sábado, 1 de fevereiro de 2025

Em vez de escravista, imigrante europeu era capitalista

 
 

por Tomás Togni Tarquíni


O chamado embranquecimento foi uma política dos escravistas de matiz
lusitano, mas nunca foi a razão da vinda dos imigrantes europeus

*Imigrante europeu não era escravista*

*Por Tomás Togni Tarquíni *

Esse pequeno texto contesta correntes histográficas que colocam a
escravidão como o elemento definitivo que marca nossa sociedade hoje.
Essa opressão escravista é considerada por muitos como uma
característica própria a branquitude, como se todos brancos fossem
formados na cultura escravocrata.

O período escravista tem sua importância na formação antropológica do
Brasil, mas eu creio que foi superado há mais de um século pela cultura
capitalista – cultura essa induzida pela imigração europeia pós
abolição, imigrante que não era escravista.

O contingente de cinco milhões de europeus que entrou no Brasil após a
abolição da escravidão não chegou impregnado de valores culturais
escravocratas, nem tampouco os assimilou, ou os apropriou, ou fez coro
com os valores da oligarquia escravista brasileira de matiz lusitana.

Mesmo sendo camponeses em sua maioria, esse contingente de europeus,
antropologicamente, deixaram uma sociedade fundada numa cultura
capitalista que estava presente na Europa desde os séculos XV até o XX.
Eles conheciam o capitalismo de sua época.

Assim, esse discurso que pretende reinterpretar a história da escravidão
no Brasil como elemento central definitivo coloca no mesmo plano a
oligarquia rural escravocrata lusitana (porém, mestiça envergonhada e
muito pequena em número), com os cinco milhões de europeus que aqui
chegaram a partir do último decênio do século XIX já com uma cultura
capitalista.

Até então, o Brasil era um país majoritariamente composto de mestiços.
Somente após essa vaga de europeus que a população branca passou a ter
predominância no Brasil. O chamado embranquecimento foi uma política dos
escravistas de matiz lusitano, mas nunca foi a razão da vinda dos
imigrantes europeus. Razões essas que não vem ao caso agora.

Essa branquitude pós abolição da escravidão não tinha cultura
escravista. Ao contrário, essa branquitude desenvolveu, induziu,
estimulou o capitalismo no Brasil, tal como ele existe hoje.

O Brasil se transforma radicalmente em três décadas após a Abolição. Uma
análise do Censo de 1872 mostra essa transformação capitalista radical
que o Brasil conheceu.

No censo de 1872, a importância da cidade de São Paulo é insignificante.
A capital paulista era menor do que Ponte Nova (MG), Santa Bárbara (MG),
Campos dos Goitacazes (RJ), Santo Amaro (BA), Ouro Preto (MG), Feira de
Santana (BA); Queluz, hoje Conselheiro Lafaiete (MG), Niterói (RJ), Grão
Mogol (MG), Caruaru (PE), entre outras.

Em pouquíssimo tempo, São Paulo se transforma no centro do capitalismo
brasileiro. Mas, não somente do capitalismo. Também das ideias sociais.
Em 1917, os carcamanos fizeram as primeiras greves operárias em São
Paulo. Já organizavam sindicatos e editavam jornais anarquistas em
italiano. Essa população de emigrantes pós abolição não chegou aqui para
fortalecer a cultura escravista. Ela contribuiu para eliminá-la. O que
marca o Brasil de hoje é o capitalismo instigado pela vaga de imigrantes
pós abolição.

Parte significativa dos 217 milhões de brasileiros atuais, descendentes
dessa vaga migratória notadamente da primeira metade do século XX, não
teve a menor relação, nem de perto nem de longe com a escravidão. É
necessário fazer essa distinção.

*Tomás Togni Tarquínio – Formado em Antropologia e Prospectiva Ambiental
na França. Desde 1977, trabalhou em diversas instituições francesas e
europeias pioneiras sobre: energia, ecologia política, meio ambiente,
decrescimento e colapso da sociedade termo-industrial. Foi Secretário do
Governo do Amapá, por ocasião da execução do pioneiro Projeto de
Desenvolvimento Sustentável do Amapá (PDSA); trabalhou no MMA e Senado.
Trabalhou em alguns países da América Latina e Europa.*

Em
JORNAL GGN
https://jornalggn.com.br/opiniao/imigrante-europeu-nao-era-escravista-tomas-togni-tarquini/
1/2/2025

Nenhum comentário:

Postar um comentário