quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Sem projeto a favor do Brasil, oligarquias só têm plano anti-Lula

 
   

Jeferson Miola

Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto
Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial


O banqueiro Roberto Setúbal apela para o otimismo. “/Temos de acreditar
na terceira via/
<https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,temos-de-acreditar-na-terceira-via-diz-roberto-setubal,70003870511>”
[17/10], proclama o copresidente do Conselho de Administração do
Itaú-Unibanco, instituição que em 2020 obteve lucro líquido de R$ 18,5
bilhões e que no 1º semestre de 2021 já lucrou R$ 12,9 bilhões – cifra
59,4% superior ao lucro obtido no mesmo período do ano passado.

O jornalista Matheus Leitão injeta otimismo: “/pesquisa traz boa notícia
para a 3ª via/
<https://veja.abril.com.br/blog/matheus-leitao/pesquisa-traz-boa-noticia-para-a-terceira-via/>”
[16/10], escreve ele na revista /Veja/, explicando que o levantamento
“/Genial/Quaest traz um número interessante para os grupos do nem/nem –
nem Jair Bolsonaro, nem Lula/”: subiu de 24% para 29%.


A busca do bloco dominante pela mal apelidada “/3ª via/” – na verdade,
por uma candidatura anti-Lula viável [*aqui*
<https://jefersonmiola.wordpress.com/2021/09/24/terceira-via-e-o-nome-de-fantasia-da-opcao-anti-lula/>]
– não deriva de nenhuma contradição de fundo das oligarquias com o
programa executado pelo governo Bolsonaro. O problema, como se sabe, é
simplesmente de cálculo eleitoral.

Caso vislumbrasse a possibilidade de derrotar Lula com Bolsonaro, essa
lúmpen-burguesia não estaria inventando a chamada 3ª via, pois já teria
embarcado na campanha para a reeleição do sociopata-genocida, tal como
fez em 2018 naquela que ficou celebrizada como “/uma escolha muito
difícil/” entre o professor e a Aberração fascista.

Setores majoritários do PIB e da direita tradicional são categóricos em
rechaçar Lula, porém nunca descartam o voto em Bolsonaro. O que está em
jogo, para eles, é a continuidade da devastação ultraliberal.

Os retrocessos proporcionados por Bolsonaro criaram condições
impressionantes de saqueio, roubo dos fundos públicos e concentração de
riqueza. Na pandemia, o Itaú e o rentismo nacional e estrangeiro
acumularam lucros indecentes. E um par de ricaços passou a figurar na
lista de bilionários da revista Forbes, ao passo que 120 milhões de
pessoas desesperadas passaram a viver em situação de insegurança alimentar.

As oligarquias não se compadecem com o morticínio de 600 mil brasileiros
e brasileiras, mesmo sabendo que pelo menos 400 mil vidas poderiam ter
sido preservadas não fosse a gestão governamental criminosa da pandemia.
Também não se compadecem com 20 milhões de pessoas passando fome e 15
milhões de trabalhadores desempregados.

A ameaça fascista-autoritária tampouco sensibiliza os poderosos, que não
têm o menor apreço pela democracia porque apenas almejam continuar
acumulando cada vez mais, a despeito da barbárie à volta. O banqueiro do
Itaú defende, por exemplo, mais “/uma reforma trabalhista que aumente a
produtividade/”. O que significa isso, depois da destruição completa da
CLT e da “/uberização/” das relações de trabalho? Por acaso planejam um
regime mais escravocrata?

Esta lúmpen-burguesia que em 2016 golpeou Dilma e que em 2018 prendeu
Lula na maior farsa judicial do mundo para conseguir eleger Bolsonaro,
não tem um projeto a favor do Brasil e do povo brasileiro. Só tem o
/plano anti-Lula/.

Como expôs o ministro das /offshores/ Paulo Guedes em evento da Câmara
de Comércio Internacional [27/9], o /plano anti-Lula dos capitais/ é
bastante ambicioso e representa o sequestro do presente e do futuro do país.

O plano para os próximos 10 anos, explica Guedes, é “/continuar com as
privatizações. Petrobras, BB, todo mundo entrando na fila/”. O desmanche
ainda inclui a *contrarreforma administrativa que reforça o poder das
castas que capturam o Estado e golpeiam a democracia*
<https://jefersonmiola.wordpress.com/2020/09/04/contra-reforma-administrativa-reforca-castas-que-historicamente-capturam-e-golpeiam-o-estado/>
e a destruição final da previdência social com a adoção do mesmo regime
de capitalização financeira que faz do Chile o país com maior número de
suicídios de idosos do mundo

O Brasil talvez seja o único país do mundo que promoveu um processo de
reestruturação capitalista em plena pandemia. Uma reestruturação baseada
na precarização do trabalho e na desproteção radical dos trabalhadores,
com o propósito de aumentar a exploração e a taxa de lucro dos capitais.

O bloco dominante, insaciável no apetite de uma acumulação expansiva e
eterna de capital, quer ainda mais. E não importa se, para isso, precisa
lançar mão da barbárie fascista.

Lula é o “estraga-festa” do banquete das oligarquias servido às custas
da hecatombe humana; é o grande obstáculo à continuidade deste plano
anti-civilizatório, anti-povo e anti-soberania que unifica os interesses
de todas as frações das classes dominantes.

Não por outra razão as escórias oligárquicas fazem ordem unida na
tentativa desesperada de viabilizar uma alternativa anti-Lula. Em caso
de fracasso na empreitada, não hesitarão em partir para a ruptura
institucional para continuarem e aprofundarem o brutal processo de
devastação do país.

/*Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de
responsabilidade do colunista.*/

In
BRASIL 247
https://www.brasil247.com/blog/sem-projeto-a-favor-do-brasil-oligarquias-so-tem-plano-anti-lula
17/10/2021

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