Eduardo Vasco(*) – 24 de maio 2024
*Nota do Saker Latinoamérica:* Versão em português enviada pelo autor em 24/05/2024, que publicou originalmente em ingles e espanhol no Strategic Culture Fundation.
/A tese central deste artigo é a de que o Estado de Israel é uma pura
invenção imperialista para facilitar a dominação da Ásia Ocidental pelas
grandes potências, dominação esta que só pode ser exercida através de
métodos fascistas. Busca-se comprovar essa tese analisando a história do
movimento sionista no final do século XIX até a metade do século XX,
utilizando como fontes as obras de alguns dos maiores estudiosos do
assunto a nível mundial, muitos deles judeus./
*As origens comuns do nazismo alemão, do fascismo italiano e do sionismo
israelense*
O século XIX foi o mais importante da história da humanidade. Foi nele
onde ocorreram as maiores transformações políticas, econômicas e sociais
da modernidade, que abriram o caminho para um desenvolvimento ilimitado
das capacidades humanas a partir da revolução industrial.
Foi quando os diversos povos do mundo, particularmente os da Europa, que
era o centro dessas transformações, tentaram pela primeira vez, em
âmbito internacional, se livrar das correntes que lhes prendiam ao
atraso e à opressão. Nasceram os movimentos nacionalistas em diversas
nações sufocadas por impérios coloniais.
Para justificar a sua ação, os ideólogos do nacionalismo recorreram,
muitas vezes, à invenção de mitos a fim de apresentar a finalidade da
construção de uma nação como um resultado histórico natural do
desenvolvimento da luta de um povo. Os mitos tinham como característica
fundamental uma base religiosa, racial e territorial.
Os ideólogos do sionismo, ou seja, da colonização da Palestina pelos
judeus, tirando proveito da necessidade de proteção dos judeus após
séculos de opressão na Europa, seguiram o exemplo dos alemães e
italianos, por exemplo, que tentavam unificar suas nações e construir
seu próprio Estado Nacional propagando o direito territorial dos povos
de mesma raça e credo religioso. Nesses três casos, seus líderes
evocavam um passado mítico, de povos heróicos e superiores dos quais
eram seus descendentes e herdeiros legítimos.
O historiador israelense Shlomo Sand escreve, em seu livro “A invenção
do povo judeu”, que
/À imagem das outras tendências “patrióticas” da Europa do século
XIX, que se voltavam para uma fabulosa idade de ouro com o auxílio
da qual forjaram para si um passado heroico (a Grécia clássica, a
República romana, as tribos teutônicas ou os Gauleses) com o
objetivo de provar que elas não haviam nascido ex nihilo, mas
existiam havia muito, os primeiros adeptos da ideia de uma nação
judaica se voltavam para a luz resplandecente que irradiava do reino
mitológico de Davi e cuja força foi preservada durante séculos no
coração das muralhas da fé religiosa./
Em “Roma e Jerusalém”, de 1862, o intelectual socialista Moses Hess
dizia que “a raça judaica é uma raça pura que reproduziu o conjunto de
suas características, apesar das diferentes influências climáticas. O
tipo judeu permaneceu o mesmo através dos séculos”. E completava: “de
nada serve aos judeus e às judias negar sua origem fazendo-se batizar e
se misturando às massas dos povos indo-germânicos e mongóis. Os tipos
judeus são indeléveis.”
Era perceptível, desde já, uma tendência racista, reacionária, dentro
desse movimento de intelectuais judeus. A mesma tendência que gerou os
fenômenos de extrema-direita fascistas na Europa no início do século XX.
A base religiosa atraía os instintos mais primitivos da comunidade e
pareciam algo um pouco ultrapassado após a consolidação dos ideais
iluministas e da era da razão e da ciência. Portanto, os ideólogos
nacionalistas tiveram de adaptar os mitos religiosos a um discurso
pseudocientífico.
Os historiadores, arqueólogos e pesquisadores nazistas se esforçavam
para encontrar provas de seu suposto passado mitológico. Sua “ciência”
não passava de uma revisão da história a fim de manipulá-la para os fins
do III Reich. A “ciência” servia à ideologia oficial e à sua
falsificação da história.
Mais ou menos na mesma época, os sionistas iam pelo mesmo caminho.
Quando os descobrimentos arqueológicos contradiziam os escritos
religiosos, os pesquisadores sionistas preferiam adotar “a ‘verdade’ do
texto teológico à verdade do objeto arqueológico”, segundo Sand.
O ucraniano Ben-Zion Dinur, professor de Histórica Judaica na
Universidade de Jerusalém na década de 1930, é o autor do livro “A
história de Israel: Israel em seu país”, publicado pela primeira vez em
1918 e depois ampliado em 1938. Conforme as palavras de Sand, aquele
autor decidiu “reescrever” a Bíblia, “adaptando-a ao espírito
‘científico’ de sua época”.
/Isso não significa que, em algum momento, ele tenha colocado em
dúvida a historicidade das Escrituras Sagradas. Do relato da vida de
Abraão, o Hebreu, ao retorno a Sião, ele se manteve fiel a cada
detalhe e a cada acontecimento relatado./
“A contribuição mais importante da ‘historiografia bíblica’ para a
elaboração da consciência nacional consistia seguramente no
estabelecimento da relação com a ‘terra de Israel’”, afirma Sand.
/A Bíblia serviu principalmente como marca “étnica” que indicava a
origem comum de mulheres e homens cujos dados e componentes
culturais laicos eram completamente diferentes, mas que eram
detestados em razão de uma fé religiosa à qual praticamente já não
aderiam./
Estava em gestação a ideia de que os judeus modernos eram os
descendentes dos habitantes da antiga Israel de dois mil anos atrás, que
haviam sido expulsos e que deveriam retomar aquela terra. Não aceitariam
a afirmação de que todos os povos e civilizações já pertenceram um dia a
uma determinada terra e de lá foram expulsos por outros povos, e que
também tomaram terras de outros povos, consequentemente. Tampouco a
ideia de que os judeus modernos, assim como os descendentes de todos os
povos que tiveram amplo contato com outros, são herdeiros de uma série
de raças, não são uma raça pura, e que pouco tinham em comum com os
habitantes da antiga Israel. Preferiam adotar os mesmos preconceitos
racistas dos ideólogos do nazismo e do fascismo, de que sua raça era
pura e superior às demais.
*Sionismo, um movimento iniciado pela grande burguesia britânica*
Quando a Palestina era parte do Império Otomano, em meados do século
XIX, a Grã-Bretanha – a grande potência colonial e capitalista da época
– instalou seu consulado em Jerusalém. No ano de 1840, Lorde Palmerston
propôs que a Coroa fundasse uma colônia judaica europeia na Palestina a
fim de “preservar os interesses mais gerais do Império Britânico”,
segundo suas próprias palavras. Até então, cerca de 500 mil pessoas
habitavam aquelas terras. Dois terços destes eram árabes muçulmanos, 60
mil eram cristãos e apenas 20 mil eram judeus, conforme Ilan Pappé
(“História da Palestina Moderna”).
Poucas décadas depois, os britânicos compraram a parte do Egito do
recém-construído Canal de Suez, o que lhes garantiu a presença de tropas
no local para proteger a navegação de seus barcos e uma presença
estratégica às portas da Palestina e do seu crescente rival, o Império
Otomano.
Enquanto a Grã-Bretanha penetrava na Palestina, setores importantes da
burguesia europeia organizavam ideológica e politicamente esse movimento
de colonização. Theodore Herzl, um judeu proveniente de uma família de
banqueiros do Império Austro-Húngaro, é considerado o principal fundador
do sionismo. Em 1896, ele escreveu “O Estado Judeu”, em que elaborou as
principais teses do colonialismo sionista, sendo a tese fundamental a
necessidade da construção de um Estado próprio na Palestina.
Nesse livro, ele já indicava que os sionistas eram poderosos banqueiros,
e expunha suas visões racistas. “Supondo que Sua Majestade o Sultão nos
entregasse a Palestina, poderíamos em troca ocupar-nos de regularizar as
finanças na Turquia. Formaríamos lá uma civilização frente à barbárie”,
escreveu. Por outro lado, também se dirigia às potências europeias,
afirmando que o Estado judeu seria, “para a Europa, um pedaço de
fortaleza contra a Ásia”.
No ano seguinte, Herzl liderou o primeiro Congresso Sionista, realizado
na Suíça. O Congresso deu um grande impulso ao movimento e estabeleceu a
meta de fundar o Estado Judeu em 50 anos. Nas palavras do pesquisador
Marcelo Buzetto,
/A partir daí os sionistas correram o mundo para angariar recursos
financeiros e apoio político para sua proposta. Herzl e seus
seguidores vão estabelecer contatos com os governos da Inglaterra,
da Alemanha, com o Império Turco-Otomano, com banqueiros,
industriais e comerciantes judeus e não judeus, visando fortalecer a
ideia da necessidade de um Estado judeu. A comunidade judaica
europeia se divide, e nem todos apoiam a ideia sionista, mas esse
movimento consegue o auxílio da burguesia judaica e de setores
importantes da burguesia não judaica europeia. (“A Questão Palestina”)/
A Grã-Bretanha se preparava para a guerra iminente contra a Alemanha e
seus aliados turcos. Para isso, além dos ganhos comerciais, foi
fundamental estabelecer posições em Suez e dentro da Palestina. Conforme
Ralph Schoenman, em “A história oculta do sionismo: a verdadeira
história da formação do Estado de Israel”,
/Durante anos os britânicos utilizaram a direção sionista para
conseguir apoio dos bancos e grandes capitalistas judeus dos Estados
Unidos e da Grã-Bretanha para sua guerra contra o Império Alemão./
Sérgio Yahni explica o projeto imperialista britânico por meio dos
sionistas na Palestina:
/Para a Grã-Bretanha, a Palestina era uma base de operações da
Marinha Real e a colonização sionista, com recursos que possuía para
financiar o desenvolvimento industrial, era parte de uma estratégia
que garantia o transporte marítimo, controlando o acesso ao Canal de
Suez, e facilitava o transporte do petróleo do Iraque através dos
territórios controlados pelo Império Britânico. Para cumprir esses
objetivos, sua majestade esperava segurança militar e estabilidade
social no país por meio de um sistema de certificados de imigração
que exigiam uma capacidade econômica mínima da parte dos imigrantes.
A Grã-Bretanha garantia a colonização de setores de classe média,
atenuando assim as contradições de classe […] (“A questão
Palestina”, Prefácio)/
Com o objetivo de assentar colonos judeus em terras adquiridas na
Palestina, em 1905 o Fundo Nacional Judeu começa a comprar propriedades
árabes.
Os sionistas europeus, percebendo o florescimento dos sentimentos de
independência dos árabes contra o domínio turco na Palestina no início
do século XX, organizaram-se para apoiar o Império Otomano na repressão
contra o movimento pela independência da Palestina. Enquanto apoiavam a
repressão do império turco aos árabes, atuavam contra os turcos a favor
dos britânicos. Ainda segundo Schoenman, os sionistas passaram a dar
total apoio aos ingleses diante da implosão iminente do Império Otomano
com a derrota na I Guerra Mundial.
Em 1914, o presidente da Organização Sionista Mundial, Chain Weizmann,
declarou:
/É bastante aceitável dizer que, se a Palestina cair na esfera de
influência britânica e a Grã-Bretanha estimular o estabelecimento
dos judeus por lá, como uma dependência britânica, em 20 ou 30 anos
poderemos ter por lá um milhão de judeus, ou talvez mais. Eles
desenvolveriam o país, restituiriam a civilização e formariam uma
guarda muito mais efetiva para o canal de Suez./
Os sionistas e britânicos não eram os únicos interessados no fim do
Império Otomano. Os árabes em geral, e os palestinos em particular,
organizavam-se e lutavam ativamente pela independência e chegaram a
receber a promessa da Grã-Bretanha de que teriam seu próprio país se
ajudassem a derrotar os turcos. Os britânicos, contudo, não cumpriram
essa promessa. Pelo contrário, nos últimos meses da guerra declararam
publicamente sua intenção de criar um Estado judeu.
Tal foi o caráter da famigerada Declaração Balfour, do Secretário de
Relações Exteriores britânico, Arthur James Balfour, dirigida ao líder
dos sionistas na Grã-Bretanha, o banqueiro Lionel Walter Rothschild,
membro da poderosa família Rothschild, publicada em 2 de novembro de
1917. Ela dizia:
/O governo de Sua Majestade vê favoravelmente o estabelecimento na
Palestina de um lar nacional para o povo judeu, e fará tudo o que
estiver ao seu alcance para facilitar a realização desse objetivo./
Com o término da guerra e a derrota dos turcos, o Império Otomano foi
dividido artificialmente pelos vencedores e a Grã-Bretanha transformou a
Palestina em um protetorado, sem lhe dar a prometida independência. Mas
ainda não era o momento de transformá-la em um Estado para os judeus,
pois a presença destes no território ainda era ínfima.
A partir da virada da década de 1920 para a década de 1930, a companhia
judaica, financiada por banqueiros e grandes empresários judeus, começou
a comprar grandes quantidades de terras para instalar colonos judeus na
Palestina. No início da década de 1930, vinte mil famílias camponesas
palestinas haviam sido expulsas de suas terras pelos sionistas europeus.
Em meados da década, foi fundada por importantes investidores e
empresários sul-africanos (brancos) a empresa Investimentos Afro-
Israelenses, que começou a adquirir terras na Palestina.
/O governo do Mandato deu ao capital judeu um status privilegiado,
atribuindo-lhe 90% das concessões na Palestina. Isso permitiu que os
sionistas conseguissem controlar a infraestrutura econômica da
região (projetos de estradas, minerais do Mar Morto, eletricidade,
portos etc.) Por volta de 1935, os sionistas controlavam 872 das
1.212 empresas industriais da Palestina. (Ralph Schoenman, “A
história oculta do sionismo”)/
*Irmãos de sangue unem-se para promover “a maior tragédia da história da
humanidade”*
A mitologia nacional sempre foi utilizada pelas classes dominantes para
dominar e manipular os legítimos sentimentos e necessidades dos povos de
independência e liberdade contra uma opressão externa.
A nascente burguesia imperialista da passagem do século XIX para o XX
manobrou perfeitamente com esses sentimentos entre os povos europeus a
fim de suprimir o movimento operário que ganhava força e representava
uma ameaça crescente à sua ditadura.
Foi a partir da necessidade de suprimir os enormes movimentos
proletários que tomavam conta da Europa, e que incentivavam a luta
nacional nas nações colonizadas, bem como de ampliar a sua esfera de
dominação dos mercados mundiais, que os grandes banqueiros e industriais
impulsionaram o nascimento do nazifascismo – e de seu irmão de sangue, o
sionismo.
Os primeiros embriões do movimento fascista europeu tiveram a
colaboração dos líderes sionistas. Foi o caso da repressão czarista na
Rússia contra os bolcheviques – que tinham forte apoio dentro do
proletariado judaico, tanto que quatro dos sete membros da direção
revolucionária de 1917 eram judeus –, apoiada por Herzl e Weizmann.
/Simon Petliura era um fascista ucraniano que dirigiu pessoalmente
os pogroms que mataram 28 mil judeus em 1897 em distintos massacres.
[Vladimir] Jabotinsky [um dos fundadores do sionismo] negociou uma
aliança com Petliura, propondo uma força policial judia que
acompanhasse as forças de Petliura na luta contrarrevolucionária
contra o Exército Vermelho e a Revolução Bolchevique – um processo
que envolveu o assassinato de camponeses, operários e intelectuais
que defendiam a Revolução. (Schoenman, “A história oculta do sionismo”)/
Quando o movimento fascista já havia se desenvolvido plenamente, os
sionistas ampliaram o seu apoio a ele.
/Mussolini constituiu esquadrões do movimento juvenil dos Sionistas
Revisionistas Betar, com camisas negras da mesma maneira que seus
próprios bandos fascistas. Quando Menachem Begin se converteu em
chefe da Betar preferiu usar as camisas marrons dos bandos de
Hitler, um uniforme que Begin e os membros da Betar trajavam em
todas as reuniões e concentrações – nas quais eles se saudavam entre
si, abrindo e encerrando as reuniões, com a saudação fascista. (Idem)/
Mas o episódio mais negro da história do sionismo na primeira metade do
século XX ainda estava por vir. Particularmente, a partir do final da
década de 1920 na Alemanha: o apoio ativo ao nazismo e, mesmo, ao
próprio Holocausto.
Quando os nazistas chegaram ao poder, escreve Schoenman, baseado em
documentos da época, “a Federação Sionista da Alemanha enviou um
memorando de apoio ao Partido Nazista, em 21 de junho de 1933”, saudando
o “renascimento da vida nacional” e o “princípio de raça” que norteava o
novo Estado alemão. O Congresso da Organização Sionista Mundial
corroborou essa posição ainda em 1933, ao rechaçar, por 240 votos contra
43, “uma resolução que conclamava a atuação contra Hitler”. E a
principal entidade dos sionistas foi além: rompeu o boicote dos judeus
ao regime nazista ao firmar um acordo comercial entre o Banco Anglo-
Palestino da Organização Sionista Mundial com a Alemanha, convertendo-se
“no principal distribuidor de produtos nazistas em todo o Oriente Médio
e no norte da Europa”.
“Os sionistas levaram para a Palestina o barão Von Mildenstein, do
Serviço de Segurança das SS, numa visita de seis meses em apoio ao
sionismo”, o que mereceu muitos elogios de Joseph Goebbels ao sionismo
e, inclusive, a ordem para se cunhar “uma medalha com a suástica em um
lado e a estrela de David sionista no outro”.
O pesquisador salienta que, em 1937, quando a perseguição aos judeus
pelo regime hitlerista já havia começado, a Haganah (organização
sionista armada) enviou um agente a Berlim “para oferecer espionagem ao
Serviço de Segurança das SS, em troca da liberação das fortunas judias
para serem usadas na colonização sionista”. O agente sionista Feivel
Polkes disse a Adolf Eichmann que “os círculos nacionalistas judeus
estavam muito deleitados pela política radical alemã, visto que, com
ela, a força da população judaica na Palestina cresceria de tal modo
que, num futuro previsível, os judeus chegariam a ter superioridade
numérica sobre os árabes”.
Schoenman defende a tese de que a elite judaico-sionista apoiou o
nazismo e o Holocausto porque a limpeza étnica de judeus na Europa
levaria naturalmente à emigração para a Palestina, o objetivo histórico
dos sionistas. De acordo com o autor, eles sabotaram de forma organizada
a emigração dos judeus perseguidos na Europa na década de 1930, porque
eles não se dirigiam à Palestina, mas à América ou a outros países da
Europa Ocidental. David Ben Gurion, que depois se tornaria o primeiro
chefe de governo de Israel, disse em 1938: “se eu soubesse que era
possível salvar a todas as crianças da Alemanha levando-as para a Grã-
Bretanha e somente a metade delas transportando-se para Eretz Israel
[Grande Israel], optaria pela segunda alternativa.”
Eles só queriam salvar os judeus jovens e saudáveis, para construir o
Eretz Israel na Palestina. Os considerados velhos e incapazes eram
facilmente descartados para as câmaras da morte, como ocorreu a partir
de 1944, quando um pacto secreto firmado pela elite sionista com os
nazistas levou ao abandono de 800 mil judeus na Hungria para salvar 600
“judeus preeminentes”, segundo Schoenman. “Se nos vierem com dois planos
– resgatar as massas de judeus da Europa ou resgatar a terra – eu voto,
sem vacilar, pelo resgate da terra”, expressou Yitzhak Gruenbaum, um
dirigente sionista.
Schoenman relata que, em 11 de janeiro de 1941, Avraham Stern, um outro
dirigente sionista, propôs um pacto entre a Organização Militar Nacional
(OMN) sionista e a Alemanha, que estipulava, por exemplo, que:
1. Pode haver interesses comuns entre o estabelecimento de uma Nova
Ordem na Europa, segundo a concepção alemã, e as autênticas
aspirações nacionais do povo judeu, personificadas pela OMN.
2. Seria possível a cooperação entre a nova Alemanha e uma renovada
nação do povo Hebraico Nacional, e
3. O estabelecimento de um Estado judeu histórico, sobre bases
nacionais e totalitárias, unido por uma aliança com o Reich Alemão,
seria do interesse para um continuado e fortalecido futuro da
posição de poder alemão no Oriente Próximo.
Stern concluiu seu documento oferecendo o apoio da OMN à Alemanha na
Segunda Guerra. Na opinião de Schoenman, os sionistas preferiam ver
milhões de judeus mortos por Hitler a permitir uma emigração em massa
para qualquer outro lugar que não fosse a Palestina.
Todos nós sabemos qual foi o destino dos judeus europeus nas mãos dos
nazistas. Nos cálculos de Raul Hilberg, a “principal autoridade em
Holocausto nazista” nas palavras de Norman G. Finkelstein, nada menos do
que 5,1 milhões de judeus foram assassinados no Holocausto. Muitos
representantes da comunidade internacional e das principais instituições
mundiais tacham esse acontecimento como “a maior tragédia da história da
humanidade”, como disse em 2022 Josep Borrell, o alto representante da
União Europeia para as Relações Exteriores e a Política de Segurança.
Talvez seja por esse apoio ativo da elite sionista que o Holocausto
tenha sido esquecido durante as duas primeiras décadas após a Segunda
Guerra. Em seu livro “A indústria do Holocausto: reflexões sobre a
exploração do sofrimento dos judeus”, Finkelstein levanta algumas
hipóteses para o encobrimento por parte da elite judaica nos EUA dos
crimes contra os judeus. Por exemplo, a Alemanha Ocidental (onde
inúmeros nazistas foram incorporados ao novo regime) era aliada dos
americanos na Guerra Fria contra a União Soviética. Também, a denúncia
do nazismo – e do acolhimento a muitos nazistas pelos EUA e aliados –
era uma importante pauta da esquerda americana, que, seguindo a tradição
centenária dos judeus, tinha uma grande adesão judaica. E as principais
organizações sionistas dos EUA na época, o American Jewish Committee e a
Anti-Defamation League, colaboraram na caça às bruxas aos comunistas
durante o macartismo. “Lembrar o Holocausto nazista foi etiquetado como
causa comunista” e, para não se confundir com a esquerda, a elite
judaica sabotou qualquer tipo de campanha antinazista, segundo Finkelstein.
Na avaliação do autor, só a partir da guerra de 1967 entre Israel e os
países árabes que o Holocausto começou a ser lembrado, tanto pela elite
judaica quanto pelo governo dos Estados Unidos. E a forte campanha
propagandística que conhecemos hoje foi iniciada. Ele não leva em
consideração a possibilidade de que isso tenha sido feito porque os EUA
perceberam que haveria uma intensa oposição ao estabelecimento do Estado
de Israel no Oriente Médio e isso poderia comprometer a sua dominação na
região e, assim, começou a tachar qualquer crítica ao sionismo como
antissemitismo e apologia ao Holocausto. Não é preciso notar que essa
lembrança não incluiu o apoio da elite sionista ao nazismo e ao próprio
Holocausto.
*Ideologia e prática colonial e racista*
Concomitantemente à gradual colonização judaica da Palestina,
impulsionada pelos banqueiros europeus e pelo Império Britânico, os
dirigentes sionistas desenvolviam e expressavam a sua ideologia colonial
e racista.
No seu livro “A muralha de ferro”, de 1923, Jabotinsky argumentava que
havia uma “completa impossibilidade de se chegar a um acordo voluntário
com os árabes da Palestina para transformar a Palestina de país árabe em
um país de maioria judia”. Lembrava que nunca uma colonização “aconteceu
com o acordo da população nativa” e admitia que “os nativos lutaram
porque qualquer tipo de colonização, em qualquer parte, em qualquer
época, é inadmissível para qualquer povo nativo”.
Ele confessava integralmente o caráter colonial do empreendimento
sionista ao compará-lo com a chegada dos espanhóis na América ou o
massacre dos índios americanos. Dizia que os árabes
/olham para a Palestina com o mesmo amor instintivo e o mesmo
autêntico fervor com que qualquer asteca olhava seu México ou
qualquer sioux contemplava sua pradaria (…). Portanto, é
inconcebível um acordo voluntário. Qualquer colonização, ainda que a
mais restrita, deve-se desenvolver desafiando a vontade da população
nativa./
Jabotinsky terminava sua argumentação reconhecendo que o colonialismo
sionista deveria se apoiar no Mandato colonial britânico:
/Mediante a Declaração Balfour ou mediante o Mandato, é
indispensável a força externa para estabelecer no país as condições
de dominação e defesa pelas quais a população local,
independentemente de seus desejos, veja-se privada da possibilidade
de impedir nossa colonização, em termos administrativos ou físicos.
A força há de jogar seu papel, com energia e sem indulgência./
Os sionistas colocaram em prática pela primeira vez de forma ampla as
ideias de Jabotinsky na segunda metade da década de 1930. Em 1936, o
povo palestino realizou uma enorme rebelião contra o jugo britânico e as
forças imperiais reagiram violentamente. Mas não conseguiram conter a
revolta, que era armada, e recorreram ao apoio dos grupos sionistas que
já haviam imigrado para a Palestina. “As forças sionistas foram
integradas aos serviços de inteligência britânico e tornaram-se a
polícia que impunha a draconiana dominação britânica”, diz Ralph Schoenman.
A Grã-Bretanha armou os sionistas, que contaram com milhares de membros
dentro do Haganah e do Irgun, tendo a partir daí uma quantidade de
milícias fascistas armadas para esmagar os palestinos, treinadas pelo
oficial britânico Charles Orde Wingate, segundo Schoenman. No final do
levantamento árabe, em 1939, havia mais de 14 mil milicianos fascistas-
sionistas organizados e comandados pelos oficiais britânicos.
Essa supressão da revolta palestina de 1936-1939 foi um acontecimento
vital para a preparação das forças armadas sionistas que iriam
facilitar, através da limpeza étnica, a invasão de 1948, autorizada
pelas Nações Unidas em 29 de novembro de 1947. Essa resolução da ONU
ocorreu faltando apenas um mês para o término do prazo de 50 anos
estipulado pelos sionistas, em 1897, para a criação do Estado de Israel.
Se, no final do século XIX, o sionismo dava indícios de que era um
projeto imperialista dos banqueiros europeus – particularmente os
ingleses –, na metade do século XX ficava claro que, além disso, ele
havia se tornado um projeto do imperialismo mundial, agora liderado pela
burguesia dos EUA, a grande vitoriosa na Segunda Guerra, junto com a
União Soviética.
Como a Segunda Guerra terminou com um acordo para a repartição do mundo
em diferentes zonas de dominação pelas grandes potências, o governo
soviético concordou com EUA e Grã-Bretanha que aquela região do Oriente
Médio seria deles. Talvez para se livrar dos seus próprios judeus,
Stálin participou da fabricação do Estado de Israel como parte da nova
era de colaboração, e não confrontação – assim pensava a burocracia
stalinista –, com seus sócios ocidentais.
A cruel e histórica perseguição aos judeus na Europa, que teve como
desfecho o Holocausto, foi a grande justificativa para as potências
imperialistas imporem a criação de um Estado para os judeus na
Palestina. Mesmo que a comunidade judaica não tenha sido consultada, e
muito menos os habitantes da Palestina, cuja maioria era árabe. A
reivindicação da Organização Sionista Mundial, órgão fundado e dirigido
por banqueiros europeus, valia mais do que a opinião do povo judeu e do
povo árabe.
A crescente colonização da Palestina por judeus sionistas europeus
aburguesados durante o Mandato Britânico serviu como argumento para
provar que os judeus queriam emigrar para a Palestina e já o estavam
fazendo. No início dos anos 30, quatro mil judeus chegavam à Palestina a
cada ano. Em meados da mesma década, essa média passou a sessenta mil
(Marcelo Buzetto, “A questão palestina”). Mesmo assim, até 1947 apenas
6% das terras da Palestina eram de propriedade judaica, segundo Schoenman.
Em 1939, havia 445 mil judeus em uma população total de 1,5 milhão de
habitantes, conforme Gattaz citado por Buzetto. No ano da partilha da
Palestina pela ONU, os judeus representavam um terço da população do
país (630 mil), enquanto os outros dois terços eram árabes (1,3 milhão).
Apenas 10% dos judeus eram originários da Palestina, segundo Henry
Cattan, enquanto a esmagadora maioria era de colonos europeus.
Ralph Schoenman afirma que as organizações fascistas-sionistas Irgun e
Haganah, antes mesmo da criação de Israel, “apoderaram-se de três
quartos da terra e virtualmente expulsaram todos os habitantes”,
desalojando 780 mil palestinos e massacrando milhares de outros em ações
terroristas idênticas às executadas pelos nazistas na União Soviética.
David Ben Gurion, Ariel Sharon e Yitzhak Shamir, todos eles futuros
primeiros-ministros do Estado de Israel, desempenharam papel importantel
nesses massacres.
Na data de fundação do Estado de Israel, em 14 de maio de 1948, 90% das
terras da Palestina já haviam sido roubadas pelos colonos judeus. “No
território ocupado por Israel depois da partilha, existiam cerca de 950
mil árabes palestinos. Eles habitavam cerca de 500 povoados e todas as
grandes cidades”, aponta Schoenman. “Depois de menos de seis meses,
restavam somente 138 mil pessoas”, completa. “Cerca de 400 povoados e
cidades foram arrasados em 1948 e 1949. Em 1950, fizeram o mesmo com
vários outros.”
Começava a Nakba (a grande “catástrofe”) para os palestinos, que dura
até hoje, sete décadas após o seu início. A instituição responsável por
esse genocídio, portanto, é a própria ONU. Os colonos sionistas
sentiram-se plenamente à vontade, mesmo ainda constituindo minoria
dentro da Palestina, a aterrorizar e expulsar os árabes em massa a
partir do momento em que as Nações Unidas, de forma absolutamente
arbitrária e ilegítima, concederam mais da metade do território
palestino a eles.
*Conclusão*
Desde que tiveram conhecimento da posição geográfica estratégica e das
enormes riquezas naturais daquela região da Ásia Ocidental, os impérios
europeus a cobiçaram. Como se conhece há milênios, a melhor estratégia
para um colonizador é dividir para reinar. Foi o que o imperialismo
europeu, e depois o americano, fizeram com o Oriente Médio. Primeiro o
dividiram, e depois instalaram seus prepostos. Não seria possível
governar somente através de regimes árabes títeres, pois esses – como se
vê hoje claramente – estão expostos à pressão de sua população. Seria
preciso estabelecer um regime colonial. Mas o colonialismo tradicional
estava em crise após a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.
Por isso, o projeto sionista, que vinha se gestando havia meio século,
era o ideal para se dominar aquela região do planeta, que liga a Europa
com a Ásia e a África, por onde passam as principais rotas marítimas que
controlam o comércio mundial e onde há abundância de recursos tão vitais
como gás e petróleo. O sionismo, isto é, a doutrina da criação,
manutenção e expansão do Estado de Israel, é o grande pretexto fabricado
pela burguesia imperialista para dominar a região geográfica mais
importante do mundo.
Theodore Herzl já reivindicava, em 1904, “todo o Líbano e a Jordânia,
dois terços da Síria, a metade do Iraque, uma faixa da Turquia, a metade
do Kuwait, um terço da Arábia Saudita, o Sinai e o Egito, incluídos Port
Said, Alexandria e o Cairo”, destaca Schoenman.
Em 1938, Ben Gurion declarou que “o Estado será somente uma etapa na
realização do sionismo e sua tarefa é preparar o terreno para nossa
expansão”. E detalhou: “as fronteiras da aspiração sionista incluem o
sul do Líbano, o sul da Síria, a atual Jordânia, toda a Cisjordânia e o
Sinai.” Isso significava que o objetivo do imperialismo com Israel não
se resumia à criação de um Estado para os judeus – na verdade, isso não
passava de conversa fiada. O objetivo era utilizá-lo como ponta de lança
na empreitada de dominação e submissão de todo o Oriente Médio.
De fato, desde a criação artificial de Israel, com apoio crescente das
potências imperiais unidas, a entidade sionista chegou a ocupar o Sinai
no Egito, o sul do Líbano e a Cisjordânia, bem como as Colinas de Golã
na Síria, que ainda estão sob poder israelense.
Schoenman descreve que, no “Diário Pessoal de Moshe Sharett”, o ex-
primeiro-ministro Moshe Sharett (1954-1955) revelou os objetivos da alta
cúpula político-militar sionista: “desmembrar o mundo árabe, derrotar o
movimento nacional árabe e criar regimes títeres sob o poder regional
israelense.” Em 26 de outubro de 1953, ele escreveu que “1) O Exército
considera a fronteira atual com a Jordânia absolutamente inaceitável. 2)
O Exército está planejando a guerra de forma a ocupar o resto do Eretz
Israel”. Sharett também documentou reuniões que discutiram a anexação de
território sírio e libanês e a “luz verde” dada pela CIA para o ataque
ao Egito.
Isso comprova que as conquistas de território árabe por Israel não foram
uma reparação de guerra devido à agressão das nações árabes à entidade
sionista, mas sim um objetivo planejado de dominação, que faz parte de
uma meta ainda maior que abarca toda a região.
Schoenman ressalta mais dois documentos que apontam nesse sentido, ambos
datados de 1982. Uma análise de Oded Yinon publicada no jornal do
Departamento de Informação da Organização Sionista Mundial destacava a
necessidade estratégica de fragmentar o máximo possível os países do
Oriente Médio a partir da exploração de diferenças étnicas e religiosas.
Ele propunha a extensão desse plano para o norte da África, abrangendo o
Egito, a Líbia e o Sudão. No mesmo ano, um alto funcionário do
Ministério de Defesa de Israel, Y’ben Poret, declarou: “nem hoje nem no
passado há sionismo, nem há colonização, nem Estado judeu sem a remoção
de todos os árabes, sem a confiscação.”
A ditadura militar de fachada civil e pseudodemocrática que impôs uma
situação de /apartheid /na Palestina ocupada por Israel, em que os
árabes são cidadãos de segunda classe, sofrem segregação e
discriminação, são presos arbitrariamente, torturados e executados,
carecem de direitos civis e políticos e – como visto pelo genocídio
iniciado em 7 de outubro de 2023 – têm suas casas bombardeadas, não tem
diferenças fundamentais para o antigo regime de /aparheid /na África do
Sul ou para o antigo regime nazista na Alemanha. O Estado de Israel,
contudo, detém um agravante: enquanto o nazismo foi criado pelo
imperialismo alemão e o /apartheid/ foi criado pelos próprios brancos
sul-africanos, Israel foi criado e é mantido até hoje por todo o sistema
imperialista mundial de conjunto. Isso faz com que sua vida seja mais
longa do que foram as vidas do III Reich ou do /Apartheid/.
Apesar de ser um preposto consentido e partilhado pelas potências
imperialistas mundiais, há claramente um predomínio do imperialismo
americano sobre o Estado de Israel. Na prática, ele é o 51° estado dos
Estados Unidos da América, levando em consideração todo o investimento
econômico e militar feito por Washington desde 1948 e, particularmente,
a partir de 1967, em Israel. A entidade sionista é absolutamente
dependente do financiamento norte-americano e, sem este, poderia
facilmente deixar de existir caso fosse atacada conjuntamente pelos
Estados árabes e islâmicos. O próprio governo israelense reconhece
oficialmente que trata-se de “um país de imigrantes”, tendo sua
população aumentado quase dez vezes desde a sua criação. Cerca de três
quartos dos israelenses são judeus, metade deles de origem europeia,
americana ou soviética. É absolutamente comum ver nas ruas de Tel Aviv,
por exemplo, brancos loiros conversando em inglês. Ora, a população
nativa daquela região não é nem branca, nem loira e nem fala inglês.
Israel é, sem sombra de dúvidas, uma entidade colonial criada
artificialmente e governada pelo imperialismo – particularmente o
americano – a partir de métodos fascistas para subjugar os povos daquela
região do planeta. Uma outra prova disso é a total impunidade da qual
desfruta Israel na arena política e diplomática internacional, inclusive
no Conselho de Segurança das Nações Unidas (responsável por sua
criação), sendo imune a qualquer tipo de sanção séria mesmo após mais de
setenta anos de evidências que comprovam numerosas violações dos
direitos humanos, como genocídio, limpeza étnica, prisões políticas e
execuções extrajudiciais em massa. Tudo o que vimos ser realizado em
Gaza entre o final de 2023 e o início de 2024 de forma amplificada.
O sonho do imperialismo ocidental seria que todo o Oriente Médio se
convertesse em um Eretz Israel – mais ou menos como planejava a elite
sionista – que, assim, estivesse totalmente sob o seu controle tendo a
entidade sionista como intermediário.
O fascismo é consequência natural da “fase superior do capitalismo”, o
imperialismo, como definiu Vladimir Lenin. É uma nova forma política da
dominação imperialista, que passou a substituir a democracia parlamentar
quando esta não foi capaz de estabilizar o regime e a dominação da
burguesia nos diferentes países. É a subjugação pela força bruta, e não
por mecanismos democrático-liberais, sobre os trabalhadores e povos do
seu próprio país e de fora, com a expansão imperialista do país em
questão. Essa dominação é justificada com base na mitologia nacional,
produtora e reprodutora de sentimentos chauvinistas e racistas. O
sionismo, por sua vez, pode ser considerado como o fascismo adaptado às
condições do Oriente Médio e às aspirações de dominação do imperialismo
anglo-americano sobre aquela região. Afinal de contas, como constatado
pelas descrições contidas neste artigo e pela realidade de /apartheid /
vivido pelo povo palestino nos últimos 76 anos, as características do
sionismo são muito parecidas com as do fascismo tradicional, adaptadas
às condições da época e da localidade geográfica. O Estado de Israel foi
fabricado pelo imperialismo e incorporou a mitologia sionista no seu
sistema de ensino e nas demais formas de reprodução da ideologia
oficial, e também as milícias fascistas às suas forças armadas e
policiais. O sionismo – o Estado de Israel – é o imperialismo fascista
aplicado à Palestina.
(*) Jornalista especializado em política internacional.
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Em
SAKERLATAM
https://sakerlatam.blog/qual-e-o-verdadeiro-carater-do-estado-de-israel/
29/5/2024
This post was first published on May Day in the Lebanon journal, Project Zero, in Arabic. https://alsifr.org/new-era-labourer
May Day is traditionally celebrated as International Workers Day when people mobilise to support the strength and importance of labour in its perennial struggle against capital in society. Apart from participating in marches and demonstrations around the world, it is also an opportunity for us to consider how well the organisations of the working-class are faring in the 21st century.
First, the bad news. From the 1980s, when the policies of neoliberalism were imposed by governments in all the major economies and often followed in the rest of the world, labour’s share of national income in most countries fell.
This was the result of several factors. In the 1960s and 1970s, the profitability of capital globally fell sharply. Capital could no longer afford to make concessions on wages, social benefits and public services. Now the order of the day was privatization, the weakening of trade unions and labour rights, cuts in taxes on the rich and the reduction of employment by transferring industry to the cheaper labour parts of the world.
There was increased exploitation of workers at work. And any increase in the productivity of labour through more intensity of work, the deregulation of workers’ rights and more automation went mostly into profits for the owners of enterprises. The fall in labour’s share was also powered by a series of slumps in capitalist production that weakened workers’ power in negotiations for wages and employment. Firms in the rich economies of North America, Europe and Japan shipped their manufacturing operations to the poor ‘Global South’ to increase profitability.
‘Globalisation’, as it was called, meant that wages and benefits in the major economies could not keep up with profits being made abroad; and in the poorer economies, workers’ wages were held down while foreign companies used the latest technology to boost production. Capitalist production in the major economies increasingly switched from traditional sectors like heavy engineering, steel, cars etc into commercial and financial sectors. Profitability rose globally and the share of income going to labour fell back.
Another key factor in the decline of labour’s share of global income was the decline of trade union organisations. The number of union members as a proportion of employees has more than halved across developed economies from 33.9% in 1970 to just 13.2% in 2019, figures from the Organisation for Economic Cooperation and Development (OECD) show.
If we look at the development of unionisation in 30 industrial countries over the last 130 years of capitalism, we can observe something like an inverted U-curve, with the peaks of maximum expansion of unionization between 1950 and 1980.
Unionization rates 1890–2019, 30 industrial countries
But if we look at the figures now, it seems that the days of trade unions as a force for labour are over. Large firms and manufacturing outlets, the basis for unionism in the past century, have closed or downsized by contracting out tasks and jobs. The growth of commercial services, with on average smaller establishments, has raised the challenge for unions to gain recognition as viable organizations.
Union density rates increase with firm size and this has been the case at least since the 1930s when, for example in the US, unions succeeded in organizing the big companies in steel, oil, cars, shipbuilding and related manufacturing. But the shift from manufacturing in the advanced capitalist economies to so-called ‘services’ has reduced the employment size of most companies. Across the OECD, 63% of all union members are employed in firms of 100+ employees, whereas only 7% work in small firms with 1–9 employees (data for 2015). Of the non-union members, 37% work in 100+ firms and 27% in small firms.
In 2019, 45% of all union members in the OECD worked in the public sector, a rise from 33% in 1980. But over those 40 years the share of public employment – public administration and security, social security, education, health and social assistance – in total employment barely increased, from 19% to 21%. So unionisation in the public sector cannot compensate for the loss of unions in the private sector.
In much of the ‘Global South’, most workers do not even have a permanent job. Globally, 58% of those employed are in what is called ‘informal employment’, amounting to around 2 billion workers in precarious jobs, lacking in any organized defence of their rights at work and their conditions by labour organisations. Increasingly, in many economies, young people experience a high degree of insecurity related to temporary contracts, unemployment and interrupted career paths. Unions appear to them as old and ineffective.
No surprise, then, that only about 2–3% of young workers under the age of 25 join a union. The average union density rate in the OECD of workers under the age of 25 has nearly halved in little more than a decade, from 11% in 2002 to 6% in 2014, continuing a process that began decades ago. In all countries, including high union density countries like Sweden and Denmark, there has been a significant fall in the share of young people joining a union.
Young people’s numbers in unions have correspondingly dwindled. The OECD average is 5.5%, down from an estimated 18% in 1990. Currently the age group of union members nearest to leaving the labour market, i.e. those over 55 years, is four times larger than the 15–24 age group entering the unions. So unions face an uphill battle to replace members who leave with workers who join.
As a result of the weakening of collective labour organizations, workers’ ability to defend their rights at work and gain better wages and conditions has also fallen back. Industrial dispute levels have dropped sharply. Prior to the pandemic slump of 2020, annual days lost due to industrial disputes in the major ‘rich’ economies were near record lows.
In many parts of the Global South, trade unions and collective organisations are banned. According to the International Trade Union Confederation (ITUC), the Middle East is the worst region for suppressing trade unions. There are no rights in workplaces, independent unions are dismantled and trade union leaders locked up for leading strikes. The kafala system remains in place in several Gulf countries and migrant workers, who represented the overwhelming majority of the working population in the region, remained exposed to severe human rights abuses. In Tunisia, unions feared for democracy and civil liberties as President Kais Saied further consolidated his autocratic powers, while in Algeria and Egypt, independent trade unions still struggled to obtain their registration from hostile authorities and were therefore unable to operate properly. In Lebanon, it was common for employers to interfere in social elections, including by deleting names from the lists of candidates.
That’s all the bad news. But there is also good news coming out of the bad. Millions died unnecessarily in the COVID pandemic and millions more lost their livelihoods in the ensuing slump and the inflationary spiral afterwards. But the pandemic has also changed the balance of forces between labour and capital.
The Black Death and plagues of the 14th century so reduced the population of Europe that labour became so scarce that feudal landlords were forced to make concessions to their serfs, allowing them to earn wages, work less hours for the lord and even gain freedom to become independent farmers. Out of that terrible misery came a period of improved livelihoods.
It seems that a similar development is taking place in this post-pandemic decade of the 21st century. The years of fast-expanding labour markets globally, as in China and eastern Europe, that opened up to capital from the Global North, have come to an end as populations age and shrink. This demographic shift is resulting in a shift in the balance of power between labour and capital.
Amid tight labour markets and a rising cost of living, there has been a resurgence in labour militancy and the conditions for renewed union growth are much more favourable. Unions globally have become increasingly active in the last 12 months in either threatening or carrying out industrial action. For the first time in some 40 years, trade unions are spreading to new industries and sectors in the advanced economies and even into ‘informal’ employment world of the Global South.
In the US, workers have organised and taken to the picket lines in increased numbers to demand better pay and working conditions. Teachers, journalists and baristas are among tens of thousands of workers who have gone on strike in the last year. Indeed, it took an act in the US Congress to prevent 115,000 railroad employees from walking out as well. Workers at Starbucks, Amazon, Apple and dozens of other companies also filed over 2,000 petitions to form unions during the year – the most since 2015. Workers won 76% of the 1,363 elections that were held. There were 33 major work stoppages that began in 2023, the largest number this century.
Elsewhere in the world, we can see something similar. Last March 2023, in Sri Lanka, workers from 40 trade unions, representing sectors including health, energy, financial services and port operations, went on strike over the government’s spending plans in spite of the threat of employees losing their jobs by defying the presidential proclamation.
The South African National Education, Health and Allied Workers Union (NEHAWU) went on strike over pay despite a court order banning industrial action. In India, proposed changes to the country’s labour codes – including clauses requiring 14 days’ notice for strike action brought about strike action.
And even in the Middle East, there have been some successes. Workers at Egypt’s largest textile factory in Mahalla won a major victory for tens of thousands employed across Egypt’s state-owned enterprises by forcing the government to agree to raise the minimum wage to 6000 Egyptian pounds after thousands joined a strike which shut down the mill for nearly a week.
In the past, organized labour was driven by large, central trade unions that coordinated unionization drives, dictated member demands and distributed benefits. By contrast, this new wave of labour organizations are small grassroots unions in untouched sectors, often specific to one company like the Amazon Labor Union and Starbucks Workers United. Moreover, American support for unions has been rising. An August 2023 Gallup poll suggested that two out of three Americans supported unions.
And the battle to defend jobs and conditions against the impact of the new AI technologies has started. An example of this is the recently signed agreement by the Writers Guild of America in Hollywood around concerns of AI adoption by employers in the entertainment industry.
Union revitalization will happen when unions make themselves relevant for both highly-skilled employees and solo self-employed workers (often working from home) and expand their presence among the growing army of mostly young platform workers, migrants and employees with part-time and fixed-term contracts. It will require new methods of reconnecting with young people. More unions now experiment with interactive websites and social media and with a model of membership or participation that is easy and cheap, with low entry or exit costs.
So, in May 2024, we could be at the start of a paradigm shift in labour organization. But trade unions are not enough to change the balance of power between labour and capital. That also requires political action. In Europe, unions were formed by socialist parties in the late 19th century; in the UK, trade unions formed the Labour Party to represent workers in the political arena. The struggle in the workplace can only succeed in making gains when combined with the political struggle to change the whole system of power.
In the 19th century, the struggle for the eight-hour day was a key feature of the May Day marches in the US and Europe. It was only eventually achieved by a combination of union action and political legislation in the 20th century. In the 21st century, the struggle is going to be over AI automation which threatens up to 300m jobs globally in the next decade. The response of labour must be for a four-day week, social support and retraining for those unemployed by the new technology. That will require a combination of new strong unions and political parties dedicated to the struggle of labour over capital.
Em
Blob de Michael Roberts.
https://thenextrecession.wordpress.com/2024/05/16/a-new-spring-for-labour/
16/5/2024