quinta-feira, 3 de julho de 2025

Independência do Brasil - Bahia

 

Independência é nós contra eles

A virada marca uma inflexão política e narrativa do governo, que passa a investir no conflito como motor de mobilização

Lula e apoiadores durante a Caminhada do Dois de Julho em Salvador, Bahia - 02/07/2025
Por Sara Goes e Reynaldo Aragon - Ao anunciar que o Dia da Independência passará a ser celebrado também em 2 de Julho, data da expulsão definitiva dos portugueses da Bahia em 1823, o presidente Lula reescreveu com os pés no chão da história o que foi sequestrado pela memória oficial. A verdadeira independência foi conquistada com sangue negro, indígena e popular. Não foi um ato isolado de um príncipe às margens do Ipiranga, mas uma guerra popular que partiu do povo e enfrentou as elites coloniais. Foi arrancada à força, com coragem e sacrifício.

Ao lado de figuras como Maria Felipa, Bárbara de Alencar, Quitéria e Jovita Feitosa, Lula se colocou como herdeiro de uma tradição de resistência marginalizada pela elite brasileira. E não é coincidência que esse gesto tenha ocorrido no mesmo momento em que essa elite tenta reduzi-lo ao papel de refém institucional, por meio da sabotagem aberta no Congresso Nacional. A derrubada do decreto que aumentava o IOF sobre investimentos no exterior foi apenas o estopim. O que está em jogo é quem governa o país: o presidente eleito nas urnas ou uma casta legislativa blindada pela mídia e protegida pelo mercado.


Nesta semana, o governo Lula reativou com força a retórica do "nós contra eles", transformando a disputa sobre a taxação dos super-ricos em uma batalha simbólica entre o povo e a elite financeira. A rejeição do decreto do IOF pelo Congresso serviu de gatilho: o Planalto reagiu com uma ofensiva comunicacional centrada na justiça tributária, com Lula posando com cartaz pedindo a taxação dos super-ricos e aliados espalhando a mensagem nas redes sociais. A narrativa passou a dividir o país entre os 99% que pagam impostos e o 1% que é protegido pelo Legislativo.

A campanha, que inclui ataques indiretos a bilionários, banqueiros e plataformas de apostas, mobilizou ministros, parlamentares governistas e influenciadores ligados ao PT. A estratégia provocou resposta do presidente da Câmara, Hugo Motta, que acusou o governo de governar contra todos ao adotar o discurso do confronto. Mas Lula dobrou a aposta, classificou como "absurdo" o veto ao decreto e anunciou que recorrerá ao STF.

A virada marca uma inflexão política e narrativa do governo, que passa a investir no conflito como motor de mobilização, diante das sucessivas derrotas no Congresso e do cerco imposto pela aliança entre Centrão, mídia tradicional e mercado. A tática pode tensionar ainda mais as relações institucionais, mas recoloca o povo como sujeito político em uma arena onde até então só se viam bastidores e barganhas.

A resposta de Lula foi proporcional ao tamanho do ataque. Em vez de recuar, denunciou. Em vez de negociar nos bastidores, levou a disputa à opinião pública. O governo decidiu travar, enfim, a guerra da comunicação, e o fez com coragem rara. No mesmo ciclo de embates, Fernando Haddad, normalmente avesso ao confronto, rompeu o protocolo e se levantou publicamente para defender Lula dos ataques vindos do bolsonarismo e do mercado. "Ele é muito diferente do senhor", disse, com a voz embargada, dirigindo-se ao ex-presidente, após o fiasco do ato da Paulista.

Lula, por sua vez, com o chapéu panamá que virou sua armadura desde que se feriu no banheiro de casa, encarnou o líder que não aceita ser tutelado. No lançamento do Plano Safra Empresarial, sua fala foi marcada por um tom grave, quase amargo, como quem sabe que precisa mais do povo do que do Congresso. "Quem está ajudando esse país são os pobres", disse, emocionado. "Não são os ricos que sustentam essa nação."

A campanha pela taxação dos Bilionários, dos Bancos e das Bets (Há um B mudo aqui chamado Big Techs), a chamada "Taxação BBB", ganhou corpo no campo progressista com o apoio do governo, que compreende que essa disputa não é apenas orçamentária, mas simbólica. O que está em jogo é a soberania do voto popular frente a um parlamentarismo informal e plutocrático. Ao transformar o 2 de Julho em feriado nacional, Lula não apenas corrige uma omissão histórica. Ele deixa claro: a independência precisa ser reconquistada todos os dias.

E essa reconquista começa por nomear o inimigo. Por dizer, sem hesitação: o Centrão não representa o povo. O mercado não pode vetar o projeto de país aprovado nas urnas. A elite legislativa que protege os super-ricos é a mesma que apaga Maria Felipa dos livros de história.

Neste 2 de Julho, Lula não apenas homenageou os heróis populares. Ele se colocou ao lado deles. E como em 1823, a pergunta é a mesma: vamos deixar que nos roubem de novo o Brasil?

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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BRASIL 247

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3/7/2025 



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