segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Anatomia de uma derrota

 

magem: Foto de Ricardo Nunes (MDB Nacional/WikimediaCommons); Foto de Boulos (Bruno Spada/Câmara dos Deputados/WikimediaCommons).

Anatomia de uma derrota

por Luis Felipe Miguel*, no Blog da Boitempo

Não é possível pintar com meias tintas o fracasso da esquerda no primeiro turno das eleições municipais. Com menos votos do que há quatro anos, conquistando poucos mandatos, minguando nos grandes centros, PT e PSOL foram grandes derrotados. Para quem quiser uma análise detalhada dos números, recomendo o excelente artigo de Mauro Lopes.

Enquanto isso, a extrema direita obteve vitórias importantes nas cidades grandes e os partidos da direita oportunista tradicional, conhecidos como “Centrão”, avançaram pelo país afora – impulsionados também pelo sequestro do orçamento público, na forma das emendas parlamentares. Mas o discurso de seus candidatos, convém lembrar, muitas vezes está alinhado a temas e abordagens similares aos do bolsonarismo.

Em São Paulo, Guilherme Boulos começou a campanha como favorito, mas foi emparedado pelo uso da máquina municipal e estadual em favor de Ricardo Nunes e depois sofreu com a campanha de agressões, mentiras e difamações colocada em marcha por Pablo Marçal.

No meio deste processo, o candidato se mostrou incapaz de fugir do enquadramento definido para ele por seus marqueteiros. O Boulos “paz e amor”, que fazia coraçãozinho ao lado da golpista redimida Marta Suplicy, parecia destemperado ao reagir aos golpes de Marçal. Com isso, permitiu o crescimento de Tabata Amaral, que sem ter sido jamais filiada ao falecido PSDB, é o último broto do tucanato, encarnando com perfeição o velho discurso gerencial e o “equilíbrio” desapaixonado. Essa incapacidade de reagir ao coach e simultaneamente desinflar a candidatura da deputada da Fundação Lemann quase custou a Boulos a chegada ao segundo turno.

Nem Marta, que mantém prestígio nas periferias paulistanas, nem o presidente Lula se mostraram capazes da transferência de votos que Boulos esperava. A “suavização” da imagem e a “moderação” do discurso, o receituário padrão aplicado para nomes da esquerda, apenas apagaram a personalidade do candidato, sem render votos. Foi uma campanha muito mais cara, mas com resultado inferior à do próprio Boulos em 2020, sem falar de Lula e Haddad em 2022.

Diante deste quadro, o que fazer? Não falta quem diga que a esquerda precisa se conectar com o “espírito dos tempos” para assim, pretensamente, voltar a conquistar as massas: empreendedorismo na veia, Jesus no coração, meritocracia na cabeça, punitivismo no fígado. Em suma, capitular ao enquadramento neoliberal e neoconservador que se tornou dominante.

Não creio que isso dê resultado – aliás, tem sido tentado, talvez não da maneira radical que alguns querem, mas ainda assim de forma consistente, com resultados pífios. Para provar, está aí Maria do Rosário, de Porto Alegre, que se esforçou para se reconstruir com um discurso conservador e se tornou outra “favorita” que por um triz não chegou no segundo turno.

De fato, se é para votar num discurso de direita, melhor escolher logo um candidato de direita, que o encarna com muito mais credibilidade.

Mas, como escreveu certa vez Gramsci: “A história ensina, mas não tem alunos”. Parece que estamos fadados a repetir, a cada vez, os mesmos erros.

A resposta oposta é que é necessário um discurso mais à esquerda, capaz de reativar os valores que definem nosso horizonte – igualdade, solidariedade, emancipação – e que seriam capazes de acordar uma base social latente.

Simpatizo mais com esta percepção, mas julgo que ainda é insuficiente.

A crise do discurso eleitoral da esquerda é só um sintoma. A raiz do problema está na própria centralidade absoluta conferida ao embate eleitoral, como se nós acreditássemos de fato no discurso que a democracia eleitoral apresenta sobre si mesma – de que o voto popular decide o exercício do poder e as “regras do jogo” imperam igualmente para todos.

A burguesia não acredita nisso, nem as igrejas, nem os meios de comunicação ou as big techs, nem os militares…

A grande armadilha da democracia eleitoral, aquilo que a transforma num instrumento muito mais de manutenção da ordem do que transformação radical da sociedade, é a redução do horizonte da política à conquista de votos. O eleitoralismo faz com que a única coisa que importe seja obter o melhor resultado na eleição que está chegando. Com isso, não existe possibilidade de acúmulo, não existe estímulo para a desconstrução das representações hegemônicas do mundo social. Sempre é mais proveitoso remar a favor da correnteza, mesmo que essa correnteza seja conservadora, individualista, contrária aos interesses dos trabalhadores e dos grupos dominados em geral.

No Brasil, isto é acentuado pela urgência – real – de combater o bolsonarismo. Em nome desse combate, o discurso político da esquerda é sempre rebaixado. Temos que chegar no eleitor de “centro”, temos que cuidar para não assustar o evangélico conservador ou aquele que é vítima do discurso do empreendedorismo ou aquele que foi doutrinado nos valores da família tradicional e assim por diante.

O enfrentamento é sempre adiado para um próximo momento, mas esse momento obviamente nunca vem, porque temos uma eleição após a outra.

Não há nunca um momento para educação política, para a disputa, para a elevação da consciência. É só adaptação, acomodação, capitulação. E daí na eleição seguinte vamos ter que recuar ainda mais, até porque, se tem uma coisa que a direita está fazendo hoje, é a desconstrução de todos os valores ético-políticos que um dia a gente achou que tinha conseguido firmar minimamente.

O objetivo da esquerda não é ganhar eleições. É mudar o mundo. Ganhar eleição pode ser um instrumento, nunca uma finalidade.

Enquanto o momento eleitoral não for enquadrado como parte de uma estratégia política mais ampla, isto é, entendido como parte de uma luta que não se reduz à manutenção ou obtenção de mandatos, a esquerda não será capaz de obter qualquer vitória sólida.

*Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da UnB. Autor, entre outros livros, de O colapso da democracia no Brasil (Expressão Popular).

Em

Jornal GGN

https://jornalggn.com.br/opiniao/anatomia-de-uma-derrota-por-luis-felipe-miguel/

13/10/2024

 

domingo, 13 de outubro de 2024

Jessé Souza critica estratégia identitária da esquerda e vê avanço da direita nas periferias




    Sociólogo critica abandono das periferias pela esquerda e alerta
    para a influência das igrejas evangélicas no avanço da direita


*247 - *O sociólogo Jessé Souza, autor de “O pobre de direita — a
vingança dos bastardos”, concedeu entrevista ao jornal O Globo na qual
analisa o fenômeno do apoio de camadas populares ao bolsonarismo e
critica a postura dos partidos de esquerda nas últimas eleições. Souza,
que já presidiu o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no
governo Dilma Rousseff, destaca a combinação entre racismo regional e a
inação da esquerda como fatores centrais para entender o apelo do ex-
presidente Jair Bolsonaro e de figuras como Pablo Marçal, especialmente
nas periferias de São Paulo.

Segundo o sociólogo, a adesão de muitos eleitores pobres à direita é
marcada pela influência das igrejas evangélicas e pela disseminação de
valores neoliberais e reacionários, muitas vezes promovidos pela
Teologia da Prosperidade. Ele explica que, ao não disputar narrativas e
deixar de lado o trabalho de base nas periferias, a esquerda abriu
espaço para que esse discurso ganhasse força. “Passamos por um processo
de idiotização das pessoas e de inação dos que deveriam fazer um
trabalho de base de qualidade”, lamenta Souza.

Os números mostram que a falta de engajamento da esquerda em dialogar
com as comunidades periféricas tem um custo eleitoral. Souza menciona a
dificuldade de candidatos como Guilherme Boulos (PSOL) em conquistar
votos nas franjas da cidade de São Paulo, onde predominam eleitores que
se identificam mais com o discurso de candidatos de direita.

Além disso, Jessé Souza destaca que o bolsonarismo encontra terreno
fértil nas regiões sulistas e paulistas, onde há uma maior identificação
racial com Bolsonaro. “O pobre de direita de São Paulo ao Rio Grande do
Sul vê no ex-presidente Jair Bolsonaro um semelhante”, explica. Ele
também aponta que o ressentimento e a frustração econômica levam esses
eleitores a adotar uma postura moralista e a culpar outros grupos
sociais, como nordestinos e beneficiários do Bolsa Família.

Na entrevista, Souza também critica a abordagem identitária adotada pela
esquerda, considerando-a um “erro completo”. Ele defende que a esquerda
precisa, além de pautas de gênero e raça, retomar um diálogo que
explique as desigualdades econômicas e as limitações estruturais
enfrentadas pela maioria pobre. Para ele, isso inclui entender que o
mérito individual, promovido pelo discurso neoliberal, não pode ser a
única resposta à questão social.

O sociólogo alerta ainda para a crescente influência de líderes
religiosos como Pablo Marçal, que souberam capturar o imaginário
popular. Marçal é descrito como um “político Bets”, capaz de traduzir os
anseios d

Em
BRASIL 247
https://www.brasil247.com/brasil/jesse-souza-critica-estrategia-identitaria-da-esquerda-e-ve-avanco-da-direita-nas-periferias
13/10/2024

sábado, 12 de outubro de 2024

Elecciones estadounidenses, un conflicto entre facciones del capitalismo

 


ALESSANDRO VOLPI, ECONOMISTA ITALIANO *

Las elecciones presidenciales estadounidenses deberían definirse como un choque entre el capitalismo financiero de los «Tres Grandes» y un sector que quiere debilitar su monopolio.

Tras el anuncio de la retirada de Biden de la carrera presidencial, ha surgido con cada vez mayor claridad un conflicto en curso dentro del capitalismo financiero estadounidense. Intentaré resumirlo y tal vez incluso simplificarlo. 

Después de la elección de Vance como vicepresidente y de la postura de Musk, las filas de los partidarios (y financieros) de Trump están creciendo. Se trata de temas atribuibles a un capitalismo que intenta frenar el poder excesivo de los Tres Grandes, es decir, los superfondos Vanguard, Black Rock y State Street, ahora decididamente vinculados a los demócratas. 

Tanto Biden como Kamala Harris han tenido y tienen figuras clave en su personal que provienen de Black Rock. Un personaje como Jamie Dimon, el director ejecutivo de JP. Morgan, el banco superfondo, lleva mucho tiempo a punto de ser nominado por los demócratas. El presidente de la Fed, con el apoyo de Yellen, acompañó las estrategias de los superfondos, comprando sus ETF [Exchange Traded Funds, fondos de inversión cotizados en bolsa que siguen la evolución de un índice: ed.].

El consorcio de los trumpianos contra los oligopolios financieros, tildados de «demócratas»

Contra esta simbiosis se ha configurado un grupo de figuras que quieren utilizar el poder político de la presidencia de Trump para luchar o limitar el poder excesivo de los Tres Grandes. En esta secuencia aparecen algunos grandes fondos de alto riesgo, como el de John Paulson, preocupados por la progresiva marginación de un «mercado» normalizado por los superfondos, algunas compañías petroleras no directamente vinculadas a los gigantes energéticos en manos de los Tres Grandes, como Timothy Dunn y Harold Hamm, de Continental Resources, pero también hay multimillonarios de larga data como los Mellon, molestos por el poder excesivo de Fink, y personajes como Bernie Marcus, el fundador de Home Depot, un gigante con 500.000 empleados, hostil a la Modelo sin fábrica de gran tecnología. 

Entre los capitalistas de Trump también hay propietarios de casinos, como Steve Wynn y Phil Ruffin, asustados por el avance de grandes fondos incluso en sus sectores, y personajes típicos del mundo trumpiano como Linda McMahon, fundadora junto a su marido de Wold Wrestling Entertainment. En pocas palabras, la posibilidad de éxito de Trump ha desatado un duro choque dentro del capitalismo estadounidense destinado a provocar un cambio en su equilibrio interno y debilitarlo.

Sin embargo, si se recorre la lista de financistas de Kamala Harris, se encontrarán numerosos exponentes de las finanzas vinculados, a los grandes fondos. 

De hecho, destacan los nombres de Reid Hoffman, creador de LinkedIn, vendido en 2016 a Microsoft por 26 mil millones de dólares y, desde entonces, miembro del consejo de administración de la propia Microsoft, de la que, como se sabe, Vanguard, Black Rock. y State Street tienen más del 20%. El propio Hoffman tiene hoy una participación significativa en Airbnb, donde los Tres Grandes son accionistas clave. 

Junto a Hoffman está Roger Altman, financiero demócrata desde hace mucho tiempo, colaborador de Carter y Clinton con papeles muy delicados, que pasó de Lehman y Blackstone, y ahora es director del banco Evercore, del que Vanguard posee el 9,46%, Black Rock. en 8.6 y State Street en 2.6. 

Además están Reed Hastings, presidente de Netflix, donde Vanguard tiene 8,5, Black Rock 5,7 y State Street 3,8%, Brad Karp, abogado de confianza de JP Morgan desde hace mucho tiempo, Ray McGuire, presidente de Lazard Inc, en la que Vanguard es la mayor accionista con un 9,5%, seguido de Black Rock con un 8,5%, Marc Lasry, director general de Avenue Capital Group, el fondo de cobertura cercano a los Tres Grandes, y Frank Baker, propietario de capital privado. 

Un lugar destacado entre los donantes de Kamala Harris lo ocupan también miembros de la familia Soros y los protagonistas de las principales consultoras estadounidenses como Jon Henes y Ellen Goldsmith-Vein. En resumen, el nuevo candidato potencial ha reunido un vasto consorcio de donantes que ven las finanzas trumpianas como un peligro para el monopolio «tranquilizador» cuidadosamente cultivado por los superfondos, accionistas centrales de las principales empresas del índice S&P 500: se podría imaginar.

Se trata de un grupo que pretende defender a los principales actores del “ahorro gestionado global” y de la propiedad accionaria de los gigantes en nombre de proteger a los ahorradores de los shocks generados por una victoria republicana. Aunque con signos de condicionamiento «cruzado».

La «cuerda corta» de Kamala

Kamala Harris se presentó en Carolina del Norte para presentar su programa destinado a defender la clase media, identificada también como aquella con ingresos de hasta 400 mil dólares anuales, comprometida en una acción de apoyo a la vivienda pública privada y con la indicación de una estrategia para contener la especulación de precios. 

En definitiva, un programa muy genérico, que el candidato demócrata definió como economía de oportunidades. Sin embargo, la referencia al deseo de obstaculizar la especulación de precios asustó a los Tres Grandes, que, como se ha dicho, invirtieron en los demócratas para evitar el «otro capitalismo» domiciliado en el clan Trump. Así, el «New York Post» salió poco después del 15 de agosto con un titular muy sonoro en el que se definía a Harris como comunista precisamente por querer controlar los precios y aumentar el gasto federal. 

A este respecto vale la pena subrayar que el «Post» es propiedad de News Corp., entre cuyas acciones figuran Rupert Murdoch y los tres grandes, estos últimos con más del 20 por ciento. Parece claro que los superfondos se han apresurado a utilizar un vehículo trumpiano para hacerle entender a Harris lo que no puede hacer. En la práctica no puede hacer política contra el monopolio de la especulación. De hecho, hay quienes entre ellos parecen pensar que Harris es un poco comunista.

Malentendidos interesados

En  el diario“República ” del 21 de agosto de 2024, un satisfecho Paolo Mastrolilli entrevistó a Bernie Sanders, “el único senador socialista” de Estados Unidos. La satisfacción de Mastrolilli surgió de la declaración de Sanders de apoyo convencido, casi adorador, a Kamala Harris. 

Partiendo del supuesto que Trump es un fascista peligroso, Sanders elogió a Biden, el presidente como “el más progresista» de la historia moderna de Estados Unidos, e instó a la gente a votar por Harris para continuar su trabajo. 

Por supuesto, añadió Bernie, tendremos que superar la resistencia del 1 por ciento de la población compuesto por los superricos que, argumentó con franqueza, «nunca han estado tan bien». ¿Quizás porque los presidentes recientes han hecho todo lo posible para facilitarlos? Sanders había escrito un libro sobre el sistema económico estadounidense, atacando a los grandes fondos; un libro que debe haberlo olvidado durante alguna mudanza.

Nos encontramos, pues, realmente ante el conflicto interno de un capitalismo que, por un lado, construye su fortuna gracias al monopolio financiero entendido como herramienta para reducir el riesgo de los ciudadanos, que ahora se han convertido en sujetos financieros a través de sus políticas, y, por otro, la formación de un bloque destinado a debilitar este monopolio con la esperanza de no quedar excluido de la burbuja en curso y que necesita política, empezando por la política monetaria, con tipos decididamente más favorables, para poder contar. 

Más allá de las narrativas mediáticas, estas elecciones contienen una dura guerra entre grupos financieros.

El esquema político-económico de los demócratas ha sido, hasta ahora, muy comprensible. Jerome Powell, presidente de la Reserva Federal, anunció varias veces que las tasas de interés estadounidenses seguirían altas. 

La historia de Powell, en este sentido, es muy interesante. Colaborador de Nicholas Brady, subsecretario del Tesoro durante la presidencia de Bush, se vinculó al grupo Carlyle y creó su propio banco de inversión privado, antes de incorporarse a la junta directiva de la Reserva Federal, junto con Jeremy Stein, por nombramiento del presidente Obama. 

Nombrado por Trump en febrero de 2018 para dirigir la Reserva Federal, en sustitución de Janet Yellen, considerada demasiado cercana a los demócratas, fue confirmado por Biden, durante cuya presidencia abrazó la línea de luchar contra la inflación con una política monetaria restrictiva que sin duda ha favorecido la grandes poseedores de ahorros administrados (los Tres Grandes, de hecho) eliminando liquidez de los mercados y, al mismo tiempo, ayudando a respaldar la dolarizacion impulsada por Biden para financiar su enorme gasto federal, basado en la deuda.

Tasas altas y geopolítica

De hecho, está claro que Estados Unidos quiere seguir drenando ahorros de todo el mundo para financiar su economía, pero para pagar tasas tan altas y atraer a ahorradores globales necesitan que el dólar sea la única moneda mundial aceptado tanto en términos financieros como geopolíticos. 

Desde esta perspectiva, Biden prefirió la vía del aumento del gasto federal para financiar la recuperación de una economía productiva en Estados Unidos, posible gracias al dólar fuerte, en lugar de una dinámica competitiva facilitada por tipos de interés más bajos. También por este motivo, en la cumbre de la OTAN de junio de 2024, se proclamó la entrada de la guerra en Ucrania, con el apoyo inmediato de una Europa contenta de su atlantismo que le impone el dólar con el que Estados Unidos financia su economía precisamente en detrimento de el europeo. 

Si Estados Unidos muestra sus músculos y los «aliados» europeos se alinean, el dólar seguirá siendo la única moneda de Occidente y la economía americana podrá volver a producir y no sólo a estar hecha de papel. 

Mientras tanto, las agencias de calificación, propiedad de grandes fondos, han rebajado la deuda de la Francia «socialista» porque más vale prevenir que curar. La OTAN, las calificaciones de las agencias de calificación y una política exterior agresiva son tres elementos clave del «modelo» demócrata que no admite ninguna forma de aislacionismo y persigue la primacía militar mundial, según declaraciones de la propia Harris.

La hostilidad de Trump hacia la OTAN es más bien el signo de una oposición política tangible al proyecto demócrata y expresa la idea que la alianza militar no puede utilizarse con fines económicos y monetarios, para lo cual se necesitan otras estrategias. 

El candidato republicano en la conferencia de los «mineros de las cripto» de Nashville se pronunció a favor del bitcoin y de las criptomonedas, anunciando la creación de una reserva estratégica ad hoc y de un consejo presidencial sobre el tema. Sostuvo, modificando sus antiguas posiciones, que las criptomonedas pueden representar un recurso para la economía estadounidense, capaz de proteger al propio dólar de los riesgos de un progresivo abandono internacional. 

A Trump no le gusta la política de tipos elevados de la Reserva Federal que genera un dólar demasiado fuerte para las exportaciones de las empresas de la la bandera de las “Barras y las Estrellas”, agobiadas por el coste del crédito, y que corre el riesgo de limitar el diferencial del dólar, porque es excesivamente oneroso para sus usuarios, especialmente en los países emergentes.

Trump, las criptomonedas y el proyecto de una nueva centralidad monetaria estadounidense

Desde esta perspectiva, el bitcoin y las criptomonedas se convierten no sólo en un objeto sobre el cual construir operaciones especulativas, quizás lideradas por fondos de cobertura cercanos al propio Trump, sino en el medio para definir un nuevo instrumento monetario «ideológicamente» más popular y anti-estatal que pueda mantener centralidad monetaria estadounidense, trasladándola al nivel digital. 

En este sentido, Trump quiere «americanizar» las criptomonedas y, en línea con una actitud similar, ha hecho saber que no volverá a poner en circulación las criptomonedas incautadas por las autoridades federales, por casi 9 mil millones de dólares, para constituir el mencionada reserva estratégica y para evitar sobresaltos a los aproximadamente 50 millones de estadounidenses en posesión de criptomonedas. 

Sobre todo, declaró que sustituirá a los líderes de la SEC, la autoridad supervisora de las bolsas de valores, empezando por Gary Genser, que siempre se han mostrado hostiles hacia ese tipo de instrumentos de pago. 

El propio Trump también mencionó la posibilidad de unir logísticamente sistemas de IA que consumen mucha energía con la “minería”, para optimizar la explotación de picos de energía que de otro modo estarían dispersos, con el fin de luchar por el liderazgo mundial en inteligencia artificial y minería. En la misma línea, mencionó que las compras gubernamentales de Bitcoin deberían alcanzar el 4 o 5 por ciento del volumen total disponible. 

La estrategia de las stablecoins también se sitúa en una perspectiva similar. Ahora, las empresas que emiten stablecoins vinculadas al dólar deben comprar el equivalente en bonos del gobierno estadounidense, por lo que, al sustituir el circuito del eurodólar por el de las stablecoins. 

De esta manera EEUU recuperaría de hecho el control de ese monstruosa masa monetaria en dólares extendida por todo el mundo, que ahora está predominantemente controlada por la City.

Una postura tan clara puede leerse como otra controversia más del capitalismo desenfrenado contra los Tres Grandes, que utilizan bitcoin para crear ETF pero siempre han mostrado una gran desconfianza hacia el panorama criptográfico general porque el bitcoin y las criptomonedas reducirían el monopolio de liquidez que ostentan los propios Tres Grandes. 

Multiplicar los instrumentos de pago favorece a quienes están fuera del monopolio de la liquidez y abre espacios libres, incluso en términos especulativos, fuera de las opciones de Vanguard, Black Rock, State Street y su brazo armado JP Morgan. La posición adoptada en Nashville tenía como objetivo, construir un consenso favorable al candidato republicano por parte de esa gran parte de los estadounidenses que no se reconocían en el modelo «democrático» de los grandes fondos, capaces de reducir los riesgos debidos a su estatus de monopolio y, por tanto, capaz de garantizar políticas sanitarias y de seguridad social no apoyadas por el Estado a millones de estadounidenses. 

Las criptomonedas son una parte del paradigma libertario y del espíritu «competitivo» del capitalismo que Trump quiere limitar de forma “patriótica” frente al Wall Street de la élite, como apoya el candidato Vance. 

Es probable, ante esto, que además de Gary Genser, si Trump ganara, también eliminara a Jerome Powell precisamente por su política de tipos elevados, actualmente alimentada por una enorme cantidad de emisiones a corto plazo, para mantener altas las tasas a largo plazo sin depreciar los valores. 

La victoria de Trump sería un verdadero terremoto financiero en el lado institucional que obligaría a «los amos del mundo» a ocuparse de la política, tal vez modificando la estructura superior del capital financiero; una ‘reorganización’ necesaria para definir las tensiones con la economía china, en este momento completamente irreconciliable con la estructura de los Tres Grandes.

Progresismo no es sinónimo de «izquierda»

Casi toda la prensa italiana, incluido Manifesto, celebró la candidatura de Tim Walz a la vicepresidencia en términos de una elección «de izquierda». Se trata de una definición decididamente arriesgada para un personaje que coincide sustancialmente con Harris en cuestiones de política económica y financiera. No es casualidad que para corroborar esta definición los medios locales citaran las declaraciones de Trump y el apoyo de un Sanders cada vez más confundido. 

El verdadero problema es que para la prensa italiana de “izquierda” este término representa un sinónimo estricto de “progresismo”; una categoría que combina aperturas en materia de derechos y libertades con una profunda fe capitalista. Por tanto, Harris-Walz vs Trump-Vance debería definirse en términos del choque entre capitalismos, sin introducir el término izquierda, definición que elude mencionar el apoyo del ultraderechista Dick Cheney a Kamala Harris, que incluso se declaró a favor del fracking.

*Fuente: Fuori Collana

Em

Observatorio de la Crisis

https://observatoriocrisis.com/2024/10/12/elecciones-estadounidenses-un-conflicto-entre-facciones-del-capitalismo/

12/10/2024

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

É por isso que a classe trabalhadora já não confia nesta “esquerda” ocidental

 


 Graham Hryce     11.Oct.24     Outros autores


O autor deste texto não será provavelmente um homem de esquerda, e pode discordar-se de algumas coisas que escreve. Mas esse é um dos interesses da sua publicação: o de mostrar (não se trata de um caso isolado) a existência de muita opinião séria que, não sendo de esquerda, critica com justeza a degradação política (e não só) da social-democracia “ocidental”. Pega na agora pública corrupção pessoal de Keir Starmer para enquadrar esse facto num processo geral de muitas décadas que sujeitou e dedica essa corrente política à exclusiva defesa dos interesses do grande capital e do imperialismo.

O primeiro-ministro britânico Keir Starmer é o exemplo perfeito da ganância que corrompeu os partidos que se supõe deveriam representar o eleitor comum.

O escândalo que recentemente envolveu o primeiro-ministro trabalhista do Reino Unido, Keir Starmer, não é apenas de corrupção política.

Sempre houve políticos corruptos - mesmo entre os líderes de partidos sociais-democratas - embora seja impossível imaginar Jeremy Corbyn ou Harold Wilson a aceitarem dezenas de milhares de libras de roupa de marca, presentes e alojamento de luxo gratuito de um empresário bilionário.

Há algo de muito contemporâneo na ganância voraz de Starmer e revela uma verdade fundamental sobre os partidos sociais-democratas modernos no Ocidente - nomeadamente, que estes partidos há muito que deixaram de representar os interesses da classe trabalhadora e dos cidadãos comuns, limitando-se hoje a cumprir as ordens das elites globais que governam e controlam a maioria dos países ocidentais.

Assim sendo, não é de surpreender que essas elites derramem abundantes benefícios sobre os líderes políticos que tão assiduamente protegem a sua enorme riqueza, estatuto social e poder.

É claro que este não é um fenómeno exclusivamente britânico. Na Austrália, a predilecção do primeiro-ministro trabalhista Anthony Albanese em aceitar generosidades empresariais é lendária - embora os presentes regularmente recebidos por Albanese (incluindo bilhetes gratuitos para jogos de futebol e concertos de Taylor Swift) pareçam decididamente ávaros em comparação com o pacote de despojos de luxo recentemente recebido por Starmer e sua família.

Também não deve surpreender ninguém o facto de estes complacentes líderes políticos procurarem imitar o estilo de vida luxuoso dos seus patrões - mesmo quando não têm meios para o fazer.

Como é que se deu esta transformação política fundamental?

Essencialmente, foi impulsionada pela ascensão das elites globais e pela nova ordem económica mundial que estas criaram desde a década de 1980.

A nível político, esta transformação começou com Margaret Thatcher e Ronald Reagan - que destruíram o consenso social-democrata que tinha prevalecido na maioria das democracias liberais ocidentais até à década de 1980.

Esse consenso progressista procurava incorporar a classe trabalhadora nos Estados nacionais ocidentais através da introdução de medidas de bem-estar social e de padrões de vida mais elevados para os trabalhadores.

Este processo teve o seu início na Austrália - aquando da federação em 1900. Na América, começou com o New Deal de Franklin Roosevelt, na década de 1930, e no Reino Unido teve origem nas reformas da segurança social de David Lloyd-George, no início do século XX, e foi completado pelo governo de Clement Attlee, após a Segunda Guerra Mundial.

Os partidos trabalhistas do século XX no Reino Unido e na Austrália, e o Partido Democrático na América, criaram e mantiveram o consenso social-democrata.

Estes partidos progressistas proporcionaram benefícios económicos e sociais substanciais à classe trabalhadora e aos cidadãos comuns até à década de 1980, além de garantirem décadas de estabilidade política nos respectivos países.

Thatcher e Reagan desmantelaram o consenso social-democrata e deram início a mudanças económicas que rapidamente deslocaram económica e culturalmente a classe trabalhadora tradicional. Estas mudanças, juntamente com a subsequente emergência de uma nova ordem económica mundial, transformaram radicalmente a política progressista nas democracias ocidentais.

Na década de 1990, os partidos trabalhistas mais antigos tinham-se alinhado completamente com as novas elites globais - como o demonstra a sua adopção generalizada de ideologias acordadas com as elites, como as políticas de identidade e a catastrófica alteração climática.

Estes partidos também se comprometeram com políticas que estavam de acordo com os interesses económicos das elites globais - impostos mínimos para as empresas; um sistema fiscal regressivo para os cidadãos comuns; subsídios maciços para empresas de energias renováveis; privatização do mercado energético; manutenção de um mercado imobiliário sobrevalorizado; e permissão da imigração em grande escala.

É verdade que estes partidos mantiveram a pretensão ideológica de actuar no interesse da classe trabalhadora - até Starmer mantém essa pretensão - mas na década de 1990 actuaram quase exclusivamente no interesse das novas elites globais.

Assim, os partidos sociais-democratas arrumaram a reforma económica radical e, em vez disso, começaram a conferir privilégios a vários grupos de estatuto - geralmente definidos biologicamente em termos de raça ou género - criando assim elites complacentes dentro desses grupos que agora apoiavam acriticamente a nova ordem económica mundial emergente.

A extraordinária transformação dos partidos sociais-democratas reflecte-se nas respectivas disposições ideológicas dos seus líderes mais antigos e mais recentes.

Michael Foot e Tony Blair não têm nada em comum do ponto de vista ideológico. Nem os líderes trabalhistas australianos Arthur Caldwell e Bob Hawke, ou, já agora, Lyndon Johnson e Barack Obama ou Hillary Clinton.

Foot, Caldwell e Johnson estavam todos empenhados em melhorar a sorte da classe trabalhadora através de uma verdadeira reforma económica e social. É inconcebível que tivessem apoiado os direitos dos transexuais, por exemplo, ou qualquer uma das outras ideologias de elite que os líderes sociais-democratas modernos defendem tão ferozmente.

Infelizmente, porém, para os líderes políticos social-democratas modernos, o seu compromisso com ideologias divisivas e irracionais, juntamente com o seu desejo de preservar a riqueza das elites globais e a sua recusa em contemplar uma reforma económica fundamental, levou a que as sociedades que pretendem governar se tornassem cada vez mais politicamente instáveis e disfuncionais.

Este processo de desintegração política foi mais longe na América - alimentado pelo surgimento do populismo trumpiano que destruiu o tradicional Partido Republicano, está empenhado em desmantelar a ordem democrática liberal na sua totalidade e promoveu um grau sem precedentes de divisão e tensão racial.

No Reino Unido, a crise do custo de vida - código para os trabalhadores comuns que não conseguem pagar a renda, comprar comida suficiente ou pagar as suas contas de energia, quanto mais pensar em comprar uma casa - intensifica-se diariamente. Os motins raciais e anti-imigração são agora comuns, e a economia britânica continua na sua inevitável espiral descendente.

Na Austrália, existem problemas intratáveis semelhantes, mas o tipo de instabilidade e divisão política grave que caracteriza o Reino Unido e a América ainda não emergiu em força. Com o tempo, sem dúvida, surgirá.

O problema subjacente que confronta os líderes políticos social-democratas no Ocidente é que as elites globais, em nome de cujos interesses económicos e culturais governam, não estão dispostas a abdicar da sua riqueza e estatuto ou sequer a contemplar o tipo de reformas económicas que resolveriam os problemas prementes com que se confrontam as sociedades ocidentais.

Enclausuradas nas suas ideologias irracionais, pouco dispostas a fazer compromissos e alheias à história, as elites globais não só se recusam a incorporar a classe trabalhadora tradicional nas sociedades que tornaram disfuncionais, como também a tratam com um desprezo incontido. Daí a deriva dos votos da classe trabalhadora para os partidos populistas de direita que prometem inverter a deslocação económica e cultural da classe trabalhadora.

A descrição de Hillary Clinton da classe trabalhadora norte-americana como “deploráveis” capta na perfeição a visão do mundo das elites globais contemporâneas. Em comparação com estas elites, os elementos progressistas entre a burguesia do século XIX eram modelos de virtude, auto-sacrifício e bom senso político.

Ainda mais perturbador é o facto de os principais políticos social-democratas do Ocidente, imitando os seus mestres da elite global, estarem firmemente empenhados em políticas externas irracionais - como o apoio a regimes políticos radicais de direita em Israel e na Ucrânia, que pretendem provocar guerras mais vastas no Médio Oriente e na Europa.

Em relação a esses programas de política externa equivocados, Starmer, Biden e Harris, e Albanese estão em total e furiosa concordância.

Isso leva-nos de volta a Starmer.

Este é o político que foi um fervoroso apoiante de Corbyn até este perder as eleições de 2022, e que depois, tardiamente, descobriu que Corbyn tinha sido um antissemita durante décadas e tratou impiedosamente de o expulsar, a ele e aos seus apoiantes, do Partido Trabalhista.

As recentes revelações sobre a sua ganância voraz fizeram, compreensivelmente, com que a popularidade de Starmer no Reino Unido caísse a pique. A direcção do Partido Trabalhista, porém, continuou a apoiá-lo. Afinal, Starmer não é o único político trabalhista proeminente a ter recebido presentes do seu generoso benfeitor - Angela Rayner também confessou ser uma beneficiária no início desta semana.

Quem é este doador generoso e principesco?

Nada mais nada menos do que o empresário bilionário e membro do Partido Trabalhista, Barão Waheed Ali - um magnata dos meios de comunicação abertamente homossexual que foi nomeado par do reino vitalício por Tony Blair em 1998. Este é, evidentemente, um dos poucos benefícios de estatuto que os políticos podem conferir aos membros da elite global. Não é de estranhar, portanto, que a sua gratidão não tenha limites.

Depois de Starmer ter sido finalmente obrigado a revelar o montante exacto das generosidades que ele e a sua família recebera do generoso barão, no início desta semana, tentou justificar a estadia no apartamento de Ali, no valor de 3,5 milhões de libras, durante um mês, dizendo que o fez porque o seu filho adolescente precisava de paz e sossego para estudar para os exames.

Qualquer pai faria o mesmo pelo seu filho”, disse Starmer - ignorando completamente o facto de que a maioria dos pais no Reino Unido não tem acesso fácil aos luxuosos apartamentos de benfeitores ricos como o barão de bom coração.

Os meios de comunicação social britânicos não foram muito críticos em relação a Starmer esta semana - afinal, foram eles que o tornaram primeiro-ministro - mas houve uma pessoa que teve a coragem de o chamar publicamente à responsabilidade pelo seu comportamento vergonhoso e sem vergonha.

No início desta semana, Rosie Duffield, deputada trabalhista de esquerda, demitiu-se do Partido Trabalhista, dizendo a Starmer na sua carta de demissão que “a sua desonestidade, nepotismo e aparente avareza estão fora de escala… Estou tão envergonhada com o que você e o seu círculo íntimo fizeram para manchar e humilhar o nosso outrora grande partido”.

Duffield salientou ainda a hipocrisia de uma pessoa de “riqueza muito acima da média” ter “aceite presentes pessoais caros, como fatos e óculos de marca”, ao mesmo tempo que aboliu o subsídio de combustível de inverno para os reformados.

Terminou a sua carta dizendo: “Espero poder voltar ao partido no futuro, quando este se assemelhar novamente ao partido que amo, colocando as necessidades de muitos à frente da ganância de poucos”.

É apropriado que esta acertada condenação de Starmer e do Partido Trabalhista moderno que ele lidera tenha sido feita por uma política que ainda se lembra dos valores progressistas que os partidos social-democratas costumavam defender - antes de serem capturados e corrompidos pelas elites globais.

Suspeito, no entanto, que Starmer e os seus àvaros colegas provavelmente não sabem do que Duffield está a falar - e, mesmo que soubessem, simplesmente não se importariam.

Fonte: This is why the working class doesn’t trust Western leftists anymore — RT World News

ODiário.info

https://www.odiario.info/e-por-isso-que-a-classe/

11/10/2024



quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Rússia – Um refúgio do mundo do tráfico global de drogas

 


Marat Khairullin – 04 de outubro de 2024

Em uma das edições anteriores das investigações jornalísticas dedicadas ao tráfico de drogas dos EUA, Vitaly Kolpashnikov e eu mencionamos a Operação Phoenix, que a CIA realizou pela primeira vez no Vietnã na década de 1960. Sua essência era destruir qualquer resistência à política dos EUA por meio de métodos como terror em massa e intimidação da população e a liquidação imediata de líderes que desafiassem o domínio americano na região. Uma parte integrante do programa Phoenix era a produção de drogas pesadas (heroína) no vizinho Laos e sua venda no Vietnã, para financiar esquadrões punitivos que aterrorizavam seu próprio povo. O comércio de drogas permitiu, entre outras coisas, manter a lealdade da elite local. Todos os principais generais do exército sul-vietnamita tinham sua própria participação no fornecimento de heroína e seu próprio território para o tráfico.

Assim, como resultado da campanha do Vietnã, surgiu o primeiro grupo poderoso de produção de heroína no mundo, conhecido hoje como Triângulo Dourado. A produção de drogas se espalhou pela vizinha Birmânia (atual Mianmar) e pela Tailândia. Atualmente, o Triângulo Dourado produz cerca de 1.000 toneladas de heroína pura no mercado internacional. As drogas se tornaram um negócio tão lucrativo que os serviços de inteligência americanos começaram a criar uma estrutura em seu país para regular a venda de drogas. Trata-se, em primeiro lugar, da Drug Enforcement Administration (Administração de Repressão às Drogas), que é totalmente subordinada à CIA e o famoso departamento americano, a DEA. Além disso, logo após o Vietnã, eles criaram outro grupo de produção de drogas nas suas proximidades, na Colômbia, para a produção de cocaína e uma pequena quantidade de heroína, digamos, apenas para suas próprias necessidades.

Já nos anos 80 e 90, os EUA estavam intimamente envolvidos no mercado de drogas da Ásia Central. Assim, na década de 90, surgiu outro local de produção mundial de heroína: o Afeganistão. O grande avanço ocorreu quando, após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, os EUA ocuparam o país. No primeiro ano de sua presença, houve um aumento de quase 100 vezes na área cultivada com papoula. Nos anos seguintes, a produção de ópio bruto aumentou de 1.000 toneladas para 6.000 e continou crescendo. Tanto na Colômbia quanto no Afeganistão, o mesmo programa Phoenix foi implantado. No primeiro caso, os EUA visaram toda a América do Sul e Central e, no segundo, especificamente a Rússia.

A ocupação do Afeganistão coincidiu com a ascensão ao poder nos Estados Unidos dos neoconservadores – novos conservadores que proclamaram a campanha sagrada dos Estados Unidos pela hegemonia absoluta no mundo. Os neoconservadores já viam nosso país como uma ameaça ao domínio americano. Portanto, foi tomada a decisão de intensificar o programa Phoenix nessa direção.

É preciso dizer que a dependência de drogas de nosso país sempre esteve na agenda dos serviços de inteligência dos EUA. Assim que a União Soviética entrou em colapso, sob a cuidadosa supervisão dos norte-americanos, a chamada Rota do Norte da heroína afegã começou a se formar através do Cáucaso russo e do subterreno siberiano na enorme fronteira do Cazaquistão. A heroína tornou-se imediatamente a principal força motriz do separatismo checheno no início da década de 1990. Ela também alimentou o crescimento explosivo do crime organizado no restante da Rússia. Todas as gangues famosas da época estavam envolvidas no tráfico de drogas de uma forma ou de outra.

Tudo isso levou ao fato de que, no final dos anos 90, a Rússia se tornou um dos maiores consumidores de heroína do mundo. Em seu auge, no início dos anos 2000, mais de 10 mil pessoas morriam de overdose de heroína por ano. A mortalidade total por drogas e causas relacionadas, de acordo com estimativas de especialistas, estava se aproximando da monstruosa cifra de 100 mil. A situação era tão grave que nosso país nem sequer tinha as estatísticas relevantes. A Rússia nunca havia se deparado com um problema como esse em sua história e simplesmente não tinha a experiência necessária para combatê-lo. A percepção de que estavamos lidando com uma agressão híbrida na forma de uma onda externa artificial de dependência de drogas começou a surgir em nossas agências de aplicação da lei apenas perto da década de 2020.

Antes disso, literalmente deixamos o bode entrar no jardim ao aceitar a “ajuda” da mesma DEA americana para criar e gerenciar nosso análogo doméstico – a Drug Enforcement Agency. Neste artigo, não descreverei em detalhes todas as reviravoltas da luta contra a dependência de drogas em nosso país. Direi apenas que o verdadeiro ponto de inflexão ocorreu em 2016, quando a taxa de mortalidade por overdose de heroína caiu pela metade em comparação com o máximo de 10 anos – menos de 4.000 por ano, e nos anos seguintes começou a diminuir de forma ainda mais constante. Está claro que não há necessidade de falar sobre uma vitória final sobre as drogas. A seguir, você entenderá o porquê. Mas, apesar disso, hoje a Rússia pode realmente ser considerada o principal paraíso antidrogas do planeta. Uma vez que, tendo obtido sucesso real com essa hidra em constante crescimento, as autoridades de nosso país chegaram à conclusão de que é necessário mudar a estratégia da luta contra esse mal global. E podemos afirmar que já temos um sistema único de combate à dependência de drogas na sociedade, que não tem análogos.

Poucas pessoas sabem que a SMO, entre outras coisas, é também uma guerra antidrogas. Após a vitória de Zelensky nas eleições de 2019, a Ucrânia começou imediatamente a implantar uma versão ucraniana da “Phoenix”, embora com certas peculiaridades. As áreas de produção de matéria-prima de heroína e cocaína estavam distantes, então a CIA decidiu implantar a produção de drogas artificiais na Ucrânia, mas eles exageraram um pouco no ritmo, o que prejudicou o comércio europeu dessa droga.

O fato é que, na década de 2000, a Europa formou seu próprio grupo global de produção de drogas (o quarto consecutivo), que lida exclusivamente com drogas sintéticas. Ele está localizado na Bélgica e na Holanda. A CIA tinha seu próprio pequeno negócio aqui, na forma de vários laboratórios na República Tcheca, como dizem, puramente para suas próprias necessidades. Por algum tempo, esse status quo serviu a todos. No entanto, com a retirada dos EUA do Afeganistão e a epidemia de Covid, a CIA começou a sentir falta de matérias-primas para financiar a Phoenix nos mesmos volumes. E foi decidido compensar as despesas perdidas implantando a produção em massa de produtos sintéticos na Ucrânia.

No primeiro ano, cerca de 200 laboratórios foram abertos, mas o fluxo de drogas não foi para a Rússia (esse é precisamente o resultado de nossos esforços), mas para a Europa. Os parceiros europeus gritaram. Cerca de cem laboratórios tiveram que ser fechados.

A ONU imediatamente observou esse fato no relatório de 2022 como extremo – nunca antes em qualquer país tantos laboratórios químicos foram fechados de uma só vez, especialmente em um país onde, no passado, ninguém havia se entregado particularmente a essa produção.

A propósito, o filho de Biden ainda está diretamente envolvido na produção de drogas na Ucrânia – de fato, em Nezalezhnaya (“o Independente”, uma gíria para “a Ucrânia”), acredita-se firmemente que esse negócio não pode ser tocado, uma vez que é de propriedade exclusiva da família Biden. (Nota do tradutor: tudo isso é alegado por várias fontes. Não posso confirmar ou negar a exatidão desses relatórios*).

Portanto, chegamos a uma certa conclusão: até 2020, quatro poderosos grupos de produção de drogas se formaram no mundo: dois de heroína, um de cocaína e um sintético. O volume total do tráfico de drogas é estimado em uma cifra monstruosa de 800 bilhões de dólares. Acredita-se que ele cresça aproximadamente 20% ao ano. Alguns especialistas acreditam que, até o final de 2024, esse valor poderá ultrapassar um trilhão. Isso significa que as drogas podem se tornar oficialmente a segunda maior commodity do comércio mundial. Atualmente, a primeira mercadoria é o petróleo bruto – dois trilhões de dólares por ano. A segunda é o gás – cerca de novecentos bilhões de dólares. A terceira são as drogas. Depois dessa trindade, todas as outras mercadorias vêm com uma margem enorme – carvão, ferro, ouro, cobre etc.

E aqui podemos fazer uma pergunta séria: onde vai parar toda essa enorme massa de dinheiro? Não se trata de um comércio de fósforos em um beco sem saída, trata-se de dinheiro realmente grande, um verdadeiro setor global. E aqui também é muito interessante.

Em 1971, o Emirado de Dubai tornou-se parte dos Emirados Árabes Unidos e quase imediatamente recebeu o status de zona econômica livre. Ao mesmo tempo, o banco estatal abriu a primeira plataforma de investimentos, na qual 12 corretoras se registraram no primeiro mês, atendendo exclusivamente às operações do Triângulo Dourado. (Supostamente*) Hoje, essas corretoras se transformaram em seus próprios grupos financeiros, incluindo dezenas de bancos e milhares de empresas offshore registradas em Dubai.

Esse conglomerado, com um faturamento anual de centenas de bilhões de dólares, tinha até mesmo seu próprio sistema de pagamento fechado para seus próprios fins, semelhante ao Visa e ao MasterCard, e era chamado, você vai rir, de “Wall Street”. No entanto, os americanos gananciosos também criaram problemas aqui – desde os anos 2000, dois grandes fundos de investimento dos EUA, o Vanguard Group e o BlackRock, têm absorvido ativamente a rede de corretagem de Dubai que controla o comércio global de drogas. (Supostamente*) E quando, digamos, os acionistas comuns tentaram protestar, Wall Street foi fechada para eles de forma demonstrativa.

Agora vemos o resultado dessa expansão das drogas em todo o mundo. O programa Phoenix, inventado pela CIA apenas como um presente pessoal para operações especiais, saiu completamente do controle. As drogas se tornaram uma commodity global, e os principais magnatas financeiros se juntaram ao comércio. O comércio de petróleo entrará em declínio em um futuro próximo, de uma forma ou de outra, porque ele é finito. E a produção de drogas só está crescendo – novas drogas estão surgindo e os métodos de produção de poções que já provaram sua eficácia estão sendo aprimorados.

Nos EUA, por exemplo, vários departamentos governamentais estão estimulando e desenvolvendo ativamente esse mercado – a Administração de Combate às Drogas dos EUA e o Departamento de Saúde dos EUA. A CIA também não vai abrir mão de suas posições, e vários outros serviços e departamentos estão exigindo sua parte. No ano passado, foram registradas 90.000 mortes por overdose de drogas nos Estados Unidos. Os especialistas acreditam que, para estimar a taxa total de mortalidade relacionada às drogas, precisamos multiplicar a mortalidade por overdose pelo coeficiente de cada país específico. Para os EUA, esse coeficiente foi definido em cerca de 10 – ou seja, temos a maior parte de um milhão de mortes por ano somente dentro do país. As autoridades dos EUA nem sequer tentam fingir que estão preocupadas com esse problema.

As drogas acabaram se tornando um produto ideal – uma pessoa que as experimenta fica viciada, o que significa que elas garantem vendas futuras. As substâncias em si não requerem investimentos caros, espaço ou um grande número de trabalhadores e, o mais importante, são necessárias pouquíssimas substâncias para conquistar grandes mercados. Por exemplo, apenas cerca de 1.000 toneladas de heroína pura são produzidas no mundo atualmente. Isso é suficiente para atender a 100 milhões de viciados em drogas. E a quantidade de cocaína é ainda menor. Ou seja, o potencial de desenvolvimento é monstruoso. A dependência de drogas está se instalando na África e na Ásia em ritmo acelerado. A Europa, que era considerada relativamente contida até recentemente, está se aproximando rapidamente dos EUA. E, nesse contexto, nosso país é, obviamente, um verdadeiro bastião, um refúgio no caminho desse mal mundial. No próximo artigo, responderei definitivamente à pergunta – por quê?


Fonte: https://maratkhairullin.substack.com/p/russia-a-refuge-from-the-world-of

Em

Sakerlatam

https://sakerlatam.blog/russia-um-refugio-do-mundo-do-trafico-global-de-drogas/

9/10/2024

sábado, 5 de outubro de 2024

¿Hacia una nueva fase de la Guerra Total? *

 


ANDRÉS PIQUERAS, PROFESOR SENIOR de la UNIVERSIDAD JAUME I

Debemos repetir las veces que haga falta que estamos ante diferentes batallas que pueden ir adquiriendo cada vez mayor intensidad y extensión, pero que forman parte de un proceso bélico integral, que incluye todas las dimensiones posibles, desde la económicas a las médicas, cibernéticas y cognitiva, es decir una Guerra Total.

La Guerra está radicada en la propia dinámica capitalista (* Explicando la Guerra Total ,Parte II)

Las condiciones de degeneración del modo de producción capitalista se agudizan, y con ello toda una cadena de razones sistémicas confluye en el camino de la Guerra. Su crisis de sobreacumulación de capital tiene cada vez menos posibilidades de contrarrestarse, arrastrando tras de sí la dilución del valor y la mengua del plusvalor, la galopante reversión del capital a su forma simple de dinero, un endeudamiento público y privado insostenible, una economía crecientemente ficticia -con una inflación monetaria sin anclaje alguno al valor y un crecimiento con cada vez menor acumulación proporcional de capital- entre algunos de las más importantes consecuencias en el plano estrictamente económico o estructural.

En el ámbito infraestructural o ecológico (que sólo separamos del anterior con fines explicativos), las dinámicas del capitalismo degenerativo se traducen en otro conjunto de procesos como el manifiesto agotamiento de materiales y de energía fósil, la destrucción general de fuentes de la Vida o el deterioro de la Biosfera (con la 6ª mayor extinción ya en curso). A ello se une una imparable expansión de un “valor negativo”: plagas, epidemias, deterioro de recursos, saturación de sumideros, contaminación generalizada, pérdida de fertilidad, salinización, estrés climático, desaparición de nitratos y de fósforo, sobreexplotación, sobreempobrecimiento y extenuación de Naturaleza y de las poblaciones…. Teniendo en cuenta que la hipotética solución a uno de esos factores significaría el agravamiento inmediato de otros, las salidas de esta Crisis Sistémica, Civilizacional, se hacen cada vez más arduas, entrándose así en un impasse de creciente Complejidad. La destrucción social y ambiental, el desmoronamiento de las sociedades, así nos lo testimonia [tengo que remitir aquí para ahondar en mi explicación sobre ello a alguno de mis textos anteriores, como La tragedia de nuestro tiempo. La destrucción de la sociedad y la naturaleza por el capital (Antrhopos)].

Una vez que el capitalismo -y su ley del valor- se hizo enteramente global en la segunda mitad del siglo XX, su actual proceso de degeneración implica al conjunto del modo de producción capitalista y al Sistema Mundial a que dio lugar, cuya probabilidad de principiar su fase de colapso se va haciendo mayor. Lo que significa que un determinado Sistema ya no es capaz de regular sus crisis, de saltar por encima de ellas a nuevas fases ni de parar, por tanto, su descomposición.

Una de las principales consecuencias de todo ello, además de numerosas otras calamidades para la Humanidad y la Ecosfera toda (algunas aludidas renglones arriba) es que la Guerra, que siempre acompañó a las dinámicas de acumulación de capital a escala planetaria, también se va haciendo Total [en entrega anterior expliqué en qué consiste esto y sus dimensiones y características EXPLICANDO UN POCO MÁS LA GUERRA TOTAL – El blog de Andrés Piqueras (andrespiqueras.com)]

La Guerra Total en la que estamos (aun si buena parte de las poblaciones de las formaciones imperiales aún no termine de percibirla) es consecuencia, por consiguiente, de dos grandes líneas de colapso:

  1. La de la Crisis del Capitalismo (que es mucho más que una nueva crisis capitalista: es una Crisis del Sistema en su conjunto -pasándose así de las crisis capitalistas ya fueran cíclicas o estructurales, al Capitalismo en Crisis-).
  • La de la Crisis de la Ecosfera, que atañe no sólo al conjunto de la vida (Biosfera), sino también al de los materiales y resto de recursos y fuentes de energía, así como a sumideros y, en general, a un hábitat planetario más y más contaminado y fragilizado.

A estas líneas de colapso se une una tercera razón

  • La Decadencia del actual hegemón del Sistema Mundial capitalista, EE.UU., y de las principales formaciones imperiales que moldearon bajo sus intereses ese Sistema a lo largo de los últimos 5 siglos, esto es, lo que llamamos el Imperio Occidental (nombre mucho más apropiado, a mi entender, que el de “Occidente colectivo”, que no explica gran cosa).                    

Es la primera vez desde la conformación de ese Sistema, que una potencia imperial no tiene sucesora ante su declive. En cambio, todo un conjunto de nuevos actores económicos y políticos van cobrando fuerza en el mundo, a la estela, y esto no conviene perderlo de vista, de la irrupción de China como potencia económica mundial. Los principales problemas para el Sistema Mundial capitalista y su Imperio Occidental con esta formación socioestatal, radican en que:

  • China no tiene ni ha tenido históricamente ninguna expansión ni proyección imperialista. No interviene militarmente ni domina otros países o territorios de forma militar ni mediante el control financiero-económico-político, ya sea bilateralmente o a través del dominio de las estructuras de gobierno mundiales.

Y lo que es más importante

  • No se guía principalmente a escala interna por los dictados del capital, aunque haya tenido que recurrir a las reglas del juego capitalista, y mantiene una proyección y vocación socialistas expresadas en diversos renglones como el de la planificación económica que tiene a raya los intereses privados del capital global y condiciona la tasa de ganancia al beneficio social. Una formación estatal con todavía muchas cuestiones que resolver y tensiones internas entre la aceleración del paso al socialismo o una involución al capitalismo, pero con creciente relevancia mundial, comandada por un Partido Comunista fuerte y hoy por hoy a todas luces capaz.
  • China está articulando unas relaciones diferentes al nivel planetario, que comienzan a sustituir los viejos moldes del Sistema Mundial capitalista, abriendo la posibilidad, por primera vez en 500 años, de que se puedan dar procesos de auténtica soberanía, tejiendo una nueva modulación planetaria, con actores importantes aunque también altamente contradictorios, implicados en ello, como India, Irán, Suráfrica, Brasil…  y por supuesto Rusia (que además es la segunda si no la primera potencia militar mundial, al menos en términos defensivos).
  • La alianza chino-rusa actual, a pesar de sus posibles líneas de sombra y distancias, es uno de los nudos gordianos más fuertes, consistentes y arraigados a los que se ha de enfrentar el Imperio, de manera que por primera vez en la historia de las luchas anticapitalistas un posible intento o vía de ruptura con el capitalismo, o al menos un facilitador de ello, adquiere más fuerza económica que el conjunto de potencias dominantes de ese modo de producción, igualando al mismo tiempo su poderío militar.

Es decir, que en este caso no se trata sólo de que una potencia imperialista dé o no paso a otra, sino de que frente al declive del Imperio y su hegemón no hay recambio imperial a la vista, con el consiguiente aumento del riesgo sistémico para el modo de producción capitalista.

El Imperio Occidental desata la Guerra Total

La consecuencia teórica más importante que extraer de todo esto es que el Imperio Occidental Decadente no va a dejarse sustituir sin Guerra, sin desatar toda la Devastación, Caos y Barbarie que es capaz de generar contra el Mundo Emergente y, por prolongación de ello, contra el conjunto de la Humanidad (lo que incluye también, en un grado u otro, a la mayor parte de sus propias poblaciones).

Esa Guerra lleva años desatándose en diferentes Frentes de Batalla y con una enorme variedad de dimensiones [como desarrollo en EXPLICANDO UN POCO MÁS LA GUERRA TOTAL – El blog de Andrés Piqueras (andrespiqueras.com)]. Siendo los frentes de Ucrania y Asia occidental los que han cobrado hasta ahora mayor virulencia.

Los objetivos principales de esa Guerra Total, por orden de escala de sencilla a mayor complicación, son:

  • Devastar las formaciones socioestatales que puedan articularse en las redes asiático-africanas de conexión china, especialmente en su proyecto de Una Franja Una Ruta.  Afganistán, Iraq, Yemen, Siria, Somalia, Sudán… son los ejemplos más evidentes de ello. Prevenir al mismo tiempo que otras puedan hacerlo, como Mali, Burkina Faso o Níger, formaciones sociales a las que se agrede mediante el terrorismo directo, descarnado, que pasa por la permanente infiltración de yihadistas en sus territorios.
  • Eliminar (destruir) a las formaciones que tuvieron mayores vínculos con la Unión Soviética e independencia frente a los dictados de EE.UU., para impedir la continuidad de su relación y mutua asistencia con Rusia. Aquí Libia y de nuevo Siria, también Yugoeslavia, son casos destacados, pero no podemos olvidar a Argelia como un bastante posible próximo objetivo.
  • Quitarse de en medio los obstáculos estatales para poder enfrentar aisladamente a sus principales adversarios, Rusia y sobre todo, China. Una vez desestabilizado Pakistán (con un golpe de Estado que llevó a su presidente no alineado con Washington a la cárcel), sólo queda en centro Asia el díscolo Irán, acosado por el Imperio desde 1979 y objetivo último de la «guerra proxy» que le hace a través de su ente sionista en la región.  
  • Asediar por todos los medios (políticos, diplomáticos, económicos, financieros, mediáticos, cibernéticos y militares), debilitar y finalmente desmembrar a sus dos principales potencias rivales del Mundo Emergente: China y Rusia. Como la primera es en realidad el objetivo principal, EE.UU. y el conjunto del Imperio Occidental han intentado primero derrotar a Rusia (la fuerza armada de la dupla) a través de una Guerra Integral, multidimensional, con casi 30.000 sanciones para doblegarla y una “guerra proxy”, por intermediación de una nazificada Ucrania (tras otro golpe de Estado o “revolución de color”), que busca el fin de Rusia como formación estatal soberana, e incluso como país.

Todo esto lleva, por si fuera poco para la madeja en la que se teje el colapso capitalista, a la desarticulación de las cadenas del valor, a un proceso de desglobalización y proteccionismo “nacional”, que corre parejo al auge de nuevos nacionalismos añorantes de los tiempos del capitalismo monopolista estatal y la búsqueda de protección del Estado por parte de las poblaciones de las formaciones sociales imperiales (para las que el término de “aristocracia obrera” puede hacerse extensible ya a una buena porción de ellas, si utilizamos patrones globales de contraste). Esto va de la mano de procesos de re-fascistización que el Imperio Occidental imprime a sus sociedades, de cara a prepararlas y disciplinarlas para los procesos de Crecimiento Militarizado y Crecimiento Represivo (sin real acumulación proporcional de capital -por eso los términos de William Robinson de “acumulación militarizada” y “acumulación represiva” no me convencen, menos aún el de «acumulación por desposesión», de Harvey-), que en adelante se impondrán más y más en el decrépito modo de producción capitalista.

Ante el fracaso del frente de Ucrania el Imperio Occidental ha incendiado desde hace un año el de Asia occidental, y muy especialmente Palestina, seguida ya en estos momentos por Líbano, y probablemente en breve por el conjunto de territorios del Eje de la Resistencia, con Irán como objetivo principal, en lo que está a punto de constituir una nueva fase de la Guerra Total: una explosión regional de la misma con entrada en escena de diferentes potencias mundiales y un armamento cada vez más destructivo, si no directamente nuclear.

El peón sionista de la Guerra Total

En este frente el Imperio Occidental utiliza a su despiadado y brutal brazo armado en la zona: la entidad sionista que algunos llaman “Israel”.

Aquí conviene hacer una parada para explicar brevemente esa entidad y su conexión con el Imperio Occidental y el Poder Sionista Mundial.

La consolidada alianza entre el sionismo y el Eje Anglosajón (Inglaterra más USA -a las que a veces se suman las formaciones “occidentales” de la Commonwealth británica-) es fácil de entender desde que Inglaterra se decidiera a establecer en el lugar de convergencia entre Europa, Asia y África a la entidad sionista, lo cual nada tenía que ver con razones históricas, étnicas o bíblicas, sino puramente geoestratégicas, para disponer de un enclave de contención de cualquier amenaza procedente de Asia, máxime por si las entonces exitosas revoluciones soviética y china pudieran extenderse al llamado “Mundo Árabe”. Se trataba de implantar una base militar (sin constitución ni fronteras definidas) para el control del territorio y de sus recursos, y al tiempo como fortaleza de vigilancia y dique de posibles sublevaciones y/o amenazas contra el Imperio. Un ente político-militar, en suma, de ocupación y apartheid territorial, que poco a poco se convertiría en el bastión o atalaya adelantada del Sistema Capitalista y su Imperio Occidental en Asia, permitiendo asimismo el control de África y, en el intersticio entre tres continentes y dos mares, de buena parte de los flujos comerciales, de materias básicas y recursos energéticos mundiales.

Con el surgimiento de China como actor principal en Asia y la reorientación de Rusia hacia ese continente, aquel enclave resulta vitalmente estratégico para el Imperio Occidental en su conjunto -dirigido en buena medida por el Poder Sionista Mundial (para el cual “Israel” es un mero peón[1])-, por lo que hará cualquier cosa para mantenerlo a flote, aun a costa de todo tipo de atrocidades.

De ahí también el inseparable entrelazamiento entre el imperialismo y el sionismo (que no es sino una forma de fascismo, por lo que todos las organizaciones fascistas, así como de derechas y ultraderechas, otrora antijudías -no sionistas-, le apoyan hoy sin pestañear, al igual, por cierto, que el resto de fuerzas políticas institucionalizadas del Imperio, que no sólo no cuestionan su derecho como Estado, sino que lo promocionan).

Al ente sionista como base militar destacada que importa continuamente “colonos” armados, es decir, paramilitares, para ocupar más y más tierra ajena y expandirse en la región, se le tiene encomendado hoy desatar la guerra de agresión a escala regional como parte de la Guerra Total. Posibilidad que incluye la dimensión nuclear. De ahí la fascistización talmúdica que experimenta y sus crecientes acciones más allá del horror, amparadas en el hecho de que este puesto avanzado del Imperio en Asia, como decimos, tiene bula para cualquier cosa que haga por monstruosa que sea, según se comprueba cada día (lo cual nos habla claramente de la decadencia civilizacional del capitalismo, y de su instauración de la Barbarie y en la Barbarie). Porque las instituciones globales, sean económicas, diplomáticas o jurídicas, están bajo control del Imperio, con gran participación dentro de él del Poder Sionista Mundial.

Así que lejos de pensar que es “Israel” o aún más, el “loco” de Netanyahu, el que atrae a EE.UU. a la guerra o pone a la UE en aprietos (en una simplista personificación de las relaciones sociales -que se traduce en atribuir la responsabilidad de lo que son procesos estructurales, a personas concretas-), la explicación es bien diferente, y es precisamente la que nunca nos dan nuestros grandes medios de difusión de masas ni los numerosos “expertos” que parlotean sobre el tema.

Papel de Rusia y China en la región

Hace años Rusia frenó en seco la expansión de yihadistas (y otros paramilitares) de EE.UU. en Siria. Sin embargo hoy parece dejar al ente sionista bombardear a su antojo a Siria, que es aliada suya, e incluso ha recibido ya un ataque israelí en una de sus propias bases en territorio sirio. Rusia sabe o debe saber que por ese camino de inacción puede perder en semanas lo que ganó en años de contraterrorismo en Siria.

Por eso y por la creciente agresividad mostrada por la OTAN contra ella, cada vez hay más voces internas que presionan sobre el hecho de que ha llegado el momento de concebir que Rusia no está en una “operación especial”, sino en una Guerra Total con la OTAN, en la que se juega su propia existencia. Eso implica, según esas voces, entre las que destaca la facción orientalista de Rusia y partidos como el comunista y “Esencia del tiempo”, asumir posiciones cada vez más serias, coherentes y contundentes en esa Guerra, insistiendo en la movilización de al menos 3 millones de reservistas, y la utilización creciente de un puño de hierro en distintos lugares vitales o líneas rojas desde el punto de vista geoestratégico de autodefensa. 

Hasta ahora, no obstante, el sector pro-occidental de sus fuerzas económicas, políticas y militares, es reacio a ello. No hay que pasar por alto, en ningún caso, que tras la derrota de la URSS en la Tercera Guerra Mundial, el Eje Anglosajón penetró sus instituciones y sembró el país de informantes y colaboradores, espías de distinto tipo, hasta en las más altas esferas. Bastantes de ellos permanecen todavía como “agentes dormidos”.

Por su parte, China ha preferido mantener desde su revolución popular un bajo perfil en los conflictos internacionales. Tradicionalmente no se decantó por el internacionalismo que tanto practicó la URSS, así como Cuba y otras experiencias de transición y movimientos populares en general. Ha buscado no confrontar con el Imperio, sino más bien superarlo con sus propias reglas del juego. Razón por la cual EE.UU. y la UE están cambiando las reglas: ya no les interesa “el libre comercio” si no son ellos los que pueden beneficiarse a costa de otros. Dando marcha atrás también a la “globalización” o al menos poniéndola en cuarentena parcial.

Pero en estos momentos, y por eso mismo, ese “juego” de China ya no será más posible. Esta formación socioestatal, como vimos más arriba, ha sido detectada en su “amenaza” para los oligopolios capitalistas y señalada como “enemiga”, por lo que buena parte del diseño de la Guerra Total está preparado contra ella. Porque el enfrentamiento final de la Guerra Total es con China. 

De ahí que el Partido Comunista chino hay llegado a la conclusión de que ya no puede permitirse dejar avanzar más al enemigo imperial en Asia. Así que ante la ofensiva del Imperio Occidental a través de su ente sionista, la implicación directa de China puede resultar cada vez más inevitable.

Debemos repetir las veces que haga falta que estamos ante diferentes batallas que pueden ir adquiriendo cada vez mayor intensidad y extensión, pero que forman parte de un proceso bélico integral, que incluye todas las dimensiones posibles, desde la económicas a las médicas, cibernéticas y cognitivas [Guerra Cognitiva – Contra OTAN y bases], entre muchas otras. Una Guerra Total con un ya largo recorrido, como vimos, que puede hacerse nuclear en cualquier momento, pero que en principio está pensada para acosar, desgastar, destruir, caotizar, todavía a lo largo de esta y la próxima década, cuanto menos. Como una “guerra de los 30 años” (tras la que por cierto, surgió un nuevo orden internacional), los mismos, más o menos, que duraron los enfrentamientos bélicos por el relevo de Inglaterra como potencia líder mundial. El Imperio Occidental está arrastrando a la Humanidad entera a esa Guerra, para perpetuarse a través de la Barbarie. De hecho, es toda la Humanidad su campo de batalla.

Los años por venir serán años de Guerra, cada vez más inocultable para todos, cada vez afectando más al conjunto de poblaciones. Tiempo doloroso, sin duda, pero en medio del sufrimiento hay que considerar que se abre una situación inédita, la de que la Humanidad pueda superar por fin el capitalismo, ya en degeneración, transitando por una nueva senda.

Oponernos a la Barbarie del Imperio del Caos, levantarnos en cada lugar por la emancipación humana es nuestra mejor contribución no sólo para aliviar “los dolores del parto”, sino para que la senda que pueda desbrozarse apunte hacia el socialismo, y se emprenda cuanto antes.

La lucha por la PAZ con justicia constituye hoy, para ello, el primer paso.

NOTA

[1] Cuando el capital se hace primero transnacional y luego global, una parte decisiva de la clase capitalista también se hace transnacional y global, convirtiéndose en la fracción hegemónica de la clase capitalista, imprimiendo las nuevas condiciones económicas, políticas, sociales e incluso culturales y psicológicas del nuevo capitalismo. En ese proceso resulta que los grandes magnates al frente de las principales corporaciones, fondos y conglomerados globales, son judíos sionistas, o en su defecto, sionistas protestantes. Para ver cómo se forja y en quéSIONISTA MUNDIAL – El blog de Andrés Piqueras (andrespiqueras.com).

Em

OBSERVATORIO DE LA CRISIS

https://observatoriocrisis.com/2024/10/05/hacia-una-nueva-fase-de-la-guerra-total/

 5/10/2024