sábado, 9 de março de 2013
A participação de PCs nos governos: Seria esta uma forma de sair da crise capitalista?
por Herwig Lerouge [*]
Ao longo dos últimos anos, a possibilidade existente de certos partidos
comunistas (ou ex-comunistas) de participar do governo, permanece na ordem
do dia. Na Alemanha, o Die Linke participou de alguns governos regionais
e, certamente, continua participando. O partido discute a possibilidade de
participar do governo federal. Na Grécia e nos Países Baixos, a coligação
de esquerda Syriza e o Socialistische Partij vem anunciando claramente sua
vontade de entrar para o governo. A folgada maioria do Partido Socialista
Francês, durante as recentes eleições parlamentares de 2012, eliminou a
dúvida sobre uma nova participação no governo do Partido Comunista
Francês. O PCF e, na Itália, a Rifondazione Comunista e o Partido dos
Comunistas Italianos, participaram de muitos governos no transcorrer das
últimas décadas.
Em 2008, o êxito eleitoral de alguns destes partidos levaram uma revista
britânica de esquerda, a The New Statesman, concluir: "O socialismo, o
socialismo puro, inalterado, uma ideologia considerada morta pelos
capitalistas liberais, regressa com força. Ao longo do continente,
assistimos à tendência de que os partidos de centro-esquerda estabelecidos
há muito tempo sejam desafiados por outros, indubitavelmente socialistas,
que defendem um sistema econômico em que os interesses do capital se
subordinem aos dos simples trabalhadores". [1]
Infelizmente, esta visão sobre um brilhante futuro socialista para a
Europa foi ultrapassada pelos últimos resultados eleitorais e, fato mais
importante ainda, pela evolução política destes partidos.
A tragédia italiana
A maioria destes partidos foi criada depois da contra-revolução de veludo
de Gorbachev. Na Itália, durante seu congresso em Rimini, em 1991, o
histórico Partido Comunista Italiano (PCI) se transformou em um partido
social-democrata ordinário. Nesse mesmo ano, os comunistas italianos
fundaram o Partito della Rifondazione Comunista (Partido da Refundação
Comunista). No seio do Rifondazione, o debate sobre a estratégia do
partido ficou aberto por muito tempo... Quando Bertinotti ascendeu à
presidência, o debate se acelerou. Durante o 5º Congresso do Rifondazione,
em fevereiro de 2002, Bertinotti apresentou suas 63 teses como uma soma de
"inovações". Descobriu uma "nova classe operária" nascida em Gênova, em
2001, e um "novo conceito de partido". Recusando o partido de vanguarda,
que era "obsoleto", substituiu-o por um partido concebido como uma soma de
"movimento de movimentos". Descobriu, igualmente, uma "nova definição de
imperialismo", segundo a qual o mundo já não se dividia em blocos
capitalistas rivais e a guerra deixou de ser o meio pelo qual o mundo era
partilhado de maneira periódica. "O antigo centralismo democrático foi
substituído pelo direito a tendências". [2]
Depois de 36 meses de inovação, a direção do Rifondazione Comunista
declarou-se pronta para participar do governo, junto com os democratas
cristãos de Romano Prodi e a social-democracia de D'Alema. Durante o 6º
Congresso do PRC, em março de 2005, Bertinotti afirmou que seu partido
devia ser a força motriz de um processo de reforma. E a participação no
governo passou a ser um passo necessário na dita direção. No discurso de
encerramento do Congresso afirmou: "O governo, inclusive o melhor, não é
mais que um passo, um passo de compromisso. O partido deve situar-se em
uma posição em que se deixe transparecer sua estratégia, a fim de mostrar
que quer ir mais longe […]". [3] Para prevenir se de críticas contra o
PRC, que faz parte de uma coligação favorável à UE junto ao antigo
presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, Bertinotti não encontrou
melhor desculpa que a já gasta pirueta da social-democracia: "Devemos
difundir a ideia de que os movimentos e o partido devem guardar sua
autonomia a respeito do governo. O partido não deve ser identificado com o
governo. Deve manter sua própria linha e uma estratégia ativa separada
deste". [4]
O conhecidíssimo membro do grupo Bildelberg, Romano Prodi, esteve presente
no Congresso e percebeu muito bem a virada do dirigente da Rifondazione:
"Há aqui um partido socialista de esquerdas que aceita o desafio de
governo". [5]
Em menos de 10 anos, Bertinotti conseguiu colocar um importante potencial
revolucionário sob o controle do sistema. No ano de 2007, o PRC somou-se à
coligação do "Olivo". Sem uma clara oposição de esquerdas anti-capitalista
à participação na guerra no Afeganistão e às medidas de austeridade do
governo de Prodi, a direita chegou ao vazio político e Berlusconi chegou
ao poder. O PRC perdeu toda sua representação parlamentar na derrocada da
esquerda eleitoral. Trata-se da experiência mais recente dos estragos que
o revisionismo pode ocasionar. Atualmente, o movimento comunista italiano
atravessa uma profunda crise.
França: Comunistas no governo (1981, 1987)
O século XX já provou o fracasso dos que pretendem modificar o equilíbrio
de poder em favor da classe trabalhadora, mediante maiorias no seio do
parlamento burguês.
Na euforia da vitória eleitoral de Miterrand, em 1981, o secretário-geral
do PCF, George Marchais, designou quatro comunistas ao governo com o
intuito de modificar "o equilíbrio de poder". O dirigente do PCF, Roland
Leroy, justificou o ato da seguinte maneira: "Nossa presença está
relacionada à nossa missão e nossa estratégia: utilizar cada oportunidade,
inclusive o menor passo adiante, para construir um socialismo original,
mediante meios democráticos". [6]
No lugar de obter um socialismo original, a classe operária francesa teve
de suportar um Código de Trabalho desregulado, uma segurança social
reduzida, além do desequilíbrio dos salários em relação ao aumento da
inflação. Seis anos mais tarde, em julho de 1997, a direção do PCF voltou
a fazer o mesmo. Três ministros comunistas se aliaram ao governo da
"esquerda plural" (PS-PCF-Verdes-MDC), que chegava ao poder depois das
grandes lutas de 1995. Resultado? No dito governo houve mais privatizações
que na soma das administrações de direita de Juppé e Balladur. Por
exemplo, a privatização da Air France foi supervisionada pelo ministro
comunista de Transportes, Jean-Claude Gayssot. A Air France, France
Télécom, as companhias de seguros GAN e CIC, a Sociedade Marselhesa de
Crédito, CNP, Aeroespacial, todas elas foram "abertas ao capital". A
direção do PCF continuava no governo de "Jospin – o guerreiro" quando, em
1999, a França apoiou o bombardeio da Jugoslávia pela OTAN.
Certamente foram feitas concessões às exigências sindicais, porém, como
ocorreu em 1936, com o governo da Frente Popular, basicamente foram
resultado das grandes lutas que precederam ou acompanharam a vitória
eleitoral da esquerda.
Pretender modificar no parlamento o equilíbrio de poder em favor da
população trabalhadora é absurdo aos olhos de todos aqueles que observam o
circo eleitoral, que veem aos milhares os grupos de pressão e as comissões
de especialistas pagos pelos grupos de negócios, cuja finalidade é influir
diretamente nas decisões políticas. E para mostrar de que maneira "a
riqueza exerce seu poder indiretamente, porém com maior eficácia"
(retomando as palavras de Engels), o melhor lugar são os Estados Unidos.
No ano de 2000, os 429 candidatos com melhor financiamento em suas
campanhas ocuparam os 429 primeiros lugares no Congresso estadunidense. Só
os lugares do 430 ao 469 foram dados a candidatos com menos "fortuna". [7]
Se existe uma conclusão de toda a época do neoliberalismo, é esta: a
evidência de que a influência dos grupos mais poderosos do capital sobre
os Estados-nação, as instituições europeias e as instituições financeiras
internacionais nunca estiveram tão abertas e descaradas. As decisões reais
são a prerrogativa do executivo há muitas décadas e o Parlamento não é
mais que um instrumento para ratificar as decisões já tomadas a nível
governamental. Cada vez mais as leis se preparam nos gabinetes
ministeriais e, atualmente, nos grupos de pressão das empresas mais
importantes. A paz duradoura e o progresso social requerem uma sociedade
socialista e uma transformação radical da sociedade. A via parlamentar
para o socialismo repousa na ilusão de que o grande capital vai aceitar
retroceder e que chegará a ceder, sem mais, o aparato do Estado à classe
operária quando esta se tornar suficientemente representada no Parlamento.
Naturalmente, devemos ser conscientes que, atualmente, a maioria da
população da Europa vê a ordem social atual como a única possível.
Um processo revolucionário requer flexibilidade tática, adaptação à
realidade política, uma adequada avaliação do objetivo de cada batalha, um
conhecimento exato das contradições de classe e das correlações de força,
assim como grandes alianças.
Nós lutamos por reformas, lutamos para reforçar a força política e
organizativa dos trabalhadores. Não dizemos à população: "Resolveremos
isto por vocês", mas dizemos: "Tomem vocês mesmos o destino em suas mãos".
Em cada batalha, os trabalhadores adquirem experiência e nosso dever é
introduzir a perspectiva socialista, no longo prazo. Inclusive na luta
pelas reformas, o decisivo não são o parlamento e as eleições, mas as
lutas. Todos os avanços do movimento operário vêm sendo resultado de um
combate organizado, fazendo campanha e criando correlação de força nas
ruas.
A esquerda europeia
Nos dias 8 e 9 de maio de 2004, os dois partidos já mencionados, o PRC e o
PCF, tornaram-se fundadores do Partido da Esquerda Europeia (PEE).
Bertinotti foi nomeado seu presidente.
O Partido da Esquerda é um salto qualitativo da evolução para o reformismo
(de esquerdas), declarou um de seus fundadores, o presidente do Partido do
Socialismo Democrático (PDS), Lothar Bisky. Em uma entrevista realizada
pela revista Freitag, explicou: "Para as forças políticas da União
Europeia que têm como origem o movimento operário revolucionário, o
Partido da Esquerda Europeia significa um novo passo qualitativo no
processo de adaptação do socialismo de esquerdas". [8]
Nem no Manifesto da Esquerda Europeia e nem em seus estatutos, se faz
referência à propriedade privada dos meios de produção, às crises
econômicas inerentes ao sistema, à concorrência assassina travada entre as
empresas monopolistas ou à partilha do mundo entre as principais potências
imperialistas. O partido da Esquerda Europeia promete "uma alternativa
progressista", a "paz", a "justiça social", um "desenvolvimento
sustentável" e outras maravilhas aos quais ninguém se apresenta contrário.
[9]
Tudo se apresenta de forma muito vaga dentro dos limites do sistema e de
suas relações de propriedade. É um esforço vão buscar a menor referência à
estratégia da revolução social. Ao contrário, o Partido se centra
basicamente na "reforma em profundidade" das instituições do sistema.
"Queremos fazer com que as instituições eleitas – o Parlamento Europeu e
os parlamentos nacionais – tenham mais poder e possibilidades de
controle". [10]
Die Linke
Um partido importante no seio da Esquerda Europeia é o partido alemão da
esquerda, Die Linke. Ele é o resultado da unificação, no ano 2007, do
Partido do Socialismo Democrático (PDS, o partido que sucedeu o principal
partido da RDA, o SED) e o WASG (os socialdemocratas de esquerda
desiludidos, dirigentes sindicais e grupos trotskistas da Alemanha
Oriental).
O WASG, composto pelo Partido Socialdemocrata (SPD) e os Verdes, nasceu no
ano de 2005, depois dos protestos suscitados contra o governo de Gehrard
Schröder. A reforma Hartz IV, que acabou com o seguro desemprego no prazo
de um ano ao introduzir os desempregados em um sistema de assistência
social, criou um enorme setor de salários baixos. As consequências da
reforma Hartz IV foram desastrosas. Um relatório das Nações Unidas [11]
sobre a situação social na Alemanha mostra que, na atualidade, 13% da
população vivem abaixo do nível de pobreza e que 1,3 milhões de pessoas,
ainda que tenham trabalho, precisam de uma ajuda suplementar, pois seus
rendimentos não são suficientes para a subsistência. A pobreza infantil
afeta 2,5 milhões de crianças. Alguns estudos mostram que 25% dos
estudantes vão para as aulas sem tomar o pequeno-almoço.
Assistimos ao aumento da pobreza entre as pessoas idosas devido às
aposentadorias modestas que diminuem por conta da redução do salário.
Atualmente, existem 8,2 milhões de pessoas com empregos temporários ou
"mini-jobs" – com salários de menos de 400 euros por mês. Dos novos
empregos, 75% são precários. Tudo isto fortalece os super-ricos. Na
Alemanha, em 2010, existiam 924 mil milionários, ou seja, eles aumentaram
7,2% em três anos.
Esta "reforma" dividiu o partido socialdemocrata e levou o antigo ministro
socialdemocrata, Lafontaine, a abandonar o partido. Ele foi seguido por
federações inteiras do movimento sindical alemão. Estes dissidentes
criaram o WASG. O partido unificado WASG-PDS se converteu em "Die Linke"
e, em 2009, obteve 11,9% dos votos nas eleições federais, alcançando 78
assentos. Seu número de membros rondava a casa dos 80.000.
Porém, três anos mais tarde, segundo as pesquisas mais recentes, o Die
Linke passou a ter problemas em ultrapassar o antidemocrático limite dos
5%, que se aplica a todas as eleições, tanto nacionais como regionais
alemães. Em maio de 2012, perdeu seus assentos nos Parlamentos federal e
regionais de Schleswig-Holstein (de 6%, os votos passaram a 2,2%) e da
Renânia do Norte-Westfalia (de 5,6% a 2,5%). O número de membros diminuiu
para menos de 70.000.
A nova socialdemocracia
O Die Linke adotou um programa durante seu congresso em Erfurt, em 2011.
Ele se apresenta como uma síntese entre as tendências marxistas e os
realistas muito reformistas. [12]
"O Die Linke, como partido socialista, opta por alternativas, por um
futuro melhor" (p. 4). Este futuro inclui, com grande justiça, "uma vida
com segurança social, com um rendimento mínimo assegurado, isenta de
impostos e protegida da pobreza, assim como uma proteção total contra a
dependência, com uma pensão obrigatória para todos, que se apoie na luta
contra a pobreza, com educação de qualidade, gratuita, acessível a todos,
com diversidade cultural e participação de todos na riqueza cultural da
sociedade, com um sistema de impostos justo, que reduza as cargas impostas
às rendas baixas e médias, porém que as aumente às altas rendas, apontando
substancialmente às grandes fortunas, para fazer efetiva a democracia e
fazer valer a lei contra o poder exorbitante das grandes companhias, com a
abolição de toda forma de discriminação baseada no sexo, idade, classe
social, filosofia, religião, origem étnica, orientação sexual e
identidade, ou baseada nas incapacidades de qualquer gênero".
Porém, não se sabe ao certo se estas boas intenções se concretizarão neste
sistema capitalista ou se é necessário abolir este sistema. Em uma
passagem, é possível ler: "Necessitamos de um sistema econômico e social
diferente: o socialismo democrático" (p. 4). Critica-se a "'economia
social de mercado" como "um compromisso entre o trabalho assalariado e o
capital que nunca eliminou a exploração depredadora da natureza e nem as
relações patriarcais nas esferas públicas e privadas". Em outras
passagens, o problema não é o sistema, mas sim o "capitalismo sem
restrições" (p. 58), o "modelo político neoliberal" (p. 56) e os "mercados
financeiros desregulados" (p.15).
O texto evoca um "longo processo de emancipação, no qual o domínio do
capital será revertido mediante as forças democráticas, sociais e
ecológicas", que levará a uma "sociedade democrática" (p.5). Em outra
parte do documento, a chave da transformação social é a questão da
propriedade. "Enquanto as decisões tomadas pelas grandes companhias se
orientarem mais pelos benefícios ansiados que para o bem público, a
política estará sujeita a chantagens e se minará a democracia".
Mais adiante, "a propriedade pública" se limita "aos serviços de interesse
geral de infraestrutura social, às indústrias do setor energético e ao
setor financeiro" (p.5). E o programa copia a velha tese socialdemocrata
"da democracia que se estende à tomada de decisões econômicas e submete
todas as formas de propriedade a normas emancipacionistas, sociais e
ideológicas. Sem democracia na economia, a democracia permanece imperfeita
[…]". De modo que esta "ordem econômica democrática diferente" será uma
economia de mercado regulada. "Submeteremos a regulação do mercado da
produção e da distribuição a um marco e a um controle democrático, social
e ecológico". "O mundo dos negócios deve estar submetido a um severo
controle da concorrência" (p.5).
A classe operária não tem nenhum papel na conquista do poder político. É
questão de "maiorias vencedoras" (p.20) e o "socialismo democrático"
poderá ser levado a cabo no seio das estruturas "democráticas" da
constituição alemã e de um "estado social de direito".
Os serviços de inteligência deverão ser abolidos, porém o "controle
democrático" do exército e da polícia será suficiente para transformá-los
em ferramentas do socialismo.
A participação no governo
Segundo o programa, a participação no governo só tem sentido se baseada no
"repúdio ao modelo político neoliberal", se supõe uma mudança "social e
ecológica" e a possibilidade de melhorar o nível de vida da população. No
caso, "o poder político do Die Linke e dos movimentos sociais poderão ser
reforçados" e "o sentimento de impotência política que existe entre um sem
número de pessoas poderá ser eliminado" (p.56).
A pergunta feita é: como é possível adotar esta posição pouco depois da
queda daquilo que sempre tinha sido apresentado como um notável exemplo da
estratégia do partido: o desastre de Berlim? Em agosto de 2010, Die Linke
se fundiu nas eleições do Senado de Berlim. Em 10 anos de participação no
governo berlinense, o partido sofreu uma derrocada, passando de 22,3% a
11,5%.
Durante 10 longos anos, a coligação governamental SPD-Die Linke governou a
capital alemã. Foram fechadas inúmeras creches, cortadas indenizações
sociais e privatizadas 122.000 habitações sociais. O Die Linke votou pela
privatização parcial do sistema berlinense de eletricidade, fez campanha
contra a paridade nacional de salários dos trabalhadores do setor público
(que, todavia, ganham consideravelmente menos no Ocidente) e manifestou-se
contra os esforços de devolver à titularidade pública a Sociedade de Água
de Berlim. Contribuiu, igualmente, para privatizar uma parte do principal
hospital de Berlim – o que se traduziu em uma degradação das condições de
trabalho e uma diminuição dos salários.
Mathias Behnis, cientista político e porta-voz da frente de resistência
contra a privatização da sociedade berlinense de distribuição de água, e
Benedict Ugarte Chacón, cientista político e porta-voz da iniciativa
berlinense contra o escândalo bancário, publicaram um balanço
particularmente preocupante no jornal Junge Welt, de 20 de agosto de 2011.
[13] A coligação SPD-PDS (até então, tratava-se do PDS que, mais tarde,
participaria da criação do Die Linke) expôs claramente, desde o início de
2002, qual caminho percorreria ao aprovar um fundo de risco para a
Bankgesellschaft Berlín. Ela assumiu os riscos de um fundo imobiliário
criado por bancos no valor 21,6 mil milhões de euros. Desde então, Berlim
administra as perdas anuais destes bancos. O PDS esteve de acordo em
garantir os lucros dos acionistas destes fundos, com ajuda do dinheiro
público.
Ao mesmo tempo, dirigiu uma política monetária estrita em detrimento, por
exemplo, dos subsídios aos cegos, em 2003, ou dos bilhetes sociais para o
transporte público urbano, em 2004, depois que os governos federais
suprimiram os subsídios. Foram necessários enormes protestos sociais para
reintroduzir estes bilhetes, porém a um custo muito mais elevado.
As creches e as universidades deixaram de se subvencionarem. Isto detonou
veementes protestos entre os estudantes e o congresso do PDS, ocorrido em
6 de dezembro de 2003, no luxuoso hotel Maritim, no centro de Berlim, teve
que ser protegido pela polícia de choque, que forçou a evacuação das ruas
com brutalidade.
Em maio de 2003, os pais foram obrigados a gastar até 100 euros com a
compra de livros escolares.
O Die Linke, em Berlim, é igualmente responsável pela piora na situação de
milhares de inquilinos. Em maio de 2004, o governo regional berlinense
vendeu 65.700 casas da sociedade pública de alojamento GSW ao vantajoso
preço de 405 milhões de euros a um consórcio ao qual o Whitehall-Fund, do
banco de investimentos Goldman Sachs e da sociedade de investimentos
Cerberus. Em 2010, permitiu que estas sociedades entrassem na Bolsa de
Valores e transformassem milhares de alojamentos berlinenses em objetos de
especulação.
Da mesma forma, aboliu os subsídios dos proprietários que disponibilizavam
suas casas ao arrendamento social, sem se preocupar com o que aconteceria
aos inquilinos. Nos antigos apartamentos, até então muito baratos,
ocupados, sobretudo, por trabalhadores com baixos salários e por
desempregados, as rendas aumentaram em 17%.
A água que se tornou mercadoria
Em 1999, o antigo governo vendeu 49.9% da antiga sociedade de distribuição
de água berlinense para a RWE e a Vivendo (Veolia). O PDS obteve o posto
de ministro da Economia em 2002, porém não fez nenhuma mudança. O preço da
água aumentou, aproximadamente, 33%. Durante o antigo governo, o PDS fez
campanha contra a privatização parcial da água. Porém, o ministro do PDS,
Wolf, fez exatamente aquilo que era contra: garantiu os benefícios dos
acionistas privados e beneficiou-se com os elevados preços da água.
No acordo de coligação de 2006, Die Linke e o SPD falaram em
comprometer-se com o retorno da sociedade de distribuição de água à
autoridade municipal. Porém, não se fez nada. Pior ainda, opuseram-se, de
todas as maneiras, ao grande movimento extraparlamentar em favor da
publicação do acordo secreto de privatização da sociedade de distribuição
de água. Mais de 666.000 pessoas exigiram que fosse objeto de um
referendo. A coligação fez campanha contra esta ação. Aceitaram o
referendo, obtido forçosamente, porém continuaram opondo-se a toda
iniciativa legal da população.
Tudo o que podem dizer em sua defesa, é a eterna cantilena dos
social-democratas: "Sem nós, teria sido pior". Porém, não. Teria sido
bastante parecido ou, talvez, melhor, pois com sua participação
paralisaram uma parte do potencial de resistência.
Depois de sofrer um golpe nas eleições, queixaram-se de não terem
conseguido impor seus pontos de vista ao SPD. Havia "restrições à
liberdade do movimento", disse o dirigente do partido, Klaus Lederer.
Naturalmente. Porém, quando existe a promessa de participar de um governo
para mudar as coisas, não é surpresa se, no fim das contas, as pessoas
perguntam o que foi modificado.
Nos governos regionais de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, de Brandeburgo
e de Berlim, o partido participou das restrições e dos fechamentos.
Certamente, o Congresso de Erfurt concluiu que a participação no governo
tem sentido.
A participação em governos locais e, inclusive, federais, apenas se
discute no seio do partido. A ala direita da direção aproveita, inclusive,
os maus resultados recentes para reclamar que o partido renuncie a seu
"desejo de permanecer na oposição". Deve declarar abertamente sua intenção
de participar em todos os níveis de governo, particularmente com seu
"companheiro natural de coligação", o SPD. Dietmar Bartsch, um de seus
principais porta-vozes, é apoiado pelo partido do Länder do Leste, onde a
organização é mais numerosa. No Leste, a participação no governo se tornou
norma.
Oskar Lafontaine, considerado como representante da esquerda do partido,
nunca se opôs a que o partido embarque nas coligações do poder – ao
contrário. É keynesiano e sonha com um tipo de Estado de bem-estar
socialmente limitado a nível nacional. O regresso aos anos 70. Junto com
seus companheiros, não deixa de formular os "princípios" ou "condições"
que justifiquem a participação no governo.
"Não podemos deixar o SPD e os Verdes governarem sozinhos. O social só é
possível com a nossa participação". Esse era o título do texto de base da
direção do partido durante seu congresso em Rostock, no ano de 2010. "O
Die Linke pode governar, inclusive melhor que os demais. E nós, em
Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental temos ideias muito claras sobre o que
deve melhorar e como fazê-lo", declara Steffen Bockhahn, presidente
regional do Die Linke no Land Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental [14] .
"Devemos ter alternativas à coalizão CDU-FDP", dizem os dirigentes do
partido. Como se o SPD e os Verdes não estivessem de acordo em fazer os
trabalhadores pagarem os prejuízos causados pela crise! Já não há crítica
radical para estes partidos.
O Die Linke afirma que combina os protestos sociais e políticos,
elaborando possíveis alternativas e transformações políticas no marco do
governo. Porém, é evidente que, atualmente, não existem as correlações de
força que tornem possível o exercício de tal pressão sobre os governos,
que se veem forçados a realizar reformas importantes a favor do povo. A
única consequência da participação governamental é que paralisa os
movimentos de massas e os integra ao sistema, como já visto em Berlim.
As experiências da participação comunista nos governos europeus comprovam
que esta participação não detém as privatizações, a regressão social e nem
as guerras imperialistas. Estas experiências estremeceram a confiança nos
partidos que participam desses governos e mostram que não há diferença com
outros partidos. A participação de um governo burguês, onde os monopólios
capitalistas dominam, debilita as forças anti-capitalistas.
Na Grécia
No entanto, alguns partidos repudiam aprender as lições das ditas
experiências. Provam que se tornaram autênticos partidos
social-democratas, prontos para substituir os antigos, hoje
desacreditados, partidos.
Na Grécia, quanto maiores as possibilidade existentes de uma vitória
eleitoral, mais aceitável seu programa se torna, assim como a seção local
do Partido da Esquerda Europeia, o Syriza, para a direção da UE e para a
burguesia grega. Seu programa governamental [15] se apresentou como um
"plano para colocar fim à crise". "O propósito é unir o povo ao redor do
programa governamental do Syriza com a finalidade de libertar a Grécia da
crise, da pobreza e sua má reputação". Não se menciona em nenhum sítio o
sistema capitalista como o causador da crise: tão somente é mais o
resultado da gestão "neoliberal". O programa se apresenta como social e
fiscalmente equitativo, prometendo anular as medidas mais insuportáveis e
anti-sociais, aumentar o salário mínimo, restaurar o antigo nível de
proteção contra o desemprego e enfermidade. Também promete suprimir os
impostos especiais àqueles que possuem baixo ou médio rendimento. Porém,
este plano só pretende a "estabilização dos gastos básicos em torno de 43%
do PIB, frente aos 36% do relatório e a um máximo de 46% do PIB". A ideia
é colocar a Grécia "no centro atual do seio da zona do euro". É um
programa que não vai mais além do marco capitalista. "Organizaremos a
revitalização da produção do país com importantes investimentos para
apoiar o desenvolvimento de indústrias competitivas". Também promete
congelar a privatização apenas de entidades públicas de importância
estratégia que ainda eram públicas em 2010, quando estourou a crise. Sobre
a dívida, o programa busca um compromisso com a burguesia da UE. Está
muito abaixo do programa de 10 pontos do Syriza das eleições de 6 de maio,
que exigia "uma moratória do pagamento da dívida, negociações para anular
certas dívidas (não à dívida, como exige o KKE) e a regulação da dívida
restante para incluir provisões para o desenvolvimento econômico e o
emprego" [16] . Em 8 de maio, depois das primeiras eleições, Alexis
Tsipras, o dirigente do Syriza, apresentou um programa de cinco pontos
como base para a formação de um "governo de esquerdas". Agora, só pleiteia
"a criação de uma comissão de auditoria internacional para investigar as
causas do déficit na Grécia, com uma moratória do pagamento da dívida em
espera da publicação dos resultados da auditoria" [17] .
Antes das novas eleições de 17 de junho, seu "programa de governo"
limita-se a denunciar os empréstimos (negociados com a Troika)
substituindo suas condições por "outras que não ponham em dúvida a
soberania nacional da Grécia e a sobrevivência econômica de nosso país.
Não se aceitarão sem mais condições como a prioridade no reembolso de
empréstimos ou a apreensão dos bens de propriedade do Estado, como
acordada com os credores no relatório…". Não há reivindicações radicais
que busquem fazer pagar os responsáveis da crise (os burgueses gregos e
europeus e outros bancos...), nem meios para impor suas medidas. Tudo será
negociado. O programa não espera impor "a anulação do regime de imposto
zero para as companhias de transporte e para a Igreja", mas "busca um
acordo" com a indústria marítima para abolir as 58 isenções. Não se diz
nada sobre a criação de um governo capaz de impor suas próprias medidas.
Quer "elevar o nível de impostos ao mesmo nível que o resto da UE", onde a
totalidade da carga recai nas costas da população trabalhadora. Em nenhuma
parte se discute a questão do controle da administração ou do sistema
econômico pelos trabalhadores. Quem vai controlar os patrões, os
banqueiros? Nada se aborda sobre a polícia, o exército. O Syriza permanece
no seio da OTAN, da UE.
As duras lições do passado
As experiências confirmam as posições de Marx, Lênin e a Terceira
Internacional sobre este assunto. Elas repudiam toda a participação, à
exceção de situações nas quais o fascismo constitua uma ameaça real, no
caso de uma situação que possam dar lugar a uma transição para um governo
realmente revolucionário, isto é, em situações pré-revolucionárias
importantes com lutas de classe e correlação de forças favorável (como no
Chile, no início dos anos 70, e em Portugal, em 1975...). Nestas
situações, é possível que devamos selar alianças com forças que
representem camadas não proletárias, porém que são igualmente oprimidas
pelos monopólios ou ameaçadas pelo fascismo ou inimigos exteriores. Porém,
só sob a condição de que este poder evolua ou deseje evoluir para a
democracia popular e para o socialismo, para um Estado diferente
controlado pelos trabalhadores. Não foi o caso do Chile, onde a reação
massacrou socialistas e comunistas, metendo-os no mesmo saco.
O governo dos trabalhadores, tal e como foi proposto pela Terceira
Internacional, se entende como "a frente unida de todos os trabalhadores e
uma coalizão de todos os partidos de trabalhadores, tanto na área
econômica como política, para lutar contra o poder da burguesia e,
finalmente, para derrubá-la". "As tarefas mais fundamentais de tal governo
de trabalhadores devem consistir em armar os trabalhadores, desarmar as
organizações contra-revolucionárias burguesas, introduzir o controle da
produção (pelos trabalhadores), fazer carregar o principal peso dos
impostos sobre os ricos e romper a resistência da burguesia
contra-revolucionária" [18] .
O dito governo dos trabalhadores só é possível se nasce das lutas de
massas e se é apoiado pelas organizações militantes dos trabalhadores.
[19]
Aqueles que justificam uma coalizão com os partidos políticos burgueses
nas instituições parlamentares, utilizam parte dos escritos de Dimitrov
sobre a frente unida contra o fascismo. É certo que Dimitrov criticava as
pessoas que rechaçavam a política da frente unida contra o fascismo, porém
segundo Dimitrov, a frente popular antifascista deve ser criada tendo como
base uma frente unida de trabalhadores. Pede que um governo de frente
popular tome medidas revolucionárias anti-capitalistas: pode surgir "uma
situação tal que a formação de um governo de frente única proletária ou de
frente obedeça aos interesses do proletário. […] Exigimos deste que ponha
em prática as reivindicações revolucionárias radicais, determinadas, que
respondam à situação. Por exemplo, o controle da produção, o controle dos
bancos, a dissolução da polícia, sua substituição pela milícia operária
armada, etc". [20]
Dimitrov alertou contra o fato de que, "manter uma frente popular na
França não significa que a classe operária vá apoiar o atual governo [21]
a todo custo [...]. Se, por uma razão ou outra, o governo existente se
mostra incapaz de fazer valer o programa da Frente Popular, adota uma
linha de retirada ante o inimigo, de seu país e do estrangeiro. Se uma
política debilita a resistência à ofensiva fascista, então, a classe
operária, com o propósito de reassegurar os laços da Frente Popular,
provocará a substituição do atual governo por outro". [22]
É o que aconteceu e o PCF demorou muito tempo para compreender. Em 1936,
depois da vitória eleitoral dos partidos de esquerda, formou-se o governo
Blum de socialistas e radicais, apoiado externamente pelo PCF. Uma enorme
onda de greves exerceu pressão sobre o governo para forçá-lo a satisfazer
as reivindicações que se encontravam no programa da Frente Popular. Porém,
para retomar os termos de seu presidente, o governo se fixou como objetivo
encontrar uma maneira de "procurar um alívio suficiente para aqueles que
sofrem" no marco da sociedade de então. Para Blum, a missão da Frente
Popular consistia em "moderar a sociedade burguesa" e remover "um máximo
de ordem, bem-estar, segurança e justiça". Nessas condições, o impacto
negativo da participação no governo aumentou consideravelmente.
Historicamente, as administrações "de esquerda" presidindo sistemas
capitalistas desmoralizaram e desmobilizaram a classe operária, além de
abrirem caminho para partidos e governos conservadores e, inclusive, de
extrema direita.
O governo de Blum foi derrubado dois anos depois e bastaram dois anos a
mais para que os capitalistas franceses quisessem revanche e recuperassem
as concessões que haviam feito. Por iniciativa do Partido Socialista, o
governo dirigido pelo líder do Partido Radical, Daladier, ilegalizou o PC
em 21 de novembro de 1939 e seus representantes foram submetidos a
julgamento. Em 7 de julho de 1940, os mesmos representantes radicais e
socialistas deram seu voto de confiança ao governo do traidor Pétain.
Inclusive nos períodos em que a participação no governo pode levar à fase
de luta aberta pelo socialismo, é necessária uma extrema vigilância.
Em setembro de 1947, durante uma reunião onde estavam presentes membros do
novo órgão de coordenação dos partidos comunistas depois da Segunda Guerra
Mundial – o Kominform [23] – os participantes criticaram a linha
oportunista do PCF em sua política de frente unida durante a ocupação e
sua participação no subsequente governo.
A burguesia tinha interesse em cooperar com os comunistas durante e depois
da guerra porque era débil. Os comunistas deveriam ter aproveitado essa
situação para ocupar postos-chave, porém não o fizeram. No lugar de
conquistar o apoio das massas para tomar o poder, desarmaram as massas e
semearam ilusões sobre a democracia burguesa e o parlamentarismo.
No lugar de criar a unidade antifascista a partir da base, mediante a
criação de instrumentos emanados das massas, juntando todas as tendências
que estavam realmente dispostas a seguir a via da luta por um poder
revolucionário, os dirigentes do PCF e do PCI cometeram o erro de
construir uma frente por cima, tendo como base uma representação
igualitária dos diferentes partidos, quando o objetivo dos partidos
burgueses era evitar a transformação real do país. Para colocar em prática
esta política, os dirigentes do PCF e do PCI argumentaram que toda
reivindicação diferente à de libertação nacional, toda reivindicação
diferente à de mudanças democráticas radicais e revolucionárias, afastaria
da frente antifascista um número expressivo de grupos sociais e de forças
políticas.
A reunião criticou o PCF por ter permitido e até facilitado o desarmamento
e a dissolução das forças da Resistência sob o pretexto de que a guerra
tinha terminado e que uma ação contra a política de De Gaulle desembocaria
em um confronto com os Aliados. Esta concepção facilitou a tarefa dos
imperialistas preocupados em reconquistar suas posições anteriores à
guerra. Criou ilusões sobre a "democracia" dos imperialistas e sua
capacidade de ajudar na reconstrução, sem outros objetivos, das nações que
foram libertadas do fascismo.
Em geral, os delegados da Conferência reprovaram a persistência nas
ilusões de uma via parlamentarista para o socialismo, na propagação das
mesmas entre as massas no lugar de mobilizá-las contra a política
pró-estadunidense de seus governos e por uma alternativa verdadeiramente
revolucionária. [24]
Agora menos que nunca
A primeira pergunta persiste: qual é o caráter da sociedade na qual um
partido comunista queira participar do governo? É um Estado capitalista.
Sua base econômica é o capitalismo e sua tarefa é, obviamente, administrar
o capitalismo, proteger e criar condições favoráveis ao sucesso de seu
desenvolvimento. Este Estado adota uma constituição, leis e
regulamentações que possuem como objetivo garantir a ordem constitucional,
criar as condições para o desenvolvimento do capital e evitar conflitos no
seio da sociedade.
A política hostil com os trabalhadores nestes Estados não revela políticos
malvados e nem os maus partidos, com programas maliciosos. Enquanto a
propriedade privada dos meios de produção reinar, enquanto as empresas
devem competir para sobreviver, deverão acumular, aumentar seus lucros,
reduzir os salários, repudiar as reivindicações sociais. A esta lei não se
podem opor "bons" políticos no governo com ideias e programas "corretos".
O capitalismo atual já não pode, como esperava Lafontaine, voltar à época
da chamada "economia social de mercado" com cooperação social. Foi um
episódio que deve ser situado no contexto da rivalidade ideológica entre
socialismo e capitalismo, da força dos partidos comunistas após a
Resistência, quando podiam atender às reivindicações a partir dos lucros
da fase da reconstrução do pós-guerra.
Isto já não é possível e nem obviamente necessário na lógica capitalista.
Os 25 milhões de desempregados oficiais da UE, que exercem uma pressão
sobre os salários e os mercados de trabalho, hoje mundialmente acessíveis,
reduzem o preço da mão-de-obra. O custo do desemprego duplica o orçamento
social: os salários em baixa proporcionam menos receita aos fundos de
segurança social e, cada vez mais, existem beneficiários para serem
atendidos por esses fundos.
O colapso do sistema de segurança social não é mais que uma questão de
tempo se não houver um combate de envergadura para fazer com que o capital
pague impostos. Além disso, as arrecadações dos impostos sobre os lucros
das empresas vão em baixa, apesar de os lucros crescerem: necessitam-se
reduções suplementares aos impostos para reforçar os capitais nacionais
nos mercados internacionais.
O Estado capitalista trabalha para criar as condições favoráveis para o
crescimento da rentabilidade das empresas, para criar novos mercados
graças à privatização e à redistribuição do rendimento nacional em favor
dos possuidores de capital. Está aí para fazer calar ou reprimir a classe
operária nacional e para garantir os interesses do capital em outras
regiões.
De modo que a participação em governo nestas condições significa
unicamente a participação na regressão social, inclusive ainda que
alcançada lentamente. Significa desarmar a resistência e dar falsas
esperanças ao movimento operário.
Antigos partidos comunistas escolheram participar do poder, sabendo, com
certeza, que isto significa governar sob os interesses do capital e
participar da destruição das conquistas sociais obtidas após as lutas do
movimento operário.
A participação no governo contribuiu para desmobilizar a resistência tão
necessária e o desenvolvimento de um contrapoder. Atualmente, para
modificar o equilíbrio das forças de classe, devemos nos unir em numerosos
combates defensivos contra a regressão social, com a finalidade de criar
um movimento político independente de trabalhadores e daqueles a quem se
impede trabalhar e difundir uma consciência anti-capitalista no seio do
movimento operário.
A debilidade dos comunistas e dos sindicatos com uma clara orientação
anti-capitalista é a principal causa do domínio agressivo do capital na
maior parte dos países capitalistas.
Necessitamos um programa político alternativo e devemos lutar por ele. Que
inclua reivindicações imediatas, porém que também possua a palavra de
ordem da abolição das relações capitalistas de propriedade. Estas
reivindicações não devem se dirigir a potenciais sócios no seio de um
governo de esquerdas (que não existe), mas a um movimento operário
organizado e a outras camadas exploradas da sociedade. Devem dirigir-se
aos sindicatos, a todo tipo de organizações populares ativas em todos os
domínios da luta social, democrática, anti-imperialista e cultural.
A verdadeira pergunta é saber de que maneira os partidos comunistas se vão
preparar para as batalhas que virão, como se vão organizar para serem
capazes de assumir eficazmente a carga das novas lutas da classe operária
e da população trabalhadora no sentido amplo. A crise leva grandes massas
de trabalhadores a dar as costas à social-democracia. Não devemos lhes
oferecer uma sociedade social-democrata renovada. É necessário um partido
revolucionário que tenha em conta o nível de consciência atual, que faça
seus os problemas do povo, que fale uma linguagem acessível, que busque a
unidade do maior número possível de pessoas na luta. Porém, que não
esqueça seus princípios, que mantenha o rumo para uma sociedade na qual
não exista exploração do homem pelo homem, uma sociedade sem propriedade
privada dos meios de produção, uma sociedade em que os trabalhadores sejam
realmente livres e com um Estado que proteja a liberdade da vasta maioria
contra a opressão de uma minoria.
[1] " Socialism's comeback ", New Statesman, diciembre 2008,
www.newstatesman.com/europe/2008/12/socialist-partysocialism?page=5 .
[2] Fausto Bertinotti e.a., Tesi maggioranza (tese da maioria), V
Congresso Nazionale, 2002, Partito della Rifondazione Comunista. Todas as
citações sobre o PRCI provém da obra "La clase obrera en la era de las
multinacionales" "A classe operária na era das multinacionais"), de Peter
Mertens: http://www.jaimelago.org/node/7. (As teses em italiano :
www.d-meeus.be/marxisme/modernes/Bertinotti63Tesi.html ).
[3] Partito della Rifondazione Communista. VI Congresso Nazionale.
Relazione introduttiva del segretario Fausto Bertinotti.
[4] Partito della Rifondazione Comunista. VI Congresso Nazionale.
Conclusioni del segretario Fausto Bertinotti.
[5] La Stampa, 4 de março de 2005, p. 7, www.archiviolastampa.it/ .
[6] Le Nouvel Observateur, 10 de fevereiro de 1984.
[7] Michael Scherer, Amy Paris e.a., " Campaign inflation ", en The Mother
Jones 400, março 2001,
www.motherjones.com/news/special_reports/mojo_400/index.html .
[8] Junge Welt, 8 de abril de 2004, www.jungewelt.de/2004/04-08/004.php .
[9] Parti de la Gauche européenne, " Manifeste du Parti de la Gauche
européenne ", 10 de maio de 2004.
[10] Ibidem.
[11] United Nations Economic and Social Council, 20 de Maio de
2011.Concluding Observations of the Committee on Economic, Social and
Cultural Rights. Alemanha,
www.agfriedensforschung.de/themen/Menschenrechte/deutsch-un.pdf
[12] Programme of the Die Linke Party en.dielinke.de/...
[13] Mathias Behnis et Benedict Ugarte Chacón "Die Überflüssigen:
Hintergrund. Harmlos, farblos und immer treu zur SPD. Zehn Jahre
Regierungsbeteiligung der Linkspartei in Berlin — eine unvollständige
Bilanz des Scheiterns",
www.jungewelt.de/loginFailed.php?ref=/2011/08-20/024.php .
[14] Disput, junho de 2010.
[15] transform-network.net/de/...
[16] hellenicantidote.blogspot.be/...
[17] www.ekathimerini.com/4dcgi/_w_articles_wsite1_1_08/05/2012_441181
[18] www.contre-informations.fr/komintern/komintern/5.html#A point XI
[19] www.marxists.org/francais/inter_com/1922/ic4_01.htm
[20] Georgi Dimitrov, L'Offensive du fascisme et les tâches de
l'Internationale communiste dans la lutte pour l'unité de la classe
ouvrière contre le fascisme,
actionantifasciste.fr/documents/analyses/28.html
[21] O governo da Frente popular de socialistas e radicais dirigido por
Léon Blum, ver mais adiante.
[22] Georgi Dimitrov, OEuvres choisies, t. 2, p. 160, Sofia Presse
[23] Em 1943, foi desfeita a Terceira Internacional. Após a derrota do
fascismo, foi restaurada sob o nome de Kominform. Esta se reuniu somente
três vezes. Durante suas sessões, que ocorreram de 23 a 26 de setembro de
1947, discutiu-se em pormenor a situação na França e na Itália.
[24] Intervenção de Djilas de 25 de setembro de 1947. Giuliano Procacci
(red.), The Cominform: Minutes of the Three Conferences 1947/1948/1949,
Milan, Fondazione Giangiacomo Feltrinelli & Russian Centre of Conservation
and Study of Records for Modern History (RTsKhIDNI), 1994, pp 255-257.
Citado en Peter Mertens, " La clase obrera en la era de las
multinacionales " http://www.jaimelago.org/node/7 .
[*] Redator-chefe da Estudos Marxistas, www.marx.be
A versão em castelhano encontra-se em www.pcpe.es/ . A tradução do PCB
encontra-se em pcb.org.br/... (efectuadas pequenas alterações).
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
08/Mar/13
http://www.resistir.info/europa/lerouge_15fev13.html
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