domingo, 25 de julho de 2021

Desintegração: indicadores do próximo colapso do império americano (2)

 



*por Daniel Vaz de Carvalho [*] 

*  *

*As elites dos EUA e seus seguidores europeus consideraram que podiam

ser livres em relação à sociedade, em especial àquela que traíram. É

altura de deixarem o palco da História.

Andrei Martyanov (p. 146) [1] <#notas> *


'Disintegration', de Andrei Martyanov. *5 - Geopolítica *


Geopolítica num sentido abrangente tem que ver com expansão económica,

conquista de mercados, acompanhada frequentemente de extrema violência.

(p.42) Não pode deixar de se reconhecer que efetivamente os objetivos

geopolíticos dos EUA têm sido acompanhados de morte e destruição, não

tendo apenas uma motivação militar, mas também económica.


Trata-se de um termo inventado pelos EUA para polir todo um conjunto de

instrumentos que usam na política internacional, meios regulares e

irregulares, desde massivas operações militares a sabotagem económica,

guerra psicológica, etc. (p.155) Em resumo, geopolítica é um eufemismo

para mascarar os processos usados para travar o seu óbvio declínio.


Como diz o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia

<https://www.mid.ru/en/foreign_policy/news/-/asset_publisher/cKNonkJE02Bw/content/id/4801890>

, quando alguém age contra a vontade do Ocidente imediatamente respondem

com a alegação de que "as regras foram violadas" (sem se preocuparem em

apresentar qualquer evidência) e declaram ser seu "direito

responsabilizar os perpetradores". "A Carta da ONU é um conjunto de

regras, mas essas regras foram aprovadas por todos os países do mundo e

não – como neste caso – por um grupo fechado de amigos numa reunião

intima".


A arrogância dos EUA atinge o nível do ridículo, protegida pelo controlo

mediático, como Obama a declarar que a economia da Rússia "ficaria em

farrapos" após as sanções americanas. Não apenas a Rússia desenvolveu

com êxito um programa de substituição de importações, como contra-atacou

sancionando o Ocidente e desenvolveu tecnologias próprias. O /Financial

Times / escrevia: "A Rússia, adaptando-se às sanções, conseguiu uma

economia robusta. Analistas dizem que Moscovo tem agora mais medo do fim

das sanções que o contrário". (p.100) O que, diga-se deita por terra as

teses neoliberais do "mercado livre"…


As ilusões geoestratégicas baseiam-se num poder irreal e em teorias

económicas totalmente falseadas. A forma como lidam com a Rússia mostra

a extrema ignorância e incompetência para com o único país que pode

varrer os EUA do mapa. (p.127) Estabelecem, por exemplo, comparações

absurdas do PIB da Rússia com o da Itália ou da Espanha, como se estes

países, mesmo a Alemanha, possuíssem as capacidades científicas e

tecnológicas no sector aeroespacial, aeronáutica, informática, indústria

petrolífera, armamento sofisticado, da Rússia.


Do desastre no Iraque, à guerra perdida no Afeganistão, à Líbia, à

Síria, etc., tudo tem sido um desastroso registo de incompetência

geopolítica nos domínios diplomático, militar e de informações. (p.114)


Em 2007, Putin tornou evidente a irrelevância da geopolítica americana

ao rejeitar o comportamento supranacional dos EUA: "É inadmissível que

um país estenda a sua jurisdição para além das suas fronteiras." (p.116)

Estas e outras declarações, como as revelações sobre o armamento russo,

foram recebidas com desdém e objeto de censura para que a opinião

pública não chegasse a apreender o seu significado. As pessoas são desta

forma conduzidas para situações que põem os seus países à beira de

confrontos militares de incalculáveis consequências na perfeita

ignorância das opções tomadas. É esta a democracia da geopolítica vigente.


Gastos militares, 2019. *6 - Armamento [2] <#notas> *


Os EUA perderam todas as guerras do século XXI e a superioridade em

armamentos. AM salienta que o poder militar dos EUA é suportado pela

hegemonia do dólar e não por qualquer mítica competitividade da sua

economia. O dólar e o poder militar estão de facto numa relação

simbiótica, alimentando uma hipotética superioridade que as produções de

Hollywood se encarregam de difundir. (p.152)


Apesar dos enormes montantes do orçamento militar o seu poder reduz-se

drasticamente. Os misseis Tomahawk foram em 70% derrubados no ataque à

Síria em 2018, sem que este país sequer dispusesse dos mais avançados

mísseis defensivos russos. Na Arábia Saudita os sistemas defensivos dos

EUA não puderam evitar os ataques a refinarias por parte de drones dos

Houtis do Iémen.


Novas armas russas como o míssil Buresvestnik (Petrel) com alcance

ilimitado colocam os EUA num atraso de dezenas de anos. O Kinzhal com

alcance de 2 000 km, Mach 9, não é interceptável por qualquer sistema

antimíssil dos EUA. Os 3M22 Zircon excedem significativamente o alcance

da aviação dos porta-aviões. Os P800 ONIKS

<http://www.military-today.com/missiles/p800_oniks.htm> são considerados

dos mísseis anti-navio mais versáteis e perigosos da atualidade. Com

velocidade supersónica têm excelente resistência a contra-medidas

eletrónicas e podem voar pouco acima do mar, tornando-se praticamente

invisíveis ao radar. A Rússia dispõe também do míssil intercontinental

(alcance 18 000 km) RS-28 Sarmat

<https://en.wikipedia.org/wiki/RS-28_Sarmat> , Mach 20, e dos Avangard

<https://missilethreat.csis.org/missile/avangard/> Mach 20, míssil

planador com alcance de 6 000 km.


Os super porta-aviões morreram como instrumento militar viável para a

guerra moderna. Seriam destruídos antes de poderem concretizar qualquer

impacto sério à Rússia ou à China. Note-se que já nos anos 1980 aqueles

navios poderiam não sobreviver num combate real convencional com a União

Soviética. (p.162)


Os modernos S-400 e os revolucionários S-500

<https://www.rt.com/russia/529705-anti-aircraft-system-display/> de

defesa aérea fecham o espaço aéreo russo e de seus aliados a quaisquer

ataques aéreos, balísticos e armas colocadas no espaço. Os EUA não têm

meios contra o caça SU-35C russo, ou o novo SU-57. O radar do SU-35C

pode detetar aviões ditos invisíveis ao radar a 100 km, dispondo de uma

inultrapassável capacidade de manobra. A nova tecnologia radiofotónica

tornou os aviões "invisíveis" F-35 (em que os EUA gastaram cerca de 1,5

milhões de milhões de dólares) obsoletos.


Não apenas a Rússia, também a China tem capacidade contra alvos dos EUA

ou NATO. O Irão, com armamento próprio, da China e da Rússia pode fechar

completamente o Golfo Pérsico e o Estreito de Ormuz. Atacar o Irão seria

um suicídio para os países ocidentais, mas apesar disto é um objetivo

incentivado pelos corruptos promotores de guerras. (p.169)


Nos EUA a produção de armamento é um negócio. A capacidade militar dos

EUA tem pouco a ver com a defesa do seu território – ao contrário da

Rússia e da China –, são forças armadas concebidas para policiamento

colonial. (p.182)


Sem dúvida que os EUA são capazes de desencadear uma guerra contra a

Rússia, mas se isto acontecer significa que os EUA deixarão de existir,

tal como a maior parte da civilização humana. Este horror é algo que

para alguns nos EUA representa um preço pequeno a pagar para satisfizer

o seu vício de poder. (p.229)


*7 – Elites *


As elites dos EUA deixaram de ter gente verdadeiramente competente,

capaz de prever mesmo ao nível mais geral as consequências das ações,

militares ou outras, que promovem. (p.140) São incultas,

insuficientemente preparadas e hipnotizadas por décadas de propaganda.

Também são arrogantes e corruptas. (p.228)


Estas elites escondem-se atrás de uma retórica escolástica, incapazes de

reconhecer a catastrófica situação económica, militar, política e

cultural, cujas raízes estão na crise sistémica do liberalismo. (p.43)

Em geral estão em completa negação do facto de que a crise capitalista

atingiu uma tendência muito mais profunda e perigosa, a nível económico

e político, que os meros ciclos capitalistas. (p.82)


Defendem uma economia baseada em teorias que resultam de abstrações do

real. Uma economia gerida pela elite financeira à qual comentadores e

políticos se prostram em patética admiração. Vários deles foram

responsáveis por estrondosas falências e fraudes, alguns apanhados nas

malhas da justiça, apesar de muito largas nestes casos.


As teorias da "vitória na guerra fria", do "fim da História" ou do

"choque de civilizações" mostram claramente as severas limitações da

ciência política dos EUA. Estes trabalhos provaram ser falsos nos seus

principais pontos de vista e mesmo no seu conjunto idiotas. (p.115) Não

deixaram por isso de ser propagandeados como súmulas da sabedoria

liberal, orientar a mentalidade de milhões de pessoas e acalentar as

ilusões dos belicistas dos EUA e seguidores deste lado do Atlântico.


Os intelectuais dos EUA aparecem como pouco convincentes se confrontados

com os factos, mesmo risíveis, incompetentes e vulgares. A degeneração

moral e intelectual da elite ocidental não é acidental ou episódica, é

sistémica, do mesmo modo que a crise liberal é sistémica. (p.145)


Por exemplo, no caso da Ucrânia a agitação fomentada pelos EUA e UE

resultou numa guerra civil, regiões que se desligaram de Kiev, a Crimeia

em referendo preferindo integrar-se na Rússia. A Ucrânia tornou-se um

Estado disfuncional dominado por grupelhos neonazis, atolado na pobreza

e na corrupção. "O facto das elites não reconhecerem as consequências do

que faziam e o que se iria desde logo desencadear mostra o seu completo

colapso intelectual." (p.121)


A objetividade deriva de bases científicas baseadas na realidade, não

pode operar em narrativas opostas à evidência empírica, mas isto está

dramaticamente em falta nos EUA. Aquilo que nos EUA se designa de

esquerda é apenas revolta e anarquia; tal como o conservadorismo é

revolta e anarquia. (p.133)


A democracia americana revela-se como um espetáculo político financiado

pela oligarquia que procura legitimar o seu poder enquanto evita por

todos os meios quaisquer reformas ao sistema económico. Apesar de muito

rica a oligarquia não percebe que os EUA já não são o superpoder global.

Podem aqui e ali ameaçar e chantagear políticos, estrangeiros, enviar

porta-aviões, mas ninguém no terceiro mundo está a tremer nas suas botas.


Tudo isto devia ser ponderado pelos políticos europeus, que pelo

contrário seguem os EUA, cegos arrastados por outros cegos, como no

quadro de Brugel, para o pântano das crises insolúveis e da insegurança

coletiva.


*8 – Colapso e desintegração *


Atualmente os EUA são confrontados com forças de desintegração. A

questão é quantos dos interesses vitais dos EUA são de facto verdadeiros

interesses nacionais. Quem define esses interesses são os lóbis do

complexo militar industrial, de Israel e outros. (200) O seu exército

tem estado envolvido em tarefas, imprudentes, mesmo miseráveis e

impossíveis de levar a cabo. É usado como instrumento de agressão e não

de defesa. A questão que se coloca é se representa a nação ou é um mero

instrumento das transnacionais. (p.192)


Como dizia um veterano da guerra do Vietname: "O procedimento normal nos

EUA é sobrestimar o poder americano, subestimar o inimigo e não

entenderem o tipo de guerra em que se metem". (p.160)


AM afirma que os EUA são cada vez mais vistos como um fanfarrão,

provocador e agressor, do qual há cada vez menos receio. As habituais

mentiras de espalhar a democracia não passam qualquer análise factual.

As suas análises são meras câmaras de ecos, que as grandes agências

mediáticas espalham pelo mundo, não deixando por isso de ser menos

perigosas. (p.125)


A hegemonia dos EUA baseia-se na convicção que outros países tenham da

sua capacidade de punir aqueles que duvidem da sua omnipotência militar

ou tenham visões alternativas sobre a economia e a finança dos seus

países e do mundo, nas quais o dólar não seja a única medida do valor do

trabalho humano. (p.156)


Esta agenda global colapsa porque são incapazes de vencer guerras. Isto

não quer dizer que não tentem e usem todos os meios: sanções, sabotagem,

bombardeamentos, mesmo invasões. Milhões de pessoas poderão ser mortas,

perecerem pela fome ou tornarem-se refugiados para satisfazer as elites

dos EUA e a ilusão de serem a nação mais poderosa do mundo. (p.157) E

tudo isto vale a pena, como disse Madeleine Allbright sobre as mortes de

crianças no Iraque devido às sanções.


Esta insensibilidade, ignorância e incapacidade de aprender fundamentam

a política dos EUA e leva-os ao seu dramático declínio. O debate sobre

política externa diz apenas respeito a conservarem a hegemonia, referida

como os seus interesses e a sua segurança, sem se aperceberem de quão

perigosa é esta falácia. (p.191)


A estrutura da ordem liberal global colapsa ante os nossos olhos.

Enquanto os EUA continuam a proclamar-se o poder hegemónico a sua

economia e a de outros países ocidentais afunda-se e amplas regiões da

Eurásia saem da sua influencia. (p.119)


Quando "comentadores" falam de Cuba como "uma das últimas ditaduras

comunistas" ou apoiam o Estado fantoche e nazificado da Ucrânia contra a

Rússia, vemos a que ponto a UE se afunda, dominada pela mentira e

ilusões do império, incapaz de uma atitude e um pensamento racional,

mesmo na defesa dos mais evidentes interesses dos seus países. O facto

dos mesmos nunca por nunca questionarem as atrocidades direta ou

indiretamente cometidas pelo império, em agressões militares,

conspirações, sanções sobre pequenos países, mostra a degeneração moral

e intelectual atingida pela elite ocidental.


Atualmente os EUA são confrontados com forças históricas e

antropológicas de desintegração. AM expõe as razões pelas quais os EUA

estão num processo que pode levar à sua desintegração como Estado

Federal por credos políticos, raciais, religiosos, fragmentação social e

desigualdades gritantes. Na base deste processo verifica-se porém que os

interesses a que a sua política está sujeita, pouco têm a ver com os

interesses da nação americana. (p.201)


Os EUA não são nem uma democracia nem uma república, são governados por

uma oligarquia, representada por dois clãs dirigentes. O perigo reside

em que têm capacidade para desencadear um conflito termonuclear global

na sua desesperada tentativa de preservar um imaginário estatuto de

excecionalismo. E se isto não assusta as pessoas, nada o fará. (p.113)


No "colapso da URSS", à parte fatores internos, as suas forças armadas

não eram inferiores às da NATO, nem a educação inferior e a população

soviética estava (pelo menos antes da perestroika) a viver melhor que em

qualquer outra época da sua História, no entanto grandes massas do povo

foram seduzidas pela riqueza exibida no Ocidente. (p.20) A Rússia sofreu

então os horrores da sombria experiência liberal e de um revisionismo

histórico que custou milhões de vidas. Paradoxalmente os EUA parecem

encaminhar-se para uma experiência semelhante. (p.235) E não é o seu

discurso de ilusória hegemonia global que pode travar a desintegração.


A UE é arrastada neste desastre e está a desintegrar-se ainda mais

rapidamente que os EUA. (p.214) Em todas as ações do império nem uma

única se pode dizer que beneficiou de alguma forma a Europa no seu

conjunto a começar pelo que realmente importa ao seu povo.


No final, conclui AM, é espírito da nação que decide o resultado quando

tudo parece perdido. Se a América vai encontrar este espírito para se

preservar como um país unido e inverter a sua desintegração, é o que se

espera para ver. E tudo decorrerá daqui. (p.235)


25/Julho/2021



    A primeira parte encontra-se em

    resistir.info/v_carvalho/desintegracao_martyanov_1.html

    <https://resistir.info/v_carvalho/desintegracao_martyanov_1.html>


[1] /Disintegration, Indicators of the Coming American Collapse,/

<https://www.bookdepository.com/Disintegration-Andrei-Martyanov/9781949762341?ref=pd_gw_1_pd_gateway_1_1>

Clarity Press, 2021.

Esta e outras obras de Martyanov podem ser descarregadas na secção

livros <https://resistir.info/livros/livros.html> .

O capítulo 4 de /Disintegration, / sobre energia, está traduzido e

publicado em resistir.info/energia/martyanov_energia.html

<https://resistir.info/energia/martyanov_energia.html> .

[2] Sobre este tema ver:   A perda da supremacia militar e a miopia do

planeamento estratégico dos EUA, aqui

<https://resistir.info/v_carvalho/martyanov_resenha_1> e aqui

<https://resistir.info/v_carvalho/martyanov_resenha_2> , bem como A

revolução nos assuntos militares

<https://resistir.info/v_carvalho/rev_militar_resenha.html>


In

RESISTIR.INFO

https://www.resistir.info/v_carvalho/desintegracao_martyanov_2.html

25/7/2021


sábado, 24 de julho de 2021

Desintegração: indicadores do próximo colapso do império americano (1)

 
  Desintegração: indicadores do próximo colapso do império americano (1)

*por Daniel Vaz de Carvalho *

*  *     
*"Quando era cadete, qual era o lema em West Point?   Não mentir, não
enganar, não roubar nem tolerar que outros o fizessem.   Fui diretor da
CIA, mentimos, enganámos, roubámos.  Tivemos completos cursos de treino.
  Isto deve recordar-vos a glória da experiência americana".
Mike Pompeu, a gabar-se enquanto o público ria e aplaudia a declaração.
Citado por AM (p.230) *

'Disintegration'. *1 - Para além da propaganda *

/Disintegration, / o novo livro de Andrei Martyanov (AM) [1] <#notas>
constitui uma aprofundada análise ao império a que, quer se tenha disso
consciência ou não, estamos submetidos. Um império em declínio ao qual
AM torna evidente o próximo colapso e desintegração, se o seu povo não
se mobilizar em defesa de outras políticas. Uma evidência que, para além
da propaganda e subserviência de "comentadores" e jornalistas formatados
pelas mediáticas máquinas de mentir imperialistas, transparece nos
resultados obtidos, sistematicamente deturpados ou escamoteados. De
facto, nos últimos 30 anos, os EUA produziram um recorde de falhanços em
termos de resultados práticos, porém, diz AM, os falhanços são apontados
como êxitos!

As intervenções dos EUA, deixaram países no caos, mereceram a apropriada
designação de "império do caos". A retirada do Afeganistão é um exemplo
mais próximo: um país nAMiséria e em que a produção de ópio para heroína
cresceu 40 vezes desde a intervenção da NATO em nome da defesa dos
direitos humanos (p.2). Na contabilização das mortes associadas a esta
intervenção, no seguimento das ações para derrubar um governo popular e
progressista, há que incluir as mortes pela heroína e pelas ações
terroristas levadas a cabo pelos grupos do fundamentalismo islâmico,
criados para serem mercenários ao serviço do império e espalhados por
múltiplos locais.

Conteúdo de 'Disintegration'. Como AM prudentemente adverte, no seu
declínio os EUA tudo farão para preservar o poder, embora dêem sinais de
estarem a tornar-se um país instável, comparável aos do terceiro mundo,
mas com armas nucleares. (p.4)

As suas elites dispõem de um imenso poder mediático, mas a acentuada
quebra da sua qualidade resulta de uma crise que evolui de mal para
pior. Claro que estas elites são um reflexo e um produto de outras
forças: a oligarquia dominante. (p.5)

Os "fazedores de opinião", professores, especialistas em todas as áreas
e nenhuma, continuam a depender dos políticos do sistema e vice-versa,
todos eles dependendo da boa vontade das oligarquias, dizendo apenas o
que estas querem ouvir. É normal advogados, atores, gente do desporto,
pronunciarem-se sobre assuntos militares e geopolíticos sem que tenham
nenhuma competência nestas matérias e um muito baixo nível de
conhecimento em relação ao resto do mundo. Porém a ideia de os EUA
deixarem de ser o líder mundial não entra na imaginação destas ditas
elites para as quais as ilusões da sua propaganda podem alterar a
realidade.

O imperialismo age a coberto de "direitos de proteção" e moralismo. Um
pretenso moralismo que tem conduzido a catástrofes humanitárias é à
morte de milhões de pessoas. Ousam mesmo falar em "bombardeamentos
humanitários" como em 1999 sobre a República Federal da Jugoslávia. (p.138)

Para AM, o modelo liberal, a dita "democracia liberal", é um termo
completamente contraditório com a realidade social: uma ideologia
totalitária e fascizante que procura destruir tudo o que de positivo foi
conseguido desde o iluminismo. Uma ideologia moribunda saída da
arrogância de elites Americanas cuja ignorância foi tornada modelo
virtuoso e verdade absoluta.

Os EUA falham miseravelmente na capacidade de lidar com os factos,
exibindo uma rigidez ideológica que se tornou uma fanática crença
religiosa. (p.42) O resultado final só poderá ser a desintegração,
independentemente de quem seja o próximo presidente ou o partido que vá
prosseguir as desastrosas políticas económicas e culturais atuais.

Os EUA estão organizados numa ditadura de partido único, na tentativa de
dominar o mundo, baseado em "valores" económicos e culturais por eles
definidos, mas que são antitéticos para a maioria dos povos. Uma
tentativa que contamina os media e os sistemas educativos, conduzindo a
sociedade à distopia e não pode sobreviver perante a realidade de uma
América economicamente em declínio, intelectualmente estéril e em que a
decadência moral se torna evidente nas taxas de criminalidade e de
presos. (p.212)

Imaginam que a propaganda obvia os problemas que enfrentam e um
inevitável colapso. Assim, eliminar o pensamento livre tornou-se o
objetivo número um dos donos do discurso, produzindo gerações sujeitas a
lavagem ao cérebro.

A violência interétnica, o abrandamento da produtividade, a vulgaridade
universitária são realidades da desintegração dos EUA. Porém, tudo o que
AM nos apresenta relativamente aos EUA tem que ver com a UE e outros
aliados colocados na condição de vassalos relativamente ao suserano.
Como não é visível qualquer intenção de, designadamente na UE, mudar de
política é inevitável serem arrastados no declínio e colapso do império.

O esclarecimento quanto à real situação em que estamos envolvidos é, ou
devia ser, tarefa prioritária de todos os sectores realmente progressistas.

*2 – O Consumo *

AM aborda a questão do consumo. Uma das principais bandeiras da suposta
superioridade do capitalismo, com que seduziu e seduz multidões em
particular de jovens, mas não só, para os quais consumir representaria
liberdade. O que finalmente encontram, tanto nos EUA como em qualquer
outro país sujeito ao sistema, é insegurança nas suas vidas,
instabilidade pessoal e social, marginalidade, prostituição, mesmo
escravatura sexual. Estima-se que 2,5 milhões de estudantes
universitários
<https://www.rt.com/op-ed/469443-college-sugar-babies-debt-prostitution/> recorram
à prostituição para pagar as suas dívidas. Em 2019, haveria 100 a 150
mil crianças
<https://www.rutherford.org/publications_resources/john_whiteheads_commentary/the_essence_of_evil_sex_with_children_has_become_big_business_in_america?fbclid=IwAR1R3cRGX-00DIB8U2Tfv_EJldJlXMzq34e6SW6ENcFoGxIPsX9ZT9HkjMo>
como "trabalhadoras e trabalhadores sexuais".

A "liberdade de escolha" para consumir não passa de uma falácia, que
raros ousam denunciar. Nos EUA, segundo uma sondagem, a insegurança
alimentar atinge 40,9% das mães com filhos de 12 anos ou menos, valor
que tem aumentado dramaticamente. (p.9) Não se trata aqui de padrões de
consumo, mas de não ter o suficiente para comer. O que põe em causa o
sistema de distribuição de bens em termos capitalistas. Num Estado dos
mais pobres como o Colorado, 30% da população tem dificuldade em
satisfazer as necessidades alimentares. (p.11)

Dezenas de milhões de trabalhadores dos EUA viram os seus salários
reduzirem-se ou mesmo desaparecerem, incluindo os que entretanto
perderam direito a subsídio de desemprego. Mesmo entre a classe média
branca a esperança média de vida vai-se reduzindo devido à falta de
apoios médicos, suicídios, toxicodependência. Situações que apontam para
problemas mais profundos como salariais, insegurança de existência,
dessocialização, entre outros, mostrando muitas pessoas a perderem a
vontade de viver. (p.17)

O consumo nos países capitalistas ricos levando parte da população a
consumir não por precisar, mas para evitar uma marca de inferioridade e
pouco mérito, era uma montra contra o socialismo. (p.17) Um desejo de
consumir que transforma as pessoas de cidadãos em "consumidores", um
objetivo do fascizante "fim das ideologias". Um consumo que tinha e tem
como contrapartida exploração, fome e opressão nos países dominados
noutras partes do mundo. Eis que agora situação semelhante enfrentam os
cidadãos do designado Ocidente – para além do que a propaganda exiba.

Em 1985 o salário médio pagava em 32 semanas as despesas básicas de um
casal como habitação, saúde, carro, educação. Em 2020 são 52 semanas
para os mesmos itens. Os EUA tornaram-se um país pobre – e de pessoas
endividadas - e nada mais fazem senão imprimir dólares, o que torna o
problema ainda pior. (p.35)

*3 – Prosperidade *

A riqueza é medida em dólares, porém o dólar em relação ao ouro vale
apenas 19 cêntimos do que valia em 1971, quando se desligou daquela
referência. O sistema permite aos EUA gerir os seus défices simplesmente
pela venda de dólares aos bancos centrais de outros países. Esta é a
base da riqueza dos EUA permitindo-lhes manter a ilusão de ter "canhões
e manteiga". (p.24) Uma riqueza fictícia que Michael Hudson designa como
o sistema FIRE (Finanças, Seguros e Imobiliário).

De acordo com o Bank of America os intangíveis das empresas, isto é,
ativos que não têm natureza física, passaram de 17% dos ativos das
S&P500 em 1975, para 84%, 20 milhões de milhões de dólares no início de
2020. A valorização da economia dos EUA, afirma AM, é geralmente uma
fraude, uma maneira de dar cobertura aos jogos de especulação dos
"estrategistas" da Wall Street e à eliminação de indústrias produtivas.
A ideia de os EUA serem o país mais rico vem da forma como o PIB é
contabilizado, em que a financeirização, a especulação financeira e as
dívidas, isto é, o sector não produtivo da economia aparece como valor e
poder económico. (p.91)

O PIB cresce ao mesmo tempo que se produzem cada vez menos bens
materiais. Outra razão pelo qual está grandemente inflacionado é o
estatuto do dólar como moeda de reserva, permitindo aos EUA pela sua
proliferação e constante emissão pela Reserva Federal, viver acima dos
seus meios. Contudo o dólar enfrenta uma dramática desvalorização e a
desdolarização da economia mundial que a Rússia e a China lideram. (p.92)

A riqueza dos EUA é, pois, em grande parte fictícia, um eufemismo para o
seu afogamento em dívidas. A dívida federal atinge 28,5 milhões de
milhões de dólares, 128,26% do PIB. Se incluirmos as dívidas dos Estados
e locais atinge 143,4%, mas a dívida total incluindo empresas e cidadãos
vai aos 85,5 milhões de milhões dos quais 1,75 milhões de milhões dívida
estudantil, e quase 989 mil milhões em cartões de crédito. O desemprego
real anda pelos 16,35 milhões de trabalhadores, além de 25,6 milhões que
sobrevivem em part-time. ( U.S. National Debt Clock: Real Time
<https://usdebtclock.org/> (usdebtclock.org)

Há de facto no país 18,6 milhões de milionários, mas no final de 2019,
mais de 50 milhões de pessoas
<http://www.informationclearinghouse.info/52733.htm> recorriam a
assistência alimentar. Entre os quais 25% de todas as crianças nos EUA.
Cerca de 25% da população americana não pode comprar comida suficiente
para se manter saudável.

Os sem abrigo eram em 2019, 3,5 milhões ou 7,5 milhões se considerarmos
os que não têm casa própria vivendo com outros devido aos altos custos
de habitação. (p.32) Cidades antes apresentadas como centros de
prosperidade tornaram-se autenticas lixeiras. A polícia é impotente para
conter protestos e a violência desencadeia-se em áreas que parecem zonas
de guerra. Numerosas comunidades assemelham-se a favelas do terceiro
mundo, incrivelmente pobres e sujas, sem lei, onde proliferam drogas e
gente sem abrigo. (p.34) O próprio governo reconhece o estado deplorável
das infraestruturas do país.

O mercado de ações continua em alta, mas também as filas para ajuda
alimentar. Na realidade, nos EUA a prosperidade só tem significado para
10% da população ou ainda mais para o 1% cujo extravagante consumo como
modo de vida prossegue.

*4 – Produção *

Os EUA deixaram de produzir riqueza real. Em 1960 a indústria
representava 25% do PIB, em 2020 uns escassos 11%. A fanática crença na
finança, na dívida e no seu excecionalismo conduzem os EUA a um suicídio
económico. (p.45) Foram perdidos 5 milhões de postos de trabalho na
indústria, em que 1 posto de trabalho na indústria origina 3 ou 4
noutros sectores. A escala deste desastre revela-se no défice da BC de 1
milhão de milhões de dólares, um terço do qual com a China. (
usdebtclock.org/ <https://usdebtclock.org/> )

Na realidade os EUA são cada vez menos competitivos internacionalmente.
Podem impor sanções à China e à Rússia, mas não impedem o
desenvolvimento das suas industrias e da sua tecnologia. A perda de
capacidade inovadora e competitiva dos EUA no sector automóvel, na
aeronáutica (casos Boeing) atrás de indústria aeronáutica da UE ou da
Rússia, na construção naval, nas máquinas ferramentas, é analisada por A
M. (p.50-51)

Relatórios apontam para que a "segurança nacional exige uma base
industrial segura, resiliente e preparada" "o decréscimo na capacidade
de produções chave e a redução do emprego industrial representa uma
fraqueza primordial que ameaça a nação." (p.48) Os EUA são em 90%
dependentes da China para a produção de telemóveis, computadores
portáteis, videojogos, etc. O facto de reivindicarem ser a mais
importante economia mundial apresenta-se como um mistério... (p.93)

As contradições entre as suas ambições hegemónicas e a necessária base
industrial são evidentes. Algo que nem nos EUA nem na UE é discutido. Os
"comentadores", os "fazedores de opinião" e académicos adotaram como
ciência provada as teses da oligarquia americana. Estão tão longe das
questões objetivas que afetam os seus países, como na Bizâncio cercada
pelos otomanos os que se ocupavam a discutir "o sexo dos anjos", neste
caso as "reformas estruturais" para que o parasitismo neoliberal
financeiro e monopolista seja mantido a todo o custo.

Em janeiro de 2020 o "valor" em dólares dos sectores de serviços nos EUA
era seis vezes superior ao da indústria transformadora. O constante
declínio do capitalismo industrial, pode já ter passado o ponto de não
retorno, não se vendo esforços de reindustrialização que possam ser bem
sucedidos. Assim é-se levado a crer num desenvolvimento industrial
acelerado na Eurásia, conduzido em especial pela China e pela Rússia.
(p.103)

Os EUA formam tantos quadros científicos e técnicos como a Rússia
(metade da população) mas um terço daqueles são estrangeiros. A
diminuição da capacidade produtiva conduz também a um declínio cultural
e político. O desaparecimento e a atomização do proletariado industrial
corresponde à desintegração dos sectores socialmente mais avançados de
um país.

Fazer coisas requer mais que tecnologia, requer mão-de-obra qualificada,
requer uma visão lúcida das realidades, uma verdadeira preocupação com o
bem estar das pessoas, temas que são blasfémias para as elites
globalistas, há muito alojadas na bolha ilusória da financeirização,
completamente desligadas das realidades. (p.104)

Os evangelistas "verdes" parece também não entenderem que os telemóveis
não crescem nas árvores, que o mundo opera baseado em energia, máquinas,
produção real, física básica e engenharia. Necessita de gigantescos
recursos de extração mineira, enormes navios metálicos, redes elétricas,
milhares de engenheiros e professores. A América esqueceu como tudo isto
funciona e a UE vai atrás. Uma cultura assim está destinada a colapsar,
incapaz de uma atribuição correta ao valor trabalho enquanto se foca em
discursos sobre igualdade de raças e géneros. (p.231)

Na UE, o pensamento dominante, totalmente alinhado com os EUA, não
entende que o mundo da Conferência de Berlim para desenhar fronteiras
entre povos coloniais ou o da guerra do ópio para submeter povos aos
seus interesses comerciais já não existe.

23/Julho/2021
(continua)

*[1] /Disintegration, Indicators of the Coming American Collapse/
<https://www.bookdepository.com/Disintegration-Andrei-Martyanov/9781949762341?ref=pd_gw_1_pd_gateway_1_1>
, Clarity Press, 2021.
A trilogia de Martyanov pode ser descarregada na secção livros
<https://resistir.info/livros/livros.html> .
O capítulo 4 de /Disintegration, / sobre energia, está traduzido e
publicado em resistir.info/energia/martyanov_energia.html
<https://resistir.info/energia/martyanov_energia.html> . *

In
RESISTIR.INFO
https://resistir.info/v_carvalho/desintegracao_martyanov_1.html
24/7/2021

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Distúrbios em Cuba, tecnologias e cumplicidade dos EUA

 
 

*por Karina Marrón González [*]
Ministro Bruno Rodríguez. Cuba denunciou o governo dos EUA pela sua
cumplicidade nos distúrbios verificados em 11 de Julho, nos quais
utilizaram ferramentas tecnológicas para criar a imagem de mobilização
popular que tentam defender.

Na véspera o ministro dos Negócios Estrangeiros, Bruno Rodríguez, acusou
a administração daquele país e em particular a do estado da Florida de
conceder fundos à empresa Proactivo Miami Foundation Inc, envolvida na
articulação da campanha para incitar a população a realizar acções de
desestabilização.

O ministro cubano do exterior denunciou a conferência de imprensa em que
Washington identificou a pandemia do Covid-19 como uma oportunidade para
reforçar o bloqueio económico com motivações políticas, numa tentativa
deliberada e cruel para asfixiar o país e provocar explosões sociais.

Assim o comprova o facto de que, das 243 medidas coercitiva
implementadas pela administração de Donald Trump (2017-2021) para
intensificar o cerco norte-americano sobre a nação caribenha, 50 foram
aplicadas durante a emergência sanitária.

A isso somam-se os milhões de dólares que a cada ano a Casa Branca
destina, de forma pública ou encoberta, para fomentar a subversão, criar
instabilidade e fracturar o consenso social e a tranquilidade cidadã,
assegurou Rodríguez.

Desta vez, contudo, os protagonistas foram as tecnologias, pois através
das redes sociais se pôs a andar a maquinaria da manipulação, incitação
à violência, migração irregular, desordem público e inclusive o magnicídio.

O ocorrido no domingo 11 de Julho não foi um movimento popular como
querem impingir, enfatizou. E explicou que se tratou de uma operação
mediática de grande envergadura que teve início em meados do mês de
Junho com dinheiro do governo norte-americano.

A Proactivo Miami Foundation Inc aparece no centro de tudo, pois esta
companhia articulou-se com meios concebidos para a agressão à ilha,
dentre eles ADN Cuba, e com os utilizadores mais prolíficos no uso da
etiqueta #SOSCuba, que artificialmente converteram em tendência mundial.

Para isso usaram robots que colocaram milhões de mensagens em pouco
tempo, pormenorizou o chefe da diplomacia cubana, o qual deu como
exemplo que uma só conta a partir da Espanha colocou mais de mil tuítes,
à razão de cinco por segundo.

Relatou que além disso acossaram /influencers / para que promovessem a
etiqueta e pressionaram pessoas reais para que mudassem sua localização,
de maneira a parecerem que estavam em Cuba e desse modo sustentar que 60
por cento da mensagens tiveram origem na nação caribenha.

Rodríguez denunciou que a companhia Twitter não activou suas políticas
antispam nem fechou contas, apesar das advertências recebidas sobre as
violações das suas regras de uso, numa atitude que classificou de
escandalosa e cúmplice.

Irresponsável foi outro qualificativo empregue pelo ministro, ao
referir-se aos políticos estado-unidenses que promovem o despacho de
meios navais dos Estados Unidos em direcção à ilha, ao mesmo tempo que
aludiu às relações entre pessoas que actuaram como agentes ao serviço
estrangeiro e diplomatas.

Esperamos que o governo dos Estados Unidos não persista nas políticas
dos seus antecessores e que actue com sentido ético, disse, ainda que se
mostrasse surpreendido pela impunidade com que alentam incidentes
migratórios.

Se tivesse uma preocupação sincera por Cuba, o presidente
estado-unidense poderia tomar decisões executivas e modificar
substancialmente aspectos do bloqueio económico, inclusive aqueles
relacionados com o enfrentamento da pandemia, como os que obstaculizam a
aquisição de ventiladores pulmonares, sustentou Rodríguez.

Apesar de tudo, afirmou, factos como os do domingo não poderão afastar
Cuba dos seus objectivos: enfrentar a pandemia, resolver os problemas,
intensificar os intercâmbios com a cidadania e o debate sobre suas
inquietações, bem como envolver as pessoas na busca de soluções.

Contamos com a solidariedade internacional, acrescentou, e enfatizou que
a ilha sempre actuará de forma soberana.

15/Julho/2021
*[*] Jornalista da Prensa Latina

O original encontra-se em www.prensa-latina.cu/...
<https://www.prensa-latina.cu/index.php?o=rn&id=462051&SEO=disturbios-en-cuba-tecnologias-y-complicidad-de-eeuu>

In
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/cuba/rodriguez_15jul21.html#asterisco
15/7/2021

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Os EUA tentam aproveitar-se do preço que os cubanos estão a pagar pelo bloqueio e pela pandemia

 


*por Manolo de los Santos [*]
e Vijay Prashad [**]

/Tal como todos os outros países do planeta, Cuba está a lutar com o
impacto do COVID-19. Esta pequena ilha de 11 milhões de pessoa criou
<https://go.ind.media/e/546932/sletterissue-26-cuba-vaccines-/kl4qxf/871414952?h=fDZYXbzRj4-fYB7-53RvF7DlNNhLQpjcw_Y657ymoZw>
cinco vacinas candidatas e enviou
<https://go.ind.media/e/546932/2021-07-13/kl4qxh/871414952?h=fDZYXbzRj4-fYB7-53RvF7DlNNhLQpjcw_Y657ymoZw>
seus trabalhadores médicos, através da Brigada Médica Internacional
Henry Reeve, para cuidar de pessoas por todo o mundo. Enquanto isso, os
EUA endurecem um bloqueio cruel e ilegal da ilha, um sítio medieval que
tem vigorado durante seis décadas. Em Abril/2020, sete relatores
especiais das Nações Unidas escreveram uma carta
<https://go.ind.media/e/546932/ews-aspx-NewsID-25848-LangID-E/kl4qxk/871414952?h=fDZYXbzRj4-fYB7-53RvF7DlNNhLQpjcw_Y657ymoZw>
aberta ao governo dos EUA acerca do bloqueio. "Na emergência pandémica",
escreveram, "a falta de vontade do governo estado-unidense para
suspender sanções pode levar a um mais alto risco de sofrimento em Cuba
e outros países atingidos pelas suas sanções". Estes relatores especiais
notaram os "riscos para o direito à vida, saúde e outros direitos
críticos das secções mais vulneráveis da população cubana".
Independent Media Institute
<https://www.pressenza.com/author/independent-media-institute/> /

No dia 12/Julho/2021 o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, disse numa
conferência de imprensa que Cuba enfrentava grave escassez de alimentos
e medicamentos. "Qual é a origem de todas estas questões?", perguntou. A
resposta, ele disse, "é o bloqueio". Se o bloqueio imposto pelos EUA
terminasse, muitos dos grandes desafios enfrentados por Cuba seriam
levantados. Naturalmente, há outros desafios, tais como o colapso do
sector do turismo devido à pandemia. Ambos os problemas – a pandemia e o
bloqueio – agravaram os desafios para o povo cubano. A pandemia é um
problema agora enfrentado por povos de todo o mundo; o bloqueio imposto
pelos EUA é um problema unicamente de Cuba (bem como de cerca de 30
outros países atingidos por sanções unilaterais estado-unidenses).

*Protestos *

Em 11/Julho, pessoas em várias partes de Cuba – tais como San Antonio de
los Baños – tomaram as ruas para protestar pela crise social. Frustração
acerca da falta de mercadorias em lojas e um aumento de infecções do
COVID-19 pareciam motivar os protestos. O presidente Díaz-Canel disse
que a maior parte destas pessoas estão "insatisfeitas", mas que a sua
insatisfação é alimentada por "confusão, equívocos, falta de informação
e o desejo de exprimir uma situação particular".

Na manhã de 12/Julho, o presidente Joe Biden apressadamente publicou uma
declaração com fedor de hipocrisia. "Nós apoiamos o povo cubano", disse
<https://go.ind.media/e/546932/-biden-jr-on-protests-in-cuba-/kl4qxm/871414952?h=fDZYXbzRj4-fYB7-53RvF7DlNNhLQpjcw_Y657ymoZw>
Biden, "e seu toque de clarim pela liberdade". Se o governo dos EUA
realmente se importasse com o povo cubano, então a administração Biden
deveria no mínimo retirar as 243 medidas coercivas unilaterais
implementadas pela presidência de Donald Trump antes de abandonar o
cargo em Janeiro/2021. Biden – ao contrário das suas próprias promessas
<https://go.ind.media/e/546932/ps-cuba-policy-in-miami-visit-/kl4qxp/871414952?h=fDZYXbzRj4-fYB7-53RvF7DlNNhLQpjcw_Y657ymoZw>
de campanha – não começou o processo para reverter a designação
<https://go.ind.media/e/546932/state-sponsors-of-terrorism-/kl4qxr/871414952?h=fDZYXbzRj4-fYB7-53RvF7DlNNhLQpjcw_Y657ymoZw>
de Trump de Cuba como um "estado patrocinador do terrorismo". Em
9/Março/2021 a porta-voz de Biden, Jen Psaki, disse: "Uma mudança de
política quanto a Cuba não está actualmente entre as prioridades de topo
do presidente Biden". Mais exactamente, a política de "máxima pressão"
de Trump destinada a derrubar o governo cubano permanece intacta.

Os EUA têm uma história de seis décadas de tentativas de derrube do
governo cubano, incluindo a utilização de assassínios e invasões como
sua política. Em anos recentes, o governo estado-unidense aumentou seu
apoio financeiro a pessoas dentro de Cuba e à comunidade cubana emigrada
em Miami, Florida. Uma parte deste dinheiro vem directamente da National
Endowment for Democracy
<https://go.ind.media/e/546932/erica-and-caribbean-cuba-2020-/kl4qxt/871414952?h=fDZYXbzRj4-fYB7-53RvF7DlNNhLQpjcw_Y657ymoZw>
e da USAID
<https://go.ind.media/e/546932/o-provoke-a-soft-coup-in-cuba-/kl4qxw/871414952?h=fDZYXbzRj4-fYB7-53RvF7DlNNhLQpjcw_Y657ymoZw>
. O seu mandato é acelerar qualquer insatisfação dentro de Cuba num
desafio político à Revolução Cubana.

Em 23/Junho, o ministro cubano dos Negócios Estrangeiros, Bruno
Rodríguez, disse que "as medidas de Trump permanecem inteiramente em
vigor". Elas modelam a "conduta da actual administração dos EUA
precisamente durante os meses nos quais Cuba tem experimentado as mais
altas taxas de infecção, a mais alta mortalidade e o mais alto custo
económico associado à pandemia do COVID-19".

*Custo da pandemia *

Em 12/Julho, Alejandro Gil Fernández, ministro cubano da Economia e
Planificação, falou à imprensa acerca das despesas com a pandemia. Em
2020, disse ele, o governo gastou US$102 milhões com reagentes,
equipamento médico, equipamento de protecção e outros materiais. No
primeiro semestre de 2021, o governo gastou US$82 milhões com esta
espécie de materiais. Isto é moeda que Cuba não esperava gastar – moeda
que ela não tem em consequência do colapso do sector do turismo.

"Temos poupado recursos para enfrentar o COVID-19", disse Fernández. Os
pacientes com COVID-19 são colocados em hospitais, onde o seu tratamento
custa ao país US$180 por dia; se precisarem de cuidados intensivos, o
custo diário é de US$550. "A ninguém em cobrado um centavo pelo
tratamento", relatou Fernández.

O governo socialista em Cuba carrega nos ombros a responsabilidade dos
cuidados médicos e da segurança social. Apesar dos graves desafios para
a economia, o governo garante salários, compra medicamentos e distribui
alimentos bem como electricidade e água canalizada. Esta é a razão
porque o governo acrescentou US$2,4 mil milhões à sua já considerável
dívida pendente. Em Junho, o vice-primeiro-ministro Ricardo Cabrisas
Ruíz encontrou-se
<https://go.ind.media/e/546932/ParC3ADsajustanplazosdeladeuda/kl4qxy/871414952?h=fDZYXbzRj4-fYB7-53RvF7DlNNhLQpjcw_Y657ymoZw>
com o ministro francês da Economia e Finanças, Le Maire, para discutir
as consequências económicas da pandemia do COVID-19. A França, que
administra a dívida de Cuba para com credores públicos no Clube de
Paris, dirige o esforço para atenuar
<https://go.ind.media/e/546932/uba-status-1403107432503578632/kl4qy1/871414952?h=fDZYXbzRj4-fYB7-53RvF7DlNNhLQpjcw_Y657ymoZw>
os pedidos de Havana quanto ao serviço da dívida.

*Custos do bloqueio *

Em 23/Junho, 184 países na Assembleia-Geral da ONU votaram pelo fim do
bloqueio estado-unidense imposta a Cuba. Durante a discussão acerca do
voto
<https://go.ind.media/e/546932/2021-06-23-the-world-says-no-/kl4qy3/871414952?h=fDZYXbzRj4-fYB7-53RvF7DlNNhLQpjcw_Y657ymoZw>
, o ministro Rodríguez dos Negócios Estrangeiros relatou
<https://go.ind.media/e/546932/3kapBXP/kl4qy5/871414952?h=fDZYXbzRj4-fYB7-53RvF7DlNNhLQpjcw_Y657ymoZw>
que entre Abril/2019 e Dezembro/2020 o governo perdeu US$9,1 mil milhões
devido ao bloqueio (US$436 milhões por mês). "A preços correntes", disse
ele, "os danos acumulados em seis décadas montam a mais de U$147,8 mil
milhões e, contra o preço do ouro, monta a mais de US$1,3 milhão de
milhões".

Se o bloqueio fosse levantado, Cuba seria capaz de ultrapassar seus
grandes desafios financeiros e utilizar os recursos para afastar-se da
sua dependência do turismo. "Estamos com o povo cubano", disse Biden; em
Havana, a frase é ouvida de modo diferente pois soa como Biden a dizer
"Estamos sobre o povo cubano".

O primeiro-ministro de Cuba, Manuel Marrero Cruz, disse que aqueles que
foram às ruas em 11/Julho "clamaram por intervenção estrangeira e
disseram que a Revolução [Cubana] estava em queda. Eles nunca
desfrutarão de tal esperança", disse ele. Em resposta àqueles protestos
anti-governamentais, as ruas de Cuba encheram-se com dezenas de milhares
de pessoas com bandeiras cubanas e bandeiras do Movimento 26 de Julho,
da Revolução Cubana. "O povo respondeu e defendeu a revolução", afirmou
Cruz.

14/Julho/2021

*[*] Manolo de los Santos: Investigador e activista político. Em 2018
fundou e dirige o People's Forum
<https://go.ind.media/e/546932/2021-07-13/kl4qy9/871414952?h=fDZYXbzRj4-fYB7-53RvF7DlNNhLQpjcw_Y657ymoZw>
em Nova York. Colabora com o Tricontinental: Institute for Social
Research
<https://go.ind.media/e/546932/2021-07-13/kl4qyc/871414952?h=fDZYXbzRj4-fYB7-53RvF7DlNNhLQpjcw_Y657ymoZw>
e com o Globetrotter/Peoples Dispatch.
[**] Vijay Prashad: historiador, editor e jornalista, indiano. É o
editor-chefe de LeftWord Books
<https://go.ind.media/e/546932/2021-07-13/kl4qyf/871414952?h=fDZYXbzRj4-fYB7-53RvF7DlNNhLQpjcw_Y657ymoZw>
e editor do Tricontinental: Institute for Social Research
<https://go.ind.media/e/546932/2021-07-13/kl4qyh/871414952?h=fDZYXbzRj4-fYB7-53RvF7DlNNhLQpjcw_Y657ymoZw>
. Colabora no Chongyang Institute for Financial Studies
<https://go.ind.media/e/546932/y2hdjcpo/kl4qyk/871414952?h=fDZYXbzRj4-fYB7-53RvF7DlNNhLQpjcw_Y657ymoZw>
, da Renmin University of China. Escreveu mais de 20 livros
<https://www.bookdepository.com/search?searchTerm=Vijay+Prashad&search=Find+book>
. *

*O original encontra-se em www.pressenza.com/...
<https://www.pressenza.com/2021/07/the-united-states-tries-to-take-advantage-of-the-price-cubans-are-paying-for-the-blockade-and-the-pandemic/>
*
In
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/cuba/aproveitamento_14jul21.html
14/7/2021

segunda-feira, 12 de julho de 2021

El Estado de Bienestar fue fruto de la lucha de clases

 



Asbjørn Wahl

El Estado de Bienestar en sus diferentes versiones ha sido celebrado
como uno de los mayores logros del movimiento obrero en Europa
Occidental. Y no es de extrañar: representó un gran progreso en las
condiciones generales de vida y de trabajo de la población. La salud, la
esperanza de vida y la seguridad social se desarrollaron enormemente en
un periodo relativamente corto, a medida que el Estado de Bienestar
surgía durante el siglo XX.

Sin embargo, en las últimas décadas, las instituciones y los servicios
de bienestar se han visto sometidos a una presión cada vez mayor. La
cuestión que se plantea ahora es si el Estado de Bienestar sobrevivirá
al actual proyecto político de la derecha: la ofensiva neoliberal. En
este sentido, las opiniones difieren considerablemente, tanto dentro
como fuera del movimiento obrero. Algunos sostienen que las principales
instituciones del Estado de Bienestar están intactas, y que las
desregulaciones y ajustes que se han llevado a cabo desde
aproximadamente 1980 han sido necesarias para equipar al Estado para una
nueva era.

Otros, entre los que me incluyo, opinan que el Estado de Bienestar ha
sido sometido a una inmensa presión y a los ataques de fuertes fuerzas
económicas y políticas. Se han desmantelado importantes medidas
políticas de regulación, se han debilitado las pensiones públicas, se ha
reducido el acceso a las instituciones públicas de bienestar, se han
sustituido los regímenes universales por la comprobación de los medios
de vida, las contribuciones de los usuarios han aumentado en tamaño y
alcance y los intereses económicos privados han invadido áreas clave. En
otras palabras, la propia existencia del Estado de Bienestar está amenazada.

Sin embargo, los debates en torno a la crisis del Estado de Bienestar
suelen ser un poco simplistas. A menudo se discute el concepto sin tener
en cuenta sus orígenes sociales e históricos y las relaciones de poder
que lo hicieron posible en un primer momento. Para comprender realmente
el potencial y la perspectiva del Estado de Bienestar, es crucial una
investigación más profunda de este modelo social concreto.

*El auge del trabajo*

Seamos claros: la calidad y el nivel de los servicios de bienestar es
una cuestión de poder económico, social y político. La aparición del
movimiento sindical, en alianza con otros movimientos populares, y su
lucha durante décadas contra el capital y los intereses empresariales
creó nuevas relaciones de poder a través de la regulación del mercado,
la propiedad pública y el control democrático de las infraestructuras
básicas. Esto nos dio una protección social y unos servicios públicos
universales y de alta calidad.

Sin embargo, el Estado de Bienestar también fue el resultado de un
desarrollo histórico muy específico que terminó con un compromiso de
clase institucionalizado. El final del siglo XIX y principios del XX
estuvieron dominados por los enfrentamientos sociales en los países
capitalistas en vías de industrialización. Hubo huelgas generales y
cierres patronales, y el uso de la fuerza policial y militar contra los
trabajadores era habitual. Hubo heridos y muertos en estos
enfrentamientos, lo que ocurrió de forma destacada en Escandinavia, que
hoy en día se considera la zona más pacífica del mundo desde el punto de
vista social.

Sin embargo, a medida que las organizaciones obreras se fortalecían
fueron ganando terreno en la lucha social y representaron cada vez más
una amenaza potencial para los intereses del capital. Este proceso se
solidificó cuando una gran parte del movimiento se orientó políticamente
hacia el socialismo —rompiendo sus antiguas alianzas con el liberalismo—
como medio para acabar con la explotación capitalista. En consecuencia,
las demandas de cambios más sistémicos crecieron y prepararon el terreno
para un compromiso de clase.

Una característica importante en el panorama político más amplio era la
existencia de un sistema económico competitivo en la Unión Soviética y
en Europa del Este. Como señaló el historiador Eric Hobsbawm, esto fue
decisivo para que los capitalistas de Occidente aceptaran la necesidad
de llegar a un acuerdo con los trabajadores. Es importante señalar que
el Estado de Bienestar nunca fue un objetivo expreso del movimiento
obrero antes de su creación. El objetivo declarado, por supuesto, era el
socialismo. Fue el miedo al socialismo lo que impulsó al capital a
ceder, algo que aumentó después de la Revolución Rusa pero que alcanzó
un punto álgido en el periodo de entreguerras y en la Segunda Guerra
Mundial, cuando los socialistas y los comunistas asumieron papeles
destacados en la lucha contra el fascismo y se desarrolló un consenso a
favor del cambio social en toda la sociedad.

Los años 30 fueron una época de crisis económica y pobreza históricas.
La década de 1940 vio cómo las matanzas masivas desgarraban las
sociedades por segunda vez en el medio siglo transcurrido. La política
pasó a estar marcada por las demandas populares de paz, seguridad
social, pleno empleo y control político de la economía. Este fue el
telón de fondo de la conferencia de Bretton Woods, que constituyó la
base del orden económico de posguerra: el capitalismo no regulado y
afectado por la crisis tenía que llegar a su fin porque si no lo hacía
el propio capitalismo podía caer. Así, fue bajo el modelo keynesiano de
capitalismo regulado que se crearon las bases sociales y económicas del
Estado de Bienestar.

El poder del capital se redujo en favor de los organismos elegidos
políticamente. La competencia se redujo mediante intervenciones
políticas en el mercado. Se instalaron controles de capital, y el
capital financiero quedó sometido a una importante regulación. Esto hizo
posible que los gobiernos siguieran una política de desarrollo nacional
y social sin tener que enfrentarse continuamente al chantaje del
capital, en el que las grandes empresas amenazaban con trasladarse a
otros países con condiciones más favorables si sus intereses se veían
perjudicados.

A través de una fuerte expansión del sector público y del Estado de
Bienestar, una gran parte de la economía fue sacada del mercado y
sometida a decisiones políticas y democráticas. Esta fue su arista más
radical, y la domesticación general de las fuerzas del mercado se
convirtió en algo más importante que la legislación laboral a la hora de
proporcionar mejores condiciones de trabajo. Fue un equilibrio
particular de las fuerzas sociales, y no el espíritu de compromiso en sí
mismo, lo que lo hizo posible.

*El pacto social*

En un lenguaje más tradicional, el compromiso de clase llegó a conocerse
como «pacto social». Aunque fue sustancialmente un producto de la era de
la posguerra, sus primeras raíces se remontan a la década de 1930,
cuando el movimiento sindical llegó a acuerdos con las organizaciones
patronales en el norte de Europa, una práctica que se siguió después de
la Segunda Guerra Mundial en la mayor parte de Europa Occidental. De un
periodo caracterizado por duros enfrentamientos entre el trabajo y el
capital, las sociedades entraron en una fase de paz social,
negociaciones bipartitas y tripartitas y políticas de consenso. Fue el
equilibrio de poder en el marco de este pacto social entre el trabajo y
el capital, de país a país, lo que constituyó la base del desarrollo del
Estado de Bienestar.

En este momento, el capitalismo internacional experimentó más de veinte
años de crecimiento económico estable y fuerte. Este crecimiento
facilitó el reparto del excedente social entre el trabajo, el capital y
el Estado o el sector público. Los empresarios y sus organizaciones
llegaron a aceptar que no podían derrotar a los sindicatos directamente.
Tuvieron que reconocerlos como representantes de los trabajadores y
negociar con ellos. La cohabitación entre el trabajo y el capital, en
otras palabras, solo se apoyaba en los cimientos de un movimiento obrero
fuerte; en cuanto los sindicatos volvieron a ser vulnerables, el capital
empezó a explorar estrategias para romper el pacto.

Al mismo tiempo, había discusiones ideológicas y políticas dentro del
movimiento obrero sobre el camino a seguir. Las corrientes más radicales
o revolucionarias querían socializar la propiedad y la producción,
mientras que las corrientes más moderadas o reformistas pretendían
delimitar el poder del capital mediante la regulación y las reformas.
Aunque fue el poder de los elementos más radicales el que primero
convenció al capital de la necesidad de llegar a un acuerdo, con el paso
del tiempo, las fuerzas moderadas —que progresivamente veían su papel
menos como una lucha en nombre del trabajo y más como el mantenimiento
de la paz social— se alzaron con el dominio de la tradición
socialdemócrata y de sus partidos, sindicatos e instituciones.

Muchos de estos moderados llegaron a creer que la sociedad había
alcanzado un nivel superior de civilización o que el capitalismo sin
crisis se había hecho realidad. No habría más desempleo masivo ni
riqueza concentrada entre los ricos y privilegiados ni miseria entre los
trabajadores. Quizá nadie representó mejor esta tendencia que el
laborista Anthony Crosland, cuyo libro /El futuro del
socialismo/ afirmaba que «el capitalismo tradicional había sido
reformado y modificado hasta casi desaparecer». Con el beneficio de los
nuevos y enormes programas sociales, como el Servicio Nacional de Salud,
existía una base material para una ideología de asociación social que
llegó a estar —y aún lo está— profundamente arraigada en los movimientos
obreros occidentales.

Pero se hicieron compromisos por ambas partes. Para el movimiento
sindical, el pacto social significaba la aceptación del modo de
producción capitalista, una economía todavía regida por la propiedad
privada y el derecho de los empresarios a dirigir el proceso laboral. A
cambio de las ganancias en términos de bienestar y condiciones de
trabajo, se esperaba que los sindicatos garantizaran la paz industrial y
la moderación en las negociaciones salariales. Simplificando, el Estado
de Bienestar y la mejora gradual de las condiciones de vida era lo que
conseguían las partes dominantes del movimiento obrero a cambio de
renunciar a sus mayores ambiciones socialistas.

Parece claro, en retrospectiva, que los capitalistas entendieron mejor
la naturaleza del pacto social como una tregua entre facciones
enfrentadas que como una asociación que pudiera mantenerse
indefinidamente. Lo utilizaron para ganar tiempo, incrustar nuevas
ideologías de consumo y amortiguar los sentimientos socialistas en el
movimiento obrero.

Sin embargo, también hay que aceptar que el pacto social obtuvo un apoyo
masivo de la clase obrera debido a los importantes logros en términos de
bienestar, salarios y condiciones de trabajo. Esto, sumado al
anticomunismo generalizado de la época de la Guerra Fría, hizo que los
desafíos radicales a la centroizquierda fueran difíciles de sostener.

Debido a esta dinámica, las partes dominantes del movimiento obrero
veían cada vez más el progreso social como un efecto no de la lucha sino
de la paz social y la cooperación con una clase capitalista
conciliadora. Esto condujo a la despolitización del movimiento y a la
burocratización de sus dirigentes. El papel histórico de los sindicatos
y de los partidos socialdemócratas fue administrar esta política de
compromiso de clase. Con el tiempo, se atrofiaron, pasando de ser
organizaciones de masas de la clase obrera a mediadores burocráticos
entre el trabajo y el capital. Esto representó el principio del fin del
auge de la socialdemocracia.

*La ofensiva neoliberal*

A medida que la reconstrucción de la economía después de la Segunda
Guerra Mundial llegaban a su fin, el modelo económico se topó con
crecientes problemas. El estancamiento, la inflación y la reducción de
los beneficios se convirtieron en algo habitual. Espoleadas por estas
crisis internacionales, las fuerzas capitalistas pasaron a la ofensiva
para restablecer la rentabilidad, retirándose paulatinamente del pacto
social e introduciendo políticas más confrontativas. Comenzó la era del
neoliberalismo, y la hegemonía política e ideológica que el empresariado
había obtenido en la década de 1980 se utilizó para llevar a cabo un
proyecto sistemático de privatización, desindustrialización y desregulación.

A pesar de que la crisis se prolongó durante toda la década, el
movimiento sindical luchó por adaptarse. El paso de la paz a la
confrontación en nombre del capital era incomprensible dentro de la
ideología de pacto social orientada al consenso de sus dirigentes. Esto
también se demostró en su incapacidad para hacer frente a la renovada
actividad de las bases, ya que los trabajadores se organizaron desde
abajo para resistir los ataques a sus condiciones que anunciarían una
nueva era.

La ruptura del compromiso histórico de clase también provocó una crisis
política e ideológica en la socialdemocracia. Surgieron alternativas
desde la izquierda: en 1971, la confederación sindical LO de Suecia
propuso Löntagarfonderna, fondos de propiedad de los trabajadores que se
harían con una parte sustancial de las acciones de las empresas más
grandes. En Gran Bretaña, Tony Benn aprovechó su cargo de ministro para
ser pionero en la creación de cooperativas de trabajadores en empresas
en quiebra, y luego presentó un plan más radical para democratizar la
economía.

Pero quizás el único lugar donde se produjo un avance real fue en
Francia. En 1981, François Mitterrand ganó las elecciones presidenciales
y optó por gobernar con el Partido Comunista. Su programa común se había
elaborado en 1972 y reflejaba una respuesta de izquierdas a la crisis de
esa década: aumento del salario mínimo, reducción de la semana laboral,
aumento de las vacaciones, impuesto sobre el patrimonio y ampliación de
los derechos de consulta a los trabajadores. Por desgracia, este
singular experimento antineoliberal no duró, y bajo la presión de los
intereses financieros nacionales e internacionales Mitterrand dio un
giro de 180 grados anunciando su /tournant de la rigueur/, o vuelta a la
austeridad.

La mayoría de los partidos socialdemócratas no intentaron contraatacar.
De hecho, se adaptaron con sorprendente rapidez a la agenda neoliberal
dominante, proponiendo simplemente alternativas más suaves a las
políticas de la derecha.

El resultado fue la erosión de las bases de la economía del Estado de
Bienestar: la abolición de los controles de capital, la desregulación y
liberalización de los mercados, la redistribución y concentración de la
riqueza, la privatización de los servicios públicos, la reducción de la
plantilla y el consiguiente aumento de la intensidad del trabajo y la
flexibilización de los mercados laborales.

No se trata, pues, de un retroceso accidental o temporal al que nos
enfrentamos, sino de un cambio fundamental en el desarrollo de nuestras
sociedades. Se ha producido un inmenso cambio en la relación de fuerzas
entre el trabajo y el capital, esta vez a favor del capital. Las grandes
empresas multinacionales han estado a la cabeza de este desarrollo con
su recién lograda libertad de regulación y control democrático. Las
políticas de consenso del pacto social han sido sustituidas gradualmente
por una economía cuyas relaciones de clase comienzan a retroceder a una
posición que se asemeja más al período anterior.

La respuesta de la izquierda ha girado durante demasiado tiempo en torno
a un nuevo compromiso de clase. El movimiento obrero sigue teniendo
nostalgia de una época de mejora gradual de las condiciones sociales.
Queremos que vuelva la paz industrial de los años 60 y volver a
sentarnos a la mesa como socios. Pero esos días no van a volver. El
trabajo es débil, el capital lo sabe, y no hay incentivos para el
diálogo social que tanto reclamamos. Las fuerzas que quieren defender
los servicios públicos y el Estado de Bienestar tendrán que responder a
los ataques de la clase capitalista con una contraofensiva. Se avecinan
más enfrentamientos, y más vale que estemos preparados.

*¿Y ahora?*

Los activistas laborales de hoy en día deberían ser lo suficientemente
honestos como para preguntarse por qué se ataca y socava ahora el Estado
de Bienestar. ¿Qué ha fallado? Está claro que hay algunas lecciones.

En primer lugar, el pacto social no era una situación estable. Fue un
compromiso en una situación histórica concreta, y las principales
características del sistema capitalista permanecieron intactas. Algo que
podría haberse considerado un importante compromiso táctico a corto
plazo desde el punto de vista del movimiento obrero se convirtió en el
objetivo estratégico a largo plazo. Este fue un error de época, que
definió el fracaso de la resistencia neoliberal. En lugar de ver el
Estado de Bienestar como un paso hacia una emancipación social más
fundamental, se convirtió gradualmente en el fin de la historia, para
nosotros más que para ellos.

En segundo lugar, la ideología del pacto social era simplemente errónea.
Puede haber diferentes tipos de capitalismo, pero sus fundamentos
siempre permanecen. No puede haber un control democrático de la
economía, no puede estar libre de crisis, la lucha de clases no puede
terminar. Todo esto está inscrito en el ADN de un sistema económico
basado en la propiedad privada, en el afán de lucro y en el implacable
deseo de expansión del capital.

En tercer lugar, al no entender la naturaleza del sistema, el movimiento
obrero fue tomado por sorpresa por la ofensiva neoliberal. En lugar de
movilizar a la clase obrera para defender los logros conseguidos gracias
al Estado de Bienestar y llevar la lucha social hacia adelante, muchos
de los líderes del movimiento obrero y sindical se vieron empujados a la
defensiva, aferrándose a la paz social, al diálogo y a las concesiones
negociadas, y se convirtieron en parte del proyecto neoliberal. De
hecho, a lo largo de la década de 1990, los partidos socialdemócratas
lograron reformas que ningún partido de derechas pudo conseguir por su
capacidad de disciplinar al trabajo.

El defecto del Estado de Bienestar del siglo XX fue que no fue lo
suficientemente lejos. La concentración de la propiedad privada formó
una sólida base de poder que impidió cualquier democratización de la
economía: una fortaleza para el capital desde la que se podía lanzar un
ataque contra el movimiento obrero, el progreso social y los bienes
públicos. Esto es exactamente lo que estamos presenciando desde los años 70.

Es hora de enfrentarse al neoliberalismo y al aumento del poder del
capital. No hay otra manera de romper el ciclo. Hoy en día, cada vez más
gente se da cuenta de que el modelo neoliberal no solo representa una
ofensiva del capital, sino también sus debilidades, su vulnerabilidad,
su vulgaridad y sus contradicciones internas. El capitalismo y sus
instituciones globales están atravesando una prolongada crisis de
legitimidad.

A fin de cuentas, se trata de una cuestión de poder. Las políticas de
izquierda presuponen un cambio fundamental en el equilibrio de fuerzas
de la sociedad. El principal objetivo a corto plazo del movimiento
obrero pasa por limitar el poder del capital y someter la economía al
control democrático. Esto no se logrará mediante el diálogo social, la
asociación, los pactos, el compromiso o la cooperación, sino mediante la
lucha de clases y la confrontación. La historia del Estado de Bienestar
nos muestra que el capital nunca cede voluntariamente su poder. Tiene
que ser obligado.

Asbjørn Wahl <https://www.sinpermiso.info/autores/Asbj%C3%B8rn-Wahl>
asesor sindical, escritor y activista. Fue presidente del Comité de
Transporte Urbano de la Federación Internacional de Trabajadores del
Transporte (ITF) y su libro, "The Rise and Fall of the Welfare State",
fue publicado por Pluto Press en 2011.
Fuente:
https://jacobinlat.com/2021/07/03/el-estado-de-bienestar-fue-fruto-de-la-lucha-de-clases/

In
SINPERMISO
https://www.sinpermiso.info/textos/el-estado-de-bienestar-fue-fruto-de-la-lucha-de-clases
10/7/2021

segunda-feira, 5 de julho de 2021

*A História das Invenções Chinesas. O Presente e o Futuro. As Inovações Recentes do Desenvolvimento Tecnológico Chinês*



Por *Larry Romanoff*

/A China, como nação, tem o mais longo e, de longe, o mais vasto registo
de invenções na História Mundial. Estima-se agora de forma fiável que
mais de 60% de todo o conhecimento existente no mundo actual teve origem
na China, um facto varrido para debaixo do tapete pelo Ocidente./

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*Joseph Needham*, um Bioquímico britânico, Historiador Científico e
Professor na Universidade de Cambridge, é amplamente classificado como
um dos intelectuais mais destacados do século XX. Os estudantes chineses
de visita a Cambridge informaram-no, repetidamente, de que os métodos e
as descobertas  científicas ocidentais discutidos nas suas aulas
tiveram,há séculos, origem na China. Needham ficou tão intrigado que se
tornou totalmente fluente na língua chinesa, tendo depois viajado para a
China a fim de  investigar. Descobriu inúmeras provas da verdade dessas
alegações e decidiu permanecer na China para escrever um livro a fim de
documentar o que considerava ser uma descoberta de grande importância
para o mundo. Needham nunca completou a sua tarefa de catalogar a
História da invenção chinesa. O seu único livro tornou-se em 26 livros e
morreu em 1995, com o seu trabalho ainda hoje a ser continuado pelos
seus alunos. O resumo da obra de Needham, elaborado por Robert
Temple,  é uma boa introdução a este tópico. *(1)*

Ensinaram-nos na escola que a prensa de impressão de caracteres
tipográficos móveis foi inventada na Alemanha por *Johannes
Gutenberg* por volta do ano 1550. De maneira nenhuma. A China não só
inventou o papel, como também a prensa de impressão com um conjunto de
tipos gráficos móveis, que era de uso comum na China 1.000 anos antes do
nascimente de Gutenberg. Foi-nos igualmente explicado, de forma precisa,
que o inglês *James Watt* inventou a máquina a vapor. Não, não inventou.
Os motores a vapor eram utilizados largamente, na China, 600 anos antes
do nascimento de *Watt*. Existem textos e desenhos antigos datados para
ilustrar e provar que os chineses descobriram e documentaram o
"*/Triângulo de Pascal/*", 600 anos antes de Pascal o copiar, e os
chineses enunciaram a */Primeira Lei do Movimento, /*/de Newton/, 2.000
anos antes de *Newton*.

Aplica-se o mesmo a milhares de invenções que o Ocidente afirma agora
como sendo suas, mas onde existe documentação conclusiva para provar que
tiveram origem na China centenas e, por vezes, milhares de anos antes do
Ocidente as ter copiado. Não é sem razão que *Marco Polo* é descrito na
China como "/o grande ladrão da Europa/". Os parágrafos seguintes são
adaptados principalmente a partir da informação contida no livro
de* Robert Temple*, que recomendo vivamente. *(1)*

Os chineses inventaram o sistema de número decimal, fracções decimais,
números negativos e o zero, tão longe no passado, que a origem se perde
na névoa do tempo. Os chineses rastrearam manchas solares e cometas com
tal pormenor e precisão que estes registos antigos ainda hoje são
utilizados como base para a sua previsão e observação. Os chineses
perfuravam o solo para obter gás natural há cerca de 2.500 anos, poços
com 4.800 pés de profundidade, com condutas de bambu para conduzir o gás
às cidades vizinhas. Os chineses foram pioneiros na exploração e
utilização do carvão muito antes de este ser conhecido no
Ocidente. *Marco Polo* e os comerciantes árabes maravilharam-se com a
"/pedra negra/" que os chineses extraíam do solo, que ardia lentamente
durante uma noite inteira.   

A China imprimiu papel-moeda desde há quase 1.500 anos, feito de forma a
evitar a contrafacção. Papel de embrulho, guardanapos de papel e papel
higiénico eram todos de uso geral na China 2.000 anos antes de o
Ocidente os poder produzir. Foram os primeiros a inventar e a
desenvolver um relógio mecânico completo com uma verdadeira peça de
sincronização, muitos séculos antes dos suíços o terem feito. Os
chineses inventaram um sismógrafo engenhoso ainda em uso, que determina
não só a gravidade como também a direcção e distância dos terramotos. Os
chineses inventaram os balões de ar quente, o pára-quedas, o voo
tripulado com papagaios, o carrinho de mão e os fósforos. Inventaram
laboratórios hermeticamente selados para experiências científicas.
Inventaram os accionamentos por correia e corrente, o vapor de rodas de
pás, o rotor e a hélice do helicóptero, a ponte sustentada por arcos.
Inventaram a utilização de bombas de água e correntes, a manivela, todos
os métodos de construção de pontes suspensas, pinças deslizantes, o
carretel de pesca, projecção de imagens, lanternas mágicas, o sistema de
suspensão por cardan. A China não só inventou as rodas giratórias, as
máquinas de cardar e os teares, como foi o líder mundial em inovações
técnicas no fabrico de têxteis, mais de 700 anos antes da revolução
têxtil britânica do século XVIII.

A perícia chinesa em porcelana fina estava tão avançada há milénios, que
ainda hoje se admite que a sua capacidade nunca foi igualada no
Ocidente, muito menos ultrapassada. Os chineses descobriram não só o
magnetismo, mas também a remanência magnética e a indução, bem como a
bússola. Inventaram a pólvora, as bombas de fumo, o canhão, a besta, a
armadura corporal revestida, os fogos de artifício, os lança-chamas, as
granadas, as minas terrestres e marítimas, os foguetes multi-estágio, os
morteiros e as armas de repetição. A China tinha canais de irrigação que
também eram utilizados para o transporte, e os chineses inventaram as
comportas dos canais, que podiam elevar e baixar os barcos para
diferentes níveis, 1.500 anos antes dos americanos construírem o Canal
do Panamá. A China tem actualmente em funcionamento barragens à prova de
terramotos que foram construídas por volta de 250 a.C.

*Há um milénio, os chineses conceberam e desenvolveram a ciência da
imunologia - vacinar as pessoas contra doenças como a varíola, saber
extrair e preparar a vacina de modo a imunizar e não infectar.
Descobriram o ritmo circadiano no corpo humano, a circulação sanguínea e
a ciência da endocrinologia.* Os chineses utilizavam a urina de mulheres
grávidas para produzir hormonas sexuais há 2.000 anos, compreendendo
como actuavam sobre o corpo e como as utilizavam. Ainda existem muitos
livros médicos chineses com muitos séculos de existência, documentando
tudo isto e muito mais. Por volta de 1550, a China compilou uma enorme
enciclopédia de 52 volumes de Medicina Tradicional Chinesa à base de
ervas que descreveu quase 2.000 fontes de ervas e 10.000 receitas
médicas. Entre elas está o óleo de chaulmoogra, que é ainda o único
tratamento conhecido para a lepra.

A China concebeu e construiu os maiores navios comerciais do mundo, que
eram muitas vezes mais longos e dez vezes maiores em volume, do que
qualquer coisa que o Ocidente pudesse construir na altura. Nos finais
dos anos 1500, os maiores navios ingleses deslocavam 400 toneladas,
enquanto a China deslocava mais de 3.000 toneladas. Os navios do
Ocidente eram pequenos, incontroláveis e frágeis e inúteis para viajar a
qualquer distância. Milhares de anos atrás, os navios chineses tinham
compartimentos estanques que lhes permitiam continuar as viagens mesmo
quando danificados. Além disso, os navios chineses não só tinham
múltiplos mastros, mas a China também inventou as velas de luff que nos
permitem navegar quase contra o vento, tal como os veleiros fazem hoje
em dia e, por isso, não estavam dependentes da direcção do vento para as
suas viagens. As suas velas de insuflação continham ripas de bambu
cosidas que mantinham as velas cheias e aerodinamicamente eficientes,
como os veleiros de regata utilizam hoje em dia. Os chineses inventaram
o leme do navio - algo que os europeus nunca conseguiram fazer, capazes
de se orientarem apenas com remos, e as velas europeias permitiam-lhes
viajar apenas na direcção do vento, o que significava que um navio teria
de permanecer no lugar, por vezes durante meses, à espera de vento
favorável.

Por ordem de grandeza, os mapas chineses eram os melhores do mundo,
durante mais de um milénio e a precisão dos seus mapas tornou-se
lendária, estando muito à frente do Ocidente. Os chineses inventaram as
projecções de Mercator {projecção cilíndrica do globo terrestre}, mapas
em relevo, cartografia quantitativa e traçados de grelha. A China tinha
bússolas e conhecimentos astronómicos tão extensos que sabiam sempre
onde estavam, podiam traçar percursos e segui-los tanto por bússolas
como por cartas estelares e podiam navegar para onde quisessem,
independentemente da direcção do vento. Como *Needham* salientou, a
China estava tão à frente do mundo ocidental em navegação e tecnologia
de navegação, que as comparações são mesmo embaraçosas. Foi só quando o
Ocidente conseguiu copiar e roubar a tecnologia de navegação e o modo de
navegação da China, que pôde começar a viajar pelo mundo e a
colonizá-lo. J*ames Petras* escreveu: "/É especialmente importante
salientar como a China, a potência tecnológica mundial entre 1100 e
1800, tornou possível o surgimento do Ocidente. Foi só quando adquiriu
por empréstimo e assimilou as inovações chinesas que o Ocidente foi
capaz de fazer a mudança para as economias capitalistas e imperialistas
modernas/".  (2)

*A China estava 1.000 anos à frente do Ocidente em tudo o que tenha a
ver com metais - ferro fundido, ferro forjado, aço, aço-carbono, aço
temperado, aço soldado.* Os chineses eram tão hábeis na metalurgia que
podiam fundir sinos afinados que podiam produzir qualquer tom. Muito
antes de 1.000 d.C., a China era o maior produtor mundial de aço. Creio
que foi James Petras quem notou que, cerca de 1.000 A.C. (antes de
Cristo) a China produzia cerca de 125.000 toneladas de aço por ano,
enquanto 800 anos mais tarde a Grã-Bretanha só conseguia produzir 75.000
toneladas. *(**1**) *Os chineses inventaram o alto-forno, o fole de
dupla acção para atingir as altas temperaturas necessárias para a
fundição e o recozimento de metais. Inventaram o fabrico de aço a partir
de ferro fundido. Os chineses destacaram-se na criação de ligas
metálicas e muito cedo fundiram e forjaram moedas feitas de cobre,
níquel e zinco. Todo o processo de extracção, fundição e purificação do
zinco, teve origem na China. Os chineses desenvolveram os processos de
mineração, bem como a concentração e extracção de metais.

*A China estava muito avançada na agricultura, tendo inventado o
ventilador de neve e a broca da semente, tornando fácil o processo de
lavoura, plantação e colheita. Os Europeus e os americanos continuavam a
semear as culturas através da dispersão de grãos de um saco, uma prática
muito esbanjadora que necessitava de poupar 50% da colheita anual de
sementes.* A China desenvolveu arados cientificamente eficientes que
nunca foram igualados e que ainda hoje são utilizados em todo o mundo.
Inventaram e desenvolveram arreios e coleiras de animais que permitiram
primeiro que os cavalos fossem realmente utilizados para puxar cargas. A
Europa não tinha um arado eficiente, e a sua única forma de aproveitar
os animais era colocar uma corda à volta do pescoço, o que só conseguiu
que os animais se estrangulassem a si próprios. Os chineses inventaram
as selas e o estribo de montar. A produção alimentar da China, por ordem
de grandeza, esteve à frente do mundo durante mais de 1.000 anos, os
seus avanços na agricultura foram a causa facilitadora da revolução
agrícola da Europa, que primeiro lhe permitiram começar a alimentar-se
de maneira mais adequada. Os chineses vestiam roupas finas de seda e
algodão e usavam papel higiénico enquanto os europeus, séculos mais
tarde,  ainda usavam peles de animais.

Poucas pessoas no Ocidente estão familiarizadas com as *Esferas
Armilares* da China. Estas maravilhas do mundo, fundidas em bronze, com
vários metros de diâmetro e belamente decoradas com dragões e fénixes,
são alguns dos mais antigos e precisos instrumentos de observação
astronómica existentes, alguns criados há mais de 3.500 anos, quando os
países ocidentais não tinham conhecimento de tais coisas. Eles
determinam e medem as posições e coordenadas eclípticas e horizontais
equatoriais dos corpos celestes, as posições e movimentos diários de
1.500 estrelas e constelações e muito mais. Quando as Forças Armadas
Ocidentais invadiram a China no final do século XIX, ficaram tão
fascinadas que pilharam a maioria destes tesouros e os séculos de dados
dos antigos observatórios, desmontando os instrumentos e removendo-os
para a Europa, devolvendo alguns à China como parte dos Tratados após a
Primeira Guerra Mundial.

Conhecer a vasta extensão das invenções chinesas que existiram centenas
de anos e muitas vezes milénios, antes do seu aparecimento no Ocidente,
deixa um indivíduo sem palavras. *Needham* publicou não só textos
chineses antigos que podem ser datados com precisão, mas também
fotografias de desenhos antigos que retratam claramente todos estes
artigos. Não é uma simples questão de pólvora e fogo-de-artifício, mas
de descoberta que engloba toda o encadeamento do conhecimento humano e
tudo isto foi conscientemente escondido do mundo
ocidental. *Needham* fez as suas descobertas na década de 1940, mas nem
a educação ocidental nem os meios de comunicação social as referenciaram
ou  reconheceram. Não se trata de meras reivindicações; as provas são
conclusivas e estão disponíveis para exame, mas o Ocidente apagou
completamente a China da memória histórica do mundo.


    *Mito e Deturpação*

Os historiadores ocidentais têm distorcido e ignorado o papel dominante
da China na economia mundial até cerca de 1800. Existe uma enorme
quantidade de dados empíricos que provam a superioridde económica
civilização e tecnológica da China sobre a civilização ocidental durante
a maior parte de vários milénios. *Dado que a China foi a maior potência
tecnológica do mundo até cerca de 1800*, é especialmente importante
salientar que foi esta circunstância que tornou possível o surgimento do
Ocidente. Foi só ao copiar e ao assimilar as inovações chinesas e a
tecnologia muito mais avançada da China, que o Ocidente foi capaz de
fazer a transição para as economias capitalistas e imperialistas
modernas. Até então, a China era a principal nação comercial, alcançando
a maior parte do Sul da Ásia, África, Médio Oriente e Europa. As
inovações da China na produção de papel, impressão de livros, armas de
fogo e ferramentas conduziram a uma superpotência industrial cujos bens
eram transportados pelo mundo inteiro através do sistema de navegação
mais avançado. Além disso, a banca, uma economia estável de papel-moeda,
um excelente fabrico e elevados rendimentos agrícolas resultaram* num
rendimento per capita da China, superior ao da Grã-Bretanha, até cerca
de 1800.*

Não só isto, mas, como *James Petras* salientou, "... /a maioria dos
historiadores económicos ocidentais apresentaram a China histórica como
uma sociedade estagnada, atrasada e paroquial, um "despotismo
oriental""/. A China nunca foi assim. Durante o século XIII, Marco Polo
descreveu a China como sendo enormemente mais rica e avançada do que
qualquer país europeu, e filósofos europeus líderes como Voltaire
olharam para a sociedade chinesa como um exemplo intelectual,
nomeadamente os britânicos, utilizando a China como o modelo para
estabelecer um serviço público meritocrático. *(3)*

Um primeiro pensamento ao rever esta investigação é que o mundo, há 500
anos, deve ter parecido muito primitivo para a China,  o verdadeiro
"terceiro mundo", na altura. Quando Zhang He e outros realizaram as suas
viagens de exploração, devem ter ficado desapontados com o que
encontraram. O resto do mundo não tinha papel ou impressão, nem
matemática, nem ciência, pouca medicina de nota, quase nenhuma
metalurgia para falar, uma agricultura muito primitiva, nenhum fabrico
de qualquer tipo digno, nenhuma porcelana, nenhuma roda de fiar ou
teares para fazer roupa. Ao rever a história das invenções chinesas,
desenvolve-se um sentimento cada vez mais forte de que os chineses
olharam para o mundo e não encontraram nada de interessante em todas
aquelas sociedades que estavam séculos, e em alguns casos milénios,
atrasadas em relação à China, em quase todos os sentidos. Pode-se
teorizar facilmente que esta é a razão pela qual a China se fechou ao
mundo naquela época, concluindo que as outras nações eram tão atrasadas
que pouco se ganharia com um contacto prolongado. Pode-se imaginar que
voltaram para casa e fecharam a porta, talvez planeando regressar dentro
de mais 500 anos para ver se as coisas tinham progredido. Com o
acréscimo de pormenores, é muito provável que tenha sido assim que os
acontecimentos ocorreram.

O que a China não esperava, era que o Ocidente roubasse todas estas
ideias, transformando-as em armas de colonização e de guerra,
regressando à nação que era a fonte desse conhecimento, invadindo-a para
colonizar, roubar recursos, escravizar e massacrar a população. O
interesse da China foi sempre e somente,  a exploração e o comércio. Os
chineses nunca foram expansionistas ou guerreiros, querendo apenas
proteger as suas próprias fronteiras da invasão do Norte. A China não
estava preparada para a natureza violenta e brutalidade selvagem do
homem branco que navegou pelo mundo, invocando a bênção do seu Deus
sobre as suas inúmeras atrocidades. Juntamente com um governo interno
fraco *e a sagacidade dos judeus de Bagdad na utilização do ópio para
arrecadar biliões*, enquanto escravizavam uma nação com a protecção dos
militares britânicos, temos uma grave oscilação descendente durante 200
anos.


    *Duas Grandes Tragédias Históricas*

O resumo acima não começa sequer a catalogar adequadamente toda a
extensão da invenção chinesa, toda a soma de descobertas e contribuições
da China para o mundo moderno. Mas infelizmente, grande parte da soma
total dos conhecimentos e da História das Invenções da China está
perdida para o mundo, para sempre. *Uma grande parte do conhecimento
registado da História da China foi destruída num dos maiores actos de
genocídio cultural da História do mundo - o saque e o incêndio do
Palácio de Verão da China, o Yuanmingyuan, que continha mais de dez
milhões dados melhores e mais valiosos tesouros históricos e obras
académicas de 5.000 anos de História da China*. O que não podia ser
saqueado foi destruído, e todo o enorme palácio foi incendiado. Este
roubo e destruição total de uma das maiores colecções de conhecimento
histórico do mundo foi engendrado pelos Rothschilds e Sassoons em
retaliação à resistência chinesa ao ópio levado por deles. *(4) **(5)*

*Isto é um aparte, mas a destruição do Yuanmingyuan foi feita pela mesma
razão que os Aliados bombardearam Dresden até ficar tudo reduzido a
escombros, durante a Segunda Guerra Mundial.* Dresden não tinha valor
militar mas era o coração espiritual e cultural da Alemanha, a sua
destruição significou "/abrir uma ferida na alma alemã que nunca iria
sarar/". Precisamente pela mesma razão, o "/estado profundo/" americano
estava selvaticamente determinado a lançar a primeira bomba atómica
sobre Quioto, que era também o coração e a alma da cultura japonesa.
Quioto foi protegida pela Providência, com densas acumulações de nuvens
que impediram os bombardeiros de a localizar com precisão suficiente,
forçando-os a bombardear as cidades alternativas - Hiroshima e Nagasaki.

Mas em termos de destruição do espólio literário registado da cultura e
das invenções, houve talvez um crime ainda maior contra a História do
Conhecimento chinês - *a destruição da biblioteca e do Yongle Dadian na
Academia de Hanlin*. (6) Essa enciclopédia de 22.000 volumes escritos
por mais de 2.000 estudiosos ao longo de muitos anos, continha grande
parte do total de 5.000 anos do conhecimento, das invenções e do
pensamento chineses. Os britânicos levaram todos esses livros para o
exterior, deitaram-lhes combustível e reduziram toda a colecção a
cinzas. Só Deus sabe o que se perdeu nesta trágica destruição,* ordenada
pelos mesmos traficantes de droga como castigo por recusarem o ópio*,
destinado a quebrar a vontade da China ao atacar o próprio coração da
cultura da nação na destruição gratuita de algo de tão inestimável valor
que deixaria uma ferida aberta que nunca cicatrizaria. *Apenas cerca de
150 volumes sobreviveram à incineração, 40 dos quais residem hoje na
Biblioteca do Congresso dos EUA, que não tem qualquer intenção de os
devolver à China.*


    *O Darwinismo no seu Melhor*

Os ocidentais de hoje justificam a sua apropriação não reconhecida do
conhecimento chinês e as reivindicações subsequentes de propriedade,
alegando que os chineses inventaram essas coisas, mas nunca as
desenvolveram ou capitalizaram, mas a reivindicação é um disparate
inválido, uma vez que a minha invenção é minha, quer eu opte ou não, por
desenvolvê-la. A reivindicação também não é verdadeira.

Quando os chineses inventaram o papel e a impressão, os livros
espalharam-se por toda a China, tal como com a tecelagem de tecidos e o
desenvolvimento de têxteis. A China empregou as suas invenções de forma
ilimitada em benefício da sociedade chinesa. O que eles não fizeram foi
registar patentes, converter tudo em propriedade privada e transferir o
seu engenho de benefício social para o lucro privado. As críticas à
utilização pela China das suas invenções não são atribuídas à falta de
aplicação, mas à ausência de comercialização, estas justificações
ocidentais implicam que qualquer nação que não se esforce imediatamente
por maximizar o lucro das suas descobertas, é moralmente negligente,
sendo então justificado o roubo dessas descobertas por aqueles que as
utilizariam de forma mais adequada. É como o assaltante do banco que se
apodera dum fundamento moral elevado, alegando que utilizava melhor o
dinheiro do que o banco o teria feito.

Não foi nem uma falha de carácter nem um defeito de comportamento, ter
renunciado à comercialização privada,mas sim um reflexo da natureza
pluralista e socialista do povo chinês, a mesma razão pela qual ainda
hoje as leis e os regulamentos de Patentes e da Propriedade Intelectual
da China são muito menos agressivos do que os dos EUA. Em termos
simples, a China nunca foi tão capitalista ou tão individualista como o
Ocidente. Faz parte da grandeza da nação chinesa que esta imensa
população se tenha envolvido em milénios de investigações, descobertas e
invenções espantosas e tenha distribuido livremente esses frutos por
toda a nação. Esta determinação na procura do bem maior e do benefício
de toda a sociedade, em vez do lucro individual, é fundamental para a
humanidade natural do povo chinês, e não se pode permitir que seja
destruída pelo modelo sociopata ocidental, tão vigorosamente promovido
hoje em dia, com base numa superioridade moral fictícia.

O Ocidente opta por ignorar o facto de que o hiato de 200 anos na
inovação da China se deveu, quase exclusivamente, às invasões militares,
quando o Ocidente estava a devastar e a destruir a nação. O
desenvolvimento, o progresso social e as invenções da China só cessaram
com as invasões tanto dos americanos como dos europeus e, muito
especialmente, com o vasto programa de tráfico de ópio dos judeus na China.

Talvez de interesse mais directo é que o atraso da China na tecnologia
actual é, sobretudo, um infeliz acidente do destino que ocorreu durante
um breve espaço de tempo. Depois de Mao ter expulsado todos os
estrangeiros e da China se ter livrado dos efeitos de 200 anos de
interferência e de pilhagem estrangeira, para iniciar a transição para
uma economia industrializada, foi precisamente quando explodiu o mundo
da electrónica e da comunicação. Foi durante esse breve período de
algumas décadas que os computadores, a Internet, os telemóveis e muito
mais, foram concebidos e patenteados pelo Ocidente. Praticamente todo o
processo passou pela China, porque durante esse breve período a nação
estava totalmente envolvida nos fundamentos da sua revolução económica e
social, e não estava em posição de participar. A falta de patentes e de
PI (Propriedade Intelectual) da China no campo da electrónica, nos dias
de hoje, não se deve nem à superioridade ocidental nem à falta de
inovação chinesa, mas sim à agressão ocidental. A acumulação de patentes
americanas e europeias não se deveu de forma alguma à supremacia
ocidental na inovação, mas sim à ausência dos chineses.


    *O Presente e o Futuro*

* *A capacidade de invenção da China ainda não terminou. Com a China a
recuperar e, uma vez mais, a ocupar o lugar que lhe é devido no mundo,
ela continua onde parou há 200 anos. Ignorando o retrocesso histórico,
as empresas chinesas estão simplesmente a contornar as fases iniciais da
inovação por parte de empresas estrangeiras e a avançar para as fases
seguintes em que o campo está aberto e as patentes estrangeiras não
impediram a inovação e o desenvolvimento.

Se examinarmos os campos em que a China está hoje atrasada em termos de
patentes e de Propriedade Intelectual, é principalmente nas áreas da
ciência que progrediram durante esse breve período em que a China não
pôde participar. Assim que a China encontrou a sua base, a inovação
continuou inalterada como tinha acontecido durante milhares de anos. A
China falhou as patentes de computadores e smartphones, mas estava
perfeitamente cronometrada para a revolução dos painéis solares e surgiu
rapidamente  como líder mundial - altura em que os EUA impuseram tarifas
de 300% sobre os painéis solares chineses numa tentativa não só de matar
as vendas de exportação da China, mas de impedir a acumulação de fundos
para mais Investigação e Desenvolvimento.  A inovação da China disparou
- de um modo geral para a liderança mundial - em qualquer área que não
tenha sido previamente restringida pela Propriedade Intelectual.

Apesar das acusações dos EUA de que a China copia a tecnologia
estrangeira, as conquistas da China em matéria de alta tecnologia foram
inteiramente desenvolvidas no seu país, porque os EUA têm estado tão
determinados a impedir a ascensão da China, que, em 1950, criaram um
embargo internacional a todo o conhecimento científico e a quase todos
os produtos e processos úteis à China, incluindo a promulgação de leis
para que os cientistas chineses não possam ser convidados para fóruns
científicos americanos, ou a participar nos mesmos, enquanto estão a
coagir outras nações ocidentais a fazer o mesmo. Em Outubro de 2019 -
longe de ter sido a primeira vez que tal aconteceu - foi negado
o /visa/ a todos os cientistas chineses e empresas de tecnologia
espacial que pretendiam participar no Congresso Internacional de
Astronáutica, em Washington.

Ouvimos falar muito nos meios de comunicação ocidentais sobre a China
exigir transferências de tecnologia como condição de residência de
empresas na China, mas é sobretudo propaganda. Sem dúvida que ocorrem
expectativas de transferência de tecnologia e de know-how, uma vez que a
China não quer passar o resto da sua vida a fazer torradeiras e
sapatilhas de corrida mas, visto que a entrada no mercado chinês
representa um presente de biliões em lucros, é perfeitamente sensato
atribuir-lhe um preço. Contudo, é preciso ter em mente que nenhuma
empresa estrangeira está a realizar investigação comercial ou militar de
tecnologia de ponta, ou a fabricar computadores quânticos e mísseis
hipersónicos na China. Qualquer tecnologia realmente disponível para
transferência seria quase inteiramente de bens de consumo e dificilmente
constituiria uma mais valia ou uma ameaça à "segurança nacional" dos
EUA. E, a China já ultrapassou os EUA, em praticamente todos os campos e
indústrias de ponta, tais como a computação quântica, as
telecomunicações 5-G ou a energia solar.


    *Uma Breve Lista da Inovação Chinesa Recente*

Em 2015, os engenheiros chineses anunciaram a primeira rede mundial de
comunicações quânticas, um sistema de 2.000 quilómetros que liga Pequim
e Shanghai com transmissão de dados codificados através da distribuição
de chaves quânticas. Em Agosto de 2016, a China lançou o primeiro
satélite de comunicações quânticas do mundo, e conseguiu testar a
comunicação com as estações terrestres existentes no país. Em Setembro
de 2016, cientistas chineses conseguiram o primeiro teletransporte
quântico do mundo entre fontes independentes, fornecendo informação
quântica cifrada em fótons, entre dois locais.

Em 2014, investigadores da Universidade Nankai, em Tianjin,
desenvolveram um carro com uma unidade de controlo cerebral funcional,
com sensores que captam sinais cerebrais que permitem aos humanos
controlar o automóvel com as suas mentes. Em 2016, a China lançou um
laboratório espacial totalmente operacional para realizar as primeiras
experiências de interacção cérebro-máquina no espaço. Os cientistas
chineses acreditam que a interacção cérebro-computador será
eventualmente a forma mais elevada de comunicação homem-máquina, tendo
desenvolvido este processo muito mais longe do que qualquer nação
ocidental e detendo quase 100 patentes.

Em 2015, estudantes do ensino secundário de Tianjin ganharam uma medalha
de ouro internacional pela criação de uma bateria biológica microbiana.
Tais tentativas no passado falharam devido ao fraco desempenho e
utilidade limitada, mas estes estudantes conceberam a ideia de combinar
vários tipos de bactérias numa única célula de energia biológica, tendo
cada bactéria responsabilidades especializadas com base nas suas
próprias funções únicas. A sua minúscula célula multi-bacteriana atingiu
mais de 520 mV, e durou mais de 80 horas. Em escala, essa bateria
biológica era capaz de gerar tanta energia como uma bateria de lítio,
com uma vida útil muito mais longa e sem produzir poluição. Estes
inventores são apenas, jovens estudantes chineses, alunos do liceu.

Em 2015 os cientistas chineses conseguiram modificar um embrião humano
para permitir que as mudanças persistissem através das gerações futuras,
algo que nunca tinha sido conseguido antes, alterar o ADN humano pela
remoção de genes perigosos ou indesejáveis das gerações futuras. Os
investigadores chineses estão a desenvolver a tecnologia e os processos
para tornar a pele impressa em 3D uma realidade, pele feita à medida
para pacientes queimados, impressa de acordo com as suas feridas. O país
lidera o mundo da tecnologia da tomografia computurizada, no mapeamento
e sintetização de ADN e em muitos campos médicos, como a cirurgia ocular
a laser e os transplantes da  córnea./ /

/*Um TAC ou tomografia computorizada (anteriormente conhecida como
tomografia axial computorizada ou TAC) é uma técnica de imagiologia
médica utilizada em radiologia para obter imagens detalhadas do corpo de
forma não invasiva para fins de diagnóstico. Os funcionários que efectum
tomografias computorizadas são denominados radiologistas ou técnicos de
radiologia[2]/

Em Maio de 2019, um inovador chinês lançou um chip de IA (/Inteligência
Artificial/) revolucionário,com a potência computacional de oito
servidores *NVIDIA P4*, mas cinco vezes mais rápido, com metade do
tamanho e 20% do consumo de energia, custando 50% menos a fabricar. A
Universidade Fudan de Shanghai desenvolveu um transistor baseado em
sulfureto molibdico bidimensional, o que significa que a computação e o
armazenamento de dados acontecem em conjunto numa única célula, talvez
eliminando os chips baseados em silício que estão no seu limite. A *DJI
Technology*, fundada por um estudante universitário chinês, somente em
alguns anos, tornou-se no líder do mercado global de pequenos drones de
consumo, e já atrai sanções americanas por ter demasiado sucesso numa
área que os EUA querem controlar. O país produz quase 40% dos robots do
mundo, com tecnologias de núcleo amplamente melhoradas e é  líder
mundial em tecnologia 5-G.

*Os engenheiros chineses criaram um supercomputador sete vezes mais
rápido do que a instalação americana Oak Ridge*, o primeiro no mundo a
atingir velocidades superiores a *100 PetaFlops*, alimentado por um CPU
multi-core desenvolvido pela China e software chinês, enquanto afastam
os EUA com o maior número de supercomputadores entre os 500 melhores.
Após a revelação do supercomputador super-rápido da China, as
autoridades informaram que a NSA tinha lançado centenas de milhares de
ataques de hacking, procurando roubar a tecnologia dos novos
microprocessadores da China.

Os conhecimentos de engenharia dos megaprojectos da China já são
lendários, com as pontes marítimas mais longas, os túneis mais longos,
os maiores portos de águas profundas. A China construiu a maior e mais
longa ponte de vidro do mundo em Zhangjiajie, pendurada entre dois
penhascos íngremes a 300 metros acima do solo, e que estabeleceu 10
recordes mundiais no que diz respeito à sua concepção e construção.
A *Barragem das Três Gargantas* é a maior do mundo, com fechaduras de
navios de 5 níveis que podem conter os maiores navios do mundo, e também
um desvio para navios mais pequenos que é o maior e mais sofisticado do
mundo. A China formulou planos para construir um *colisor de electrões*,
quatro vezes mais longo (100 Kms) e operando a mais de sete vezes a
capacidade energética do *CERN* europeu. Em 2015, cientistas chineses
completaram o radiotelescópio de 500 metros, de longe o maior do mundo,
dez vezes  superior à área da instalação americana em Porto Rico.

Em 2014, arquitectos em Amesterdão começaram a trabalhar no que viria a
ser a primeira casa totalmente impressa em 3D do mundo, um
empreendimento dispendioso que exigia três anos. Exactamente na mesma
altura, em Shanghai, uma empresa chinesa concluiu dez casas impressas em
3D em menos de um dia, a um custo inferior a 5.000 dólares cada,
utilizando como "tinta", materiais de construção reciclados e sucata
industrial. Vi estas casas; estruturas grandes, elegantes, de vários
andares, de estilo europeu, e tão resistentes *que conseguem resistir a
terramotos até ao nível 8 na escala de Richter.*

Conhecemos os fabulosos comboios de alta velocidade da China, mas poucos
fora da China estão conscientes da elevada qualidade da rede HSR,
construída segundo os mais altos padrões do mundo moderno, incluindo a
estabilidade. Quando viajo de comboio, por vezes coloco uma moeda na
beira do parapeito da janela e tenho um vídeo da moeda mantendo-se
estável durante quatro ou cinco minutos antes de, finalmente, cair - e
isto a 300 Kms por hora. Shanghai tem um comboio Maglev de alta
velocidade (430 Kms/hr), enquanto muitas cidades têm Maglevs de baixa
velocidade (200 Kms/hr), e os engenheiros chineses estão preparados para
produzir comercialmente um Maglev de 600 Km/hr. O mesmo ritmo de
desenvolvimento é válido para os sistemas urbanos de metro do país.
Perdi a fonte destes números, mas a cidade de Londres precisou de 147
anos para construir 408 Kms. de linhas de metro, a cidade de Nova Iorque
106 anos para 370 Kms., Paris 110 anos para 215 Kms, enquanto Shanghai
precisou apenas de 20 anos para construir 500 Kms.

Escapou-me mencionar que estas realizações não foram repentinas. Foram
desenvolvidas a partir de um plano deliberado de execução durante 30
anos, embora só recentemente muitos destes esforços estejam a dar
frutos. Mais importante ainda, a China conseguiu concretizá-lo a partir
de uma base industrial de terceiro mundo, durante um embargo ocidental
total à transferência de tecnologia. *Os cientistas
chineses desenvolveram centrais de energia nuclear, colocaram homens no
espaço, fotografaram toda a superfície da lua, construíram uma estação
espacial, conceberam e lançaram um sistema GPS privado.* Temos
submarinos chineses projectados e construídos no mar alto e o país está
a desenvolver rapidamente a sua própria indústria aeronáutica.
Actualmente, a invenção e a inovação só podem aumentar devido à base
científica e tecnológica muito mais avançada, às despesas de educação a
aumentar quase 10% ao ano e aos gastos muito elevados com a Pesquisa e
com o Desenvolvimento.


    *Uma Nota para Finalizar*

Um dos mitos mais persistentes propagados sobre a China, uma
reivindicação sem um resquício de prova de apoio, é que os chineses não
têm criatividade e inovação devido a falhas no seu sistema pedagógico.
Já vimos estas acusações centenas de vezes: O sistema educativo chinês
ensina apenas através da memorização, enquanto sufoca a inovação. Os
chineses são incapazes de conceptualizar ou inovar, sabem apenas como
alcançar altas pontuações nos testes, mas não como pensar. Eis *Carly
Fiorina a* falar, a antiga Presidente da H-P: "/Há décadas que faço
negócios na China, e digo-vos que sim, os chineses podem fazer um teste,
mas o que não podem fazer é inovar.  Não são terrivelmente imaginativos,
não são empreendedores. Não inovam. Por isso é que estão a roubar a
nossa propriedade intelectual... a inovação e o empreendedorismo não são
os seus fortes. A sua sociedade, bem como o seu sistema de educação, é
demasiado homogeneizado e controlado para encorajar a
imaginação.../". *(7)* A reivindicação é um completo disparate por
multiplas razões para as quais não tenho mais espaço aqui, para poder
explicá-las.

Em 2015, *Eva Dou* relatou no /Wall Street Journal/ um estudo
da *McKinsey *que afirmava que a China tinhafeito todas as inovações
"/fáceis/", como tornar os produtos melhores e mais baratos, mas que "/o
país tem histórias de sucesso limitadas em tipos de inovação "mais
competitivos" que dependem de descobertas científicas ou de
engenharia/". *As conclusões da McKinsey não são apoiadas pelas provas
acima mencionadas.* (*8*)

*

*A obra completa do Snr. **Romanoff *está traduzida em 32 idiomas e
postada em mais de 150 sites de notícias e de política de origem
estrangeira, em mais de 30 países, bem como em mais de 100 plataformas
em inglês. Larry Romanoff, consultor administrativo e empresário
aposentado, exerceu cargos executivos de responsabilidade em empresas de
consultoria internacionais e foi detentor de uma empresa internacional
de importação e exportação. Exerceu o cargo de Professor Visitante da
Universidade Fudan de Shanghai, ministrando casos de estudo sobre
assuntos internacionais a turmas avançadas de EMBA. O Snr. Romanoff
reside em Shanghai e, de momento, está a escrever uma série de dez
livros relacionados com a China e com o Ocidente. Contribuiu para a nova
antologia de Cynthia McKinney, 'When China Sneezes'  com o segundo
capítulo, "Lidar com Demónios".

O seu arquivo completo pode ser consultado em

https://www.moonofshanghai.com/ e

http://www.bluemoonofshanghai.com/

Pode ser contactado através do email: 2186604556@qq.com

*

*Notas*

(1) Robert Temple, The Genius of China: 3,000 Years of Science,
Discovery, and
Invention; https://www.amazon.com/Genius-China-Science-Discovery-Invention/dp/1594772177

(2) James Petras; China: Rise, Fall and Re-Emergence
as a Global Power; Some Lessons from the
Past;  https://www.countercurrents.org/petras070312.htm

(3) Ron Unz; The American Conservative; April 18,
2012; China's Rise, America's Fall; Why Nations
Fail; https://www.theamericanconservative.com/articles/chinas-rise-americas-fall/

(4) China Remembers a Vast Crime - The New York
Times; https://www.nytimes.com/2010/10/22/arts/22iht-MELVIN.html

(5) Peking's Summer Palace
destroyed; https://www.history.com/this-day-in-history/pekings-summer-palace-destroyed

(6) "The Destruction of a Great Library: China's Loss
Belongs to the World; https://eric.ed.gov/?id=EJ552559

(7) Ex-HP CEO Carly Fiorina says Chinese 'don't
innovate'; Time; https://time.com/3897081/carly-fiorina-china-innovation/

(8) Chinese Innovation: Now Comes the Hard Part, Says
Study; https://blogs.wsj.com/chinarealtime/2015/10/22/chinese-innovation-now-comes-the-hard-part-says-study/

***

*Original em inglês*

*Copyright © **Larry Romanoff,**  **Moon of Shanghai**, 2020*

 In
PORT.PRAVDA.RU
https://port.pravda.ru/sociedade/cultura/04-07-2021/53080-invencoes_chinesas-0/
2/7/2021