sexta-feira, 30 de março de 2018
Um mês realmente histórico para o futuro do nosso planeta
por The Saker
Março de 2018 vai ficar como um mês verdadeiramente histórico:
- 1 de Março, Vladimir Putin faz o seu discurso histórico na Assembleia
Federal Russa.
- 4 de Março, Sergei Skripal, um ex-espião do Reino Unido, é
alegadamente envenenado no Reino Unido .
- 8 de Março, responsáveis britânicos acusam a Rússia de usar um gás de
ataque ao sistema nervoso na tentativa de assassinato de Sergei Skripal.
- 12 de Março, Theresa May acusa oficialmente a Rússia pelo
envenenamento e dá à Rússia um ultimato de 24 horas para se justificar;
os russos ignoram esse ultimato. No mesmo dia, a representante dos EUA no
Conselho de Segurança das Nações Unidas ameaça atacar a Síria mesmo sem
uma autorização do Conselho de Segurança.
https://www.nytimes.com/2018/03/12/world/europe/uk-russia-spy-poisoning.html
- 13 de Março, o Chefe das Forças Armadas Russas e vice-ministro da
defesa, General Valery Gerasimov advertiu que "no caso de uma ameaça à
vida dos nossos militares, as Forças Armadas Russas tomarão medidas de
represália quer sobre os mísseis quer sobre os porta-aviões que os
utilizam". No mesmo dia o General Valery Gerasimov teve uma conversa
telefónica com o presidente dos Chefes de Estado-maior dos Estados Unidos,
General Joseph Dunford,
- 15 de Março, o Reino Unido bloqueou um projecto de resolução da
Rússia no Conselho de Segurança das Nações Unidas pedindo uma
"investigação urgente e civilizada" sobre o caso Skripal. Os EUA, RU,
França e Alemanha emitem uma declaração de apoio ao Reino Unido e
censurando a Rússia . . O ministro da defesa do Reino Unido diz à Rússia
: "Cale-se e desapareça".
- 16 de Março, o Major-General Igor Konashenkov classifica o ministro
da Defesa britânico como "musaranho grosseiro" e "intelectualmente
impotente".
- 17 de Março, Generais russos advertem que os EUA estão a preparar um
ataque químico como manobra de diversão e engano (false flag)na Síria .
- 18 de Março, Putin vence esmagadoramente as eleições presidenciais .
No mesmo dia, o General Votel, comandante do CENTCOM (Comando Central
Militar dos Estados Unidos) declara num depoimento na Comissão dos
Serviços Militares que as diferenças com a Rússia devem ser resolvidas
"através de canais diplomáticos e políticos". Quando perguntado se seria
correcto dizer que "com a ajuda da Rússia e do Irão, Assad ganhou a
Guerra Civil na Síria?" o General Votel respondeu ; "Não acho que seja
exagero, isto é, que seja uma declaração demasiado forte. Acho que eles
lhe forneceram os meios para ter um ascendente neste momento".
- 19 de Março, O Conselho de Relações Exteriores da UE emite uma
declaração de apoio total ao Reino Unido.
- 21 de Março, o Ministério russo dos Negócios Estrangeiros convoca
todos os embaixadores para uma reunião sobre o caso Skripal. A linguagem
utilizada pelo representante russo nesta reunião é possivelmente a mais
ríspida usada oficialmente pelos russos (ou mesmo soviéticos) para o
Ocidente desde a Segunda Guerra Mundial. Os representantes francês, sueco
e dos EUA na reunião ergueram-se para declararem a "solidariedade" com o
Reino Unido.
- 22 de Março, o Chefe das Forças Armadas Russas e vice-ministro da
Defesa, General Valery Gerasimov teve outra conversa telefónica com o
General Joseph Dunford, presidente dos Chefes de Estado Maior dos Estados
Unidos. No mesmo dia, o General Gerasimov manteve outra conversação
telefonica com o Comandante do US European Command e Comandante Supremo da
NATO, General Curtis Scaparrotti.
Então o que está realmente a acontecer? Certamente ninguém acredita
seriamente que os britânicos pensem que os russos tivessem de facto algum
motivo para tentar matar Skripal ou, aliás, se tivessem um motivo, que
iriam faze-lo de uma maneira tão estúpida. E, de qualquer forma, afinal
como vão prosseguir os assuntos com a Síria? Os EUA vão accionar falsos
argumentos e proceder a bombardeamentos?
Acho que neste ponto não nos devemos atolar nos pormenores de tudo isto.
Há uma floresta atrás das árvores. O que mais importa agora é que as mais
poderosas facções das elites dominantes do Império anglo-sionista estão a
fazer um esforço concertado para criar uma coligação anti-russa unificada.
A respeito da Euro-ralé basta dizer que os EUA, a França e a Alemanha
emitiram um comunicado em 15 de Março sem mesmo se incomodarem em
consultar os seus chamados "aliados" da NATO ou da UE. Pode-se
imediatamente dizer "quem é patrão" nestas situações de crise, quando o
resto da Europa simplesmente não conta (pobres países do leste europeu com
seus delírios sobre serem apreciados ou mesmo respeitados pelo Ocidente!).
Além disso, é evidente que neste caso, a componente "anglo" do Império
anglo-sionista está muito mais envolvida do que a sionista, pelo menos até
agora na frente do palco ( nos bastidores os "neocons" estão furiosos com
Trump por telefonar a Putin felicitando-o [pela eleição presidencial] e
propondo-lhe negociações). Penso que uma série de acontecimentos cruciais
forçaram os EUA e o Reino Unido a tentar obrigar o resto dos países
ocidentais a unirem-se em torno do Império:
1 – Os EUA fracassaram de forma humilhante nas suas tentativas de
atemorizar e forçar a RPDC à submissão
2 – O império anglo-sionista perdeu a guerra civil na Síria
3 – O Reino Unido e o resto da NATO estão a tornar-se militarmente
irrelevantes
4 – A Ucrânia está na bancarrota e a consumir-se; um ataque dos nazis
ucranianos no Donbass é altamente provável
5 – As forças políticas na Europa, que se opõem às políticas anti-russas
estão em ascensão.
6 – Os russos estão atraindo muitos países da UE por meios económicos,
incluindo o [gasoduto] North Stream, enquanto as sanções estão
prejudicando muito mais a UE do que a Rússia
7 – A campanha anti-Putin falhou miseravelmente e a Rússia está
totalmente unida em torno da sua posição contra o Império.
O que isso tudo significa é muito simples: o que o Império precisa para
subir ou para reduzir as suas apostas é algo que as elites imperiais ainda
não estão dispostas a considerar. Portanto, estão a usar as ferramentas
que consideram mais eficazes:
1 – "Falsas bandeiras": manobras de diversão e engano, isto é realmente
uma tradição ocidental usada por praticamente todas as potências
ocidentais. Desde que a população foi sujeita a uma lavagem ao cérebro,
não podem sequer começar a imaginar que "o amor à liberdade das
democracias liberais" pode usar métodos geralmente atribuídos a maus e
sanguinários regimes ditatoriais. "Falsas bandeiras" são uma maneira
ideal para colocar a opinião pública no estado mental correcto de
aprovação às políticas agressivas, hostis e até mesmo violentas contra uma
percepção de ameaça ou um obstáculo à hegemonia.
2 - Poder "soft": repare-se como os Óscares ou o Festival de Cannes
sempre escolhem exactamente o tipo de "artistas" que o Império passa a
promover politicamente? Bem, isso é verdade não só para os Óscares ou o
Festival de Cannes, mas para quase tudo da vida cultural, social e
política no Ocidente. Isto é especialmente verdadeiro nos chamados
"direitos humanos" e organizações de "paz", que são simplesmente
"pitbulls" políticos que podem ser atiçados em qualquer país caso seja
necessária subversão e/ou intervenção. A Rússia nunca desenvolveu este
tipo de ferramenta política.
3 - Escalada verbal: esta táctica é extremamente rude, mas muito eficaz.
Começa-se proclamando veementemente uma falsidade. O facto de se ter
proclamado uma matéria de forma tão vociferante e hiperbólica alcança
dois resultados imediatos: envia a todos os seus amigos e aliados uma
clara mensagem "você ou está connosco ou contra nós", não deixando
espaço para estabelecer diferenças ou aprofundar a análise e isso impede
os políticos suficientemente cobardes de admitirem o erro, reforçando
assim a sua "determinação".
4 – Reunir o rebanho: há segurança na quantidade. Então, ao lidar com um
adversário potencialmente perigoso, como a Rússia, todos os pequenos se
juntam a fim de parecerem maiores ou, pelo menos, mais difíceis de
destacar. Além disso, quando todo mundo é responsável, ninguém é. Assim,
reunir o rebanho também é politicamente vantajoso. Finalmente, isto muda a
dinâmica inter-relacional para que um dos amigos ou aliados possa ser
encontrado entre os cúmplices do crime.
5 - Ameaças directas: o império sempre escapou fazendo ameaças à
esquerda e à direita desde há muitas décadas, e este é um hábito difícil
de quebrar. Nikki Haley ou Hillary Clinton provavelmente acreditam
sinceramente que os EUA são quase omnipotentes ou, inversamente, podem
ficar aterrorizadas com a suspeita insidiosa que talvez não o sejam.
Ameaças são também um fácil, embora ineficaz, substituto para a diplomacia
e as negociações, especialmente quando sua posição é objectivamente errada
e o outro lado é simplesmente muito mais inteligente.
O grande problema é que nenhum desses métodos funciona contra a Rússia
ou, deixem-me corrigir isto, deixaram de funcionar (certamente que
pareceram funcionar no passado). A opinião pública russa está plenamente
consciente de todos estes métodos (graças aos media russos NÃO controlados
por anglo-sionistas) e Margarita Simonyan resumiu muito bem os
sentimentos que isso provoca na população russa:
"Toda a vossa injustiça e crueldade inquisitorial, hipocrisia e mentiras
forçaram-nos a deixar do vos respeitar. A vós e aos vossos chamados
"valores". Não queremos mais viver como vocês vivem. Há cinquenta anos,
secreta ou abertamente, queríamos viver como vocês, mas já não. Não temos
mais respeito por vocês e por aqueles de entre nós que vocês apoiam (...).
Por isto, só vocês são culpados (...) O nosso povo é capaz de perdoar
muito. Mas nós não perdoamos a arrogância e nenhuma nação normal o faria.
O Império que vos resta seria sensato em informar-se sobre a história dos
seus aliados, todos eles são antigos impérios, para aprender as vias pelas
quais eles perderam os seus impérios. Só por causa da sua arrogância.
"White man's burden, my ass!" (frase em inglês no texto original)
A dura verdade é que longe de querer invadir, apaziguar ou caso contrário
agradar ao Ocidente, a Rússia não tem absolutamente nenhuma necessidade, ou
mesmo interesse, nele. Nenhum. Durante séculos, as elites russas estiveram
focadas no Ocidente em algum grau, não imaginavam sequer o Ocidente sem a
Rússia. Isto ainda é verdade hoje, as "elites" russas ainda querem viver
como (os muito ricos) ingleses ou alemães e ainda odeiam o povo russo comum
e Vladimir Putin. Mas agora estas elites russas foram esmagadas pela
amplitude da vitória de Putin nas eleições presidenciais.
Normalmente, isso deveria resultar num exílio ainda maior de "empresários"
russos para o Reino Unido, França ou Israel, mas agora o problema é que os
britânicos estão fazendo barulho desejando puni-los, mesmo sendo russos
russofóbicos, pró-ocidentais. Em resultado, estes "pobres" liberais
pró-ocidentais podem apenas lamentar-se da comunicação social e dos poucos
media pró-ocidentais existentes na Rússia (não, não devido à repressão, mas
devido a sua irrelevância política, porque eles são apoiados por apenas algo
entre 2% e 5% da população).
Mas deixando de lado por um momento as "elites" ricas, a Rússia como país e
como nação simplesmente não tem utilidade para o Ocidente e o que ela
representa. Aqueles que fantasiam sobre a Rússia estar interessada na
"Europa", "Identidade branca" ou "Cristianismo ocidental" só estão a
enganar-se. Esperam que o renascimento cultural e espiritual atual na Rússia
irá de alguma forma extravasar para eles e permitir-lhes desembaraçarem-se
do atoleiro em que estão actualmente prostrados. Isso não acontecerá. Acabei
de reler o que Margarita Simonyan disse sobre os "valores ocidentais" na
citação acima.
Para a maioria dos russos a "Europa" cheira a Napoleão; "Identidade branca"
a Hitler e "Cristianismo ocidental" à criação da Ucrânia e às "Cruzadas ao
Oriente". Não, a Rússia não tem interesse em vingar-se contra nada disto; a
Rússia só não tem respeito nem interesse pelo que estes conceitos defendem.
A Polónia é possivelmente o último país onde todas essas coisas são levadas
a sério e carinhosamente lembradas. Os russos continuam dispostos a negociar
para estabelecer uma coexistência viável entre os domínios civilizacionais
Ocidentais e Russo. Putin disse-o claramente no seu discurso.
Não há nenhuma necessidade de criar mais ameaças para o mundo. Em vez
disso, vamos sentar-nos à mesa de negociação e conceber juntos um sistema
novo e relevante de segurança internacional e desenvolvimento sustentável
para a civilização humana. Temos dito isto desde o princípio. Todas estas
propostas são ainda válidas. A Rússia está pronta para isto.
Mas não se os anglo-sionistas estão decididos a dominar o mundo por meio da
guerra, então Rússia está pronta para isso também. Não uma guerra de
agressão, claro, nem mesmo contra os pequenos Estados do Báltico, Putin
tornou isto claro também quando disse "nós não estamos a ameaçar ninguém,
não vamos atacar ninguém ou tirar nada a ninguém com a ameaça das armas.
Não precisamos de nada. Exactamente o oposto" (destaque do autor). Mas se
atacada, a Rússia está agora preparada para se defender:
"E para aqueles que, nos últimos 15 anos, tentaram acelerar uma corrida
armamentista e procurarem uma vantagem unilateral contra a Rússia,
introduzindo restrições e sanções que são ilegais do ponto de vista do
direito internacional, com o objectivo de reprimir o desenvolvimento do
nosso país, incluindo na área militar, vou dizer isto: tudo o que tentaram
impedir através de tal política, já aconteceu. Ninguém conseguiu conter a
Rússia (...) Qualquer uso de armas nucleares contra a Rússia ou seus
aliados, armas de curto, médio ou qualquer alcance, será considerado como um
ataque nuclear sobre este país. A retaliação será imediata, com todas as
consequências inerentes. Não deve haver qualquer dúvida sobre isto".
Porque a questão nuclear é tão central? Porque os russos estão plenamente
conscientes do facto de que os anglosionistas não podem vencer uma guerra
convencional contra a R&ússia . Assim, é crucial para os russos convencê-los
de que não são nem militarmente superiores nem invulneráveis (veja aqui uma
análise completa desses dois mitos). Mas depois de algum tipo de modus
vivendi ser alcançado com o Ocidente, a Rússia irá focar seus esforços em
diferentes direcções: muito necessárias reformas internas e desenvolvimento,
trabalho com a China sobre o estabelecimento de uma única zona da Eurásia de
segurança económica, paz e prosperidade, restauração da paz no Oriente
Médio, desenvolvimento do Extremo Oriente e Norte Russos – pode-se escolher.
A Rússia tem muito trabalho a ser feito, nenhum dos quais envolve o Ocidente
em qualquer competência.
E, claro, isto é totalmente inaceitável para o Ocidente.
Daí que este mês de desenvolvimentos históricos, tenha colocado a Rússia e
o Ocidente em rota de colisão directa. Como disse acima, o Império pode
agora reduzir ou duplicar a aposta. Se decidir reduzir, a guerra será
evitada e haverá finalmente negociações significativas. Se aumentar, algo
que os neocons sempre fazem, então isto significa a guerra com a Rússia.
Esta é uma escolha dura e muito difícil (não, não para pessoas normais, mas
para os psicopatas que governam o Ocidente). E não há muito que a Rússia
possa ou deva fazer neste ponto. Como é o caso de cada vez que ocorre uma
crise grave, as aparentemente unidas elites do Ocidente irão dividir-se em
facções distintas e cada uma dessas facções prosseguirá e promoverá os seus
próprios interesses mesquinhos. Haverá uma luta intensa, principalmente nos
bastidores, entre aqueles que vão querer aumentar as apostas ou mesmo
desencadear uma guerra contra a Rússia e aqueles que vão estar horrorizados
com essa noção (não necessariamente por profundas razões morais, apenas pelo
próprio interesse básico e um saudável instinto de sobrevivência).
Quanto a quem vai prevalecer, o vosso palpite é tão bom quanto o meu. Mas o
facto de Trump ter substituído McMaster por um psicopata belicista como John
Bolton é um sinal claro de que os "neocons" estão no comando dos EUA e que o
eixo da afabilidade está prestes mandar para o diabo uma grande quantidade
de "delicadezas".
23/Março/2018
Ver também:
Os dias de uma guerra apenas sem data , José Goulão
O original encontra-se em
thesaker.is/a-truly-historical-month-for-the-future-of-our-planet/
In
RESISTIR.INFO
http://resistir.info/gb/saker_23mar18_p.html
30/3/2018
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