sexta-feira, 29 de julho de 2016
Manifesto da Assembleia Popular da Economia Solidária
Reunidas e reunidos em Santa Maria da Boca do Monte, no Rio Grande
do Sul, nos dias 08 a 10 de julho de 2016, durante a 23ª FEICOOP,
nós, trabalhadoras e trabalhadores da economia popular solidária,
oriundos de todas as regiões do Brasil, realizamos a I Assembleia
Nacional de Economia Popular Solidária e aprovamos o presente
Manifesto.
Denunciamos o golpe que está em curso no Brasil, enquanto ruptura
com a Constituição Brasileira, o Estado Democrático de Direito e com
a soberania popular expressa nos 54 milhões de votos que elegeram a
Presidenta Dilma Rousseff. O golpe é produto de uma ação coordenada
de atores nacionais e internacionais que se unificaram no ataque ao
governo constitucional como requisito para atingir seus objetivos, a
exemplo, do controle sobre as reservas nacionais de petróleo e o
desmantelamento dos direitos da classe trabalhadora.
O golpe, além de uma forte ofensiva neoliberal e imperialista que se
estende aos governos progressistas na América Latina, comporta ainda
uma regressão civilizacional, com a degradação dos valores básicos
de sociabilidade, respeito, solidariedade e alteridade entre as
pessoas. A cultura do ódio tem sido disseminada pela grande mídia e
por movimentos de extrema direita, produzindo um senso comum de
caráter fascista e misógino que atinge diretamente os direitos
humanos.
Por outro lado, ocorre a ampliação da resistência social diante da
truculência do governo e das forças golpistas perante as políticas
públicas progressistas, formuladas na última década, bem como diante
da afronta aos direitos constitucionais conquistados durante o
processo de redemocratização. Neste contexto, a luta das mulheres,
da juventude e da cultura ganham protagonismo e a conformação de
duas frentes nacionais - Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem
Medo - compõem o repertório da resistência contra o golpe. Mesmo com
diferentes leituras e caracterização do governo Dilma, essas frentes
estão unificadas em torno da luta pela redemocratização do país com
a palavra de ordem: “Fora Temer”.
Os sujeitos políticos da economia solidária somam-se à luta contra o
golpe e pela democracia. A I Assembléia Nacional da Economia Popular
Solidária aprofunda esse compromisso ao traçar diretrizes para o
conjunto do campo da economia solidária em articulação com os demais
movimentos de resistência.
Esse golpe interrompe um ciclo de conquistas resultantes do pacto
democrático consolidado na Constituição de 1988 e na relação da
sociedade civil com o Estado, sobretudo, nos últimos 13 anos. O
Movimento da Economia Popular Solidária no Brasil constituiu um
espaço no governo federal para promover a economia solidária
enquanto política e estratégia de desenvolvimento. Durante esse
período, foram construídos e fortalecidos canais democráticos de
participação e controle social, principalmente nas três conferências
públicas e no Conselho Nacional de Economia Solidária (CNES),
valorizando o diálogo com os fóruns, redes e demais organizações,
além de transversalizar suas ações em diversas áreas e setores de
políticas públicas.
Esse processo, no entanto, foi bruscamente interrompido e está
ameaçado com o golpe que se abateu sobre o país. Foram extintos
ministérios, secretarias e políticas públicas de cunho emancipatório
que haviam sido conquistados pelos movimentos sociais e que
expressavam a ampliação de direitos para segmentos da população
historicamente excluída, a exemplo de povos do campo, catadores e
catadoras de materiais recicláveis, população em situação de rua,
negros e negras, indígenas, mulheres, jovens, LGBTTT, povos e
comunidades tradicionais e de matriz africana e pessoas que sofrem
transtorno mental, entre outros.
O desmonte das políticas emancipatórias é acompanhado pela
criminalização dos movimentos sociais, pela destruição de valores da
democracia e pela usurpação dos espaços do poder público por agentes
golpistas, como está ocorrendo com a economia solidária e a SENAES.
A desvinculação dos processos democráticos e efetivos de diálogo
social significa desviar a política dos seus sentidos, práticas e
significados, abrindo brechas para os padrões políticos
característicos do clientelismo e para a imposição dos interesses do
capital internacional acompanhados de práticas patrimonialistas e
autoritárias.
Nesse contexto, estabelecemos:
LINHA GERAL
Diante da crise política, econômica e civilizacional em que vive o
Brasil, a Economia Popular Solidária se articulará com as frentes
populares e movimentos de resistência ao golpe e construirá uma
estratégia nacional de mobilização e fortalecimento da economia
solidária, do trabalho associado e da autogestão, por meio da
convergência das centrais de representação de cooperativas e
empreendimentos solidários, das entidades, dos fóruns e dos
movimentos sociais que compreendem que o momento atual é de
construir um grande movimento nacional em torno da disputa por um
modelo de desenvolvimento soberano, justo, sustentável e solidário.
OBJETIVOS
1° Construir diretrizes estratégicas de enfrentamento ao golpe, de
mobilização e fortalecimento do movimento da economia solidária, do
trabalho associado e da autogestão.
2° Afirmar à sociedade o projeto político, econômico e social da
economia popular solidária como estratégia de desenvolvimento justo,
cooperativo, sustentável e solidário.
DIRETRIZES
Diretriz Estratégica 1 - Realizar análise de conjuntura nacional e
internacional em todas as atividades da economia solidária que
ocorram nos territórios, municípios, estados com o objetivo de
fortalecer politicamente o Movimento Nacional da Economia Solidária.
Diretriz Estratégica 2 – Aderir publicamente e participar ativamente
das Frentes Brasil Popular (FBP) e/ou Povo Sem Medo (PSM) no âmbito
nacional, estadual e local.
Diretriz Estratégica 3 – O movimento de economia solidária não
reconhece o governo golpista e, portanto, não dialogará
politicamente com o mesmo e atuará de forma combativa reivindicando
suas conquistas e políticas públicas de economia solidária e de
direitos.
Diretriz Estratégica 4 – Frente à atual conjuntura nacional, é
necessário um grande mutirão de lutas, resguardando as
especificidades locais e territoriais. Neste sentido, fica criado um
canal de articulação do movimento nacional de economia solidária em
luta pela democracia, como espaço de comunicação e concertação entre
as entidades, redes, fórum brasileiro de economia solidária,
centrais de representação de cooperativas e empreendimentos
solidários e outros movimentos e organizações da economia solidária.
Por fim, conclamamos a todas as trabalhadoras e todos os
trabalhadores associados e demais militantes da economia popular
solidária a unificar a luta para derrotar o golpe e construir outro
modelo de desenvolvimento justo, cooperativo, sustentável e
solidário no Brasil e na América Latina.
Por um Brasil Democrático, #ForaTemer!
A seguir, apresentamos as ações definidas durante a assembleia para
cada Diretriz Estratégica:
Diretriz Estratégica 1 - Realizar análise de conjuntura nacional e
internacional em todas as atividades da economia solidária que
ocorram nos territórios, municípios, estados com o objetivo de
fortalecer politicamente o Movimento Nacional da Economia Solidária.
Ações:
1- Socializar o documento de análise apresentado na assembléia para
orientar a análise, o Manifesto aprovado na assembléia, e o livro do
Betinho “como fazer uma análise de conjuntura”. Para esta
socialização, se possível criar um site alimentado cotidianamente
para comunicar elementos para analise de conjuntura e crie
identidade para a articulação.
2- Realizar e promover agenda de análise de conjuntura nos
territórios e em todo e qualquer espaço da ecosol, fazendo parte da
dinâmica cotidiana dos mesmos: feiras, encontros, reuniões dos
fóruns, empreendimentos e organizações locais, municipais e
nacionais, etc, tendo como referência pelo menos os documentos acima
citados, criando espaços de convergência e diálogo através do
convite e participação de atores diferentes para contribuir na
análise, como representantes das frentes, educadores populares,
entre outros, e em diálogo e maior alinhamento entre todas as
instâncias do Fórum Brasileiro de Economia Solidária.
3- Ocupar as praças, praias e as ruas com dinâmicas que incorporem
leitura, música e que provoquem a análise de conjuntura com a
população de modo que possamos absorver as reflexões e propostas de
ação que vem de todos e todas, ajudando-nos a esclarecer e
compreender como pensam as pessoas que não estão no movimento.
4- Construir Assembléias similares a Nacional nas diferentes regiões
para Análise de conjuntura e construção de estratégias regionais.
5- Realizar processos de formação continuada e incluir na analise de
conjuntura as questões subjetivas - saúde mental, gênero, raça, etc
6- Criar e fortalecer espaços de visibilização e de denúncia de
violação de direitos humanos e de criminalização dos movimentos
sociais.
Diretriz Estratégica 2 – Aderir publicamente e participar ativamente
das Frentes Brasil Popular (FBP) e/ou Povo Sem Medo (PSM) no âmbito
nacional, estadual e local. Ações:
1- A adesão as duas Frentes, pelas bases do movimento de economia
solidária deve ser feita a partir da apropriação da carta de
princípios do FBES pelos participantes dos Fóruns locais de Economia
Solidária e a partir das análises de conjuntura realizadas. Pode-se
montar comissões nas bases do movimento para orientar a participação
das mesmas nas duas Frentes, reafirmando que a plenária de cada
movimento é soberana.
2- Fortalecer as frentes já existentes através da criação de comitês
de economia solidária nas mesmas e/ou da participação dos atos de
mobilização e dos debates das frentes se informando das suas
reuniões para compor nas várias instâncias: que cada espaço seja
espaço de luta, como espaços de feiras disponíveis para as frentes e
fortaleça a comunicação da Economia Solidária com as mesmas.
3- Dar visibilidade da economia solidária com faixas e cartazes
específicos que identifiquem o movimento, levando as demandas da
economia solidária a partir da base e apresentando a carta de
princípios do movimento e o Manifesto desta Assembleia Nacional.
4- Participar ativamente dos atos e mobilizações como estratégia de
formação e ter um material impresso orientando a participação nas
frentes e formação de comitês.
Diretriz Estratégica 3 – O movimento de economia solidária não
reconhece o governo golpista e, portanto, não dialogará
politicamente com o mesmo e atuará de forma combativa reivindicando
suas conquistas e políticas públicas de economia solidária e de
direitos. Ações:
1- Não ter diálogo de forma alguma até que seja deliberado sobre o
impeachment, no fim de agosto. Depois é preciso fazer um balanço e
criar as estratégias para garantir o PPA e os recursos da economia
solidária caso seja o governo Temer ou caso seja o governo Dilma
garantir os avanços deliberados na conferência.
2- Construir um dia nacional de luta para o movimento de economia
solidária, demonstrando que os direitos conquistados se devem à luta
e dos movimentos populares construídas pela base.
3- Escracho em todos os atos em que o secretário e qualquer
dirigente deste governo golpista participar.
4- Participar nos conselhos gestores que são de execução de
convênios. Em qualquer convênio, o diálogo será com os técnicos.
5- Em todos os espaços, deixar claro nossa posição com algum
material visual.
6- No Grito dos Excluídos, participar do ato com a entrega do
Manifesto desta Assembleia
Diretriz Estratégica 4 – Frente à atual conjuntura nacional, é
necessário um grande mutirão de lutas, resguardando as
especificidades locais e territoriais. Neste sentido, fica criado um
canal de articulação do movimento nacional de economia solidária em
luta pela democracia, como espaço de comunicação e concertação entre
as entidades, redes, fórum brasileiro de economia solidária,
centrais de representação de cooperativas e empreendimentos
solidários e outros movimentos e organizações da economia solidária.
- Este canal de articulação não representa politicamente o movimento
de economia solidária em nenhum espaço
- Este canal de articulação é composto inicialmente por 1
representante titular e 1 suplente de: centrais de cooperativas
eempreendimentos solidários, centrais sindicais, movimentos
nacionais, o Fórum Brasileiro de Economia Solidária e entidades
nacionais da Economia Solidária.
- Este canal de articulação é aberto a novas adesões, desde que haja
concordância com o Manifesto da Assembleia Nacional do Movimento da
Economia Popular Solidária.
- Ela deve funcionar de maneira autogestionária com recursos das
próprias estruturas. Ações:
1- A Economia Solidária deve chamar o movimento de diálogos e
convergência para fortalecer as ações do movimento, e a juventude
precisa ser contemplada neste processo.
2- Definir data da primeira reunião do canal e a forma de
comunicação para articular os processos nacional e local.
3- Divulgar este espaço para as possíveis novas adesões.
4- Criar espaços de formação e capacitação para o trabalho nos
princípios de economia solidária, promovendo a formação de
trabalhadores e trabalhadoras por trabalhadores e trabalhadoras.
Formação técnica e profissional para promoção do trabalho autônomo e
cooperativistas.
5- Os Fóruns têm que garantir estratégias de sustentabilidade que os
tornem independentes dos recursos públicos e garantam a autogestão
do movimento de economia solidária. Seguindo o exemplo dos
empreendimentos na construção dos fundos solidários. O acesso a
recursos públicos deve se dar como acesso a direitos conquistados
pelos movimentos populares, garantindo autonomia e autogestão dos
Fóruns em todas as suas instâncias.
In
FÓRUM BRASILEIRO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA
http://www.fbes.org.br/
20/7/2016
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário