terça-feira, 16 de maio de 2017
O engano, a traição e a esquerda: O prémio "Traidor do Ano"
por James Petras
Enquanto a direita apoia fielmente as políticas e interesses dos seus
apoiantes da classe dominante, a esquerda tem traído sistematicamente as
promessas da sua plataforma política e enganado a classe trabalhadora, os
empregados assalariados, os pequenos negócios e os seus apoiantes
regionais.
Inversões históricas têm acontecido em rápida sucessão por parte de
líderes de esquerda, incluindo maior controle oligárquico sobre a
economia, dominação política mais ditatorial pelas potências imperiais
(EUA, UE), aumento de desigualdades e pobreza e apoio "de esquerda" a
guerras imperiais.
Em alguns casos líderes de esquerda foram além dos seus oponentes de
direita ao aprovarem políticas reaccionários ainda mais extremas depois de
assumir o poder.
Neste ensaio identificaremos alguns dos vira-casacas de esquerda: Os
"Campeões da Traição".
A seguir faremos a revisão das suas inversões políticas e as
consequências para a sua classe trabalhadora e apoiantes rurais.
Em terceiro lugar, apresentaremos um estudo de caso do pior traidor "de
esquerda" do mundo de hoje: Alexis Tsipras, primeiro-ministro da Grécia.
Na secção final, discutiremos algumas das possíveis explicações para a
tendência de reversões políticas de líderes de esquerda.
"Esquerdistas" vira-casaca do princípio do século XXI
Há numerosos exemplos de antigos movimentos de guerrilha, regimes de
esquerda e líderes políticos que obtiveram apoio popular de massa com a
promessa de transformações radicais de estrutura e que deram meia volta
para abraçar os interesses dos seus adversários oligárquicos e imperiais.
Uma geração inteira de radicais, das décadas de 1960 e 1970, começou à
esquerda e, durante os anos 80 e 90 acabaram em regimes "centristas" e de
direita – tornando-se até colaboradores da extrema-direita e da CIA.
Antigos combatentes guerrilheiros, que acabaram como centristas e
direitas, tornaram-se ministros ou presidentes no Uruguai, Brasil, Peru,
Equador e Chile.
O comandante da guerrilha de El Salvador, Joaquin Villalobos,
posteriormente colaborou com a CIA e proporcionou "aconselhamento" aos
"esquadrões da morte" do presidente da Colômbia.
A lista dos traidores do fim do século XX é longa e lúgubre. Suas
traições políticas provocaram grande sofrimentos à massa dos seus
apoiantes os quais sofreram perdas sócio económicas, repressão política,
prisões, torturas, morte e uma profunda desconfiança em relação a
intelectuais e líderes políticos "de esquerda", assim como às suas
"promessas".
O século XXI: Começar à esquerda e acabar à direita
A primeira década do século XXI testemunhou uma revitalização de regimes
e partidos políticos de esquerda na Europa e na América Latina.
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), conduzidas pelo
grande líder camponês Manuel Marulanda, tinham 20 mil combatentes e
milhões de apoiantes. Em 1999, ela havia avançados para os arrabaldes da
capital, Bogotá. A realidade hoje é uma inversão dramática.
Em França, o Partido Socialista adoptou um programa de esquerda e em 2012
elegeu François Hollande como presidente. Ele prometeu aumentar os
impostos sobre os ricos para 75% a fim de financiar um programa maciço de
empregos. Ele prometeu estender a legislação progressista do trabalho e
defender as indústrias nacionais. Hoje a sua credibilidade está próxima do
zero.
Por toda a América Latina, gente de esquerda foi eleita para encabeçar
governos, incluindo o Brasil, Argentina, Peru, Uruguai, Bolívia,
Venezuela, Equador e El Salvador. Com a possível excepção da Bolívia e do
Equador, eles foram removidos pelos seus parceiros ou oponentes de
direita.
Em Espanha, Portugal e Grécia emergiram novos partidos radicais de
esquerda com promessas de acabar com os brutais programas de austeridade
impostos pela União Europeia e lançar profundas transformações
estruturais, com orientação de classe. Aqui a história está a repetir-se
com outra série de traições.
As FARC: Da revolução à rendição
Em Junho de 2017 a liderança das FARC desarmou seus combatentes,
abandonando milhões de apoiantes camponeses em regiões anteriormente sob
o seu controle. A assinatura das FARC do Pacto de Paz com o regime Santos
não leva nem à paz nem a um pacto real. Dúzias de activistas já estão a
ser assassinados e centenas de pessoas de esquerda e camponeses fogem para
salvar a vida devido aos esquadrões da morte ligados ao regime Santos.
Verificaram-se assassinatos ao logo do processo de negociação e
posteriormente. Combatentes da guerrilha que depuseram as suas armas agora
enfrentam julgamentos em processos farsa (kangaroo trials), enquanto
camponeses que pedem a reforma agrária são expulsos das suas terras.
Combatentes rasos e militantes das FARC são abandonados na selva com suas
famílias sem lares, empregos e segurança em relação aos esquadrões da
morte. As bases militares dos EUA e seus conselheiros permanecem. A
totalidade do sistema sócio-económico está intacta. Só aos "líderes" da
guerrilha que estão em Cuba é garantida segurança, duas confortáveis
poltronas no Parlamento – as quais foram recusadas – e o louvor do governo
estado-unidense.
Os líderes e negociadores chefe das FARC, Ivan Marquez e Timoleon
Jimenez, são claros competidores ao "Prémio Traidor do Ano".
Presidente Hollande da França: Um colaborador imperial despejado pela
sanita abaixo
O mandato do presidente François Hollande não foi muito além da traição
da FARC. Ao ser eleito presidente da França em 2012 pelo Partido
Socialista, prometeu "tributar os ricos" em 75%, estender a aprofundar
direitos dos trabalhadores, reduzir o desemprego, reviver indústrias em
bancarrota, impedir a fuga capitalista e acabar com a intervenção militar
da França em países do Terceiro Mundo.
Após um breve namoro com a sua retórica de campanha, o presidente
Hollande avançou violentamente em favor dos negócios e do militarismo,
contra os seus eleitores.
Primeiro, ele desregulamentou as relações dos negócios com o trabalho,
tornando mais fácil e mais rápido despedir trabalhadores.
Em segundo lugar, reduziu a tributação dos negócios em €40 mil milhões.
Em terceiro, impôs e depois ampliou um draconiano estado de emergência a
seguir a um incidente terrorista. Isto incluiu a proibição de greves de
trabalhadores a protestarem contra a legislação anti-trabalho e a taxa de
desemprego com dois dígitos.
Em quarto, Hollande lançou ou promoveu uma série de guerras imperiais no
Médio Oriente e na África do Norte e Central.
A França sob François Hollande iniciou o bombardeamento da NATO da Líbia,
o assassínio do presidente Kadafi, a destruição total daquele país e o
desenraizamento de milhões de líbios e trabalhadores da África
sub-saariana. Isto levou a uma inundação maciça de refugiados
aterrorizados através do Mediterrâneo e para dentro da Europa com dezenas
de milhares a afogarem-se neste processo.
O projecto neo-colonial do presidente Hollande administrou a expansão de
tropas francesas no Mali (desestabilizado pela destruição da Líbia) e na
República Centro-Africana.
Como claro promotor do genocídio, Hollande vendeu armas e enviou
"conselheiros" para apoiar a grotesca guerra da Arábia Saudita contra o
empobrecido Iémen.
O presidente Hollande aderiu à invasão mercenária dos EUA na Síria,
permitindo a alguns dos mais puros jihadistas da França juntarem-se à
carnificina. Suas ambições coloniais resultaram na fuga de milhões de
refugiados para a Europa e outras regiões.
No fim do seu mandato, em 2017, a popularidade de Hollande havia
declinado para 4%, o mais baixo nível de aprovação eleitoral de qualquer
presidente na história francesa! O único movimento racional que ele fez
em todo o seu regime foi não procurar a reeleição.
Primeiro-ministro grego Alexis Tsipras: "Traidor do ano"
Apesar da árdua competição de outros infames traidores da esquerda por
todo o mundo, o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras vence o prémio
"Traidor global do ano".
Tsipras merece o título de "Traidor global" porque:
1) Fez a viragem mais rápida e mais brutal da esquerda para a direita do
que qualquer dos seus venais competidores.
2) Apoiou a subjugação da Grécia aos ditames dos oligarcas de Bruxelas
quanto a exigências de privatizações, concordando em vender todo o seu
património nacional, incluindo sua infraestrutura, ilhas, minas, praias,
museus, portos, transportes, etc.
3) Ele decretou a mais brutal redução de pensões, salários e salários
mínimos da história europeia, enquanto aumentava drasticamente o custo de
cuidados de saúde, hospitalização e remédios. Ele aumentou o IVA (imposto
sobre o consumo) e impostos sobre importações e sobre o rendimento
agrícola enquanto "olhava para o outro lado" em relação a impostos de
evasores ricos.
4) Tsipras é o único lider eleito a convocar um referendo sobre as duras
condições da UE, recebe um mandato maciço para rejeitar o plano da UE e
então dá meia volta e trai os eleitores gregos em menos de uma semana. Ele
até aceitou condições mais severas do que as exigências originais da UE!
5) Tsipras reverteu suas promessas de se opor às sanções da UE contra a
Rússia e retirou o apoio histórico da Grécia aos palestinos. Ele assinou
um acordo de mil milhões de dólares sobre petróleo e gás com Israel, o
qual capturou campos petrolífero no offshore de Gaza e na costa libanesa.
Tsipras recusou opor-se ao bombardeamento da Síria pelos EUA-UE, assim
como da Líbia, ambos antigos aliados da Grécia.
Tsipras, como líder do supostamente partido de "esquerda radical" SYRIZA,
saltou da esquerda para a direita num piscar de olhos.
A primeira e mais reveladora indicação da sua viragem para a direita foi
o apoio de Tsipras à continuação da Grécia como membro da União Europeia
(UE) e da NATO durante a formação do SYRIZA (2004).
A "esquerda" do SYRIZA balbucia as platitudes habituais que acompanham a
condição de membro da UE, levantando "questões" e "desafios" vazios
enquanto fala de "lutas". Nenhuma destas frases "semi-grávidas" faz
sentido para qualquer observador que entenda o poder que os oligarcas
dirigidos pelos alemães têm em Bruxelas e sua adesão rígida à austeridade
imposta pela classe dominante.
Em segundo lugar, o SYRIZA tem desempenhado um papel menor, na melhor das
hipóteses, nas numerosas greves gerais e movimentos de trabalhadores e
estudantes que conduziram à sua vitória eleitoral em 2015.
O SYRIZA é um partido eleitoral da classe média baixa, conduzido por
políticos que querem subir na vida e que têm poucas, se é que algumas,
ligações ao chão da fábrica e às lutas agrárias. Suas maiores lutas
parecem revolver-se em torno de guerras internas de facção sobre assentos
no Parlamento!
O SYRIZA era uma colecção frouxa de grupos e facções briguentas,
incluindo "movimentos ecológicos", seitas marxistas e políticos
tradicionais que flutuaram sobre o moribundo e corrupto Partido Socialista
Pan Helénico (PASOK). O SYRIZA expandiu-se como partido no princípio da
crise financeira de 2008 quando a economia grega entrou em colapso. De
2004 a 2007 o SYRIZA aumentou sua presença no Parlamento de 3,5% para
apenas 5%. Sua falta de participação nas lutas de massa e suas querelas
internas levaram a um declínio nas eleições legislativas de 2009 para 4,6%
dos assentos.
Tsipras assegurou que o SYRIZA pemaneceria na UE, mesmo sua
auto-designada "ala esquerda", a Plataforma de Esquerda, liderada pelo
"académico marxista" Panagiotis Lafazanis, prometeu "manter uma porta
aberta para a saída da UE". Alexis Tsipras foi eleito primeiramente para o
conselho da municipalidade de Atenas, onde atacou publicamente colegas
corruptos e demagogos enquanto tomava lições privadas de poder da parte da
oligarquia.
Em 2010, o direitista PASOK e o partido de extrema-direita Nova
Democracia concordaram com um bail-out da dívida ditado pela UE que levou
a perdas maciças de empregos e cortes de salários e pensões. O SYRIZA, que
estava fora do poder, denunciou o programa de austeridade e fez elogios
verbais aos protestos maciços. Esta postura permitiu ao SYRIZA
quadruplicar sua representação no parlamento, passando a 16% na eleição
de 2012.
Tsipras saudou [a entrada] de membros corruptos e conselheiros
financeiros do PASOK para dentro do SYRIZA, incluindo Yanis Varoufakis,
que passava mais tempo a andar de motocicleta para bares de luxo do que a
apoiar nas ruas os trabalhadores desempregados.
Os "memorandos" da UE ditavam a privatização da economia, bem como cortes
mais profundos na educação e saúde. Estas medidas foram implementadas em
ondas de choque desde 2010 até 2013. Como partido da oposição, o SYRIZA
aumentou suas cadeiras em 27% em 2013 ... uns escassos 3% atrás do partido
governante Nova Democracia. Em Setembro de 2014, o SYRIZA aprovou o
Programa Salónica prometendo reverter a austeridade, reconstruir e
estender o estado de bem-estar social, restaurar a economia, defender
empresas públicas, promover justiça fiscal, defender a democracia
(democracia directa, nada menos!) e implementar um "plano nacional" para
aumentar o emprego.
Todo o debate e todas as resoluções revelaram-se como uma farsa teatral!
Uma vez no poder, Tsipras nunca implementou uma única das reformas
prometidas no Programa. Para consolidar o seu poder como chefe do SYRIZA,
Tsipras dissolveu todas as facções tendências em nome de um "partido
unificado" – o que estava longe de ser um passo rumo a maior democracia!
Sob o controle do "Querido Tio Alexis", o SYRIZA tornou-se uma máquina
eleitoral autoritária apesar da sua postura de esquerda. Tsipras insistiu
em que a Grécia permaneceria dentro da UE e aprovou um "orçamento
equilibrado" contradizendo toda as suas falsas promessas de campanha de
investimentos públicos para "ampliar o estado de bem-estar social"!
Um novo bail-out da UE foi seguido por um salto no desemprego de mais de
50% entre a juventude e de 30% de toda a força de trabalho. O SYRIZA
venceu as eleições parlamentares de 25 de Janeiro de 2015 com 36,3% do
eleitorado. Faltando um único voto para assegurar uma maioria no
parlamento, o SYRIZA fez uma aliança com o partido de extrema-direita
ANEL, ao qual Tsipras deu o Ministério da Defesa.
Imediatamente depois de tomar posse, o primeiro-ministro Alexis Tsipras
anunciou seus planos para renegociar com a oligarquia da UE e o FMI o
bail-out da Grécia e o "programa de austeridade". Este falso
posicionamento não podia ocultar sua impotência. Uma vez que o SYRIZA
estava comprometido a permanecer na UE, a austeridade continuaria e outro
oneroso bail-out se seguiria. Durante "reuniões internas", membros da
"Plataforma de Esquerda" do SYRIZA no gabinete ministerial apelaram ao
abandono da UE, ao repúdio da dívida e a forjar laços mais estreitos com a
Rússia. Apesar de estarem totalmente ignorados e isolados, eles
permaneceram como um impotente "sinal esquerdista" no gabinete
ministerial.
Com Tsipras agora liberto para impor políticas de mercado neoliberais,
milhares de milhões fluíram para fora da Grécia e os seus próprios bancos
e negócios permaneceram em crise. Tanto Tsipras como a "Plataforma de
Esquerda" recusaram-se a mobilizar a base de massa do SYRIZA, a qual havia
votado em favor da acção e exigiu um fim à austeridade. O impertinente dos
media, o ministro das Finanças Varoufakis, simulou um espectáculo com
grandes gestos teatrais de desaprovação. Estes foram abertamente
descartados pela oligarquia UE-FMI como travessuras de um impotente
palhaço mediterrânico.
Superficiais como sempre, académicos de esquerda canadianos,
estado-unidenses e europeus estavam amplamente inconscientes da história
política do SYRIZA, da sua composição oportunista, da sua demagogia
eleitoral e ausência total da luta de classe real. Eles continuaram a
palrar acerca do SYRIZA como governo da "esquerda radical" da Grécia e
cumpriram suas funções de relações públicas. Quando o SYRIZA abraçou
flagrantemente os cortes mais selvagens contra os trabalhadores gregos e
seus padrões de vida afectando a vida diária, os bem pagos e distintos
professores finalmente falaram os "erros" do SYRIZA e serviram a
"esquerda radical" deste ensopado de oportunistas! Suas grandes excursões
oratórias à Grécia estavam acabadas e eles voaram para longe a fim de
apoiar outras "lutas".
Ao aproximar-se o Verão de 2015, o primeiro-ministro Tsipras tornou-se
ainda mais próximo de toda a agenda de austeridade da UE. O "querido
Alexis" despediu o ministro das Finanças Varoufakis, cujo histrionismo
havia irritado o ministro das Finanças da Alemanha. Euclid Tsakalotos,
outro "radical" de esquerda, substituiu-o como ministro das Finanças, mas
revelou-se ser um maleável subordinado de Tsipras, desejoso de implementar
toda e qualquer das medidas de austeridades impostas pela UE sem as
travessuras.
Em Julho de 2015, Tsipras e o SYRIZA aceitaram um duro programa de
austeridade ditado pela UE. Isto rejeitava todo o Programa de Salónica do
SYRIZA, proclamado no ano anterior. A totalidade da população e os membros
da base do SYRIZA estavam cada vez mais irados, exigindo um fim à
austeridade. Apesar de aprovarem um "cinturão de austeridade" para a sua
base eleitoral de massa durante o Verão de 2015, Tsipras e sua família
viviam no luxo numa villa generosamente emprestada por um plutocrata
grego, longe das filas da sopa e barracas dos desempregados e pobres.
O primeiro-ministro Alexis Tsipras implementou políticas merecedoras do
prémio "Traidor do Ano". A sua estratégia foi dúplice. Em 5 de Julho de
2015 ele convocou um referendo sobre a aceitação das condições do bail-out
da UE. Pensando que os seus apoiantes "favoráveis à UE" votariam "Sim",
ele tencionava utilizar o referendo como um mandato para impor novas
medidas de austeridade. Tsipras julgou mal o povo: A sua votação foi um
repúdio esmagador ao duro programa de austeridade ditado pelos oligarcas
de Bruxelas.
Mais de 61% do povo grego votou "não" ao passo que apenas 38% votaram a
favor das condições do bail-out. Isto não se limitou a Atenas. A maioria
em todas as regiões do país rejeitou os ditames da UE – um resultado sem
precedente! Mais de 3,56 milhões de gregos exigiram um fim à austeridade.
Tsipras estava "confessadamente surpreendido" ... e desapontado! Ele
secretamente e estupidamente pensava que o referendo lhe daria carta
branca para impor austeridade. Quando os resultados da votação foram
anunciados afixou a sua habitual cara risonha.
Menos de uma semana depois, em 13 de Julho, Tsipras renunciou aos
resultados do seu próprio referendo e anunciou o apoio do seu governo ao
bail-out da UE. Talvez para punir os eleitores gregos, Tsipras apoiou um
esquema de austeridade ainda mais duro do que aquele rejeitado no seu
referendo! Ele cortou drasticamente pensões públicas, impôs maciças altas
regressivas de impostos e cortou US$12 mil milhões de serviços públicos.
Tsipras concordou com o infame "memorando Judas" de Julho de 2015, o qual
aumentavam o regressivo imposto geral sobre o consumo (IVA) para 23%, um
imposto de 13% sobre alimentos, um aumento agudo nos custos médicos e
farmacêuticos e de taxas de instrução, além de adiar a idade de reforma em
cinco anos, para a idade de 67.
Tsipras continuou a sua violência "histórica" sobre o sofredor povo grego
ao longo de 2016 e 2017. O seu regime privatizou mais de 71.500
propriedades públicas, incluindo o património histórico. Só a Acrópole foi
poupada do leilão em bloco.. por enquanto! O desemprego resultante levou
mais de 300 mil gregos educados e qualificados a emigrarem. Pensões
cortadas para 400 euros levaram à desnutrição e a um triplicar de
suicídios.
Apesar destas grotescas consequências sociais os banqueiros alemães e o
regime de Angela Merkel recusaram-se a reduzir os pagamentos da dívida. A
abjecção de Tsipras não teve efeito.
Altas agudas de impostos sobre combustíveis agrícolas e transporte para
ilhas turísticas levaram a manifestações constantes e greves em cidades,
fábricas, campos e auto-estradas.
Em Janeiro de 2017 Tsipras perdeu metade do seu eleitorado. Ele respondeu
com repressão: asfixiando com gás e espancando gregos idosos que
protestavam contra suas pensões de pobreza. Três dúzias de sindicalistas,
já absolvidos pelos tribunais, foram reprocessados pelos promotores de
Tsipras num vicioso "julgamento espectáculo". Tsipras apoiou os ataques
dos EUA-NATO à Síria, as sanções contra a Rússia e os acordos de energia e
militares de mil milhões de dólares com Israel.
Excepto durante a ocupação nazi (1941-44) e a guerra civil anglo-grega
(1945-49), o povo grego não havia experimentado um declínio tão
precipitado dos seus padrões de vida desde o tempo dos otomanos. Esta
catástrofe ocorreu sob o regime Tsipras, vassalo da oligarquia de
Bruxelas.
Turistas académicos de esquerda da Europa, Canadá e EUA têm "aconselhado"
o SYRIZA a permanecer na UE. Quando as consequências desastrosas dos seus
"conselhos políticos" se tornaram claros... eles simplesmente voltaram-se
ao aconselhamento de outras "lutas" com os seus falsos "fóruns
socialistas".
Conclusões
As traições de líderes "de esquerda" e "esquerdistas radicais" são
devidas parcialmente às suas práticas comuns como políticos a fazerem
acordos pragmáticos nos parlamentos. Em outros casos, antigos líderes
extra-parlamentares e guerrilheiros foram confrontados com isolamento e
pressão de regimes "de esquerda" vizinhos para submeterem-se a "acordos
de paz" imperiais, como no caso das FARC. Enfrentando o fortalecimento
maciço dos exércitos dos oligarcas, abastecidos e aconselhados pelos EUA,
eles dobraram-se e traíram seus apoiantes de massa.
O quadro eleitoral dentro da UE encorajou a colaboração de esquerda com
classes inimigas – especialmente banqueiros alemães, potências da NATO,
militares dos EUA e o FMI.
Desde as suas origens, o SYRIZA recusou-se a romper com a UE e sua
estrutura autoritária. Desde o seu primeiro dia de governo, ele aceitou
mesmo as dívidas pública e privadas mais comprovadamente ilegais
acumuladas pelos regimes corruptos do PASOK e da Nova Democracia. Em
consequência, o SYRIZA foi reduzido a mendigar.
Inicialmente o SYRIZA poderia ter declarado a sua independência, salvado
seus recursos públicos, rejeitado dívidas ilegais dos seus antecessores,
investido suas poupanças em novos programas de emprego, redefinido suas
relações comerciais, estabelecido uma divisa nacional e desvalorizado o
dracma para tornar a Grécia mais flexível e competitiva. A fim de romper
as cadeias de vassalagem e da oligarquia estrangeira que impuseram a
austeridade, a Grécia precisaria sair da UE, renunciar à sua dívida e
lançar uma economia socialista produtiva baseada em cooperativas
auto-administradas.
Apesar do seu mandato eleitoral, o primeiro-ministro grego Tsipras seguiu
o caminho destrutivo do líder soviético Mikhail Gorbachov, traindo seu
povo a fim de continuar debaixo de uma aliança cega de submissão e
decadência.
Se bem que vários líderes ofereçam árdua competição para o "Prémio
Traidor do Ano", a traição de Alexis Tsipras tem sido mais longa, mais
profunda e continua até os dias de hoje. Ele rompeu mais promessas e
reverteu mais mandatos populares (eleições e referendos) mais rapidamente
do que qualquer outro traidor. Além disso, nada excepto uma geração
permitirá aos gregos recuperar sua esquerda política [NR] . A esquerda tem
sido devastada pelas mentiras monstruosas e a cumplicidade dos antigos
"críticos de esquerda" de Tsipras.
As obrigações de dívidas acumuladas pela Grécia exigirão pelo menos um
século para terminarem – se o país puder mesmo sobreviver. Sem dúvida,
Alexis Tsipras é o "Traidor do Ano" por unanimidade!!!
30/Abril/2017
[NR] Os preconceitos do autor levam-no a esquecer que não é preciso
"recuperá-la" pois já existe o KKE com uma posição firme, coerente e
combativa.
O original encontra-se em http://petras.lahaine.org/?p=2138
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
In
RESISTIR.INFO
http://resistir.info/petras/petras_30abr17.html
16/5/2017
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