quarta-feira, 17 de novembro de 2021

A ordem mundial tripartida e a guerra híbrida mundial

 
 


    Dmitry Orlov [*]



O general Mark Milley, a mais alta patente militar americana,
recentemente veio a público com uma revelação de sua lavra:   o mundo já
não é unilateral (com os EUA como a indiscutível potência hegemónica
mundial) ou bilateral (como era com os EUA e a URSS a equilibrarem-se
simetricamente num tango íntimo de destruição mútua assegurada). É agora
tripartido, com três grandes potências – os EUA, a Rússia e a China – a
entrarem numa "guerra tripolar". Esta é a expressão exacta que terá
usado no Fórum de Segurança de Aspen, a 3/Novembro/2021.

Isto parece estranho, uma vez que nem a Rússia nem a China estão
ansiosas por atacar os EUA ao passo que os EUA não estão em condições de
atacar nenhuma das duas. Os EUA acabam de ser derrotados num conflito de
duas décadas contra um adversário de quarta categoria (ou seja, o
Afeganistão) da forma mais humilhante possível, abandonando US$80 mil
milhões de material de guerra e desamparando milhares dos seus fiéis
servidores numa retirada precipitada que equivaleu a uma derrota. Estão
prestes a sofrer um destino semelhante na Síria e no Iraque. A sua
Marinha acabou de ser humilhada numa escaramuça menor com os iranianos
por causa de um petroleiro. Claramente, os EUA não estão em condições de
atacar ninguém.

Então, o que é que Milley poderia querer dizer? Ele pode não parecer
inteligente, mas é o homem mais poderoso do Pentágono. É claro que
Milley-Vanilley [1] <#nt> poderia estar apenas a reproduzir alguma
música estúpida saída da Casa Branca (que actualmente está cheia com
imbecis de primeira apanha). Isto faria sentido, uma vez que ao longo da
sua carreira Milley evitou cuidadosamente qualquer coisa que se
parecesse a acções militares reais e, portanto, implicasse a
possibilidade de derrotas. Em vez disso optou por se concentrar em
coisas como a produção de um relatório sobre o impacto das alterações
climáticas entre os militares dos EUA.

Os generais Mark Milley e Valery Gerasimov.

Eis aqui Milley fotografado durante um dos seus momentos de maior
orgulho, ao lado do general russo Valery Gerasimov, que viu o combate –
e a vitória – como comandante durante a Segunda Guerra da Chechénia.
Gerasimov foi então autor da doutrina de guerra híbrida da Rússia (a
Doutrina Gerasimov), a qual permite alcançar objectivos estratégicos e
políticos através de meios não militares, mas com apoio militar e
segredo de estilo militar, disciplina, coordenação e controlo. Em
comparação, o nosso general Milley é algo como um general recortado em
papelão, com um cordel que faz o seu maxilar inferior mover-se para cima
e para baixo levando a algum lugar dentro do pântano dos /think tanks/
de Washington e dos lobistas da indústria de defesa.

A Doutrina Gerasimov tem uma semelhança incrível com a doutrina chinesa
da guerra ilimitada, indicando que a Rússia e a China se harmonizaram
nas suas estratégias defensivas. Estas doutrinas foram concebidas para
amplificar as vantagens naturais da China e da Rússia, colocando os EUA
numa desvantagem máxima. Não é imediatamente claro se Milley é capaz de
compreender tais questões. Muito pelo contrário, é provável que a sua
segurança no emprego e carreira dependesse criticamente da sua
incapacidade de compreender qualquer coisa acima do seu nível de
remuneração. No entanto, uma vez que ele é o porta-voz de toda esta
confusão ímpia, precisamos pelo menos tentar considerar as suas palavras
pelo valor facial e tentar pensar o que a sua "guerra tripolar" poderia
significar.

Tanto a doutrina russa da guerra híbrida como a doutrina chinesa da
guerra ilimitada dão uma vantagem aos países com estruturas de controlo
rigorosas e centralizadas (ou seja, a China e a Rússia), enquanto
prejudicam gravemente os EUA, que têm uma elite de poder difusa e
internamente conflituosa dividida entre dois partidos e entre muitas
agências governamentais e entidades privadas concorrentes com muitas
oportunidades tanto para espionagem interna e externa como para
infiltração e fugas de informação nos media.

As vantagens da Rússia estão nas armas avançadas contra as quais os EUA
não têm contra-medidas, tais como mísseis hipersónicos e sistemas de
guerra por rádio, bem como numa enorme e só parcialmente explorada base
de recursos, especialmente de recursos energéticos. A vantagem da China
reside numa mão-de-obra enorme e altamente disciplinada que produz uma
vasta gama de produtos que os EUA têm de importar continuamente para
evitar que toda a sua economia se feche devido a rupturas na cadeia de
abastecimento. Por outro lado, tanto a China como a Rússia encontram-se
em desvantagem em enfrentar a grande e bem oleada máquina que os EUA tem
desenvolvido pela sua habitual intromissão nos assuntos de outras nações
e pelo enfraquecimento da sua soberania natural. Existe uma série de
mecanismos, desde exportações culturais a campanhas publicitárias
associadas a marcas populares até iniciativas nos media sociais
destinadas a corromper a mente dos jovens, a fim de exercer a influência
dos EUA sobre outras nações.

As respostas chinesa e russa a esta ameaça são quase diametralmente
diferentes:   enquanto a China constrói /firewalls/ e usa controlos
sociais rigorosos para conter a ameaça, a estratégia da Rússia é
permitir que a infecção estrangeira se difunda à vontade e deixar que o
sistema imunitário inato da sua nação crie anticorpos contra ela e a
neutralize. A Rússia traça as suas linhas vermelhas com a propaganda
directa de compra e venda do inimigo, incitamento à rebelião armada,
defesa do terrorismo, propaganda de perversão sexual entre crianças,
etc. Deste modo, a Rússia pode não só compensar esta desvantagem como
também transformá-la na sua própria vantagem:   enquanto o Ocidente está
a tornar-se cada vez mais antidemocrático e autoritário com os seus
infindáveis requisitos de correcção política, requisitos de
biodiversidade social e a busca de uma vida melhor através do
acasalamento não-reprodutivo, terapia hormonal e mutilação genital, a
Rússia permanece uma terra livre, com uma perspectiva social
saudavelmente conservadora que é bastante atraente para os povos de todo
o mundo e está a tornar-se cada vez mais atraente para muitos povos no
Ocidente à medida que se tornam penosamente conscientes dos salários do
pecado.

Porquê concentrar-se em guerra híbrida/ilimitada ao invés de um conflito
nuclear ou militar convencional entre os EUA e a China e/ou a Rússia?
Isto porque tanto o conflito militar convencional como o nuclear entre
qualquer destas três nações é uma escolha insana e suicida, ainda que
responsáveis pela definição da estratégia militar não sejam
seleccionados especificamente pelas suas tendências suicidas. Nem a
Rússia nem a China são conhecidas pelas suas guerras de agressão, ao
passo que os EUA são extremamente bem conhecidos pelas suas violentas
tendências homicidas (tendo executado 32 campanhas de bombardeamentos em
24 países desde a Segunda Guerra Mundial), por serem fundamentalmente um
rufia que só atormenta países fracos que não apresentam qualquer ameaça.
Com base na informação publicamente disponível, tanto a Rússia como a
China estão agora bastante à frente dos EUA no desenvolvimento de armas,
a um ponto em que qualquer possível ataque directo dos EUA a qualquer
deles seria na melhor das hipóteses auto-destrutivo e na pior suicida.

Na melhor das hipóteses, os EUA lançam um ataque que é repelido com
êxito:   bombardeiros e foguetes abatidos, navios afundados, bases
militares dos EUA e instalações portuárias destruídas, possivelmente
centros de comando e controlo dos EUA também destruídos, como bastante
explicitamente prometeu Putin. Os EUA jazem então prostrados e à mercê
dos seus oponentes. Se a sua cooperação ainda deixar algo a desejar,
alguma combinação de deploráveis, desprezíveis, imponderáveis e
indecifráveis será organizada o suficiente para fazer uma confusão
sangrenta do que resta das estruturas governamentais e das elites de
poder dos EUA, as quais serão então substituídas por uma força
internacional de manutenção da paz (num caso optimista) ou simplesmente
deixadas a persistir em desordem duradoura, miséria e isolamento
internacional.

*A tríade da dissuasão nuclear*

O pior cenário é a velha e estafada destruição mútua assegurada, o
Inverno nuclear e o fim da vida na Terra, mas é improvável por um certo
número de razões. Primeiro, da tríade de dissuasão nuclear dos EUA,
apenas a componente submarina continua viável e mesmo ela está bastante
desgastada. Nenhum dos mísseis Minuteman foi testado com êxito desde há
muito tempo e trata-se de mísseis balísticos que, uma vez terminada a
fase de impulso, seguem uma trajectória inercial perfeitamente
previsível, tornando-os alvos fáceis para os novos sistemas de defesa
aérea da Rússia. Dos Minutemen que conseguem sair dos seus silos e
lançar-se na direcção da Rússia ou da China, desconhece-se quantas das
suas cargas nucleares detonariam de facto, uma vez que todas elas são
bastante antigas e desde há muito não são testadas. Os EUA já não têm a
capacidade de fazer novas cargas nucleares, tendo perdido a receita para
fabricar o forte explosivo necessário para as fazer detonar. Mas isso
pode ser um ponto discutível, uma vez que, neste momento, é provável que
nenhum ICBM
<https://en.wikipedia.org/wiki/Intercontinental_ballistic_missile> seja
capaz de penetrar as defesas aéreas russas. Quanto às defesas aéreas
chinesas, é notável que a Rússia e a China tenham integrado os seus
sistemas de alerta precoce e a China tenha agora quatro divisões de
sistemas de defesa aérea russos S-400 Triumph e esteja a planear
acrescentar mais.

Stratofortress Boeing B-52.

Voltando à parte aerotransportada da tríade nuclear americana, a sua
base continua a ser o [bombardeiro] Stratofortress Boeing B-52, o mais
jovem dos quais tem quase 60 anos. Navega a 260 nós [481,5 km/h] a uma
altitude de 34000 pés [10,36 km] e é o oposto de furtivo, tornando fácil
abatê-lo a uma distância de várias centenas de quilómetros. Uma vez que
isto o torna perfeitamente inútil para largar bombas, tudo o que resta
são mísseis de cruzeiro, que voam a uma velocidade absolutamente lenta
de 0,65 Mach [776 km/h], tornando-os mais uma vez alvos fáceis para
defesas aéreas modernas. Também há alguns novos bombardeiros furtivos –
muito poucos e afinal não muito furtivos, colocando-os essencialmente na
mesma categoria dos Stratofortress. E os mísseis de cruzeiro que eles
podem lançar são também os mesmos velhos mísseis subsónicos.

Finalmente, há os submarinos nucleares estratégicos, os quais são a
única parte da tríade nuclear dos EUA que ainda é viável. Eles continuam
a ser eficazes como dissuasores e têm a capacidade de se aproximarem
para lançar um ataque furtivo com uma boa probabilidade de pelo menos
alguns dos mísseis passarem através das defesas aéreas. Mas não podem
esperar contornar a inevitabilidade da retaliação que causará danos
inaceitáveis e fatais para os EUA continentais. Isto torna-os inúteis
como uma arma ofensiva.

Acrescente-se a isto a actual doutrina nuclear da Rússia, segundo a qual
qualquer ataque contra território soberano russo ou interesses soberanos
russos, convencionais ou nucleares, abriria a porta a uma retaliação
nuclear, lançada após o aviso e a promessa solene de Putin de
contra-atacar não só os locais de onde foi lançado um ataque como também
contra os centros de tomada de decisão. Considerando que os mísseis
russos são hipersónicos e atingirão os seus alvos antes de os dos EUA
atingirem os seus, e que a Rússia tem meios para abater mísseis
americanos enquanto os EUA não conseguem abater mísseis russos, se os
EUA lançassem um ataque, os seus lançadores estariam mortos antes de
poderem descobrir se o ataque conseguiu causar algum dano ou se apenas
se suicidaram por nada. Tudo isto leva a uma conclusão inevitável:   em
circunstância alguma os EUA atacarão a Rússia ou a China, utilizando
armas convencionais ou nucleares.

Há peritos que são da opinião de que uma guerra mundial poderia irromper
espontaneamente a qualquer momento sem que ninguém o desejasse, tal como
o mundo deslizou para a Primeira Guerra Mundial devido a uma confluência
de acidentes infelizes. Mas há uma grande diferença:   as lideranças
militares e civis dos lados beligerantes na Primeira Guerra Mundial não
tinham mísseis hipersónicos apontados directamente às suas cabeças. Eles
pensavam que a guerra seria travada longe dos seus palácios,
quartéis-generais e mansões estatais. Em alguns casos, estavam bastante
enganados, mas esse era o seu pensamento original:   porque não testar
as nossas proezas industriais, sacrificando a vida de vários milhões de
camponeses inúteis?

Agora a situação é bastante diferente:   qualquer provocação substancial
é um desencadeador automático de autodestruição e todos os lados sabem
disso. Claro que haverá provocações menores, tais como a US Navy a
fumegar no Estreito de Formosa ou no Mar Negro perto das costas da
Crimeia, mas eles têm de ganhar o seu sustento de alguma forma. Por sua
vez, os russos e os chineses irão periodicamente aumentar um pouco a
fasquia enxotando-os com palavras duras em mensagens de radio ou com
alguns tiros disparados na sua direcção. Mas ambos os lados sabem o quão
cuidadosos têm de ser, porque qualquer erro grave exigirá uma
desescalada imediata e pode implicar uma grande perda de face. E isso,
como se costuma dizer, seria pior do que um crime:   seria um erro.

*Só resta a guerra híbrida*

As provocações de que os EUA ainda são capazes podem tornar-se cada vez
mais débeis com o tempo. Os EUA perderam a corrida às armas tanto contra
a Rússia como contra a China e é pouco provável que alguma vez consigam
recuperar o atraso. Por outro lado, nem a Rússia nem a China são
propensos a atacar os EUA. Não há razão para o fazer, dado que podem
obter o que querem – uma diminuição gradual da influência dos EUA – sem
recorrerem à acção militar em grande escala. Manter uma forte postura
defensiva enquanto projectam poder dentro das suas esferas de interesse
em expansão seria suficiente para qualquer deles. Assim, tudo o que
resta para os EUA é a guerra híbrida:   guerra financeira sob a forma de
sanções, impressão agressiva de dólares e lavagem de dinheiro legalizada
em larga escala, guerra informativa jogada na Internet, guerra médica
utilizando novos agentes patogénicos, drogas [2] <#nt> e vacinas, guerra
cultural sob a forma de promoção e defesa de sistemas de valores
conflituosos e assim por diante, com actividades militares limitadas ao
uso de /proxies,/ fomentando golpes e guerras civis, acções de empresas
militares privadas e assim por diante.

Se Milley está a depositar as suas esperanças em ser capaz de provocar
um conflito entre a China e a Rússia, é provável que fique desapontado.
Estes dois países vizinhos muito grandes são sinérgicos. A China tem uma
tremenda capacidade produtiva para produzir todo o tipo de produtos
acabados mas tem recursos naturais limitados e tem uma capacidade
limitada para interagir com o resto do mundo, excepto através do
comércio e das trocas comerciais. A Rússia, por outro lado, tem recursos
naturais virtualmente ilimitados mas, com uma população mais pequena,
embora altamente educada, espalhada por um terreno vasto e algo
inóspito, é obrigada a concentrar os seus esforços em determinados
sectores estrategicamente importantes como a exportação de energia e
alimentos, sistemas de armas de alta tecnologia, energia nuclear,
vacinas e produtos de energia intensiva como fertilizantes, plásticos e
metais, onde o seu acesso a energia barata lhe proporciona uma vantagem
competitiva.

Um dos principais pontos fortes da Rússia é a capacidade culturalmente
enraizada de compreender pessoas de outras culturas e de manter relações
cordiais mesmo através de grandes clivagens culturais e linhas inimigas.
A Rússia tem uma capacidade única de oferecer estabilidade e segurança,
tanto através de uma diplomacia cuidadosa como através da oferta de
sistemas avançados de armas defensivas. Os chineses têm estado a comprar
agressivamente em economias de todo o mundo, investindo em grandes
projectos de infra-estruturas para promover o seu comércio, mas são por
vezes considerados desprovidos de delicadeza diplomática e de
compreensão das sensibilidades locais, alienando os seus parceiros ao
exigir-lhes directamente uma participação de controlo nos seus
investimentos. Os russos, por outro lado, compreendem que é preciso pelo
menos beijar uma rapariga antes de se oferecerem para pagar a sua
universidade.

Tal delicadeza tende a ser interpretada como fraqueza por certos
ocidentais que, ao longo de muitos séculos de guerras fratricidas e
colonialismo genocida, foram condicionados a respeitar apenas a força
bruta e a entender as relações apenas em termos de domínio ou submissão.
Com a súbita partida dos EUA da cena mundial, muitas nações europeias
mais pequenas estão agora activamente à procura de um novo mestre para
as dominar. Tanto os chineses como os russos provavelmente vão deixá-las
desapontadas. Se bem que o comércio chinês e a segurança russa
(incluindo a segurança energética) serão oferecidos, elas estarão por
sua conta e forçadas a ganhar o seu próprio sustento e os seus
juramentos de fidelidade cairão em ouvidos moucos. Os europeus de Leste,
em especial, poderão achar impossível enraizaram-se outra vez no mundo
russo. Os russos já estão fartos deles e da sua duplicidade. A sua outra
opção será ir trabalhar para os chineses.

A Rússia e a China complementam-se e são mais propensas a trabalhar uma
com a outra do que uma contra a outra nas suas relações mútuas e com o
resto do mundo. Este não é certamente o caso dos EUA, quer em relação à
China, quer em relação à Rússia. Durante a década de 1990 e 2000,
enquanto a China se transformava rapidamente no centro de produção
mundial, enquanto a Rússia se recuperava do revés que havia sofrido com
o colapso soviético, os EUA conseguiram posicionar-se como a nação
consumidora indispensável do mundo, redireccionando uma fatia de leão
dos recursos e dos produtos manufacturados mundiais para alimentar os
seus apetites em troca de dólares impressos (expropriando continuamente
as poupanças do mundo enquanto exportava inflação) e utilizando a ameaça
de acção militar contra quem quer que desafiasse este esquema. Mas agora
a situação é diferente:  a maior parte do comércio da China já não é com
os EUA e sim com o resto do mundo, a Rússia está totalmente recuperada e
a desenvolver-se lenta mas seguramente, a quota dos EUA na economia
mundial contraiu-se, o apetite por dólares impressos sob a forma de
dívida do governo dos EUA diminuiu muito e quanto ao seu antigo domínio
militar de espectro total, ver acima.

*Que os EUA façam as malas*

Ainda assim, o general Milley deseja travar uma guerra tripolar contra
dois pólos que não combatem entre si e que também não anseiam por um
combate com os EUA. Eles só querem que os EUA façam as malas, vão para
casa e não ensombrem mais os horizontes em torno da Eurásia. Como me
esforcei por explicar acima, os EUA não estão em posição de desafiar um
ou ambos num conflito militar total, ou de arriscar-se a envolvê-los de
um modo que corra um grande risco de provocar um deles. Em tais
circunstâncias, o que pode fazer uma burocracia gigantesca, dispersa,
generosamente financiada, corrupta e disfuncional a fim de justificar a
sua existência? A resposta é, creio eu, óbvia:   envolver-se em pequenas
travessuras, ou seja, em guerras híbridas, mas ao fazê-lo encontra-se,
como já expliquei, em desvantagem.

A lista das pequenas travessuras é longa e torna a leitura enfadonha. O
melhor a ser feito com isto é transformá-la em comédia. Tomemos, por
exemplo, o imbróglio, digno do /Decameron/
<https://fr.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9cam%C3%A9ron> de Boccaccio, de
Tikhanovskaya – a fada das costeletas e presidente fantasma da
Bielorrússia – que recentemente se juntou ao clube de falsos líderes
substitutos, ao lado de Juan Random Guaidó, presidente fantasma da
Venezuela, que fracassou em tomar o poder do profundamente
entrincheirado presidente bielorrusso Lukashenko e está agora a
acalmar-se na vizinha Lituânia. Tendo reconhecido o abjecto fracasso da
tomada de poder de Tikhanovskaya, o Departamento de Pequenas Travessuras
tentou organizar um escândalo em torno de um velocista bielorusso
durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, cujo nome é... Timanovskaya!
Pensaram que ninguém perceberia a substituição de um único personagem. A
manobra falhou, e Timanovskaya está agora a acalmar-se na vizinha Polónia.

Tem havido outras tentativas, em escala muito maior, de pequenas
travessuras, igualmente ineptas e igualmente espectaculares no seu fracasso.

*1.* Houve a tentativa de forçar o mundo inteiro a submeter-se a uma
campanha de inoculação implacável (em preparativos desde 2009) no
decurso da qual uma interacção entre agentes patogénicos geneticamente
modificados e vacinas geneticamente modificadas seria utilizada para
obter lucros fabulosos para as Grandes Farmacêuticas /(Big Pharma),/ ao
mesmo tempo que provocando genocídio selectivo da população de certos
países inamistosos ou indesejáveis. Resultado final: A China combateu
amplamente o agente patogénico e produziu a sua própria vacina enquanto
a Rússia produziu várias vacinas, a mais popular das quais tem-se
provado segura e eficaz, tendo-se transformado num importante centro de
lucro ao ser exportada para 71 países e ganhando a Rússia mais receitas
de exportação do que com a exportação de armas.

Enquanto isso, não só as vacinas ocidentais estão a revelar-se com
eficácia inferior a 50% (muito menos do que as da Johnson & Johnson)
como milhares de pessoas estão de facto a caírem mortas ou a ficarem
gravemente doentes. O mais alarmante é que atletas jovens e recém
vacinados caem mortos por ataques cardíacos até no campo de jogo
<https://www.globalresearch.ca/athletes-dead-hospitalized-covid-injections/5761192>
– dúzias deles![3] <#nt> A única resposta possível a isto por parte das
autoridades – a única que elas são capazes de dar – é redobrar, exigindo
que toda a gente seja vacinada repetidas vezes. A estratégia de
marketing do "se o nosso produto o deixar doente, dar-lhe-emos mais"
dificilmente é eficaz e, a seu tempo, está a produzir rebelião aberta em
muitos lugares, encerrando indústrias inteiras e em geral lançando
sociedades e economias no caos. Missão cumprida!

*2.* Há uma tentativa contínua de forçar países de todo o mundo a pagar
uma taxa de carbono pelas suas emissões, ao passo que os países que se
dedicam à ficção inútil /(cargo cult)/ de construir capacidades de
geração solar e eólica estão isentos da mesma. Muitos modelos climáticos
dispendiosos mantiveram os supercomputadores a zumbir e foram convocadas
conferências climáticas internacionais, nas quais as pessoas podiam
torcer as mãos e chafurdar de auto-comiseração sobre a catástrofe
climática imaginária que se avizinha. Mas a seguir surgiu uma grande
complicação:   tanto a Rússia como a China conseguiram transformar a
situação em sua vantagem. No caso da China, o caso é simples:   o que
permite à China fabricar e exportar produtos que o resto do mundo adora
importar é a sua utilização de carvão e bastou apenas uma redução
temporária no seu uso para demonstrar que quaisquer restrições deste
tipo prejudicariam os EUA devido a perturbações na cadeia de
abastecimento, mais do que prejudicariam a China.

No caso da Rússia, a situação é ainda mais simples:   do ponto de vista
das emissões de dióxido de carbono, a Rússia é o país mais verde do
mundo, produzindo a maior parte da sua electricidade a partir da energia
nuclear e da hidroeléctrica livres de carbono, bem como do gás natural
com baixo teor de carbono. Tem também 20% das florestas do mundo as
quais, em caso de aquecimento global e de aumento das concentrações de
dióxido de carbono atmosférico, se espalhariam rapidamente para norte
através da tundra em direcção ao círculo Árctico, absorvendo quantidades
prodigiosas de dióxido de carbono. Portanto, os EUA e o resto do
Ocidente negociaram consigo próprios um beco sem saída de sua própria
criação, sendo forçados a provocar danos às suas economias através de
políticas de descarbonização mal orientadas que de outra forma ninguém
lhes teria pedido que seguissem. Mais uma vez, missão cumprida!

*3.* Ainda outra tentativa de fazer maldades mesquinhas é a área dos
direitos humanos e da democracia. A noção de direitos humanos
individuais foi bastante bem sucedida contra a URSS, distorcendo as
mentes de várias gerações da /intelligentsia/ russa levando-a a ficar
envergonhada com o seu próprio país (e quase completamente inconscientes
de muitos crimes mais horripilantes contra a humanidade executados pelo
Ocidente colectivo). Os chineses, pelo seu lado, pouco se moveram da sua
perspectiva tradicional (seja ela confucionista ou comunista) que
equilibra privilégios com responsabilidades e deixa muito pouco espaço
para noções tão frívolas como os direitos universais individuais. Mas
nas últimas décadas, os russos conseguiram regressar a um entendimento
mais equilibrado da sua própria história e a uma maior consciência das
múltiplas atrocidades perpetradas por aqueles que os criticavam. A
grosseira hipocrisia daqueles que utilizavam tais tácticas também se
tornou gritantemente óbvia com ultrajes como a prisão ilegal de Julian
Assange e o exílio de Edward Snowden.

O caso de Maria Butina, uma pessoa espectacular que agora é membro do
parlamento russo, também impressionou. Ela foi falsamente acusada de ser
uma agente estrangeira com base no agora desacreditado Dossier Steele
<https://en.wikipedia.org/wiki/Steele_dossier> que o campo de Hillary
Clinton havia inventado para caluniar Donald Trump. Butina permaneceu
presa durante 18 meses, passando grande parte desse tempo em solitária
(um tratamento que equivale a tortura). Foi forçada a declarar-se
culpada de uma acusação falsa perante um juiz de um tribunal canguru
antes de ser libertada e autorizada a regressar à Rússia. Ela descreveu
a sua provação num /best-seller/ e qualquer pessoa que tenha lido o
livro assimilou uma mensagem importante:  simplesmente não existe tal
coisa como o sistema de justiça americano. Uma das principais razões
pelas quais Butina foi escolhida para tal tratamento teve a ver com o
seu sobrenome, que difere apenas por uma letra do de Putin:   há mais
uma vez aquela substituição de uma única letra! Com um nome tão
semelhante ao daquele horrível ditador Putin, é claro que ela seria
considerada culpada! Eu não ficaria surpreendido se houvesse um certo
canalha mal-intencionado nas entranhas da CIA ou do Departamento de
Estado que apresentasse estas ideias nefastas realmente esquadrinhando
documentos em busca de nomes que soem de modo semelhante.

Quanto à democracia, o conceito é válido mas aplica-se de modo diferente
a cada nação, com base nos seus valores e tradições únicas. No entanto,
a imagem servida nos EUA, onde cerca de metade do eleitorado sente que
foi trapaceado durante as últimas eleições presidenciais; ou na UE, cuja
Comissão Europeia é dominada por pomposos insignificantes não eleitos;
ou no modo como foi mal aplicada no Afeganistão, Iraque e outras países
invadidos e destruídos pelo Ocidente, muito fez para desacreditar o
conceito. Joe Biden, que está agora a trabalhar na montagem de um
conjunto virtual de nações que ele considera democráticas e faz uma
lista verificando-a duplamente a fim de excluir todos os que não
considera suficientemente democráticos, está demasiado senil para
compreender o simples facto de ter perdido qualquer direito de apelar ao
conceito de democracia dado o modo como foi eleito e o que fez ao
Afeganistão.

A imagem que vos deixo é a de um avião de transporte pilotado pelo
demente Joe Biden e co-pilotado por aquela pateta risonha da Kamala
Harris, com alguns líderes de nações supostamente democráticas (os que
não conseguiram assimilar a lição do Afeganistão) agarrados ao seu trem
de aterragem e com o general Millie-Vanillie sentado no porão de carga a
limpar a sua arma, preparando-se para combater a Terceira Guerra Mundial
tanto contra a Rússia como contra a China.


        14/Novembro/2021


        NT
        [1] Milley Vanilley: Alcunha lançada por Trump
        <https://radiopatriot.net/2021/06/30/trump-speaks-out-about-milley-vanilley/>.
        [2] Ver /The Politics of Heroin: Central Intelligence Agency
        Complicity in the Global Drug Trade/
        <https://www.bookdepository.com/Politics-Heroin-Alfred-W-McCoy/9781556521256?ref=grid-view&qid=1637064083573&sr=1-1>
        [3] Ver também Anyone notice a pattern yet?
        <https://www.reddit.com/r/conspiracy/comments/pvclez/anyone_notice_a_pattern_yet/>



    [*] Analista político. Autor de /The Five Stages of Collapse:
    Survivors' Toolkit/
    <https://www.bookdepository.com/Five-Stages-Collapse-Dmitry-Orlov/9780865717367?ref=grid-view&qid=1637029647298&sr=1-1>,
      /Reinventing Collapse: The Soviet Experience and American
    Prospects/
    <https://www.bookdepository.com/Reinventing-Collapse-Dmitry-Orlov/9780865716858?ref=grid-view&qid=1637029738442&sr=1-2>
    e /Shrinking the Technosphere/
    <https://www.bookdepository.com/Shrinking-Technosphere-Dmitry-Orlov/9780865718388?ref=grid-view&qid=1637029808079&sr=1-3>


    O original encontra-se em
    thesaker.is/the-tripartite-world-order-and-the-hybrid-world-war/
    <https://thesaker.is/the-tripartite-world-order-and-the-hybrid-world-war/>

In
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/eua/orlov_14nov21.html#asterisco
14/11/2021

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