Candido Vieitez
Metamorfoses do controle operário: a luta histórica dos produtores pela reapropriação do trabalho.
Marília/SP: Lutas anticapital, 2023
A empresa capitalista surgiu no
século XVI. O capital desenvolveu-se
lentamente durante quatro séculos. E
quatro séculos foi o tempo que os pa-
trões precisaram para conseguir obter
um controle pleno da força de trabalho
na empresa. Nesse meio tempo esse
controle não pôde realizar-se porque
os patrões não podiam prescindir da
expertise de uma importante fração dos
trabalhadores, ou seja, o controle dos
processos de produção pelos operários
artífices.
Esse CO (controle operário) tra-
dicional, foi um acontecimento imanen-
te às condições de trabalho. Porém, a
contar de meados do século XIX, o fe-
nômeno deixou de ser simplesmente
imanente, e os trabalhadores passaram
a lutar por ele conscientemente através
de seus sindicatos. Porém, os artífices e
o CO não se mantiveram circunscritos
à esfera econômica. Eles foram atraídos
pelas primeiras formulações socialistas.
Numa dessas encruzilhadas da história,
esse elo não tão visível, manifestou-se
de modo espetacular e dramático em
1871, com a eclosão da Comuna de Pa-
ris. A Comuna, composta principalmen-
te por artífices de vários tipos, exibiu
o potencial expansivo do CO, uma vez
que este irrompeu na esfera político-
-territorial, para em seguida erigir-se
em poder estatal.
O CO, como controle do pro-
cesso de trabalho, caiu com a segunda
revolução industrial, a escola capitalista
em ascensão e, por fim, a teoria da ge-
rência científica. Foi a partir da taylori-
zação da indústria, que a atividade de-
miúrgica dos trabalhadores no processo
de trabalho foi erradicada, ao mesmo
tempo em que a organização da produ-
ção foi posta em mãos de uma estrita
casta de profissionais escolhida a dedo
pelos patrões.
Os patrões esperavam liquidar
o controle operário, mas isso não saiu
como imaginaram. Em 1917, no processo
da Revolução Russa, emergiu um novo
tipo de CO. Este, encampado agora por
toda a classe proletária, pleiteou não o
controle do processo de produção, se-
não que o controle de toda a vida fabril,
o que envolveu numa primeira formula-
ção, a supervisão e regulação das ativi-
dades das empresas. O CO teve impor-
tante papel na eclosão da Revolução. E
tal qual tinha ocorrida com a Comuna,
durante seu transcurso, foi além do
controle econômico erigindo-se tam-
bém em controle político-territorial com
os soviets, os quais subsequentemente
se tornaram os organismos de governo
do Estado operário-camponês.
A ideia de CO como forma de
luta integrou a pauta da III Internacio-
nal. E o mesmo esteve presente em
muitos episódios candentes na Europa
e mesmo em outras partes do mun-
do. Depois da Segunda Guerra, sofreu
uma espécie de eclipse. Ainda assim
a consigna não desapareceu. Esteve
presente na Revolução dos Cravos, em
Portugal, na revolução bolivariana na
Venezuela, atesta sua presença no mo-
vimento operário na Argentina, e ainda
que com parcimônia, também da fé de
sua presença no movimento operário e
popular brasileiro.
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