa Lei, Benjamin Netanyahu monta um governo com
uma coligação (coalizão-br) formada com os discípulos do Rabino Kahane.
Em 2022, Itamar Ben-Gvir, presidente do Otzma Yehudit (Partido do Poder
Judaico) declara que vai expulsar os árabes da Palestina. Membros do
seu Partido lançam um ataque, em Fevereiro de 2023, contra a aldeia de
Huwara, na Cisjordânia, sete meses antes do ataque palestiniano de 7 de
Outubro. Em poucas horas, incendeiam centenas de carros e 36 casas. Eles
atacam os habitantes, fazendo 400 feridos e matando um homem perante o
olhar impassível dos soldados do Exército israelita que cercava a aldeia
e não intervieram face aos seus abusos.</p>
<p>Este breve resumo histórico mostra-nos que já não há tanto um
problema israelo-árabe como um problema ucraniano-russo, mas, sim um
enorme problema de todos com uma ideologia que, em diferentes lugares e
épocas diferentes, não tem feito mais do que semear o sofrimento e a
morte. Devemos abrir os olhos e não aceitar mais deixar-nos mobilizar
para acções de bandeira falsa e outras mentiras.</p>
</div>
<div class="clear"></div>
<div class="article-text-author">VOLTAIRENET.ORG</div><div class="article-text-author"><a href="https://www.voltairenet.org/article220335.html">https://www.voltairenet.org/article220335.html</a></div><div class="article-text-author">25/1/2024</div><div class="article-text-author"><br /></div></div></article>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-54543421524640581402024-01-25T10:43:00.000-08:002024-01-25T10:43:48.386-08:00100 años después de Lenin: la necesidad de una estrategia global leninista<p> </p><header class="entry-header"><h1 class="entry-title" itemprop="headline"><br /></h1>
<p class="entry-meta"><time class="entry-time" datetime="2024-01-25T18:27:48+01:00" itemprop="datePublished"><br /></time> </p></header><div class="entry-content" itemprop="text">
<p class="has-large-font-size">EL SIGUIENTE ARTÍCULO FUE PUBLICADO RECIENTEMENTE POR LA REVISTA DEL CLUB VALDAI, EL “THIN TANK” MÁS IMPORTANTE DE RUSIA <br />ESCRIBE EL DOCTOR EN CIENCIAS POLÍTICAS DAYAN JAYATILLEKA, EMBAJADOR DE SRI LANKA </p>
<p>Un profeta sólo carece de honor en su propia tierra, clamó Jesús,
después de un sermón radical en Nazaret, y tras ser agredido por una
turba que no entendió su mensaje e intentó lincharlo en su ciudad
natal. </p>
<p>Quizás, y solo quizás, las respuestas violentas a los profetas se
debe a que la gente de su pueblo los ven a través de un manto de
subjetividad alentada por la élite gobernante.</p>
<p>Lo mismo está ocurriendo con Lenin en la actual Rusia en el
centenario de su muerte. Se le quiere ver a través de un manto de
prejuicios relacionados con la Revolución Rusa. Y por extraño que
parezca, hoy la respuesta de la Rusia postsoviética a Lenin es bastante
similar a la respuesta que ofrece el Gran Inquisidor en una famosa
novela de Dostoievski. </p>
<p>En esa narrativa el Gran Inquisidor visita a un joven prisionero y
sabe al instante de quién se trata. Habiéndose arrodillado ante él, se
da cuenta que es Jesus el que ha regresado. Entonces , paradójicamente,
el inquisidor le dice al joven revolucionario que se necesitaron mil
años para restaurar el orden y la estabilidad después del trastorno
desatado en su visita original… y que está vez no se lo permitirán , por
lo tanto, será ejecutado al día siguiente. Al oír esto, Jesús besa en
la mejilla al Gran Inquisidor, en un típico gesto del perdón cristiano.</p>
<p>Algo parecido ocurre con la Rusia contemporánea y Lenin. La élite
tiene temor a que sus ideas vuelvan a sembrar inestabilidad, agitación y
revolución. Así, una Rusia que condena la «cultura de la cancelación»
de Occidente ha cancelado a Lenin, cien años después de su muerte.</p>
<p>Y, sin embargo, en la Federación Rusa hay muy buenas razones para
resucitar la estrategia de Lenin y los postulados de la política
internacional leninista. </p>
<p>Consideremos las diversas propuestas de la política leninista en el momento actual de la historia:</p>
<p><strong>En primer lugar</strong> , se están librando dos guerras
definitorias –Gaza y Ucrania– que implican como concepto subyacente una
idea cuyo origen fue compartido por Lenin y Woodrow Wilson, pero que fue
acuñado por primera vez por Lenin unos años antes que Wilson: la
“autodeterminación nacional”. </p>
<p>El caso de Rusia en el Donbass se basa en el derecho a la
autodeterminación, llevado a cabo en un sentido más amplio del concepto
Leninista, aunque es una aplicación de la autodeterminación nacional al
fenómeno del neocolonialismo implementado por la hegemonía occidental.</p>
<p>El ejemplo más obvio es la lucha palestina contra la ocupación y la
enorme resonancia que ha tenido no sólo en el Sur global sino también
entre los jóvenes de Occidente, incluidos Estados Unidos y el Reino
Unido.</p>
<p>En un discurso legendario, Ho Chi Minh contó que cuando leyó por
primera vez las tesis de Lenin sobre la cuestión nacional y colonial
(1920) exclamo: «este es nuestro camino [de Vietnam] hacia la
liberación». </p>
<p>Es la ósmosis ideológica de las enseñanzas leninistas sobre la
liberación nacional la que ha moldeado la conciencia del ANC de
Sudáfrica y la de los gobiernos de izquierda latinoamericanos sobre la
cuestión de Palestina.</p>
<p><strong>En segundo lugar,</strong> los pilares conceptuales de la
política exterior rusa, a saber, las formulaciones RIC; «Rusia,
India,China» y la «mayoría mundial», atribuidas a Yevgeni Primakov,
derivan directamente del último escrito publicado por Lenin en 1923. .</p>
<p><strong>En tercer lugar,</strong> Lenin proporciona una «categoría
maestra» y un marco macro que nos ayuda a reflexionar sobre la escalada
de agresión multidimensional del Occidente colectivo hacia Rusia: el
imperialismo.</p>
<p><strong>En cuarto lugar,</strong> la política exterior rusa posterior
a la Guerra Fría de la era de Yeltsin, de total colaboracionismo con
EEUU, se fundó en la antipatía hacia Lenin, a los bolcheviques y a
1917. </p>
<p>Mientras esta antipatía se extienda a la política contemporánea será
imposible derrotar la ofensiva imperialista contra Rusia. Para lograr la
victoria , es necesario erradicar los fundamentos del yeltsinismo, que
solo eran una política basada en el antileninismo. </p>
<p><strong>En quinto lugar, </strong>aquellos dentro y fuera de Rusia
que predijeron o advirtieron correctamente sobre lo que está sucediendo
ahora – la ofensiva occidental – eran todos, en términos generales,
leninistas. Esto habla del valor del leninismo como fuente de
pensamiento estratégico.</p>
<p>Por tanto, la «cancelación» de Lenin y del leninismo puede no ser
entendida por los rusos cuando viven la agresión occidental
ejemplificada por los pilotos ucranianos montados en los F-16
suministrados por la OTAN y a los soldados en tanques Abrams
estadounidenses.</p>
<p><strong>Sistema, no política</strong></p>
<p>Hay un momento al que siempre se llega durante cualquier discusión
sobre las relaciones entre Rusia y Occidente. Es el momento en que el
ciudadano ruso cuenta con amargura hasta qué punto el gobierno ruso
estuvo dispuesta ha llegar a compromisos de subalternidad en las
relaciones con Occidente a principios de los años 1990. Y luego el
funcionario ruso nos dice con amargo desconcierto que Occidente rechazó
la oferta de una Rusia humillada.</p>
<p>Al menos una de las razones del desconcierto es la ausencia de un
marco general para entender a Occidente y el mundo, y el abandono del
marco existente.</p>
<p>Por el contrario, cuando estalló la Primera Guerra, Lenin superó su
inicial incredulidad, ante la traición de la socialdemocracia,
estudiando el fenómeno y formulando su teoría del imperialismo: el
imperialismo, insistió, no era una política sino un sistema y una etapa
de un sistema.</p>
<p>Liberales como Hobson habían ido por delante de Lenin en la
comprensión de las nuevas tendencias del capitalismo mundial. Dentro del
marxismo, Rosa Luxemburgo había teorizado sobre el capitalismo global y
en el partido bolchevique, Bujarin denunciaba el imperialismo en
paralelo con Lenin.</p>
<p>Sin embargo, «El Imperialismo: la etapa más alta del capitalismo» de
Lenin fue el libro que rompió la baraja de los análisis, lo hizo no sólo
por su insistencia en que el imperialismo no era una política sino un
sistema, sino también porque identificó con precisión las nuevas
características del capitalismo mundial. </p>
<p>También explicó que el origen de la Guerra Mundial fue la competencia
entre las potencias capitalistas para repartirse el mundo. Por otra
parte describió las razones subyacentes que llevaron a la traición de la
socialdemocracia occidental: está se explica por qué determinados
sectores de los trabajadores obtuvieron mejoras sociales debido a las
superganancias extraídas de las colonias y semicolonias por parte de los
centros metropolitanos.</p>
<p>El marco explicativo de Lenin resultó definitivo durante décadas, y
generaciones de académicos lo desarrollaron en diferentes direcciones.
Lamentablemente, en la Rusia actual no existe una teoría general, o si
la hay, es una explicación «civilizacional», por tanto, autolimitada. </p>
<p>La teoría del imperialismo de Lenin se transmitió horizontal y
verticalmente en el mundo y de generación en generación, precisamente
porque era universal y «científica»; en otro términos estaba desprovista
de especificidad cultural y civilizatoria, y mucho menos de
centralidad.</p>
<p>Ahora, frente a la ofensiva occidental, a Rusia le interesa
objetivamente regresar a la percepción leninista del problema, en lugar
de atribuirlo al capricho y la perversidad occidentales.</p>
<p>Esta es la razón por la que Oppenheimer y algunos de sus colegas en
Los Álamos albergaban una debilidad por la URSS. La paradoja es que hoy,
cuando Rusia es mucho menos radical, el país tiene pocas simpatías en
Occidente. </p>
<p>Esto no puede atribuirse a la «decadencia» de la sociedad occidental
porque está opinión no puede explicar las oleadas masivas de solidaridad
con Palestina, incluso en las ciudadelas educativas más elitistas de
Occidente.</p>
<p>No es sólo que Occidente haya cambiado, sino también que Rusia, se ha
vuelto menos universalista, más «culturalista», y más involucionada.
Por tanto, no proyecta sus ideas a nivel planetario y tampoco existe
solidaridad con Rusia, a diferencia de lo que ocurría en los años
soviéticos. </p>
<p>No hay túneles de apoyo y simpatía serpenteando detrás de las líneas
enemigas. En realidad el «internacionalismo» leninista puede
contrarrestar este síndrome de autoaislamiento ruso.</p>
<p><strong>Ciertas confusiones con las revoluciones del color</strong></p>
<p>La estrategia leninista para enfrentar el orden mundial imperialista
fue multidimensional: gestión de las relaciones interestatales a través
del Ministerio (Comisariado) de Relaciones Exteriores; construcción de
redes de movimientos políticos y sociales con ideas afines a través de
la Internacional Comunista (Comintern); servicios secretos; un
movimiento por la paz y organizaciones globales de escritores,
periodistas, mujeres, jóvenes, sindicatos, etc. (esto último en el
período soviético post-Lenin). Hoy, frente a la ofensiva occidental, no
existe un sistema tan ramificado de Rusia en el mundo.</p>
<p>Hay contradicciones que es necesario resolver en la resistencia de
Rusia a la ofensiva occidental. Por un lado, Rusia defiende un cambio en
el status quo global, un cambio del establishment global: pasar de la
unipolaridad y el hegemonismo a la multipolaridad. </p>
<p>Por otro lado, Rusia se opone al cambio en el orden interno en los
países y condena cualquier levantamiento popular como revoluciones de
«color». Si bien algunas son realmente revoluciones de color, no todas
lo son. </p>
<p>Y en varios casos, la abdicación de las fuerzas antiimperialistas de
la lucha contra el sistema sólo ha permitido que las fuerzas
proimperialistas manipulen el malestar e incluso lo monopolicen.</p>
<p>La principal razón esgrimida para condenar los levantamientos
populares como revoluciones de color, ha sido la presencia de ciertos
elementos pro estadounidenses, es insuficiente y engañosa .</p>
<p>Perdónenme por un extracto tan extenso, pero estas ideas son lo que Lenin pensaba sobre la rebelión irlandesa de 1916:</p>
<p>“<em>…El término ‘putsch’, en su sentido científico, puede emplearse
sólo cuando el intento de insurrección es el producto de un círculo de
conspiradores que no han logrado despertar la simpatía entre las masas…</em></p>
<p><em>Pero, en el caso de Irlanda el que llame “putsch” a su rebelión
es un reaccionario empedernido incapaz de concebir una revolución social
como un fenómeno vivo</em></p>
<p><em>Imaginar que la revolución social es concebible – tanto en las
naciones colonizadas como en Europa – sin revueltas , sin estallidos
revolucionarios de un sector de la pequeña burguesía (con todos sus
prejuicios) o, sin un movimiento de masas proletarias y semiproletarias
políticamente inconscientes…es simplemente no entender que es una
revolución social . </em></p>
<p><em>Cuando una parte del ejército dice: «estamos por el socialismo»
hay que pensar que eso puede ser el comienzo de una revolución social!
…entonces solo aquellos que sostienen una visión pedante de la
revolución se atreven a vilipendiar la rebelión irlandesa llamándola
«golpe de Estado.</em></p>
<p><em>Aquellos que esperen una revolución social «pura» nunca vivirán
para verla. Una persona así habla de revolución de lo labios para afuera
pero nunca entenderá qué es una verdadera revolución”</em></p>
<p><em>La Revolución Rusa de 1905 fue una revolución
democrático-burguesa. Consistió en una serie de batallas en las que
participaron todas las clases, grupos y elementos descontentos de la
población. </em></p>
<p><em>Entre ellos había masas imbuidas de prejuicios reaccionarios, de
objetivos vagos y fantásticos; y había pequeños grupos de especuladores y
aventureros, que aceptaban dinero japonés , etc. </em></p>
<p><em>Pero, a pesar de todos estos grupos, objetivamente , el
movimiento de masas estaba rompiendo con el zarismo y allanando el
camino para la democracia; por esta razón, los trabajadores con
conciencia de clase dirigieron el proceso.</em></p>
<p><em>La revolución socialista en Europa no puede ser otra cosa que un
estallido de masas por parte de todos y cada uno de los elementos
oprimidos y descontentos. En ese estallido, inevitablemente participaran
sectores de la pequeña burguesía y de los trabajadores atrasados. Pero,
sin esa participación, la lucha de masas es imposible, y sin ella no
es posible la revolución. Con la misma inevitabilidad, estos sectores
traerán al movimiento sus prejuicios, sus fantasías reaccionarias, sus
debilidades, sus errores. Pero objetivamente atacarán al capital…”
(Irish Marxist Review, 2015).</em></p>
<p>Sugeriría leer este texto sustituyendo la frase «revolución de color» por el término «putsch», que Lenin denuncia.</p>
<p>Un problema relacionado es la parcialidad existente en Rusia a favor
de fuerzas conservadoras y de derecha en Occidente, y la consiguiente
aversión hacia la izquierda; es que está actitud no está en consonancia
con el realismo!</p>
<p>En la lucha a favor del pueblo Palestino y contra el apoyo occidental
a Israel, el papel de vanguardia lo han desempeñado fuerzas de
orientación izquierdista, que van desde los gobiernos latinoamericanos
de la ‘marea rosa’ , la administración del ANC de Sudáfrica hasta
sectores progresista de Estados Unidos y del Reino Unido. (Demócratas y
laboristas). </p>
<p>La verdad del asunto es que son los gobiernos, movimientos y
personalidades de izquierda los que están en primera línea combatiendo
por un mundo multipolar y no las fuerzas de la derecha global por las
que la Rusia contemporánea parece tener preferencia.</p>
<p>En resumen, existe una contradicción entre el objetivo estratégico de
Rusia de lograr un cambio global hacia un mundo multipolar y los
aliados políticos preferidos de la elite Rusa.</p>
<p>Esta contradicción sólo puede resolverse aplicando el concepto
primakoviano de un enfoque multivectorial, especialmente hacia aquellos
que resisten activamente al imperialismo y apoyan un orden mundial
multipolar. </p>
<p><strong>Los leninistas eran más inteligentes</strong></p>
<p>Las ilusiones sobre las relaciones con Occidente y la posibilidad de
prevalecer sobre él en una «competencia económica pacífica» surgieron en
1956 con el XX Congreso del PCUS. </p>
<p>Las predicciones más precisas sobre cómo se comportaría Occidente y
cómo se deteriorarían las cosas si la URSS bajaba la guardia provinieron
de los dirigentes más leninistas; Molotov, Kaganovich, el mariscal
Grechko, Yuri Andropov y Sergey Akhromeyev.</p>
<p>Quienes se equivocaron y mucho fueron los que revisaron a Lenin (Khrushchev, Gorbachev) o lo denostaron (Yeltsin).</p>
<p>Entonces, ¿por qué Rusia debería conservar el antileninismo de
quienes apostaron por Occidente, estos desecharon un leninismo que fue
capaz de entender “proféticamente” el carácter agresivo del Imperialismo
? </p>
<p>El nexo entre dar la debida consideración a la perspectiva de Lenin
se puso en evidencia con dos debates de dominio público. En 1973, en la
Conferencia Cumbre de Países No Alineados (celebrada en Argel) el líder
libio Muammar Ghaddafi propuso la idea de las “dos superpotencias,
Estados Unidos y la URSS”, a las cuales el Tercer Mundo debería
oponerse.</p>
<p>Fue Fidel Castro quien contradijo a Ghaddafi. El dirigente cubano
advirtió que si el fenómeno de la OPEP se hubiera manifestado (como
acaba de ocurrir en 1973) en un mundo sin la URSS socialista, entonces
el imperialismo occidental habría vuelto a tratar de repartirse el mundo
mediante la fuerza militar. </p>
<p>Fidel instó a que el mundo debería estar agradecido por la existencia
de la URSS y nunca debería equipararla con Estados Unidos. Su opinión
resultó profética de la manera más trágica tras el colapso de la URSS;
guerras, desmembramiento de estados, linchamientos de líderes de
izquierda y una nueva compulsión de Occidente por «re-dividir el mundo»,
tal como lo describió Lenin. </p>
<p>El comportamiento occidental después de la caída de la Unión
Soviética en 1991, incluida la agresión y la escalada de Estados Unidos y
la OTAN en Ucrania, sólo puede entenderse como un esfuerzo imperialista
por volver a dividir el mundo </p>
<p><strong>Nuevo vector principal</strong></p>
<p>En 1921, Lenin estaba convencido que era necesario cambiar la
estrategia principal porque la revolución en Occidente se había
detenido, empezando por el fracaso del Ejército Rojo en Polonia. </p>
<p>Entonces Lenin pasó ha adoptar la estrategia del frente único,
incluso con antiguos enemigos, ante la creciente fuerza de la
contrarrevolución y un ya incipiente fascismo. </p>
<p>El frente único fue aún más amplio en el caso de los países coloniales, en un contexto de lucha abierta contra el imperialismo.</p>
<p>El eje principal de la gran estrategia global de Lenin se desplazó
hacia el Este. Esto quedó claramente expresado en su último escrito,
«Mejor menos, pero mejor» (1923), que resultó fundamental porque le dio a
Yevgeni Primakov la un camino para Rusia después del colapso de la
URSS.</p>
<p>Analizando “el sistema de relaciones internacionales que estaba tomando forma”, Lenin escribió :</p>
<p>“…<em>el resultado de la lucha sólo puede predecirse a largo plazo
porque el capitalismo hoy está preparado para la defensa de sus
intereses en todo el mundo.</em></p>
<p><em>En última instancia, el resultado de esta lucha estará
determinado por el hecho que Rusia, India, China, y otras naciones,
representan la abrumadora mayoría de la población del planeta. </em></p>
<p><em>Y durante los últimos años esta mayoría es la que se ha visto
arrastrada a la lucha por la emancipación con extraordinaria rapidez, de
modo que a este respecto no puede haber la más mínima duda sobre cuál
será el resultado final de la lucha mundial. </em></p>
<p><em>“…lo que ahora nos interesa no es la inevitabilidad de una
victoria completa del socialismo, sino las tácticas que nosotros, el
Partido Comunista Ruso, el Gobierno soviético ruso, debemos aplicar para
evitar que los Estados contrarrevolucionarios de Europa occidental nos
aplasten</em>” (Lenin, 1923)</p>
<p>Al examinar la cuestión de cómo ganar tiempo, la idea más relevante
de Lenin es cómo identifica la contradicción dominante que impulsará la
historia en la era del imperialismo:</p>
<p>“<em>Para asegurar nuestra existencia hay que entender que el próximo
conflicto se producirá entre los países mas desarrollados y los países
orientales atrasados que, sin embargo, representan a la gran mayoría del
planeta…” </em></p>
<p>Antes de la ruptura chino-soviética, Mao Zedong trató de lograr la
aplicación de este postulado leninista, como lo hicieron más tarde Fidel
Castro y el Che Guevara, creando una organización «tricontinental»
para el combate contra el a. Pero, el PCUS de esa época rechazó esta
idea.</p>
<p>Hoy, frente a la gran ofensiva estratégica occidental contra Rusia y
la gran turbulencia en el gran Medio Oriente consecuencia del
monstruoso genocidio de Israel en Gaza, el vector estratégico clave
debería ser el identificado por Lenin justo antes de su muerte:</p>
<p>“<em>…el próximo gran conflicto militar se producirá entre el
Occidente imperialista contrarrevolucionario y el Oriente revolucionario
y nacionalista…”</em></p>
<p>El giro de Lenin hacia el Este no fue un movimiento repentino después
de una extraña epifanía.Lenin comprendió tempranamente que la
revolución se postergaba en los países centrales de Occidente. Ya en
1913 había invertido dialécticamente la ortodoxia marxista cuando tituló
un ensayo de manera polémica :“Europa está atrasada, Asia avanza”.</p>
<p><em>“…En todas partes de Asia está creciendo, extendiéndose y ganando
fuerza un poderoso movimiento democrático. La burguesía allí todavía
está del lado del pueblo contra la reacción… ¿Y que hace la Europa
supuestamente “avanzada”? Está saqueando a China…” (Lenin, 1913).</em></p>
<p>Después de la Revolución de Octubre (antes de la derrota del Ejército
Rojo en Polonia) y aunque la revolución en Occidente aún no había
retrocedido del todo, Lenin ya había completado un giro decisivo hacia
el Este.</p>
<p>En Moscú, de noviembre a diciembre de 1919, dirigiéndose al II
Congreso Panruso de Organizaciones Comunistas de los Pueblos del Este,
Lenin dijo:</p>
<p><em>“El tema de mi discurso son los asuntos de actualidad, y me
parece que los aspectos más esenciales de la actualidad es la actitud
de los pueblos del Este hacia el imperialismo…</em></p>
<p><em>Al período del despertar de Oriente a la revolución contemporánea
está sucediendo un período en el que todos los pueblos orientales
participarán en la decisión del destino del mundo, los pueblos
orientales ya no querrán ser objeto del enriquecimiento de occidente . </em></p>
<p><em>Los pueblos del Este están tomando conciencia de la necesidad de
acciones prácticas, de la necesidad de que cada nación participe en la
configuración del destino de toda la humanidad”.</em></p>
<p>Lenin ya había puesto su ojo de águila en el «Gran Oriente», antes de
la Primera Guerra Mundial, por no hablar de la Revolución de 1917 y su
retirada en el teatro occidental en 1920-1921. </p>
<p>Para Lenin el » gran Oriente», era la gigantesca periferia del sistema mundial dominado por las potencias imperialistas. </p>
<p>A la luz de esta visión nos parece que hoy no basta con limitar la
política estratégica a los ‘RIC’ como si Rusia-India-China
constituyeran una suerte de trilateralismo con suficiente amplitud
estratégica. </p>
<p><em>“… sin embargo, apenas los oportunistas se felicitan por la ‘paz
social’ y por la falta de revueltas en la democracia capitalista, se
abre en Asia una nueva fuente de grandes tormentas mundiales. A la
Revolución Rusa [1905] le están siguiendo revoluciones en Turquía,
Persia y China</em></p>
<p><em>Una era de tormenta se empieza a vivir . No importa cuál sea el
destino de la gran república china, contra la que ahora se afilan los
dientes las hienas «civilizadas». Hoy ninguna potencia occidental puede
restaurar la antigua servidumbre en Asia o borrar la heroica lucha de
masas en parte del mundo. …El hecho que Asia, con una población de 800
millones, se haya visto arrastrada a la lucha debería inspirarnos
optimismo y no desesperación.</em></p>
<p><em>Las revoluciones asiáticas nos han mostrado una vez más la cobardía y la bajeza del liberalismo europeo …” (Lenin, 1913).</em></p>
<p>Esta exaltación de las tempestades revolucionarias en Turquía, Persia
y China, es explicada por Lenin en un ensayo publicado en el 30
Aniversario de la muerte de Karl Marx. </p>
<p>Para Lenin era un elemento tan importante que llamó la atención a
Karl Radek, por su opinión sobre el imperialismo y la autodeterminación
nacional, en un ensayo anterior a 1917:</p>
<p><em>“…En primer lugar, es Radek quien mira hacia atrás, no hacia
adelante, cuando… mira hacia Gran Bretaña, Francia, Italia, Alemania, es
decir, a países donde el movimiento de liberación nacional es cosa del
pasado… , y no hacia Oriente, hacia Asia, África y las colonias, donde
este movimiento es una cosa del presente y del futuro. Basta mencionar a
India, China, Persia y Egipto” (Lenin, 1915). </em></p>
<p>Las referencias de Lenin a Turquía, Persia, China, India y Egipto en
estas intervenciones, y su permanente interés por las luchas de
liberación nacional, nos muestran que el vector principal de una
política internacional leninista es totalmente vigente para las
actuales “ tormentas mundiales”. </p>
<p><strong><em>Media Luna y Contrahegemónica</em></strong></p>
<p>Hoy, Rusia se enfrenta a un enemigo inmediato apuntalado e impulsado
por una superpotencia y un sistema que es global. La OTAN sigue
proporcionando a los ucranianos armamento ofensivo (incluidos los F-16)
para atacar a Rusia. </p>
<p>Por tanto cualquiera que sean las pausas y los reveses, el Occidente
colectivo (dentro del cual los antiguos satélites soviéticos son los más
hostiles) está decidido a librar una guerra interminable contra Rusia y
mantener una postura ofensiva indefinida.</p>
<p>Paralelamente existe una creciente resistencia a la hegemonía
unipolar, pero esa resistencia debe ser global. Puede globalizarse (así
como se globaliza la guerra contra Rusia) sólo si los rusos apoyan la
resistencia antiimperialista, a veces como vanguardia y otras, como
retaguardia. </p>
<p>La metodología leninista requiere entender el «gran Medio Oriente»
como el «eslabón más débil de la cadena» del imperialismo occidental y
hacer todo lo posible para fortalecer las luchas contrahegemónicas de
liberación nacional en todas partes, con Palestina como “el ojo de la
tormenta”.</p>
<p>Esto requiere una estrategia de círculos concéntricos, apoyando y
fortaleciendo el ‘Eje de Resistencia’ que incluye a Irán, mientras se
trabaja con aquellos países que como Turquía , Sudáfrica, Brasil, Chile y
Colombia han demostrado su solidaridad con Palestina.</p>
<p>Brzezinski acuñó el concepto de «Media Luna de la Crisis» para
justificar su exitosa estrategia antisoviética de provocación, con la
subsiguiente trampa de Afganistán. </p>
<p>Para devolver el favor, esta vez una ‘Creciente Crisis’ debería
enfrentarse con el principal adversario estratégico de Rusia y a su
brutal aliado regional.</p><p>Em</p><p>OBSERVATORIO DE LA CRISIS</p><p><a href="https://observatoriocrisis.com/2024/01/25/100-anos-despues-de-lenin-la-necesidad-de-una-estrategia-global-leninista/">https://observatoriocrisis.com/2024/01/25/100-anos-despues-de-lenin-la-necesidad-de-una-estrategia-global-leninista/</a></p><p>25/1/2024 <br /></p><br /></div>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-61289950542638793762024-01-24T05:36:00.000-08:002024-01-24T05:36:42.499-08:00El estado y la revolución, un libro imprescindible de Lenin<p> </p><header class="entry-header"><h1 class="entry-title" itemprop="headline"><br /></h1>
<p class="entry-meta"><time class="entry-time" datetime="2024-01-24T05:51:44+01:00" itemprop="datePublished">24 enero, 2024</time> by <span class="entry-author" itemprop="author" itemscope="" itemtype="https://schema.org/Person"><a class="entry-author-link" href="https://observatoriocrisis.com/author/obsadmin/" itemprop="url" rel="author"><span class="entry-author-name" itemprop="name">obsadmin</span></a></span> <span class="entry-comments-link"><a href="https://observatoriocrisis.com/2024/01/24/el-estado-y-la-revolucion-un-libro-imprescindible-de-lenin/#respond">Deja un comentario</a></span> </p></header><div class="entry-content" itemprop="text">
<p class="has-large-font-size">DRAGAN PLAVSIC, COLUMNISTA de COUNTERFIRE de LONDRES</p>
<p class="has-background" style="background-color: #e7e7e7;"><em><strong>No
hace falta decir que el año 2024 es muy diferente de la Rusia de 1917.
Sin embargo, los temas de lo que podría llamarse el “espíritu esencial”
del libro. Estado y la Revolución de Lenin siguen plenamente vigentes:
el Estado no es neutral sino un órgano de opresión de clase; y una
fuerza independiente de la clase trabajadora es el mejor antídoto contra
ese estado represivo</strong></em></p>
<p>Uno de los momentos decisivos en la vida política de Lenin fue un día
de 1914, cuando conoció la noticia que el Partido Socialdemócrata de
Alemania había votado en el Reichstag a favor del Estado Imperial y por
tanto a favor de una guerra entre imperios.</p>
<p>El impacto de esta traición fue tan grande que Lenin inicialmente
pensó que la noticia era falsa. Después de todo, el Partido Alemán
había sido desde los días de Marx y Engels, el partido socialista más
grande, e incluso el principal del mundo… y sus líderes habían votado
repetidamente contra la guerra en los congresos internacionales, y
habían prometido hacer todo lo “humanamente posible” para impedir que
estallara la guerra.</p>
<p>Inevitablemente, su traición (y otras traiciones en otros países europeos) plantearon algunas preguntas importantes. </p>
<p>¿Cómo fue que los socialistas alemanes, aparentemente partidarios
del pensamiento revolucionario de Marx y Engels, votaron a favor de
apoyar a su propio Estado en una guerra imperialista? </p>
<p>¿Cómo fue que llegaron a identificarse con su propio Estado, en lugar
de oponerse a él? ¿Este cambio no indicaba esto un error fatal en su
comprensión del «Estado»?</p>
<p>Los socialistas como Lenin que dedicaron su atención a la «cuestión
del Estado» pronto se encontraron ante una visión que sigue siendo muy
familiar hoy en día; el Estado sería una institución esencialmente
neutral.</p>
<p>Esta visión es compartida por los conservadores que afirman que el
Estado sirve al «interés nacional» y que «estamos todos juntos en este
barco».</p>
<p>Esta concepción, en el caso del reformismo socialdemócrata sostiene
que con las reformas adecuadas, el Estado neutral puede servir
imparcialmente al bien común.</p>
<p>Entonces, Lenin que tenía en su punto de vista muy diferente sobre
este tema cardinal decidió en el verano de 1917 escribir su famoso libro
El Estado y la revolución, para desmantelar la visión dominante de la
existencia de un Estado neutral </p>
<p class="has-large-font-size">¿Es el Estado neutral?</p>
<p>Lenin, citando abundantemente los escritos de Marx y Engels, utilizó tres argumentos clave.</p>
<p>El primero fue un argumento histórico, cuya irónica sutileza merece más apreciación de la que generalmente recibe.</p>
<p>Lenin explicó que no era una mera coincidencia que los «estados»
surgieran en la historia cuando las sociedades primitivas, apátridas y
todavía comunales estaban comenzando a romperse. En otras palabras, los
Estados surgieron en el mismo momento en que el «bien común» real se
estaba volviendo imposible. ¿Porque?</p>
<p>Porque éste era un momento de la historia en que las sociedades se
estaban fragmentando en intereses sociales opuestos, en clases
irreconciliablemente opuestas; en otras palabras, entre aquellos que
poseían los medios para producir riqueza y aquellos cuyo trabajo debía
ser explotado para producir esa riqueza. ¿Cómo podría haber un «bien
común» sustancial cuando las relaciones sociales se habían vuelto tan
irreconciliablemente antagónicas?</p>
<p>Además, para que sociedades tan profundamente divididas no se vieran
sumidas en una guerra civil perpetua entre clases opuestas, se necesitó
una autoridad especial para evitar lo que Marx llamó “la ruina común de
las clases en contienda”. </p>
<p>Así que, para mantener a raya los antagonismos de clase
potencialmente autodestructivos, esta autoridad especial, este «Estado»,
tendría que desplegar una fuerza armada separada de la sociedad, un
fuerza armada que fuera leal sólo a la clase dominante .</p>
<p>El análisis histórico nos permite concluir que el Estado no puede
servir al «bien común» porque su existencia misma como Estado, su razón
de ser, presupone una sociedad cuyos antagonismos sociales se han vuelto
irreconciliables. </p>
<p>El aparato armado del Estado es, por tanto, la expresión exterior de
un problema esencial: la inalcanzabilidad de un bien común en una
sociedad dividida en clases.</p>
<p>El segundo argumento que utilizó Lenin fue el argumento de clase, con el que estaba estrechamente asociado.</p>
<p>Un simple vistazo superficial a la historia nos muestra que los
Estados siempre han sido Estados de las clases económicamente
dominantes, de los propietarios de los medios para producir riqueza; un
hecho duro y claramente visible durante las crisis, cuando la
«neutralidad» se abandona sin contemplaciones en favor del apoyo al
opresor.</p>
<p>Este registro histórico no es casualidad ya que la clase propietaria
de los medios de producción está en la mejor posición, materialmente
hablando, para mantener la lealtad del ejército estatal, los
recaudadores de impuestos y los sacerdotes.</p>
<p>Por tanto, el Estado es la expresión más concentrada de la clase
dominante. Es la clase dominante, en una forma especialmente organizada,
que tiene como objeto gestionar sus asuntos comunes. No es neutral
porque no puede ser neutral. Por definición, el Estado es un órgano para
la opresión de una clase sobre otra.</p>
<p>El argumento final que utilizó fue crucial para comprender su propuesta de una alternativa revolucionaria al Estado.</p>
<p>Lenin argumentó que por la forma en que opera el Estado – y por su
carácter específico – los socialistas no pueden simplemente “apoderarse
del estado y utilizarlo por la autoemancipación de la clase
trabajadora. </p>
<p>Pero, ¿Porque? </p>
<p>Porque la característica estructural que define al Estado es que sus
diversas funciones son llevadas a cabo por «cuerpos especiales de
individuos» que actúan separados del resto de la sociedad, más que por
la sociedad en su conjunto.</p>
<p>Tomemos, por ejemplo, la visión convencional de la política. Para
esta concepción la política sería de dominio exclusivo de un «cuerpo
especial de personas» conocido como «políticos» elegidos para un “lugar
especial” llamado Parlamento, “donde se hace la política legítimamente”.</p>
<p>Desde ese punto de vista, organizaciones como Stop the War y la
Asamblea Popular simplemente no realizan política «real». En el mejor de
los casos, se les reconoce condescendientemente como «grupos de
presión»; en el peor de los casos, son tratadas como políticamente
ilegítimas.</p>
<p>Esta objeción de los políticos profesionales no solo se refieren a lo
que dicen estas organizaciones, sino también, de manera crucial, al
hecho que el ejercicio de la política no debería ser un asunto de masas ,
porque la política no de debería ejercerse más allá de los estrechos
confines de Westminster.</p>
<p>Lenin también le dedicó especial atención a los poderes coercitivos
del Estado. En particular, observó cómo la defensa de la sociedad era
asumida por un «cuerpo especial de personas armadas» llamado ejército
(comandado, por un cuerpo aún más específico de personas llamadas
generales), un ejército separado y distinto del resto de la sociedad
(basta ver cómo los soldados están uniformados y viven acuartelados ).
La defensa ya no es, como antes, una función de toda una sociedad; ahora
es la función política de un Estado separado de la gente.</p>
<p>De esta manera, el ejército sirve como arma de la clase dominante,
listo para ser desplegado contra la clase trabajadora cuando sea
necesario . Por eso, en toda situación revolucionaria, es urgente
responder a una pregunta: ¿qué se puede hacer para separar al ejército
del Estado y trasladar su lealtad a la sociedad en general, al pueblo? </p>
<p>De hecho, para las clases dominantes de todo el mundo, no hay
espectáculo más aterrador que un ejército que renuncia a su estatus
especial y confraterniza con un pueblo en rebelión.</p>
<p>Por lo tanto, la forma misma en que funciona el Estado, su carácter
mismo de coto funcional de «grupos especiales de personas», plantea
preguntas cruciales: ¿puede un Estado, entendido de la manera
convencional, servir realmente a los intereses de la clase trabajadora? </p>
<p>Y, si los trabajadores tomaran el poder en una revolución, ¿cómo
podrían ejercerlo si el poder continuara, en la práctica, ejercido por
estos «cuerpos especiales de personas» que desempeñan las funciones
especiales del Estado? ¿No terminarían los trabajadores cediendo su
poder revolucionario a un Estado que le es extraño?</p>
<p>Al resaltar esta incompatibilidad esencial entre el Estado y la
democracia obrera, Lenin llegó a una conclusión política decisiva e
irresistible: si los trabajadores realmente quieren tomar el poder en
sus propias manos, tendrían que destruir o “aplastar” el estado.</p>
<p>Esto suena dramático, y lo es, pero lo es sólo porque es
implacablemente democrático. Y es implacablemente democrático porque
concibe a la sociedad en su conjunto que se reapropia de las funciones
que alguna vez ejerció antes que «cuerpos especiales de personas»
conocidos como «el Estado» se transformara en un aparato para el dominio
exclusivo de unos pocos.</p>
<p>Esto plantea una pregunta clave, ¿ que pensaba Lenin que debería hacerse para reemplazar al Estado?</p>
<p class="has-large-font-size">¿Qué es una revolución socialista?</p>
<p>En febrero de 1917 el zar fue derrocado. Un gobierno provisional
asumió el poder y anunció su intención de librar a Rusia del gobierno
autocrático feudal e introducir una democracia liberal al estilo
occidental.</p>
<p>Al mismo tiempo, había surgido un poder muy diferente en los barrios
obreros de las ciudades industriales de Rusia en la forma de consejos de
trabajadores (soviets), o asambleas laborales elegidas
democráticamente. Durante la revolución , los consejos de trabajadores
tomaron el control de las fábricas y las localidades circundantes,
mientras que la autoridad del estado se reducía con cierta rapidez.</p>
<p>A pesar del creciente poder de los consejos de obreros, la facción de
lo bolcheviques moderados que dirigían el Partido antes del regreso de
Lenin del exilio se negaron a exigir la destitución del Gobierno
Provisional. En cambio, le ofrecieron un apoyo condicional. </p>
<p>Esta facción no veían que los consejos de trabajadores eran
instituciones embrionarias de un nuevo sistema de autogobierno popular ,
al contrario esperaban utilizarlas como un medio para obligar al
Gobierno Provisional a cumplir las promesas democráticas liberales que
había hecho al asumir el poder.</p>
<p>Por tanto, el regreso de Lenin a Rusia en abril fue decisivo.
Llegando denunció la actitud complaciente con el Gobierno Provisional.
En cambio, abogó por una oposición intransigente al Estado y, trabajó
para que los consejos de trabajadores arrebataran el poder al gobierno
provisional , una demanda resumida en la consigna “todo el poder para
los soviets”.</p>
<p>En esencia, Lenin defendía la transformación de una revolución
burguesa liberal en una socialista, o la reapropiación por parte de los
consejos de trabajadores de los poderes y funciones que el Estado había
expropiado originalmente a la sociedad. </p>
<p>Confiando en el apoyo de los militantes bolcheviques Lenin ganó el
Partido para un revolución que fuera más allá de los límites que imponía
la burguesía : la Revolución de Octubre.</p>
<p>Fue esta experiencia revolucionaria la que Lenin analizó (junto con
un estudio exhaustivo de Marx y Engels) en las páginas de El Estado y
la revolución, </p>
<p>En su conocido texto hay un mensaje clave: «Estado» y «revolución»
son opuestos estrechamente interrelacionados. No se puede entender qué
es una revolución (y actuar en consecuencia) sin entender qué es un
Estado, y no se puede entender qué es un Estado (y responder en
consecuencia) sin entender qué es una revolución.</p>
<p>Todo esto nos retrotrae a la traición de los socialistas alemanes de
1914, cuya historia ofrece el reflejo inverso de la visión de Lenin
sobre el Estado y la revolución; porque cuanto más el partido alemán se
identificaba con el Estado, más abandonaban el principio
revolucionario, y cuanto más abandonaban el principio revolucionario,
más se identificaban con el Estado. </p>
<p>La intervención de Lenin en abril de 1917 fue decisiva porque acabó
con una lógica esencialmente reformista, que había estado ganando
terreno incluso entre los propios bolcheviques.</p>
<p>Desde una perspectiva posrevolucionaria a más largo plazo, el
autogobierno popular que Lenin imaginaba surgir durante una revolución
obrera ya no sería un Estado en sentido convencional . </p>
<p>¿Cómo podría serlo si sus funciones debían estar en manos delos consejos de trabajadores elegidos democráticamente? </p>
<p>Sin embargo, Lenin describió ese autogobierno revolucionario en
términos claramente transicionales, como un “semiestado”, o simplemente
como un “estado proletario”. Ese pensamiento transicional era importante
por dos razones prácticas.</p>
<p>Aunque Lenin sostenía que asambleas democráticas de masas, como los
consejos de trabajadores, deberían actuar inmediatamente para
reapropiarse de las funciones estatales, también era consciente que los
trabajadores tendrían que aprender de la experiencia del autogobierno y,
de hecho, recibir formación para ello. </p>
<p>Por lo tanto, para contrarrestar las dañinas consecuencias de la
sociedad de clases, se necesitaría tiempo (técnicamente hablando, un
período de transición) para que los trabajadores adquirieran y
desarrollaran nuevas capacidades para nuevas experiencias. Sería en el
curso de este proceso revolucionario, a medida que la sociedad se
reapropiara de sus poderes originales, que el Estado convencional se
extinguiría paulatinamente </p>
<p>Pero también había una razón porque era correcto hablar de
transición: ¿cómo afrontaría el nuevo gobierno revolucionario la
inevitable amenaza de la contrarrevolución? La historia había demostrado
ampliamente (como lo demostraría nuevamente durante la Revolución Rusa)
que un opresor caído es tan peligroso como una bestia herida.</p>
<p>Por lo tanto, Lenin argumentó que la función clave del Estado como
órgano para la opresión de una clase por otra seguiría siendo necesaria,
pero con una diferencia fundamental: esta vez, sería el proletariado el
que tendría que reprimir a la burguesía para derrotar a la
contrarrevolución, Su derrota entonces sería un anticipo de la
desaparición del Estado.</p>
<p>El Estado y la Revolución es un texto clave. Sus preocupación
inmediata fue la traición de los socialdemócratas alemanes y el curso
futuro de la Revolución Rusa. Pero su valor duradero, aunque arraigado
en ese momento, se extiende mucho más allá de su tiempo histórico.
Lenin pudo comprobar la importancia mundial de los consejos de
trabajadores y entendió en que en esa forma de organización política se
encontraban los cimientos para una sociedad nueva, sin Estado y
autónoma. .</p>
<p class="has-large-font-size">¿Pero algo de esto es relevante hoy?</p>
<p>No hace falta decir que la Gran Bretaña de 2024 es muy diferente de
la Rusia de 1917. Sin embargo, los temas de lo que podría llamarse el
“espíritu esencial” del libro Estado y la Revolución de Lenin siguen
plenamente vigentes : el Estado no es neutral sino un órgano de opresión
de clase; y una fuerza independiente de la clase trabajadora es el
mejor antídoto contra ese estado represivo</p>
<p>En una Gran Bretaña, cuyo estado de ánimo se estuvo radicalizando con
Jeremy Corbyn, a llegado la hora de revertir los 40 años de
neoliberalismo que ha infectado a la sociedad de manera corrosiva con la
lógica de competencia en todos los ámbitos de la vida, desde la
recogida de basuras hasta el NHS.</p>
<p>La transformación neoliberal de Gran Bretaña fue una victoria de la clase dominante; su desaparición será una victoria nuestra.</p>
<p>Sin embargo, un rechazo del neoliberalismo por parte de la quinta
economía más grande del mundo constituiría, un desafío importante al
orden mundial actual y al papel del Estado británico en él.</p>
<p>El Estado y la clase dominante británicos no van a aceptar de brazos
cruzados semejante desafío a su poder nacional e internacional.</p>
<p>De esto se deduce que una izquierda que pone todas sus cartas en el
Parlamento (Westminster) es una izquierda que luchará en terreno hostil…
y perderá. Porque esta forma de hacer política significa conducir la
política de los acuerdo en los estrechos y egoístas términos del Estado y
de la clase dominante británica.</p>
<p>El rechazo a esos términos y la correspondiente acción de masas fuera
del Parlamento, donde la clase trabajadora puede ejercer plenamente su
fuerza, son esenciales si se quiere limitar la brutal maquinaria del
Estado británico.</p>
<p>Es en medio de un movimiento de masas donde una organización revolucionaria encuentra el mejor lugar para luchar y vencer. </p>
<p>Es allí donde la teoría del Estado de Lenin pueden plasmarse en una
realidad actuante. Es allí donde se pueden probar y comprobar el mejor
camino a seguir por el movimiento en su conjunto. Y es allí donde una
organización revolucionaria puede comenzar a cumplir lo que Lenin
consideraba una función clave: “ debemos elevar la espontaneidad al
nivel de la conciencia”.</p><p><br /></p><p>Em</p><p>OBSERVATORIO DE LA CRISIS</p><p><a href="https://observatoriocrisis.com/2024/01/24/el-estado-y-la-revolucion-un-libro-imprescindible-de-lenin/">https://observatoriocrisis.com/2024/01/24/el-estado-y-la-revolucion-un-libro-imprescindible-de-lenin/</a></p><p>24/1/2024</p></div>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-48476433376476322732024-01-20T09:28:00.000-08:002024-01-20T09:29:02.872-08:00La farsa de Ucrania, revisitada<p> </p><article aria-label="La farsa de Ucrania, revisitada" class="post-15554 post type-post status-publish format-standard has-post-thumbnail category-articulos category-inicio entry" itemscope="" itemtype="https://schema.org/CreativeWork"><header class="entry-header"><h1 class="entry-title" itemprop="headline"><br /></h1>
<p class="entry-meta"><br /></p></header><div class="entry-content" itemprop="text">
<p class="has-large-font-size">PEPE ESCOBAR, ANALISTA INTERNACIONAL </p>
<p class="has-background" style="background-color: #ececec;"><em><strong>Incluso
si el país 404 (Ucrania) es completamente derrotado en 2024, una vez
más es imperativo subrayarlo: esto está lejos de terminar. Lo han dejado
claro en Davos.</strong></em></p>
<p>Jugadores seleccionados diseminados por los silos de poder de
Beltway, están trabajando diligentemente como mensajeros para las
personas que realmente dirigen el espectáculo en la Hegemonía; han
llegado a la conclusión que una confrontación sin límites con Rusia
conduciría al colapso de toda la OTAN; terminaría con décadas de férreo
control estadounidense sobre Europa; y, en última instancia, provocaría
la caída del Imperio.</p>
<p>Tarde o temprano, jugar juegos arriesgados se encontraría con las
líneas rojas indestructibles incorporadas en el objeto ruso inamovible.</p>
<p>Las élites estadounidenses son más inteligentes que eso. Pueden
sobresalir en el riesgo calculado, pero cuando hay tanto en juego, saben
cuándo protegerse y cuándo retirarse.</p>
<p>No vale la pena arriesgar la “pérdida” de Ucrania –ahora un
imperativo evidente– con la pérdida de todo el viaje hegemónico. Sería
demasiado que perder para el Imperio.</p>
<p>Así que, incluso cuando se desesperan por la acelerada caída imperial
en un abismo geopolítico y geoeconómico, están cambiando frenéticamente
la narrativa, un ámbito en el que sobresalen.</p>
<p>Y eso explica por qué los desconcertados vasallos europeos en la UE controlada por la OTAN están ahora en pánico total.</p>
<p>Esta semana Davos ofreció montones de ensalada orwelliana con mensajes frenéticos y fuera de sí: la guerra es paz. Ucrania <em>no</em> está perdiendo y Rusia no está ganando. Por lo tanto, Ucrania necesita mucho más armamentismo.</p>
<p>Hasta al noruego Wood Stoltenberg se le dijo que siguiera la nueva
línea que importa: “La OTAN no se está moviendo hacia Asia. Es China la
que se está acercando a nosotros”. Esto ciertamente añade un nuevo
significado extraño a la noción de placas tectónicas en movimiento.</p>
<p class="has-large-font-size">Mantener el motor de Forever Wars en funcionamiento</p>
<p>Hay un vacío total de “liderazgo” en Washington. No existe ningún
“Biden”. Solo existe el “Team Biden”: una combinación corporativa que
incluye mensajeros de bajo costo como el neoconservador de facto Little
Blinkie. Todos estos mensajeros hacen lo que les dicen los “donantes”
ricos y los intereses financieros-militares que realmente dirigen el
espectáculo, recitando las mismas viejas líneas saturadas de clichés día
tras día, son actores secundarios en un Teatro del Absurdo.</p>
<p>Sólo una exposición es suficiente.</p>
<p>Periodista: “¿Están funcionando los ataques aéreos en Yemen?”</p>
<p>El Presidente de los Estados Unidos: “Bueno, cuando usted dice
funcionar, yo diría ¿están deteniendo a los hutíes? La respuesta es No.
¿Van a continuar? Sí.»</p>
<p>Lo mismo que pasa con este “pensamiento estratégico” se aplica a Ucrania.</p>
<p>La potencia hegemónica no está siendo arrastrada a luchar en Asia
occidental, por mucho que el acuerdo genocida de Tel Aviv con los
sioconservadores estadounidenses, quiera arrastrarla a una guerra contra
Irán.</p>
<p>Aún así, la máquina imperial está siendo dirigida para mantener el
motor de Forever Wars funcionando, sin parar, y a diferentes
velocidades.</p>
<p>Las élites a cargo son mucho más clínicas que todo el Equipo Biden.
Saben que no ganarán en lo que pronto será el país 404. Pero la victoria
táctica, hasta ahora, es muy importante: obtener ganancias enormes
gracias al frenético uso de armas; destripar totalmente la industria y
la soberanía europea; reducir a la UE al subestatus de un humilde
vasallo; y de ahora en adelante habrá tiempo para encontrar nuevos
guerreros sustitutos contra Rusia, desde fanáticos polacos y bálticos
hasta toda la galaxia takfiri-neo ISIS.</p>
<p><a href="http://smoothiex12.blogspot.com/2024/01/from-plato-to-natoc.html">Desde Platón hasta la OTAN</a>
, puede que sea demasiado pronto para afirmar que todo ha terminado
para Occidente. Lo que casi ha terminado es la batalla actual, centrada
en el país 404. Como subraya Andrei Martyanov, correspondía a Rusia,
“empezar a desmantelar lo que hoy se ha convertido en la casa de los
demonios de Occidente … y se está haciendo nuevamente al estilo ruso:
derrotándolo en el campo de batalla”.</p>
<p>Esto complementa el detallado análisis realizado por el nuevo libro del historiador francés Emmanuel Todd.</p>
<p>Sin embargo, la guerra está lejos de terminar. Como dejó muy claro Davos, no se darán por vencidos.</p>
<p>La sabiduría china dicta que “cuando quieras herir a un hombre con
una flecha, primero golpea a su caballo. Cuando quieras capturar a todos
los bandidos, primero captura a su jefe”.</p>
<p>El “jefe” –o los jefes– ciertamente están lejos de ser capturados.
BRICS+ y la desdolarización pueden tener una oportunidad de lograrlo a
partir de este año.</p>
<p class="has-large-font-size"> El fin plutocrático</p>
<p>Bajo este marco, incluso la corrupción entre Estados Unidos y Ucrania
que implica interminables círculos de robo de la generosa “ayuda”
estadounidense, como reveló recientemente el ex parlamentario ucraniano
Andrey Derkach, es un mero detalle.</p>
<p>No se ha hecho ni se hará nada al respecto. Después de todo, el
propio Pentágono no pasa todas las auditorías. Estas auditorías, por
cierto, ni siquiera incluyeron los ingresos de la enorme operación
multimillonaria de heroína en Afganistán, con Camp Bondsteel en Kosovo
establecido como centro de distribución para Europa. Las ganancias se
las embolsaron agentes de inteligencia estadounidenses de forma
clandestina.</p>
<p>Cuando el fentanilo reemplazó a la heroína como plaga interna de
Estados Unidos, no tenía sentido seguir ocupando Afganistán: fue
abandonado después de dos décadas al puro estilo Helter Skelter, dejando
atrás más de 7 mil millones de dólares en armas.</p>
<p>Es imposible describir todos los anillos concéntricos de corrupción y
crimen organizado institucionalizado del Imperio de un Occidente
colectivo con un feroz lavado de cerebro. Los chinos, una vez más, al
rescate. El Taoísta Zhuangzi (369 – 286 aC): “No se puede hablar del
océano con una rana que vive en un pozo, no se puede describir el hielo a
un mosquito estival y no se puede razonar con un ignorante”.</p>
<p>A pesar de la humillación cósmica de la OTAN en Ucrania, esta guerra
indirecta contra Rusia, contra Europa y contra China sigue siendo la
mecha que podría encender una Tercera Guerra Mundial antes del final de
esta década. Quien lo decidirá es una plutocracia extremadamente
enrarecida. No, Davos no: estos son sólo sus portavoces y payasos.</p>
<p>Rusia ha reactivado un sistema de fábrica militar a la velocidad del
rayo, con una capacidad que ahora es aproximadamente 15 veces mayor que
en enero de 2022. A lo largo de la línea del frente hay alrededor de
300.000 soldados, además en la retaguardia hay dos ejércitos de pinzas
de cientos de miles de tropas móviles en cada pinza: están preparado
para crear un doble envolvimiento del ejército ucraniano y aniquilarlo.</p>
<p>Incluso si el país 404 es completamente derrotado en 2024, una vez
más es imperativo subrayarlo: esto está lejos de terminar. Los
dirigentes de Beijing comprenden perfectamente que la hegemonía es un
desastre en proceso de desintegración. Ante el camino a la secesión la
única manera de mantenerse unidos sería una guerra mundial. </p>
<p>Es hora de releer a TS Eliot en más de un sentido: <em>“Tuvimos la experiencia pero perdimos el significado, y el acercamiento al significado restaura la experiencia”.</em></p>
</div><footer class="entry-footer"><p class="entry-meta"><br /></p><p class="entry-meta">Em</p><p class="entry-meta">OBSERVATORIO DE LA CRISIS</p><p class="entry-meta"><a href="https://observatoriocrisis.com/2024/01/20/la-farsa-de-ucrania-revisitada/">https://observatoriocrisis.com/2024/01/20/la-farsa-de-ucrania-revisitada/</a></p><p class="entry-meta">20/1/2024</p></footer></article>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-73035794963634681972024-01-16T17:35:00.000-08:002024-01-16T17:35:14.223-08:00 A famosa travessia do Rio Yangzi de Mao na Revolução Cultural finalmente explicada<p> <br /><br /> <br /><br /> Ramin Mazaheri – 04 de janeiro de 2024 – [Traduzido com permissão<br /> do autor]<br /><br /> O confucionismo, o I Ching e o socialismo trabalham juntos - basta perguntar a Xi<br /><br /><br /><br />/In memoriam estou republicando um capítulo do meu livro sobre a China.<br />Este capítulo foi o único capítulo republicado pela<br /><https://mronline.org/2018/04/17/maos-legacy-defended-and-famous-swim-decoded-for-clueless-academics/> mais antiga revista socialista continuamente publicada nos Estados Unidos, a Monthly Review. /<br /><br />/Em 1966, Mao atravessou o rio Yangzi (Yangtze), produzindo vasta<br />consternação ocidental e até mesmo ridicularização, mas inspirando a<br />Revolução Cultural<br /><https://kottke.org/20/02/the-swim-that-kicked-off-chinas-cultural-revolution> na China. /<br /><br /><https://sakerlatam.org/wp-content/uploads/2024/01/photo_2024-01-15_19-28-12-1.jpg><br /><br />/Até onde eu sei, *este artigo é o único lugar onde você pode encontrar<br />uma explicação plausível para a travessia de Mao. */<br /><br />/Essa é uma afirmação extremamente ousada, mas afirmo que os colegas<br />intelectuais de Mao entenderam seu simbolismo. Continue lendo, mas a<br />resposta está enraizada na realidade de que o confucionismo não<br />apenas voltou<br /><https://news.cgtn.com/news/78457a4d32457a6333566d54/index.html> sob Xi<br />– já estava latente sob Mao e provavelmente é uma característica<br />permanente da cultura chinesa. /<br /><br />/Sinta-se à vontade para comentar se concorda ou discorda, e – para<br />deixar claro – a republicação gratuita de qualquer um dos meus escritos<br />é sempre aprovada. /<br /><br /> *Capítulo 4: Defesa do legado de Mao e decodificação da famosa<br />travessia para acadêmicos sem noção *<br /><br />Há uma grande e hilária história sobre Mao durante a Revolução Cultural,<br />que é transmitida no livro didático de padrão universitário<br />ocidental,/ //China: A New History/<br /><https://www.goodreads.com/book/show/178794.China> pelo “corifeu em<br />assuntos da China no Ocidente”, John King Fairbank<br /><https://en.wikipedia.org/wiki/John_King_Fairbank>, da Universidade de<br />Harvard, que “é creditado com a construção do campo de estudos da China<br />nos Estados Unidos”.<br /><br />No final de 1965, começaram os rumores da Revolução Cultural, devido a<br />resmungos sobre corrupção, revisionismo (“tomar o caminho capitalista”,<br />vender o socialismo etc.) e o tecnocratismo esnobe das zonas urbanas. O<br />partido, liderado por Mao, via essas tendências como ameaças ao bem<br />comum, à revolução e ao “Mandato Celestial” do Partido — o conceito<br />milenar de que os governantes da China são escolhidos pelo Céu para<br />governar e que devem realmente exibir essa divindade por meio de conduta<br />e liderança perfeitamente morais — ou então a revolta é justificada.<br /><br />Mao, sendo o grande líder progressista que era, era contra essas<br />tendências antissocialistas. Mas havia pouca coisa que ele poderia fazer<br />sozinho. Mao havia lançado nada menos que sete campanhas anticorrupção<br />desde 1949, mas sem sucesso: o problema estava profundamente enraizado e<br />fora do alcance de um homem – mesmo que se presuma que Mao era o<br />totalitário “Mao, o Terrível” que o Ocidente o retrata.<br /><br />Com décadas de luta anti-imperialista e anticapitalista claramente sob<br />ameaça de reacionários domésticos, em 1966 Mao supervisionou a Diretiva<br />de 16 de maio do Partido para afirmar claramente a ameaça: “…eles<br />tomarão o poder político e transformarão a ditadura do proletariado em<br />uma ditadura da burguesia”. Decodificado: os pró-capitalistas corruptos<br />transformarão a China em uma democracia (burguesa) estilo Europa Ocidental.<br /><br />E de uma perspectiva da política externa em 1966, uma crise estava sem<br />dúvida à porta da China: os EUA estavam invadindo maciçamente o Vietnã,<br />e o maior partido comunista do mundo que não estava no poder estava<br />sendo vítima de um genocídio literal na Indonésia, com o apoio dos EUA.<br /><br />Além de fazer declarações políticas a um Partido que continha muitos<br />quadros que só estavam preocupados em aumentar seus lucros, ele tinha<br />apenas um outro recurso – a opinião popular.<br /><br />Isso foi todo o preâmbulo. Isso me leva a essa grande e hilária história.<br /><br />*‘Atravessando o grande rio’: para entender a situação é preciso<br />primeiro entender o seu significado *<br /><br />A releitura de Fairbanks:<br /><br /> /“Na segunda fase da Revolução Cultural, de agosto de 1966 a janeiro<br /> de 1967, o presidente Mao foi um grande showman. O obediente Liu<br /> Shaoqi, já condenado à ruína, estava orquestrando o movimento<br /> antirrevisionista entre os fiéis do partido. Em julho de 1966, o<br /> público chinês ficou eletrizado ao saber que Mao tinha vindo para o<br /> norte, parando no caminho para nadar no Yangzi. Como os chineses<br /> rurais geralmente não sabiam nadar e poucos aventureiros já haviam<br /> tentado o Yangzi, era como a notícia de que a rainha Elizabeth II<br /> havia nadado no Canal. Ele era obviamente um modelo de atletismo<br /> capaz de feitos sobre-humanos. (Fotos mostrando sua cabeça em cima<br /> da água sugerem que Mao não nadou crawl, nem deu braçada lateral,<br /> nem nadou de costas ou nadou peito, mas nadou à sua própria maneira<br /> de pé – não sobre a água. Ele foi cronometrado a uma velocidade<br /> incomumente rápida.) /<br /><br />Hilariante! E escrito com o máximo de esforço para o humor também! O que<br />diabos Mao estavam fazendo?! Aqueles chineses inescrutáveis – nunca os<br />entenderemos! Mao estava apenas sendo Mao – um tirano excêntrico – mas<br />essa ganhou o troféu! Elizabeth II nadando no Canal, LOL – bom show!<br /><br />É uma pena que Fairbanks – um dos principais formadores de pensamento<br />americanos sobre a China por décadas – não tivesse ideia de porquê tal<br />movimento “eletrificou” a China. Fairbanks sugere que a manifestação de<br />Mao foi puro auto-engrandecimento na moda mais individualista e<br />eleitoral do Ocidente: “Eu sou tão sobre-humano que posso esmagar toda a<br />dissidência – apenas me observe nadando “cachorrinho” no Yangzi.<br /><br />Uma pena que isso não faz sentido algum.<br /><br />De tempos em tempos, a travessia de Mao é relatada<br /><http://www.scmp.com/magazines/post-magazine/long-reads/article/1999098/chairman-maos-historic-swim-glorified-china> pelos ocidentais como sendo “carregada de simbolismo para o povo chinês”, mas *nunca vi o simbolismo realmente explicado.*<br /><br />Isso é muito ruim, porque o que essa história prova é o quão próximo Mao<br />era do público; como ele falava sua língua; por que o público o adorava<br />(ainda o faz e sempre o fará); e porque ele era um democrata tão<br />confiante e libertador de pessoas.<br /><br />*Além do ‘teatro’ político e dentro do reino da religiosidade política *<br /><br />Este foi o significado que Fairbanks não entendeu e que muitos do Povo<br />da China também não:<br /><br />O livro ético dos chineses é o I Ching, o “Livro das Mutações”, que é o<br />livro mais antigo do mundo por uma razão: pode ser estupidamente usado<br />como uma ferramenta de adivinhação – assim como abrir o Alcorão em uma<br />página aleatória é usado para “dar conselhos” a alguns muçulmanos – mas<br />o I Ching é verdadeiramente um guia mestre da moralidade humana e<br />celestial.<br /><br />Resumidamente, o I Ching examina 64 conceitos, condições e estados<br />éticos, pessoais e sociais. Medita-se longamente sobre uma série de<br />conceitos – “Influência Mútua”, “Juntando”, “Escuridão”, “Procedendo<br />Humildemente”, “Ainda Não Cumprido” etc. – e o livro discute seu<br />verdadeiro significado, como eles progridem em estágios e como eles se<br />inter-relacionam com outros conceitos.<br /><br />De fato, a inter-relação desse primeiro sistema binário (yin-yang)<br />atinge uma espécie de nível de unidade da “Teoria das Cordas Sociais”, e<br />com moralidade social e orientação divina onipresentes (embora não<br />abraâmica, é claro). Ao estudar o I Ching, pode-se ver como, quando e<br />por que esses 64 conceitos / oportunidades éticas são apropriadas (ou<br />não), e também obter instruções sobre como eles provavelmente mudarão –<br />a mudança sendo a única constante neste mundo mortal.<br /><br />Ocasionalmente, neste livro, há uma frase: “Favorável para atravessar<br />grandes rios”.<br /><br />Quando o I Ching diz que é “favorável atravessar grandes rios”, isso<br />significa que é o momento certo para ousar o maior dos empreendimentos.<br />Na verdade, esta frase reflete a quantidade máxima de boa sorte possível<br />— é a melhor notícia possível, e significa que o céu lá em cima não<br />poderia olhar por você ou seus planos de forma mais favorável.<br /><br />Os julgamentos do I Ching podem ser negativos, neutros, ligeiramente<br />favoráveis etc. Se diz “Não é favorável cruzar grandes rios”, significa:<br />pare o que está fazendo e não tente.<br /><br />Mas nada é melhor do que “Favorável para atravessar grandes rios”.<br />Significa: “tenha coragem, o céu sorri para você, você é justo, você<br />está em sintonia com a ética, em sintonia com o Tao (um conceito chinês<br />muito semelhante ao Espírito Santo), humanidade e natureza” etc.<br /><br />Então, para Mao, atravessar literalmente o grande rio em julho de 1966<br />era dizer enfaticamente, fisicamente e religiosamente a todo o povo<br />chinês: “Junte-se a mim para ousar este grande empreendimento da<br />Revolução Cultural. Atravesse o grande rio agora – na vida real.”<br /><br />Quando alguém é, portanto, capaz de olhar para a travessia de Mao<br />através dos olhos de uma pessoa chinesa e pode entender completamente o<br />contexto cultural, bem como o contexto histórico/político, então<br />finalmente vemos como isso poderia ter “eletrificado” a China: para os<br />chineses, é realmente como se ele tivesse reencenado uma cena da Bíblia.<br /><br />A única maneira de compará-lo para os iranianos é assim: para defender o<br />direito soberano do Irã a um programa de energia nuclear, o Líder<br />Supremo Khamenei viaja para Karbala, no Iraque, e tem uma luta de boxe<br />com Mike Tyson. (Se você não entende isso, por favor, não finja me dizer<br />que conhece o Irã, nossa religião e nossa cultura.) Tenho certeza de que<br />os iranianos estão sorrindo, não por causa da idade avançada de Khamenei<br />e do absurdo de tal luta, mas porque sabem exatamente o que quero dizer:<br />isso seria uma reconstituição da aniquilação gloriosa e garantida –<br />portanto, o martírio voluntário – de Imam Hossein, que inspira todos os<br />xiitas tanto quanto o sofrimento de Jesus para os cristãos (ainda mais<br />em 2018, eu diria, como mostram as peregrinações anuais de vários<br />milhões a Karbala<br /><https://en.wikipedia.org/wiki/Arba%27een_Pilgrimage> e que a mídia<br />ocidental certamente NÃO quer mostrar).<br /><br />Para explicar aos franceses: para exigir a reversão do Brexit, o<br />neoliberal Macron vai a Rouen e respondendo as questões da mídia<br />enquanto está amarrado a uma estaca.<br /><br />Para os americanos: concordando com a russofobia, Trump convida Putin<br />para conversas diplomáticas, mas depois pessoalmente comanda um navio<br />através do Potomac para capturar surpreendentemente o líder russo, como<br />George Washington.<br /><br />Mao sabia o que estava fazendo? Como filho de um fazendeiro rico,<br />frequentou a escola, onde foi, sem dúvida, instruído nos<br />clássicos chineses<br /><https://en.wikipedia.org/wiki/Four_Books_and_Five_Classics>; já que a<br />educação girava em torno deles. Mao também sabia que outras pessoas<br />educadas eram igualmente instruídas no I Ching. A única pergunta que não<br />posso responder definitivamente, já que nunca fiquei imerso na cultura<br />popular chinesa, é: qual é a probabilidade de que a pessoa comum esteja<br />familiarizada com os ditos dos clássicos chineses e do I Ching?<br /><br />Acho que podemos dizer com confiança: “Pelo menos um pouco familiar”,<br />não? Cresça no Ocidente e você estará familiarizado com os ditos<br />bíblicos, mesmo que não seja cristão. É universalmente relatado que a<br />travessia de alguma forma galvanizou a nação, e duvido que tenha sido a<br />cena de um velho nadando cachorrinho. Em uma questão perpétua na<br />semiótica: por que isso, e não aquilo? Ou seja, por que não escalar uma<br />montanha para “eletrificar” as pessoas, derrubar uma cerejeira ou salvar<br />um cordeiro? Você certamente não pode argumentar com os resultados – só<br />podemos tentar explicá-los.<br /><br />E, no entanto, Fairbank – o estudioso da China mais conhecido do público<br />e da academia dos EUA – claramente não tinha ideia do que Mao estava<br />fazendo, o que representava e por que era inspirador. Fairbank<br />claramente nem tinha lido o I Ching, talvez o fundamento mais importante<br />da cultura chinesa, apesar de ser o primeiro “estudioso” da China da<br />Universidade de Harvard. Essa é uma receita para erudição terrível,<br />ensino terrível e alunos ignorantes, mas arrogantes.<br /><br />É uma erudição típica do Ocidente, e que foi tão soberbamente<br />desmascarada pelo /Orientalismo/ de Edward Said. São os estudiosos que<br />não vão a terras estrangeiras para aprender e respeitar a cultura local<br />– eles vão lá para fazer proselitismo de suas próprias ideias e voltar<br />com histórias que confirmam os estereótipos padrão, quase como se nunca<br />tivessem estado lá. Assim como aqueles que costumavam ser chamados de<br />“estudiosos orientais” nunca leram o Alcorão, duvido muito que o<br />conhecimento de Fairbank sobre a China se estenda além do superficial e<br />além do que era útil para ele como americano.<br /><br />Portanto, não é de admirar, para quem entende o significado cultural,<br />como a China não entrou em erupção em uma revolução delirante, doce,<br />moderna e violenta contra forças reacionárias logo após a travessia. A<br />travessia foi a tentativa obviamente bem-sucedida de Mao de inspirar o<br />Povo e tranquilizar o Povo de que (alguns de) sua liderança estava do<br />lado deles e do lado de preservar a revolução popular que a nação<br />trabalhou tão duro para instalar.<br /><br />Há outros fatos e anedotas da história a serem relatados para defender<br />Mao, mas escolhi este porque ilustra como Fairbank e os ocidentais que<br />estudaram a China, e nos deram nossa “sabedoria” da suposta tirania de<br />Mao, na verdade têm muito pouca compreensão da alma chinesa. Sua<br />erudição existe para defender suas próprias ideias, não para entender as<br />qualidades surpreendentes de outras culturas, e são genuínas apenas em<br />seu antissocialismo reacionário. E, no entanto, essas são as pessoas que<br />informam os estudantes, jornalistas e cidadãos de hoje no Ocidente.<br /><br />Mas novos estudiosos, como Jeff J. Brown e seu excelente relato factual<br />da história chinesa desde 1949, China is Communist, Dammit<br /><https://www.amazon.com/China-Communist-Dammit-Dawn-Dynasty/dp/6027354380>, entram sem remorso na onda de desaprovação ocidental para fornecer uma história que é realmente simpática ao povo chinês.<br /><br />Eu poderia ter continuado dando mais e mais fatos e estatísticas para<br />provar que o mandato de Mao beneficiou muito a pessoa comum – quanto<br />tempo você tem? – porque há muitos. Felizmente, ao contrário de quando<br />eu estava crescendo, eles agora estão realmente disponíveis na internet<br />para todos encontrarem.<br /><br />Em vez de usar estatísticas, pensei que essa anedota mostrasse quão<br />pateticamente perdida, quão desinteressada, quanta falta de alma as<br />pessoas que informam o Ocidente sobre a China realmente tiveram. Ao<br />contrário de Brown, os estudiosos do establishment sobre a China não<br />estão tentando aprender, entender ou defender o povo chinês – eles estão<br />tentando conquistá-lo culturalmente. Se isso falhar — então conquistá-lo<br />militarmente.<br /><br />Para provar minha objetividade: um chinês está mais qualificado para<br />verificar a relação entre a travessia de Mao e o I Ching. Mas e se eles<br />não leram os clássicos chineses? Conversei com dois punhados de chineses<br />que conheço e nenhum os leu – todos com menos de 40 anos – e, portanto,<br />eles não estão qualificados para fazer essa verificação. Essa hipótese,<br />portanto, permanece para os chineses verificarem, mas eu digo que a<br />evidência circunstancial é importante: só porque eu não vi essa hipótese<br />em outro lugar, isso só confirma que muito poucas pessoas leram os<br />clássicos chineses, e os analisaram em um sentido político, e escreveram<br />sobre essa análise em uma língua ocidental.<br /><br />Fairbank não fez isso, embora fosse sua responsabilidade fazer<br />exatamente isso. Espero que algum estudioso político chinês possa<br />confirmar minha teoria, mas quantos deles leem inglês? Esse é o ritmo<br />lento da globalização / conscientização cultural, mas a internet está<br />acelerando essas coisas, como mostra este artigo.<br /><br />*Reabilitar Mao é improvável – não há vontade de mudar no Ocidente *<br /><br />John Lennon estava certo: “Se você for carregar fotos do presidente Mao<br />/ você não vai chegar a lugar nenhum com ninguém, de qualquer maneira.”<br /><br />Ora, porque poucas pessoas na década de 1960 no Ocidente eram<br />verdadeiramente politizadas (exceto os afro-americanos). Obviamente,<br />quase nenhum era revolucionário dedicado porque o Ocidente tinha zero<br />revoluções. Eles procuravam menestréis como os Beatles para liderar uma<br />Revolução – mas sua famosa música “Revolution” é claramente projetada<br />para se apropriar da palavra longe da esfera política: as letras<br /><https://genius.com/The-beatles-revolution-lyrics> não são apenas<br />apolíticas, mas 100% antipolíticas.<br /><br />Muitos na década de 1960 com certeza se posicionaram como<br />revolucionários, no entanto. Minha impressão é que o principal objetivo<br />deles era “chegar a algum lugar” com o sexo oposto, e isso realmente não<br />é algo revolucionário na história da humanidade.<br /><br />A ironia é que, se Lennon entendesse Mao – se Lennon tivesse<br />compreendido o objetivo da Revolução Cultural, que relatei no artigo<br />anterior<br /><http://thesaker.is/when-chinese-trash-saved-the-world-western-lies-about-the-cultural-revolution/> desta série – ele teria visto que a visão anti-establishment e anti-corrupta de Mao dos anos 1960 de “pessoas de meia-idade / idosas”, seus slogans como “É certo se rebelar”, era incrivelmente rock and roll!<br /><br />Politicamente, a culpa não é de Mao, mas de Lennon. Afinal, Lennon é um<br />típico niilista político e espiritual ocidental.<br /><br />Em sua música “God” <https://genius.com/John-lennon-god-lyrics>, Lennon<br />diz que não acredita em nada, incluindo o I Ching, mesmo listando-o<br />antes da Bíblia. Ele também não acredita em pessoas, ideias ou métodos:<br />ele só acredita em si mesmo. “Eu acredito em mim/ Yoko e eu/ e essa é a<br />realidade”.<br /><br />Então Lennon acreditava no individualismo e em seu amor romântico — isso<br />é bom, para ele.<br /><br />Lennon conclui opinando que “o sonho acabou” — e que ele “era o tecelão<br />dos sonhos”. O significado literal para Lennon, o ícone dos anos 60,<br />parece claro – ou talvez ele estivesse nos dando uma ideia inspirada no<br />hinduísmo de que “a vida é um sonho”. Lennon termina dizendo que, em<br />1970, “Você só tem que continuar / o sonho acabou”. Isso nos lembra hoje<br />do slogan “Keep calm and carry on” /[mantenha a calma e siga em frente –<br />nota do tradutor]/ que varreu a Inglaterra durante a crise financeira de<br />2009, um hino ao seu conservadorismo deliberadamente cego que não<br />tolerará nem mesmo a ideia de discutir a ideia de mudar o status quo<br />independentemente de qualquer crise.<br /><br />O que é certo é que, culturalmente, Lennon influenciou o caminho do<br />Ocidente e, em 1970, ele pressagiou sua descida ao individualismo total<br />e ao niilismo, em vez de manter sua própria revolução cultural.<br /><br />Então, quando se trata de Lennon e Mao: quem é o homem do povo, o<br />revolucionário social e o especialista em ética, e quem é apenas outro<br />egoísta egocêntrico caricato? Quem é o homem da mudança social e quem é<br />o homem do status quo pedindo a todos que nem se incomodem em tentar? A<br />resposta é clara, e certamente é o oposto da crença dominante do Ocidente.<br /><br />De fato, quem teria pensado que os menestréis usuários de drogas<br />acabariam ficando entediados com questões mundanas, complexas e sociais?<br />Talvez o Ocidente possa recorrer a um baterista de jazz que usa heroína<br />para obter conselhos sobre modelos de planejamento urbano, hmmm?<br /><br />Se você quiser ouvir um pouco de guitarra crua e uma ótima voz de canto,<br />pode-se recorrer a Lennon – ele é fantástico; mas o incrível é que os<br />ocidentais se voltam para ele em busca de orientação política.<br /><br />*Devemos defender Mao? *<br /><br />Não, isso nos fará parecer chatos, e os John Lennons do mundo nos<br />chamarão de “quadrados”.<br /><br />A má notícia é: você certamente é um quadrado se leu até aqui!<br /><br />Sério: Sim, devemos, principalmente, reconhecer humildemente o<br />julgamento superior do povo chinês sobre sua própria história. O povo<br />chinês defende Mao, e isso deve ser suficiente para esquerdistas em todo<br />o mundo.<br /><br />É a arrogância que se recusa a se submeter ao julgamento dos habitantes<br />locais, porque a menos que você conheça profundamente sua cultura,<br />língua, história, tenha vivido lá extensivamente etc., é pura arrogância<br />julgar suas principais questões culturais. É por isso que admiti<br />abertamente as limitações de minhas interpretações da cultura popular<br />chinesa em relação à minha hipótese “A travessia de Mao & o I Ching”.<br /><br />A aprovação popular é um juiz quase infalível, não? Castro, Khomeini, Ho<br />Chi Minh, Sankara, Mao – todos são universalmente amados em seus países<br />de origem. Pol Pot, por exemplo, é um líder esquerdista que não é<br />reverenciado pelos cambojanos, por isso não é como se todos os<br />esquerdistas fossem amados (Pol Pot era um xenófobo fanático e,<br />portanto, não era um verdadeiro esquerdista). A Líbia está um pouco<br />dividida sobre o legado de Khadaffi, mas suas virtudes certamente<br />aparecem claramente em retrospecto.<br /><br />Portanto, devemos defender Mao, porque devemos defender o julgamento do<br />povo chinês; fazer o contrário é afirmar que mais de 1 bilhão de pessoas<br />são incapazes de pensar com clareza. Se 50 milhões de fãs de Elvis não<br />podem estar errados, como pode 1 bilhão de fãs de Mao?<br /><br />Acho que Fairbank, mesmo que realmente falasse com o povo chinês comum<br />sobre Mao, nunca estava disposto a relatar honestamente sua opinião.<br /><br />Brown, no entanto, conversou com “milhares” de chineses ao longo de suas<br />décadas morando lá. Ele diz que, enquanto criticam aspectos do Partido<br />Comunista:<br /><br /> /“Mas, apesar de tudo, posso dizer com segurança que cerca de 98%<br /> dos chineses com quem conversei gostam de Mao e do que ele fez pela<br /> China. Sua imagem adorna táxis, como um amuleto de São Cristóvão,<br /> para afastar acidentes. Ele está nas paredes de escritórios,<br /> empresas, restaurantes de propriedade privada – estes são privados,<br /> não do governo. São cidadãos que decidiram mostrar sua admiração<br /> pelo homem, por conta própria. Ele está em todos os lugares. Como<br /> isso pode acontecer diante da demonização implacável da mídia,<br /> educadores, historiadores e políticos ocidentais?” /<br /><br />As pessoas dirão: é porque o governo chinês bloqueia a verdade sobre Mao<br />– oh, se eles pudessem ouvir nossas puras vozes ocidentais!<br /><br />Tal resposta, novamente, de forma imprecisa e arrogante, implica que o<br />Ocidente conhece a história e a cultura chinesas melhor do que os<br />próprios chineses. O governo declarou abertamente que Mao estava “70%<br />certo e 30% errado”, então não é como se houvesse um culto de<br />personalidade dominante e patrocinado pelo Estado.<br /><br />Além de respeitar a opinião local obviamente mais bem informada – um<br />ponto que a maioria trata como secundário – eu quase me recuso a ter a<br />conversa “Mao era mau” por mais de 15 segundos. Dou 15 segundos pois fui<br />criado para ser educado.<br /><br /> * Confundir Mao com Hitler é confundir duas pessoas que lutaram uma<br /> contra a outra — é inerentemente absurdo.<br /> * Afirmar que Mao era tão ruim quanto os fascistas japoneses ou os<br /> capitalistas americanos também confunde grupos com sistemas de<br /> crenças e objetivos muito diferentes.<br /> * Afirmar que Mao é pior ou tão ruim quanto os líderes americanos,<br /> franceses e ingleses que demitiram milhões enquanto Mao tentava<br /> defender esses milhões dessas invasões estrangeiras é absurdo.<br /><br />Em 1978, dois anos após a morte de Mao, o coeficiente de Gini<br /><https://en.wikipedia.org/wiki/Gini_coefficient> da China (a medida de<br />desigualdade mais comumente usada) era de 0,16. A pontuação mais baixa<br />atualmente é de 0,25 (Finlândia). É justo dizer que o objetivo mais<br />importante de Mao era criar uma sociedade igualitária: ele teve maior<br />sucesso do que quase qualquer um, em todos os tempos.<br /><br />Então eu terminei com isso, e rápido.<br /><br />*O poderoso Mao nunca foi do Ocidente para ser tirado, e ele nunca irá<br />embora *<br /><br />A discussão do Ocidente sobre Mao – juntamente com a fome do Grande<br />Salto Adiante e a Revolução Cultural – baseia-se na ignorância, na<br />arrogância e no niilismo político de “revolucionários” fracassados e<br />reacionários endurecidos.<br /><br />Repetindo, para estatísticas concretas sobre a melhoria socioeconômica<br />para o chinês médio durante a administração de Mao (e não apenas desde<br />as reformas de Deng), você pode comprar o livro de Brown. Brown explica<br />como Mao superou um bloqueio pior do que o do Irã para produzir um<br />crescimento maciço com igualdade — Mao claramente teve sucesso em ambos<br />e repassou aos seus concidadãos!<br /><br />Mas, como mostra o cínico Lennon, sempre foi difícil para o Ocidente<br />compreender a revolução moral e ética que inspirou a nação e a<br />construção da nação que Mao personificou: eles tomaram dois caminhos<br />muito diferentes. O que é tão tipicamente ocidental é que eles insistem<br />em puxar a China para sua estrada com pedágio, em vez de se contentarem<br />em viver e deixar viver em paz mútua.<br /><br />Lennon disse que Elvis morreu quando se juntou ao exército, mas isso não<br />é verdade: Elvis morreu quando se juntou a Hollywood após sua dispensa,<br />e não era mais um grande músico, mas apenas mais um ator falso. Quando<br />Lennon morreu como revolucionário? Não posso dizer com certeza, mas sua<br />rejeição de Mao é um bom lugar para começar.<br /><br />Ninguém vai dizer que Lennon não teve enorme sucesso em seu campo<br />escolhido, mas por quanto tempo o julgamento de Fairbank e outros<br />“estudiosos” ocidentais de excelência pode perdurar quando podemos<br />provar tão facilmente como eles não respeitaram ou entenderam a cultura<br />chinesa?<br /><br />Mesmo que seja fundamental para a compreensão da China, ninguém se<br />importa com o confucionismo no Ocidente – tudo o que você ouvirá é sua<br />contraparte yin, feminina e passiva – o taoísmo. Muitos livros taoístas<br />na livraria ocidental local, com certeza – quantos sobre o<br />confucionismo? Acho que o confucionismo yang, masculino, criativo,<br />dinâmico e propagador não combina com viagens de ácido ou medicamentos<br />farmacêuticos de alta intensidade?<br /><br />Não estou surpreso que o Partido Comunista esteja de volta à promoção do<br />confucionismo – o I Ching não é proibido na China – e não estou surpreso<br />que eles o prefiram ao taoísmo, que diz: “Atravesse o grande rio? Para<br />quê? Qual rio?” Essa coisa está ligada?”<br /><br />(Claramente, sou ainda pior estudioso do taoísmo do que do confucionismo.)<br /><br />Não me surpreende que a mídia ocidental veja Mao como “100% errado”: o<br />Ocidente tem sido uma cultura imperialista, extremista e racista por 500<br />anos, e uma cultura antissocialista fanática por 100 anos.<br /><br />Mas estou surpreso que os esquerdistas ocidentais não defendam Mao nem<br />mesmo 30%. Seu principal problema é: eles não compraram livros como o de<br />Brown porque livros como o de Brown simplesmente não existiam até muito,<br />muito recentemente. Antes da queda do Muro de Berlim, um livro como o de<br />Brown teria feito com que você fosse preso no Ocidente, ou pior. A<br />internet está mudando isso, e isso não pode ser interrompido – apenas<br />desacelerado.<br /><br />Parabéns a Brown e elogios eternos a Mao, por ser tão correto e corajoso<br />quanto qualquer um dos principais políticos do século XX.<br /><br />E sem desculpas se minha imagem do presidente Mao não vai ganhar<br />ninguém, de qualquer maneira. Eu sei que vai ficar tudo bem. Para a<br />China, pelo menos.<br /><br />------------------------------------------------------------------------<br /><br />/Ramin Mazaheri é o correspondente chefe para a PressTV em Paris e vive<br />na Franca desde 2009. Ele é repórter de jornais cotidianos nos EUA, e<br />faz reportagens do Irã, Cuba, Egito, Tunísia, Coréia do Sul e outros<br />lugares. Seu último livro é France ‘s Yellow Vests: Western Repression<br />of the West’ s Best Values<br /><https://www.amazon.com/Frances-Yellow-Vests-Western-Repression/dp/0578396416/ref=sr_1_1?crid=1YDAD2GK7BOIP&keywords=Ramin+Mazaheri&qid=1702491436&sprefix=ramin+mazaher,aps,207&sr=8-1>. Ele também é o autor de ‘Socialism‘s Ignored Success: Iranian Islamic Socialism ’ <https://www.amazon.com/Socialisms-Ignored-Success-Iranian-Socialism/dp/6239364460/ref=sr_1_1?dchild=1&keywords=Ramin+Mazaheri&qid=1595102570&sr=8-1>, bem como ‘I ‘ll Ruin Everything You Are: Ending Western Propaganda on Red China <https://www.amazon.com/Ill-Ruin-Everything-You-Are/dp/6025095434/ref=pd_sbs_14_1/133-4968827-7518463?_encoding=UTF8&pd_rd_i=6025095434&pd_rd_r=1150c092-9969-4d67-ae7f-9a9d610646c4&pd_rd_w=dEg8F&pd_rd_wg=bi8W9&pf_rd_p=bdc67ba8-ab69-42ee-b8d8-8f5336b36a83&pf_rd_r=RA2A7H7TXRZ7FSWHMSZ0&psc=1&refRID=RA2A7H7TXRZ7FSWHMSZ0>’, que também está disponível em chinês simplificado <https://www.kobo.com/ww/en/ebook/QlDNhfQU4DWNOKg29JQTsg> e tradicional <https://www.amazon.com/dp/B08B36MR25/>. Qualquer republicação de qualquer um dos meus artigos é aprovada e apreciada. /<br /><br />Fonte:<br />https://raminmazaheri.substack.com/p/maos-famous-cultural-revolution-swim<br /><br />Em<br /><b>SAKERLATAM</b><br /><a href="https://sakerlatam.org/a-famosa-travessia-do-rio-yangzi-de-mao-na-revolucao-cultural-finalmente-explicada/">https://sakerlatam.org/a-famosa-travessia-do-rio-yangzi-de-mao-na-revolucao-cultural-finalmente-explicada/</a><br />16/1/2024<br /><br /></p>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5530774535807471434.post-31972675579352175892024-01-10T09:34:00.000-08:002024-01-10T09:34:55.695-08:00 Ese texto-acontecimiento llamado Manifiesto Comunista<p> <br /><br /><br /><br />ISABELLE GARO, FILÓSOFA FRANCESA<br /><br />/*A través del Manifiesto podremos apreciar mejor la urgente necesidad<br />de una reflexión estratégica sobre nuestra época, que no eluda la<br />cuestión del Estado pero que tampoco se limite a ella. Leer y releer el<br />Manifiesto sigue siendo, por tanto, una experiencia insustituible.*/<br /><br />El Manifiesto del partido comunista, escrito en vísperas de la<br />revolución de 1848, es la más conocida de las obras de Karl Marx y<br />Friedrich Engels y la que más se ha difundido en todo el mundo. Pese a<br />su notoriedad, ese breve texto salido sobre todo de la pluma de Marx, en<br />modo alguno es un tratado de teoría política de alcance universal. Obra<br />a la vez analítica e impetuosa, atravesada por un aliento revolucionario<br />que ha perdurado más allá de su época, es precisamente por haber nacido<br />de circunstancias singulares que sigue hablándoles directamente a<br />quienes la descubren a más de 150 años de distancia.<br /><br />Esta breve presentación tiene como propósito esclarecer esa paradoja:<br />volver a situar en su contexto el Manifiesto no es congelar su ímpetu en<br />una imagen fija amarilleada por el paso del tiempo, es reinscribir esa<br />obra en el marco de una historia que se extiende del nacimiento del<br />capitalismo a su senilidad devastadora; historia jalonada de<br />revoluciones y de combates ayer y hoy, que no han renunciado a construir<br />otro mundo. <br /><br />Es también afirmar la persistencia y la pertinencia de la revolución,<br />cuyas formas —por definición— han de ser reinventadas, a la luz de las<br />derrotas y los desastres, pero también de sus victorias, sus invenciones<br />y sus conquistas. Existe, por tanto, una profunda filiación entre las<br />esperanzas de aquella época y las nuestras, cuya urgencia es<br />proporcional a la devastación que tiene lugar hoy en día.<br /><br />De ahí la importancia de volver a examinar las condiciones en que se<br />escribió el Manifiesto a lo largo de varias secuencias que se entrelazan<br />entre sí. La primera concierne al propio Marx, a su evolución teórica, a<br />su implicación política y militante cada vez mayor, pero también a<br />Engels, cuya contribución fue esencial. <br /><br />La segunda concierne al momento excepcional con el que coinciden la<br />redacción y la publicación del Manifiesto: la revolución de 1848, que<br />desde hacía años se presagiaba. <br /><br />Una tercera secuencia concierne a la redacción propiamente dicha del<br />texto, que conoció varias etapas y ocupó su lugar en los debates<br />internos de la Liga de los comunistas. Por último, es necesario volver<br />sobre la pregunta inicial que sirve de motivo de esta nueva edición:<br />¿por qué el Manifiesto sigue hablándonos?<br /><br />Маrx y Engels en su época<br /><br />En primer lugar, es necesario volver sobre la trayectoria de Marx, no<br />porque su obra sea resultado de la elaboración lineal de sus primeras<br />intuiciones sino, por el contrario, porque las inflexiones de su<br />pensamiento estuvieron determinadas por decisiones políticas y teóricas,<br />en ningún momento directamente separables de las circunstancias<br />históricas excepcionales a que tuvo que hacer frente. <br /><br />Desde ese punto de vista, el Manifiesto es uno de sus escritos más<br />emblemáticos, en la medida en que conjuga el análisis de una situación<br />concreta con el esfuerzo por intervenir en ella de forma crítica y<br />militante, inaugurando así una nueva concepción del trabajo intelectual.<br /><br />Marx nació en 1818 en Tréveris, pequeña ciudad de Renania que llevaba la<br />impronta de una historia singular: antaño capital del Imperio Romano,<br />situada en el camino hacia Coblenza —que había sido la base de<br />retaguardia de los ejércitos blancos en guerra contra la Revolución<br />Francesa—, es ocupada en 1794 por el ejército de la Convención. Al<br />principio, los contingentes revolucionarios fueron acogidos con<br />entusiasmo por una parte de la población, que deseaba que desaparecieran<br />las estructuras feudales y monárquicas que regían una Alemania<br />fragmentada y dominada por el muy reaccionario Reino de Prusia.<br /><br />A partir de 1797, Tréveris y toda Renania quedan bajo jurisdicción<br />revolucionaria y, en consecuencia, se procede a la abolición de la<br />servidumbre y de los privilegios, se proclama la igualdad ante la ley y<br />se establecen la libertad de industria y de comercio. Es cierto que son<br />la burguesía y los terratenientes quienes entonces se benefician más de<br />esas medidas, pero también lo es que una cultura política francófila<br />comienza a echar raíces entre la población renana. <br /><br />Más tarde, tras la batalla de Waterloo y el Congreso de Viena de 1815,<br />cuando Tréveris pasa a formar parte de Prusia, esa autoritaria<br />incorporación se percibe, en primer lugar, como una anexión y un<br />retroceso: el rey de Prusia, Federico Guillermo III, uno de los<br />iniciadores de la Santa Alianza, era un ferviente partidario de que se<br />restableciera el absolutismo feudal en Europa, a despecho de las<br />aspiraciones populares.<br /><br />A partir de ese momento, las protestas sociales y políticas no dejan de<br />ir en aumento: en 1832, en Hambach, no lejos de Tréveris, durante dos<br />días se congregaron casi 30.000 personas en una manifestación política,<br />en la que se reivindicaban la libertad de culto, la promulgación de una<br />constitución y la unidad alemana y en la que, incluso, algunos de los<br />participantes se atrevieron a hablar de una venidera revolución armada.<br />En 1835, el dramaturgo Georg Büchner escribió el primer manifiesto de la<br />revolución social en Alemania, con el que se lanzó la célebre consigna<br />de «¡Paz a las chozas! ¡Guerra a los palacios!» . Es en esa cultura<br />alemana que también hunde sus raíces el Manifiesto.<br /><br />Las protestas de aquel entonces carecían de una fuerza organizada y<br />terminaron por adoptar la forma de un movimiento literario, la Joven<br />Alemania (Junges Deutschland) que de inmediato se convirtió en blanco de<br />la censura prusiana. Forzados al exilio, sus miembros se establecieron<br />en París y es allí donde Marx —tras haber emigrado— se encuentra en 1844<br />con el poeta Heinrich Heine. <br /><br />La Joven Alemania desaparece a finales de la década de 1840, al mismo<br />tiempo que surge un movimiento hegeliano de protesta en que toma cuerpo<br />una nueva oposición a la monarquía prusiana y a su carácter confesional.<br />Entretanto, la burguesía liberal trata cautelosamente de hacer valer sus<br />intereses a través de una prensa crítica. En cuanto a los levantamientos<br />populares, todos son violentamente reprimidos por las autoridades prusianas.<br /><br />Karl Marx, quien por entonces no había cumplido veinte años y se<br />encontraba inmerso en sus estudios de derecho y de filosofía —que lo<br />llevaron de Bonn a Berlín—, terminó uniéndose a los jóvenes<br />intelectuales hegelianos. Esos estudios, dictados sobre todo por la<br />necesidad de encontrar rápidamente empleo, lo obligan a hacer frente con<br />frecuencia cada vez mayor a temas de actualidad, así como a la filosofía<br />hegeliana. Hegel había llegado a ser el más influyente de los filósofos<br />de la época y sus reflexiones políticas y jurídicas ocupaban el centro<br />de los debates. <br /><br />Para algunos, las ideas de Hegel legitimaban el absolutismo, mientras<br />que para otros lo repudiaban. Marx, que había hecho suya la lectura<br />crítica de la obra de Hegel por los jóvenes hegelianos, propuso sin<br />embargo un enfoque original, que se apartaba de la denuncia de la<br />religión y reorientaba su análisis hacia la cuestión del Estado en su<br />relación con la vida social.<br /><br />En ese contexto marcado por la represión, en 1842 —perdida toda<br />esperanza de iniciar una carrera académica— Marx se lanzó a hacer el<br />tipo de periodismo que por aquel entonces hacía irrupción en la escena y<br />en el cual van de la mano investigaciones y análisis teóricos en<br />profundidad y declaraciones públicas y columnas literarias. <br /><br />Tras haberse convertido en uno de los principales redactores del<br />periódico liberal Gaceta Renana, Marx tuvo que vérselas tanto con las<br />convicciones de los accionistas del periódico como con la censura. A<br />pesar de todo, pudo ahondar en su análisis de cuestiones políticas y<br />sociales como la libertad de prensa, la situación de los campesinos, la<br />confrontación entre el derecho moderno y el derecho feudal a propósito<br />de la legislación sobre el robo de madera; todas esas cuestiones lo<br />llevaron a elaborar un pensamiento informado y deseoso de influir en las<br />realidades que describía, sin renunciar por ello a la elaboración<br />conceptual.<br /><br />En 1843, luego de que las autoridades prusianas prohibieran la Gaceta<br />Renana, Marx rompió con el campo liberal, que nunca había sido el suyo y<br />que se había mostrado incapaz de oponerse a esas medidas represivas. <br /><br />Se exilió en París, capital de la revolución y meca de la emigración<br />alemana, no sin antes escribir una exhaustiva crítica de la concepción<br />hegeliana del Estado[1]. Por esa misma época, escribió también su<br />conocido artículo Sobre la cuestión judía, en que —oponiéndose con ello<br />a Bruno Bauer, con quien lo unía la amistad— elaboraba un análisis del<br />derecho y del Estado que subordinaba el análisis de la religión moderna<br />al de la relación económica y social en vías de maduración: el capitalismo.<br /><br />En la llamada introducción «de 1844», que por entonces escribió, Marx<br />localizó y nombró por primera vez la fuerza ascendente de la historia,<br />el proletariado, único grupo social con la capacidad de obrar por la<br />emancipación de todos los oprimidos. Los proletarios no se definen por<br />su pobreza, sino por su situación social: desposeídos de los medios de<br />producción, condenados al trabajo asalariado, en ellos encarna la<br />injusticia fundamental de la sociedad burguesa pero también, por ese<br />mismo hecho, la posibilidad y la necesidad de una transformación radical<br />de las relaciones sociales, de una revolución política y social.<br /><br />Ese giro lo llevó a proclamarse comunista, término con que se designaba<br />ante todo una opción resueltamente revolucionaria. Marx está lejos de<br />ser el único: antes que él, Moses Hess y Friedrich Engels habían<br />adoptado la misma orientación, cuyo blanco principal era la gran<br />propiedad privada y cuya meta era la igualdad radical. La opción de<br />Marx, sin embargo, presenta desde el principio una ligera diferencia: ya<br />en 1844, consideraba que la revolución debía ser también una revolución<br />de la propia política, contra su confiscación por el Estado en cuanto<br />entidad separada.<br /><br />La revolución por venir también tendría que aunar a la teoría con la<br />práctica, en las antípodas de todo conocimiento eclipsante y de sus<br />especialistas, meros productos de una alienante división del trabajo que<br />a su vez impedía toda comprensión recíproca de ese mismo proceso. Marx<br />afina su estilo: «Es cierto que el arma de la crítica no puede sustituir<br />a la crítica de las armas […], pero también la teoría se convierte en<br />fuerza material tan pronto como se apodera de las masas[2].»<br /><br />Sin embargo, Marx seguía viendo en el proletariado a un «elemento<br />pasivo» cuyo encuentro con la teoría debía transformarlo en fuerza<br />consciente. Ya en el verano de 1844, tras analizar la revuelta de los<br />tejedores de Silesia, que el ejército prusiano había ahogado en sangre,<br />Marx hizo suya la causa de los huelguistas y los amotinados. En esa<br />ocasión redefine al proletariado como fuerza activa, portadora por<br />derecho propio de la revolución tanto política como social. Aunque ese<br />análisis sigue siendo general, tiene el mérito de preparar el futuro<br />encuentro de Marx con las primeras organizaciones obreras, en Francia y<br />sobre todo en Inglaterra, encuentro que al mismo tiempo modificaría ese<br />planteamiento inicial, en función de los avances de su análisis pero<br />también de su propia actividad militante y de la rica cultura política<br />que ésta le aportaba.<br /><br />A partir de ese momento, Marx llega a la conclusión de que las ideas<br />revolucionarias surgían como resultado de contradicciones históricas, de<br />las que, sin embargo, no eran simple reflejo: en ciertos casos, las<br />propias ideas pueden contribuir a inventar y orientar el futuro, sin que<br />por ello dejen de estar determinadas por las circunstancias de su época. <br /><br />El espacio propio de una nueva política toma forma en esa brecha. El<br />Manifiesto, por su lado, se inscribe en esa perspectiva revolucionaria,<br />que busca transformar el conocimiento y la acción de manera conjunta y<br />recíproca. Para Marx, el término «comunismo» daba nombre ante todo a esa<br />invención colectiva en curso, empeñada en devolver a los seres humanos<br />el control sobre su vida social e individual, más que un proyecto<br />predefinido que poner en práctica.<br /><br />En París, Marx colaboró con publicaciones periódicas radicales<br />franco-alemanas, como los Anales franco-alemanes y Vorwärts! También se<br />consagró a estudiar las diversas tendencias del socialismo y el<br />comunismo franceses, frecuentó las pequeñas organizaciones de exiliados<br />alemanes y se dio a la lectura de obras de economistas franceses y<br />británicos. <br /><br />Marx tenía conciencia de que el comunismo era una corriente más radical<br />y coherente que el socialismo, pero a la vez estaba convencido de que<br />aquél debía renovarse radicalmente para salir de la clandestinidad y de<br />la cultura de la conspiración y el utopismo. Es por esa misma época<br />cuando se encuentra por segunda vez con Friedrich Engels: los pocos días<br />que pasaron juntos en París los llevaron a la conclusión de que estaban<br />plenamente de acuerdo y a abrazar el proyecto de trabajar juntos a<br />partir de entonces.<br /><br />Friedrich Engels nació en 1820. Su padre era propietario de una gran<br />fábrica de algodón en Manchester (Reino Unido) y Barmen (Alemania).<br />Desde muy joven, Engels abraza las ideas críticas y las concepciones de<br />los jóvenes hegelianos, descubre por sí solo la filosofía hegeliana y se<br />une a los círculos intelectuales de Berlín. Se declara socialista y<br />pronto comienza a publicar artículos. En represalia, su padre,<br />horrorizado por las ideas políticas del hijo, lo exilió a Manchester en<br />1842. En vano: el encuentro de Engels con el mundo industrial y con<br />Moses Hess lo condujeron rápidamente al comunismo.<br /><br />En Inglaterra, su descubrimiento tanto del capitalismo inglés como de la<br />economía política clásica le brindó la oportunidad de escribir, en 1844,<br />un Esbozo de una crítica de la economía nacional[3], texto breve,<br />original e impactante que causó una profunda impresión en Marx, a quien<br />le servirá de base para sus análisis posteriores. El artículo ofrece una<br />descripción documentada y fundamentada de la lógica que subyace al<br />capitalismo, responsable tanto de un gigantesco auge de la producción<br />como de un deterioro sin precedentes de las condiciones de vida y de<br />trabajo de la clase obrera.<br /><br />Para Engels, profundamente afectado por las huelgas de masas que habían<br />aglutinado a varios millones de trabajadores ingleses durante la crisis<br />económica de 1842, esas contradicciones estaban llamadas a aumentar,<br />allanando así el camino de una revolución social. Hay que recordar que<br />el cartismo, surgido a finales de la década de 1830, fue la primera<br />organización de masas en Europa. En 1845, Engels publicó La situación de<br />la clase obrera en Inglaterra[4], consagrada a los obreros ingleses,<br />cuyos sufrimientos y luchas describe.<br /><br />Cuando se produce el encuentro inicial entre Marx y Engels, sus<br />respectivas concepciones se diferenciaban en más de un aspecto, pero sus<br />preocupaciones políticas y teóricas convergían en lo fundamental. De<br />inmediato deciden escribir juntos La Sagrada Familia[5], irónicamente<br />subtitulada «Crítica de la crítica crítica», que aparece en febrero de<br />1845 y que estaba dirigida en particular contra Bruno Bauer y otros<br />miembros de la juventud hegeliana con quienes Marx y Engels habían<br />llegado a entablar amistad. <br /><br />Antes de la publicación de esa obra conjunta, el propio Marx había<br />escrito una serie de ensayos, los Manuscritos de 1844, en los que<br />exponía su concepción de la historia, la alienación y la emancipación y<br />debatía por primera vez las tesis centrales de la economía política clásica.<br /><br />En esos manuscritos, Marx procedió a reelaborar el concepto hegeliano de<br />alienación, mientras forjaba una nueva teoría de la historia,<br />resueltamente materialista, que se distanciaba de la filosofía<br />hegeliana. Fue en un nuevo manuscrito, La ideología alemana, escrito en<br />colaboración con Engels, donde elaboró una concepción en que se otorgaba<br />a la producción, a sus condiciones históricas sociales y jurídicas y a<br />su dimensión política y cultural el lugar que les correspondía. En esa<br />obra polémica, continuación de La Sagrada Familia, se refina el análisis<br />de las ideas dominantes, de su génesis y de su función dentro del modo<br />de producción capitalista. Esa ideología es inseparable de la división<br />del trabajo y de la formación de una categoría social de intelectuales<br />profesionales, que en su mayoría están al servicio de las clases dominantes.<br /><br />La cuestión ideológica, sin embargo, no puede separarse del análisis<br />histórico global y del estudio de las contradicciones generadas por una<br />sociedad que se basa en la explotación y la alienación de los<br />productores y en unas relaciones de propiedad que hacen posible la<br />apropiación y la acumulación de la riqueza por las clases dominantes. <br /><br />La subordinación de los intelectuales —productores de ideas en una<br />sociedad de clases intrínsecamente conflictiva— confiere a las<br />representaciones filosóficas, jurídicas, morales, religiosas y<br />artísticas su propia función, pero también su relativa autonomía. Sin<br />duda, las ideas ejercen una influencia propia, por lo que redactar el<br />manifiesto de una organización obrera tendrá sentido sólo sobre la base<br />de semejante convicción.<br /><br />En Miseria de la filosofía, panfleto escrito en 1847 y dirigido contra<br />Proudhon y su Filosofía de la miseria, Marx prosiguió su tarea crítica<br />orientándola aún más hacia las representaciones difundidas por la<br />economía política. La crítica de esta última deviene una preocupación<br />cada vez más central, directamente vinculada con la perspectiva<br />revolucionaria: la supresión de las clases, la conquista del Estado y su<br />abolición y la superación de la filosofía harían posible la libre<br />asociación de los productores. En esa obra, Marx aborda por primera vez<br />la cuestión de las huelgas y las coaliciones obreras, al reflexionar<br />sobre la importancia de la conciencia de clase como condición para la<br />construcción gradual de un «partido» obrero. Las movilizaciones sociales<br />proporcionaron la base para la formación de una fuerza política<br />unitaria: «No digáis que el movimiento social excluye al movimiento<br />político. Jamás hay movimiento político que al mismo tiempo no sea<br />movimiento social[6].»<br /><br />En su conjunto, esas obras, escritas en el espacio de unos pocos años,<br />dan testimonio de la rápida evolución del pensamiento de Marx en<br />consonancia con su acelerada maduración política. Las acompaña una<br />multitud de textos breves, notas —las famosas «Tesis sobre<br />Feuerbach»[7]—, cartas y artículos en los que el pensamiento crítico se<br />reinventa en relación con una realidad que necesita ser transformada.<br />Toda la labor intelectual y militante de Marx se dirigía entonces hacia<br />un solo objetivo: la revolución que se vislumbraba en el horizonte.<br /><br />A su vez, esa revolución ascendente se refracta en el propio trabajo<br />teórico y contribuye a transformar las formas de escritura, sus<br />objetivos y su público y, más ampliamente, la propia concepción del<br />conocimiento en su relación con la realidad. <br /><br />El Manifiesto habría de llevar a su punto más alto semejante<br />transformación: si bien no es la obra más lograda de Marx, sí es la más<br />accesible y la de mayor vuelo, arrastrada por un formidable aliento que<br />el propio Manifiesto trata de avivar. También es la obra que más lejos<br />llega en la exploración de las formas colectivas de conocimiento que son<br />uno de los objetivos del comunismo.<br /><br />El Manifiesto jalona la elaboración de un pensamiento que pugna por<br />estar en sintonía con su tiempo y que, por eso mismo, revela desde el<br />principio su naturaleza profundamente política, haciéndose así eco de un<br />momento histórico excepcional, abierto a bifurcaciones y decisiones<br />cruciales. Es importante subrayar —en contra de cualquier lectura<br />lineal— que, por su trayectoria, en modo alguno Marx estaba predestinado<br />a elaborar científicamente sus primeras intuiciones. Inmerso en las<br />contradicciones que describe, atravesado por ellas antes de analizarlas,<br />fue desplegando paulatinamente su proyecto en relación con las<br />circunstancias concretas —en parte azarosas, en parte previsibles— que<br />lo llevaron a optar por la revolución y a entregarse a ella con todas<br />sus fuerzas.<br /><br />El Manifiesto se redacta en un momento en que todo parecía posible. La<br />derrota de 1848 llevaría a Marx a replantearse la cuestión del Estado y<br />su conquista, la de la organización y las alianzas, pero también a<br />profundizar mucho más en el funcionamiento del capitalismo, labor que<br />alcanzaría su pináculo con El Capital[8]. Obra matricial de la que jamás<br />sus autores renegarían, el Manifiesto se reeditará en numerosas<br />ocasiones. Sus tesis, moduladas y contextualizadas por sucesivos<br />prefacios escritos por Marx y Engels, nos permiten medir la permanente<br />reelaboración que caracteriza la obra de Marx, tanto en el plano<br />conceptual como en el estratégico.<br /><br />El Vormärz<br /><br />Si ninguna obra es inseparable de su contexto, ello es especialmente<br />cierto en el caso del Manifiesto. A finales de 1847, la revolución que<br />se avecinaba desde hacía tiempo parecía inminente ante una combinación<br />de contradicciones sociales y políticas: en Alemania, ese período se<br />conoce como el Vormärz, es decir, el período anterior a marzo de 1848.<br />Hay que retroceder unos años para comprender esa situación. Fueron la<br />derrota de Napoleón y la destrucción de la Grande Armée, que se había<br />lanzado a la conquista de Europa, lo que brindó a las antiguas élites<br />nobiliarias la oportunidad de retomar el control. En el Congreso de<br />Viena de 1815, las grandes potencias reconfiguraron el mapa tanto de<br />Europa como del resto del mundo, asegurándose de preservar el equilibrio<br />entre ellas sin tener en cuenta las aspiraciones populares.<br /><br />Gran Bretaña emergió como la mayor potencia, no sólo en términos<br />industriales sino además coloniales y militares. En Francia, los<br />Borbones habían vuelto al trono, si bien la Carta mitigaba su poder.<br />Austria recibió el encargo de mantener el orden, mientras Prusia<br />ampliaba su territorio y la Rusia autocrática mantenía su hegemonía<br />continental.<br /><br />Esa Europa reconfigurada dispersó a los pueblos y los aplastó, atizando<br />así los reclamos de liberación nacional y justicia social. Al igual que<br />ocurría en Italia, el desarrollo comercial e industrial y las<br />aspiraciones democráticas de Alemania tenían como obstáculo a una<br />miríada de pequeños Estados, algunos de los cuales permanecían bajo<br />jurisdicción eclesiástica. Al fin y al cabo, aquel intento por<br />reconstruir un orden mundial duradero terminó por generar una<br />inestabilidad sin precedentes: a partir de 1830, se sucedieron las<br />oleadas revolucionarias en todo el planeta.<br /><br />Al mismo tiempo, en Europa Occidental, el capitalismo se desarrolla a un<br />ritmo desigual pero rápido. El auge de una nueva organización de la<br />producción y de nuevas relaciones sociales va a la par con el ascenso de<br />una poderosa burguesía industrial y financiera, que aspira a reformas<br />políticas pero que no renuncia a imponer rigurosos límites al carácter<br />democrático de las instituciones. <br /><br />Paralelamente, la revolución industrial va acompañada de un<br />empeoramiento de las condiciones de trabajo y de vida de los sectores<br />populares, lo que sirve de fomento de la circulación de ideas<br />contestarias, socialistas y comunistas, sobre todo en las filas del<br />nuevo proletariado.<br /><br />Otras transformaciones contribuyen a desestabilizar Europa antes de<br />1848: mientras que el auge de los conocimientos iba acompañado de su<br />difusión y del desarrollo de la prensa, el saber se ponía cada vez más<br />al servicio de la productividad capitalista, entre cuyas consecuencias<br />cabe señalar el perfeccionamiento de las máquinas-herramienta, la<br />producción industrial de acero, el uso del carbón como combustible para<br />las máquinas de vapor, espectaculares mejoras en el transporte y la<br />transformación capitalista de la agricultura. <br /><br />El mundo agrícola inglés, lugar en que emergen las relaciones sociales<br />capitalistas, se caracteriza por el brutal declive del campesinado, que<br />se ve así empujado hacia las metrópolis industriales donde la expansión<br />de las maquinarias hacía posible explotar todavía más a hombres, mujeres<br />y niños.<br /><br />Sin embargo, la clase obrera europea conoce un lento desarrollo, con la<br />excepción de Gran Bretaña, donde aumentó con rapidez. Del mismo modo,<br />persistían las viejas jerarquías sociales: se mantenía la servidumbre y,<br />en general, la aristocracia terrateniente seguía siendo dominante,<br />aunque su propia riqueza dependía cada vez más del capital industrial y<br />financiero. <br /><br />En Europa Central, fue el reclamo de una reforma agraria lo que pasó a<br />primer plano: las aspiraciones transformadoras eran impulsadas por los<br />intelectuales, pero también por la baja nobleza, deseosa de ganarse a un<br />campesinado políticamente poco entusiasta. «La crisis de lo que quedaba<br />de la vieja sociedad parecía superponerse a una crisis de la nueva<br />sociedad»—escribe el historiador británico Eric Hobsbawm[9].<br /><br />En esas complejas condiciones se torna decisiva la cuestión nacional,<br />reivindicación particular que jamás pudo separarse de las luchas de<br />clases tal como éstas se presentaban en términos concretos dentro de<br />unas coordenadas que, por definición, eran siempre locales. Por ejemplo,<br />las reivindicaciones nacionales se correspondían a la vez con las<br />aspiraciones de los sectores populares y el auge de las pequeñas<br />burguesías urbanas que tenían como portavoces a los intelectuales, pero<br />también con el descontento cada vez mayor de las fracciones liberales de<br />la nobleza, como en el caso de Hungría. <br /><br />En cuanto a las clases campesinas, que no siempre hablaban las lenguas<br />nacionales, se apoyaban en sus convicciones religiosas a la hora de<br />articular sus reivindicaciones de independencia, como ocurrió en<br />Irlanda. Si bien en algunos aspectos —en particular, la fraternidad<br />entre los pueblos— la cuestión nacional podía aparecer como una<br />instancia más reducida de la acción revolucionaria, fomentaba una<br />perspectiva no necesariamente emancipadora, como en el caso del<br />pangermanismo.<br /><br />En la misma medida que el capitalismo emprende su expansión por todo el<br />planeta—proceso de globalización al que se anticipa el Manifiesto—,<br />Occidente extiende su dominio al resto del mundo.<br /><br />La colonización y la esclavitud asociada al comercio triangular fueron<br />consecuencia del ritmo más bien lento de ese proceso, pero a su vez le<br />imprimieron un impulso que aceleró su apogeo: esa dinámica proporcionó a<br />Inglaterra enormes oportunidades de mercado, a cambio de la deportación<br />de esclavos africanos a las plantaciones de azúcar. El dinero fluye<br />entonces hacia los puertos comerciales europeos. <br /><br />A principios del siglo XIX se inicia un proceso harto gradual de<br />abolición de la esclavitud. Es cierto que para la década de 1840 había<br />disminuido el número total de esclavos, pero ese número seguía<br />aumentando en los Estados Unidos y el Brasil, al tiempo que seguían<br />afianzándose determinadas formas de semiesclavitud —sobre todo en la<br />India— y la colonización seguía expandiéndose hasta llevar a su punto<br />más alto el Imperio Británico, que llegó así a rivalizar con Rusia.<br /><br />En ese mundo cambiante, la cólera de la gente ante la injusticia y la<br />miseria se ha ido acumulando durante mucho tiempo. Esa larga<br />fermentación de la revuelta dio lugar a corrientes políticas de protesta<br />modernizadas, herederas de las diversas vías que habían surgido en<br />Francia con posterioridad a 1789. Sus objetivos son diferentes sin ser<br />necesariamente incompatibles: la corriente liberal reclamaba una<br />constitución asociada a un sistema parlamentario de naturaleza censal;<br />la tendencia demócrata abogaba por una república que concediera derechos<br />políticos más amplios; un movimiento procedente del babouvismo —y<br />radicalmente igualitario— se proponía contribuir a la revolución social.<br />A partir de 1830, esas corrientes se estructuran siguiendo sus propios<br />rumbos y a velocidades diferentes en los distintos países europeos.<br /><br />En lo que respecta al proletariado, la clase obrera inglesa, por mucho<br />la más numerosa, se organizó en un movimiento de masas de carácter<br />mixto, el cartismo, cuyas reivindicaciones políticas seguían siendo<br />relativamente moderadas pero cuyas luchas poseían una gran fuerza. <br /><br />En Francia, las clases populares, que seguían vinculadas a las antiguas<br />formas de producción (artesanales, pre-salariales), fueron el centro de<br />ricos e innovadores debates, que contribuyeron así al movimiento de<br />protesta y a la difusión de una cultura revolucionaria por toda Europa.<br /><br />La burguesía, ella misma en vías de formación, es portadora de<br />reivindicaciones políticas y económicas acordes con sus aspiraciones a<br />convertirse en la clase dominante; a tal fin, exige una constitución que<br />le conceda un poder político real y acelere la transición del<br />feudalismo, condición esencial para su desarrollo económico, social y<br />cultural. Esas reivindicaciones, en las que en teoría se conjugaban los<br />modelos institucionales francés e inglés, se ven enfrentadas con poderes<br />estatales fuertes y burocratizados, de los que Prusia se había<br />convertido en la imagen por excelencia. La nobleza, cuyo apoyo al<br />absolutismo ya no bastaba para aglutinar fuerzas, seguía siendo sin<br />embargo la clase dominante.<br /><br />El arcaísmo de los poderes establecidos, su rigidez y su afán de<br />venganza contribuirían a hacer de la revolución la única solución<br />posible. Pero la crisis por la que se atravesaba era también económica y<br />se había convertido en algo habitual a pesar de la continua expansión de<br />la producción. La crisis de 1845 contribuyó a desencadenar la<br />revolución. La amplitud de las primeras convulsiones europeas hizo<br />presagiar la rápida propagación de la onda expansiva que subyacía a<br />ellas: el levantamiento polaco de 1846, la agitación insurreccional en<br />los Estados italianos contra el yugo austriaco y, luego, en 1847, el<br />éxito electoral de los liberales en Bélgica y la victoria de los<br />cantones democráticos de Suiza.<br /><br />Concluida su redacción poco antes del estallido de la revolución en<br />París, el Manifiesto se empeña no sólo en describir sino también en<br />expresar, con una claridad y un vigor sin precedentes, el impulso<br />histórico de esa conflictividad, convirtiéndose en el portavoz de la<br />revolución que acababa de nacer. <br /><br />Análisis proteico, fue a la vez fruto de una reflexión colectiva, de un<br />nuevo avance en el pensamiento de Marx que esclareció los conceptos que<br />había empezado a elaborar y de una intervención militante que lo llevó a<br />movilizar al movimiento obrero para contribuir a su estructuración, a la<br />vez que se mantenía a una distancia crítica de las organizaciones<br />existentes.<br /><br />La Liga de los comunistas<br /><br />Cuando Marx y Engels se acercaron a la Liga de los justos, en existencia<br />desde 1836, ésta agrupaba a artesanos y trabajadores alemanes emigrados,<br />organizados en tres centros relativamente independientes en Suiza, París<br />y Londres. En París, la Liga había participado en la insurrección<br />blanquista de mayo de 1839 y había sufrido una violenta represión tras<br />su fracaso. Por su parte, el grupo suizo estaba dirigido por Wilhelm<br />Weitling, adepto de un comunismo de inspiración cristiana y babouvista<br />apenas preocupado por el rigor teórico, pero carismático partidario de<br />la vía insurreccional. En cuanto a los dirigentes londinenses de la<br />Liga, propugnaban una línea menos agresiva, lo que los acercaba más al<br />ala moderada del cartismo. <br /><br />Habían llegado incluso a condenar el levantamiento de Silesia de 1844,<br />pues deseaban sobre todo transformar la organización secreta original en<br />una entidad legalmente reconocida. Karl Schapper, principal dirigente<br />londinense de la Liga, tras haber logrado imponer su orientación, se<br />declara hostil a la revolución y puja por la educación, al tiempo que<br />elabora una concepción emancipadora de la libertad individual que se<br />solapa con las preocupaciones de Marx y que el Manifiesto recoge[10].<br /><br />Marx y Engels, responsables de la redacción del texto que pone punto<br />final a la transformación de la Liga, llevaban ya una existencia<br />militante antes de unirse a la Liga de los justos. Por un lado, el<br />trabajo de Marx como periodista lo había conducido a colaborar con<br />diversos grupos críticos y le había permitido investigar el estado de<br />los conflictos de clases, sobre todo en Alemania. Sus convicciones<br />comunistas lo encaminaron a concebir su trabajo teórico como un aliado<br />de los intereses prácticos del proletariado. Fue esa la labor que llevó<br />a cabo en París desde 1843 hasta que, en enero de 1845, habiendo<br />adquirido con sus escritos la reputación de un formidable<br />revolucionario, fue expulsado de Francia por François Guizot, quien<br />cedía con ello a las exigencias de Prusia. Marx se exilió en Bélgica.<br /><br />En compañía de Engels, en 1846 fundan el Comité Comunista por<br />Correspondencia, con el objetivo de crear una red internacional de<br />activistas europeos que permitiera comparar las tendencias comunistas<br />existentes y emprender acciones conjuntas. Para Marx y Engels, en aquel<br />entonces, la actividad política conllevaba en primer lugar la difusión<br />de ideas y conocimientos, así como el trabajo crítico y polémico dentro<br />del movimiento socialista y comunista. <br /><br />A sus ojos, la prensa y las organizaciones tienen como primer objetivo<br />la formación, para lo cual no obstaba que esas organizaciones se<br />propusiesen influir en el curso de los acontecimientos. Fue esa<br />prioridad la que distinguió a las primeras organizaciones obreras de los<br />partidos modernos, formaciones de masas y futuros actores en el juego<br />parlamentario.<br /><br />Ya antes, en París, Engels había luchado por su cuenta contra las<br />influencias de Weitling, de Proudhon y del «verdadero socialismo», con<br />la vista puesta en la creación de un comité parisino por<br />correspondencia, que al final no lograría superar sus divisiones<br />internas. Luego de que la autoridad central de la Liga se trasladara de<br />París a Londres, su dirección se reestructuró en torno a Schapper, quien<br />deseaba poner en marcha su reorganización total. <br /><br />Para ello, convocó a un congreso preparatorio el 1 de mayo de 1847, con<br />la esperanza de que desembocara en la aprobación de una profesión de fe<br />comunista, en la que se expusieran a la vista de todos las posiciones de<br />la Liga. Marx y Engels se mostraron inicialmente reacios a sumarse al<br />grupo de Londres, convencidos de que también estaba dominado por las<br />posiciones de Weitling. Fue George Julian Harvey, militante cartista y<br />amigo de Engels, quien los convenció de que se implicaran en la creación<br />de un Comité Comunista por Correspondencia en Londres.<br /><br />En cuanto a la dirección londinense, ésta temía —basándose para ello en<br />las acusaciones de Weitling— que Marx y Engels quisieran imponer una<br />concepción demasiado elitista y doctrinaria de la política. Sin embargo,<br />acogió favorablemente su propuesta de organizar un congreso para debatir<br />las diferentes tendencias del comunismo. <br /><br />Fue en esa confusa situación que los dirigentes londinenses les<br />propusieron a Marx y Engels que se hiciesen miembros de la Liga, a pesar<br />de las fuertes tensiones y de la desconfianza que seguían reinando entre<br />ambos bandos. <br /><br />Pero cada parte encontró en la otra un medio de salir del impasse[11]:<br />los dirigentes de la Liga estaban impresionados por la coherencia de las<br />concepciones de Marx y Engels sin por ello estar del todo convencidos,<br />mientras que en su empeño por construir una organización obrera<br />revolucionaria que —según ambos esperaban— acabaría arraigando en el<br />proletariado, en un momento en que se multiplicaban las señales de<br />alarma de una revolución inminente, Marx y Engels no disponían de otra<br />opción.<br /><br />A lo largo de toda la secuencia que condujo a la redacción del<br />Manifiesto —y aunque no fuera el principal redactor del texto<br />definitivo— Engels desempeñó un papel protagónico: fue él quien<br />estableció los contactos entre Londres, París y Bruselas, ya que Marx no<br />podía desplazarse libremente de una capital a otra. También fue Engels<br />quien, en junio de 1847, redactó una primera versión del Proyecto de<br />profesión de fe comunista, cuando la Liga de los justos acababa de<br />celebrar su primer congreso y de rebautizarse como «Liga de los<br />comunistas». Ese texto resumía los debates que acababan de tener lugar<br />entre los asistentes al congreso. Concluida su redacción en noviembre de<br />1847, Los principios del comunismo[12] fue una segunda versión que dio<br />mayor coherencia teórica a ese primer texto y que proporcionó el<br />material básico para el Manifiesto.<br /><br />La posterior reconstrucción que hiciera Engels de esa sinuosa historia<br />es parcialmente discutible. En su relato de 1885, titulado “Contribución<br />a la historia de la Liga de los comunistas”, afirma que los estatutos se<br />habían aprobado en el primer congreso (junio de 1847), cuando en<br />realidad no lo fueron hasta el final del segundo (diciembre de 1847),<br />tras agrias discusiones. La tesis de que los dirigentes londinenses se<br />habían convertido de inmediato a las tesis de Marx también forma parte<br />de la leyenda. Por otro lado, Engels pasa por alto su propia e infausta<br />maniobra, que consistió en redactar apresurada y subrepticiamente su<br />texto para contrarrestar la profesión de fe rival redactada por Moses Hess.<br /><br />Por su lado, Marx llevaba razón cuando en 1877 apuntaba que la condición<br />que Engels y él habían puesto para su acercamiento —la eliminación de<br />«todo lo que pudiera haber favorecido la creencia supersticiosa en una<br />autoridad»— se había, en efecto, respetado[13], imponiendo de paso el<br />órgano de decisión del congreso, así como el estatuto de dirigentes<br />elegidos y revocables. Esa metamorfosis «transformó la Liga, al menos en<br />tiempos ordinarios de paz, en una mera sociedad de propaganda[14]». Fue<br />a partir de entonces que, tras haber hecho dejación de toda «veleidad<br />conspirativa», la organización pudo ser calificad de «completamente<br />democrática» por Engels.<br /><br />Marx no había podido participar en el primer congreso, pero sí acudió al<br />segundo, celebrado en Londres del 29 de noviembre al 8 de diciembre de<br />1847, como representante del grupo de Bruselas. Se aprobaron los nuevos<br />estatutos y la Liga se trazó oficialmente como objetivo «el<br />derrocamiento de la burguesía, el dominio del proletariado, la abolición<br />de la vieja sociedad burguesa basada en los antagonismos de clases y la<br />fundación de una nueva sociedad sin clases y sin propiedad privada[15]».<br /><br />Al término de una larga batalla que duró unos diez días, prevaleció el<br />punto de vista de Marx, aunque no por unanimidad, como posteriormente<br />afirmara Engels[16]. A sugerencia de Engels, Marx recibió el encargo<br />oficial de redactar el texto definitivo sobre la base de los documentos<br />anteriores. El Manifiesto, redactado en su mayor parte por Marx, llegó<br />con cierta tardanza a Londres, alrededor del 1 de febrero de 1848.<br />Financiado mediante una colecta, se publicaron 1.000 ejemplares en<br />alemán en Londres poco antes del estallido de la revolución en Francia.<br /><br />A pesar de todos esos esfuerzos, cuando estalla la revolución, la Liga y<br />en sentido general quienes se decían comunistas, desempeñan un papel de<br />escasa importancia y el Manifiesto no conoce una amplia difusión. Tras<br />el fracaso de la revolución, la represión se abate sobre los militantes<br />y las organizaciones obreras. En 1852, se detuvo en Londres a los<br />miembros del Comité Central de la Liga. El proceso judicial por «alta<br />traición», iniciadopor el Estado prusiano, se saldó con duras condenas<br />contra los acusados. Disuelta la Liga, no fue hasta 1864 que la<br />Asociación Internacional de Trabajadores tomaría el relevo. Entretanto,<br />en un momento marcado por el reflujo de la perspectiva revolucionaria,<br />Marx se consagra sobre todo a la labor teórica, sin que por ello se<br />disipen en modo alguno sus preocupaciones políticas y su pensamiento<br />estratégico.<br /><br />El Manifiesto, un texto-acontecimiento<br /><br />El Manifiesto no es, por tanto, un tratado de filosofía política y su<br />posterior notoriedad oscurece su verdadero papel: tras el<br />texto-monumento, lo que importa hacer que resurja es el<br />texto-acontecimiento.<br /><br />Folleto destinado a una amplia difusión, el Manifiesto acomete la tarea<br />de describir las convulsiones aparejadas por el desarrollo del<br />capitalismo a fin de definir las condiciones y los objetivos de su<br />abolición. El surgimiento del capitalismo es un proceso histórico de<br />larga duración, cuya fuerza motriz es la lucha de clases, la que a su<br />vez conduce, en última instancia, a la inevitable superación de ese<br />poderoso e inequitativo modo de producción. <br /><br />Marx, sin embargo, no se contenta con anunciar la revolución, sino que<br />insiste en la necesidad de acción política —en el nuevo sentido del<br />término— y en la importancia decisiva de la toma de conciencia como<br />condición para la victoria de las clases dominadas. Sobre todo, enuncia<br />una tesis principal que distingue al comunismo de cualquier colectivismo<br />que niegue la dimensión individual: por el contrario, el objetivo es<br />construir «una asociación en la que el libre desarrollo de cada uno sea<br />condición del libre desarrollo de los demás[17]».<br /><br />Intervención política por derecho propio, el Manifiesto se propone así<br />sellar la unión entre teoría e historia, transformando una al mismo<br />tiempo que la otra, una por medio de la otra. Dividido en cuatro partes,<br />el Manifiesto comienza presentado un sorprendente cuadro de conjunto de<br />la historia humana, en el que se inscriben el florecimiento de la<br />burguesía y el ascenso del proletariado. <br /><br />El objetivo de ese análisis es situar el comunismo en el marco de esa<br />historia y, a continuación, en la segunda parte, definir el papel<br />específico de los comunistas en el plano político, refutando de paso<br />toda idea preconcebida sobre éstos. En el tercer capítulo, Marx examina<br />las diferentes corrientes del socialismo y del comunismo existentes en<br />su época, antes de definir en la parte final el papel de los comunistas,<br />su relación con las demás fuerzas políticas y el alcance de la<br />revolución venidera.<br /><br />Se trataba de proporcionar a los militantes auténticas herramientas de<br />comprensión y de reflexión estratégica, en lugar de meros elementos de<br />propaganda, y de propugnar medidas programáticas sin por ello proponer<br />una descripción del mundo por venir. Y es exactamente eso lo que anuncia<br />su título: el término «manifiesto» denota una ruptura con los<br />«catecismos» de las organizaciones obreras clandestinas, de los que el<br />texto de Engels seguía siendo demasiado deudor. El Manifiesto se dota de<br />una forma inédita, enmarcada por fórmulas concisas y contundentes,<br />llamadas a gozar de una larga vida, que atestiguan su carácter de<br />intervención indisolublemente teórica y política.<br /><br />El texto arranca con dos incipits sucesivos, cada uno tan célebre como<br />el otro: «un espectro se cierne sobre Europa: el espectro del comunismo»<br />—se proclama en su preámbulo—, seguido de la afirmación —con que se abre<br />la primera parte del Manifiesto— según la cual «toda la historia de la<br />sociedad humana hasta nuestros días es la historia de la lucha de<br />clases». Espectro que, sin embargo, estaba llamado a convertirse en algo<br />más que el más grande de los temores de las clases dominantes y a<br />aparecer como lo que era, un poder en vías de construcción.<br /><br />En cuanto al término «comunista» que apareceen el título, su condición<br />de calificativo y no de sustantivo no reviste menos importancia: no se<br />trataba de describir de antemano un mundo por nacer, el comunismo, sino<br />de alentar y apoyar la acción de quienes eran artífices de esa<br />construcción y a quienes había que aglutinar. Por lo que respecta a la<br />última frase del Manifiesto, era cualquier cosa menos una conclusión:<br />«Proletarios de todos los países, ¡uníos!»<br /><br />El Manifiesto, a todas luces, es un texto sin precedentes tanto por su<br />forma como por su contenido. Pero si bien su aliento excepcional lleva<br />la impronta de Marx, quien entonces estaba por cumplir los treinta años,<br />su contenido era también fruto de extensos debates colectivos que habían<br />dado paso al borrador final. Sin ocupar el lugar de esos debates, sino<br />redondeándolos con sus propios análisis, Marx se esforzó por esbozar más<br />claramente las vías de una transformación posible y necesaria. Esa<br />necesidad no es la de una hipótesis que se haría realidad sin tener que<br />asestar un solo golpe, sino sobre todo, sobre la base de una revolución<br />que entonces se creía ineludible, la afirmación de una exigencia<br />histórica y humana que parecía estar al alcance de la mano.<br /><br />A ojos de Marx y Engels, el capitalismo, desde la época de su primera<br />expansión, exigía su propia superación: el aumento sin precedentes de la<br />producción al precio del trastorno de todas las relaciones sociales<br />anteriores, de la explotación descarnada y brutal, de la colonización,<br />de la conquista del mercado mundial y del saqueo de las riquezas, pero<br />también de la aparición de crisis periódicas y cada vez mayores, del<br />desarrollo de las necesidades humanas, al mismo tiempo que los<br />productores se veían aplastados como nunca antes por una organización<br />del trabajo que tenía como objetivo la obtención de ganancias por una<br />minoría en provecho propio: todas esas consecuencias daban origen a<br />ingentes contradicciones históricas que exigían y hacían posible una<br />nueva organización de la vida social.<br /><br />En el terreno de las luchas de clases —creía Marx—, el aumento del poder<br />de la burguesía se había acompañado de la conquista gradual de su<br />soberanía política, llevando a la burguesía a constituir Estados que no<br />eran más que comités de gestión al servicio de sus intereses. Esa<br />burguesía, sin embargo, encadenada a la expansión continua de la<br />producción, no podía contentarse con lo que había conseguido y tenía que<br />apoderarse del mundo entero para escapar a crisis económicas<br />recurrentes. Para ello, debía dominar las fuerzas de la naturaleza,<br />desarrollar sin descanso las fuerzas productivas y apropiarse de todas<br />las actividades humanas, dando así origen a la clase que la destronaría.<br /><br />Para Marx, el auge de las fuerzas productivas capitalistas había hecho<br />estallar el marco feudal y sus viejas relaciones sociales osificadas,<br />pero estaba llamado a continuar más allá de su momento burgués: las<br />crisis reiteradas y la miseria de las masas populares que esas crisis<br />engendraban en medio de una acumulación de riqueza sin precedentes eran<br />la prueba de que había llegado el momento de poner fin a semejante<br />organización de la vida social. Sin embargo, las condiciones necesarias<br />para efectuar esa transformación no eran sólo sociales, también eran<br />políticas e implicaban la organización de los proletarios como «un<br />movimiento autónomo de la inmensa mayoría en provecho de una mayoría<br />inmensa».<br /><br />Hay que subrayar que, para Marx, las clases no son entidades estables<br />sino dinámicas, definidas y redefinidas por el conflicto permanente que<br />las enfrenta o las aglutina. Su transformación interna allana el camino<br />de grandes convulsiones. De ahí que Marx creyera que una fracción<br />ilustrada de la burguesía podía unirse al proletariado. Del mismo modo,<br />repara en una tendencia contraria a esa unidad —la competencia entre los<br />propios trabajadores— y que impide que los trabajadores se unan. El<br />Manifiesto propone un análisis complejo y no lineal de las relaciones de<br />clase, esbozando posibles alianzas provisionales o duraderas entre<br />clases o fracciones de clases, siempre en función de situaciones<br />concretas y nacionales.<br /><br />En definitiva, las gigantescas contradicciones engendradas por ese<br />capitalismo usurpador allanan el terreno para una revolución de todo el<br />edificio político y social, que también se inscriben en la larga<br />historia de las luchas de clases que Marx evoca con elocuentes palabras.<br />A ese respecto, en algunos puntos el análisis de Marx es claramente<br />determinista: «Lo que la burguesía produce, ante todo, son sus propios<br />sepultureros. Su hundimiento y la victoria del proletariado son<br />igualmente inevitables.» Marx presenta así como una necesidad la<br />resolución de la contradicción entre el aumento de las fuerzas<br />productivas capitalistas y las relaciones de producción basadas en la<br />propiedad privada que las frenan. Y es a la revolución venidera a la que<br />transpone una lógica extraída de la Revolución Francesa, cuya historia<br />no cesaba de fascinarlo: «Las armas con que la burguesía derribó al<br />feudalismo se vuelven ahora contra ella.»<br /><br />No obstante, son numerosas las diferencias que constata entre esos dos<br />momentos revolucionarios: por un lado, el proletariado, explotado y<br />oprimido, encarna en sí mismo la exigencia de emancipación colectiva. La<br />revolución que se avecina no tiene precedentes, pues llevará al poder a<br />una clase cuya misión no consiste en establecer su dominio, sino abolir<br />todas las relaciones de clase y toda monopolización del poder político<br />en forma de Estado aparte. Por otra parte, esa revolución entraña el<br />desarrollo de la conciencia individual y colectiva que haga posible la<br />construcción de un proyecto llevado a cabo por una organización obrera.<br /><br />El Manifiesto es la expresión de esa visión del mundo de los oprimidos:<br />el excesivo optimismo que recorre ese texto es un reflejo tanto de su<br />vocación militante como de la inmensa esperanza popular que lo<br />sustentaba. Sin embargo, Marx presentía que el proceso revolucionario<br />seguiría un camino largo y accidentado. El Manifiesto hace así de la<br />estrategia uno de los objetos de su análisis, a la vez que concreta la<br />definición abierta y dinámica que aparece en La ideología alemana: «Para<br />nosotros, el comunismo no es un estado que deba implantarse, un ideal al<br />que haya de sujetarse la realidad. Llamamos comunismo al movimiento real<br />que anula y supera el actual estado de cosas. Las condiciones de ese<br />movimiento se desprenden de las premisas existentes[18].»<br /><br />Conviene recordar que el comunismo, en el sentido moderno del término,<br />surgió a finales del siglo XVIII y se constituyó en torno al objetivo<br />central de la «comunidad de bienes». La opción comunista hunde sus<br />raíces en la tradición de Graco Babeuf y se distingue por la radicalidad<br />de su objetivo: eliminar la injusticia social y la explotación que la<br />provoca, haciéndose para ello con el poder el Estado y transformándolo.<br />Pero durante mucho tiempo, la superior coherencia doctrinal del<br />comunismo se vio contrarrestada por la debilidad de su base social y su<br />tendencia a la abstracción doctrinal.<br /><br />Marx comienza por someter a una severa crítica ese comunismo de primera<br />generación, que califica de «burdo», centrado en la denuncia de la<br />propiedad y en objetivos redistributivos y que, por tanto, descuidaba la<br />cuestión de la reorganización de la producción, de la sociedad y del<br />Estado, así como las formas de organización de la clase obrera. El<br />Manifiesto subraya que «el comunismo no quita a nadie el poder de<br />apropiarse productos sociales; sólo quita el poder de servirse de esa<br />apropiación para someter al trabajo ajeno».<br /><br />Es, pues, a un comunismo en plena transformación al que se une Marx y es<br />en aras de su transformación que, junto con Engels, habrá de realizar<br />desde entonces una tenaz labor. De modo que la redefinición de la<br />política que entra en juego en esas líneas, preparada por las<br />reflexiones anteriores de Marx, alcanza un nuevo nivel en virtud de esa<br />secuencia excepcional en que teoría e historia, sin llegar a fusionarse,<br />salen al encuentro una de otra. Ya en Sobre la cuestión judía y en<br />Contribución a la crítica de la filosofía del derecho de Hegel, Marx se<br />había encaminado hacia una crítica del Estado en cuanto instancia que se<br />separa y divorcia de la vida económica y social. Lo cual, sin embargo,<br />no significa hacer del Estado una entidad ilusoria que habría que abolir<br />simple y llanamente, sino emprender un proceso de reapropiación de las<br />funciones confiscadas por el Estado y reorganizar la vida económica y<br />social de manera colectiva y racional. Llegados a ese punto, ¿podemos<br />seguir dándole a ello el nombre de política?<br /><br />Lo complejo de la respuesta a esa pregunta guarda relación directa con<br />la persistente ambivalencia que el término «política» exhibe en los<br />escritos de Marx. Por un lado, «toda lucha de clases es una lucha<br />política». Por otro, si se tiene al Estado burgués por la esencia misma<br />de la política, entonces uno y otra están condenados a desaparecer. En<br />1843, escribe Marx que durante la Revolución Francesa «los franceses<br />modernos lo [habían] interpreta[do] en el sentido de que, en la<br />verdadera democracia, el Estado político desaparec[ía][19] ». En el<br />Manifiesto, por comunismo se designa, precisamente, la política<br />entendida como impulso, como «conquista de la democracia» que trasciende<br />toda lógica institucional. La abolición del Estado conducirá a la<br />formación de un «poder público», una forma de autogobierno que, según<br />Marx, dejará de tener carácter político, es decir, dejará de ser un<br />instrumento de clase.<br /><br />Más allá de las críticas tradicionales dirigidas contra la propiedad<br />privada, la perspectiva de la reapropiación que esboza Marx se refiere<br />de forma mucho más amplia y radical a las propias relaciones sociales. Y<br />si el objetivo es abolir los instrumentos utilizados para monopolizar<br />todas las actividades sociales en provecho de la burguesía, esa regla<br />vale además para las ideas y al conocimiento. <br /><br />También a ese respecto, el Manifiesto encarna por anticipado lo que<br />exige: otro régimen de conocimiento volcado en la acción. Esa<br />reapropiación no concierne a las ideas dominantes existentes (como<br />tampoco concierne a la reapropiación del Estado tal como se presenta),<br />sino al trabajo intelectual como actividad social.<br /><br />El papel propio de los comunistas debe redefinirse precisamente desde<br />ese ángulo: son la «fracción más resuelta de los partidos obreros de<br />todo el mundo», quienes tienen «sobre el resto del proletariado la<br />ventaja de una clara visión de las condiciones, los derroteros y los<br />fines generales del movimiento proletario».<br /><br />Esa reorganización global de las tesis anteriores tuvo lugar bajo las<br />condiciones de una revolución victoriosa: en febrero de 1848, mucho<br />antes de lo que habían pensado Marx y Engels, estalló la revolución en<br />París y no en Alemania, pero unos meses más tarde retrocedió en toda<br />Europa ante las fuerzas reaccionarias que finalmente la aplastaron en la<br />primavera de 1849.<br /><br />El curso real de la historia revelaría la pertinencia del Manifiesto,<br />pero también algunas de sus limitaciones: varias de las tesis de Marx de<br />inmediato fueron objeto de reelaboración. Por ejemplo, se pondría en<br />tela de juicio la idea de que, a diferencia del feudalismo, en el<br />capitalismo se hacía visible y flagrante de manera definitiva la<br />dominación social, junto con su corolario sobre la «simplificación de<br />los antagonismos de clases», a pesar de que, a partir del Manifiesto, la<br />unidad de la clase obrera se concibe como el resultado del trabajo<br />político y no como un proceso espontáneo. En consecuencia, clase y<br />organización no coinciden, aunque la noción de «partido» designe en este<br />caso principalmente a la clase en cuanto grupo movilizado que las<br />estructuras partidistas contribuyen a dotar de conciencia.<br /><br />Marx también se replanteó la idea de que la burguesía «creaba un mundo a<br />su imagen y semejanza», tras haber supuesto precipitadamente que la<br />conquista capitalista del mundo era sinónimo de una homogeneización de<br />las relaciones de producción en todo el planeta, generalización en la<br />que se creía ver la condición sine qua non de su abolición ulterior. A<br />partir de la década de 1850, Marx presta mayor atención a las sociedades<br />no occidentales y corrige esa concepción de la historia. De manera<br />similar, se vuelve a plantear su creencia de que el capitalismo pronto<br />sería incapaz de superar las crisis periódicas que generaba y de que<br />estaba cerca su final.<br /><br />Sin embargo, ya en el Manifiesto, en contraposición con esa tendencia<br />determinista, Marx subraya el papel decisivo de los actores históricos y<br />le asigna su misión propia a una organización obrera capaz de dirigir y<br />agudizar el conflicto social hasta convertirlo en confrontación<br />política: «la burguesía no sólo ha forjado las armas que han de darle<br />muerte; también ha engendrado a los hombres que empuñarán esas armas:<br />los obreros, los proletarios.» No debemos olvidar que ese texto se<br />dirige a lectores a quienes había que enlistar en la lucha comunista;<br />esfuerzo que habría sido inútil si la conciencia política hubiese estado<br />llamada a fortalecerse por sí sola, pero que habría sido igualmente<br />inútil si hubiese sido imposible avizorar el éxito en los momentos en<br />que Marx escribía esas líneas.<br /><br />Más adelante, se llegó a ver en el Manifiesto un documento que no estaba<br />en sintonía con las aspiraciones nacionales que habían caracterizado la<br />revolución de 1848 en Europa y en todo el mundo. Sin embargo, aunque no<br />ocupe un lugar central en el Manifiesto, la cuestión de las<br />nacionalidades no deja de estar claramente presente. <br /><br />Marx propugnaba un internacionalismo que, a sus ojos, era constitutivo<br />de la revolución comunista, pero no ignoraba el hecho nacional, sino<br />todo lo contrario: «Los obreros no tienen patria», pero el proletariado<br />debe erigirse ante todo en «clase nacional», ya que «[e]s lógico que el<br />proletariado de cada país deba ajustar cuentas, en primer lugar, con su<br />propia burguesía». Marx se empeñó en concebir las luchas nacionales como<br />formas momentáneas de movilización revolucionaria y no como objetivos en<br />sí mismos, contrariamente al futuro auge del nacionalismo en el seno de<br />las propias organizaciones obreras.<br /><br />En cuanto a la cuestión del Estado, ésta iba a sufrir una profunda<br />reelaboración, luego de que la noción de la conquista del Estado diera<br />paso a la perspectiva de la necesaria «ruptura» de un aparato<br />irrecuperable. Al mismo tiempo, Marx reexaminó radicalmente la cuestión<br />estratégica de las alianzas, después de que las corrientes<br />democrático-burguesas se hubieran vuelto contra el proletariado. También<br />llegó a considerar que los comunistas no eran simplemente una fracción<br />interna, sino que su función consistía en guiar al «partido» obrero en<br />su conjunto[20]. Un pensamiento estratégico de ese tipo jamás es<br />doctrinario, pues siempre está vinculado a las circunstancias<br />específicas que hacen de la acción política una intervención en una<br />situación concreta: el Manifiesto inaugura ese enfoque, lejos de querer<br />zanjar de una vez por todas el papel de los comunistas.<br /><br />Leer y releer el Manifiesto<br /><br />Publicado originalmente en alemán, en folleto suelto y, posteriormente,<br />en una publicación periódica alemana editada en Londres, la circulación<br />del Manifiesto fue al principio escasa. En Francia se distribuyeron<br />algunos ejemplares en alemán entre los miembros de la Liga en marzo de<br />1848, durante la breve estancia de Marx en París por invitación de<br />Ferdinand Flocon, miembro del gobierno provisional. Sin embargo, Marx<br />regresará pronto junto con Engels a Alemania. Varios intentos de<br />traducirlo al francés no llegan a materializarse y no es hasta enero de<br />1872 que la primera versión en ese idioma aparece en Le Socialiste,<br />periódico francés de Nueva York.<br /><br />Igualmente inconclusos quedaron en su mayor parte los demás proyectos de<br />traducción, salvo por una traducción al sueco en 1848 y otra al inglés<br />en 1850. Tras la violenta represión que siguió a la revolución, no fue<br />hasta la década de 1860 que comenzaron a reconstituirse las<br />organizaciones obreras y que el Manifiesto comenzó a circular de nuevo.<br />No obstante, es sólo a partir de 1880 —con la creación de partidos en el<br />sentido moderno de la palabra que se proclamaban ante todo socialistas—<br />que se multiplicaron sus ediciones.<br /><br />Con ocasión de las numerosas reediciones del Manifiesto —y habida cuenta<br />de los considerables avances que había logrado en sus propios estudios<br />sobre el capitalismo y en la reelaboración de sus análisis políticos—,<br />Marx presentó ese texto como un documento histórico que ni Engels ni él<br />podían permitirse modificar, por lo que decidieron acompañar esas<br />reimpresiones con prefacios que volvieran a situar al texto en su<br />contexto y que, a veces, lo sometían a crítica. Así ocurrió en el<br />prefacio a la edición alemana de 1872, en que Marx citó un pasaje de La<br />guerra civil en Francia a propósito de las enseñanzas extraídas de la<br />Comuna de París de 1871: «[L]a clase obrera no puede contentarse con<br />apoderarse de la maquinaria del Estado dejándola tal cual y haciéndola<br />funcionar para sus propios fines.»<br /><br />Particular importancia reviste igualmente el prefacio a la edición rusa<br />de 1882: a la luz de su análisis de las sociedades no occidentales[21],<br />Marx ha llegado al punto de rechazar toda concepción lineal de la manera<br />en que los modos de producción se suceden unos a otros, concepción que<br />había marcado con su impronta el Manifiesto. <br /><br />Por otro lado, Marx reevalúa ciertas formas sociales tradicionales (en<br />particular la comuna rural rusa, o mir) como presupuestos concretos y<br />locales que podrían, llegado el caso, servir de base a una revolución<br />comunista capaz de aglutinar al campesinado y al proletariado y soslayar<br />así la etapa capitalista: la revolución rusa podría en ese caso ser «la<br />señal para una revolución proletaria en Occidente y, por tanto,<br />complementarse una a la otra».<br /><br />Es esa constante evolución del análisis, unida a la constancia del<br />objetivo de abolir el capitalismo, lo que caracteriza el pensamiento de<br />Marx. Sin embargo, de ello no se desprendía la necesidad de que el<br />Manifiesto se convirtiera en algo obsoleto. Así lo demuestran, cada una<br />a su modo, las miles de lecturas e interpretaciones que se siguen<br />haciendo de ese texto, como lo demuestran incluso más los innumerables<br />lectores a quienes, hasta nuestros días, el descubrimiento de esa obra<br />les ha dejado una impresión duradera. <br /><br />Quienes leen o releen el Manifiesto no dejan de sorprenderse ante su<br />perdurable actualidad, y ello no a pesar sino precisamente por lo<br />anticuado de algunas de sus tesis, en la medida en que el propio<br />Manifiesto se inscribe en las contradicciones que describe y lo<br />atraviesan. Invitación a volver a pensar en su unidad la teoría y la<br />acción, el Manifiesto sigue siendo el crisol de toda cultura revolucionaria.<br /><br />En ese sentido, en cierto modo el Manifiesto no ha dejado de trascender<br />a su época, pues la enseñanza principal que nos sigue impartiendo es<br />precisamente la que emana de su capacidad para hablar de su época y, al<br />hacerlo, intentar intervenir en su futuro. Pero también es ese análisis<br />del capitalismo en constante búsqueda de un equilibrio inalcanzable lo<br />que hoy resulta más valioso que nunca, en un momento en que, de crisis<br />en crisis, no cesa de aumentar la capacidad del sistema para devastar a<br />la humanidad y la naturaleza.<br /><br />¿Cómo abolir, entonces, el capitalismo sin recaer en los fracasos y<br />errores del pasado? No encontraremos en las páginas del Manifiesto la<br />respuesta a esa pregunta. Sí encontraremos, en cambio, un análisis<br />poderoso y vivo, en que la cólera y la conciencia de los explotados y<br />dominados prefiguran la solución. A través del Manifiesto también<br />podremos apreciar mejor la urgente necesidad de una reflexión<br />estratégica sobre nuestra época, que no eluda la cuestión del Estado<br />pero que tampoco se limite a ella. Leer y releer el Manifiesto sigue<br />siendo, por tanto, una experiencia insustituible.<br /><br />Notas<br /><br />[1] Karl Marx, De la crítica de la filosofía del derecho de Hegel,<br />Barcelona, Editorial Gedisa, 2023. [La traducción de esta y todas las<br />demás citas que aparecen en el original en francés es mía, se remita o<br />no al lector a ediciones en castellano de las obras citadas —Nota del T.]<br /><br />[2] Ibid.<br /><br />[3] Friedrich Engels, “Esbozo de una crítica de la economía política”,<br />in Karl Marx y Arnold Rudge, Los anales franco-alemanes (trad. y notas<br />de J. M. Bravo), Barcelona, Ediciones Martínez Roca, 1970.<br /><br />[4] Friedrich Engels, La situación de la clase obrera en Inglaterra<br />(trad. G. Badia y J. Frédéric), Madrid, Akal, 2020.<br /><br />[5] Karl Marx y Friedrich Engels, La Sagrada Familia (trad. Carlos<br />Llacho), Madrid, Akal (Básica de bolsillo), 2013.<br /><br />[6] Karl Marx, Miseria de la filosofía (trad. Tomás Onaindia Gascón),<br />Madrid, Editorial Edaf (Biblioteca Edaf), 2015, p. 298.<br /><br />[7] Karl Marx, “Tesis sobre Feuerbach” in Obras escogidas de K. Marx y<br />F. Engels (Vol. 1), Moscú, Editorial Progreso, 1981, pp. 7-10<br />(http://www.marx2mao.com/M2M(SP)/M&E(SP)/TF45s.html<br /><http://www.marx2mao.com/M2M(SP)/M&E(SP)/TF45s.html>).<br /><br />[8] Karl Marx (Friedrich Engels), El Capital. Crítica de la economía<br />política I, 1 (Pedro Scarón, ed.), Madrid, Siglo XXI de España Editores,<br />2017. Disponible íntegramente en formato digital en traducción del<br />alemán de Cristián Fazio para la Editorial Progreso (Moscú, 1990) en<br />https://www.marxists.org/espanol/m-e/capital/karl-marx-el-capital-tomo-i-editorial-progreso.pdf.<br /><br />[9] Eric Hobsbawm, La era de la revolución: 1789-1848 (trad. Felipe<br />Ximénez de Sandoval), Buenos Aires, Paidós/Crítica, 2009 (6ª edición, 1ª<br />reimpresión). Disponible en formato digital en<br />https://resistir.info/livros/hobsbawm_la_era_de_las_revoluciones_1789_1848.pdf <https://resistir.info/livros/hobsbawm_la_era_de_las_revoluciones_1789_1848.pdf>.<br /><br />[10] Jean Quétier, “Dans le laboratoire du Manifeste du parti<br />communiste“, in Friedrich Engels, Les principes du communisme (trad. J.<br />Quétier), París, Éditions sociales, p. 10. Véase, en español, en formato<br />digital, Principios del comunismo, de Engels, en<br />https://www.marxists.org/espanol/m-e/1840s/47-princi.htm.<br /><br />[11] Bert Andreas, Le Manifeste communiste de Marx et d’Engels :<br />histoire et bibliographie 1848-1918, Milán, Feltrinelli, 1963, pp. 33-34.<br /><br />[12] Friedrich Engels, Les principes du communisme, ed. cit. Para su<br />traducción española véase enlace en nota 10 supra.<br /><br />[13] Carta de Karl Marx a Wilhelm Blos, 10 de noviembre de 1877.<br /><br />[14] Friedrich Engels, « Contribution à l’histoire de la Ligue des<br />communistes », in Friedrich Engels, Les principes du communisme, ed.<br />cit., p. 70. [Véase, en español, en formato digital, “Contribución a la<br />Historia de la Liga de los Comunistas” en<br />https://www.marxists.org/espanol/m-e/1880s/1885-hist.htm<br /><https://www.marxists.org/espanol/m-e/1880s/1885-hist.htm> — Nota del T.]<br /><br />[15] Ibid., pp. 69-70.<br /><br />[16] Fernando Claudín, Marx, Engels et la révolution de 1848, París,<br />Maspero, 1980, p. 109. [Ed. original: Fernando Claudín, Marx, Engels y<br />la revolución de 1848, Madrid, Siglo XXI de España Editores, 1975.]<br /><br />[17] Se han suprimido de las notas del original en francés todas<br />aquellas que remiten al texto del Manifiesto tal como aparece en la<br />edición de marras. Para las citas en español del Manifiesto, a fin de<br />facilitar su consulta por los lectores interesados, remitimos a la<br />versión disponible en formato digital en<br />https://www.flacsoandes.edu.ec/sites/default/files/agora/files/1309289843.lflacso_1848_03_marx.pdf. Se ha modificado, en algunos casos, la traducción. Véase nota 1 supra — Nota del T.]<br /><br />[18] Karl Marx y Friedrich Engels, La ideología alemana (trad. Wenceslao<br />Roces), Madrid, Akal, 2014. [Se ha modificado la traducción — Nota del T.]<br /><br />[19] Karl Marx, De la crítica de la filosofía del derecho de Hegel, ed. cit.<br /><br />[20] Véase Jean Quétier, « L’adieu aux sectes. Marx, théoricien du parti<br />», in Karl Marx, Sur le parti révolutionnaire, Paris, Éditions sociales,<br />2023, así como Stathis Kouvélakis, « Événement et stratégie<br />révolutionnaire », in Karl Marx y Friedrich Engels, Sur la Commune de<br />Paris. Textes et controverses, Paris, Éditions sociales, 2021.<br /><br />[21] Véase la presentación de Maurice Godelier in Friedrich Engels y<br />Karl Marx, Sur les sociétés précapitalistes, París, Éditions sociales,<br />2022, así como la obra de Kevin Anderson, Marx aux antipodes. Nations,<br />ethnicité et sociétés non occidentales, París, Syllepse, 2015. [Ed.<br />original: Kevin B. Anderson, Marx at the Margins. On Nationalism,<br />Ethnicity, and Non-Western Societies, The University of Chicago Press,<br />Chicago & London, 2010<br /><br />Em <br /><b>OBSERVATORIO DE LA CRISIS</b><br /><a href="https://observatoriocrisis.com/2024/01/10/ese-texto-acontecimiento-llamado-manifiesto-comunista/">https://observatoriocrisis.com/2024/01/10/ese-texto-acontecimiento-llamado-manifiesto-comunista/</a><br />10/1/2024</p>vieitez-dalrihttp://www.blogger.com/profile/05763049045156710323noreply@blogger.com0