terça-feira, 6 de setembro de 2016
NED, a janela legal da CIA
por Thierry Meyssan
Desde há 30 anos, a National Endowment for Democracy (NED), tem sido
subcontratada para a parte legal das operações ilegais da CIA. Sem
despertar suspeitas, pôs em prática a maior rede de corrupção do mundo,
subornando sindicatos, associações patronais, partidos políticos, tanto da
direita e como da esquerda para defenderem os interesses dos EUA em vez
de defenderem os dos seus associados. Neste artigo descreve-se a extensão
deste sistema.
Em 2006, o Kremlin denunciou a proliferação de associações estrangeiras
na Rússia, algumas das quais participaram de um plano secreto, orquestrado
pelo NED, para desestabilizar o país. Para evitar uma "revolução
colorida", Vladislav Surkov elaborou uma estrita regulamentação sobre
estas organizações não-governamentais (ONGs). No Ocidente, esse quadro
administrativo foi descrito como um "ataque à liberdade de associação” por
Putin, o "Ditador" e pelo seu conselheiro.
Esta política tem sido seguida por outros Estados os quais, por sua vez,
são rotulados pela imprensa internacional como dominados por "ditadores".
O governo dos EUA alega que o Congresso pode subsidiar a NED e que a NED
pode, por sua vez e de forma totalmente independente, ajudar direta ou
indiretamente, associações, partidos políticos ou sindicatos, em todo o
mundo. As ONGs, sendo, como seu nome sugere, "não-governamentais" podem
tomar iniciativas políticas que embaixadores não poderiam assumir sem
violar a soberania dos Estados que os recebem. O cerne da questão
encontra-se aqui: a NED e a rede de ONGs que financia são iniciativas da
sociedade civil injustamente reprimidas pelo Kremlin ou uma cobertura para
os serviços secretos dos EUA apanharem os povos de mãos atadas com a sua
ingerência?
Para responder a esta pergunta, vejamos as origens e funções do NED. Mas
o nosso primeiro passo será analisar o significado deste projeto oficial
dos EUA: "exportar a democracia".
Que democracia?
Os EUA, como povo, subscreve a ideologia dos seus fundadores. Pensam de
si mesmos como uma colónia que veio da Europa para estabelecer uma cidade
obedecendo a Deus. Eles vêem o seu país como "uma luz na montanha" nas
palavras de S. Mateus, adotada desde há dois séculos pela maioria dos seus
presidentes nos seus discursos políticos. Os EUA seriam uma nação modelo,
brilhando no topo de uma colina, iluminando o mundo inteiro. E todas as
outras pessoas no mundo gostariam de emular este modelo para alcançar o
seu bem-estar.
Para o povo dos Estados Unidos, esta crença muito ingénua implica que o
seu país é uma democracia exemplar e que têm um dever messiânico de
impô-la ao resto do mundo. (…)
Impregnado por essa mitologia nacional, o povo dos Estados Unidos não
percebe que a política externa de seu governo é uma forma de
imperialismo. (…) Por exemplo, aprendem na escola, que levaram a
democracia para a Alemanha, não sabem que os factos históricos indicam o
oposto: seu governo ajudou Hitler a derrubar a República de Weimar e criar
um regime militar para combater os soviéticos. Esta ideologia irracional
impede-os de contestar a natureza das suas instituições e o absurdo
conceito de "democracia pela força".
De acordo com o presidente Abraham Lincoln, a "democracia é o governo do
povo, pelo povo para o povo". Deste ponto de vista, os Estados Unidos não
são uma democracia, mas um sistema híbrido onde o poder executivo está
voltado para a oligarquia, enquanto as pessoas limitam este exercício
arbitrário através de poderes legislativos e judiciais que podem
controla-lo.
Com efeito, enquanto o povo elege o Congresso e alguns juízes, são os
Estados da Federação que elegem o poder executivo e este último nomeia os
juízes de mais alto escalão. Embora os cidadãos tenham sido chamados para
determinar a escolha do Presidente, seu voto nesta matéria só funciona
como uma ratificação, como o Supremo Tribunal salientou em 2000, em Gore
versus Bush. A Constituição dos EUA não reconhece que o povo é soberano,
porque o poder é dividido entre o povo e uma Federação de Estados, por
outras palavras, entre os líderes dessas Comunidades. (…)
Nos últimos trinta anos, esta contradição foi suportada pela NED e à qual
foi dada uma forma específica como desestabilizador de numerosos Estados.
Com um sorriso, milhares de ativistas e ONG tornadas credíveis têm violado
a soberania popular.
Em 1982, Ronald Reagan estabeleceu a NED em parceria com o Reino Unido e
Austrália, para derrubar o "Império do mal".
Uma fundação pluralista e independente
No seu famoso discurso em 8 de junho de 1982 no Parlamento britânico, o
Presidente Reagan denunciou a URSS como "o Império do mal" e propôs-se ir
em auxílio dos dissidentes lá e em quaisquer outros lugares. Ele declarou:
"Precisamos criar a infraestrutura necessária para a democracia: a
liberdade de imprensa, sindicatos, partidos políticos e universidades.
Isto permitirá para as pessoas a liberdade de escolher o melhor caminho
para eles para desenvolverem a sua cultura e para resolver suas disputas
pacificamente". Nesta base consensual da luta contra a tirania, uma
Comissão de reflexão bipartidária patrocinou a criação da NED em
Washington, criada pelo Congresso em novembro de 1983 e imediatamente
financiada.
A Fundação subsidia quatro estruturas independentes que redistribuem
dinheiro no exterior, tornando-o disponível para associações, sindicatos,
membros da classe dominante e partidos da direita e da esquerda:
Free Trade Union Institute (FTUI), atualmente renomeado American Centre
for International Labour Solidarity (ACILS), gerido pela central
sindical AFL-CIO;
Centre for International Private Enterprise (CIPE), gerido pela Camara
de Comércio dos EUA
International Republican Institute (IRI), gerido pelo Partido
Republicano
National Democratic Institute for International Affairs (NDI), gerido
pelo Partido Democrata.
Apresentado desta forma, a NED e os seus quatro tentáculos parecem estar
ancorados na sociedade civil, refletindo a diversidade social e o
pluralismo político. Financiado pelo povo dos EUA, pelo Congresso,
estariam a funcionar para um ideal universal. Seriam completamente
independentes da administração presidencial e a sua ação transparente não
poderia ser uma máscara para operações secretas, servindo interesses não
declarados. A realidade é completamente diferente.
Um drama produzido pela CIA, MI6 e ASIS
O discurso de Reagan em Londres teve lugar na sequência de escândalos
envolvendo revelações em comissões do Congresso para inquirir sobre golpes
sujos da CIA. O Congresso então proibiu a Agência de organizar mais golpes
de Estado para serem conquistados mercados. Mas enquanto isso, na Casa
Branca, o Conselho de Segurança Nacional (NSC) procurava pôr em prática
outros instrumentos contornar esta proibição. (…)
O Presidente da Comissão bipartidária do Congresso era o representante
especial dos EUA para o comércio, que considerou que a comissão não visava
promover a da democracia, mas, de acordo com a terminologia corrente, a
"democracia de mercado". Este estranho conceito está de acordo com o
modelo político dos EUA: uma oligarquia económica e financeira que impõe
as suas escolhas políticas através dos mercados e um estado federal,
enquanto parlamentares e juízes eleitos pelo povo protegem as pessoas de
um governo arbitrário.
Três das quatro organizações periféricas do NED foram formadas na
ocasião. No entanto, não havia necessidade de estabelecer uma quarta, a
ACILS. Tinha sido criada no final da segunda guerra mundial embora tenha
mudado de nome em 1978, quando a sua subordinação à CIA foi desmascarada.
Com isso podemos tirar a conclusão de que a CIPE, IRI e NDI não nasceram
espontaneamente, mas foram projetadas pela CIA.
Além disto, embora a NED seja uma associação sob a lei americana, não é
apenas uma ferramenta da CIA, mas um instrumento compartilhado com os
serviços secretos britânicos (por isso Reagan anunciou a sua criação, em
Londres) e os serviços secretos australianos. Este ponto-chave é muitas
vezes encoberto sem comentários. No entanto, é validado por mensagens de
felicitações pelos primeiros-ministros Tony Blair e John Howard por
ocasião do 20º aniversário desta assim chamada "ONG". A NED e seus
tentáculos são órgãos de um pacto militar anglo-saxão, ligando Londres,
Washington e Canberra; o mesmo vale para o Echelon, a rede de intercepção
electrónica, que pode ser utilizada não só pela CIA mas também pelo MI6
britânico e o australiano ASIS.
Para esconder esta realidade, a NED estimulou entre seus aliados a
criação de organizações similares que trabalham com ela. Em 1988, o
Canadá criou o centro Droits & Démocratie, que teve um foco especial
primeiro no Haiti, depois no Afeganistão. Em 1991, o Reino Unido
estabeleceu a Fundação de Westminster para a democracia (DQA). O
funcionamento deste órgão público é decalcado da NED. A sua administração
é confiada a partidos políticos (oito delegados: três para o partido
conservador; três para o Partido Trabalhista; um para o Partido Liberal e
outro para os outros partidos representados no Parlamento). A DQA tem
trabalhado sobretudo na Europa Oriental. Desde 2001, a União Europeia
está equipada com um instrumento europeu para a democracia e os direitos
humanos (IEDDH), que desperta menos suspeitas que suas contrapartes. Este
escritório é o EuropeAid, liderado por um alto funcionário tão poderoso
quanto é desconhecido: o holandês, Jacobus Richelle.
Diretiva presidencial 77
Quando os parlamentares dos EUA votaram a o estabelecimento da NED em 22
de novembro de 1983, não sabiam que esta já existia em segredo nos termos
da diretiva presidencial de 14 de janeiro. Este documento, desclassificado
somente duas décadas mais tarde, organiza a "diplomacia pública" uma
expressão politicamente correta para designar "propaganda". A diretiva
estabelece na Casa Branca grupos de trabalho para a NSC. Um destes grupos
tem a tarefa de liderar a NED.
(…)
As coisas, no entanto, não passaram a ser transparentes. A maioria dos
altos funcionários que têm desempenhado um papel central no NSC foram
diretores da NED. Tais são os exemplos de Henry Kissinger, Franck
Carlucci, Zbigniew Brzezinski ou até mesmo Paul Wolfowitz; personalidades
que não permanecerão na história como idealistas da democracia, mas como
cínicos estrategistas de violência.
O orçamento da NED não pode ser visto isoladamente, porque recebe
instruções do NSC para liderar a ação como parte de vastas operações onde
participam várias agências. Merece menção que os fundos são libertados
pela International Aid Agency (USAID), sem serem registados no balanço da
NED, simplesmente para não se dizer que é governamentalizada. Além disso,
a Fundação recebe dinheiro indiretamente da CIA, após ter sido branqueado
por intermediários privados como o Smith Richardson Foundation, o John M.
Olin Foundation ou mesmo o Lynde e Harry Bradley Foundation.
Para avaliar a extensão do presente programa, precisamos combinar o
orçamento do NED com correspondentes itens de orçamentos da Secretaria de
Estado, da USAID, da CIA e do departamento de defesa. Hoje, tal estimativa
é impossível.
No entanto, certos elementos podem nos dar uma ideia de sua importância.
Durante os últimos cinco anos, os Estados Unidos gastaram mais de mil
milhões de dólares em organizações e partidos da Líbia, um pequeno estado
de 4 milhões de habitantes. No geral, metade deste maná foi lançado
publicamente pela Secretaria de Estado, a USAID e a NED; a outra metade
foi secretamente entregue pela CIA e pela Secretaria da Defesa.
Este exemplo permite-nos extrapolar que o orçamento global para corrupção
institucional dos EUA equivale a dezenas de milhar de milhões de dólares
anualmente. Além disso, o programa equivalente da União Europeia que é
inteiramente público e prevê a integração com ações dos EUA, é de 7 mil
milhões de euros por ano.
Em última análise, a estrutura jurídica da NED e volume do seu orçamento
oficial são apenas disfarces. Na sua essência, não é uma organização
independente para ações legais anteriormente confiadas à CIA, mas sim uma
janela através da qual o NSC dá as ordens para ações legais incluídas nas
operações ilegais.
A estratégia trotskista
Quando estava sendo organizada em 1984, a NED foi presidida por Allen
Weinstein, em seguida, por John Richardson durante quatro anos (1984-88),
finalmente por Carl Gershman (desde 1998). Estes três homens têm três
coisas em comum:
Estão ligados ao judaísmo;
Eram membros ativos no partido trotskista, Trotskyite Party - Social
Democrats USA
Haviam trabalhado na Freedom House
Há uma lógica nisto: o ódio ao estalinismo levou alguns trotskistas a
juntarem-se à CIA para lutar contra os soviéticos. Trouxeram com eles a
teoria do poder global transpondo-o para as "revoluções coloridas" e a
"democratização". Eles simplesmente aplicaram a vulgata de Trotsky à
batalha cultural analisada por Gramsci: o poder exercido psicologicamente,
ao invés de pela força. Para governar as massas, a elite tem que primeiro
inculcar uma ideologia que programe a sua aceitação do poder que pretende
domina-lo.
American Centre for the Solidarity of Workers (ACILS)
Conhecido também como Solidarity Centre, o ACILS é o ramo sindical da
NED, e pode ser considerado como o seu principal canal: distribui mais de
metade dos donativos da Fundação. Substituiu organizações anteriores que
serviram durante a Guerra Fria para organizar sindicatos não-comunistas
pelo mundo, do Vietnam a Angola, passando pela França e pelo Chile.
O facto de sindicatos serem escolhidos para dar cobertura a este programa
da CIA é de rara perversidade. Longe do lema marxista: Proletários de todo
o mundo, uni-vos", a ACILS junta os sindicatos dos EUA numa ação
imperialista que esmaga trabalhadores de outros países. Esta subsidiária
foi dirigida por Irving Brown, uma personalidade exuberante, desde 1948
até 1989, ano da sua morte.
Alguns autores garantem que Irving Brown era filho de um "russo branco",
companheiro de Alexander Kerensky. O que sabemos de certeza é que foi
agente do OSS (serviço secreto dos EUA durante a Segunda Guerra mundial) e
que participou na criação da rede Gladio organização da CIA e da NATO.
Contudo recusou-se lidera-la, preferindo focar-se na área em que era
perito, os sindicatos. Residiu em Roma, depois em Paris, nunca em
Washington. Teve portanto um significativo impacto na vida pública
italiana e francesa.
Em 1981 Irving Brown colocou Jean-Claude Mailly como assistente de André
Bergeron secretário-geral da Force Ouvrière (FO). Este último reconheceu
ter financiado as suas atividades graças à CIA. Em 2004 Mailly tornou-se
secretário-geral da FO.
No fim da sua vida, gabou-se de nunca ter deixado de conduzir a central
sindical francesa FO por detrás da cortina, para além de puxar os
cordelinhos da associação estudantil UNI (em que estiveram ativos Nicolas
Sarkozy e os seus ministros François Fillon, Xavier Darcos, Hervé Morin e
Michèle Alliot-Marie, bem como o presidente da Assembleia Nacional,
Bernard Accoyer e o presidente do grupo parlamentar da maioria
Jean-François Copé) e ter formado pessoalmente membros de um grupo
trotskista dissidente que incluíam Jean-Christophe Cambadelis e o futuro
primeiro-ministro Lionel Jospin.
No final dos anos noventa, membros da Confederação AFL-CIO pediram contas
da atividade real do ACILS, quando o seu caráter criminoso havia sido
totalmente documentado em vários países. Poderia pensar-se que as coisas
mudariam após esta exibição de provas. Nada disso ocorreu. Em 2002 e 2004,
ACILS participou ativamente num fracassado golpe de Estado na Venezuela
para derrubar o presidente Hugo Chávez e noutro com sucesso no Haiti para
derrubar Jean-Bertrand Aristide. Atualmente, o ACILS é dirigido por John
Sweeney, o ex-presidente da Confederação, AFL-CIO, que por sua vez é ele
próprio originário do Trotskyite Party - Social Democrats USA.
Centre for International Private Enterprise (CIPE)
A CIPE centra-se na divulgação da ideologia liberal capitalista e luta
contra a corrupção. O primeiro sucesso da CIPE: transformar em 1987 o
European Management Forum (um clube de CEOs das grandes empresas
europeias) no World Economic Forum (o clube da classe dominante
transnacional). Esta grande reunião econômica e política anual de "quem é
quem" no mundo, realiza-se na estância de esqui de Davos na Suíça,
contribui para a criação de uma associação de classe que transcende a
identidade nacional. CIPE certifica-se de que não tem nenhum vínculo
estrutural com o fórum de Davos, e não foi possível – até o momento –
provar que o Fórum Econômico Mundial é um instrumento da CIA. Mas pelo
contrário, os chefes de Davos teriam muita dificuldade em explicar por que
certos líderes políticos teriam escolhido o Fórum econômico como o lugar
para atos da maior importância se não houvesse operações planeadas pelo
NSC norte-americano.
Por exemplo:
1988: foi em Davos – não na ONU – que a Grécia e a Turquia fizeram as
pazes.
1989: foi em Davos, que as duas Coreias, realizaram sua primeira
reunião a nível ministerial e as duas Alemanhas realizaram sua primeira
reunião sobre a reunificação.
1992: é novamente em Davos que Frederik de Klerk e Nelson Mandela
libertado se reúnem para apresentar o seu projeto comum para a África
do Sul pela primeira vez no exterior.
1994: ainda mais improvável, é em Davos, após o acordo de Oslo, que
Shimon Peres e Yasser Arafat vêm negociar e assinar seu acordo para Gaza
e Jericó.
A ligação entre Washington e o Fórum é notória através de Susan K.
Reardon, ex-diretora da Association of Professional Employees of the
Department of State tendo-se tornado diretora da Fundação da Câmara de
Comércio dos EUA que gere a CIPE.
Outro sucesso da CIPE é a Transparency International, uma "ONG"
oficialmente estabelecida por Michael J. Hershman, um oficial dos serviços
secretos militares dos EUA. Além disso, é um dos diretores da CIPE e líder
do serviço de recrutamento de informadores do FBI, bem como administrador
do serviço de segurança e investigação privado Fairfax Group.
Transparency International é a primeira e principal cobertura para as
atividades de espionagem económica da CIA. É também uma ferramenta para a
comunicação social para obrigar os Estados a alterar a sua legislação
garantindo a abertura dos mercados.
Para mascarar a origem da Transparency International, a CIPE apela para o
savoir-faire do antigo responsável junto da imprensa do Banco Mundial, o
neoconservador Frank Vogl. Este último instituiu uma Comissão que
contribui para criar a impressão de que é uma associação nascida da
sociedade civil. Esta Comissão de fachada é liderada por Peter Eigen,
ex-diretor do Banco Mundial na África Oriental. Em 2004 e 2009, sua esposa
foi candidata do SPD para a Presidência da República Federal da Alemanha.
O trabalho da Transparency International serve os interesses dos EUA e
não lhe pode ser concedida credibilidade. Assim, em 2008, esta pseudo ONG
denunciou que a PDVSA, a empresa petrolífera pública da Venezuela, era
sujeita a corrupção; com base em informações falsas, e colocava-a como a
última no seu ranking global de empresas públicas. O objetivo era,
evidentemente sabotar a reputação de uma empresa que constituía o
fundamento econômico da política anti-imperialista do presidente Hugo
Chávez. Apanhada no ato de envenenamento da informação a Transparency
International recusou-se a responder a perguntas da imprensa
latino-americana e a corrigir o seu relatório.
Além disso, é surpreendente quando recordamos que Pedro Carmona, o
correspondente da CIPE na Venezuela, foi colocado no poder por breve
espaço de tempo pelos Estados Unidos, durante o golpe de Estado falhado
para derrubar Hugo Chávez em 2002.
Focando a atenção sobre a corrupção económica a Transparency
International permite mascarar as atividades do NED, corrompendo as elites
governantes. para vantagem anglo-saxónica.
The International Republican Institute (IRI) and the National Democratic
Institute for International Affairs (NDI)
O objetivo do IRI é corromper os partidos de direita, enquanto o NDI lida
com partidos de esquerda. O primeiro é presidido por John McCain, o
segundo por Madeleine Albright. Estas duas personalidades não devem ser
consideradas políticos comuns, mas sim, como ativos líderes dos programas
do NSC.
Para contextualizar, IRI e NDI renunciaram ao seu controlo sobre a
Internacional Liberal e a Internacional Socialista. Assim, criaram
organizações rivais: a União Democrática Internacional (IDU) e a Aliança
para Democratas (AD). O primeiro é presidido pelo australiano, John
Howard. O russo, Leonid Gozman da Causa Justa (Правое дело) é seu
vice-presidente. O segundo é liderado pelo italiano Gianni Vernetti e
co-presidido pelo francês, François Bayrou.
IRI e NDI são também suportados por fundações políticas, ligando-os a
grandes partidos políticos na Europa (seis na Alemanha, dois na França, um
na Holanda e outro na Suécia). Além disso, algumas operações foram
subcontratadas a misteriosas empresas privadas tais como Democracy
International Inc. que organizou recentes eleições manipuladas no
Afeganistão.
Tudo isso deixa um gosto amargo. Os EUA corromperam a maioria dos grandes
partidos políticos e sindicatos em todo o mundo. (…). As campanhas
eleitorais tornaram-se espetáculos onde a NED escolhe o elenco,
fornecendo os meios financeiros necessários para uns e não para outros.
Mesmo a noção de alternativa perdeu o sentido desde que NED promove a
alternância de um campo ou outro desde que siga as mesmas políticas de
negócios estrangeiros e de defesa.
Atualmente, na União Europeia e noutros países, lamenta-se a crise da
democracia. Os responsáveis por isto são claramente a NED e os EUA. E como
podemos classificar um regime como o dos Estados Unidos, onde o líder da
oposição, John McCain, na verdade é um líder do NSC? Certamente que não
como uma democracia.
Balanço do sistema
Ao longo do tempo, a USAID, a NED, suas instituições satélite e suas
bases intermediárias produziram uma burocracia complicada e gananciosa. A
cada ano, quando o Congresso vota o orçamento da NED, animados debates
surgem sobre a ineficácia deste sistema tentacular e rumores de que os
fundos têm sido apropriados para beneficiar os políticos dos EUA
encarregados de administrá-las.
Para conseguir uma boa gestão, têm sido encomendados estudos para
quantificar o impacto destes fluxos financeiros. Especialistas compararam
os montantes atribuídos em cada Estado e o ranking democrático destes
Estados segundo a Freedom House. Então calculam quanto precisam gastar em
dólares por habitante para melhorar de um ponto o ranking democrático de
um dado Estado.
Claro, tudo isso é apenas uma tentativa de autojustificação. A ideia de
estabelecer uma classificação de democracia não é científica. Em alguns
aspectos, é totalitária, pois assume que existe apenas uma forma de
instituições democráticas. Por outro lado, é infantil estabelecer uma
lista de critérios díspares com coeficientes fictícios transformando uma
complexidade social num único número.
(…)
Seja como for, em 2003, no seu vigésimo aniversário, a NED elaborou um
relatório da sua ação, evidenciando ter financiado mais de 6.000
organizações políticas e sociais do mundo, um número que não parou de
aumentar a partir de então. A NED afirma que sozinha criou o sindicato
Solidarnosc na Polónia, a carta 77 na Checoslováquia e o Otpor na Sérvia.
Estava orgulhosa por ter criado a partir do zero a rádio B92 ou o diário
Oslobodjenje na ex-Jugoslávia e uma série de novos meios de comunicação
independentes no Iraque "libertado".
Em dezembro de 2011, as autoridades egípcias fizeram uma busca nos
escritórios do NDI e IRI no Cairo. Os documentos que foram apreendidos
são da maior importância para compreender a ingerência dos EUA desde que
o "ninho de espiões" foi removido de Teerão, em 1979. Acusados de
espionagem, os líderes locais do NED são julgados. Os documentos provaram
que a NED é inteiramente responsável por ter manipulado a pseudo revolução
que teve lugar na Praça Tahrir e que resultou em mais de 4.000 mortes
levando a Irmandade Muçulmana ao poder.
Mudando de cobertura
Depois de experimentar um sucesso global, a retórica de democratização já
não convence. Ao utilizá-lo em todas as circunstâncias, o presidente
George W. Bush empobreceu o seu significado. Ninguém pode reivindicar
seriamente que os subsídios pagos pela NED vão fazer desaparecer o
terrorismo internacional. A alegação de que as tropas dos EUA derrubaram
Saddam Hussein para oferecer democracia aos iraquianos, não pode mais ser
afirmada de forma persuasiva.
Além disso, os cidadãos em todo o mundo que lutam pela democracia
tornaram-se desconfiados. Agora entendem que a ajuda oferecida pelo NED e
seus tentáculos na verdade visam manipular e apanhar os seus países numa
armadilha. Eis porque cada vez mais recusam as contribuições "sem teias ou
bastões anexados" que lhes são oferecidas.
Nos EUA dirigentes de diferentes canais de corrupção tentaram silenciar o
sistema por mais de uma vez. Após os truques sujos da CIA e da
transparência da NED, pretendiam criar uma nova estrutura que substituiria
um pacote desacreditado. Não seria gerido por sindicatos, patronato e os
dois grandes partidos, mas pelas multinacionais no modelo da Fundação
Ásia.
Na década de oitenta, a imprensa revelou que esta organização foi uma
cobertura da CIA para lutar contra o comunismo na Ásia. Posteriormente foi
reformada e a sua gestão confiada às multinacionais (Boeing, Chevron,
Coca-Cola, Levis Strauss, etc....). Esse novo estilo foi suficiente para
dar a impressão de que era não-governamental e respeitável – porém era uma
estrutura que nunca deixou de servir a CIA. Após a dissolução da Rússia,
ela foi replicada na Fundação Eurásia, cujo mandato cobre a ação secreta
para os novos Estados asiáticos.
Outra questão que anima o debate é se as contribuições para a "promoção
da democracia" teriam de assumir a forma exclusiva de contratos para
realizar projetos específicos ou subsídios com nenhum dever de atingir
metas. A primeira opção oferece melhor cobertura legal, mas o segundo é
uma ferramenta muito mais eficaz de corrupção.
Dado este panorama, os requisitos previstos por Vladimir Putin e Vladisl
Surkov para regular o financiamento das ONGs na Rússia é legítimo, mesmo
se a burocracia que eles criaram para o fazer é enorme e difícil de
satisfazer. O instrumento NED, criado sob a autoridade do NSC não apenas
falha em apoiar as tentativas de democracia em todo o mundo como as
envenena.
Devido à extensão do texto alguns trechos foram omitidos. A versão
integral pode ser consultada em www.voltairenet.org/article192992.html .
Tradução de DVC.
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
In
RESISTIR.INFO
http://resistir.info/eua/ned_cia.html
6/9/2016
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