segunda-feira, 31 de agosto de 2020

“Todas as alegações a favor da privatização dos Correios são falsas”

 


Empresa abandona negociação e funcionários dos Correios entram | Geral
Foto: Sin­tecet

Em meio a uma pan­demia em que o nú­mero de mortes se mantém com uma es­ta­bi­li­dade as­sus­ta­dora, o Brasil “pós-cor­rupção” segue em frente com sua agenda de li­qui­dação do que resta de pú­blico e so­cial. De­pois da mão do STF para can­celar o Acordo Co­le­tivo, o go­verno co­loca na mesa a pri­va­ti­zação dos Cor­reios, velho ob­je­tivo dos en­tu­si­astas do ajuste fiscal e eco­no­mistas de uma nota só. A res­posta da ca­te­goria, que conta mais de 120 mortes na pan­demia, é a greve. É sobre tudo isso que en­tre­vis­tamos Adriano Dias, fun­ci­o­nário da es­tatal.

“(te­ríamos) um ser­viço caro e ruim, que não che­garia a todos os cantos do país. Também que­braria o ca­ráter so­cial da em­presa, que usa sua lo­gís­tica e es­tru­tura para en­trega de re­mé­dios e li­vros di­dá­ticos em di­versos lo­cais. O ca­ráter so­cial da em­presa será, ob­vi­a­mente, com­pro­me­tido se a em­presa passar à ini­ci­a­tiva pri­vada, que visa apenas o lucro e, com cer­teza, só vai querer atender às grandes me­tró­poles e prin­ci­pais mu­ni­cí­pios. Para os tra­ba­lha­dores, a exemplo de ou­tras pri­va­ti­za­ções, te­ríamos de­sem­prego, re­dução do sa­lário e com­bate ao di­reito de or­ga­ni­zação, como é ha­bi­tual nas grandes em­presas”, elencou.

Na en­tre­vista, além de re­bater todos os ar­gu­mentos pri­va­tistas, Adriano Dias ana­lisa a con­jun­tura que cerca o de­bate e lembra da pos­tura ne­gli­gente da em­presa, pre­si­dida pelo Ge­neral Flo­riano Pei­xoto, no cui­dado com seus fun­ci­o­ná­rios, so­ne­gando nú­meros sobre mortes e afas­ta­mentos.

“A em­presa é muito ne­gli­gente na pan­demia. Ti­vemos greves sa­ni­tá­rias em al­gumas uni­dades, para ga­rantir que os con­ta­mi­nados fossem afas­tados, as uni­dades hi­gi­e­ni­zadas e até fe­chadas. Pre­ci­samos de de­ci­sões ju­di­ciais para ga­rantir o cum­pri­mento do pro­to­colo. A em­presa agiu, por­tanto, de forma con­di­zente com o go­verno Bol­so­naro, já que o pre­si­dente da em­presa foi in­di­cado por ele. E atua da mesma forma do go­verno, ne­gando, se­cun­da­ri­zando a im­por­tância dos fatos...”, cri­ticou.

Do ponto de vista econô­mico e fiscal, antes de qual­quer mu­dança de pos­tura, existe uma con­ci­li­ação geral sobre aus­te­ri­dade fiscal, PEC que reduz sa­lá­rios no meio da pan­demia, PEC do or­ça­mento de guerra, re­formas como a da Pre­vi­dência...

Adriano também la­menta a falta de opo­sição real ao pro­jeto de go­verno, o que per­mite um go­verno cer­cado de in­com­pe­tência po­lí­tica e cor­rupção em seu nú­cleo duro es­tirar a corda.

“In­de­pen­den­te­mente das pos­turas bé­licas de Bol­so­naro per­for­madas ali no cer­ca­dinho do Pla­nalto, ele já tem acordos com o con­gresso sobre ques­tões fun­da­men­tais. O fato con­creto é que não existe uma opo­sição com­ba­tiva no país, que en­frente de forma co­ti­diana o go­verno. Na ver­dade são muitas po­si­ções con­flu­entes”.

A en­tre­vista com­pleta com Adriano Dias pode ser lida a se­guir.

Cor­reio da Ci­da­dania: Por que os Cor­reios de­fla­graram greve? A pro­posta de pri­va­ti­zação é o prin­cipal mo­tivo?

Adriano Dias: Por causa de duas bru­ta­li­dades. A pri­meira foi a li­minar que a em­presa con­se­guiu no STF, a mudar a vi­gência do Acordo Co­le­tivo que passou de 2 para 1 ano. A li­minar de Tof­foli per­mitiu essa re­dução de tempo, o que fez o acordo acabar em 31 de julho.

A se­gunda, mais pe­sada, é a pro­posta apre­sen­tada pela em­presa na cam­panha sa­la­rial, com a re­ti­rada de 70 cláu­sulas do Acordo Co­le­tivo. Sig­ni­fica re­dução drás­tica dos nossos be­ne­fí­cios, que têm sido a base dos ren­di­mentos dos tra­ba­lha­dores, já que não temos tido ga­nhos reais.

Os ata­ques sig­ni­ficam re­dução do vale-ali­men­tação, au­mento do com­par­ti­lha­mento (des­conto em vales, como o vale-cul­tura, que aca­baria); fim da gra­ti­fi­cação de fé­rias, fim do au­xilio-es­pe­cial dado a em­pre­gados es­pe­ciais, re­dução da idade da cri­ança com di­reito a au­xilio-creche, que cairia de 7 para 5 anos de idade...

Como disse, tais be­ne­fí­cios são base do nosso ren­di­mento, uma vez que não temos ganho real há tempos e em muitos casos a perda de poder aqui­si­tivo do sa­lário já é de 50%.

Ta­manha bru­ta­li­dade está vin­cu­lada à po­lí­tica de pri­va­ti­zação; atacam-se di­reitos, be­ne­fí­cios, custos de mão de obra, a fim de ba­rateá-la e fa­ci­litar a pri­va­ti­zação. Os ata­ques, em re­sumo, estão vin­cu­lados à ideia de pri­va­tizar os Cor­reios. A greve co­necta, por­tanto, esses dois as­pectos.

Cor­reio da Ci­da­dania: Por que o acordo co­le­tivo foi der­ro­gado e qual a sua im­por­tância para os tra­ba­lha­dores?

Adriano Dias: O Acordo Co­le­tivo foi der­ro­gado para per­mitir que a em­presa apre­sen­tasse essa pro­posta de re­ti­rada de be­ne­fí­cios e di­mi­nuísse as cláu­sulas. O dis­sídio de 2019 va­leria para dois anos, o único que po­de­ríamos dis­cutir seria o re­a­juste. O Acordo der­ro­gado per­mite al­te­ração nos be­ne­fí­cios e apli­cação da po­lí­tica de ajuste nos Cor­reios.

Não é só a questão econô­mica: tem saúde do tra­ba­lhador, es­ta­bi­li­dade do tra­ba­lhador da CIPA (Co­missão In­terna de Pre­venção de Aci­dentes). Querem re­tirar tudo, nos as­pectos econô­micos e so­ciais. O Acordo ga­rantia que a pro­posta não fosse apenas verbal, e se os Cor­reios des­cum­prissem al­guma coisa po­de­ríamos re­correr ao do­cu­mento. É a nossa de­fesa para quando a em­presa des­cumpre sua parte.

Cor­reio da Ci­da­dania: O que pensa das ale­ga­ções para a pri­va­ti­zação dos Cor­reios?

Adriano Dias: São todas falsas. Eles co­meçam fa­lando que temos mo­no­pólio no ser­viço postal. Men­tira. Existem muitas em­presas no setor. A questão é que os Cor­reios não apenas são mais ba­ratos como en­tregam em todo o país. A questão é que a con­cor­rência é pior, mais cara e não en­trega em todos os mu­ni­cí­pios.

O se­gundo ponto é o su­posto pre­juízo nos úl­timos três anos. Outra men­tira, a em­presa é lu­cra­tiva. Com a pan­demia e o cres­ci­mento do co­mércio ele­trô­nico a pers­pec­tiva de lucro é até maior, como já visto no pri­meiro tri­mestre do ano.

O pro­blema é que temos uma em­presa onde o pre­si­dente ganha 45 mil reais e os seis di­re­tores ga­nham 40 mil, e a em­presa não in­veste jus­ta­mente pra fa­ci­litar o dis­curso pri­va­tista.

Outra men­tira é a de que a po­pu­lação banca a em­presa. É o con­trário, a em­presa não re­cebe um real da po­pu­lação, até sus­ten­tamos o Te­souro Na­ci­onal em certo pe­ríodo. No go­verno Dilma a em­presa deu 6 bi­lhões de reais entre lu­cros e di­vi­dendos.

A quarta é que o ser­viço vai me­lhorar. Claro que não, isso nunca acon­teceu nas pri­va­ti­za­ções. Será que o ser­viço vai mesmo con­ti­nuar fun­ci­o­nando do Oi­a­poque ao Chuí? Já deu pra ver vá­rias em­presas pri­vadas que na pan­demia não se ca­rac­te­rizam pelo ser­viço de qua­li­dade.

Todas as ale­ga­ções são falsas: o único ob­je­tivo do go­verno Bol­so­naro é en­tregar uma em­presa ren­tável para algum aliado do mer­cado.

Cor­reio da Ci­da­dania: Quais se­riam as con­sequên­cias dessa even­tual pri­va­ti­zação?

Adriano Dias: Um ser­viço caro e ruim, que não che­garia a todos os cantos do país. Também que­braria o ca­ráter so­cial da em­presa, que usa sua lo­gís­tica e es­tru­tura para en­trega de re­mé­dios e li­vros di­dá­ticos em di­versos lo­cais, ga­ran­tindo, por exemplo, o ENEM.

O ca­ráter so­cial da em­presa será, ob­vi­a­mente, com­pro­me­tido se a em­presa passar à ini­ci­a­tiva pri­vada, que visa apenas o lucro e, com cer­teza, só vai querer atender às grandes me­tró­poles e prin­ci­pais mu­ni­cí­pios. Não vai querer ir aos lo­cais mais dis­tantes. Isso no ime­diato.

Para os tra­ba­lha­dores, a exemplo de ou­tras pri­va­ti­za­ções, te­ríamos de­sem­prego, re­dução do sa­lário e com­bate ao di­reito de or­ga­ni­zação, como é ha­bi­tual nas grandes em­presas.

Cor­reio da Ci­da­dania: Qual a es­tra­tégia de vocês para manter a greve em meio à pan­demia?

Adriano Dias: Uma greve neste con­texto di­fi­culta a or­ga­ni­zação. Até porque uma parte da ca­te­goria está afas­tada pelo covid-19. Pelo ta­manho do ataque, a prin­cipal es­tra­tégia é a mo­bi­li­zação, que ge­ral­mente são atos e pi­quetes. A mai­oria das as­sem­bleias foi pre­sen­cial, cerca de 80%, en­quanto as ou­tras foram vir­tuais.

Ti­vemos atos em al­gumas ci­dades do país, como BH e Vi­tória. A prin­cipal es­tra­tégia, mesmo no meio da pan­demia, é a mo­bi­li­zação, pois não existe outra forma de der­rotar essas bru­ta­li­dades senão através da luta. A es­tra­tégia é manter os atos e pi­quetes, for­ta­lecer a greve, con­vencer os que ainda não estão con­ven­cidos e au­mentar ainda mais a força do mo­vi­mento, para assim impor uma der­rota ao go­verno Bol­so­naro e à di­reção da em­presa.

Cor­reio da Ci­da­dania: Qual a pos­tura da em­presa di­ante da pan­demia e como ela afetou tra­ba­lha­dores e ser­viços?

Adriano Dias: A em­presa é muito ne­gli­gente na pan­demia. Ti­vemos greves sa­ni­tá­rias em al­gumas uni­dades, para ga­rantir que os con­ta­mi­nados fossem afas­tados, as uni­dades hi­gi­e­ni­zadas e até fe­chadas. Pre­ci­samos de de­ci­sões ju­di­ciais para ga­rantir o cum­pri­mento do pro­to­colo. A em­presa agiu, por­tanto, de forma con­di­zente com o go­verno Bol­so­naro, já que o pre­si­dente da em­presa foi in­di­cado por ele. E atua da mesma forma do go­verno, ne­gando, se­cun­da­ri­zando a im­por­tância dos fatos...

A em­presa não for­nece o nú­mero de mortos e con­ta­mi­nados. O sin­di­cato pre­cisa fazer um ser­viço pró­prio, cuja con­tagem atinge mais de 120 mortos por covid-19. É a ab­surda a pos­tura da em­presa na pan­demia.

É óbvio que tal pro­cesso de con­ta­mi­nação e afas­ta­mento de tra­ba­lha­dores afeta os ser­viços. Es­tamos na linha de frente, nas ruas, li­dando com as pes­soas. Claro que tem im­pacto. Mas é im­por­tante a po­pu­lação saber que a res­pon­sa­bi­li­dade do ser­viço é da em­presa, que su­ca­teou, tirou di­nheiro e não se pre­parou para a pan­demia, ao menos para en­tregar o es­sen­cial, como re­mé­dios.

A em­presa quis fun­ci­onar nor­mal­mente, foi ne­gli­gente para ga­rantir lu­cros que de­pois não são re­pas­sados para os tra­ba­lha­dores. A em­presa não se pre­parou nem para cuidar de seus tra­ba­lha­dores nem para ga­rantir os ser­viços mais im­por­tantes. E como não tem con­curso desde 2011, so­fremos bas­tante com a grave crise sa­ni­tária nos dois as­pectos aqui men­ci­o­nados.

Cor­reio da Ci­da­dania: O que pensa da noção recém-em­pa­co­tada pela grande mídia de que Bol­so­naro, de­pois de tantas ati­tudes aber­ta­mente cri­mi­nosas, in­clu­sive a re­ve­lação de sua von­tade de tramar golpe de Es­tado, como mos­trou a Re­vista Piauí, es­taria apren­dendo a se “con­ci­liar”, “ne­go­ciar”, “di­a­logar”, in­clu­sive com o até outro dia exe­crado cen­trão? Como en­xerga a opo­sição a seu go­verno de modo geral, tanto à di­reita como à es­querda?

Adriano Dias: Pri­mei­ra­mente, é im­por­tante des­tacar que Bol­so­naro não mudou seu perfil au­to­ri­tário e suas ideias. Con­tinua en­tu­si­asta da di­ta­dura mi­litar e de gente como Ustra. Basta ver o dossiê sobre os an­ti­fas­cistas na má­quina pú­blica.

Acon­tece que ele busca saídas das su­ces­sivas crises, ex­pres­sadas na in­ves­ti­gação de seu filho Flavio, a prisão de Queiroz e sua es­posa, fun­da­men­tais para re­velar o que é a car­reira po­lí­tica de Bol­so­naro. É essa imagem que ele não quer des­gastar.

Do ponto de vista econô­mico e fiscal, antes de qual­quer mu­dança de pos­tura, existe uma con­ci­li­ação geral sobre aus­te­ri­dade fiscal, PEC que reduz sa­lá­rios no meio da pan­demia, PEC do or­ça­mento de guerra, re­formas como a da Pre­vi­dência...

In­de­pen­den­te­mente de suas pos­turas bé­licas per­for­madas ali no cer­ca­dinho do Pla­nalto, ele já tem acordos com o con­gresso sobre ques­tões fun­da­men­tais.

Claro que tem a con­tra­dição de seu dis­curso de cam­panha, que fa­lava em nova po­lí­tica e co­loca o cen­trão em cargos chaves do go­verno, a exemplo da re­cri­ação do Mi­nis­tério das Co­mu­ni­ca­ções, en­tre­gando o cargo a Fabio Faria, li­gado a Kassab. Tem a re­lação com Ro­berto Jef­ferson... Vá­rias coisas que de­mons­tram que o go­verno vive em con­tra­dição total com seu dis­curso elei­toral.

Vejo assim: a opo­sição em geral não com­bate o go­verno. Há muito acordo sobre o ajuste fiscal. No início da pan­demia os go­ver­na­dores es­ta­duais ten­taram se di­fe­ren­ciar, mas hoje já querem abrir tudo. E não falo só da opo­sição de di­reita. O fato con­creto é que não existe uma opo­sição com­ba­tiva no país, que en­frente de forma co­ti­diana o go­verno. Na ver­dade são muitas po­si­ções con­flu­entes.

Por exemplo: na MP 936 a opo­sição votou a favor, uma me­dida que sus­pende sa­lá­rios e con­tratos. In­clu­sive fa­lamos disso na cam­panha dos Cor­reios, já que muitos estão com sa­lá­rios re­du­zidos. O ajuste fiscal re­pre­senta o au­to­ri­ta­rismo na eco­nomia e existe pouca opo­sição real a isso.

As pes­quisas que aferem o au­mento da po­pu­la­ri­dade de Bol­so­naro são con­sequência disso. Nin­guém de fato faz en­fren­ta­mento à agenda po­lí­tica do go­verno, em muitos casos até re­pro­duzem em es­calas mu­ni­ci­pais e es­ta­duais. Uma opo­sição que não quer ir pra rua, não quer cons­truir um en­fren­ta­mento maior e fre­quen­te­mente segue as mesmas po­lí­ticas, a exemplo da pos­tura na pan­demia e nos ajustes fis­cais.

A greve dos Cor­reios mostra que a única forma de impor der­rotas ao go­verno é na luta. E, com todos os cui­dados, ir para a rua. A única forma de ar­rancar uma qua­ren­tena geral é na luta. O pro­jeto é ca­te­gó­rico: re­tirar di­reitos, com ou sem pan­demia. Não estão nem aí para nós, vão se­guir na agenda de cortar tudo. E não vejo a opo­sição dis­posta a or­ga­nizar tra­ba­lha­dores para irem às ruas e der­rotar o go­verno, pra não falar em der­rubar Bol­so­naro e Mourão.

Ga­briel Brito é jor­na­lista e editor do Cor­reio da Ci­da­dania.

In

CORREIO DA CIDADANIA 


https://www.correiocidadania.com.br/34-artigos/manchete/14342-todas-as-alegacoes-a-favor-da-privatizacao-dos-correios-sao-falsas

28/8/2020

sábado, 29 de agosto de 2020

Juego de sombras: la alianza euroasiática está más cerca de lo que se cree

 




*DETRÁS DE LA NIEBLA DE LAS INFORMACIONES SE ACERCA UN REORDENAMIENTO
MUNDIAL CON EL CONTINENTE EUROASIÁTICO COMO PROTAGONISTA *

por Pepe Escobar, periodista brasileño experto en geopolítica

Hemos visto cómo China está planeando meticulosamente todos sus
decisivos movimientos geopolíticos y geoeconómicos hasta el 2030 y más allá.

Lo que están a punto de leer a continuación proviene de una serie de
conversaciones con analistas de inteligencia, y puede ayudar a bosquejar
los lindes del actual gran tablero de ajedrez de la política mundial

En China, está claro que el camino a seguir apunta a impulsar la demanda
interna, y ha dirigir toda su política monetaria para consolidar la
construcción de industrias nacionales de nivel mundial.

Paralelamente, en Moscú se discute: ¿Rusia debe seguir el mismo camino?

Según un analista de inteligencia ruso, «Rusia no debería importar nada,
salvo las tecnologías que necesita hasta que pueda crearlas por sí misma
y exportar sólo el petróleo y el gas que se requiere para pagar las
importaciones. China necesita recursos naturales, lo que hace que Rusia
y China sean aliados insuperables. Una nación debería ser tan
autosuficiente cuanto le sea posible».

La estrategia del Partido Comunista de China (PCCH) fue delineada por el
Presidente Xi en la reunión del Comité Central del 31 de julio. .. y fue
en contra de un ala neoliberal el partido que han soñado con la
conversión del partido en una organización socialdemócrata al estilo
occidental  y supeditada a los intereses del capital occidental –
¿colaboracionistas?.

Comparar la velocidad del desarrollo económico de China con el de los
Estados Unidos es como comparar un Maserati Gran Turismo (con un motor
V8 ) con un Toyota Camry.

China, proporcionalmente, tiene una reserva de generaciones jóvenes muy
bien educados; una migración rural-urbana acelerada; una rápida
erradicación de la pobreza; gran capacidad de ahorro de su población; un
sentido cultural de gratificación diferida; una sociedad -confucionista-
con disciplina social y con una inteligencia racionalmente educada.

El proceso de que China comercie cada vez más consigo misma será más que
suficiente para mantener el necesario impulso para un desarrollo sostenible.

*El factor hipersónico*

Mientras tanto, en el frente geopolítico, el consenso en Moscú (desde el
Kremlin hasta el Ministerio de Relaciones Exteriores) es que la
administración Trump no es «capaz de llegar a un acuerdo», un eufemismo
diplomático que se refiere a un grupo de embusteros que tampoco es
«capaz de actuar legalmente». Otro eufemismo que se aplica, por ejemplo,
a la ruptura de los acuerdos por parte de Trump

El Presidente Putin ha dicho en el pasado reciente que negociar con el
Equipo Trump es como jugar al ajedrez con una paloma chiflada: un pájaro
que camina por sobre el tablero de ajedrez, caga indiscriminadamente,
derriba piezas, declara la victoria y luego huye.

En contraste, el gobierno ruso invierte su tiempo en construir una
alianza euroasiática uniendo a Alemania, Rusia y China.

Este escenario se aplicará en Alemania después del Frau Merkel. Según un
analista estadounidense, «lo único que frena a Alemania es que pueden
perder sus exportaciones de coches a los Estados Unidos. Pero esto puede
suceder de inmediato debido a la tasa de cambio dólar-euro, con el euro
cada vez más fuerte».

En el frente nuclear, y yendo mucho más allá de la actual situación en
Bielorrusia (ya que no habrá ningún Maidan en Minsk) Moscú ha dejado muy
claro que cualquier ataque con misiles de la OTAN será interpretado como
un ataque nuclear.

El sistema de misiles defensivos de Rusia -incluyendo los ya probados
S-500, y los nuevos S-600- podrían ser un 99% efectivos. Esto significa
que los rusos tendrían que absorber algún tipo de castigo. Por esta
razón Rusia ha construido una extensa red de refugios antinucleares, en
las grandes ciudades,  para proteger al menos a 40 millones de personas.

Los analistas rusos explican que el enfoque defensivo de China está en
la misma línea. Pekín estaría desarrollando – si no lo ha hecho ya – un
escudo defensivo, con capacidad para contraatacar un ataque de misiles
nucleares estadounidenses.

Los mejores analistas rusos, como Andrei Martyanov, saben que las tres
principales armas de una posible próxima guerra serán; los misiles, los
submarinos (ofensivos y defensivos) y las herramientas de guerra
cibernética.

El arma clave hoy en día – y los chinos lo entienden notoriamente – son
los submarinos nucleares. Los rusos han observado que China está
construyendo una flota de submarinos – con misiles hipersónicos – mucho
más rápido que los EEUU. Las flotas de superficie están obsoletas. Una
miríada de submarinos chinos puede acabar fácilmente con una fuerza de
ataque de un portaaviones. Las fuerzas de ataque de los portaaviones
estadounidenses tienen muy poco valor en las actuales circunstancias.

Lo que estimula  a China a obtener la mayor parte de sus recursos
energéticos por tierra desde Rusia se explica por una estratégica: esta
será la ruta segura en el caso que los mares queden bloqueados – al
tráfico comercial – por una guerra entre Estados Unidos, por un lado y
Rusia y China por el otro.

Incluso si los oleoductos son bombardeados, estos pueden ser reparados
en muy poco tiempo. De ahí la importancia que tiene para China la serie
de proyectos conjuntos con empresa Gazprom de Rusia.

*El factor Ormuz*

Un secreto muy bien guardado en Moscú es que justo después de las
sanciones alemanas impuestas en relación con Ucrania, un importante
operador mundial de energía se acercó a Rusia con una oferta para
desviar a China no menos de 7 millones de barriles al día de petróleo
más una inmensa cantidad de gas natural. Pase lo que pase, la propuesta
sigue sobre la mesa de un asesor de petróleo y gas del Presidente Putin.

En el caso de que eso ocurriera, China se aseguraría de todos los
recursos naturales que necesita. Bajo esta hipótesis, la lógica rusa
sería evitar las sanciones alemanas cambiando sus exportaciones de
petróleo a China, que desde el punto de vista ruso es más avanzada en
tecnología de consumo que Alemania. Por supuesto este escenario no ha
impedido la inminente conclusión de Nord Stream 2 .

Los servicios de inteligencia le han dejado muy claro a los industriales
alemanes que si Alemania perdiera su fuente rusa de petróleo y gas
natural, y el Estrecho de Ormuz fuera bloqueado por Irán (en caso de un
ataque americano) la economía alemana podría simplemente colapsar.

Ha habido serios debates entre los servicios de inteligencia sobre la
posibilidad de que una “sorpresa de Octubre” patrocinada por EEUU, que
actuando con una bandera falsa acuse a Irán del inicio de una guerra .
La «máxima presión» del Equipo Trump sobre Irán no tiene absolutamente
nada que ver con el Tratado de Control de Armas atómicas . Lo que
importa es que, incluso indirectamente, la asociación estratégica entre
Rusia y China ha dejado muy claro que Teherán será protegido como un
activo estratégico – y como un nodo clave de la integración de Eurasia.

Los analistas de inteligencia centran su preocupación en un escenario
-bastante improbable – de un colapso del gobierno de Teherán. Lo primero
que Washington haría en este caso es tirar del interruptor del sistema
de compensación SWIFT. El objetivo sería aplastar la economía rusa. Si
este escenario llegara a ocurrir, China podría perder a sus dos aliados
clave en un solo movimiento, y luego tener que enfrentarse a Washington
solo, en una etapa que todavía no poder asegurarse todos los recursos
naturales necesarios.

Esta  situación sería una verdadera amenaza existencial. Esto explica la
lógica detrás de la creciente interconexión de la asociación estratégica
Rusia-China, la aceleración al máximo la fusión de los sistemas de pago
Mir ruso y CHIPS chino, los más de 400.000 millones de dólares del
acuerdo China-Irán de 25 años de duración y las medidas para eludir el
dólar estadounidense en el comercio internacional.

*Bismarck ha regresado*

Otro posible acuerdo secreto ya discutido en los más altos niveles de
inteligencia es la posibilidad de un Tratado de Reaseguros ( inspirado
en el canciller Bismarck) a ser establecido entre Alemania y Rusia. La
consecuencia inevitable sería una alianza de facto Berlín-Moscú-Pekín
que abarcaría la Iniciativa del Cinturón y la Carretera (BRI), junto con
la creación de un nueva moneda euroasiática (¿digital?) para la alianza
euroasiática, que incluiría actores importantes pero periféricos como
Francia e Italia.

Bueno, el eje Beijing-Moscú ya está en funcionamiento. Berlín-Pekín es
un trabajo en progreso. El eslabón todavía desconocido es Berlín-Moscú.

Este cambio mundial representaría no sólo la última pesadilla para las
elites angloamericanas – rebasados por Mackinder-  sino también el paso
de la antorcha geopolítica de los imperios marítimos al corazón de Eurasia.

Ya no es una ficción. Ahora está sobre la mesa.

Por un momento, hagamos un pequeño viaje en el tiempo y vayamos al año
1348. Los mongoles están en Crimea, sitiando la ciudad de Kaffa – un
puerto comercial en el Mar Negro controlado por los genoveses.
Repentinamente, el ejército mongol es reducido por la peste bubónica.
Sus generales lanzan los cadáveres contaminados sobre las murallas de la
ciudad de Crimea.

Que pasa cuando los barcos comenzaron a navegar de nuevo de Kaffa a
Génova. Transportaron la plaga a Italia. En 1360, la Peste Negra estaba
literalmente por todas partes, desde Lisboa a Nóvgorod, desde Sicilia a
Noruega. Se calcula que hasta el 60% de la población de Europa pudo
haber muerto, más de 100 millones de personas.

Algunos historiadores argumentan que el Renacimiento se retrasó un siglo
entero, debido a la plaga.

La Covid-19, por supuesto, está lejos de ser una plaga medieval. Pero
sería adecuado preguntarse.

¿Qué Renacimiento podría estar retrasando la actual pandemia ?

Bueno, podría estar adelantándose el Renacimiento de Eurasia. Esto
ocurre justo cuando el antiguo hegemón está implosionando internamente,
«distraído por la distracción», para citar a T.S. Eliot.

Detrás de la niebla, de los juegos de sombras, ya está en marcha los
movimientos trascendentes que reorganizan la gran masa terrestre
euroasiática.

In
OBSERVATORIO DE LA CRISIS
https://observatoriocrisis.com/2020/08/29/juego-de-sombras-la-alianza-euroasiatica-esta-mas-cerca-de-lo-que-se-cree/
29/8/2020

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

A vacina russa contra a COVID 19, sobre os ombros da URSS

 
 

*por Angeles Maestro [*]

Cartoon de Serko. Se escrevo este artigo é porque creio que ninguém está
a dizer o óbvio:   as equipas científicas russas foram capazes de criar
a vacina porque ainda existe uma poderosa estrutura estatal de
laboratórios de investigação que foi desenvolvida pela União Soviética.

O anúncio de que a Rússia já dispunha de uma vacina contra a Covid-19
deu lugar a massivas desqualificações prenhes de carga política e
económica. O alinhamento com os EUA por parte dos grandes meios de
comunicação, correias de transmissão da servil subordinação política ao
imperialismo norte-americano – que por outro lado se assemelha cada vez
mais àquele que tenta salvar-se agarrando-se a quem se afoga –, leva a
desqualificar tudo o que vem da Rússia com a irracionalidade e
sistematicidade de uma mola.

No caso da vacina russa, a rejeição mediática generalizada está também
untada pelos poderosíssimos interesses das multinacionais farmacêuticas.
Os impérios do medicamento já esfregavam as mãos e preparavam os seus
cofres para recolher os lucros da venda mundial de centenas de milhões
de vacinas. Ainda está fresca a memória dos milhares de milhões de
dólares obtidos pela Gilead [1] <#notas> com o Sovaldi ou pela Roche com
o Tamiflu [2] <#notas> , fármaco criado contra uma epidemia, a da Gripe
A, que nunca existiu.

Muito se ironizou sobre os dois lapsos de Fernando Simón
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Sim%C3%B3n> ao atribuir a vacina
à URSS. Desconheço qual é a opinião de Simon sobre a URSS, mas
efectivamente, os avanços soviéticos em saúde pública e medicina
preventiva – alguns dos quais sobreviveram à Perestroika de Gorbachev,
que considerava suspeito de ineficácia tudo o que era público – tornaram
possível uma vacina à qual, significativamente, chamaram Sputnik V.

*A URSS e a saúde pública *

A Revolução de Outubro de 1917 deu origem ao primeiro sistema público de
saúde, universal, baseado na promoção da saúde e na prevenção da doença
e que exigia no seu funcionamento a participação da população na tomada
de decisões [3] <#notas> .

Num Estado que apresentava no início do século XX taxas de mortalidade
infantil elevadíssimas – de cada 1.000 mortos, dois terços eram crianças
com menos de 5 anos – e de mortalidade por doenças infecciosas (a
mortalidade por tuberculose era de 400/100.000), a implementação de
serviços de saúde em todos os recantos do imenso território foi
acompanhada pela implementação de medidas de prevenção generalizadas [4]
<#notas> .

A vacinação de toda a população foi mais uma medida, entre outras também
decisivas. O acesso a água potável e ao tratamento de resíduos, à
electricidade ("O comunismo é o poder dos sovietes mais a electrificação
de todo o país" V.I. Lénine [5] <#notas> ), a habitação higiénica com
aquecimento, a boa alimentação, a condições de trabalho decentes, a
educação, … e ao poder político – /conditio sine qua non / –, são muito
mais importantes do que os medicamentos para melhorar a saúde das
populações [6] <#notas> .

A Rússia czarista já havia desenvolvido uma importante trajectória
científica em microbiologia, e especificamente em vacinas, que não
chegavam ao seu povo. Antes da descoberta da vacina contra a varíola por
Edward Jenner em 1796 e uma vez que a doença devastava desde há séculos
a vida de milhões de pessoas em todo o mundo, aplicava-se um
procedimento arriscado: a /variolização. / Provocava-se o contágio para
induzir imunidade, embora o risco de morte fosse elevado.

Após a morte por varíola do czar Pedro I em 1730, a imperatriz Catarina
II, juntamente com o seu séquito, submeteu-se publicamente a tal
procedimento – que teve êxito – e utilizou-o como arma propagandística a
favor da ciência e contra a superstição. Efectivamente, com apoio
estatal foram desenvolvidas instituições científicas relacionadas com a
imunologia.

O Centro Nacional de Investigação de Epidemiologia e Microbiologia,
responsável pela descoberta da vacina contra a Covid 19, tem o nome do
cientista Fiodor Gamaleya
<https://en.wikipedia.org/wiki/Nikolay_Gamaleya> . Gamaleya desenvolveu
nos finais do século XIX importantes investigações sobre a raiva com
Luis Pasteur e com o seu apoio fundou o primeiro Instituto
Bacteriológico da Rússia, o segundo do mundo. Seguiram-se descobertas de
Gamaleya e outros cientistas russos sobre vacinas e mecanismos de
transmissão da cólera, peste, tifo, etc.

O triunfo da Revolução em 1917 criou as condições para a aplicação
desses avanços, que tinham permanecido encerrados em laboratórios, ao
conjunto da população. Realizou-se a primeira campanha de vacinação
universal da história da humanidade:   em 18 de Setembro de 1918, o
Comissário do Povo para a Saúde Pública N.A. Semashko adoptou o
"Regulamento de vacinação contra a varíola" baseado no relatório
científico de Gamaleya e em Abril de 1919 o Presidente do Conselho de
Comissários do Povo V.I. Lénine assinou o decreto correspondente. Foi a
primeira campanha de vacinação universal da história da humanidade [7]
<#notas> .

No início dos anos 1930, a URSS foi o primeiro território do mundo a
anunciar a erradicação da varíola. À escala mundial esse facto ocorreu
50 anos depois.

Os anos em que a OMS gozou de prestígio e autoridade mundiais – antes de
ser engolida pelas multinacionais farmacêuticas – foram tempos de grande
influência da URSS. Em 1958, Viktor Zhdanov, vice-ministro da Saúde
soviético, propôs à Assembleia da OMS um plano para erradicar a varíola
à escala global, que foi aprovado e posto em marcha. Algo mais de vinte
anos depois, ao declarar a erradicação da varíola no planeta, o director
da OMS lembrou a contribuição extraordinária da URSS para os países
carentes de recursos: 400 milhões de doses da vacina [8] <#notas> .

*A vacina contra a poliomielite na URSS e a da Covid 19 *

Em meados do século XX uma nova epidemia causava grande mortandade e
incapacitações: a poliomielite. Nos EUA, em 1955, foi desenvolvida a
primeira vacina, baptizada Salk com o nome do seu descobridor. Pouco
depois, o virologista Albert Sabin descobriu outro tipo de vacina mais
eficaz, mais barata e mais segura (a vacina de Salk tinha apenas 60% de
eficácia). Dado o sucesso da primeira não foi possível testá-la nos EUA.

Os cientistas soviéticos, Mikhail Chumakov e Anatoly Smorodintsev, foram
enviados aos Estados Unidos. Sabin e Chumakov acordaram continuar a
desenvolver a vacina em Moscovo. Vários milhares de doses da vacina
foram trazidos dos Estados Unidos numa mala vulgar e as primeiras
vacinações começaram.

Chumakov e a sua companheira, a virologista Marina Voroshilova,
iniciaram a experiência em Moscovo com os seus próprios filhos. A vacina
consistia num vírus debilitado, utilizava-se a via oral e era
administrada por meio de um torrão de açúcar, de forma que não
necessitava de pessoal qualificado.

Em ano e meio acabou a epidemia na URSS. Em 1960, 77,5 milhões de
pessoas foram vacinadas. Albert Sabin foi chamado a depor acusado de
actividades anti-americanas.

Uma anedota da época acaba por ser de grande actualidade. No Japão, a
poliomielite assolava a população infantil e apenas a vacina Salk, de
eficácia limitada e além disso em quantidade insuficiente, estava
disponível. A vacina produzida na URSS não conseguia, por óbvias razões
políticas e económicas, as licenças para ser importada. Depois de
diversas peripécias, milhares de mulheres japonesas saíram à rua para
exigir a vacina e alcançaram o seu objectivo. O filme soviético-japonês
"Step" do realizador Alexander Mitta conta a história [9] <#notas> .

Deve sublinhar-se que os avanços russos em matéria de vacinas
continuaram após a queda da URSS. O Centro Nacional de Investigação de
Epidemiologia e Microbiologia descobriu recentemente uma vacina contra o
Ébola e trabalha actualmente em várias linhas de investigação, uma das
mais avançadas a que tenta encontrar a vacina contra outro Coronavírus,
o MERS-Cov. Desta forma, como reiteraram proeminentes investigadores
russos, a rapidez do processo com a vacina contra a Covid-19 deve-se ao
facto de se ter trabalhado sobre plataformas criadas há anos que
avançavam em direcções semelhantes. De momento, a Rússia anunciou a
fabricação de 1.000 milhões de doses para 20 países solicitantes.

A experiência continuará a escrever história. O que não se pode ignorar
é que a campanha para desacreditar a vacina russa é orquestrada por
gente que nada tem a ver com procedimentos científicos e tem, sim, muita
relação com poderosíssimos interesses económicos, entre outros, da
indústria farmacêutica.

Por outro lado, apesar dos lapsos de Fernando Simón, nem Putin é Lénine,
nem a Rússia é a URSS. Mas nós, trabalhadores de todo o mundo, não
deveríamos esquecer que a gigantesca gesta operária de Outubro de 1917 e
a derrota do fascismo na Segunda Guerra Mundial, ainda continua a
permitir alcançar, como neste caso, avanços científicos desenvolvidos
sobre décadas de trabalho não sujeito aos interesses do capital e
produzidos em instituições públicas.

Não é de todo provável que, apesar do sofrimento causado pela pandemia e
do evidente desastre do sistema de saúde no Estado espanhol, o governo
"progressista" se atreva a dar prioridade à saúde do seu povo e
enfrentar, mesmo que apenas uma vez, o poder de um dos baluartes do
imperialismo:   a indústria farmacêutica.

A conquista da independência, da verdade, terá que vir de outras mãos,
da construção de outro poder capaz de derrotar a barbárie.

21/Agosto/2020

[1] A multinacional norte-americana Gilead quadruplicou os seus lucros
ao comprar a patente do medicamento Sofosbuvir para Hepatite C. O
medicamento, descoberto em laboratórios públicos dos Estados Unidos, era
vendido em função da negociação com o Estado comprador. Um tratamento na
Índia custava entre 100 e 200 dólares e em Espanha, 25.000.
www.nogracias.eu/2014/04/10/tamiflu-la-mayor-estafa-de-la-historia/
<http://www.nogracias.eu/2014/04/10/tamiflu-la-mayor-estafa-de-la-historia/>

[2] O Tamiflu da farmacêutica Roche, a maior vigarice da história.
Governos de todo o mundo gastaram milhares de milhões de dólares num
medicamento contra uma epidemia que não existiu. A multinacional ocultou
resultados de investigações que demonstraram que não encurtava os
internamentos, nem reduzia as complicações e que, pelo contrário, tinha
importantes efeitos secundários. O governo de Zapatero gastou 333
milhões de euros em Tamiflú em 2009, em plena crise, quando a despesa
pública era maciçamente cortada na saúde e outros serviços públicos.
www.nogracias.eu/2014/04/10/tamiflu-la-mayor-estafa-de-la-historia/
<http://www.nogracias.eu/2014/04/10/tamiflu-la-mayor-estafa-de-la-historia/>

[3] Uma ampla referência à obra seminal sobre os princípios fundamentais
e o desenvolvimento do sistema de saúde soviético e o ensino das
profissões da saúde "Social Hygiene and Public Health Organization" por
A.F. Serenko e V.V. Ermakor, acessível em espanhol, pode ser consultada
em https: www.scielosp.org/article/rcsp/2017.v43n4/645-660/
<https://www.scielosp.org/article/rcsp/2017.v43n4/645-660/>
[4] Um resumo das origens do Sistema de Saúde da URSS e da figura de
Nikolai Semasko, primeiro Comissário do Povo para a Saúde, pode ser
encontrado em russo, com tradução automática, aqui:
regnum.ru/news/polit/ 2318307.html
<https://regnum.ru/news/polit/%202318307.html>
[5] "Lâmpada de Ilyich" A primeira lâmpada foi inventada por um
engenheiro russo em 1874 e sua chegada às aldeias mais remotas da Rússia
tornou-se o símbolo da Revolução. Aqui pode ver pormenores do GOELRO, o
plano de electrificação de toda a Rússia.
https://es.wikipedia.org/wiki/GOELRO <https://es.wikipedia.org/wiki/GOELRO>
[6] Sobre o médico prussiano Rudolf Virchov, patologista de destaque e
considerado o fundador da Saúde Pública.
http://webs.ucm.es/centros/cont/descargas/documento28401.pdf
<http://webs.ucm.es/centros/cont/descargas/documento28401.pdf>
[7] A história da primeira campanha de vacinação universal da história
da humanidade e da erradicação da varíola na URSS pode ser consultada
aqui:   books.google.es/...
<https://books.google.es/books/about/%D0%9F%D0%B0%D1%82%D0%BE%D0%B3%D0%B5%D0%BD%D0%BD%D1%8B%D0%B5_%D0%B4%D0%BB%D1%8F_%D1%87%D0%B5%D0%BB%D0%BE%D0%B2%D0%B5.html?id=3Y1EDwAAQBAJ&redir_esc=y>

[8]
https://www.who.int/mediacentre/news/notes/2010/smallpox_20100517/es/
<https://www.who.int/mediacentre/news/notes/2010/smallpox_20100517/es/>
[9] Com base nesta história, o realizador Alexander Mitta filmou em 1988
a coprodução sovieto-japonesa "Step", com Leonid Filatov e Komaki
Kurihara nos papéis principais. Oleg Tabakov, Elena Yakovleva, Vladimir
Ilyin, Garik Sukachev actuaram com eles. A sua canção "My Little Babe" é
reproduzida no filme
www.academia.edu/39610881/CINE_RUSO_Historia_y_literatura_rusa_y_española <https://www.academia.edu/39610881/CINE_RUSO_Historia_y_literatura_rusa_y_espa%C3%B1ola>


*Ver também:
# Une belle histoire de virus (contre la virophobie ambiante...)
<https://germinallejournal.jimdofree.com/2020/03/27/une-belle-histoire-de-virus-contre-la-virophobie-ambiante/>
, de Guillaume Suing
# A vacina Sputnik V como salvadora da humanidade
<https://www.resistir.info/pandemia/vacina_sputnik_11ago20.html> , de
Kirill Dmitriev
# Los crímenes de las grandes compañías farmacéuticas
<https://resistir.info/livros/crimenes_farmaceuticas.pdf> , livro de
Teresa Forcades i Vila
# Todo sobre la vacuna rusa (incluido lo que otros no te cuentan)
<https://www.youtube.com/watch?v=HYoei_dQLV4> , vídeo
# Claves del éxito de Cuba contra el coronavirus (no lo verás en otros
medios) <https://www.youtube.com/watch?v=3yxWohFv9yw> , vídeo
# **Cuba’s vaccine candidate 'Sovereign' begins clinical trials today
<https://peoplesdispatch.org/2020/08/22/cubas-vaccine-candidate-sovereign-is-all-set-to-enter-clinical-trials/>


[*] Médica, dirigente da Red Roja, Espanha

In
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/pandemia/vacina_russa_21ago20.html
27/8/2020

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

El gran éxito de la estrategia contra covid-19 de Kerala

 




*Fuentes: *BBC News Mundo

Cuando el estado de Kerala, en el suroeste de India, registró el primer
caso de coronavirus en el segundo país más poblado del mundo, todo
parecía indicar que la suerte no estaría a su favor frente a la
inminente pandemia.

Es un estado con fronteras porosas, un gran número de trabajadores
migrantes y una economía dependiente de las remesas de una enorme
población expatriada -particularmente en los países del Golfo Persa- que
continuamente está entrando y saliendo del país.

Tiene además cientos de estudiantes en China y recibe más de un millón
de turistas extranjeros al año.

Fue el *27 de enero cuando la primera persona con covid-19 arribó en
vuelo procedente de Wuhan*. A partir de entonces, el número de
infectados empezó a crecer ininterrumpidamente y se convirtió en un foco
de la infección.

Cuatro meses después, sin embargo, cuando la infección va en aumento en
todo India, este estado de 35 millones de habitantes *ha logrado aplanar
la curva* de la propagación de coronavirus registrando apenas 524 casos
confirmados y sólo cuatro muertes, según el Ministerio de Salud de Kerala.


    Anticipación

Mucho tiene que ver con lo alerta y atento que se ha mantenido el
estado. El 25 de marzo, Kerala impuso el confinamiento de su población,
un día antes de que se estableciera a nivel nacional.

Inició una*estrategia rigurosa* de rastreo de contactos usando
detallados «mapas de ruta» de las personas que llegaban del exterior y
estableció centros de atención para covid-19 en todos los distritos para
acomodar a los extranjeros que se vieron varados en el estado y bajo
recomendación de aislarse.

Trabajadores de la salud brindaron apoyo a las personas ancianas que
vivían solas y las que tenían necesidades especiales. Terapeutas
hicieron cientos de miles de llamadas al personal que trabajaba en las
áreas afectadas para asesorarlos en cómo manejar el estrés.

No se trata de que Kerala estuviera haciendo muchísimas pruebas para
coronavirus, dice Soutik Biswas, el corresponsal de la BBC en India.

Las pruebas estaban dentro de lo limitado por los protocolos federales.
Más de una docena de laboratorios realizan 800 pruebas diarias.

Pero lo que realmente ha hecho la diferencia, según los expertos, es el
*robusto sistema de salud pública de Kerala* y la cultura de una pujante
democracia afincada en las bases y con el poder delegado efectivamente
en los concejos comunales.

Los concejos están constituidos por funcionarios elegidos y representan
el nivel más bajo en la estructura de gobierno en India.

«Estábamos preparados desde el puro principio. *Nos dimos cuenta de que
la tormenta se avecinaba*. Así que empezamos a construir nuestras
defensas», declaró a la BBC Shahina Saleem, presidenta del concejo
comunal de Chengala, una aldea de unos 66.000 habitantes dedicados a la
agricultura.

El ejemplo de Chengala se repite a lo largo del estado, informando
eficientemente a la comunidad, estableciendo un riguroso rastreo de
contactos e imponiendo la cuarentena masiva de la población.

El gobierno comunista *emite múltiple información todos los días sobre
el desarrollo de la situación*, señalan los analistas.


    Ministra estrella

A la cabeza de este sistema se encuentra KK Shailaja, la ministra de
Salud de Kerala, miembro del Partido Comunista de India.

Tres días después de oír sobre el nuevo virus en China, Shailaja convocó
una reunión de su equipo de respuesta rápida.

Establecieron una oficina de control central y 14 a nivel de control
distrital. Para cuando el primer caso llegó en un avión de China, *el
estado ya había adoptado los protocolos recomendados por la Organización
Mundial de la Salud (OMS)*de pruebas, rastreo, aislamiento y apoyo.

A los pasajeros que llegaban de China se les tomaba la temperatura y los
que tuvieran fiebre se aislaban en un hospital cercano. El resto de los
pasajeros eran puestos en cuarentena.

Con la propagación del virus, los equipos de vigilancia rastreaban a los
posibles infectados y sus contactos con la ayuda de publicidad y a
través de redes sociales.

Así se pudo contener la enfermedad hasta que se suspendieran todos los
vuelos al estado e India entrara en confinamiento a nivel nacional.

En el auge de coronavirus en Kerala,*170.000 personas fueron puestas en
cuarentena*, bajo estricta vigilancia y visitadas por trabajadores de la
salud.

Las que no tenían baño en casa fueron acomodadas en unidades de
aislamiento improvisadas, con el costo asumido por el gobierno. Esa
cifra se ha reducido a 21.000.

El gobierno local también *acomodó y alimentó a 150.000 trabajadores
migrantes* de estados vecinos que se encontraron varados en Kerala,
según manifestó KK Shailaja al diario británico /The Guardian/. Esos
trabajadores están ahora siendo enviados a sus casas en trenes fletados.


    Inversión en salud y educación

Esta respuesta obedece al modelo político y económico de Kerala,
establecido desde hace más de medio siglo. Desde los años 60, el estado
ha sido gobernando por partidos de izquierda, entre ellos el comunista,
actualmente en el poder, que desde finales de los años 50 se comprometió
a respetar y participar en elecciones.

El modelo se fundamenta en*una reforma agraria* que, a través de
legislación aumentó la tenencia de tierras para los agricultores, la
descentralización del sistema de salud pública y una inversión en la
educación pública.

Cada aldea tiene un centro de atención de salud primaria y hay
hospitales a cada nivel administrativo, así como 10 universidades médicas.

Kerala goza de la más alta expectativa de vida y*la más baja mortalidad
infantil* de todos los estados en India, siendo uno de los más pobres.

El sistema de salud, funciona a tres niveles con hospitales de gobierno,
es *el resultado de más de medio siglo de un legado de inversión en
cuidados de salud*. «Kerala ha invertido en salud y educación más que la
mayoría de los estados en India», señaló a la BBC el economista Jakob John.

Al mismo tiempo, es el estado más alfabetizado (se calcula en un 95%).
Shailaja dijo a The Guardian que ese nivel de alfabetización *le permite
al pueblo entender por qué debe permanecer en cuarentena*. «Se les puede
explicar».

«Los concejos comunales se encargaron de hacer cumplir y monitorear la
cuarentena masiva con el consentimiento de la población», dijo a la BBC
B Ekbal, un neurocirujano y jefe del panel de expertos que asesora al
gobierno indio sobre la prevención del virus.

Por otra parte, el doctor John cree que la delegación de poder en Kerala
-de gobierno local, a concejos comunales, a municipios atentos- ha
ayudado al estado lidiar con *dos inundaciones consecutivas* y un brote
del agresivo virus nipah, en los últimos tres años.


    Preparación

En 2018, Kerala fue golpeado por la infección viral nipah, altamente
contagiosa que causa problemas respiratorios agudos y encefalitis mortal

Esa epidemia, dice Shailja,*la preparó para covid-19*, porque se dio
cuenta de que la manera de enfrentar una enfermedad altamente contagiosa
sin cura ni vacuna era tomándola en serio y haciendo los preparativos
necesarios.

A pesar de que Kerala ha logrado mantener el brote de coronavirus bajo
control, con el 70% siendo de población externa, no se puede declarar
victoria.

El estado tiene una de las tasas más altas en enfermedades contagiosas y
la llegada de las lluvias monzón, en junio, generalmente desata un auge
de enfermedades como la influenza, el dengue y una forma de tifo.

La fiebre es un síntoma común de estas enfermedades y eso*podría
complicar el diagnóstico de covid-19*, advierten los doctores.

Además, con el levantamiento gradual del confinamiento, se incrementará
el flujo de trabajadores migrantes y expatriados. Eso implica mayores
recursos para la vigilancia que tendrán un costo económico.

Fuente: https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-52799544
<https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-52799544>

In
REBELION
https://rebelion.org/el-gran-exito-de-la-estrategia-contra-covid-19-de-kerala/
24/8/2020

sábado, 22 de agosto de 2020

Dr. Jacques Pauwels: “Para promover os seus objectivos de maximização de lucros, o capitalismo está disposto a usar a “cenoura” da democracia, bem como o “pau” do fascismo” ***

 



Entrevista realizada por Mohsen Abdelmoumen

«É efectivamente um mito que o capitalismo seja uma espécie de gémeo
siamês da democracia. Por outras palavras, que o ambiente político
favorito do capitalismo seja a democracia. A história mostra-nos que o
capitalismo floresceu em sistemas altamente autoritários e apoiou
entusiasticamente esses sistemas.» Isso verifica-se de Bismark a
Pinochet passando por Hitler, e não ficará por aí, se isso lhe for
permitido.

*Mohsen Abdelmoumen: No seu livro “Big Business and Hitler”, fala da
colaboração da elite económica, industrial e financeira mundial com
Hitler. Hitler era um produto puro, um instrumento do sistema capitalista?*
*Dr. Jacques Pauwels: *o chamado “Nacional-Socialismo” de Hitler, na
realidade nenhuma forma de socialismo, era a variedade alemã do
fascismo, e o fascismo era uma manifestação do capitalismo, a forma
brutal e sórdida com que o capitalismo se manifestou no período entre
guerras em resposta à ameaça de mudança revolucionária, personificada
pelo comunismo, e a crise económica da Grande Depressão. Na medida em
que Hitler personificou a variedade alemã de fascismo, ele pode de facto
ser chamado “instrumento” do capitalismo; entretanto, como mencionei no
meu livro, o termo “instrumento” é realmente demasiado simplista. Seria
mais exacto definir Hitler como uma espécie de “agente”, um ser humano
complexo com uma mente própria, agindo em nome do capitalismo alemão,
mas nem sempre de acordo com os desejos dos capitalistas, ao invés de um
mero “instrumento” ou “ferramenta” do capitalismo alemão. Isso explica
por que os capitalistas alemães nem sempre estiveram perfeitamente
satisfeitos com os serviços de Hitler. Mas a vantagem desse arranjo era
que, após o colapso da Alemanha nazi, eles poderiam culpar o “agente”
por todos os crimes que havia cometido em seu nome.

*Tem o capitalismo uma necessidade vital do nazismo e do fascismo?*
O capitalismo é um sistema socioeconómico muito flexível, capaz de
funcionar em diferentes contextos políticos. É certamente um mito que o
capitalismo, eufemisticamente conhecido como “mercado livre”, seja uma
espécie de gémeo siamês da democracia, em outras palavras, que o
ambiente político favorito do capitalismo seja a democracia. A história
mostra-nos que o capitalismo floresceu em sistemas altamente
autoritários e apoiou entusiasticamente esses sistemas. Na Alemanha, o
capitalismo saiu-se extremamente bem quando Bismarck governava o Reich
com punho de ferro. A Alemanha permaneceu 100% capitalista sob Hitler, e
o capitalismo floresceu sob Hitler, antes e durante a guerra, como
demonstrei no meu livro. O capitalismo também pode e deseja fazer
parceria com a democracia, especialmente se as reformas democráticas
parecem necessárias para dissipar a ameaça de mudança revolucionária,
como por exemplo depois da Segunda Guerra Mundial, quando reformas
políticas e sociais democráticas (o Welfare State) foram introduzidas na
Europa Ocidental para inviabilizar as reivindicações muito mais
radicais, até mesmo revolucionárias, formuladas por movimentos de
resistência em países como a Itália e a França. Pode dizer-se que, para
promover os seus objectivos de maximização de lucros, o capitalismo está
disposto a usar a “cenoura” da democracia, bem como o “pau” do fascismo
e outras formas de autoritarismo, como as ditaduras militares.

*A ascensão de grupos neonazis e fascistas ao redor do mundo serve ao
grande capital e à oligarquia que governa o mundo?*
Como mencionado anteriormente, o fascismo é uma manifestação do
capitalismo. Em outras palavras, é a forma pela qual o capitalismo, como
um camaleão, ajusta a sua cor a um ambiente social e político em
mudança. O fascismo histórico dos anos 30, personificado por gente como
Mussolini e Hitler, reflectiu a resposta do capitalismo, na Itália e na
Alemanha, à ameaça dupla da mudança revolucionária ao estilo russo e da
Grande Depressão. Após a Segunda Guerra Mundial, quando o fascismo
estava presumivelmente morto e enterrado, o capitalismo, especialmente o
capitalismo americano, apoiou-se em sistemas neo, quase ou
cripto-fascistas para neutralizar ameaças semelhantes. Por exemplo no
Chile, onde Pinochet foi levado ao poder para bloquear reformas radicais
e manter o país seguro para o capital de investimento dos EUA. Hoje,
problemas económicos e sociais cada vez maiores, juntamente com ameaças
revolucionárias reais ou percebidas, fizeram com que o capitalismo em
vários países gerasse partidos e movimentos fascistas ou, se preferir,
quase ou neofascistas. De momento, o capitalismo não precisa de levar
esses fascistas ao poder; mas eles são muito úteis porque, como Hitler
com seu anti-semitismo, desviam a atenção do público das deficiências do
sistema capitalista culpando todas as coisas desagradáveis em bodes
expiatórios (de preferência de cor), como muçulmanos, refugiados, os
chineses e os Russkis. O escritor alemão Bertolt Brecht nos alertou
poeticamente, aludindo ao fascismo hitlerista e à capacidade inalterada
do capitalismo de gerar novas formas de fascismo:
“So was hätt einmal fast die Welt regiert! (O mundo quase era governado
por tal monstro!)
Die Völker wurden seiner Herr, jedoch (Felizmente, as nações derrotaram-no)
dass keiner von uns zu früh da triunphiert (Mas não nos alegremos
demasiado cedo)
Der Schoss ist fruchtbar noch (O útero de onde rastejou ainda é fértil.)
Aus dem das kroch”
(“A resistível ascensão de Arturo Ui”)

*A União Europeia culpa a URSS por iniciar a Segunda Guerra Mundial. O
que acha disso?*
Culpar a URSS e, por implicação, o seu estado-sucessor russo pela
Segunda Guerra Mundial, é uma declaração puramente política. Constitui
uma distorção monstruosa e vergonhosa da história. Nos anos 30, a União
Soviética procurou durante anos estabelecer uma aliança anti-Hitler com
a França e a Grã-Bretanha, mas foi sucessivamente rejeitada. A razão
para isso é que os cavalheiros no poder em Londres e Paris não queriam
ir para a guerra ao lado dos soviéticos contra Hitler, mas queriam que
Hitler usasse o poderio militar da Alemanha para marchar para o leste e
destruir a União Soviética enquanto assistiriam alegremente do lado de
fora. Hitler certamente queria a guerra, e é justamente culpado por
iniciar a Segunda Guerra Mundial. Mas os líderes franceses e britânicos
merecem uma parte da culpa porque encorajaram Hitler e o apoiaram com
sua política de “Apaziguamento”, por exemplo, oferecendo-lhe a
Tcheco-Eslováquia numa bandeja de prata no infame pacto que concluíram
com ele em Munique em 1938.
*
Ao culpar a URSS, os políticos e os media ocidentais não procuram
encobrir a sua própria horrível história de colaboração com Hitler e o
nazismo?*
Na verdade, culpando a União Soviética os países “ocidentais”, ou pelo
menos seus líderes, procuram desviar a atenção do seu próprio papel na
eclosão da Segunda Guerra Mundial. Por meio da sua infame política de
apaziguamento, os líderes britânicos e franceses encorajaram e
facilitaram os planos de Hitler para uma “cruzada” contra a União
Soviética. E a elite corporativa e financeira dos países ocidentais,
incluindo os Estados Unidos, colaborou de forma muito próxima - e muito
lucrativa - com Hitler, como demonstrei nos meus livros, “Big Business
and Hitler” e “The Myth of the Good War”.

*Nos seus livros “Big Business and Hitler” e “Myth of the Good War:
America and the Second World War”, desmantela o mito da “libertação” da
Europa pelos Estados Unidos quando sabemos que foi a vitória soviética
de Stalingrado que foi o ponto de viragem da guerra. Não é outra mentira
histórica dizer que os Estados Unidos libertaram a Europa? Os Estados
Unidos simplesmente não colonizaram a Europa? Como explica a dependência
da Europa em relação aos EUA e o facto de os europeus ainda seguirem a
política imperialista dos EUA? A NATO não se tornou obsoleta?*
É verdade que a União Soviética deu, de longe, a maior contribuição para
a vitória dos Aliados. Se o Exército Vermelho não tivesse conseguido
deter o rolo compressor nazi em frente a Moscovo em 1941 e obter grandes
vitórias em Stalingrado e outros lugares, Hitler teria vencido a guerra.
Mas os nazis tinham a máquina de guerra mais poderosa que o mundo já
vira, e derrotá-la exigiu contribuições de todos os exércitos aliados e
também de movimentos de resistência. Que o exército norte-americano deu
também uma contribuição importante não pode ser negado; entretanto, os
líderes americanos aproveitaram a presença de seu exército na Europa
Ocidental para estabelecer a sua hegemonia sobre aquela parte do mundo.
Em muitos aspectos, realmente não “libertaram” os países da Europa
Ocidental. Mesmo hoje, a Alemanha não é “livre” para pedir que as tropas
americanas deixem o seu solo, e a Bélgica e a Holanda devem tolerar a
presença de bombas atómicas norte-americanas no interior das suas
fronteiras. O presidente da França, Charles de Gaulle, não estava longe
do alvo quando descreveu a libertação norte-americana da França como uma
segunda “ocupação”, seguindo os passos da ocupação alemã. Ao contrário
dos alemães e belgas, ele teve a coragem de exigir que as tropas dos
Estados Unidos deixassem a França, e essa foi uma das razões pelas quais
a CIA parece ter-se envolvido em vários atentados contra a sua vida. Mas
mesmo de Gaulle verificou ser impossível evitar a adesão à NATO, que não
é de todo uma aliança de iguais, mas um clube de “satélites” europeus
dos EUA, estritamente controlado pelo Pentágono, e funcionando como um
departamento de vendas e relações públicas do “complexo
militar-industrial” norte-americano. A NATO foi originalmente criada
para defender a Europa Ocidental contra uma totalmente fictícia ameaça
proveniente da União Soviética e, portanto, deveria ter sido dissolvida
após o colapso do “império do mal”. Para os Estados Unidos, entretanto,
a OTAN é um muito útil e poderoso instrumento de controlo da Europa. E,
de facto, esse controlo, essa hegemonia, foi estabelecido pelos EUA nos
meses que se seguiram ao desembarque das suas tropas na Normandia em
1944. Ironicamente, essa conquista não teria sido possível se o Exército
Vermelho não tivesse anteriormente assestado golpes mortais à Alemanha
nazi.

*A intervenção norte-americana na Europa durante a Segunda Guerra
Mundial não foi simplesmente uma guerra capitalista? Não serve
principalmente aos interesses do imperialismo norte-americano e do seu
complexo militar-industrial?*
A Segunda Guerra Mundial resultou em duas guerras reunidas numa só. Por
um lado, foi efectivamente uma guerra “capitalista”, ou melhor, uma
guerra “imperialista”. O imperialismo foi/é a manifestação internacional
e mundial do capitalismo, envolvendo competição e conflito entre as
principais potências capitalistas/imperialistas sobre territórios
repletos de desiderata como matérias-primas (como o petróleo) e mão de
obra barata. A Primeira Guerra Mundial foi um conflito imperialista, mas
não resolveu as coisas, por isso as potências imperialistas foram à
guerra uma segunda vez. Os EUA sairiam desse conflito como o grande
vencedor, graças, ironicamente, à derrota esmagadora do outro candidato
à supremacia imperialista, a Alemanha nazi, perante a União Soviética.
Ao mesmo tempo, a Segunda Guerra Mundial foi também um conflito entre
capitalismo/imperialismo e socialismo, personificado pela União
Soviética. É uma ironia da história que os dois tipos de conflito se
tenham fundido, produzindo contradições como a aliança de facto da União
Soviética socialista, intrinsecamente anticapitalista e
anti-imperialista, com duas potências imperialistas anti-socialistas, os
EUA e a Grã-Bretanha. A guerra serviu os interesses do imperialismo dos
EUA ao permitir que os EUA emergissem como o número um indiscutível do
imperialismo. Mas o resultado da guerra foi imperfeito porque também
significou um triunfo para a União Soviética anti-imperialista. É por
isso que, imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, Washington
iniciou uma nova guerra, a “Guerra Fria”, com o objectivo de nada menos
que a eliminação da União Soviética.

*O imperialismo dos EUA nunca cessou uma política de guerra e golpes em
todo o mundo. As guerras imperialistas no Iraque, Afeganistão, Líbia,
Síria, Iémen, etc. não são um sintoma da barbárie do imperialismo
norte-americano?*
Historicamente, o imperialismo norte-americano perseguiu seus objectivos
de maneira sistemática, implacável e, pode acrescentar-se, não apenas
abertamente mas também furtivamente, por meio de guerra aberta, guerra
económica, desestabilização, sabotagem e tentativas de assassínio.
Exemplos dessa crueldade incluem o desnecessário bombardeamento nuclear
de Hiroshima, guerra química contra os vietnamitas, tentativas de
assassínio bem ou mal sucedidas de líderes recalcitrantes como Fidel
Castro e Lumumba e sanções económicas que custaram a vida de dezenas,
senão centenas de milhares de mulheres e crianças, como Madeleine
Albright infamemente reconheceu numa referência ao Iraque. Então, sim,
as guerras iniciadas pelos EUA no Iraque, Afeganistão, Líbia, etc., são
sintomáticas dessa crueldade ou barbárie, como lhe chama.

/Jacques R. Pauwels é historiador, investigador e escritor, nascido em
Ghent, Bélgica. Emigrou para o Canadá em 1969 após estudar história na
Universidade de Ghent e instalou-se perto da cidade de Toronto. Fez
estudos de doutoramento na York University em Toronto, especializando-se
na história social da Alemanha nazi, e recebeu seu PhD em 1976.
Tornou-se professor de história em várias universidades canadianas,
incluindo a University of Toronto e a University of Guelph. Em 1995
obteve um Ph.D. em ciência política na especialidade de regulamentação
do investimento estrangeiro no Canadá. É professor em várias
universidades de Ontário, incluindo a University of Toronto, Waterloo,
Guelph, e publicou numerosos artigos.
É autor de vários livros traduzidos em várias línguas, incluindo “Women,
Nazis, and Universities : Women University Students in Nazi Germany,
1933-1945”; “The Myth of the Good War”; “The Great Class War”; “Big
Business and Hitler”.
O seu website contém conferências e entrevistas em que participou, bem
como as suas numerosas publicações: http://www.jacquespauwels.net//

In
O DIARIO.INFO
https://www.odiario.info/dr-jacques-pauwels-para-promover-os/
22/8/2020