sábado, 30 de janeiro de 2021

De Olga Benário e Lula, a maldição que acompanha os que tergiversam

 
 
 
Por
Luis Nassif

In
Jornal GGN
https://jornalggn.com.br/noticia/de-olga-benario-e-lula-a-maldicao-que-acompanha-os-que-tergiversam-por-luis-nassif/
29/1/2021


A divulgação, pela revista Veja, de parte da peça de defesa de Lula, nos
primeiros levantamentos nos arquivos da Vazajato, já basta para implodir
definitivamente não a operação em si, suficientemente desmoralizada, mas
o próprio sistema penal brasileiro.

Segundo a peça, foram analisados apenas 10% do material recebido –
liberado por autorização expressa do Ministro Ricardo Lewandowski, do
Supremo Tribunal Federal. Pela página exposta, houve uma busca pelo nome
de Lula. Ou seja, o material corresponde a 10% dos trechos identificados
com o nome de Lula. Obviamente, no conjunto da obra haverá muito mais a
ser revelado.

O  trecho mais revelador é o diálogo de 23 de fevereiro de 2016, no qual
o procurador Deltan Dallagnol combina com Sérgio Moro como montaria uma
das denúncias contra Lula. É uma das peças mais vergonhosas do sistema
criminal brasileiro – apesar de amplamente intuída pelos críticos da
Lava Jato.

Na conversa, Dallagnol mostra sua receita de criminalização de Lula.

 1. No mensalão havia o sistema de cooptação dos partidos aliados,
    manejados por José Dirceu. Como o sistema continuou após a saída de
    Dirceu, só poderia estar sendo comandado por Lula.
 2. Conta a Moro o trabalho que estavam fazendo com Pedro Corrêa “que
    dirá que Lula sabia da arrecadação via PRC (Paulo Roberto da Costa)”.
 3. Definida a lógica da acusação, diz que vai procurar antecedentes
    para justificar os benefícios – que iam de palestras contratadas à
    mera colocação de uma antena de celular pela Oi, perto do sítio
    frequentado por Lula.

Foi uma das manobras mais primárias e recorrentes da Lava Jato. E, por
primária, desmoralizante para o sistema de justiça. Levantavam as
palestras de Lula – que foi um dos palestrantes mais requisitados depois
que deixou o governo -, ou uma antena de celular instalada pela
operadora, ou uma reforma no sítio a ser frequentado por Lula.
Identificavam entre os contratantes alguma empresa envolvida com a Lava
Jato. Em seguida, pressionavam o executivo preso para que dissesse que a
palestra ou a doação foi contrapartida ao contrato recebido. Era o que
bastava. Nenhuma prova, nenhum documento, apenas a prova testemunhal, a
prostituta de todas as provas.

Pouco importava se até a Globonews, da arquiinimiga Globo, contratou
palestras de Lula, comprovando a demanda que recebia como palestrante.

Que juiz e procuradores provincianos tenham recorrido a essas manobras
processuais não surpreende. O desmoralizante foi o endosso recebido de
desembargadores do TRF-4, de ministros do Superior Tribunal de Justiça e
dos ministros Luiz Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, do Supremo
Tribunal Federal.

Entrarão para a história assim como o presidente da Corte Suprema dos
Estados Unidos do Brasil, Ministro Edmundo Lins e o relator Bento de
Farias, que, nos anos 30, autorizaram a entrega de Olga Benário aos
nazistas.

A história costuma ser implacável com esses personagens, mais até do que
com os assumidamente vilões.

Terá a condená-los, inicialmente, o calvário de Lula, jogada em uma
cela, sendo impedido de velar o irmão morto, perdendo a esposa –
assassinada pelas sucessivas humilhações impostas pela Lava Jato – tudo
isso depois de ter se tornado uma das referências da paz mundial, no
nível de um Mandela, de um Ghandi, e de ter ajudado a civilizar as
disputas políticas no Brasil. Serão debitados na conta dos Minstros a
invasão do quarto do casal Lula-Letícia, os colchões revirados, o
notepad do neto carregado por policiais truculentos, a exposição
impiedosa à máquina de moer reputações da mídia. Esqueçam Sérgio Moro,
um juiz da província. Ele já era sobejamente conhecido por Barroso e
Fachin, pelo amplo histórico de abusos processuais pré-Lava Jato. Ainda
assim, endossaram todos seus abusos mesmo tendo conhecimento amplo do
seu passado de juiz da Vara Especial da Justiça Federal de Curitiba.

Não apenas isso. No futuro haverá um balanço da destruição do país,
visando submetê-lo à financeirização mais deletéria, concentradora de
renda, destruidora de direitos sociais básicos, destruidora de empregos
e empresas, em parceria com um genocida que ainda será julgado e preso
em um tribunal internacional. Já começa uma avaliação mundial sobre os
desatinos da financeirização selvagem. Em algum ponto do futuro, a
opinião pública será lembrada dos Ministros que, do alto de seus cargos,
endossaram a selvageria, estimularam os linchamentos, permitiram a
destruição de empresas e de instituições sabendo que a Lava Jato não
passava de uma grande encenação destinada a escancarar o país para os
negócios da privatização.

Ainda em vida sentirão a vergonha nos filhos e netos, se é que incutiram
nos descendentes um mínimo de valores e de pudor cívico. Entenderão,
posto que filhos e netos de pais intelectualmente preparados que, em
algum momento da vida, abraçaram valores e respeito pelos direitos, que
os elogios virão da parte mais superficial e interesseira da opinião
pública, da parte menos republicana do Judiciário. E saberão avaliar o
mal que seus parentes fizeram ao país.

Se não entenderem, é porque jamais terão a dimensão que se espera dos
grandes homens.

In
Jornal GGN
https://jornalggn.com.br/noticia/de-olga-benario-e-lula-a-maldicao-que-acompanha-os-que-tergiversam-por-luis-nassif/
29/1/2021

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