quarta-feira, 11 de maio de 2016

Comunicado da Associação Latino-Americana de Sociología




A Associação Latino Americana de Sociologia vem a público expressar sua profunda preocupação e
seu repúdio a visíveis sinais, situações e atitudes de discriminação ideológica, relacionadas ao
momento político brasileiro e ao nível de polarização encontrado no país. Professores e profissionais
associados a perspectivas críticas vêm sendo acusados de "comunistas" e "socialistas", como se
esses rótulos representassem posições ilegais ou moralmente inadmissíveis em sociedades
democráticas, pluriideológicas e pluripartidárias. Vários destes profissionais estão sendo perseguidos
e, eventualmente, demitidos em instituições privadas, como testemunha o caso do Profº Paulo César
Ramos, cientista social, mestre em Sociologia e doutorando em Sociologia pela USP, que foi
recentemente demitido da escola em que trabalhava, sem explicações e sem justa causa, por pressão
de pais de alunos.
Outro indício de que há uma ofensiva contra professores que buscam o caminho do esclarecimento e
da reflexão é a recente pregação de ONGs e de políticos no sentido que os pais "defendam" seus
filhos da "doutrinação" esquerdista, feminista, dos direitos humanos e do pluralismo religioso. Médicos
deixam de atender crianças filhas de pessoas vinculadas ao partido político no governo, ações
agressivas vêm ocorrendo nas redes sociais e figuras públicas e personalidades são hostilizadas por
se encontrarem associadas à luta contra o impeachment da Presidente Dilma, independentemente de
seu vínculo a qualquer partido ou ausência de vinculação partidária.
Nas últimas semanas viemos acompanhando a repercussão da Palestra proferida pela Dra. Rita
Laura Segato no III Ciclo de Debates do Grupo Interdisciplinar de Pesquisas Feministas - GPFEM da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC-MG, que tematizou o "feminismo descolonial".
Nos preocupa a forma como essas atividades, os temas, o Grupo, a Dra. Rita Laura Segatto, a
coordenadora do GPFEM, Dra. Anete Roese, têm sido tratadas por parte de alguns grupos e setores
conservadores da sociedade. Temos visto reações e manifestações com forte carga de violência,
distorcendo tanto o conteúdo das atividades realizadas quanto o seu propósito, colocando em risco a
liberdade de pensamento e a produção acadêmica que é própria do espaço universitário. Afirmamos a
importância e o caráter imprescindível do trabalho desenvolvido pela instituição e pelo grupo, assim
como em todos os espaços de debate e produção dos Estudos Feministas e de Gênero,
particularmente quando são vítimas de processos inquisidores, o que por si só demonstra a sua
relevância.
Como uma associação internacional de estudos sobre a sociedade, comprometida com os valores
democráticos, a liberdade e a igualdade para todas e todos, a ALAS não pode furtar-se a chamar a
atenção dos(as) cientistas sociais brasileiros(as) e latino-americanos(as) para o fato de que essas
atitudes guardam relação não-acidental com um momento histórico cruel e obscuro da história recente
da humanidade, que se expressou no nazi-fascismo, na perseguição política e social e no genocídio.
Recomenda, portanto, que a sociedade brasileira atente para esses preocupantes indicativos e que as
sociedades latino-americanas englobadas na jurisdição de nossa Associação expressem sua
inequívoca solidariedade às pessoas que estão sendo alvo de intimidação, discriminação e
perseguição em função de suas posições intelectuais críticas, de esquerda ou vinculadas aos
movimentos sociais e populares em nossa região.
Representando o mandato da junta diretora que, reunida em Montevidéu, decidiu fazer este
comunicado


Dra. Nora Garita
Presidenta ALAS
Dra. Ana Rivoir
vicePta. ALAS

11/5/2016

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