quarta-feira, 11 de novembro de 2015
OMS: dois terços da população mundial se alimentam mal
Correio do Brasil
Por Redação, com DW – de Berlim:
No mundo há 2 bilhões de pessoas subnutridas e quase o mesmo número de obesos.
Consequência da pobreza e de um estilo de vida pouco saudável, ambos os
problemas alimentares pesam sobre sistemas de saúde.
Malri, um menino tanzanês de cinco anos, sofre de obesidade. Para a mãe, Fadhila
isso não é problema. “Todos nós somos um pouco gordinhos. Isso é de família”,
diz ela, que também está acima do peso.
A família vive numa área rural pobre, no distrito de Kilimanjaro. Malri se
alimenta principalmente de gordura e carboidratos, verduras e frutas são muito
caras para o orçamento familiar, conta a mãe. O menino de cinco anos tem um
Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 30 e, portanto, pertence ao grupo de
risco crescente de pessoas acima do peso e obesas em todo o mundo.
No mundo há 2 bilhões de pessoas subnutridas e quase o mesmo número de obesos
A definição de sobrepeso se aplica a indivíduos com um IMC acima de 25. A partir
do IMC 30, a pessoa é considerada obesa. Adotado pela Organização Mundial da
Saúde (OMS), o IMC é determinado pela divisão do peso do indivíduo por sua
altura ao quadrado.
Anualmente, a OMS estima que 2,5 milhões de pessoas morram vítimas dos efeitos
da obesidade. Com uma dieta altamente calórica e pobre em nutrientes, o risco de
pessoas com sobrepeso contraírem diabetes e doenças cardiovasculares, como
também diversos tipos de câncer, é muito maior do que em pessoas de peso normal.
A OMS acredita que, atualmente, sobrepeso e obesidade provoquem mais mortes que
a fome.
Fardo duplo: fome e obesidade
A Tanzânia, terra natal de Malri, está entre o grupo de países com um problema
nutricional duplo. Devido ao grande número de pessoas subnutridas, o Índice
Global da Fome de 2015 classifica a situação na nação africana como um “problema
sério”. Ao mesmo tempo, aumenta o número de pessoas no país com a chamada
obesidade mórbida.
Nos últimos anos, economias emergentes, como a China e o México, conseguiram
reduzir com sucesso a fome, mas registraram, ao mesmo tempo, um aumento do
número de pessoas acima do peso. Isso não é incomum em países onde os hábitos
alimentares caminham cada vez mais em direção ao consumo de alimentos
processados e altamente calóricos, como os oferecidos mundialmente por grandes
companhias multinacionais, explica Roman Herre, especialista em agricultura da
organização de direitos humanos Fian.
Herre menciona as Filipinas como exemplo: “Macarrão instantâneo é comprado
geralmente por pessoas mais pobres, porque ainda é um produto um pouco mais
barato que o arroz nacional. A única pergunta é quantos nutrientes contém o
macarrão instantâneo e quantos estão contidos no arroz cultivado localmente.”
Boa nutrição é direito humano
Além da luta contra a fome, uma melhor nutrição e a agricultura sustentável
também pertencem aos novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das
Nações Unidas. Por esse motivo, para a ONG Fian, que trabalha em prol do direito
humano à nutrição, está mais do que na hora de que não somente o fenômeno da
fome, mas também a qualidade dos alimentos faça parte da agenda internacional.
– Especialmente quando se observa o tema da nutrição do ponto de vista dos
direitos humanos e se questiona do que realmente consiste o direito humano à
alimentação, então, o que está em jogo é também o fato de as pessoas terem o
direito de se alimentar de forma qualitativamente adequada – diz Herre.
Uma comparação entre o infográfico do Índice Global da Fome de 2015 e o da
obesidade deixa claro que a nutrição inadequada é um problema global. O Índice
Global da Fome mostra a situação atual nos países emergentes e em
desenvolvimento por meio de cores, enquanto os países industrializados
permanecem em branco, já que lá a fome não é problema. Por outro lado, é
justamente nesses países que o número de pessoas com obesidade mórbida é
particularmente elevado. Por esse motivo, no mapa da OMS sobre a obesidade, o
território desses países é apresentado em vermelho ou laranja-escuro.
De acordo com a OMS, um terço da população dos EUA, por exemplo, está
extremamente acima do peso. Na Europa, dependendo do país, essa proporção é de
um quinto ou um quarto.
Mesmo em países industrializados, a má alimentação em forma de sobrepeso é,
principalmente, um problema da pobreza e do nível educacional. Enquanto na Ásia,
por exemplo, o macarrão instantâneo pobre em nutrientes é o que contribui para a
má nutrição, em países industrializados, cidadãos mais pobres comem cada vez
mais produtos prontos com alto teor de gordura, açúcar e sal, como, por exemplo,
hambúrgueres, batatas fritas, cachorros-quentes, sopas instantâneas, torradas e
pizzas congeladas. O resultado: muitos obesos também sofrem de subnutrição, já
que ingerem poucos nutrientes.
Nutrição na infância
A pouca quantidade de nutrientes também é um problema na chamada “fome oculta”
ou “fome silenciosa”, que afeta mundialmente cerca de 2 bilhões de pessoas, diz
Andrea Sonntag, responsável por política de nutrição na organização Ação Agrária
Alemã (Welthungerhilfe, em alemão).
– Eu me sinto satisfeita, nem chego a notar que estou com fome, que tenho uma
deficiência de nutrientes essenciais – descreve Sonntag os efeitos de uma
alimentação direcionada somente à ingestão de calorias. As consequências são
devastadoras, especialmente para as crianças, pois a falta de nutrientes na
infância tem implicações por toda a vida.
– O corpo fica muito mais propenso a doenças e não se desenvolve da mesma forma
que num indivíduo saudável. Isso não pode ser recuperado posteriormente, quando
as crianças se tornam adultas – explica.
Problema alimentar mundial
Os números falam por si: 2 bilhões de pessoas estão subnutridas mundo afora, e
há quase o mesmo número de obesos. Isso significa que, hoje, quase dois terços
da população mundial se alimentam mal – com consequências negativas não somente
para a saúde dos indivíduos, mas também para os sistemas de saúde nacionais e
para a economia.
A Sociedade Alemã de Combate à Obesidade (Deutsche Adipositas-Gesellschaft)
estima, por exemplo, que os problemas de sobrepeso irão custar ao sistema de
saúde do país mais de 25 bilhões de euros (por volta de R$ 100 bilhões) por ano
até 2020. Especialistas falam de uma “epidemia de obesidade”, já que mais da
metade dos alemães está acima do peso ou obesa.
A razão principal: um estilo de vida pouco saudável, com pouco exercício e
muitas calorias. Tanto em países pobres quanto nos ricos, esse é um problema
crescente. Enquanto aumenta a proporção de pessoas desnutridas e obesas, aumenta
o desafio para os sistemas de saúde globais.
In
CORREIO DO BRASIL
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11/11/2015
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