Os documentos
apresentados neste trabalho reportam-se à metade do período democrático
(1945-1955) situado entre a ditadura de Vargas e a ditadura militar que
empolgou o poder em 1964.
O regime
democrático preconiza que todos os indivíduos são iguais perante a lei. Mas, o
que os documentos nos mostram inequivocamente é que malgrado a vigência da
democracia, o Estado (burguês) organizou o controle
dos trabalhadores (vigilância, repressão e encarceramento).
O regime
democrático é de interesse dos trabalhadores, por isso, em suas lutas contra o
capital recorrentemente invocam a democracia. Paradoxalmente, porém, os
trabalhadores frequentemente alimentam expectativas irrealistas quanto ao potencial
progressista da democracia sob o domínio do capital, abstraindo que, se a
democracia na Grécia antiga foi responsável pela manutenção do trabalho
escravo, a moderna democracia vem sendo responsável pela reprodução da
escravidão contemporânea, o trabalho assalariado. E até hoje, todas as
tentativas de superar esse estado de coisas pela via democrática foram
aniquiladas por ação da própria classe dominante, a burguesia.
Essa característica
da democracia é uma das razões pela qual a burguesia também se declara sua adepta
inveterada. Contudo, ao contrário dos trabalhadores, essa classe não confunde as
propriedades de sua democracia. Ela é ciente de que os assalariados, os quais
oprime e explora, são potencialmente perigosos para o seu domínio de classe,
são potencialmente comunistas, razão fundamental pela qual trata de controlá-los.
A contar da
Revolução Russa de 1917, sob o comando do imperialismo euro-atlântico, o
controle dos trabalhadores tem sido feito, sobretudo, em nome da luta da
democracia contra o comunismo. Essa impostação tem permitido à burguesia
arvorar a bandeira da democracia mesmo quando o imperialismo destrói nações, ou,
promove golpes de Estado, uma vez que esses crimes são apresentados como
momentos de saneamento, como pré-requisitos para a instauração, preservação ou
restauração do regime democrático.
No entanto, devemos
ter claro que, no período aqui considerado, o que o regime democrático
controlou não foi a sociedade, muito menos os burgueses ou a classe burguesa,
se não que a classe trabalhadora. Ademais, esse procedimento não foi resultante
de condições específicas da época considerada, mas algo que é universal ao domínio
de classe burguês, algo que trespassa os tempos e que é praticado nos dias de hoje
mesmo nas democracias melhor realizadas.
In
Candido Giraldez Vieitez
O movimento operário e camponês na abordagem dos agentes de segurança do Estado (1946-1955)
Marília: Lutas anticapital, 2018
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