segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

"A esquerda precisa urgentemente, no Brasil e no mundo, ter um programa de superação do capitalismo", diz Stédile, do MST

 
 



"Mais do que nunca nos faz falta uma esquerda com um programa radical. O
capitalismo não resolve mais os problemas da população", afirma João
Pedro Stédile edit


João Pedro Stedile


*247 - *Líder histórico do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST),
João Pedro Stédile fez, em entrevista ao Opera Mundi, uma análise do que
chamou de "crise" da esquerda e do capitalismo no Brasil e no mundo e
lamentou a inexistência de uma esquerda com programa "radical" em um
momento histórico "de crise do capitalismo, do imperialismo, da situação
ambiental, da vida no planeta".

Para Stédile, a esquerda falha todos os dias ao não organizar a classe
trabalhadora em torno de um programa de mudanças estruturais. "A
esquerda, fruto daquela derrota histórica da União Soviética, das ideias
socialistas, ela refluiu. E a esquerda cometeu um erro fundamental: em
todo o Ocidente priorizou a via eleitoral, e a via eleitoral é um dos
espaços da luta de classes. Porém, a verdadeira força de uma esquerda é
quando ela organiza a classe trabalhadora. Organizar significa ter
núcleos, organização política e um programa de mudanças estruturais. E
isso nos faz falta. E essa falta é ainda mais sentida porque o período
histórico é de crise do capitalismo, de crise do imperialismo, é de
crise da situação ambiental, da vida no planeta".

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"Então mais do que nunca nos faz falta uma esquerda que tivesse um
programa radical. E radical no sentido de ir às raízes dos problemas.
Então tem que ser radical mesmo, no sentido de que tem que propor
mudanças estruturais. E nós estamos convencidos: o capitalismo não
resolve mais os problemas da população, da classe trabalhadora, das
maiorias. Então, para a centro-esquerda, é preciso apresentar propostas
anti-capitalistas, pós-capitalistas, que acenem para um projeto de
superação da exploração. A esquerda precisa, urgentemente, no Brasil, na
América Latina e no mundo, ter um programa de superação do capitalismo,
que signifique solução para os problemas das maiorias. E os problemas
das maiorias só terão solução com mudanças estruturais, na forma de
organização, no modo de produção e no Estado burguês”.

Para ele, no Brasil, a paralisação das esquerdas se deve à "hegemonia
completa que os meios burgueses de comunicação têm". Ele citou, por
exemplo, a máquina de propaganda sionista no Brasil e no mundo que
protege Israel, apesar das atrocidades cometidas pelo governo daquele
país contra os palestinos da Faixa de Gaza. "A Globo, os grandes
jornais, as grandes revistas. Todo mundo a favor dos crimes de Israel.
Quantas manifestações de esquerda nós vimos colocando em dúvida: ‘ah,
mas o Hamas também é terrorista’; e esqueceram os 70 anos de tortura,
prisões, mortes que o governo de Israel fez? O governo de Israel só tem
o interesse de acabar com o povo palestino, e a guerra agora contra quem
está em Gaza é apenas um detalhe. Então um dos motivos é esse. Aqui no
Brasil há uma hegemonia muito grande, a burguesia controla os meios de
comunicação. E naquilo que ela tem interesse, é impressionante como ela
influi”.


Stédile classificou como "vergonhoso" o fato de a esquerda brasileira
não ter meios de comunicação próprios e fortes e falou em "crise geral"
deste setor político no país. "Estamos vivendo uma crise de organização
da esquerda, dos movimentos populares. Vai levar um tempo até que a
gente consiga chegar às massas. É preciso ter militância, movimentos
populares organizados, vontade política, ter visão estratégica para
saber pelo que nós temos que nos mobilizar nessa luta anticapitalista e
por um mundo melhor”.

Ainda sobre o caso de Israel e Palestina, o líder do MST citou
manifestações pró-Palestina no Brasil e no mundo como "sinais" de que a
burguesia não consegue controlar 100% da narrativa. “São sinais de que a
hegemonia ideológica do capital e seus aparatos de meio de comunicação
de massa, televisão, redes sociais não conseguiram derrotar as ideias da
solidariedade e da luta. Porém, essas mobilizações não são em torno de
um projeto. Elas são muito mais reações indignadas a um crime. (...) Há
sinais de que a burguesia não consegue controlar as mentes e corações
todo o tempo. Porque a campanha pró-Israel que eles têm feito nesses
meses é vergonhosa. O Jornal Nacional aqui no Brasil, que é visto por 80
milhões de brasileiros, parece o departamento de propaganda do sionismo
internacional. E mesmo assim as pessoas estão revoltadas contra o
governo de Israel? Então é um sinal de que há energias latentes que nós
poderemos, no futuro, mobilizar. Mas aquele processo de movimento de
massas depende de um fator fundamental: a classe trabalhadora. E a
classe trabalhadora aqui no Brasil, nos Estados Unidos e em todo mundo
ainda está inerte, como que na ressaca da derrota que sofreu nessas
últimas três décadas”.

Em
BRASIL247
https://www.brasil247.com/brasil/a-esquerda-precisa-urgentemente-no-brasil-e-no-mundo-ter-um-programa-de-superacao-do-capitalismo-diz-stedile-do-mst?tbref=hp
1/1/2024


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