quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019
Ataque à Previdência: A farsa que antecede a tragédia
Henrique Júdice Magalhães
Em dezembro último, a Sociedade Italiana de Gerontologia e Geriatria
declarou que só a partir dos 75 anos (e não mais 65) alguém deve ser
considerado idoso naquele país. A principal razão é o aumento da
expectativa de vida, que, em 2016, chegou a 83,4 anos.
Um mês depois, a Itália reduziu de 67 para 62 anos (homens) ou 58
(mulheres) a idade mínima de aposentadoria para quem não atingir o tempo
de contribuição que a dispensa, além de manter mais duas combinações com
idade mais alta e menos tempo de trabalho.
No Brasil, a expectativa de vida é bem menor (75 anos). Mas o governo
quer acabar com a aposentadoria por tempo de contribuição e impor idades
mínimas maiores: 65 (H) e 62 anos (M), que aumentariam cada vez que ela
crescer, sem redução se ela cair.
A média salarial que embasa o valor da aposentadoria passa a abranger os
salários mais baixos, hoje descartados. O percentual dela pago a quem se
aposentar com a quantidade mínima de contribuições cai de 85 para 60%,
embora esta suba de 180 para 240.
É o que, entre outras coisas, prevê a Proposta de Emenda Constitucional
(PEC) 6, enviada à Câmara em 20/02. Seu signatário, o ministro da
Economia, Paulo Guedes, invoca como motivo o aumento da expectativa de vida.
Mas viver mais não significa – menos ainda no atual quadro brasileiro de
terra arrasada – ter reais condições de trabalhar, encontrar trabalho ou
depender dele para o sustento.
Há um indicador que expressa parcialmente isso: a expectativa de vida
saudável (EVS). O IBGE não a calcula. A Organização Mundial de Saúde
(OMS) o faz, com uma metodologia frouxa: o Escritório de Estatísticas da
União Europeia (Eurostat) indica uma cifra 6 anos menor que a da OMS
para a Itália, 10 para a França e 14 para Portugal e a Suíça. Como o
Eurostat só calcula indicadores de seu continente, resta imaginar a
quanto seus critérios, que apontam uma EVS inferior a 64 anos como média
da a UE, reduziriam os 66 que a OMS diz ser a do Brasil.
*Viver mais... e pior*
Aqui, embora menos que na Europa, a elevação da expectativa de vida é um
fato. Mas, muito mais que lá, a degradação das condições de trabalho
também o é.
Quando foi mais desgastante (pelo trânsito) e perigoso (pelo risco de
roubos e outros atos violentos) dirigir um ônibus? Em 1964, quando João
Goulart reconheceu esse trabalho como penoso e reduziu a 25 anos o tempo
para os motoristas se aposentarem? Em 1995, quando FHC revogou isso,
jogando-os na regra geral dos 35 anos de trabalho? Ou em 2019, quando
Bolsonaro quer proibi-los de se aposentar antes dos 65?
Quando foi mais duro lecionar? Nos anos 60, quando os professores eram
autoridades incontrastáveis em sala de aula? Ou agora, que trabalham
espremidos entre imposições de uma burocracia perversa, caprichos de
famílias obscurantistas e efeitos dessas disfuncionalidades sobre o
comportamento das crianças – isso quando não têm as aulas interrompidas
a tiros de fuzil, como se tornou comum no Rio, e alunos assassinados?! A
aposentadoria, claro, não é solução ou sequer resposta a isso. Mas
obstá-la em tal contexto é uma perversidade adicional.
O aumento da duração da vida é motivo para equacionar a arrecadação da
Previdência, não para bloquear o acesso a seus proventos. A resposta à
mudança demográfica – e à automação – seria reduzir o peso da
contribuição sobre a folha de pagamento (vinculada ao número de
trabalhadores) e aumentar o daquelas sobre o faturamento e o lucro.
*Pior que banco*
A PEC 6 preconiza o oposto: um regime de capitalização individual, a
pretexto de que a queda na relação ativos/aposentados torna as
contribuições dos primeiros insuficientes para pagar os segundos e a
‘solução’ é cada um poupar para sua própria aposentadoria.
A diferença entre esse modelo e o de repartição pura (em que as
aposentadorias são pagas unicamente pelas contribuições dos ativos, o
que não é o caso do INSS) é só escritural. Num e noutro, se a proporção
contribuintes/aposentados cai abaixo de um determinado nível, sairá mais
dinheiro do que entra. Depósitos bancários são perfeitamente separados,
com identificação dos titulares; mas basta uma certa quantidade destes
resgatar suas economias ao mesmo tempo para quebrar o banco.
Com os fundos previdenciários de capitalização, ocorrerá o mesmo, pois
seus gestores não deixam o dinheiro no cofre: como os banqueiros (que é
o que, em geral, são), vivem de usa-lo enquanto o titular não o resgata.
Mas enquanto o Fundo Garantidor de Crédito protege os depósitos
bancários até R$ 250 mil e a perda recai sobre os acionistas, os fundos
previdenciários têm como “donos” formais os próprios trabalhadores e
aposentados. Seus dirigentes, na ficção jurídica que criaram, apenas
prestam a estes o serviço de administrar o dinheiro, cobrando uma taxa
sobre o valor descontado e outra sobre o rendimento.
Daqui a 40 anos, quando os trabalhadores que começarem agora a descontar
para esses fundos se aposentarem, a tendência demográfica, se mantida,
quebrará esses fundos, se forem geridos satisfatoriamente: uma gestão
inepta ou fraudulenta os quebra antes. Num caso ou noutro, quem tiver
descontado para eles fica sem aposentadoria e o Estado terá que
reassumir a Previdência. Mas, até lá, os filhos dos gestores estarão
riquíssimos.
*Moeda de troca*
Dos anos 70 à metade dos 90, os bancos ganharam oceanos de dinheiro com
a inflação. Quando isso levou o país a uma situação-limite, trocaram-na
pelo ganho com os altíssimos juros que recebem do Estado como credores
da dívida pública e servem de piso a outros ainda mais altos que cobram
de seus clientes. O instrumento dessa repactuação entre o sistema
financeiro, o Estado e o resto do bloco dominante foi o Plano Real.
Agora, quando o que leva a economia brasileira a um beco sem saída são
os juros, o Estado, para baixa-los, oferece aos bancos a arrecadação da
Previdência. Isso foi dito ao /Valor Econômico/de 28.12 pelo general
vice-presidente Antônio Hamilton Mourão:
*/Valor: /*/O Brasil está quebrado.../
*/Mourão: /*/Eu sei disso, pagamos R$ 400 bilhões por ano de juros,
temos um déficit de R$ 139 bilhões (...). Por isso precisamos aprovar
essas reformas, porque com a melhoria do nosso rating nós podemos até
emitir títulos pagando juros menores (...), fazer uma repactuação dessa
dívida, podemos alongar o prazo./
Cada transição dessas reforçou os ganhos e a posição dos bancos, trouxe
compensações a outros grupos dominantes (hoje quase reduzidos ao
latifúndio, também financeirizado em grande medida) e degradou a vida do
povo. Todas foram edulcoradas como benéficas e/ou inevitáveis pela
imprensa mercantil monopolista, facções parlamentares e economistas do
sistema – “liberais” que comem na mão da burguesia compradora, ou
“desenvolvimentistas” que vivem no colo da fração burocrática
propriamente dita.
In
A NOVA DEMOCRACIA
https://anovademocracia.com.br/noticias/10442-ataque-a-previdencia-a-farsa-que-antecede-a-tragedia
23/2/2019
sábado, 23 de fevereiro de 2019
Enfim (um dia de) greve geral!
Factos que os media corporativos escondem
Enfim (um dia de) greve geral!
por Rémy Herrera
Quarta-feira, 5 de fevereiro de 2019 foi, em França, uma jornada de greve
geral e de manifestações. O apelo foi lançado a nível nacional pela CGT
(Confederação Geral do Trabalho) e por numerosas secções de outros
sindicatos (Solidários, Força Operária, sindicatos liceais…) e ainda pelos
líderes dos coletes amarelos. Um deles, Maxime Nicolle, declarou: " É
necessário que todas as pessoas que apoiam este movimento [dos coletes
amarelos] façam greve, porque a única coisa que fará ceder o governo, sem
violência, é tocar no aparelho económico ". Vários dirigentes de partidos
políticos (do Novo Partido Anticapitalista, da França Insubmissa, do
Partido Comunista Francês…) também já aderiram à greve. Travada pelos
trabalhadores dos setores privados e públicos, com reivindicações de
aumento dos salários e dos mínimos sociais, para uma profunda reforma da
fiscalidade face à urgência social e pela defesa das liberdades públicas,
esta greve intersindical e interprofissional foi um êxito. Reuniu, segundo
a estimativa da CGT, perto de 300 mil manifestantes em cerca de 200
cidades do país. Além disso, concretizou – pela primeira vez,
"oficialmente", por fim! – uma convergência das lutas sindicais e das dos
coletes amarelos. Mas os media dominantes fizeram o necessário – têm os
meios para isso – para que este êxito passasse quase despercebido do
grande público.
No sábado seguinte, a 9 de fevereiro, realizou-se o "Ato 13" dos coletes
amarelos: 51 400 pessoas (segundo afirma a polícia) ou… mais do dobro (de
acordo com os organizadores) desfilaram um pouco por toda a França. Embora
a grande maioria dos participantes nesta nova mobilização se tenha
manifestado pacificamente – reclamando, de passagem, a demissão do
presidente Emmanuel Macron –, algumas concentrações degeneraram,
nomeadamente em diversos pontos da capital: recontros com as forças da
ordem, montras de lojas e vitrinas de bancos partidas, mobiliário urbano e
carros incendiados… No entanto, no dia 9, à noite, nenhuma resposta
política ou social a esta crise foi considerada pelo poder. A "estratégia"
deste? Sempre a mesma, como desde o início da mobilização dos coletes
amarelos em meados de novembro, ou seja, a deterioração: reprimir
brutalmente os coletes amarelos, deixá-los esgotarem-se, dividi-los ao
máximo, desacreditá-los, acusá-los de todos os males, insultá-los, atiçar
o medo e o ódio, esperar uma reviravolta da opinião pública. Mas,
sobretudo, não ceder em nada aos contestatários e fingir não compreender
que a ordem instituída desta sociedade de desigualdades e de injustiças
provoca náuseas e é insustentável.
Porque a mensagem disseminada pelos media é que esta mobilização
apodrece. De há três meses a esta parte, uns 60 parlamentares da maioria
presidencial mencionaram ter recebido ameaças anónimas, de diversa
natureza, e por diversos meios, e foram registados mais de 80 estragos em
instalações políticas ou em domicílios pessoais de eleitos de A
República em Marcha. Por exemplo, as portas de entrada ou da garagem de
casas de eleitos foram muradas à pressa, durante a noite; insultos
pintados nas fachadas… No decurso dos últimos anos, já tinham sido
observadas uma serie de ações de incivilidade deste género, visando outros
responsáveis políticos (de maiorias anteriores). Há cinco anos, aquando
duma manifestação de agricultores em Champagne, uma máquina agrícola
arremessou estrume – no meio da risota geral – contra o frontão duma
prefeitura (que atingiu o interior dos gabinetes); lançaram-se ratazanas
como forma de protesto nos edifícios oficiais em Haute-Garonne; na região
Pays de la Loire, tratores despejaram estrume – em quantidades abundantes
– nos jardins da residência de um ministro (socialista) da Agricultura,
etc. Mas, atualmente, a tensão parece aumentar de nível. Há uns dias,
indivíduos tentaram incendiar um dos domicílios de Richard Ferrand,
presidente da Assembleia Nacional – e antigo membro da ala esquerda do
Partido Socialista, e depois secretário-geral do partido do presidente
Emmanuel Macron, A República em Marcha…
É neste contexto pernicioso que, no próprio dia da greve geral de 5 de
fevereiro, foi aprovada na Assembleia Nacional uma "lei anti vândalos". Um
facto novo – desde há 18 meses – uns 50 deputados do grupo de Macron
recusaram-se a votar essa proposta de lei desejada pelo governo. Isso não
chegou para rejeitar o texto, mas revela o mal-estar que percorre as
fileiras da maioria presidencial – tanto mais que o aviso prévio emitido
pelo Conselho de Estado, em oposição a uma lei que (segundo ele) contém um
atentado às liberdades públicas, foi ignorado pelo Parlamento. Este novo
dispositivo jurídico – que será examinado pelo Senado a 12 de março
próximo – constitui, obviamente, mais uma viragem na espiral da repressão.
A partir de agora, no bem-aventurado reino da França, uma pessoa poderá
ser proibida de se manifestar – não por ser condenada pela justiça (isto
é, depois de ter praticado um delito), mas – de forma antecipada, por via
de uma interdição administrativa decidida por um prefeito, por outras
palavras, pelo representante do poder político nas comunidades
territoriais. Isto, com base na simples suspeita (documentada pelas
fichas dos serviços de informações gerais). Institui-se assim um "foco
individual" dos manifestantes supostamente perigosos!
O apelo da base de Emmanuel Macron às franjas mais direitistas e
reacionárias do seu eleitorado, ansiosas por verem restabelecida a ordem
pública o mais depressa possível, é grosseiro. Subitamente, regressámos a
uma época anterior a 1968, quando o regime do general de Gaulle suspendeu
o direito de manifestação durante a guerra da Argélia (a partir de 1958 e
até ao 1.º de maio de 1968). Claro, a lei anti vândalos ainda não está em
vigor e tem de esperar que o Senado se pronuncie. Mas, para já,
levantaram-se vozes cada vez mais fortes, nas redes sociais, indignadas
por não terem sido imediatamente acusados os indivíduos que fizeram
estragos, identificados e seguidos pelas forças da ordem, durante todo o
dia (como o que incendiou vários veículos a 9 de fevereiro, um deles do
plano Vigipirate). Observadores fazem notar – aquilo que toda a gente já
sabe há décadas – que bastava que policias se infiltrassem ocasionalmente
nos desfiles, para "ajudar" os vândalos a cumprir a sua tarefa – e
desacreditar assim os movimentos sociais… Aliás, Daniel Cohn-Bendit,
especialista nesta área – do vandalismo (em maio de 1968) e da colaboração
com o poder (desde essa altura) – já o reconheceu, sorridente…
Enquanto espera, a repressão policial vai de vento em popa. Como todos os
sábados, desde há 14 semanas. Uma sessão de arremesso manual de granadas
de dispersão até foi transmitida em direto nos canais de (des)informação,
em contínuo, a 9 de fevereiro. Enquanto um grupo de coletes amarelos
tentava visivelmente furar a paliçada instalada em frente da Assembleia
Nacional, um fotógrafo ficou sem um braço perante o olhar horrorizado de
milhões de telespetadores! Os quais viram, em horário nobre, como
recompensa pela sua fidelidade, um oficial superior, de serviço diante da
câmara dos deputados, receber um pontapé na cara de um dos manifestantes
empoleirado nas grades do edifício… Um choque para os partidários da
mudança e para os partidários da ordem! Uns dias depois, saiu o veredito
para o boxeur do CRS, Christophe Dettinger: um ano de prisão! A 15 de
fevereiro, Éric Drouet, figura popular dos coletes amarelos, compareceu
também perante um tribunal para responder à acusação de "organização de
manifestação não declarada" … O problema é que a maior parte dos líderes
dos coletes amarelos já não querem declarar na prefeitura estas
manifestações, exatamente por causa dos excessos (espontâneos ou, mais
frequentemente, causados ou provocados pelas forças da ordem) que os fazem
incorrer no risco de processos judiciais. Outro líder dos coletes
amarelos, Jérôme Rodrigues, divulgou que tinha perdido um olho, depois de
ter sido atingido por uma bala de Flash-Ball na cabeça. Entretanto, os
membros da direção do partido França Insubmissa (entre outros) foram
sujeitos a buscas em casa, uns atrás dos outros.
No entanto, a violência não é só na rua. Longe disso. Está em todos os
canais de televisão, na boca de especialistas de segurança – ou melhor, de
denúncia! – apoiados por alguns universitários guedelhudos, com ar de 68,
que vêm esclarecer os telespetadores e, com eles, as informações gerais,
dedicando-se a um exercício de denúncia em direto de diversos
manifestantes: "reparem, há ali uma bandeira com a foice e o martelo!"
ou "ali, é a CGT, há bocado vi os sinais de reconhecimento deles!" ou
"aqueles são maoístas, de acordo com os estandartes!"… Sim, isto começa
realmente a cheirar muito mal na macronia… A violência está nas
propostas cheias de ódio de um Luc Ferry, professor de filosofia e
ex-ministro da Educação nacional (de Jacques Chirac), vomitando numa
emissão de rádio (na Radio Classique, a 7 de janeiro) que as forças da
ordem deviam ser autorizadas a usar armas (as letais!) contra os rebeldes
contestatários. E de repetir isso, um pouco mais calmamente, uns dias
depois, sem recear qualquer sanção, numa outra emissão, desta vez
televisiva (no LCI a 3 de fevereiro), queixando-se de que, nos belos
bairros de Paris (entre os quais o dele), "é pavoroso o que se passa!".
Porque, a partir de agora, é preciso dizer: "atacar Macron, é atacar a
França!". Sem comentários dos jornalistas!
A violência, encontramo-la oculta no comportamento de um presidente da
República que continua a afirmar que não recuará, que "não mexerá um
dedo", que "não mudará de rumo", no preciso momento em que lança o seu
"Grande Debate". O qual se resume, no fundo, a uma sobre-exposição
mediática da sua divina pessoa para começar, de modo indireto (e às
custas dos contribuintes), a campanha das eleições europeias em maio
próximo. Está no encorajamento dos seus partidários que proclamam alto e
bom som que "o presidente ainda não fez nada", que "as grandes reformas
do quinquénio ainda estão para vir". Está nas zonas do não-direito no
topo do Estado, reveladas pelos meandros do caso Benalla – segundo o nome
daquela antiga guarda de segurança do presidente que se julgava acima das
leis (por estar coberto pelo seu poderoso protetor) e que a justiça
demorou cerca de 10 meses para o deter – e nos seus múltiplos efeitos: a
demissão do conselheiro especial mais próximo de Emmanuel Macron, Ismaël
Emelien, citado no mesmo caso (por ter sido possivelmente o beneficiário
de documentos ilegais); a mutação da chefe do grupo de segurança do
primeiro-ministro (para proteger o cônjuge, possivelmente envolvido num
contrato feito entre relações de negócios de Benalla e um oligarca russo);
mais um recente relatório esmagador do Senado sobre as anomalias dos
serviços do Eliseu; e muitas outras zonas de sombra (um cofre-forte
desaparecido misteriosamente no domicílio de Benalla, passaportes
diplomáticos que este não restituiu, comissões suculentas recebidas por
contratos de proteção privada…). Estejam tranquilos: os dois pobres
cristãos espezinhados por Alexandre Benalla, no 1.º de maio de 2018 na
praça da Contrescarpe em Paris, foram julgados e condenados (em 500 euros
de multa!) – por terem atirado contra polícias, respetivamente, um
cinzeiro e um cântaro… A violência está neste espetáculo duma justiça a
duas velocidades, imposta por um poder desastroso e por todo um regime em
decadência… Para quando a verdadeira democracia em França?
A violência ainda, na continuação da destruição da França que está a ser
implementada lentamente: um Parlamento que autoriza a aceleração da
privatização dos setores da energia (quando camaradas ocupam centrais ou
reabrem agências de acolhimento fechadas ao público); um ministro da
Educação na iniciativa duma lei que exige às comunas que financiem ainda
mais o ensino privado a partir do pré-escolar, ou de um texto que aumenta
os custos de inscrição dos estudantes estrangeiros na universidade (e os
professores fazem greve)… Felizmente, a França ainda mantém a venda de
armas! Por azar, os submarinos que lhe acaba de comprar a Austrália (cujo
orçamento militar está contabilisticamente integrado no dispositivo global
de defesa dos Estados Unidos) não serão fabricados em França, mas… a 16
mil km de distância: em Adelaide, na Austrália Meridional! Para que
serve então o material militar francês adquirido pela Arábia Saudita e
pelos emirados do Golfo, senão para esmagar as populações vietnamitas!
Mas, quanto ao respeito pelos direitos do Homem, nem pensar. É esta a
moral da macronia!
"O Grande Debate é na rua!", dizia um cartaz da manifestação de 16 de
fevereiro passado. A convergência das lutas dos sindicatos e dos coletes
amarelos é necessária, mais do que nunca. Desde o mês de novembro, estão
ao lado dos coletes amarelos grandes faixas das bases sindicais, nas
mobilizações de sábado, nas rotundas nos dias de semana, ou nas empresas.
Os dirigentes sindicais, reticentes durante muito tempo, juntaram-se-lhes
finalmente. Ou foram obrigados a fazê-lo, a partir de 5 de fevereiro
passado, precisamente por pressão das bases militantes. Isso demorou
tempo. Este esforço de convergência é louvável, evidentemente, mas ainda é
insuficiente. A próxima greve geral e nacional, uma ocasião para uma nova
mobilização conjunta de sindicatos e coletes amarelos, está anunciada
pela CGT para 19 de março. É demasiado longe, quando tantos camaradas
lutam diariamente, por todo o lado. Tanto mais que os expurgos estão a
acelerar (porque não dizê-lo?) na pirâmide do poder no seio dos
sindicatos, para afastar os elementos mais contestatários, mais rebeldes e
mais motivados para alargar e aprofundar as lutas. Será necessário
apressar o passo, redobrar de energia, convencer sempre mais camaradas a
entrar na batalha. Será necessário fazer vencer a lógica da greve. E fazer
recuar a arrogância desta direita que se diverte dizendo que "em França,
a revolução é ao sábado e suspende-se no domingo de manhã". Os coletes
amarelos mostram o caminho: apelam à manifestação também ao domingo! Neste
momento histórico tão especial, devemos medir a importância do que se
passa nesta hora em França no arsenal repressivo sem precedentes que ali
está instalado para tentar deter a revolta popular que aumenta. A
repressão brutal, com efeito, é o reflexo, não tanto duma contra-ofensiva
da burguesia, mas de um medo que a invade e de uma interrupção do seu
projeto destruidor sob o impulso dum povo em luta.
23/Fevereiro/2019
Tradução de Margarida Ferreira.
In
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/franca/remy_21fev19_p.html
22/2/2019
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019
Não se engane, proposta de reforma da Previdência de Bolsonaro é pior que a de Temer
A proposta de reforma da Previdência apresentada pelo governo Jair Bolsonaro
(PSL) ao Congresso nesta quarta-feira (20) é cruel, pior que a de Temer. Não se
engane com as campanhas que serão feitas, afirmando que é a reforma é necessária
e que serão mudanças benéficas.
É uma proposta inaceitável! Querem mesmo acabar com a nossa aposentadoria e com
direitos previdenciários.
A idade mínima para aposentadoria será de 62 anos para mulheres e 65 anos para
homens. O tempo mínimo de contribuição passa de 15 para 20 anos, mas para
receber a aposentadoria integral há que contribuir por 40 anos. Depois de um
período de transição, a proposta é acabar com as aposentadorias por tempo de
contribuição.
Há um forte ataque aos benefícios assistenciais, como pensões por morte, para
trabalhadores rurais, deficientes e os mais pobres. Também haverá aumento na
alíquota de contribuição previdenciária por diferentes faixas salariais. A
alíquota de contribuição subirá de 11% para 11,68%.
A idade mínima para funcionários públicos e privados foi igualada.
Todos os trabalhadores que estão na ativa serão afetados.
São esses e outros ataques cruéis contidos na proposta.
A CSP-Conlutas defende a organização desde já de uma Greve Geral contra a
Reforma da Previdência, uma paralisação que barre essa reforma assim como foi
barrada a proposta por Temer, em 28 de abril de 2017.
Nesta quarta-feira de manhã (20), quando o presidente Bolsonaro e sua equipe
entregavam a proposta de reforma no Congresso Nacional, um grande protesto
acontecia na Praça da Sé, em São Paulo, convocado pelas Centrais Sindicais. Foi
a Assembleia da Classe Trabalhadora que reuniu representação de entidades
sindicais e movimentos sociais de todo o país.
Assembleia nacional da Classe Trabalhadora em SP
O integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Atnágoras Lopes
convocou a continuidade da luta contra a Reforma da Previdência. “A maioria dos
trabalhadores, independentemente em quem votou na eleição presidencial, não
concorda em piorar a sua aposentadoria. É tarefa da direção das centrais
sindicais e das direções do movimento encabeçarem essa luta”, disse Atnágoras,
que reforçou seu discurso com a necessidade de organização pela base dessa luta.
“Precisamos construir comitês de luta nos estados, locais de trabalho e moradia
e organizar a mobilização”.
A Assembleia Nacional da Classe Trabalhadora lançou manifesto unificado que
afirma o início de um processo de mobilização nacional, com atos públicos e
protestos nos locais de trabalho e bairros no próximo período, além de uma ampla
campanha de conscientização da população sobre a gravidade da proposta.
Reforma da Previdência é bomba para os trabalhadores – veja as propostas
65 anos para idade mínima (homens) e 62 (mulheres)
Bolsonaro quer 65 anos para homens e 62 anos para mulheres, com 20 anos de
contribuição. Não haverá mais aposentadoria somente por tempo de contribuição.
Hoje na aposentadoria por idade, é possível se aposentar aos 60 anos (mulheres)
ou 65 anos (homens), com 15 anos de contribuição. Na aposentadoria por tempo de
contribuição não há idade mínima. Para pedir o benefício nessa categoria, é
preciso ter 30 anos de contribuição, no caso das mulheres, e 35 anos, no caso
dos homens. É possível se aposentar também pela fórmula 86/96.
Regra de cálculo da aposentadoria
O cálculo considera 60% das contribuições, mais 2% a cada ano de contribuição
que exceder 20 anos. Para receber 100%, é preciso contribuir por 40 anos.
Valor mínimo das aposentadorias
Aposentadorias continuam vinculadas ao salário mínimo, ou seja, não podem ser
inferiores ao piso nacional, mas esta regra não valerá para o BPC (benefício de
prestação continuada).
Regra de transição
Na aposentadoria por tempo de contribuição, haverá três opções:
1) Sistema de pontos: A soma da idade com o tempo de contribuição deve ser de
86, para mulheres, e 96, para homens, além de ter ao menos 30 anos de pagamento,
para mulheres, e 35 anos, para os homens. A pontuação aumenta gradativamente até
chegar a 100 (mulheres) ou 105 (homens). O aumento é de um ponto a cada ano até
chegar a 100 pontos para as mulheres em 2033 e 105 pontos para homens em 2028.
2) Idade mínima: Começa com 56 anos, para mulheres, e 61 anos, para homens, além
de 30 anos de contribuição, para mulheres, e 35 anos para homens. A idade sobe
seis meses a cada ano até chegar aos 62 e 65 anos.
3) Pedágio: Quem está a dois anos de se aposentar poderá optar pela
aposentadoria sem idade mínima, mas com o fator previdenciário, após cumprir um
pedágio de 50% sobre o tempo faltante.
Na aposentadoria por idade haverá apenas uma opção:
A idade da mulher aumenta seis meses a cada ano até chegar aos 62 anos em 2023
(hoje a idade mínima é 60). O tempo mínimo de contribuição também sobe seis
meses a cada ano até chegar a 20 anos em 2029. Para homens, nada muda, porque a
idade mínima já é de 65 anos na aposentadoria por idade.
Aumento das alíquotas
O trabalhador que ganha mais vai pagar alíquota maior de contribuição ao INSS.
Para os trabalhadores de empresas privadas, as alíquotas irão variar de 7,5% a
11,68% sobre o salário e serão calculadas sobre cada faixa de salário (como no
Imposto de Renda).
Servidores pagarão contribuição de até 16,79%
Para os funcionários públicos, as alíquotas começarão em 7,5% para os que ganham
até um salário mínimo e chegam a 16,79%. Atualmente, a cobrança é de 11% até o
teto da previdência dos servidores e de 11% sobre todo o vencimento para os
servidores que entraram até 2013 sem adesão ao fundo de previdência privada.
Trabalhador rural pagará mais
A proposta de reforma da Previdência prevê a criação de um valor R$ 600 para os
trabalhadores rurais que pagam contribuição ao INSS de acordo com a venda da
produção. Mesmo que não haja comercialização da produção rural, o trabalhador
terá de pagar o valor. Será exigido um tempo mínimo de contribuição de 20 anos,
além de uma idade mínima de 60 anos para homens e mulheres. Atualmente, os
requisitos são 55 anos (mulheres) e 60 anos (homens) e o mínimo de 15 anos de
contribuição.
Pensão por morte
Viúvos e órfãos vão receber menos. Hoje eles ganham 100% da aposentadoria da
pessoa que morreu. A proposta é que a pensão seja de 60% + 10% por dependente
adicional (até o limite de 100%). Exemplo: Se houver um dependente (mulher ou
filho), o valor é 60%. Se houver mais um dependente, são 70% da aposentadoria
original.
Redução do PIS
Menos pessoas receberão o abono salarial do PIS. Hoje recebe quem ganha até dois
salários mínimos. A proposta é pagar só para quem recebe um salário mínimo. O
abono consiste no pagamento de um salário mínimo a cada ano ao trabalhador.
Aposentadoria especial
O governo sugere elevar a idade de aposentadoria do BPC de 65 para 70 anos e
exigir que trabalhadores rurais façam uma contribuição anual de R$ 600.
BPC menor para deficientes e idosos
Para o BPC (Benefício de Prestação Continuada), voltado para idosos e pessoas
com deficiência, a proposta estabelece que ele só continuará sendo de um salário
mínimo para deficientes e para idosos em condição de miserabilidade a partir dos
65 anos. Para os demais, a renda mensal evoluirá ao longo das idades: a partir
dos 60 anos, o benefício será de R$ 400, subindo a um salário mínimo aos 70
anos. Isto é desumano!
Aposentado demitido não receberá FGTS
A proposta é retirar a obrigatoriedade de o empregador pagar multa de 40% sobre
o valor do FGTS ao trabalhador que for demitido e já estiver aposentado. Hoje,
mesmo o empregado que já sacou seu dinheiro do FGTS ao se aposentar tem a multa
de 40% calculada sobre o total que a empresa depositou ao longo de seu contrato,
acrescido de correções. O texto também prevê que o empregador, a partir do
momento em que seu funcionário se aposenta e permanece na empresa, não precisa
mais recolher a contribuição de 8% para o seu FGTS.
In
CSP - CONLUTAS
http://cspconlutas.org.br/2019/02/nao-se-engane-proposta-de-reforma-da-previdencia-de-bolsonaro-e-pior-que-a-de-temer/
20/2/2019
domingo, 17 de fevereiro de 2019
The Russian pension chicken is coming home to roost… (UPDATED)
The Saker
[This article was written for the Unz Review]
According to RT, citing a Levada Center poll,
Over 50 percent of Russians are disappointed in the government of Dmitry
Medvedev, which, they believe, is unable to curb growing prices and provide jobs
for people, a new poll has revealed. Some 23 percent said they were absolutely
sure that the government must resign, with another 30 percent telling
Levada-Center that they were also leaning toward this opinion. This means that
a total of 53 percent would like the country to have a new cabinet. Trust in the
government has crumbled since September, when only 23 percent advocated its
resignation. Meanwhile, the proportion of people who believed the government
should stay in charge was 40 percent, with 14 percent expressing full confidence
in the cabinet, and 26 percent saying that resignation wouldn’t be the best
idea.
Source: http://www.levada.ru/en/ Jan 15th 2019 (details here:
https://www.levada.ru/en/ratings/)
This was very predictable and, in fact, I did predict just that when I wrote “A
comment I just saw on the YouTube chat of the inauguration was succinct and to
the point: “Путин кинул народ – мы не за Медведева голосовали” or “Putin
betrayed the people – we did not vote for Medvedev”. This is going to be a very
widely shared feeling, I am afraid (…) Medvedev is unpopular and that most
Russians hoped to see a new face. Yet Putin ignored this public sentiment. That
is a very worrying sign, in my opinion“. In a subsequent article I wrote that
“it is quite clear to me that a new type of Russian opposition is slowly
forming. Well, it always existed, really – I am talking about people who
supported Putin and the Russian foreign policy and who disliked Medvedev and the
Russian internal policies. Now the voice of those who say that Putin is way too
soft in his stance towards the Empire will only get stronger. As will the voices
of those who speak of a truly toxic degree of nepotism and patronage in the
Kremlin (again, Mutko being the perfect example). When such accusations came
from rabid pro-western liberals, they had very little traction, but when they
come from patriotic and even nationalist politicians (Nikolai Starikov for
example) they start taking on a different dimension. For example, while the
court jester Zhirinovskii and his LDPR party loyally supported Medvedev, the
Communist and the Just Russia parties did not. Unless the political tension
around figures like Kudrin and Medvedev is somehow resolved (maybe a timely
scandal?), we might witness the growth of a real opposition movement in Russia,
and not one run by the Empire. It will be interesting to see if Putin’s personal
ratings will begin to go down and what he will have to do in order to react to
the emergence of such a real opposition“.
Think about it in this way: we know from ALL the past elections that the
pro-Western segment of the Russian population is somewhere around 1-3% (that is
why they cannot make it into the Duma). But let’s generously give that
hardcore, liberal, opposition 5%, for argument’s sake. So if 53% of Russians
want a new cabinet, and if 5% of Russians are hardcore pro-Western liberals,
then who are the remaining 48%?
Or in this way: if 53% of Russians want a new cabinet, and if Putin’s approval
rating is still somewhere in the 65% range, who are those Russians who like
Putin but dislike the Medvedev government?
There is an easy cop-out argument which I´ve often offered to explain away this
fact:
Levada Center is officially classified as a “foreign agent” under Russian law.
This makes sense: for one thing, Levada Center receives most of its financing
from abroad, including the USA and even the Pentagon! Furthermore, Levada is
staffed by liberals (in the Russian meaning of the word which really means
“pro-US”) whose biases are also reflected in their work. However, while this is
all true, Levada is still credible enough to be cited even by Russian officials.
Finally, the kind of results Levada publishes are often generally similar to
the finding of the official VTsIOM polling institution, not down to the
percentage point, but often reflecting similar trends (check out the VTsIOM
English language page here: https://wciom.com/). So the fact that Putin is much
more popular than Medvedev or that the majority of Russian people are unhappy
with the government really is not in doubt.
So regardless of the actual numbers, it is clear that the Russian government is
only popular with those whom it allows to make a lot of money (corporations and
various millionaires and billionaires) and that everybody else strongly dislikes
it.
And yet, recently Putin was asked if he was happy with the government and his
reply was “on the whole, yes“.
This type of political yoga is hard to sustain in the long term: if Putin is the
champion of the interests of the common people, and if most common people feel
that the government cares more for millionaires and billionaires, then how can
the President say that he is “on the whole happy” with the government?
It is truly a crying shame that the basics of Marxism-Leninism is not taught in
schools and colleges any more (even some self-described “Communists” are clearly
clueless about what Marx, Lenin or even Hegel taught!). Not because the
solutions advocated by Marx and his followers are so universally effective, but
because one can use the Marxist-Leninist conceptual toolkit to better understand
the world we live in and, one can do this without necessarily endorsing the
solutions offered by Marxism. For example, in the West at least, very few
people are aware of this very simple Marxist-Leninist definition of what a
state, any state, really is. According to Lenin, the state is simply an
“apparatus of coercion and violence by which the ruling class governs the
society“. Specifically Lenin wrote:
In essence, the state is ruling apparatus created from the human society. When
such a group of people appears, one which is only concerned with ruling over
others, and which for that purpose needs a coercion apparatus which can force
people to obey by means of jails, special units, armed forces, etc, – that is
the moment when the state appears (Lenin, collective works, vol 39, page 69).
From a Marxist point of view, any state is always and by definition the
dictatorship of the ruling class, which is a good thing, at least according to
the Marxists, when this ruling class is the workers and people, and a very bad
thing when the ruling class is the plutocracy.
In the post-modern West, where political discourse has been reduced to a
particularly nauseating form of intellectual flatulence, the very notion of
“class” and “class warfare” has been fully replaced with vapid (pseudo-)
identity politics which completely obfuscate all the real issues and problems
our world is dealing with. Thus, by removing the concepts and categories needed
to understand the nature of the struggle which is taking place internationally,
but also inside each of the countries currently living under the AngloZionist
yoke, the leaders of the Empire have deprived the people they rule over from the
means to understand why and how they are oppressed. All that nonsense about
“gay” rights, gun control, #meetoo, the many sex scandals, the struggle for
racial identity (White or Black or any other), abortion, drugs and all the rest
of the crap we are fed on a daily basis by the AngloZionist propaganda machine
are primarily a distraction to keep the eyes of the general population from the
real issues. In a way, this zombification and re-direction to fake topics
serves exactly the same function as the red cape of the bullfighter: to keep the
bull busy with trying to gore a harmless red piece of cloth while completely
missing the real cause of his suffering and eventual death.
From that point of view, the Russian people are much better informed and have a
much better understanding of what is going on. For example, while in the West
the people define “democracy” as “people power” (or something similar), in
Russia the joke is that “democracy is the power of the democrats” which, in
Russia, is a general codeword/euphemism for “pro-US wealthy liberal” who want to
turn Russia into some kind of “bigger Poland” or something equally uninspiring.
Various pro-Western “intellectuals” like to say that this is an old Russian
pathology: to say that the Czar (President) is very good, but his court (the
Ministers) are bad and that this makes absolutely no sense. These are the folks
who go as far as denying the existence of a struggle between what I call
Eurasian Sovereignists (roughly Putin supporters) and Atlantic Integrationists
(roughly Medvedev and the “economic block” of this government).
The folks who deny this remind me of something Berthold Brecht once wrote after
the 1953 uprising in Berlin in a short poem entitled “The Solution”: (emphasis
added)
After the uprising of the 17th of June
The Secretary of the Writers’ Union
Had leaflets distributed in the Stalinallee
Stating that the people
Had forfeited the confidence of the government
And could win it back only
By redoubled efforts. Would it not be easier
In that case for the government
To dissolve the people
And elect another?
This deep alienation from the Russian masses, this notion that the Russian
people have, yet again, failed to heed the “wise words” of the “progressive
intelligentsia” and other (mainly financial) “elites” has plagued the Russian
ruling classes since Peter I and is still at the very core of their worldview.
Believe you me, the Russian “liberals” and the folks in the West who deny that
there is any 5th column in Russia are psychologically and politically joined at
the hip: neither one of them can accept this. Furthermore, both the Russian
“liberals” and the western believers in the values of “democracy” and “free
market capitalism” share exactly the same worldview: they want the Russian
people to become “Europeans” not in a geographical sense, of course
(geographically speaking most Russian live in the European part of Russia), but
culturally! This is what the Popes wanted, this is what the French Freemasons
wanted, this is what the Nazis wanted, and this is what the AngloZionists want.
That dream to turn Russians into Europeans while totally cleansing them from any
“Russian-ness” is what united *all* the invaders of Russia over the centuries.
But the “stubborn” Russian people just don’t seem to “get it” and, for some
totally mysterious reason, they always resist all these “benevolent” western
attempts at “civilizing” them.
This is exactly what we see today: Putin and his Eurasian Sovereignists try as
hard as they can to *sovereignize* Russia; in other words, they want to make
Russia *truly* Russian again. Sounds basic, but that is categorically
unacceptable to the Russian plutocrats and to their supporters in the West.
Thus any kind of defense of the Russian-ness of Russia is immediately and
contemptuously dismissed as “national leftism”, “nationalism” or, God forbid!,
“monarchism”. And when the person trying to make the argument that Russia ought
to be Russian uses Marxist concepts or categories, these arguments are also
dismissed out of hand as an “outdated rhetoric of a system which has failed and
discredited itself”. What they fail to realize is to say that the collapse of
the Soviet Union was due primarily/solely to the Marxist or Communist ideology
is just as stupid as blaming the current collapse of democracy in the USA on the
writings of the Founding Fathers rather than on the SOB politicians who are
destroying this country day after day after day. Tell me: when the USA finally
bites the dust, will you simply declare that “democracy is dead” and that the
“collapse of the USA proved that democracy is not a viable regime”? So yes, the
Soviet Union did indeed collapse, broken into 15 pieces by its own ruling elite
(the Nomenklatura), but the ideas contained in the Marxist-Leninist ideology
have not only not been “defeated” – they have not even been challenged (more on
this issue here).
But, thank God! most Russians are still not willing to be incorporated into the
“European cultural Borg collective“, at least not in the cultural sense. And in
spite of 300 years of oppression by various pro-western regimes (with various
degrees of russophobia, not all were equally bad), the Russian people still want
to remain Russian, not just by speaking a language, but by having a ruler and a
regime in power which they feel defends their interests and not the interests of
the ruling class. They want to live in their own civilizational realm, and not
the kind of post-Christian intellectual desert the West has become.
Many decades of rabid russophobia by the rulers of the AngloZionist Empire have
convinced the Russian people that they have no friends in the European or North
American ruling elites and that true freedom comes through liberation, not
submission. That, and the appalling example of the consequences of the
“Euromaidan” in the Ukraine.
At the end of the day, it is not about GDP or the availability of cheap consumer
goods. At the end of the day, it all depends on real, moral, ethical, spiritual
and civilizational values. This was true 1000 years ago and this is still true
today. At least in Russia.
It is very important to keep a close eye on this trend: the appearance of slowly
but surely growing (truly) patriotic opposition (as opposed to the CIA-paid
clowns in the Russian liberal camp). As for the “official” opposition (LDPR,
KPRF and the Just Russia), they might decide to grow a few teeth, initially
small, baby teeth only, but if this trend accelerates, they might decide to look
a tad more credible. Until now the rather lame and ridiculous LDPR & KPRF
parties are just a collective form of court jesters with no real opposition
potential. Just look at how the KPRF, thoroughly discredited by their crazy
choice of the millionaire Grudinin for candidate, jumped onto the pension reform
PR-disaster to suddenly try to launch a referendum. This would never have
happened in the past.
The political landscape in Russia is becoming more complicated, which is both
good and bad. It is bad because Putin’s personal political credit suffers,
however modestly for now, from his continuous inability to purge the Kremlin
from the 5th columnists, but it is also good because if things get bad enough
Putin will have no choice but to (finally!) get rid of at least the most
notorious 5th columnists. But fundamentally the Russian people need to decide.
Do they really want to live in a western-style capitalist society (with all the
russophobic politics and the adoption of the terminally degenerate “culture”
such a choice implies), or do they want a “social society” (to use Putin’s own
words) – meaning a society in which social and economic justice and the good of
the country are placed above corporate and personal profits.
You could say that this is a battle of greed vs ethics.
The future of Russia, and much of the world, will depend on the outcome of this
battle.
The Saker
UPDATE: well, just as I was mentioning that the fact that Levada Center and
VTsIOM mostly agree, at least on trends, the Russian media is now reporting that
the latter now also is reporting a drop in the popularity of Putin. And just to
make things worse, the Russian authorities have deported an (in-)famous
anti-Nazi Ukrainian journalist, Elena Boiko, to the Nazi-occupied Ukraine in
spite of the fact that Boiko had requested political asylum in Russia. Now,
Boiko is a very controversial person for sure (and, personally, not *at all* my
cup of tea), but the sole fact that Russia would deport ANY anti-Nazi activist
to the Nazi-occupied Ukraine is disgusting and revolting. And, sure enough, the
bovine-excreta is already hitting the proverbial fan as now members of the Duma,
journalists and various personalities are demanding explanations for this
absolutely stupid and deeply immoral act. Sadly, can only agree with Nikolai
Starikov who speaks of a “liberal revanche” following the “Russian Spring” of
2014. If this kind of nonsense continues we will see a further deterioration of
Putin’s personal rating along with a gradual degradation of the Russian
political environment.
In
THE SAKER
http://thesaker.is/the-russian-pension-chicken-are-coming-home-to-roost/
January 18, 2019
sábado, 16 de fevereiro de 2019
Quem é o golpista Juan Guaidó
por Max Blumenthal [*] e Dan Cohen [**]
Antes do fatídico dia 22 de Janeiro, menos de um em cada cinco
venezuelanos tinha ouvido falar de Juan Guaidó. Há apenas alguns meses,
este homem com 35 anos era um personagem obscuro de um grupo de
extrema-direita politicamente marginal e associado a tenebrosos actos de
violência nas ruas. Mesmo no seu próprio partido, Guaidó não passara de
uma figura de nível médio na Assembleia Nacional dominada pela oposição e
que agora age como um órgão que despreza a Constituição da Venezuela.
Porém, após um único telefonema do vice-presidente dos Estados Unidos da
América , Michael Pence, Guaidó proclamou-se presidente da Venezuela.
Ungido em Washington como dirigente máximo do seu país, um personagem
político anteriormente desconhecido foi colocado nos palcos
internacionais como chefe de uma nação que possui as maiores reservas
petrolíferas do mundo.
Ecoando o consenso existente em Washington, o New York Times saudou
Guaidó como "um rival credível" para Maduro, com "um estilo refrescante e
uma visão capaz de levar o país em frente". O Conselho Editorial da
Blooomberg aplaudiu-o por procurar a "restauração da democracia" e o Wall
Street Journal declarou-o "um novo líder democrático". Enquanto isso, o
Canadá, numerosos países europeus, o Parlamento Europeu, Israel e o bloco
de países latino-americanos de direita conhecido como Grupo de Lima
reconheceram Guaidó como dirigente legítimo da Venezuela.
Mais de uma década de preparação
Guaidó, entretanto, parece ter-se materializado do nada; ele é, no
entanto, o produto de mais de uma década de preparação a cargo das
fábricas de mudanças de regimes geridas pelo governo dos Estados Unidos.
Juntamente com um grupo de activistas estudantis de direita, Juan Guaidó
foi treinado para minar o governo de orientação socialista da Venezuela,
desestabilizar o poder e, um dia, tomar o poder. Embora tenha sido uma
figura menor na política venezuelana, passou anos mostrando-se nos salões
de poder em Washington.
"Juan Guaidó é um personagem criado para esta circunstância", afirmou
Marco Teruggi, um sociólogo argentino e cronista da política da
venezuelana, à publicação The Grayzone. "É o produto de uma lógica de
laboratório: Guaidó é como uma mistura de vários elementos que dão forma
a um personagem que, com toda a honestidade, oscila entre o ridículo e o
preocupante".
Diego Sequera, jornalista e editor venezuelano da publicação de
investigação Misión Verdad, concordou: "Guaidó é mais popular fora do que
dentro da Venezuela, especialmente nos círculos de elite da Ivy League [1]
e Washington", disse. "É uma figura conhecida nesses meios,
previsivelmente de direita e leal às opiniões e tendências que aí se
manifestam".
Embora Juan Guaidó seja vendido como o rosto da "restauração
democrática", passou a sua carreira interna dentro da facção mais violenta
da oposição mais radical da Venezuela, colocando-se na vanguarda das
campanhas de desestabilização, uma após outra. O seu partido tornou-se
amplamente desacreditado na Venezuela e é parcialmente responsável por
fragmentar uma oposição enfraquecida.
"Esses dirigentes radicais não têm mais que 20% nas sondagens de
opinião", escreveu Luís Vicente León, principal investigador nessa área.
Segundo León, o partido de Guaidó continua isolado, porque a maioria da
população "não quer guerra, o que pretende é uma solução".
Não é democracia, é colapso
É precisamente por isso, porém, que Guaidó foi escolhido por Washington:
não se espera que instaure a democracia na Venezuela mas provoque o
colapso de um país que, nas últimas duas décadas, tem sido um baluarte da
resistência à hegemonia dos Estados Unidos. A sua ascensão significa o
culminar de um projecto de duas décadas para destruir uma forte
experiência socialista.
Desde a eleição de Hugo Chávez, em 1998, os Estados Unidos lutaram para
restabelecer o controlo sobre a Venezuela e as suas vastas reservas de
petróleo. Os programas socialistas de Chávez podem ter redistribuído a
riqueza do país e ajudado a tirar milhões da pobreza, mas tornaram-no um
alvo a abater.
Em 2002, a oposição de direita conseguiu derrubar Chávez com apoio e
reconhecimento dos Estados Unidos, mas só até que as forças armadas tenham
restabelecido a sua presidência, após uma mobilização popular de massas.
Durante as administrações norte-americanas de George W. Bush e Barack
Obama, Chávez sobreviveu a vários planos para o assassinarem, antes de
sucumbir de cancro em 2013. O seu sucessor, Nicolás Maduro, sobreviveu a
três tentativas de assassínio.
A administração Trump elevou imediatamente a Venezuela até ao topo da
lista de alvos da mudança de regime a conseguir por Washington,
qualificando o país como o principal da "troika da tirania". No ano
passado, a equipa de segurança ao serviço de Trump tentou recrutar
militares para montar uma junta ditatorial, mas o esforço falhou.
De acordo com o governo venezuelano, os Estados Unidos também estiveram
envolvidos numa conspiração com o nome de código "Operação Constituição"
para capturar Maduro no palácio presidencial de Miraflores; e numa outra
acção, designada Operação Armagedão, para o assassinar em Julho de 2017,
durante uma parada militar. Pouco mais de um ano depois, chefes da
oposição exilados tentaram matar Maduro com bombas instaladas num drone
numa parada militar em Caracas.
Experiência no "açougue dos Balcãs"
Mais de uma década antes destes acontecimentos, um grupo de estudantes da
oposição de direita foi selecionado e preparado ao pormenor por uma
academia de treino de mudanças de regime, financiada pelos Estados Unidos
para derrubar o governo da Venezuela e restaurar a ordem neoliberal.
Tratou-se de um processo de treino inserido no quadro de "exportação da
revolução" e que semeou várias "revoluções coloridas".
Em 5 de Outubro de 2005, com a popularidade de Hugo Chávez no auge e o
seu governo concretizando programas socialistas, cinco dirigentes
estudantis venezuelanos chegaram a Belgrado, Sérvia, onde começaram a ser
treinados para uma insurreição.
Os estudantes viajaram por cortesia do Centro de Acção e Estratégias
Não-Violentas Aplicadas ou CANVAS na sigla anglo-saxónica. Esta
organização é financiada em grande parte pelo National Endowment for
Democracy (NED), uma instância da CIA que funciona como o principal braço
do governo dos Estados Unidos para promover mudanças de regime;
cofinanciam-na também o Instituto Internacional Republicano e o Instituto
Nacional Democrata para Assuntos Internacionais, organizações dos dois
partidos-Estado norte-americanos. De acordo com e-mails internos dados a
conhecer pela Stratfor, uma empresa de inteligência conhecida como "a
sombra da CIA", o CANVAS "também pode ter recebido financiamento e treino
da CIA durante a luta anti-Milosevic em 1999/2000".
O CANVAS é um ramo do Otpor, um grupo insurrecional sérvio fundado por
Srdja Popovic em 1998 na Universidade de Belgrado. Otpor significa
"resistência" em servo-croata e ganhou fama internacional – e promoção ao
nível de Hollywood – ao mobilizar os movimentos que conduziram à queda de
Slobodan Milosevic.
Esta célula de especialistas em mudanças de regime opera de acordo com as
teorias do falecido Gene Sharp [2] , o chamado "Clausewitz da luta
não-violenta". Sharp trabalhou com um ex-analista dos serviços de
espionagem militares norte-americanos, o coronel Robert Helvey, para
conceber um projecto estratégico que transforma os protestos numa forma de
guerra híbrida, projecto esse para aplicar nos Estados que não se acomodam
ao domínio unipolar de Washington.
O Otpor foi apoiado pelo National Endowment for Democracy, a USAID e o
Instituto Albert Einstein de Gene Sharp. Sinisa Jikman, um dos principais
"formadores" do Otpor, revelou uma vez que o grupo chegou a receber
financiamento directo da CIA.
De acordo com um dos e-mails que um funcionário da Stratfor deu a
conhecer, depois de contribuírem para derrubar Milosevic "os jovens que
geriam o Otpor cresceram, passaram a vestir fato e gravata e projectaram o
CANVAS… Ou, por outras palavras, um grupo de 'exportação da revolução'
que lançou as sementes para várias revoluções coloridas. Ainda recebem
financiamento dos Estados Unidos e, basicamente, percorrem o mundo
tentando derrubar ditadores e governos autocráticos (aqueles dos quais os
Estados Unidos não gostam)".
A Stratfor revelou que o CANVAS "voltou a sua atenção para a Venezuela"
em 2005, depois de treinar movimentos de oposição que lideraram operações
de mudanças de regime favoráveis à NATO em toda a Europa Oriental.
A Stratfor estudou o programa de treino do CANVAS e descreveu a sua
agenda insurrecional numa linguagem surpreendentemente contundente:
"O êxito não está de forma alguma garantido e os movimentos estudantis
são apenas o começo do que poderá ser um esforço de anos para desencadear
uma revolução na Venezuela; mas os formadores são pessoas que adquiriram
experiência no 'Açougueiro dos Balcãs'. Têm aptidões fora do comum.
Quando virem cinco estudantes em cinco universidades venezuelanas
realizando manifestações simultâneas é sinal de que o treino acabou e o
trabalho real começou".
Passagem ao "trabalho real"
O "trabalho real" começou dois anos depois, em 2007, quando Guaidó se
licenciou na Universidade Católica Andrés Bello de Caracas. Mudou-se para
Washington e inscreveu-se no Programa de Governança e Gestão Política da
Universidade George Washington, sob tutela do venezuelano Luís Enrique
Berrizbeitia, um dos principais economistas neoliberais da América Latina.
Berrizbeitia é ex-director executivo do Fundo Monetário Internacional
(FMI) e passou mais de uma década trabalhando no sector energético
venezuelano sob o regime oligárquico que foi derrubado por Chávez.
Nesse ano, Guaidó contribuiu para promover comícios contra o governo
depois de este não ter renovado a licença da Radio Caracas Televisión
(RCTV). Esta estação privada desempenhou um papel de liderança no golpe de
2002 contra Hugo Chávez. A RCTV mobilizou manifestações
anti-governamentais, falsificou informações atribuindo a apoiantes do
governo a responsabilidade por actos de violência praticados por membros
da oposição e proibiu reportagens favoráveis ao executivo durante o golpe.
O papel da RCTV e de outras estações pertencentes a oligarcas na condução
da frustrada tentativa de golpe foi revelado no aclamado documentário The
Revolution Will Not Be Televised.
No mesmo ano, os estudantes reclamaram os louros por terem contribuído
para derrotar o referendo constitucional sobre o programa do governo de
Chavez para "Um socialismo do séc. XXI", mediante o qual se previa
"estabelecer o quadro legal para a reorganização política e social do
país, dando poder directo às comunidades organizadas como um pré-requisito
para o desenvolvimento de um novo sistema económico".
"Geração 2007"
Dos protestos em torno da RCTV e do referendo nasceu um grupo
especializado de activistas para a mudança do regime apoiado pelos Estados
Unidos. Chamou-se "Geração 2007".
Os formadores do CANVAS e os meios de divulgação da Stratfor
identificaram o aliado de Guaidó – um organizador de arruaças chamado Yon
Goicoechea – como um "factor-chave" para derrotar o referendo
constitucional. No ano seguinte, Goicoechea foi recompensado pelos seus
esforços com o Prémio Milton Friedman do Cato Institute for Advancing
Liberty no valor de 500 mil dólares, que ele investiu na construção da sua
própria rede política Primero Justicia.
Friedman, claro, foi o patrono dos neoliberais Chicago Boys importados no
Chile pelo ditador Augusto Pinochet para aplicar o programa económico do
regime. O Cato Institute é o think tank libertário baseado em Washington
e fundado pelos irmãos Koch, os dois principais doadores do Partido
Republicano e que se tornaram agressivos defensores da direita em toda a
América Latina.
WikiLeaks divulgou um e-mail de 2007 enviado para o Departamento de
Estado, o Conselho de Segurança Nacional e o Departamento da Defesa pelo
embaixador norte-americano na Venezuela, William Brownfield. Nele elogia
a "Geração 2007" por "ter derrotado o presidente venezuelano, acostumado a
estabelecer a agenda política". Entre os "líderes emergentes", Brownfield
identificou Freddy Guevara e Yon Goicoechea, este último "um dos mais
articulados defensores das liberdades civis dos estudantes".
Das nádegas nuas ao Vontade Popular
Cheios de dinheiro doado pelos oligarcas libertários, os grupos radicais
venezuelanos levaram para as ruas as suas táticas aprendidas com o Otpor.
Em 2009, os jovens activistas da Geração 2007 montaram a sua manifestação
mais provocatória baixando as calças em público e recorrendo às
ultrajantes táticas de guerrilha delineadas por Gene Sharp nos seus
manuais para mudanças de regime. Os manifestantes mobilizaram-se contra a
prisão de um aliado de um outro grupo juvenil, o JAVU. Este grupo de
extrema-direita "reuniu fundos de uma variedade de fontes do governo dos
Estados Unidos, o que lhe permitiu ganhar uma rápida notoriedade como
linha dura dos movimentos de oposição", segundo o livro "Construindo a
Comuna" do académico George Ciccarello-Maher.
Embora o vídeo do protesto não esteja disponível, muitos são os
venezuelanos que testemunham a presença de Guaidó como um dos principais
participantes. Não é possível confirmar estas declarações, as quais, no
entanto, são plausíveis: os manifestantes com as nádegas a descoberto eram
membros do núcleo duro da Geração 2007, a que Guaidó pertencia, e
envergavam t-shirts com a sua marca registada "Resistência!".
Em 2009, Juan Guaidó expôs-se ao público de outra maneira, fundando um
partido político para canalizar a dinâmica anti-Chávez que a sua Geração
2007 tinha desencadeado. Chamado Vontade Popular, o grupo é dirigido por
Leopoldo López, um activista de direita educado em Princeton, fortemente
envolvido em programas do New Endowment for Democracy e eleito como
presidente da Câmara de um município de Caracas que era um dos mais ricos
do país. Lopez é uma figura da aristocracia política venezuelana,
descendente directo do primeiro presidente do país, É também primo direito
de Thor Halvorssen, fundador da Fundação dos Direitos Humanos, com sede
nos Estados Unidos e que funciona como centro de marketing para activistas
apoiados pelos Estados Unidos em países que são alvos de Washington para
mudanças de regime.
Embora os interesses de Leopoldo Lopez estivessem perfeitamente alinhados
com os de Washington, as comunicações diplomáticas norte-americanas
divulgadas por WikiLeaks salientavam as suas tendências fanáticas que
acabariam por levá-lo a uma marginalização em relação às tendências
populares. Um email tornado público qualifica-o como "uma figura de
divisão dentro da oposição (…) frequentemente descrita como arrogante,
vingativa e faminta de poder". Outros destacavam a sua obsessão pelos
"confrontos de rua" e as suas "opiniões inflexíveis" como fontes de tensão
com outros dirigentes da oposição que davam prioridade à unidade e à
participação nas instituições democráticas do país.
Espremer a seca contra o povo
Em 2010, o Vontade Popular e os seus apoiantes estrangeiros
mobilizaram-se para tirar partido da maior seca que atingiu a Venezuela em
décadas. Profunda escassez de energia eléctrica atingiu o país devido à
falta de água nas barragens. A recessão económica global e o declínio dos
preços do petróleo agravaram a crise, provocando um alastramento do
descontentamento popular.
Stratfor e CANVAS – conselheiros essenciais de Guaidó e dos quadros
anti-governamentais – elaboraram um plano de elevado cinismo para
apunhalarem o coração da Revolução Bolivariana. O esquema dependia de um
colapso de 70% do sistema eléctrico do país, em Abril de 2010.
"Este poderia ser o divisor de águas, pois há pouco que Chávez possa
fazer para proteger os pobres do fracasso deste sistema", lê-se num
memorando interno da Stratfor. Tais condições provavelmente "teriam o
impacto de galvanizar a agitação pública de uma forma que nenhum grupo de
oposição poderia esperar alcançar. Naquele momento, um grupo de oposição
que melhor soubesse tirar partido da situação e virá-la contra Chávez
ficaria mais perto dos seus objectivos", salienta ainda o memorando.
Por essa altura, a oposição venezuelana recebia as generosas verbas de 40
a 50 milhões de dólares por ano de organizações governamentais dos Estados
Unidos, tanto a USAID como a NED, de acordo com um think tank espanhol, o
Instituto Fride. Além disso, extraía vantagens das suas próprias contas
bancárias, existentes sobretudo no exterior do país.
Embora o cenário descrito pela Stratfor não se tenha concretizado, os
activistas do partido Vontade Popular e os seus aliados puseram então de
lado quaisquer pretensões de não-violência e aderiram ao plano mais
radical para desestabilizar o país.
Nova "formação", agora no México
Em Novembro de 2010, segundo e-mails obtidos pelos serviços de segurança
venezuelanos e apresentados pelo ex-ministro da Justiça Miguel Rodriguez
Torres, Guaidó, Goicoechea e vários outros activistas estudantis
participaram num treino de cinco dias no hotel Fiesta Mexicana na Cidade
do México. As sessões foram conduzidas pelo Otpor, a instituição para
mudanças de regime baseada em Belgrado e apoiada pelo governo dos Estados
Unidos. A iniciativa teve a bênção de Otto Reich, um exilado cubano e
fanático anti-castrista que trabalhava no Departamento de Estado
norte-americano da administração de George W. Bush, e do ex-presidente
colombiano de extrema-direita Álvaro Uribe.
No hotel Fiesta Mexicana, segundo os emails, Guaidó e os seus colegas
activistas traçaram um plano para derrubar o presidente Hugo Chávez
gerando o caos violento e permanente nas ruas.
Três figuras de proa do sector do petróleo – Gustavo Torrer, Elígio
Cedeño e Pedro Burelli – terão coberto as despesas no hotel mexicano, da
ordem dos 52 mil dólares. Torrer é um autodenominado "activista dos
direitos humanos" e um "intelectual", cujo irmão mais novo, Reynaldo
Torrer Arroyo, é o representante na Venezuela da empresa privada de
petróleo e gás mexicana Petroquímica do Golfo, que tem um contrato com o
Estado venezuelano.
Cedeño, por sua vez, é um empresário venezuelano trânsfuga que pediu
asilo nos Estados Unidos; e Pedro Burelli é um ex-executivo do JP Morgan e
ex-director da empresa estatal petrolífera da Venezuela (PDVSA), que
abandonou em 1998 quando Hugo Chávez assumiu o poder. É membro do Comité
Consultivo do Programa de Liderança na América Latina da Universidade
norte-americana de Georgetown.
Burelli insistiu que os emails pormenorizando a sua participação foram
fabricados e contratou até um detective particular para alegadamente o
comprovar. O investigador declarou que os registos do Google revelaram que
os e-mails em causa nunca foram transmitidos.
Ainda hoje, porém, Burelli não esconde o seu desejo de ver o actual
presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, deposto – e até arrastado pelas
ruas e sodomizado com uma baioneta, como aconteceu com o dirigente líbio
Muammar Khadaffi, vítima de terroristas apoiados pela NATO.
As sangrentas "guarimbas"
A trama do Fiesta Mexicana evoluiu para outro plano de desestabilização
revelado numa série de documentos divulgados pelo governo venezuelano. Em
Maio de 2014, meios governamentais mostraram provas de uma trama de
assassínio de Nicolás Maduro encabeçada por Maria Corina Machado, de
Miami. Uma dirigente de linha dura, com tendências para a retórica
extremista, que tem funcionado como um elo internacional da oposição e foi
recebida em 2005 pelo presidente norte-americano George W. Bush.
"Acho que é hora de reunir esforços; faça os telefonemas necessários e
obtenha financiamento para liquidar Maduro, porque o resto irá
desmoronar-se", escreveu Corina Machado num email dirigido ao ex-diplomata
venezuelano Diego Arria, em 2014.
Num outro mail, Machado afirmou que a opção violenta teve a bênção do
embaixador dos Estados Unidos na Colômbia, Kevin Whitaker. "Eu já me
decidi, a luta continuará até que este regime seja derrubado e
entregamo-nos aos nossos amigos no mundo. Se fui a San Cristobal e me
expus com a presença na OEA, então nada temo. Kevin Whitaker já
reconfirmou o seu apoio e definiu os novos passos. Temos um talão de
cheques mais forte do que o do regime para quebrar o anel de segurança
internacional".
Naquele mês de Fevereiro, manifestantes estudantis que agiam como tropa
de choque da oligarquia exilada ergueram violentas barricadas em todo o
país, transformando bairros controlados pela oposição em fortalezas
violentas conhecidas como "guarimbas". Enquanto os media internacionais
retratavam a revolta como um protesto espontâneo contra o governo de mão
de ferro de Maduro, havia provas de que o Vontade Popular orquestrava o
espectáculo.
"Nenhum dos manifestantes usavam t-shirts das universidades, mas sim do
Vontade Popular e do Primero Justicia", declarou agora um dos
participantes nas guarimbas. "Podem ter sido grupos de estudantes, mas os
conselhos estudantis eram manipulados pelos partidos de oposição e são
responsáveis por eles".
Interrogado sobre quem eram os líderes do movimento, o mesmo participante
nas guarimbas disse: "Bem, para ser completamente honesto, eles agora são
legisladores".
A mão de Guaidó
Quarenta e três pessoas foram mortas durante as guarimbas de 2014. Três
anos depois irromperam de novo, provocando destruições massivas nas
infraestruturas públicas, o assassínio de apoiantes do governo e a morte
de 126 pessoas, muitas das quais chavistas. Em vários casos, partidários
do governo foram queimados vivos por gangues armados.
Guaidó esteve directamente envolvido nas guarimbas de 2014. Na verdade,
twittou um vídeo em que se exibia envergando um capacete e máscara de
gás, cercado por figuras embuçadas e armadas que tinham encerrado uma
estrada onde decorria um confronto violento com a polícia. Referindo-se à
sua participação na Geração 2007, proclamou: "Lembro-me que em 2007
gritávamos 'Estudantes!' Agora gritamos: 'Resistência! Resistência!'"
Guaidó apagou o twitt, manifestando aparente preocupação com a sua imagem
como defensor da democracia.
Em 12 de Fevereiro de 2014, no auge das guarimbas de então, Guaidó
juntou-se a Lopez no palco de um comício do Vontade Popular e Primero
Justicia. Numa longa diatribe contra o governo, Lopez instou a multidão a
marchar até às instalações da procuradora-geral, Luísa Ortega Diaz. Logo
depois, essas instalações foram atacadas por gangues armados que tentaram
queimar a procuradora depois de a arrojarem no solo. A vítima denunciou o
que qualificou como "violência planeada e premeditada".
Durante uma entrevista na TV, em 2016, Guaidó desvalorizou as mortes
resultantes de "guayas" – prática de guarimba que consiste em estender um
cabo de aço atravessando de um lado ao outro de uma estrada para ferir ou
matar motociclistas – como "um mito". Estes comentários tentaram branquear
uma armadilha mortal que assassinou civis desarmados como Santiago Pedroza
e decapitou Elvis Durán, entre outros.
Esta indiferença e insensibilidade perante a vida humana viria a
caracterizar a Vontade Popular aos olhos de grande parte do público,
incluindo muitos opositores de Maduro.
Guaidó não prestou contas à Justiça
À medida que a violência e a polarização política aumentavam em todo o
país, o governo começou a agir contra os dirigentes do Vontade Popular que
contribuíram para a situação.
Freddy Guevara, vice-presidente da Assembleia Nacional e segundo no
comando do Vontade Popular, foi o principal líder dos distúrbios de 2017
nas ruas. Foi julgado por esse facto; refugiou-se na Embaixada do Chile,
onde permanece.
Lester Toledo, membro da Assembleia do Estado de Zulia eleito pelo
Vontade Popular, foi procurado pela Justiça em Setembro de 2016 sob a
acusação de financiar o terrorismo e planear assassínios, em colaboração
com o ex-presidente colombiano, Álvaro Uribe. Toledo fugiu da Venezuela,
fez viagens e palestras organizadas por Human Rights Watch, a Casa da
Liberdade, apoiada pelo governo norte-americano, o Congresso dos Deputados
de Espanha e o Parlamento Europeu.
Carlos Graffe, outro membro da Geração 2007 treinado pelo Otpor e também
membro do Vontade Popular, foi preso em Julho de 2017. Segundo a polícia,
estava em poder de um saco de pregos, explosivos C4 e um detonador. Foi
libertado em 27 de Dezembro de 2017.
Leopoldo Lopez, líder de longa data do Vontade Popular, está sob prisão
domiciliária, acusado de ter um papel fundamental na morte de 13 pessoas
durante as guarimbas de 2014. A Amnistia Internacional definiu Lopez como
"prisioneiro de consciência" e declarou "insuficiente" a sua transferência
para o regime de detenção na residência. Enquanto isto, familiares das
vítimas das guarimbas apresentaram uma queixa com mais acusações contra
Lopez.
Yon Goicoechea, o ícone de propaganda dos irmãos Koch e fundador do
Primero Justicia, com apoio dos Estados Unidos, foi preso em 2016 pelas
forças de segurança, que alegaram ter encontrado um quilo de explosivos
no seu veículo. Num artigo no New York Times, Goicoechea protestou
contra as acusações como "uma invenção" e afirmou que tinha sido preso
simplesmente devido ao seu "sonho de uma sociedade democrática, livre do
comunismo". Foi libertado em Novembro de 2017.
David Smolansky, igualmente membro da Geração 2007, treinada pela Otpor,
tornou-se o mais jovem presidente de município da Venezuela quando foi
eleito em 2013, no subúrbio de El Hatillo. Foi destituído e condenado a 15
meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal por incitar à violência nas
guarimbas.
Fugiu da prisão, rapou a barba e com óculos escuros entrou no Brasil
disfarçado de padre, com uma Bíblia na mão e um rosário ao pescoço. Vive
em Washington, onde foi pessoalmente escolhido pelo secretário da
Organização dos Estados Americanos (OEA), Luís Almagro, para dirigir o
grupo de trabalho sobre a crise migratória e dos refugiados da Venezuela.
Em 26 de Julho, Smolansky realizou o que qualificou como "uma reunião
cordial" com Elliot Abrams , o criminoso do escândalo Irão-Contras agora
escolhido por Trump como enviado especial norte-americano para a
Venezuela. Abrams é conhecido por supervisionar a política clandestina dos
Estados Unidos para armar esquadrões da morte durante os anos oitenta na
Nicarágua, em El Salvador e na Guatemala.
O papel que agora lhe foi atribuído no golpe venezuelano faz temer o
lançamento de outra guerra por procuração banhada em sangue.
Quatro dias antes, Corina Machado proferira outra ameaça violenta contra
Maduro declarando que "se quer salvar a vida tem de perceber que o seu
tempo acabou".
O colapso do Vontade Popular devido à violência da campanha de
desestabilização, alienou grandes sectores de público apoiante e feriu
parcialmente a sua liderança.
Presidências sem eleições
Guaidó continuara a ser uma figura relativamente menor, tendo passado a
maior parte dos nove anos de carreira na Assembleia Nacional como membro
suplente. Oriundo de um dos Estados menos populosos da Venezuela, Guaidó
ficou em segundo lugar na sua lista das eleições parlamentares de 2015,
conquistando apenas 26% para assegurar o seu lugar na Assembleia Nacional.
Na verdade, até agora, talvez as suas nádegas fossem mais identificáveis
do que o seu rosto.
Guaidó é conhecido como presidente da Assembleia Nacional, dominada pela
oposição, mas nunca foi eleito para o cargo. Os quatro partidos da
oposição que compões a Mesa de Unidade Democrática na Assembleia decidiram
estabelecer uma presidência rotativa. A vez do Vontade Popular era a
seguinte, mas o seu presidente, Leopoldo Lopez, está em prisão
domiciliária; o segundo na chefia, Freddy Guevara, está refugiado na
Embaixada do Chile; o seguinte na ordem eleitoral seria Juan Andrés Mejía
mas, por razões que não são claras, Juan Guaidó foi o selecionado.
"Há uma hipótese que pode explicar a ascensão de Guaidó", admite Diego
Sequera, analista venezuelano. "Mejía é de classe alta, estudou numa das
universidades privadas mais caras da Venezuela e é difícil popularizá-lo,
ao contrário de Guaidó", diz. "Por um lado, Guaidó tem características
mestiças comuns, como a maioria dos venezuelanos, e parece mais um homem
do povo. Além disso, Mejía não fora exposto nos media, não poderia ser
construído a partir do nada.
Em Dezembro de 2018, Guaidó passou clandestinamente a fronteira e foi a
Washington, à Colômbia e ao Brasil coordenar o plano de manifestações em
massa durante a posse do novo mandato de Maduro. Na noite anterior à
cerimónia de posse de Maduro, o vice-presidente norte-americano, Michael
Pence, e a ministra dos Negócios Estrangeiros do Canadá, Chrystia
Freeland, telefonaram a Guaidó para lhe manifestarem o seu apoio.
Uma semana depois, o senador Marco Rubio, o senador Rick Scott e o
congressista Mario Diaz-Balart – todos oriundos da base de exilados
cubanos de direita – juntaram-se ao presidente Trump e ao vice-presidente
Pence na Casa Branca. A pedido deles, Trump concordou que se Guaidó se
proclamasse presidente, ele apoiaria.
O secretário de Estado, Michael Pompeo, encontrou-se pessoalmente com
Guaidó em 10 de Janeiro, segundo o Wall Street Journal. No entanto,
Pompeo não conseguiu pronunciar o nome de Juan Guaidó quando o mencionou
numa conferência de imprensa em 25 de Janeiro, referindo-se-lhe como "Juan
Guido".
No dia 11 de Janeiro, a página da Wikipedia de Guaidó tinha sido editada
37 vezes, o que revela um esforço para moldar uma figura até então mal
conhecida e que agora se tornara um quadro nas diligências de Washington
para mudar o governo da Venezuela. No final, a supervisão editorial da sua
página foi remetida ao Conselho de Elite de "enciclopedistas" da
Wikipedia, que o definiu como "presidente contestado da Venezuela".
Guaidó pode ter sido uma figura obscura, mas a sua combinação de
radicalismo e oportunismo satisfez as exigências de Washington. "Esta peça
interna estava em falta", disse um membro da administração Trump a
propósito de Guaidó. "Ele era a peça de que necessitávamos para que a
nossa estratégia fosse coerente e completa".
"Pela primeira vez", disse William Brownfield, o embaixador
norte-americano na Venezuela, "temos um líder da oposição que está
claramente a dar sinal às forças armadas e à polícia de que pretende
mantê-las ao seu lado".
Venha a "intervenção humanitária"
No entanto, o partido da Vontade Popular de Guaidó criou as suas tropas
de choque das guarimbas, que provocaram a morte a polícias e cidadãos
comuns. O próprio Guaidó vangloriou-se da sua participação em violentas
arruaças. Agora, para conquistar os corações e as mentes dos militares e
da polícia, Guaidó teve de apagar essa história banhada em sangue.
Em 21 de Janeiro, um dia antes do golpe, a esposa de Guaidó divulgou um
discurso em vídeo no qual apelou aos militares para se levantarem contra
Maduro. A sua performance foi tosca e desinspirada, ecoando as
perspectivas políticas limitadas do marido.
Numa conferência de imprensa perante os seus apoiantes, quatro dias
depois, Guaidó anunciou a sua solução para a crise: a realização de "uma
intervenção humanitária".
Enquanto aguarda assistência directa, Guaidó continua a ser o que sempre
foi – um projecto de estimação das cínicas forças externas. "Não interessa
se cai e se queima com todas estas desventuras", declarou Sequera sobre a
figura do golpe. "Para os americanos, ele é descartável".
05/Fevereiro/2019
(1) Tem uma conotação essencialmente desportiva mas, em geral, significa
o conjunto das oito universidades de elite do Nordeste dos Estados Unidos:
Brown, Columbia, Cornell, Dartmouth, Harvard, Princeton, Pensilvânia e
Yale
(2) Professor de Ciências Políticas da Universidade de Massachusetts
defensor da "desobediência política" e da "não violência" cujas teses têm
disso aproveitadas para desestabilizar regimes que o establishment
norte-americano pretende derrubar. As instituições por ele fundadas são
financiadas por organismos da CIA, como a NED, sobretudo quando se trata
organizar operações do tipo da que ocorre na Venezuela.
[*] Jornalista premiado, autor de vários livros, entre eles o best-seller
Gomorra Republicano, e documentários, designadamente Killing Gaza.
Fundador, em 2015, de The Grayzone Project .
[**} Jornalista e cineasta; autor de documentários e podcasts com ampla
distribuição, designadamente sobre o conflito israelo-palestino.
In
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/venezuela/guaido_05fev19.html#asterisco
5/2/2019
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