sábado, 5 de agosto de 2017
As consequências da destruição da URSS
por Juozas Ermalavichyus [*]
A criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas como reunião de
povos e federação de Estados comprometidos na construção socialista foi um
extraordinário acontecimento, sem precedentes na história mundial. Antes
do nascimento da União Soviética, a história global da humanidade nunca
conhecera uma tal associação voluntária em tão grande escala de nações e
nacionalidades num único Estado.
Esta experiência foi tornada possível pela vitória da Grande Revolução
Socialista de Outubro, que libertou os povos do Império Russo, da opressão
social e exploração, proporcionando-lhes uma perspectiva de
desenvolvimento livre. É por isso que o socialismo soviético foi o supremo
grau de progresso histórico da humanidade no século XX.
Não é portanto surpreendente que a destruição da União Soviética tivesse
resultado em consequências catastróficas para os povos do nosso país
multinacional e a humanidade no seu conjunto.
Tendo como objetivo a destruição da União Soviética, a contra-revolução
imperialista não tinha nenhuma ideia real das possíveis consequências
desta brutal agressão de dimensão mundial. A contra-revolução não tinha
uma percepção adequada e muito menos uma compreensão científica da
realidade histórica de como se encontrava a humanidade moderna nas últimas
décadas do século XX. Ela voltava as costas às leis objetivas do
desenvolvimento social da comunidade mundial, ignorava o impacto
transformador a nível mundial da revolução tecnológica e distorcia a
natureza global do agravamento da crise geral do capitalismo.
A contra-revolução não podia imaginar que, devido ao alto grau de
integração e interdependência da comunidade internacional, o
desmembramento da União Soviética iria inevitavelmente conduzir à ruptura
do equilíbrio no desenvolvimento social global e ao mesmo tempo provocar
uma completa desestabilização do processo histórico global. A
contra-revolução era guiada pela estratégia fascista do imperialismo dos
EUA, para estabelecer o domínio global e a restauração completa do
capitalismo em todo o planeta, o que, objectivamente, era impossível.
A criminosa destruição da União Soviética significou uma derrota grave do
sistema socialista mundial, um enfraquecimento do processo revolucionário
mundial, uma deterioração da democracia política e do progresso social no
mundo e a extrema intensificação da crise global do capitalismo. Com o
desmembramento da União Soviética desencadeou-se a agressão imperialista
contra a humanidade, na medida em que tinha sido perdido o seu principal
fator de dissuasão. Foi assim que o imperialismo dos EUA se ocupou a
provocar guerras civis, conflitos étnicos e religiosos, viu-se prosperarem
bandos armados em vários "pontos quentes”: no Cáucaso, Balcãs, Ásia
Central, Médio Oriente, Norte da África, Ucrânia e outras partes do mundo.
Por último, a “guerra de interesses” agravou-se de modo significativo em
toda a parte.
O colapso da União Soviética foi um choque económico, social, político e
espiritual de dimensão mundial, afetando o desenvolvimento histórico da
humanidade. Como resultado da desintegração da União Soviética, a
contra-revolução imperialista ela própria foi arrastada para uma
configuração particular do desenvolvimento social global, que não podia
dominar, condenando-se ela própria a uma morte inevitável. Constituindo
uma anomalia no processo histórico natural, o desmembramento da União
Soviética foi marcado por consideráveis consequências devastadoras em
todos os países. Como resultado, a crise global atingiu o paroxismo. Em
última análise, com a destruição da União Soviética começou a fase final
do colapso do sistema capitalista mundial e a ordem social baseada na
propriedade privada. O afundamento da velha ordem mundial tem conhecido
uma significativa aceleração tomando o aspeto de uma avalanche.
A destruição da União Soviética foi imediatamente seguida por colocar em
condições de escravidão colonial o país, aniquilando em grande escala as
suas forças produtivas, a transformação do seu território num apêndice de
matérias-primas para os monopólios transnacionais e o genocídio de seu
povo. O papel destrutivo principal foi desempenhado pela privatização dos
meios de produção, para a restauração do capitalismo no país desmantelado.
Diretamente oposta à principal lei objectiva de desenvolvimento da
produção material – a sua socialização – a lei de privatização resultou
numa falha catastrófica da economia nacional e um colapso completo da
produção social. As consequências sociais da privatização foram o enorme
empobrecimento da população, a polarização social da sociedade, a
extinção da população do país. Os povos da União Soviética encontraram-se
sob a ameaça do fim da sua existência como comunidade histórica de
pessoas.
Para os povos da União Soviética, a destruição de seu Estado federal
causou uma catástrofe nacional no primeiro semestre de 1990, devido ao
colapso da base económica comum da sociedade soviética, minando os
fundamentos da vida material e produtiva das populações. A queda da
produção social foi mais importante que os danos sofridos pela economia
nacional da União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial. Em
consequência, assistiu-se a um declínio acentuado do nível e da qualidade
de vida, a grande maioria das massas encontrou-se abaixo da linha da
pobreza, uma grande parte da população do país foi atingida pelo
desemprego, a lumpenisação, a pauperização. Em alguns lugares eclodiram
guerras civis sangrentas, marcadas por numerosas vítimas humanas e
causando a fragmentação das antigas repúblicas soviéticas. A consequência
foi a degradação social dos povos soviéticos, a diminuição da população
total do país desmembrado, tendo a destruição do Estado-União Soviética
arruinado as principais fontes da sua viabilidade.
A restauração do capitalismo na União Soviética desintegrada
caracterizou-se, acima de tudo, pela destruição acelerada das forças
produtivas da sociedade soviética. O país, que anteriormente era
auto-suficiente, provendo totalmente as necessidades da sua população,
perdeu neste desastre sectores industriais inteiros como a construção de
máquinas-ferramentas, equipamentos, engenharia eléctrica, electrónica e
outros domínios do progresso científico e tecnológico. A restauração
capitalista transformou a ex-União Soviética, numa região atrasada,
desesperada, cinzenta. Os povos da URSS foram destruídos sob o domínio do
capital comprador, com a privatização da economia fez-se passar a riqueza
social para o controlo ou mesmo posse direta de monopólios estrangeiros. É
a própria soberania dos povos ex-soviéticos que está ameaçada.
A restauração do capitalismo na União Soviética afetou o sistema
capitalista mundial, porque provou-se incompatível com as leis objetivas
do desenvolvimento social. Portanto, a restauração do capitalismo na União
Soviética desencadeou tendências destrutivas à escala global, como a
desestabilização do desenvolvimento social global, a extrema
intensificação da crise geral do sistema capitalista mundial, a
desintegração completa dos sistemas económicos e políticos no mundo, a
aceleração da derrocada do sistema social baseado na propriedade privada,
etc. Seguiu-se uma repartição territorial do mundo, um importante
agravamento dos problemas e contradições globais, um aumento significativo
da ameaça de uma catástrofe global na humanidade. Todas estas condições
tiveram por efeito um caos generalizado e global: acelerou-se o colapso da
velha ordem social, rejeitada no mundo inteiro que recusa o poder egoísta
das forças políticas atuais. Mas quando o caos mundial começa gerir o
desenvolvimento social global, é a própria existência da humanidade que
está em perigo.
A desintegração da União Soviética tem contribuído para o aumento da
agressão imperialista global contra a humanidade que vai até à real ameaça
de uma catástrofe nuclear. Mas na realidade histórica, tornou-se evidente
que os imperialistas destruidores da União Soviética acabaram como reféns
de seus atos criminosos. Eles são incapazes de controlar a situação
crítica do mundo, porque com o desmembramento do Estado Soviético
transpuseram o limite do aceitável no processo histórico mundial.
Portanto, todas as suas aspirações egoístas transformam-se no seu oposto,
dando origem a consequências desastrosas para eles próprios. Não podia ser
de outra forma dado que as forças políticas no poder na maioria dos países
vão contra as leis objetivas do desenvolvimento social. É algo que está
determinado pela lógica objetiva da história do mundo. A dialética da
história orienta as nações do mundo para a formação de uma nova união de
Estados, mais poderosa que a antiga União Soviética. O exemplo da União
Soviética – uma Federação Socialista multinacional – servirá como
protótipo a uma União mundial dos povos do planeta, que só é
verdadeiramente realizável numa base socialista. A agressão imperialista
global não faz senão reforçar os espasmos de sua agonia.
A agonia universal em que mergulha o sistema capitalista mundial não é
devida ao colapso da União Soviética. As causas mais fundamentais e mais
antigas estão relacionadas com a revolução científica e técnica. Durante
esta enorme revolução no desenvolvimento das forças produtivas da
humanidade, o capitalismo esgotou todas as suas possibilidades e entrou
naturalmente na etapa histórica do fim irreversível da sua existência.
Tendo sofrido o impacto transformador da revolução tecnológica, a economia
mundial não pode desenvolver-se espontaneamente sob o sistema obsoleto das
relações de produção baseado na propriedade privada. Ela está esgotada e
cai sob os golpes da crise global. O capital financeiro monopolista que
domina no campo capitalista rompeu com a produção material e está imerso
na especulação a nível global. Assim, o capital financeiro transformou-se
em ficção, funcionando apenas por inércia e tende a esgotar-se de maneira
inexorável e irreversível. A especulação capitalista degenera numa agonia
universal do modo de produção capitalista, com todas as consequências que
isso implica nos planos económico, social, político e espiritual, que se
combinam na destruição do sistema social capitalista no planeta. A
desintegração da União Soviética não fez senão acelerar e aprofundar este
processo histórico natural.
Todas essas manifestações da crise global tomadas como um todo
testemunham a formação no final do século XX, de uma situação
revolucionária a nível mundial. É caracterizada por uma completa
desestabilização das relações internacionais, o aumento das tendências
catastróficas e caóticas no desenvolvimento social dos povos do mundo. É
marcada pelo desencadear no cenário mundial de forças sociais e políticas
da regressão social e da agressão militar, a agressão mundial do
imperialismo contra a humanidade, a perda de controlo das forças
contra-revolucionárias sobre os processos no mundo. Pela sua própria
natureza, ela reflete a inevitabilidade da destruição da ordem social
fundada na propriedade privada. E portanto, a situação de crise aguda à
escala planeta está ligada ao objetivo condicionamento pela revolução
científica e técnica à escala global da via socialista de desenvolvimento
da comunidade mundial das nações. Esta situação revolucionária mundial
abre novas perspectivas de uma vaga de revoluções socialistas primeiro na
maioria dos países, mais tarde sobre o resto do planeta.
O imperialismo agonizante tornou-se extremamente agressivo e perigoso. A
agressão mundial da reação fascizante do imperialismo empurra a crise
global para uma escalada que pode conduzir à catástrofe universal e à
autodestruição da humanidade. A única alternativa para a autodestruição da
humanidade é a transformação revolucionária da sociedade, de acordo com
princípios socialistas na maioria dos países. É uma verdadeira alternativa
que tiraria os povos do mundo da crise global, iria compromete-los na
construção de uma sociedade socialista sem classes, a liberdade social, a
justiça e a igualdade. Não há outro meio de sair da crise mundial. Tanto
mais que a revolução científica e técnica torna acessíveis capacidades
produtivas suficientes para satisfazer as necessidades humanas de toda a
população do planeta. A implementação desta oportunidade estratégica para
a humanidade pressupõe o triunfo global do socialismo.
O imperialismo agonizante pode ainda destruir dezenas de nações e atirar
a humanidade para longe do caminho do seu desenvolvimento histórico. Mas o
imperialismo não é mais capaz de sair vivo de sua própria crise, que
encerra a história secular da civilização baseada na propriedade privada.
A sua crise global é a última crise na história do mundo. A transformação
das características básicas do capitalismo no seu oposto durante o século
XX conduziu à degeneração económica do capital. Devido à especulação,
tornou-se virtual, fictício, ilusório. Transformou-se num pseudo capital.
Paralelamente a isto seguiu-se uma degenerescência social da sociedade
burguesa e a sua desumanização e dessocialização, a ferocidade e a
barbárie. Essas tendências refletem as últimas convulsões do sistema
capitalista mundial.
Após a agonia do imperialismo no processo histórico mundial acontece
naturalmente o socialismo, cuja fase inicial já foi percorrida pelos povos
soviéticos. Confrontados com o problema da sua conservação e
sobrevivência, os povos da URSS destruída ampliam cada vez mais os seus
movimentos de protesto contra a restauração do capitalismo no nosso país
dividido. A salvação e a sobrevivência dos povos soviéticos situa-se no
socialismo renovado num nível superior de desenvolvimento social ao que
foi construído e implementado na URSS no século XX. Este objectivo
estratégico será seguido por outros povos do mundo. A sua passagem para um
modo de vida socialista é objetivamente imposta pela revolução científica
e tecnológica em todo o mundo. Não há nenhuma outra via.
[*] Juozas Ermalavichyus, doutorado em ciências históricas, professor
O original encontra-se em kprf.ru/party-live/opinion/160190.html e a
versão em francês em
www.legrandsoir.info/les-consequences-de-la-destruction-de-l-urss.html .
Tradução de DVC.
In
RESISTIR.INFO
http://resistir.info/russia/destruicao_urss.html#asterisco
5/8/2017
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