sexta-feira, 7 de março de 2014

A propaganda domina os noticiários



Paul Craig Roberts

É sabido que nos tempos que correm não há ofensiva imperialista que não seja
acompanhada de uma campanha global de propaganda, desinformação, manipulação e
mentira nos grandes media. É o que está a suceder mais uma vez no caso da
Ucrânia, entre outros exemplos actuais.


Gerald Celente chama aos media ocidentais “presstitutes”(1) , um termo engenhoso
que uso muitas vezes. As presstitutes vendem-se a Washington para acederem às
fontes do governo e manterem os seus empregos. Desde que o regime corrupto de
Clinton permitiu a concentração dos média dos EUA que não há independência
jornalística, à excepção de algumas páginas na Internet. Glenn Greenwald
assinala a independência que a RT, uma organização russa de média, permite a
Abby Martin, que denunciou a alegada invasão russa da Ucrânia, comparada com o
destino que tiveram Phil Donahue (MSNBC) e Peter Arnett (NBC), ambos despedidos
por se oporem ao ataque ilegal ao Iraque por parte do regime de Bush. O facto de
Donahue ter o programa mais cotado não lhe conferiu independência jornalística.
Qualquer pessoa que fale a verdade na imprensa norte-americana ou na TV ou na
NPR é imediatamente despedida.
A RT parece de facto acreditar e observar os valores que os norte-americanos
professam, mas não honram. Concordo com Greenwald. Pode ler-se o artigo dele
aqui: http://www.informationclearinghouse.info/article37842.htm. Greenwald é
inteiramente admirável. É inteligente, íntegro e corajoso. É um dos bravos
homens a quem dedico o livro que acabo de publicar, How America Was Lost [Como
Se Perdeu a América]. Quanto a Abby Martin, da RT, admiro-a e fui convidado para
ir ao seu programa várias vezes.
A minha crítica a Greenwald e a Martin não tem nada que ver com a integridade do
seu carácter. Duvido das alegações de acordo com as quais Abby Martin apoiou a
“invasão da Rússia à Ucrânia” para ter mais oportunidades de se mudar para
órgãos de comunicação social “mais alinhados”. O meu argumento é diferente. É
que mesmo Abby Martin e Greenwald, que nos ajudam a compreender muitas coisas,
não podem escapar por completo à propaganda ocidental. Por exemplo, a denúncia
que Martin fez da Rússia, por “invadir” a Ucrânia baseia-se em propaganda
ocidental, segundo a qual a Rússia enviou 16 000 tropas para ocupar a Crimeia. O
facto importante aqui é que essas 16 000 tropas estão na Crimeia desde os anos
1990s. De acordo com o acordo Russo-Ucraniano, a Rússia tem direito a
estabelecer 25 000 tropas na Crimeia. Aparentemente, nem Abby Martin nem Glenn
Greenwald, duas pessoas inteligentes e conscientes, sabiam deste facto. A
propaganda de Washington é tão generalizada que dois dos nossos melhores
repórteres foram vítimas dela. Como escrevi várias vezes nas minhas colunas,
Washington organizou o golpe na Ucrânia de modo a promover a sua hegemonia
mundial capturando a Ucrânia para a NATO e colocando bases de mísseis na
fronteira russa, de modo a bloquear o potencial nuclear dissuasor da Rússia e
forçá-la a aceitar a hegemonia de Washington. A Rússia nada fez senão responder,
em tom muito baixo, a uma forte ameaça estratégica orquestrada por Washington.
Não foram apenas Martin e Greenwald que caíram na propaganda de Washington. A
eles se juntou Patrick J. Buchanan. A coluna de Pat alegando a que os leitores
“resistam a tomar o partido da guerra na Crimeia” abre com o apelo
propagandístico de Washington: “Com o envio de tropas russas para a Crimeia por
Vladimir Putin” (http://www.informationclearinghouse.info/article37847.htm)Esse
envio não teve lugar. A Duma russa deu a Putin a autoridade para enviar tropas
para a Ucrânia, mas Putin já declarou publicamente que o envio de tropas seria o
último recurso para proteger os russos da Crimeia de invasões pelos neonazis
ultranacionalistas que roubaram o golpe a Washington e se estabeleceram no poder
em Kiev e a ocidente da Ucrânia. Portanto, aqui temos três dos mais inteligentes
e independentes jornalistas do nosso tempo, e todos têm a impressão, criada pela
propaganda ocidental, de que a Rússia invadiu a Ucrânia.Parece que o poder da
propaganda de Washington é de tal forma, que nem mesmo os melhores e mais
independentes jornalistas escapam à sua influência. Que hipótese resta à verdade
quando Abby Martin recebe elogios de Glenn Greenwald por denunciar uma alegada
“invasão” da Rússia que não teve lugar, e quando o independente Pat Buchanan
abre a sua coluna, em que diverge da multidão que aponta as culpas à Rússia,
aceitando que teve lugar uma invasão? Toda a história que as “presstitutes”
contaram sobre a Ucrânia é produto de propaganda. Elas disseram-nos que o
presidente deposto, Viktor Yanukovych, deu ordens a atiradores para alvejar
manifestantes. Com base nestes falsos relatórios, os fantoches de Washington,
incluindo o actual não-governo em Kiev, emitiram ordens de prisão para
Yanukovych e pretendem que este seja julgado num tribunal internacional. Numa
chamada telefónica interceptada entre a ministra dos estrangeiros da União
Europeia Catherine Ashton, e o ministro estónio dos estrangeiros Urmas Paet, que
acabara de regressar de Kiev, este relata: “Há agora uma percepção cada vez mais
sólida de que por trás dos atiradores não estava Yanukovych mas alguém da nova
coligação.” Paet prossegue o relato afirmando que “todas as evidências mostram
que as pessoas que foram mortas por atiradores de ambos os lados, entre polícias
e depois pessoas nas ruas, eram os mesmos atiradores que matavam pessoas de
ambos os lados … e é preocupante que agora a nova coligação não queira
investigar o que se passou exactamente”. Ashton, concentrada nos planos da UE
para conduzir as reformas na Ucrânia e preparar o caminho para o FMI ganhar
controlo sobre a política económica, não ficou particularmente satisfeita ao
ouvir Paet relatar que essas mortes foram uma orquestração provocada. Pode-se
ouvir a conversa entre Paet e Ashton aqui:
http://rt.com/news/ashton-maidan-snipers-estonia-946/ O que aconteceu na Ucrânia
é que Washington conspirou contra e derrubou um governo legitimamente eleito e
depois perdeu o controlo para os Neonazis que ameaçam a maior parte da população
russa a sul e leste da Ucrânia, províncias que eram anteriormente da Rússia.
Estes russos ameaçados apelaram à Rússia por ajuda, e tal como os russos na
Ossétia do Sul, receberão a ajuda russa.
O regime de Obama e as suas “presstitutes” continuarão a mentir sobre tudo e
mais alguma coisa. Tradução de André Rodrigues (1)Trata-se de um jogo de
palavras entre “press” e “prostitute”, que se refere aos jornalistas e, num
sentido mais amplo, como neste caso, aos grandes meios de comunicação social
que, subservientes do poder político e, sobretudo, dos grandes grupos
económicos, não observam a independência e a função crítica necessárias ao
exercício da sua profissão.

In
http://www.odiario.info/?p=3204
7/3/2014

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