domingo, 30 de maio de 2021

MPF oferece nova denúncia contra agentes que participaram de operação para extermínio do PCB na ditadura

 

segunda-feira, 26 de abril de 2021

MPF oferece nova denúncia contra agentes que participaram de operação para extermínio do PCB na ditadura

Segunda, 26 de abril de 2021

Foto: Arquivo Nacional

Ex-integrantes do DOI-Codi sequestraram e mataram o militante comunista Elson Costa em 1975; crime ocorreu em unidade clandestina de tortura em SP


O Ministério Público Federal (MPF) ofereceu nova denúncia contra os ex-agentes da ditadura Audir Santos Maciel e Carlos Setembrino da Silveira pelo assassinato de um ex-integrante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) na chamada Casa de Itapevi, na região metropolitana de São Paulo. Em 1975, eles foram responsáveis pela prisão, tortura, morte e ocultação do cadáver de Elson Costa, então membro da direção da legenda. A dupla, entre outras pessoas já falecidas, mantiveram o militante sob intensa tortura durante 20 dias no local onde funcionava um dos centros clandestinos da repressão. Incinerado, esquartejado e lançado no Rio Novo, em Avaré, o corpo da vítima permanece desaparecido até hoje.

Maciel e Setembrino tiveram intensa participação nas ações da chamada Operação Radar, executada entre 1973 e 1976 para o extermínio de lideranças do PCB em todo o país, entre elas Elson Costa. O jornalista Vladimir Herzog, o operário Manoel Fiel Filho, o técnico em edificação José Montenegro de Lima e o advogado Jayme Amorim de Miranda também foram vítimas dessa iniciativa.

Maciel comandava o Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do II Exército, uma das unidades que coordenavam a perseguição aos comunistas. Setembrino, além de integrar a equipe de buscas da unidade sob a chefia do capitão Dalmo Cirillo, era um dos responsáveis pelo funcionamento da Casa de Itapevi, também conhecida como Boate Querosene. O imóvel, que pertencia a seu irmão, situava-se em uma área afastada, sem vizinhos que pudessem testemunhar os abusos cometidos contra as vítimas.

Elson Costa fazia parte do setor de agitação e propaganda do PCB e atuava na produção e distribuição da Voz Operária, o jornal do partido. Sua prisão ocorreu no bairro paulistano de Santo Amaro em 15 de janeiro de 1975, dois dias após agentes da repressão descobrirem a gráfica clandestina onde o periódico era impresso, no Rio de Janeiro. As circunstâncias da morte de Elson são comprovadas por documentos do Exército e pelo depoimento do ex-analista de informações do DOI-Codi Marival Dias Chaves do Canto, que, em 1992, revelou detalhes sobre as atrocidades cometidas em Itapevi.

O desaparecimento de dirigentes do PCB foi a solução encontrada pelos militares para dizimar o partido, que era contrário à luta armada. Sem possibilidade de forjar versões oficiais que tratassem de “confrontos” e “trocas de tiros” com os comunistas, os órgãos da repressão optaram por sequestrá-los e matá-los clandestinamente, à margem de qualquer ação pública. A partir de 1974, com o fechamento da Casa da Morte, em Petrópolis (RJ), a Casa de Itapevi tornou-se o principal destino ilegal dos militantes capturados.

Maciel e Setembrino são acusados de homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver. Na denúncia, o MPF pede que a Justiça Federal considere uma série de fatores agravantes para a condenação dos ex-agentes, entre eles o emprego de tortura, o motivo torpe para o crime (perseguição política), o abuso de poder e a violação do dever inerente aos cargos que os denunciados ocupavam. Os pedidos incluem ainda o cancelamento de aposentadorias que eles recebam atualmente, bem como de condecorações com as quais tenham sido agraciados por sua atuação durante a ditadura.

O MPF destaca que a morte de Elson Costa é imprescritível e impassível de anistia, uma vez que ocorreu em um contexto de ataque sistemático e generalizado do Estado brasileiro contra a população e, por isso, constitui crime contra a humanidade. Diversos testemunhos e registros atestam a coordenação centralizada da repressão na época, entre eles, relatório de abril de 1974, assinado pelo então diretor da CIA William Colby.

O documento, dirigido à Secretaria de Estado dos EUA, descreve uma reunião na qual o presidente Ernesto Geisel deu aval para que o Serviço Nacional de Informações (SNI) prosseguisse com as mortes de militantes políticos, desde que autoridades superiores fossem antes consultadas. “O presidente não apenas tinha conhecimento, mas autorizava a continuação da política de execuções sumárias e desaparecimentos dos opositores, exigindo-se, todavia, que o Centro de Informações do Exército (CIE) solicitasse autorização prévia do próprio Palácio do Planalto para as mortes”, destacou o procurador da República Andrey Borges de Mendonça, autor da denúncia. “Nesse contexto se insere a Operação Radar".

O número processual da denúncia é 5002674-87.2021.4.03.6181. A tramitação pode ser consultada aqui.

Íntegra da denúncia do MPF

Fonte: MPF
 
In
gamalivre.com.br
26/4/2021 
 

sábado, 29 de maio de 2021

E se foram os otomanos que deram forma ao mundo moderno?

 

 

Pensem em uma enorme charada histórica: como um pequeno principado
situado às margens ocidentais daquilo que era chamado de Ásia Menor veio
a se transformar em algo que bem poderia ser definido como o mais
importante dos impérios do Islã? edit

*Tradução de Patricia Zimbres, para o 247*

PEPE ESCOBAR


Era uma vez, na Anatólia, em fins do século XIII, um dos muitos
principados túrquicos formados na esteira da invasão mongol da década de
1240, que relegou ao passado os turcos seljuks e surgiu como o Emirado
Otomano - que tomou o nome de seu fundador, Osman I.

Em meados do século XV - à época do divisor de águas que foi a conquista
de Constantinopla pelo Sultão Mehmet II - o império otomano, então em
expansão constante, havia absorvido praticamente todos os emirados
túrquicos vizinhos.

E em inícios do século XVI, o que surgiu foi um império multirreligioso
e multiétnico que - pragmático e tolerante - reinou por quatro séculos
sobre os Bálcãs, a Anatólia e o Sudoeste da Ásia.

Pensem em uma enorme charada histórica: como um pequeno principado
situado às margens ocidentais daquilo que era chamado de Ásia Menor veio
a se transformar em algo que bem poderia ser definido como o mais
importante dos impérios do Islã? A chave para decifrar essa charada
talvez seja dada pelo Sultão Selim I.

_God's Shadow_
<https://www.amazon.com/Gods-Shadow-Sultan-Ottoman-Empire-ebook/dp/B07ZTTDWB2/ref=sr_1_1?crid=1EVHHHQETSCRS&dchild=1&keywords=god%27s+shadow+alan+mikhail&qid=1620878917&sprefix=god%27s+shadow+%2Caps%2C393&sr=8-1>**(A
Sombra de Deus), que em sua edição original em inglês (Faber & Faber)
leva o subtítulo /The Ottoman Sultan Who Shaped the Modern World /(/O
Sultão Otomano que/ /Deu Forma ao Mundo Moderno/)/,/ talvez revele que
seu autor, Alan Mikhail, professor de História e diretor do Departamento
de História de Yale, é singularmente qualificado para defender essa tese.

Mehmet II, cuja incessante obsessão – e astúcia – extinguiu o Império
Bizantino naquele fatal 29 de maio de 1453 (ele tinha apenas 21 anos de
idade) era uma figura de escala sobre-humana para os povos do
Mediterrâneo, dos Bálcãs e da Ásia Menor. Ele lançou uma ponte entre a
Europa e a Ásia. Ele transformou Constantinopla, rebatizada de Istambul,
na capital de seu vasto império. Ele governou sobre as Rotas da Seda do
Mar Negro ao Mediterrâneo. O /Fatih/ ("Conquistador") assumiu estatura
mítica no Oriente e no Ocidente - e chegou a nomear a si mesmo de César,
herdeiro dos imperadores bizantinos.

Mehmet II conquistou os Bálcãs na década de 1460, acabou com as colônias
de mercadores genoveses da Crimeia e impôs vassalagem ao Kanato Tártaro
da Crimeia em 1478. Com isso, ele, na prática, transformou o Mar Negro
em um virtual lago otomano.

Mikhail ressalta, logo de partida, que o Império Otomano foi, por um
tempo bastante longo, o estado mais poderoso sobre a Terra – comparado,
por exemplo, à dinastia Ming, sem falar dos Safávidas: o maior império
mediterrâneo desde a Roma Antiga e o mais "duradouro" da história do Islã.

O autor então propõe o ponto central da explosiva tese que ele irá a
seguir desenvolver em detalhe: "Foi o monopólio otomano das rotas
comerciais com o Oriente, somado a suas proezas militares  em terra e no
mar, que empurraram a Espanha e Portugal para fora do Mediterrâneo,
forçando mercadores e marinheiros desses reinos quatrocentistas  a se
tornarem exploradores globais, arriscando-se em traiçoeiras viagens,
cruzando oceanos e contornando continentes - tudo para evitar os otomanos".

Não é de admirar que essa tese será extremamente impalatável ao
Ocidente, hegemônico há pelo menos 150 anos e agora confrontado com um
turbulento declínio. Mikhail se esforça ao máximo para mostrar que "da
China ao México, o Império Otomano deu forma ao mundo de inícios do
século XVI".

É óbvio que a competição ideológica, militar e econômica com os estados
espanhol e italiano, e depois com a Rússia, a China e outros estados
islâmicos era um grande vale-tudo. Mesmo assim, Mikhail se delicia em
mostrar que  Colombo, Vasco da Gama, Montezuma, Lutero, Tamerlane –
todos eles "calibravam suas ações e definiam sua própria existência em
reação ao alcance e poderio da potência otomana".

*Uma superpotência geoeconômica *

É preciso muito colhão para que um historiador empregado por uma
universidade americana de elite apresente uma narrativa que ele mesmo
descreve como "revolucionária" sobre o papel do Islã e dos otomanos na
formação não apenas do Velho, mas também do Novo Mundo. Mikhail tem
plena consciência de que essa é uma "pílula amarga para muitos ocidentais".

Sai de cena o Muçulmano como o Outro "terrorista". Sai de cena a
"ascensão do Ocidente". Entram os Otomanos como uma potência
civilizatória. Mikhail é peremptório: "Desde a Revolução Industrial e as
assim-chamadas glórias do século XIX", fazer retroagir a primazia
europeia até Colombo é um "absurdo histórico". O Império Otomano
"inspirou medo ao mundo durante séculos antes de ganhar sua alcunha
pejorativa de "o homem doente da Europa".

O fato é que, apesar de todos os revezes que enfrentou, o Império
Otomano - por mais de 600 anos de história - permaneceu como o Hegêmona
do Oriente Médio e um dos estados mais importantes na Europa, África e
Ásia até a Primeira Guerra Mundial. De 1453 até o século XIX, os
otomanos postaram-se "no centro da política global, da economia e da
guerra".

Imaginem os exércitos otomanos dominando vastas regiões da Europa, da
África e da Ásia; os principais corredores de comércio de  seda e de
outras mercadorias; núcleos urbanos importantes ao longo do
Mediterrâneo, do Mar Vermelho, do Mar Negro, do Mar Cáspio, do Golfo
Pérsico e do Oceano Índico. Eles governavam Damasco, Istambul, Cairo,
Jerusalém, Meca e Medina. Foi um longo caminho percorrido desde sua
humilde origem como pastores de ovelhas em trilhas desoladas da Ásia
Central.

E então há o fodão supremo: o Sultão Selim.

Mikhail usa boa parte de sua narrativa preparando cuidadosamente a cena
para a erupção do quintessencialmente maquiavélico Selim, mesmo antes de
ele se tornar sultão, em 1512. Ainda em Trabzon, no Mar Negro, como
governador de província, consolidando as forças imperiais a leste, já em
1492 Selim tinha plena consciência de que a aliança entre Istambul e
Cairo condicionava o comércio europeu na região que os neocons dos
Estados Unidos hoje chamam de o "Grande Oriente Médio".

Os otomanos e os mamelucos - que Selim mais tarde, como sultão, iria
destruir - controlavam todo o acesso ao Oriente a partir do
Mediterrâneo. Esse fato geoeconômico, por si só, destrói a fábula da
ascendência europeia durante a Renascença e a tão louvada "Era das
Explorações". Quem controlava o mercado e o comércio eram os otomanos.

Se alguém na Europa quisesse fazer comércio com a China e a Índia, seria
necessário compor com o "minhas ordens ou a porta da rua" dos otomanos.
Os venezianos tentaram e não funcionou. Colombo, de Gênova, saiu porta a
fora". Nada delicia tanto a Mikhail quanto mostrar que as viagens de
Colombo, de tantas maneiras, foram "uma resposta ao poder dos otomanos".
Estes foram a força política que, mais que qualquer outra,  deu forma a
Colombo e à sua geração".

As coisas ficam positivamente /heavy metal/ quando Colombo é retratado
como um jihadi cristão, uma vez que ele usou o conceito de uma guerra
civilizacional global entre a Cristandade e o Islã para defender sua
causa de uma viagem atlântica". A Rainha Isabel acabou comprando a ideia.
E então foi tudo ladeira abaixo, de um modo literalmente sangrento,
quando "o vocabulário da guerra com o Islã tornou-se a língua da
conquista espanhola das Américas". O Ocidente, muito convenientemente,
esquece que todos os povos indígenas foram /obrigados/ (itálicos dele) a
reconhecer que a Igreja Católica era o poder universal e que seus
próprios sistemas de crenças eram absolutamente inferiores.

*De Selim a Erdogan *

Maquiavel era superfã dos otomanos - a quem ele admirava e temia. Ele se
impressionava particularmente com a perspicácia estratégica de Selim,
que sempre conseguia vencer obstáculos praticamente insuperáveis.
Maquiavel terminou /O Príncipe/ exatamente no mesmo ano – 1513 – em que
Selim eliminou seus meio-irmãos, para finalmente assegurar para si o
sultanato, que ele havia conquistado em 1512.

Selim começou com um estrondo - com nada menos que um bloqueio econômico
contra os safávidas, tornando ilegal a exportação da seda persa a partir
do Império Otomano (foi assim que os iranianos alcançaram o Leste do
Mediterrâneo e os lucrativos mercados europeus).

A vitória de Selim sobre os safávidas na Batalha de Chaldiran foi
entretecida com um acontecimento da maior importância: a conquista do
ultra-estratégico Hormuz pelos portugueses, em 1515. Essa foi a primeira
possessão europeia no Golfo Pérsico. E que troféu! Os portugueses tinham
agora o controle sobre todos os carregamentos que chegavam e saíam do
Golfo Pérsico, contando também com um centro importante, que fazia
ligação com suas novas colônias na costa oeste da Índia.

Depois que a batalha entre cristãos e muçulmanos cruzou o Atlântico, a
cena estava montada para o capítulo seguinte: otomanos e portugueses
lutando pelo poder global no Oceano Índico.

Selim ia de vento em popa. Primeiro ele tomou a Síria – incorporando as
lendárias Damasco e Alepo. Depois ele esmagou os mamelucos - o que
significava não apenas o Cairo mas também Jerusalém, Meca, Medina e até
mesmo Yêmen, com seu acesso estratégico ao Oceano Índico e as infinitas
possibilidades para o comércio otomano, começando com um monopólio sobre
o comércio da seda.

O Sultanato de Selim durou apenas oito anos, de 1512 a 1520 - com
incessantes movimentações geopolíticas de escala tectônica. Lutero
mergulhou a Cristandade em uma guerra civil religiosa. Os otomanos
controlavam mais território ao redor do Mediterrâneo que qualquer outra
potência. O impulso imperial europeu atingiu o Oceano Índico. E então
surgiu o desafio teológico supremo apresentado pelo maximamente Outro:
os nativos americanos, do sul e do norte. Era impossível que eles fossem
parte da "criação de Deus".

Ao morrer, em 1520, Selim – Sultão e também Califa - pensava que ser o
governante do maior império do mundo era algo predeterminado. Ele, de
fato, era "a sombra de Deus na Terra".

Ao final do último capítulo do livro, /American Selim/, Mikhail, mais
uma vez, enfrenta a pergunta mais candente: /por que /(itálicos dele)
Colombo teve que cruzar o Atlântico. Resumindo: "Esperando uma aliança
com o Grande Khan do Oriente, ele tinha como objetivo retomar Jerusalém
e destruir o Islã. Em termos mais prosaicos, suas viagens prometiam uma
manobra que espertamente contornasse os obstáculos representados pelos
monopólios comerciais dos otomanos e dos mamelucos".

Depois de Colombo chegar às Américas, os europeus, como seria
inevitável, filtraram suas experiências "através das lentes de suas
guerras com os muçulmanos" e se lançaram a uma nova versão de suas
antiquíssimas cruzadas, um novo tipo de jihad católica". E é por isso
que o Islã continuaria a forjar a história tanto da Europa quanto do
Novo Mundo, e também a relação entre ambas.

Depois de tanto drama, Mikhail e os editores do livro ainda conseguem
apresentar uma notável imagem na antepenúltima página: o Presidente da
Turquia, Recep Tayyip Erdogan, contemplando cerimoniosamente a tumba de
Selim, em Istambul, em 2017, após vencer um referendo constitucional que
ampliou enormemente seus poderes.

Da mesma forma que Maquiavel, Erdogan é fascinado por Selim, mas ao
contrário de Maquiavel, não tem medo dele. O que ele quer é emulá-lo.
Que sonhos imperiais, agora belicizados, assomam na mente do Sultão
neo-otomano?

In
BRASIL 247
https://www.brasil247.com/blog/e-se-foram-os-otomanos-que-deram-forma-ao-mundo-moderno
29/5/2021

quinta-feira, 27 de maio de 2021

El neoliberalismo sigue vivo

 
 


*ALEX CALLINICOS, PROFESOR DE TEORIA POLITICA DEL KING´S COLLEGE DE
LONDRES *

¿Se ha acabado el neoliberalismo? Esto es lo que empiezan a temer muchos
de sus defensores. Chris Giles, editor de economía del Financial Times,
se lamentaba recientemente: “La izquierda está ganando la batalla
económica de las ideas”.

La razón fundamental para ello la aportan los tres gigantescos programas
de gasto introducidos por Joe Biden desde que asumió la presidencia de
EEUU en enero.

El último presentado hace pocos días, el Plan de Familias Americanas,
propone gastar 1,29 billones de libras en medidas, por ejemplo, para
subvencionar el cuidado de los niños y potenciar el seguro de salud.
Muchos en la izquierda también están saludando la presidencia de Biden
como un punto de inflexión.

En un artículo muy interesante en el último número de New Left Review,
la editora de la revista, Susan Watkins, ofrece una visión más
escéptica. El neoliberalismo, desde que fue promovido por Ronald Reagan
y Margaret Thatcher en la década de 1980, puede haber celebrado
ideológicamente el libre mercado. Pero, su objetivo, como dice Quinn
Slobodian en su importante libro Globalists, “no era liberar los
mercados sino blindarlos, para vacunar al capitalismo contra la amenaza
de la democracia”.

Watkins no tiene dificultad en demostrar que el neoliberalismo en este
sentido sigue reinando en la Unión Europea (UE). El programa de próxima
generación, de 652.000 millones de libras, se negoció laboriosamente en
respuesta a la pandemia.

*Controlando las ayudas*

La Comisión Europea reparte las ayudas a los gobiernos nacionales en
dosis cuidadosamente controladas. “En lo que respecta a la influencia
popular-democrática en la política económica, el fin de la era
neoliberal está más lejos que nunca en Europa”, escribe Watkins.

Pero el gasto de EE.UU. es a una escala absolutamente mayor : un 250%
más grande que el de la UE. Los ingresos personales se dispararon un
21,1 por ciento en marzo, gracias sobre todo a los cheques de estímulo
del gobierno de 1.010 libras esterlinas a los ciudadanos individuales.

Como señala Watkins, “en términos de provisión social, el Plan de
Rescate estadounidense está jugando a ponerse al día”.

El programa económico de Biden está compensando un estado de bienestar
mucho más débil que el que todavía existe en Europa occidental. Watkins
también destaca lo que llama la dimensión “nacional-imperialista” de la
estrategia de Biden. Dirigiéndose a una sesión conjunta del Congreso la
semana pasada, Biden dijo: “Estamos compitiendo con China y otros países
para ganar el siglo XXI. Estamos en un gran punto de inflexión en la
historia. Tenemos que hacer algo más que… simplemente reconstruir,
tenemos que reconstruir mejor. Tenemos que competir con más intensidad
de lo que lo hemos hecho”.

Biden pretende utilizar el gasto público para revigorizar el
imperialismo estadounidense. Reagan y Thatcher persiguieron en su día un
objetivo muy parecido en sus respectivos estados. Pero, como señala
Watkins, “las prácticas pueden ser ‘post-neoliberales’ pero siguen
siendo decididamente capitalistas”, y de hecho imperialistas.

David Harvey argumentó que “el giro neoliberal” consistía en “la
restauración… del poder de las élites económicas”. En otras palabras, el
cambio del equilibrio de fuerzas de clase a favor del capital. Durante
la era “heroica” del neoliberalismo en la década de 1980, esto implicaba
utilizar el poder de la competencia para disciplinar a los empresarios y
a los trabajadores por igual. Las quiebras y el desempleo masivo
socavaron el trabajo organizado y aumentaron los beneficios de las
empresas más competitivas.

Hoy en día, el capitalismo es demasiado débil para poder utilizar este
tipo de disciplina de mercado.Desde la crisis financiera mundial de
2007-8, el sistema ha dependido de enormes infusiones de dinero de
crédito barato proporcionadas por los bancos centrales.

Esto ha ido incluso más allá, especialmente en Estados Unidos y Gran
Bretaña, con los bancos centrales comprando la deuda que los gobiernos
emiten para financiar sus gastos adicionales.

El neoliberalismo clásico intentó despolitizar la economía, sometiéndola
a los ritmos aparentemente “naturales” del mercado. Hoy el mercado se
está repolitizando. Este es un cambio real. Pero no se extiende a los
trabajadores. Sus organizaciones siguen muy debilitadas y siguen estando
a merced del mercado y de empresarios sin escrúpulos.

Durante la pandemia, en el núcleo imperialista del sistema en Europa y
Estados Unidos, los trabajadores han sido aliviados un poco por los
cheques de estímulo, los esquemas de permisos y similares. Pero esto
empezará a terminar cuando las economías acaben por reabrirse.

Las contradicciones de una economía repolitizada apoyará al capital
,pero no los trabajadores

In
OBSERVATORIO DE LA CRISIS
https://observatoriocrisis.com/2021/05/26/el-neoliberalismo-sigue-vivo/
26/5/2021

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Cuba – Empresa estatal socialista: ¿Los dueños se adueñan?

 
   
Por: Ricardo Ronquillo

/Fue tan imponente y lapidaria aquella sentencia en una reunión sindical
que, pasados 10 años, no logro olvidarla: ¡El único que no puede perder
es el Estado!, proclamó un funcionario, como quien eleva a los cielos,
decía entonces, una plegaria divina./

Mientras repaso las recientes normas jurídicas que dan forma al* paquete
de 15 medidas
<http://www.cubadebate.cu/noticias/2021/05/08/gaceta-oficial-publica-normas-juridicas-sobre-paquete-de-medidas-para-fortalecer-a-la-empresa-estatal-socialista-pdf/> para
fortalecer y transformar la empresa estatal socialista*, viene a la
memoria, junto a la frase, las “caras de poema” de los asistentes al
mencionado encuentro, que dibujaban una pregunta desafiante: ¿a quién
les corresponde perder entonces, a nosotros?

    La anécdota no es para nada, lastimosamente, una exclusiva de este
    humilde columnista. Pueden contarse por cientos las expresiones de
    esa dicotomía que se expandió como plaga erosiva en los modelos
    económicos del llamado “socialismo real”, y en la realidad del
    cubano en particular, entre los intereses de los trabajadores y los
    ciudadanos con los del Estado que estos eligieron para representar
    la soberanía de sus intereses.

Fue tan grave la persistencia de dicha contradicción, que ningún
analista de las causas del derrumbe del socialismo en la URSS y Europa
del Este dejaría de mencionar como detonador la forma en que se
estructuró la llamada “dictadura del proletariado”, en la etapa de
transición al socialismo, en la que el burocratismo escamoteó la
condición de dueños que correspondía a los trabajadores y condujo a
lacerantes y extensivos procesos de enajenación. Se desvirtuaron así,
como afirmé en otro momento, los fundamentos no solo del socialismo,
sino incluso hasta del sindicalismo heredado del marco burgués.

Así que no resulta ninguna petulancia teórica preguntarse *en qué medida
el rediseño constitucional e institucional surgido de la actualización
del modelo económico y social cubano de desarrollo socialista contribuye
a zanjar ese arrastre malévolo,* así como a acomodar las fronteras entre
propiedad estatal y social y la de los intereses colectivos con los
individuales.

La nueva Constitución
<http://www.cubadebate.cu/noticias/2019/04/09/descargue-la-constitucion-de-la-republica-de-cuba-pdf/> es
muy clara en ese propósito, al establecer, entre sus fundamentos
económicos que: “en la República de Cuba rige un sistema de economía
socialista basado en la propiedad de todo el pueblo sobre los medios
fundamentales de producción como la forma de propiedad principal… El
Estado dirige, regula y controla la actividad económica conciliando los
intereses nacionales, territoriales, colectivos e individuales en
beneficio de la sociedad… Los trabajadores participan en los procesos de
planificación, regulación, gestión y control de la economía. La ley
regula la participación de los colectivos laborales en la administración
y gestión de las entidades empresariales estatales y unidades
presupuestadas…”.

La Carta Magna establece, igualmente, que “el trabajo es un valor
primordial de nuestra sociedad. Constituye un derecho, un deber social y
un motivo de honor de todas las personas en condiciones de trabajar. El
trabajo remunerado debe ser la fuente principal de ingresos que sustenta
condiciones de vida dignas, permite elevar el bienestar material y
espiritual y la realización de los proyectos individuales, colectivos y
sociales. La remuneración con arreglo al trabajo aportado se complementa
con la satisfacción equitativa y gratuita de servicios sociales
universales y otras prestaciones y beneficios”.

Con los nuevos decretos leyes publicados en la Gaceta Oficial el pasado
8 de mayo —el No.34 Del Sistema Empresarial Estatal Cubano, el No.36,
Modificativo de la Ley 105, Ley de Seguridad Social, y el 39,
Modificativo del Decreto 283 Reglamento de la Ley de Seguridad
Social— *no solo se abren compuertas a la transformación de la Empresa
Estatal Socialista, también se cierran muchas por donde escapaban el
sentimiento de pertenencia de sus trabajadores y el respeto y orgullo de
estos por la propiedad pública*, tan definitoria para el éxito y
perdurabilidad del socialismo.

Son 15 las medidas que se aprueban a favor de una empresa socialista más
sólida. Repasarlas permite verificar que muchas de ellas contemplan
sustanciales beneficios para los trabajadores, antes inexistentes:
Flexibilización de la distribución de utilidades, eliminando el límite
de hasta cinco salarios medios, sin condicionarlo al cumplimiento o
sobrecumplimiento de los indicadores directivos; creación de fondos para
financiar la estimulación, tanto individual como a colectivos, así como
para la compra y construcción de viviendas —uno de los más graves
problemas sociales del país—; se faculta al máximo órgano colegiado de
la entidad para aprobar el pago por distribución de utilidades a los
trabajadores que han sido sancionados por indisciplina durante el año,
con excepción de las medidas que se aplican cuando la violación es
considerada grave en los reglamentos disciplinarios.

Destacan entre las decisiones a favor de los trabajadores, que *cuando
estos se jubilen puedan ser contratados para ocupar igual cargo que el
que desempeñaban al momento de obtener su pensión, siempre que responda
al interés de la entidad*; *la modificación del cálculo de la pensión
para los trabajadores que una vez jubilados con 45 años o más de
servicios, se reincorporen al trabajo y laboren al menos cinco años o
más*, previa modelación del impacto de su aplicación en el gasto de la
Seguridad Social y autorizar la contratación de determinados servicios a
quienes laboran en la entidad, diferentes a los que realizan según sus
contratos de trabajo fuera de su jornada laboral, ajustando el ingreso a
recibir según el valor del servicio del que se trate, sin que se
considere salario a los efectos legales. Establecer un impuesto por el
ingreso que reciba el trabajador.

En hacer prevalecer lo anterior y que se haga con absoluta justicia, se
le ofrece la responsabilidad que merece y requiere —y que debe defender
con su autoridad—, a los sindicatos.

Seguramente no es todo a lo que puede aspirarse, pero no podría negarse
que resulta un gran paso hacia la dignificación del trabajo y los
trabajadores en Cuba. Un salto en medio de la urgencia de que los dueños
colectivos se adueñen.

In
GLOBAL RESEARCH
https://www.globalizacion.ca/cuba-empresa-estatal-socialista-los-duenos-se-aduenan/
17/5/2021

sexta-feira, 21 de maio de 2021

O verdadeiro Salles: contrabando, movimentação suspeita de R$ 14 mi e atuação a favor de madeireiras



Contrabando, movimentação suspeita de R$ 14 milhões e favorecimento a
madeireiras. Essas contravenções e o profundo ataque ao meio ambiente
são parcela importante da investigação que recai sobre o ministro do
Meio Ambiente Ricardo Salles e de cargos de direção do Ibama, além de
empresários.

 

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes decidiu
que as investigações da Polícia Federal indicam a existência de um
“esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais” que
envolve Salles e gestores do MMA (Ministério do Meio Ambiente) e do
Ibama. A operação “Akuanduba” foi autorizada, na quarta-feira (19).

 

Os relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras)
apontam a existência de “operações suspeitas”.

 

De acordo com matéria do G1, o relatório da Polícia Federal afirma que
os investigados atenderam a pedidos de empresas exportadoras de madeira
e expediram regulamentações para liberar cargas que haviam sido
embargadas ou apreendidas por países da Europa e pelos EUA.

 

A divulgação de um despacho interpretativo assinado pelo presidente do
Ibama, Eduardo Bim, em 25 fevereiro de 2020 é um dos documentos que
provocaram a argumentação de suspeição das operações. Desgraçadamente, o
despacho retira a obrigatoriedade de concessão de uma autorização
específica para a exportação de madeira. Ou seja, “virou festa”.

 

A Confloresta (Associação Brasileira de Empresas Concessionárias
Florestais) e a Aimex  (Associação das Indústrias Exportadoras de
Madeira do Estado do Pará) que se beneficiam dessa decisão também estão
entre os investigados.

 

Na realidade são as responsáveis pelo pedido e chegaram a se reunir com
Ricardo Salles, o presidente do Ibama e parlamentares, obtendo após o
encontro o atendimento do pedido de concessão, apesar de ir contra o
parecer elaborado por técnicos do Ibama. Além disso, o despacho garante
efeito retroativo para as toneladas de cargas expedidas ilegalmente em
2019 e 2020.

 

Após essa decisão, servidores que baseados em dados técnicos mantiveram
posição contrária ao despacho foram exonerados e os que apoiaram a
decisão do MMA foram promovidos.

 

A investigação vem se aprofundando e muitos são os investigados. O
principal deles é o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por ser o
maior envolvido em toda a operação.

 

Mas também diversos nomes do Ibama estão à frente dessas operações como
o coordenador-geral de Fiscalização, Walter Mendes Magalhães Júnior; o
diretor de Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas, João Pessoa
Riograndense Moreira Júnior; os analistas ambientais Rafael Freire de
Macedo e Artur Vallinoto Bastos; o presidente do órgão, indicado por
Salles, Eduardo Fortunato Bim; o diretor de Proteção Ambiental, Olímpio
Ferreira Magalhães; o coordenador de Operações de Fiscalização, Leslie
Nelson Jardim Tavares; e o coordenador de Inteligência de Fiscalização,
André Heleno Azevedo Silveira.

 

Além desses, o superintendente de Apuração de Infrações Ambientais,
Wagner Tadeu Matiota; o assessor especial do ministro Ricardo Salles,
Leopoldo Penteado Butkiewicz; Esdras Heli de Souza e Leonidas Ernesto de
Souza, sócios da empresa Ebata Produtos Florestais (empresas com 345 mil
em autuações junto ao Ibama por exportação irregular); o administrador e
sócio da empresa Tradelink Madeiras Ltda., David Pereira Serfaty e Leon
Robert Weich; o sócio da Wizi Indústria Comércio e Exportação de
Madeiras Ltda., Jadir Antônio Zilio; assim como as duas associações já
mencionadas.

 

As infrações e ilegalidades cometidas são as mais diversas, vão desde a
elaboração do despacho apesar do parecer técnico contrário; a
participação de servidores em reuniões com as empresas madeireiras que
tiveram carga irregular apreendida; são responsáveis por exonerações de
servidores que foram contrários a tais falcatruas, como pelas promoções
dos que colaboraram; há a possibilidade de propinas pelas empresas para
liberação de carga irregular e tantas outras infrações.

 

Ao todos são 23 pessoas e entidades envolvidas. Todas sofreram mandados
de busca e apreensão e tiveram o sigilo fiscal e bancário quebrado por
ordem do ministro Alexandre de Moraes.

 

Os dez servidores do Ibama e do MMA investigados também foram afastados
dos cargos, exceto Ricardo Salles.

 

*Ricardo Salles e os 14 milhões*

 

É notória a atuação de Ricardo Salles a favor de madeireiros,
mineradoras, garimpeiros e grileiros, sempre contra a punição daqueles
que cometem crimes ambientais. Sua gestão à frente do Ministério está
marcada por medidas que impactam negativamente o meio ambiente, como o
desmonte da fiscalização e flexibilização de normas. Não por acaso,
neste período o desmatamento no país cresceu 216%.

 

Um dos documentos “indicou movimentação extremamente atípica envolvendo
o escritório de advocacia cujo Ministro de Estado é sócio (50%), durante
o período compreendido de 01/01/2012 a 30/06/2020, em valores totais de
R$ 14.162.084,00 (catorze milhões, cento e sessenta e dois mil e oitenta
e quatro reais), situação que recomenda, por cautela, a necessidade de
maiores aprofundamentos”.

 

No ano passado, quando a PGR (Procuradoria-Geral da República) recebeu o
relatório da Polícia Federal pediu seu arquivamento, que foi acatado
pelo ministro Alexandre de Moraes.

 

O desarquivamento foi pedido pela PF por novos indícios de
irregularidades no caso.

 

Ricardo Salles se pronunciou sobre a ação da PF ser “exagerada” e
“desnecessária”, acrescentando que o “Ministério do Meio Ambiente desde
o início da gestão atua sempre com bom senso, respeito às leis, respeito
ao devido processo legal”, disse Salles a jornalistas.

 

Já o integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Paulo
Barela  pensa o contrário. “O que esperamos é que a investigação não
somente exonere os responsáveis, mas que eles sejam presos pelo crime
cometido contra o meio ambiente e que prejudicam enormemente e levam ao
genocídio principalmente dos povos indígenas da região Amazônica”, afirmou.

 In
CSP CONLUTAS
http://cspconlutas.org.br/2021/05/o-verdadeiro-salles-contrabando-movimentacao-suspeita-de-r-14-milhoes-e-favor-a-madeireiras/
20/5/2021

terça-feira, 18 de maio de 2021

Pela estatização da LG e suas parceiras sob controle dos trabalhadores ***




 Por Weller Gonçalves  ​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​
​​​​​​​​​​​​​​

No começo desta semana, a sul-coreana LG Eletronics anunciou uma decisão
em caráter mundial, mas que afeta diretamente o Brasil. A companhia vai
encerrar a sua divisão de produção de telefones celulares, alegando que
o segmento não é mais competitivo.

 

A fria resolução, tomada nas luxuosas acomodações dos altos executivos
que dirigem a empresa, será responsável pela eliminação de milhares de
postos de trabalho em todo o mundo, embora a LG prefira, de forma
dissimulada, não revelar o número de empregos eliminados.

 

Apesar do Brasil ter garantido para a companhia asiática a terceira
posição em venda de smartphones nos últimos anos, a decisão da matriz é
impiedosa e trará efeitos dolorosos ao nosso país. Isso é parte da
reestruturação produtiva conduzida por seus executivos para garantir
mais lucros e que aprofunda o agudo processo de desindustrialização
vivido pelo país e que deveria ser combatido pelo governo.

 

Na fábrica da LG em Taubaté, 700 postos de trabalho serão destruídos.
Além de smartphones, deixarão de ser produzidos notebooks e monitores.
Já as montadoras Sun Tech, em São José dos Campos, Blue Tech e 3C, em
Caçapava, que fabricam os mesmos celulares para a LG, contabilizarão
mais 430 cortes. As trabalhadoras dessas empresas, que pertencem à base
do nosso Sindicato, estão em greve desde terça-feira, dia 6 de abril,
para defender os empregos.

 

É inadmissível que a LG e suas parceiras, depois de anos explorando
avidamente a mão de obra brasileira, anunciem, de uma hora para a outra,
o encerramento de suas atividades. As fábricas deixarão ao deus-dará
milhares de mães e pais de família, que perderão o ganha-pão neste
momento absolutamente crítico, em que a pandemia do coronavírus devasta
o país.

 

É preciso ressaltar que Sun Tech, Blue Tech e 3C operam majoritariamente
com mulheres, que, na atual conjuntura, encontrariam sérias dificuldades
para se recolocarem no mercado de trabalho. É, portanto, um caso
emergencial e que exige medidas vigorosas.

 

O Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté deveria conduzir os
trabalhadores da LG para a luta e, desta forma, somar forças com as
trabalhadoras das montadoras estabelecidas em nossa base, para
pressionarmos a companhia sul-coreana a reverter as demissões.

 

Caso a LG insista no fechamento, a mudança de postura do Sindicato de
Taubaté fortaleceria a pressão junto ao governo federal para que a
empresa seja estatizada, sob controle dos trabalhadores. Consideramos
essa medida plenamente executável, uma vez que possuímos a tecnologia,
maquinário e o capital humano com capacitação técnica necessários para
desenvolvermos celulares com marca nacional.

 

Em nossa avaliação, o governo deveria estatizar quaisquer empresas que
resolvessem fechar ou demitir em massa, para, assim, garantir os
empregos do povo brasileiro. É preciso agir determinadamente para que a
ganância não prevaleça diante da vida. É disso que se trata.


/*Weller Gonçalves é presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São
José dos Campos e região*/

In
CSP CONLUTAS
http://cspconlutas.org.br/2021/04/pela-estatizacao-da-lg-e-suas-parceiras-sob-controle-dos-trabalhadores-por-weller-goncalves/
9/4/2021


segunda-feira, 17 de maio de 2021

Estudo aponta que carga de trabalho acima de 55 horas semanais pode levar à morte




OMS e a OIT estimam que 398 mil pessoas morreram de derrame cerebral e
347 mil de doenças cardíacas em 2016 por terem trabalhado pelo menos 55
horas por semana edit

17 de maio de 2021, 10:20 h Atualizado em 17 de maio de 2021, 11:03

    

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*247 - *De acordo com estudo publicado nesta segunda-feira (17) pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização Internacional do
Trabalho (OIT) longas jornadas de trabalho podem aumentar os riscos de
morte por doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais (AVC) e que
risco pode estar associado à pandemia de Covid-19, já que os novos
hábitos impuseram uma nova rotina de trabalho, ainda mais intensa.
Segundo reportagem do _UOL_
<https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2021/05/17/trabalhar-mais-de-55-horas-por-semana-aumenta-risco-de-morte-diz-oms.htm>,
as autoridades de saúde alertam que trabalhar mais de 55 horas por
semana pode levar a mortes prematuras.

A pesquisa aponta que 55 horas ou mais de trabalho por semana pode levar
a um aumento de 35% no risco de morte por AVC e um aumento de 17% no
risco de morte por doença isquêmica do coração tanto para homem quanto
para mulher. A maioria das mortes registradas se refere a pessoas de 60
a 79 anos.

Segundo a OMS, esse risco pode aumentar com o teletrabalho, pois não há
“fronteiras entre  a casa e o trabalho”, não havendo uma desconexão dos
trabalhadores.

In
Brasil 247
https://www.brasil247.com/brasil/estudo-aponta-que-carga-de-trabalho-acima-de-55-horas-semanais-pode-levar-a-morte
17/5/2021

sábado, 15 de maio de 2021

Chacina do Jacarezinho não pode ser esquecida!

 


imagemNota Política do Partido Comunista Brasileiro – PCB

A mídia burguesa começa a tirar das manchetes e a tratar de forma secundária o massacre efetivado pela Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro na comunidade do Jacarezinho, a qual, no dia 06 de maio, foi acordada pela ação policial que resultou na morte de 27 moradores, na mais bárbara chacina promovida na Cidade do Rio de Janeiro nos últimos tempos. Sob a alegação de combate ao tráfico de drogas, a polícia do Governador Cláudio Castro deu sequência a um modo de agir do Estado brasileiro que tem se tornado cada vez mais frequente, aplicando a lógica do extermínio da população periférica, principalmente da juventude negra favelada.

A política de segurança pública do Estado brasileiro é a política do confronto, do abate, das chacinas, como demonstram ações de extermínio ocorridas nos últimos 30 anos: massacre do Carandiru em São Paulo (1992), quando 111 presos foram executados; massacre da Candelária (1993), com a morte de 8 adolescentes; execução de 21 moradores de Vigário Geral (Rio, 1993); assassinato de 27 presos no presídio Urso Branco, em Porto Velho (RO, 2002); chacina com 30 mortos na Baixada Fluminense (2005), tendo sido assassinados crianças, jovens, homens e mulheres; 15 mortos na maior chacina do Paraná, todos moradores de uma favela em Guaíra (2008); tortura e morte de 11 jovens, por policiais encapuzados, na Chacina do Curió, em Fortaleza (CE, 2015); oito mortos por milicianos na favela do Salgueiro em São Gonçalo (RJ, 2017). O Estado da Bahia também vivencia hoje um aumento vertiginoso de ações policiais letais. 97% das vítimas das ações armadas do Estado fazem parte da população negra e periférica.

Estas e inúmeras outras ações ocorrem diariamente nas comunidades proletárias dos grandes centros urbanos (muitas nem são noticiadas), além dos conflitos agrários, que resultam em ataques promovidos por latifundiários, com a providencial ajuda do Estado, a posseiros, camponeses, trabalhadores e trabalhadoras rurais, povos indígenas, quilombolas, populações ribeirinhas, em sua luta pelo direito à terra. Nos últimos anos é cada vez mais usual também o uso da violência policial para perseguir e desalojar ocupações de trabalhadores e trabalhadoras em luta pelo direito à moradia, direito este negado pela sociedade capitalista à imensa maioria da população.

No caso do Jacarezinho, além do alto número de mortes, a violência usada pela polícia, conforme relatos de seus moradores, foi assustadora: invasão sem mandado judicial (prática já usual dos policiais) com destruição do interior das casas, agressões gratuitas e execuções sumárias inclusive de quem havia se rendido. As consequências foram corpos espalhados pelas ruas da favela e muito sangue derramado. Questões conjunturais pesaram para a operação policial ser executada: ação articulada por Bolsonaro e Castro para confrontar o STF e a proibição de incursões do tipo durante a pandemia; desvio do foco sobre a CPI em curso no Congresso; aceno às bases fascistas do bolsonarismo, que aplaudem o extermínio de todos aqueles que são apontados como “bandidos” (a exemplo da declaração do General Mourão); ataque a uma comunidade que seria controlada pelo varejo de drogas, para favorecer a entrada e posterior domínio da milícia paraestatal, que funciona nas comunidades também como empresa, livre de impostos e de encargos trabalhistas, explorando ilegalmente o gás de cozinha, o transporte alternativo, a “gatonet” e ainda cobrando taxas a título de “segurança”. Todas essas são conjecturas possíveis de se analisar.

Porém, para muito além das questões conjunturais, o genocídio da população negra é uma política de Estado no Brasil. Reforçando o fenômeno do racismo inerente ao próprio sistema capitalista, o Estado burguês garante a reprodução das desigualdades sociais, mantendo altos níveis de exploração da força de trabalho, para o que o racismo é absolutamente funcional. A política de guerra às drogas justifica o assassinato de dezenas de milhares de pessoas por ano, num processo histórico voltado para o controle da classe trabalhadora e dos pobres das periferias, contribuindo ainda mais para a reprodução da engrenagem capitalista. Mas essa é uma guerra que não atinge os verdadeiros traficantes, alguns deles elegantes personagens de destaque do mundo empresarial ou político na mídia burguesa e nem os usuários de drogas de alta renda, que recebem suas encomendas tranquilamente em suas casas. Isto mostra a necessidade de reforçarmos a luta pela legalização do uso de drogas, de como é exemplo o Uruguai.

Com o desenrolar da crise sanitária provocada pela pandemia da Covid-19, a morte em massa das populações negras pela negligência no combate ao vírus se somou à tradicional política de assassinatos em massa promovida pelo Estado, política esta que não teve trégua nem no momento inicial da quarentena, no ano passado. A letalidade policial só fez crescer durante a pandemia. Na verdade, o proletariado brasileiro não teve chance alguma de fazer qualquer tipo de isolamento social, obrigado a buscar a sobrevivência por meio do trabalho presencial. Com o fim do auxílio emergencial de R$ 600,00, o aumento exponencial do desemprego, a inflação corroendo o bolso do trabalhador, crescem a miséria e a fome no país. Junto com a mortandade provocada pela Covid e pela inação deliberada do governo genocida de Bolsonaro, Mourão e Guedes, a classe trabalhadora convive com a crise social e as ações letais do Estado, que faz avançar o processo de criminalização das comunidades proletárias.

É preciso barrar a política de extermínio, racista e elitista conduzida pelo Estado brasileiro, hoje representado nos governos de extrema direita de Cláudio Castro no Estado do Rio de Janeiro e de Bolsonaro, Mourão e Guedes na esfera federal. Somente organizado o povo trabalhador poderá enfrentar a política genocida e de extermínio do Estado brasileiro, numa luta em defesa de seus direitos e contra a superexploração imposta pelo capitalismo. A chacina do Jacarezinho não pode ser esquecida. Sua comunidade está mobilizada, convocando novas manifestações com organizações sociais e populares, para seguir repudiando o massacre policial, exigir a punição dos responsáveis e avançar na construção do poder popular.

Conclamamos todas as forças políticas e sociais, as brasileiras e os brasileiros que se indignam com a barbárie capitalista a organizarmos e participarmos de atos de repúdio ao genocídio da população proletária, uma política eugenista das classes dominantes, há décadas aplicada em chacinas nas comunidades carentes de todo o país e, nesta quadra pandêmica, com o estímulo deliberado às mortes, sem auxílio, sem assistência médica e sem vacinas, dos trabalhadores e das trabalhadoras.

Chega de mortes nas favelas, periferias e bairros populares!
Pela suspensão imediata de qualquer operação policial durante a pandemia!
Pela desmilitarização da política de segurança pública!
Nem vírus, nem balas, nem medo!

Pelo Poder Popular, no rumo do Socialismo!

12 de maio de 2021

Comitê Central do PCB

In

PCB

Chacina do Jacarezinho não pode ser esquecida! – PCB – Partido Comunista Brasileiro

12/5/2021

quarta-feira, 12 de maio de 2021

La esclavitud y Jacarezinho

 


Eliane Tavares


El 6 de mayo de 2021, 133 años después de aquel mayo que liberó a los
negros esclavizados, una tropa de la policía civil de Río de Janeiro
entró en la comunidad de Jacarezinho y mató, sin derecho a juicio ni
defensa, a 25 personas.

El sistema colonial que se instaló en el «nuevo mundo» tras la invasión
de las Américas necesitaba mano de obra para poder trabajar. Así fue
como los países ricos de la época -Inglaterra y Holanda- iniciaron un
comercio inédito hasta entonces: el comercio de personas. Llevaron
barcos al continente africano, secuestraron personas y las llevaron a
América para trabajar como esclavos. Fueron siglos de esta infamia.

En el caso de Brasil, casi dos millones de personas fueron llevadas a
trabajar en las plantaciones de los señores del azúcar y del café. Más
de 200.000 personas murieron en el camino. Todas estas personas estaban
dispersas por el territorio y, a pesar de las brutales condiciones de su
existencia, generaban descendencia. Un censo realizado en 1872 -16 años
antes de la abolición- muestra que el 58% de la población brasileña se
declaraba negra o de piel morena, es decir, los negros eran mayoría,
siempre lo habían sido desde que fueron traídos de África. Cuando
finalmente llegó la abolición, el país todavía tenía 723.000 personas en
situación de esclavitud.

Es bueno recordar que antes existió la Ley de Vientres Libres, que daba
«libertad» a los nacidos de personas aún esclavizadas, y la Ley de
Sexagenarios, que liberaba a los ancianos. Pues bien, estas dos leyes
eran perversas porque arrojaban a una condición aún más miserable a los
bebés, que a pesar de ser «libres» tenían que quedarse con sus padres o
ser abandonados, y abandonaban a los ancianos a su propia suerte. Ni a
los niños ni a los ancianos se les dio ninguna condición para reproducir
la vida.

Del mismo modo, todas estas personas esclavizadas se encontraron libres
una mañana de 1888, sin ninguna opción de existencia. No se les concedió
el derecho a la propiedad y menos aún una política pública de empezar de
nuevo la vida como un ser libre. Ni siquiera les quedaba trabajo porque
las oleadas de inmigrantes venían a sustituir a los negros, y éstos eran
siempre la primera opción de los agricultores. Esto muestra la condición
del hombre negro en aquellos días de liberación. Se inició un nuevo
proceso de encarcelamiento, esta vez como ejército de reserva del
naciente capitalismo.

Tras 300 años de esclavitud, los negros se quedaron con una mano delante
y otra detrás. Sin trabajo y sin opciones, ocuparon tierras periféricas
y se organizaron como pudieron. En general, lo máximo que podían hacer
eran trabajos esporádicos, rarezas, y sus condiciones de vida eran
precarias. De esta historia de secuestro, violencia y abandono nace el
niño de la calle, la favela, el mendigo. Por supuesto, muchos negros
consiguieron zafarse de esta destrucción planificada, pero la mayoría
fueron arrojados a la marginalidad.

*La tragedia de Jacarezinho – Río de Janeiro/2021*

El 6 de mayo de 2021, 133 años después de aquel mayo que liberó a los
negros esclavizados, una tropa de la policía civil de Río de Janeiro
entró en la comunidad de Jacarezinho y mató, sin derecho a juicio ni
defensa, a 25 personas. jóvenes negros, como ha sido sistemáticamente
durante décadas en todas las regiones del país. Lo lógico es cortar el
«mal» de raíz. El argumento es sencillo: la policía estaba allí
«limpiando» la zona para garantizar la seguridad de los «buenos
ciudadanos». Según la versión oficial, los asesinados eran bandidos,
narcotraficantes y merecían su destino: CPF cancelado, para usar el
lenguaje de los tiempos de Bolsonaro. No fue un enfrentamiento, fue una
ejecución.

Analistas conocedores de la realidad carioca afirman que Jacarezinho es
una región de Río en la que aún no se ha permitido la entrada de las
milicias. Y que son ellos los que dominan casi el 60% del territorio.
Esta puede ser una de las razones de esta «incursión», ya que todo el
poder institucional del estado y de la ciudad está relacionado con las
milicias. Algunos dicen que el clan que actualmente gobierna el país
también está conectado. Todas estas son cuestiones que aparecen de forma
periférica en el debate. Por lo general, cuando ocurre algo así, siempre
salen a relucir las guerras de facciones, los esquemas de poder del
submundo criminal, etc.

Para el lector/espectador común, la atención se centra siempre en el
muerto: era un criminal. Aunque no lo sea. Si era negro y vivía en la
favela, era un criminal. Eso es lo que se entiende. Y si el muerto es un
niño, la gente piensa: bueno, si no fuera un criminal, lo sería. Porque
en el imaginario nacional el negro siempre está vinculado al lado malo
de la fuerza. Esta es la idea que se ha reforzado desde el comienzo de
la esclavitud, sospecho. Me imagino a los dueños de los molinos
transmitiendo a sus hijos la información: «no te acerques a los negros,
no son personas, son cosas malas». Más tarde, cuando los negros eran
libres y se iban al monte, se les seguía señalando como los «malos», los
«capoeiras», los «marginales». Hoy, todavía confinados en las regiones
más pobres, siguen siendo la imagen del mal. Es una construcción
histórica que sirve muy bien a la clase dominante, que nunca ha salido
de la casa grande.

Podría ser que algunos de los jóvenes asesinados en Jacarezinho fueran
traficantes de drogas. Podrían serlo. Muchos de ellos lo son. Porque a
menudo no hay salida para los pobres del país. El reclutamiento por
parte de los narcotraficantes es habitual en las comunidades. Es muy
difícil escapar de este destino porque en general no hay trabajo para
los jóvenes negros, y si lo hay, es subempleo. Con el tráfico ganan en
un día lo que ganarían en un mes. ¿Qué joven no haría este cálculo?
¿Negro, blanco, rojo, amarillo o azul? Al fin y al cabo, vivimos en un
mundo capitalista en el que una persona se mide por lo que tiene. ¿La
pregunta es? ¿Son culpables? Y si es así, ¿deben ser ejecutados así, sin
juicio ni derecho a la defensa?

No hace mucho, un avión presidencial -he dicho presidencial- fue
sorprendido con kilos y kilos de cocaína. La cocaína es una droga.
¿Sabes lo que pasó? No pasó nada. No hay allanamiento, no hay disparos.
El militar -como lo llama la prensa, en lugar de bandido o
narcotraficante- responsable del caso fue detenido discretamente y ni
siquiera sé si sigue detenido. Otro caso famoso es el de un avión lleno
de cocaína que pertenecía a un diputado de Minas Gerais y que fue
incautado dentro de la finca del diputado. Y a pesar de que era el avión
y la finca del diputado, éste no fue acusado. Parece que sólo quedó el
piloto. ¡Esa es la cuestión!

Los verdaderos traficantes, los que importan, los que hacen funcionar el
mundo de la droga, no están en la favela. Van a los salones y viven en
el asfalto. Sus hogares no son invadidos y no son asesinados delante de
sus madres, hermanas y primos. Ellos son los que mandan. Nada los toca.
La guerra se libra contra los directivos y soldados de los
narcotraficantes, para demostrar que se está haciendo algo. Y con mucha
más violencia se hace la guerra a los soldaditos, porque no tienen más
poder que el arma que llevan. Pueden ser derribados como moscas para ser
exhibidos como trofeos de una «política de seguridad». Pero otros como
ellos pronto están dispuestos a unirse al ejército del narcotráfico,
porque no encuentran la forma de salir del laberinto al que fueron
arrojados hace siglos.

Ese es el juego. Esa es la incómoda verdad. «Cada coche de policía tiene
un poco de barco de esclavos», dice la canción de Rappa.

 Y, en este contexto, basta con levantarse en defensa de los muertos
para que la jauría venga gritando: «llévalos a casa, espero que violen a
tu madre». Porque estas criaturas, que no pueden ver el conjunto, temen
a los traficantes, a los bandidos, a los «negritos». No pueden ver que
el miedo debe tomar otra dirección. Los verdaderos causantes de la
tragedia de las drogas no son los niños de los barrios marginales. Sólo
son un eslabón de la cadena, el más débil, de hecho. El verdadero
traficante -el dueño de la droga- está protegido y lo seguirá estando
hasta que un día este mundo cambie por la fuerza de nuestras manos.

Hoy las familias de Jacarezinho lloran a sus muertos, y dentro de unas
horas, otras familias, de otras favelas, de otras comunidades, también
llorarán. Ha sido así, todos los días. Porque son herederos de aquellos
«desechables» que cometieron la herejía de quedarse aquí, de no morir.

Y así sigue la vida en este triste país, sin parar.

Llegará el día, espero, en que los desheredados se levantarán,
organizados y colectivamente, y arrancarán de las mansiones a los
verdaderos fabricantes de muerte y terror.

In
REBELION
https://rebelion.org/la-esclavitud-y-jacarezinho/
12/5/2021

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Em Kerala, o presente é dominado pelo futuro | Carta semanal 18 (2021)

 




Vijay Prashad

Queridos amigos e amigas,

Saudações do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

Kerala, um estado indiano com uma população de 35 milhões, reelegeu a
Frente Democrática de Esquerda (FDE) para liderar o governo por mais
cinco anos. Desde 1980, o povo de Kerala vota contra o governo no poder,
buscando alternância entre esquerda e direita. Este ano, decidiram ficar
com a esquerda e dar ao líder do Partido Comunista da Índia (Marxista),
Pinarayi Vijayan, um segundo mandato como ministro-chefe. O secretário
da Saúde, K. K. Shailaja, popularmente conhecido como Professor
Shailaja, venceu sua reeleição com uma contagem recorde de mais de 60
mil votos, ultrapassando em muito seu principal concorrente.

Está claro que o povo votou no governo de esquerda por três razões:

 1. A maneira eficiente e racional como o governo da FDE gerenciou
    crises em cascata, como a do ciclone Ockhi (2017), enchentes
    <https://thetricontinental.org/how-kerala-fought-the-heaviest-deluge-in-nearly-a-century/>
    (2018 e 2019) e vírus
    <https://thetricontinental.org/studies-3-coronashock-and-socialism/>
    (Nipah em 2018 e coronavírus em 2020-21).
 2. Apesar dessas crises, o governo continuou a atender às necessidades
    das pessoas
    <https://thetricontinental.org/newsletterissue/11-kerala/>,
    construindo casas a preços acessíveis, escolas públicas de alta
    qualidade e a infraestrutura pública necessária.
 3. O governo e os partidos de esquerda lutaram para defender a
    estrutura secular e federal da Índia contra o crescente e sufocante
    neofascismo do Partido Bharatiya Janata (BJP) e seu líder Narendra
    Modi, o atual primeiro-ministro da Índia.


No domingo, o ministro-chefe Vijayan abriu sua coletiva de imprensa
<https://twitter.com/CPIMKerala/status/1388826355605798915> não com os
resultados das eleições, mas com uma atualização da Covid-19. Só depois
de contar ao povo de Kerala sobre a atual situação da pandemia no estado
é que saudou a “vitória do povo”. Essa vitória, disse, “nos torna mais
humildes. Exige que estejamos mais comprometidos”. Do ciclone de 2017 à
pandemia de coronavírus, o ministro-chefe veio à público por meio de
entrevistas coletivas calmas e racionais durante cada uma dessas crises,
oferecendo avaliações baseadas na ciência dos problemas e esperança para
as pessoas que se desesperavam com as circunstâncias impostas.

Jeo Baby – o cineasta malayalam que fez o grande sucesso /The Great
Indian Kitchen /(2021) – fez uma paródia carinhosa de suas coletivas de
imprensa; ano passado, ele dublou um vídeo de Vijaiyan, e postou no
Facebook <https://www.facebook.com/jeobaby/videos/10220743919083226>, no
qual o humorista “usa” a imagem calma do secretário para dizer a seu
filho de quatro anos que escove os dentes antes de beber seu chá da
manhã. A coletiva de imprensa de 2 de maio – após o surgimento dos
resultados das eleições – deu continuidade à tradição da calma racional.

 
A comparação com a atitude do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi
<https://www.newsclick.in/12-reasons-why-covid-19-second-wave-man-made-disaster>,
ficou evidente para o povo de Kerala. Em 28 de janeiro, Modi discursou
no Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça, onde anunciou que a Índia
havia vencido a Covid-19, em clima de fanfarronice. “Não seria
aconselhável julgar o sucesso da Índia com o de outro país”, disse Modi
<https://www.pmindia.gov.in/en/news_updates/pms-address-at-the-world-economic-forums-davos-dialogue/>.
“Em um país que abriga 18% da população mundial, esse país salvou a
humanidade de um grande desastre ao conter o coronavírus de forma
eficaz”. Naquele mesmo dia, o ministro da Saúde de Modi, Harsh Vardhan,
disse
<https://www.thehindu.com/news/national/india-has-flattened-its-covid-19-graph-says-harsh-vardhan/article33683738.ece>:
“A Índia achatou a curva da Covid-19”. Certamente, naquele dia, os casos
recém-confirmados somavam 18.855
<https://www.hindustantimes.com/world-news/coronavirus-india-world-latest-news-covid-19-death-toll-january-29-2021-101611885280680.html>.
Observadores atentos alertaram
<https://www.newsclick.in/COVID-19-New-Strain-India-Cases-Coronavirus-Mutation>
que esses números mostravam uma subnotificação e que o vírus – assim
como suas novas variantes – poderia se espalhar muito rapidamente, dada
a falta de precauções da sociedade.

Poucos dias antes de Modi e Vardhan fazerem esses comentários, o membro
do partido de Modi e ministro-chefe de Uttarakhand, Trivendra Singh
Rawat, permitiu que 7 milhões de pessoas conduzissem o Kumbh Mela em
abril. O Kumbh Mela é uma reunião de pessoas religiosas que celebram a
rotação de Jupitar (Brihaspati), que ocorre a cada doze anos. Em meio a
uma pandemia, as aglomerações deste ano foram permitidas com um ano de
antecedência. Autoridades do governo alertaram
<https://www.aninews.in/news/national/general-news/kumbh-might-become-covid-19-super-spreader-central-govt-official-expresses-apprehension-at-review-meet20210406142730/>
no início de abril que o Kumbh Mela e outros eventos semelhantes
poderiam acelerar a transmissão do vírus. O Ministério da Saúde disse
<https://twitter.com/MoHFW_INDIA/status/1379484270465404928?s=20> que
isso era “incorreto e falso”. O Kumbh Mela prosseguiu, assim como os
comícios de campanha em massa de Modi para as eleições à Assembleia.

O comentário de Modi no Fórum Econômico Mundial foi insensível e
ridículo. No último dia do mês de abril, mais de 400 mil casos diários
<https://www.thehindu.com/news/national/coronavirus-india-becomes-first-country-in-the-world-to-report-over-400000-new-cases-on-april-30-2021/article34453081.ece>
de Covid-19 foram confirmados na Índia. Todo o sistema de saúde está
sobrecarregado. Os gastos governamentais com saúde
<https://apps.who.int/gho/data/node.main.GHEDCHEGDPSHA2011?lang=en> são
extraordinariamente baixos, cerca de 1,3% do PIB em 2018. No final de
2020, o governo indiano admitiu que tinha 0,8 médicos para cada mil
indianos
<https://pmj.bmj.com/content/postgradmedj/early/2020/06/10/postgradmedj-2020-137780.full.pdf>
e 1,7 enfermeiras para cada mil indianos
<https://rajyasabha.nic.in/rsnew/EDAILYQUESTIONS/sessionno/251/EU%203.pdf>.
Nenhum país do tamanho e riqueza da Índia tem uma equipe médica tão pequena.

Fica pior. A Índia tem apenas 5,3 leitos para cada 10 mil
<https://apps.who.int/gho/data/view.main.HS07v> pessoas, enquanto a
China – por exemplo – tem 43,1 leitos para essa mesma quantidade. A
Índia tem apenas 2,3 leitos de cuidados intensivos para 100 mil
<https://www.forbes.com/sites/niallmccarthy/2020/03/12/the-countries-with-the-most-critical-care-beds-per-capita-infographic/?sh=466cda187f86>
pessoas (em comparação com 3,6 na China) e tem apenas 48 mil
ventiladores (a China tinha70 mil ventiladores
<https://covid-19.chinadaily.com.cn/a/202004/25/WS5ea39748a310a8b241151837.html>
apenas em Wuhan).

A fraqueza da infraestrutura médica deve-se inteiramente ao modelo de
privatização, em que os hospitais do setor privado operam seus sistemas
com base no princípio da capacidade máxima e não têm condições para
lidar com sobrecargas. A teoria da otimização não permite que o sistema
absorva sobrecarga de demandas, pois em tempos normais isso significaria
que os hospitais teriam capacidade ociosa. Nenhum setor privado vai
desenvolver voluntariamente leitos ou ventiladores excedentes. Isso é o
que causa inevitavelmente a crise em uma pandemia. Os baixos
investimentos do governo com saúde significam baixos investimentos com
infraestrutura médica e baixos salários para profissionais de saúde.
Essa é uma maneira inadequada de administrar uma sociedade moderna,
tanto em tempos normais quanto em tempos extraordinários.


O partido de Modi – o BJP – teve uma derrota decisiva nas eleições para
a Assembleia em Kerala (não conquistando um único assento), sua aliança
perdeu em Tamil Nadu (população de 68 milhões) e perdeu em Bengala
Ocidental (população de 91 milhões). O mandato nesses estados é contra a
catástrofe criada pelos sistemas de saúde impulsionados pelo mercado e
por um governo insensível e incompetente. Deve-se dizer, entretanto, que
essas não são as áreas centrais da base de apoio de Modi. Esses estão
principalmente no norte e no leste da Índia e não serão consultados nas
pesquisas por pelo menos um ano. No entanto, a continuação da revolta
dos agricultores, que começou em novembro de 2020, provavelmente mudará
o equilíbrio de forças em muitos desses estados do norte e leste da
Índia, de Haryana a Gujarat.

Nada reflete melhor a cruel incompetência do governo do que a situação
das vacinas. A Índia produz 60% das vacinas do mundo. Ainda assim – como
apontado por Tejal Kanitkar
<https://www.newsclick.in/understanding-wide-gap-india-need-supply-covid-vaccines>,
professor do Instituto Nacional de Estudos Avançados
<https://www.nias.res.in/associate-professor/tejal-kanitkar> – no ritmo
atual, a Índia não completará sua campanha de vacinação antes de
novembro de 2022. Esta é uma situação confusa. Kanitkar faz três
sugestões de política que são sensíveis e devem ser endossadas
imediatamente:

 1. Compra em grande escala de vacinas pelo governo indiano a preços
    regulados.
 2. Um programa de distribuição transparente, entre os 28 estados e 8
    territórios da Índia, em discussão com especialistas em saúde
    pública e governos estaduais para determinar a necessidade e a taxa
    de fornecimento, a fim de garantir a equidade em todo o país.
 3. Estratégias dirigidas pelo governo local para aumentar a ingestão de
    vacinas entre as massas trabalhadoras para garantir o acesso
    equitativo entre as classes econômicas.

Este é um programa que faz sentido não apenas para a Índia, mas para a
maior parte do mundo.


O clima em Kerala é de alegria, com pessoas sensíveis em toda a Índia
olhando para a forma como o governo de esquerda está lidando com a
pandemia e promove a agenda popular. Um jovem poeta, Jeevesh M., captou
o espírito da vitória:

/Ei, flor,/
/Por que você está tão vermelha?/
/As raízes se aprofundaram,/
/Tocando a base./
/E isso é tudo./

Poucos dias antes da eleição, o ministro da Saúde de Kerala, K. K.
Shailaja, foi questionado sobre o estado da pandemia. Suas palavras
encerram esta carta semanal:

    Acho que há duas lições importantes dessa pandemia. Uma, que o país
    precisa de planejamento adequado e mecanismos de implementação
    descentralizados para melhorar nosso sistema de saúde; a segunda
    lição é que não pode haver demora em aumentar o investimento público
    em saúde. Gastamos apenas 1% de nosso PIB em saúde; deve ser
    aumentado para pelo menos 10%. Países como Cuba investem muito mais.
    O sistema de médicos de família cubano me influenciou quando
    iniciamos os Centros de Saúde da Família aqui em Kerala. Os cuidados
    de saúde devem ser universais, com alguns regulamentos nas unidades
    terciárias de saúde. Deve haver mais investimento nos níveis
    primário, secundário e terciário. Deve haver um planejamento
    descentralizado com regulamentação. Cuba conquistou muito por causa
    de seu planejamento centralizado e implementação descentralizada.
    Seu sistema de saúde é focado nas pessoas e no paciente. Seu
    conceito de igualdade e descentralização podem ser emulados aqui.

    Eu sou de esquerda. Minha palavra não tem nenhum valor na política
    sanitária desse país no momento. Mas se a esquerda estivesse no
    poder central agora, teríamos nacionalizado a saúde e a educação. O
    governo deve ter controle sobre os cuidados de saúde para que todos
    – pobres e ricos – recebam tratamento equitativo.

Cordialmente,

Vijay.

In
TRICONTINENTAL
https://thetricontinental.org/pt-pt/newsletterissue/cartasemanal-18-kerala-eleicoes/
6/5/2021

domingo, 9 de maio de 2021

Jacarezinho: 'Só vejo isso no Brasil e em locais com guerra civil, como Síria e Afeganistão', diz coronel reformado da PM

 

 




José Vicente da Silva Filho, coronel reformado da PM-SP
José Vicente da Silva Filho, coronel reformado da PM-SP (Foto: Reprodução)


*Por Paulo Henrique Arantes, para o 247 - *Nem todo policial é desumano
e desconhecedor do seu real papel. O coronel reformado da PM paulista
José Vicente da Silva Filho é um policial nato, e justamente por amor à
carreira contesta a atuação da unidade de operação ostensiva fluminense
que matou 27 cidadãos no bairro no Jacarezinho na última quinta-feira
(6). Um policial também morreu no local, totalizando 28 mortos na ação
<https://www.brasil247.com/regionais/sudeste/policia-divulga-lista-de-28-mortos-em-jacarezinho-afirma-que-25-tinham-ficha-criminal-e-oab-contesta>.
A primeira contagem divulgada - pela OAB - havia sido de 25 mortos. A
Polícia Civil, responsável pela operação, só divulgou um número no dia
seguinte. Trata-se da maior chacina da história da cidade do Rio de
Janeiro
<https://www.brasil247.com/regionais/sudeste/chacina-do-jacarezinho-e-a-maior-da-historia-da-cidade-do-rio-e-a-segunda-maior-da-historia-do-estado>.

Silva Filho não entra no debate político sobre o motivo da ação
homicida, mas analisa, como estudioso do tema, os aspectos técnicos e
suas falhas de execução. Não foram poucas.

“O policial morreu logo no começo da operação, e aí já se sabe, pelos
hábitos da polícia do Rio de Janeiro, que haveria uma saraivada de
mortes do outro lado como resposta exemplar vingativa. Isso costuma
acontecer no Rio, conforme levantamento do Instituto Igarapé”, afirmou
Silva Filho ao *Brasil 247*. O estudo ao qual o coronel se referiu
mostra que a morte de um policial aumenta em 10 vezes, no mesmo dia, a
quantidade de homicídios no local de ação; e aumenta 4,5 vezes a
quantidade de homicídios na cidade no dia seguinte.

José Vicente da Silva Filho, ou Coronel José Vicente, como é chamado
pelos pares, foi secretário nacional de Segurança Pública (governo
Fernando Henrique Cardoso) e costuma reconhecer, com a mesma veemência,
erros e acertos da polícia. Graduado em Psicologia e mestre em
Psicologia Social pela USP, já prestou consultoria em segurança para o
Banco Mundial, a Febraban, a Fiesp e os governos de Pernambuco, Bahia,
Amazonas e Acre. Tem mais de 200 artigos publicados em veículos
especializados e na imprensa em geral.

Ele destaca que as ações que resultam em letalidade no Rio de Janeiro
vêm recrudescendo neste ano. Em 2020, foram nove operações com 31
mortos. Em 2021, já são 19 operações com 71 mortos.

“No caso Jacarezinho, a ação da Polícia Civil era destinada
exclusivamente a executar 21 mandados de prisão, principalmente de
criminosos que estavam arrecadando adolescentes para trabalhar para o
tráfico. Eles estavam investigando, e foram lá para prender essas
pessoas. Desses 21 mandados, acabaram cumprindo três”, nota Silva Filho.

Normalmente, o serviço de inteligência que antecede uma operação
policial deveria avaliar todo o potencial de reação à entrada dos
policiais no território, e o potencial de perigo não só para os
policiais, mas para os moradores que podem estar no meio do fogo cruzado.

“Se houve uma reação tão intensa, um tiroteio de mais de seis horas, é
porque avaliaram mal as possibilidades de reação dos criminosos à
entrada da polícia. Mesmo assim, eles foram com 250 homens de uma
unidade operacional de polícia ostensiva explícita, que é a chamada
Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). Eles se vestem como
militares, usam armas militares, helicóptero militar, enfim, fazem um
trabalho que poderia ser feito pela PM e esse contingente poderia estar
fazendo investigação para cuidar do crime organizado, inclusive a
entrada de armas e drogas nas comunidades”, pondera o coronel reformado.

Silva Filho não ficou indignado apenas com a incompetência operacional
da polícia fluminense, mas também com o absoluto desconhecimento das
leis demonstrado por autoridades da Secretaria de Segurança Pública do
Rio de Janeiro, que de pronto alegaram que, afora o policial, todos os
mortos eram criminosos, ganhando eco nas palavras impróprias do
vice-presidente da República, General Hamilton Mourão, para quem “eram
todos bandidos”.

“Dizer pura e simplesmente que eles eram criminosos não justifica
matá-los, principalmente quando se sabe que muitos desses mortos não
representavam perigo nenhum. A polícia tem o compromisso legal de
observar as leis. Observar a lei significa atirar quando há uma situação
de legítima defesa, por isso policiais usam armas no mundo todo. No
Jacarezinho, houve um conjunto de mortes nunca visto no Brasil. Eu
confesso que nunca vi algo desse tipo em nenhum lugar do mundo todo - e
visitei muitos países estudando isso -, a não ser em locais de guerra
civil, como a Síria e o Afeganistão”, diz Silva Filho.

“Mesmo se fossem todos bandidos, não caberia à polícia matá-los - não
temos pena de morte. O Ministério Público do Rio de Janeiro tem a enorme
responsabilidade de investigar, acompanhar as perícias, ouvir todas as
testemunhas que viram as ações policiais”, finaliza.

In
BRASIL 247
https://www.brasil247.com/regionais/sudeste/jacarezinho-so-vejo-isso-no-brasil-e-em-locais-com-guerra-civil-como-siria-e-afeganistao-diz-coronel-reformado-da-pm
8/5/2021

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Os aliados destroem a resistência antifascista, a falhada tentativa de Stáline alinhar com o Ocidente

 

   
*Shane Quinn * *

    Por razões históricas, é importante reconhecer que o soviético
    Joseph Stáline fez aberturas firmes à Grã-Bretanha e à França nos 18
    meses anteriores ao início da Segunda Guerra Mundial. Menos de uma
    semana após a anexação forçada da Áustria por Hitler, que inquietou
    o Kremlin, mas teve a aquiescência do Ocidente, em 18 de março de
    1938, Stáline propôs que a Grã-Bretanha e a França se unissem à URSS
    numa conferência para reforçar a segurança coletiva. Esta oferta,
    potencial precursora de uma aliança franco-britânica-russa contra
    Hitler, foi rejeitada.

 
Apesar das declarações de guerra franco-britânicas à Alemanha, em 3 de
setembro de 1939, os governos britânico e francês esperavam que os seus
exércitos não tivessem então de entrar em combate contra as forças
alemãs.  Estava, desde muito cedo, escrito nas estrelas, que nem a
Grã-Bretanha nem a França fariam algo de significativo para ajudarem o
seu aliado nominal, a Polónia.

Isto não foi de todo surpreendente, pois, no ano anterior, as potências
ocidentais participaram na divisão da Checoslováquia, descrita pelo
primeiro-ministro britânico, Neville Chamberlain, como “/um país
distante/” pelo qual não vale a pena lutar. Chamberlain tinha
sentimentos semelhantes em relação à Polónia, que, afinal, compartilhava
uma fronteira sul com a Checoslováquia.

Tentando mais uma vez apaziguar o insaciável Hitler, os governos
anglo-franceses fizeram o seu melhor para arrancar concessões da
Polónia, como anteriormente haviam feito com os checos [1]. Varsóvia
recusou. Só então a Grã-Bretanha e a França declararam com relutância,
em 25 de agosto de 1939, a sua disposição para lutar, o que, de qualquer
modo, foi um gesto cerimonioso, como a Polónia cedo descobriria. O
sincero parlamentar conservador, Robert Boothby, disse numa entrevista:
“/Fomos à guerra pela defesa da Polónia. No terreno, não fizemos nada
para ajudar a Polónia. Nunca levantámos um dedo/” [2].

Por razões históricas, é importante reconhecer que o soviético Joseph
Stáline fez aberturas firmes à Grã-Bretanha e à França nos 18 meses
anteriores ao início da Segunda Guerra Mundial. Menos de uma semana após
a anexação forçada da Áustria por Hitler, que inquietou o Kremlin, mas
teve a aquiescência do Ocidente, em 18 de março de 1938, Stáline propôs
que a Grã-Bretanha e a França se unissem à URSS numa conferência para
reforçar a segurança coletiva [3]. Esta oferta, potencial precursora de
uma aliança franco-britânica-russa contra Hitler, foi
rejeitada. Chamberlain queria prosseguir com a sua estratégia de
apaziguamento, enquanto a França cambaleava de uma crise política para
outra.

Seis meses depois, em 30 de setembro de 1938, os russos foram
notoriamente desprezados quando não receberam nenhum convite para
participar na Conferência de Munique, através da qual os governos
anglo-franceses colaboraram com as ditaduras fascistas da Alemanha e da
Itália, traindo a Checoslováquia. Os checos perderam 11.000 milhas
quadradas de território, incluindo os distritos bem fortificados do
país, ao longo das suas fronteiras ocidentais. Nem os diplomatas checos
foram convidados para a Conferência de Munique, pois Hitler recebeu tudo
o que desejava.

Algumas semanas após a ocupação de toda a Checoslováquia pela Wehrmacht
[forças armadas da Alemanha nazi: exército, marinha de guerra e força
aérea – NT], em março de 1939, e apesar das crescentes dúvidas sobre as
intenções do Ocidente, Stáline abordou novamente as potências
franco-britânicas. Em 16 de abril de 1939, apresentou uma proposta
formal: um pacto militar das três potências com o óbvio objetivo de
impedir a agressão nazi [4]. A proposta diplomática de Stáline refletia
o acordo em vigor antes da Primeira Guerra Mundial, no qual a
Grã-Bretanha, a França e a Rússia estavam unidas numa aliança dirigida
contra os impérios alemão e austro-húngaro. Se a abordagem de Stáline
tivesse sido aceite, ela poderia, só por si, ter mudado o curso da
história – pois, em caso de conflito, tal união teria assegurado, desde
o início, que Hitler enfrentasse uma guerra de pesadelo em duas frentes.

Contudo, esta última oferta soviética de aliança com o Ocidente foi
rejeitada, com os britânicos, em particular, a tratar Moscovo com
indiferença. Fortes sentimentos antibolcheviques espalharam-se entre os
conservadores no governo britânico e o próprio Chamberlain. Três semanas
antes da proposta de Stáline, Chamberlain escreveu à sua irmã Ida, em 26
de março de 1939, declarando que: “/Devo confessar a mais profunda
desconfiança da Rússia. Não acredito de todo na sua capacidade de manter
uma ofensiva eficaz, mesmo se ela o quisesse. E desconfio dos seus
motivos, que me parecem pouco vinculados às nossas ideias de liberdade e
pretendem apenas conseguir o apoio de  todos os outros/ ” [5].

As suspeitas russas pareciam confirmar-se – as democracias ocidentais
ficariam felizes em ver a União Soviética e a Alemanha nazi em guerra,
uma contra a outra. Chamberlain concordou em enviar uma missão
diplomática ao Kremlin, em 27 de maio de 1939, para negociar um modesto
tratado de assistência mútua com a Rússia. Em vez de a missão britânica
ser chefiada por uma figura com autoridade, como Lord Halifax ou Anthony
Eden, Chamberlain escolheu um desconhecido funcionário do Ministério dos
Negócios Estrangeiros, chamado William Strang. Além disso, Strang era um
fervoroso antibolchevique e um membro secreto da Associação pró-nazi
anglo-alemã.

Os soviéticos consideraram a chegada de Strang como um insulto
calculado, que era intencional. Os britânicos concordaram em entrar em
conversações militares com Moscovo, em 20 de julho de 1939, mas isso não
passou de um gesto despreocupado que não levou a lado nenhum. Em vez de
voar diretamente de Londres para a capital russa, o que levaria algumas
horas, a missão britânica viajou num lento barco de carga, que acabou
por chegar seis dias depois [6].

Esta evidência, que é indiscutível e já foi documentada por
historiadores, mostra que Stáline preferia alinhar-se com a Grã-Bretanha
e a França, em vez da Alemanha nazi. Tendo sido posto de lado, foi
compelido a voltar-se decididamente para Hitler e, em 23 de agosto de
1939, foi concluído o Pacto de Não-Agressão germano-soviético. Oitenta
anos depois do início das hostilidades, a EU, em setembro de 2019,
aprovou uma resolução no Parlamento Europeu – por meio da qual atribuiu
toda a culpa aos soviéticos e nazis por terem “/aberto o caminho para a
eclosão da Segunda Guerra Mundial/” e, ironicamente, refere-se a
“/distorção de factos históricos/” [7]. Não há sequer uma menção na
resolução da UE às repetidas tentativas de Stáline de formar uma nova
tripla entente com o Ocidente, e que teria cercado Hitler.

As potências ocidentais, na realidade, deveriam compartilhar a culpa
pela eclosão da guerra. Além disso, a ditadura nazi poderia ter sido
destruída a qualquer momento pela França e a Grã-Bretanha, entre 1933 e
1938, quando Hitler estava vulnerável e as suas forças militares eram
escassas. Ainda em setembro de 1938, o Estado-Maior alemão dizia sem
rodeios a Hitler que a Wehrmacht ainda não era suficientemente forte
para travar uma guerra europeia. No entanto, o Ocidente não queria
derrubar Hitler em particular, com a Grã-Bretanha a ter profundos laços
financeiros com o regime nazi, já que, no final dos anos 1930, o
Terceiro Reich era o principal cliente comercial de Londres [8].

Os britânicos e franceses foram os grandes responsáveis ​​pela “/Falsa
Guerra/” que se seguiu a setembro de 1939, durante a qual o desejo
predominante permaneceu o mesmo: que, com a derrota da Polónia, o
próximo movimento de Hitler fosse de novo para o leste, com um ataque à
URSS, deixando intocada a Europa ocidental. O parlamentar conservador
Boothby lembrou, uns meses após a invasão alemã da Polónia: “/Limitámos
os nossos esforços de guerra a jogar panfletos sobre o povo alemão,
dizendo-lhes que era uma má ideia ir para a guerra e era uma pena que
tivessem feito isso. E que talvez possamos fazer as pazes/”.

No período da Falsa Guerra, executivos de negócios americanos como James
D. Mooney – encarregado das operações da General Motors no exterior,
inclusive na Alemanha nazi – tentaram persuadir britânicos e alemães a
resolverem o seu conflito, na esperança de empurrar Hitler para a
invasão da Rússia Soviética. Mooney, que conheceu veteranos nazis no
passado e recebeu uma condecoração de Hitler, viu o ditador, novamente,
em março de 1940.

Mooney fez-lhe um pedido para preservar a paz na Europa
Ocidental. Informou ainda Hitler de que “/os americanos entendiam o
ponto de vista da Alemanha em relação à questão do espaço vital/”
[9]. Isso significava que Washington não teria problemas caso a Alemanha
decidisse expandir-se para o leste. Joseph Kennedy, o embaixador dos
Estados Unidos na Grã-Bretanha e pai de John F. Kennedy, também se
esforçou por persuadir Berlim e Londres a resolverem as suas
diferenças. Estas tentativas falharam, pois os alemães atacaram o oeste
no início do verão de 1940, garantindo uma série rotineira de vitórias
militares.

Quando os EUA entraram na guerra, em dezembro de 1941, contra os Estados
do Eixo, prevaleciam sentimentos contraditórios em Washington
[10]. Havia pouca indecisão em lutar contra os odiados japoneses, mas
havia desconforto na capital dos EUA pela sua união com a URSS, um
inimigo ideológico. Este mal-estar crescia à medida que a guerra se
arrastava. A liderança Aliada também ficaria desconcertada com o poder
conquistado em grande parte do mundo pela Resistência antifascista, que,
frequentemente, continha atitudes amigas dos trabalhadores
democrático-radicais. Os esforços liderados pelos EUA para desmantelar a
Resistência e outras fações esquerdistas, enquanto reinstituíam a
hierarquia negocial capitalista, tornar-se-iam uma operação global,
ganhando intensidade a partir de meados da década de 1940. Incluía o
emprego de notórios nazis e simpatizantes fascistas.

Já no final de 1942 – quando os Aliados capturaram o seu primeiro pedaço
de território sob controle alemão, no norte da África – o governo de
Franklin Roosevelt, com o apoio de Churchill, nomeou um proeminente
colaborador fascista, o almirante François Darlan, para assumir o
comando daquela extensa região [11]. Esta decisão enfureceu a
Resistência Francesa e o General Charles de Gaulle, que denunciou Darlan
dizendo “/Pode comprar traidores, mas não a honra da França/”.

A partir de julho de 1943, com as forças aliadas a desembarcar no
extremo sul da Itália, o Departamento de Estado e o Secretário da Guerra
dos EUA, Henry Stimson, procuraram levar ao poder Dino Grandi, o
político italiano de extrema-direita. Grandi, ex-alto funcionário da
ditadura de Mussolini, foi descrito como um “/moderado/” pelo
Departamento de Estado, alguém que foi empurrado para o fascismo “/pelos
excessos dos comunistas/”. O apoio dos EUA aos fascistas italianos
estava a recomeçar a partir do ponto onde ficou nas décadas de 1920 e
1930, quando Mussolini desfrutou de uma amizade ininterrupta, que só
terminou quando o Duce se aliou a Hitler, em 1940.

Churchill escreveu ao presidente Roosevelt, em 31 de julho de 1943, a
dizer que a principal consideração ao libertar a Itália era prevenir “/o
caos, a bolchevização ou a guerra civil/”. Churchill advertiu que nada
se interpunha “/entre o rei e os patriotas que se uniram em torno dele/”
e o “/bolchevismo desenfreado/”. Os Aliados apoiaram o rei italiano, que
colaborou plenamente com Mussolini durante o governo deste
[12]. Washington e Londres instalaram a ditadura de direita do Marechal
de campo Pietro Badoglio, um herói de guerra fascista. À medida que
aumentavam as tensões dos EUA e da Grã-Bretanha com Moscovo, o governo
de Churchill viu Badoglio como um baluarte contra a ameaça comunista em
Itália.

Um grande problema do ponto de vista britânico-americano foi, de facto,
o surgimento da Resistência antifascista, que conquistou legitimidade e
influência junto do comum dos cidadãos. A Resistência estava a tentar
resolver os problemas da classe operária, dos necessitados e de outras
vítimas da guerra. Estas políticas foram vistas com receio pelos
governos anglo-saxões e pelas grandes empresas, interesses antilaborais
que eles tantas vezes representam.

À medida que os exércitos aliados continuaram a avançar lentamente para
o norte da Itália, em 1944, começaram a dispersar os elementos
antifascistas e a minar as forças populares nas quais tiveram a sua base
[13]. A liderança aliada ficou chocada ao descobrir que a Resistência
italiana havia formado um sistema social, por meio do qual os próprios
trabalhadores dirigiam as suas próprias fábricas, sem chefes a
supervisioná-los dentro do método capitalista.

Os /partisans/ [membros de uma tropa irregular formada para se opor
à ocupação e ao controle estrangeiro – NT] da Itália, que também lutaram
bravamente contra seis divisões alemãs, não conseguiram evitar que os
EUA restaurassem a estrutura essencial do antigo regime de
Mussolini. Fascistas e colaboradores regressaram ao poder e à
proeminência. O objetivo era preservar a tradicional ordem mundial
conservadora, agora sob o domínio americano. Além disso, envolvia a
subordinação da classe operária e dos pobres ao domínio dos negócios,
para garantir que eles suportariam os custos relativos à reconstrução e
recuperação. Nos estudos convencionais, essas ações são geralmente
consideradas como esforços dos EUA para restabelecer a “/democracia/” e
a “/liberdade/” na Europa e no mundo.

A literatura da contrainsurgência do Exército americano começa com uma
visão geral da experiência da Wehrmacht na Europa; e foi escrita com a
cooperação de oficiais nazis. Grande parte desses manuais foi buscar o
ponto de vista alemão, sobre quais estratégias funcionaram melhor contra
a Resistência. Com poucas alterações, as táticas empregadas pela
Wehrmacht e as SS foram absorvidas pela contrainsurgência militar dos
Estados Unidos.

Houve uma operação envolvendo o Vaticano, o Departamento de Estado dos
EUA e a secreta britânica, que reuniu criminosos de guerra nazis, como
Klaus Barbie e Reinhard Gehlen, juntamente com antigos associados de
Adolf Eichmann, um líder perpetrador do Holocausto e, também, muitos
outros ex-oficiais das SS, Wehrmacht e Gestapo [14]. Depois de os
organizar em unidades coesas, os americanos devolveram-nos para
trabalhar contra a Resistência, primeiro na Europa e, mais tarde, nos
estados policiais da América Latina apoiados pelos EUA.

Barbie, um ex-chefe da Gestapo apelidado de “/o carniceiro de Lyon/”,
era especialmente procurado devido à gravidade dos seus crimes, na
França ocupada pelos nazis. Quando os seus empregadores americanos
começaram a receber críticas por terem contratado Barbie, em 1947, eles
lutaram para compreender qual era o problema. O Exército dos EUA havia
assumido o controle dos alemães e precisavam de alguém que fosse
especialista em atacar as forças antifascistas. Eugene Kolb, um coronel
aposentado do Corpo de Contraespionagem do Exército dos EUA, disse que
as “/habilidades de Barbie eram extremamente necessárias/” porque “/As
suas atividades tinham sido dirigidas contra o clandestino Partido
Comunista Francês e a Resistência/”. Kolb continuou: “/Não tivemos
grandes problemas de consciência/” [15].

Quando Barbie não pôde mais ser protegido pelos seus patrões dos EUA,
foi transferido para as /ratlines/ [sistemas de fuga para nazis e
outros fascistas no final da Segunda Guerra Mundial – NT] do Vaticano,
no início dos anos 1950, onde padres fascistas lhe garantiram passagem
segura para a Bolívia. Uma série de nazis escapou da captura e chegou à
América do Sul e a outros lugares através das /ratlines/ do Vaticano,
tais como os assassinos psicopatas Eichmann, Josef Mengele, Gustav
Wagner e Walter Rauff. A última figura, o coronel das SS Rauff, criou as
primeiras câmaras de gás usadas no Holocausto.

Rauff, em momentos distintos, trabalhou para o serviço de inteligência
da Alemanha Ocidental (sob os auspícios dos EUA) e, estranhamente, para
a agência de Israel, a Mossad. Ele foi pessoalmente responsável por,
pelo menos, 97.000 mortes durante a guerra. Rauff foi ajudado na sua
fuga para a América do Sul pelas autoridades dos EUA [16].

Outros nazis receberam refúgio na Espanha fascista, onde Mussolini
também estava perto de o garantir, antes de ser capturado pelos
/partisans /italianos à última hora. O ex-salvador de Mussolini, de
1943, o comando SS Otto Skorzeny, acabou na Espanha, tendo sido
autorizado a “/escapar/” do cativeiro, ao que parece pelos americanos,
em 1948. Skorzeny, que, ao contrário dos citados nazis, não era um
sádico, seria, entre outras coisas, empregado como conselheiro militar
pelos governos do Egito e da Argentina; também trabalhou para a agência
Mossad, apesar das suas convicções fascistas. Numa misteriosa existência
pós-1945, Skorzeny – que tivera uma relação próxima com Hitler – foi
visto nos lugares mais improváveis, desde a fumar casualmente num café
parisiense, nos Champs-Élysées, até adquirir uma quinta na Irlanda
rural, onde cuidava da sua terra.

Na França, em meados de 1944, após a queda do regime de Vichy, as
dificuldades públicas foram exploradas pelas forças dos EUA para
prejudicar a mão de obra francesa. Apoiada por Washington, a Federação
Americana do Trabalho (AFL) desmantelou greves nas docas, enviando
fura-greves italianos financiados por dinheiro corporativo dos
EUA. Suprimentos alimentares extremamente necessários foram negados aos
civis franceses, a fim de impor a obediência. Gangsteres foram
organizados para formar esquadrões de capangas e fura-greves, cujos
resultados foram mais tarde descritos com algum orgulho em histórias do
trabalho quase oficiais dos EUA, que elogiam a AFL pelos seus esforços
para desestabilizar o movimento laboral da Europa [17].

Os líderes laborais dos EUA, principalmente os da AFL, persuadiram os
trabalhadores a aceitar medidas de austeridade, enquanto os patrões
acumulavam lucros. O Departamento de Estado dos EUA compeliu a liderança
da AFL a direcionar parte das suas energias para a luta contra os
sindicatos na Itália, o que fizeram com gosto. As classes empresariais,
tendo caído no descrédito do público, por terem trabalhado em intimidade
com os fascistas, foram tranquilizadas com o apoio que lhes foi
concedido por Washington.

Com a confiança restaurada, os setores empresariais travaram uma
rigorosa guerra de classes, cujo resultado final foi a reinstalação da
estrutura de poder conservadora. Enquanto enfraqueciam os movimentos
laborais da Europa, a AFL protegia ainda mais o envio de armamentos para
a Indochina Francesa, a fim de garantir que a região permanecesse sob o
controle imperial, outro objetivo principal da burocracia laboral dos
EUA. A CIA reorganizou a Mafia para ajudar nos negócios de armas, em
troca do recomeço do comércio de heroína. Os vínculos do governo dos EUA
com a indústria da droga continuaram durante décadas [18].

O Plano Marshall da administração Harry Truman – que consistia em
esforços de grande escala para reforçar a supremacia empresarial
capitalista na Europa – baseava-se estritamente na exclusão de
comunistas e outros esquerdistas do poder, incluindo extensos segmentos
da Resistência antifascista e do mundo laboral [19]. Os programas
económicos, como o Plano Marshall, garantiram a Washington uma
influência significativa na direção dos assuntos europeus. Essa era a
sua intenção desde o início, já que o Plano Marshall servia, além disso,
para atribuir importantes subsídios aos exportadores de recursos
naturais e produtos manufaturados dos EUA.

Em 12 de maio de 1947, Jefferson Caffery, o embaixador dos EUA na
França, informou o secretário de Estado George Marshall que haveria
sérias repercussões se os comunistas ganhassem eleições em
França. Caffery sentia, nesse cenário, que “/a penetração soviética na
Europa Ocidental, África, Mediterrâneo e Médio Oriente seria muito
facilitada/”. Também em maio de 1947, o governo Truman pressionou os
líderes políticos da França e da Itália para formarem governos de
coligação, a fim de congelar os comunistas [20]. O secretário de Estado
Marshall advertiu publicamente que, se os políticos comunistas fossem
eleitos para o poder, a ajuda americana terminaria, uma ameaça
considerável naquelas circunstâncias.

A generalizada propaganda dos EUA na Itália designava o Partido
Comunista como “/extremista/” e “/antidemocrático/”, enquanto a suposta
ameaça soviética foi cuidadosamente elaborada para assustar os
italianos. O Partido Democrata Cristão da Itália, sob pressão dos EUA,
renegou as promessas feitas durante a guerra relativas à democracia nos
locais de trabalho. A polícia italiana, às vezes sob o controle de
ex-fascistas, foi incentivada a reprimir as atividades laborais.

O Vaticano, que se tinha aliado a Mussolini durante duas décadas,
anunciou que quem votasse nos comunistas, nas eleições de 1948, teria os
sacramentos negados. O Vaticano apoiou os conservadores
democratas-cristãos, sob o slogan “/Ou com Cristo ou contra Cristo/”. No
ano seguinte, 1949, o Papa Pio XII excomungou todos os comunistas
italianos. A intervenção da CIA, através da propaganda, violência e
manipulação da ajuda, comprou efetivamente as críticas eleições
italianas de 1948; nas quais o Partido Democrata Cristão, liderado pelo
ex-bibliotecário do Vaticano Alcide de Gasperi, obteve uma grande
vitória quando os comunistas foram excluídos do cargo. De Gasperi, um
“/pai fundador/” da UE, havia defendido a Igreja alemã em 1937, dizendo
que estava certo favorecer o nazismo, ao invés do bolchevismo [21].

O esforço da CIA para controlar as eleições da Itália foi a primeira
grande operação clandestina da agência de espionagem. As atividades da
CIA na Itália continuariam pela década de 1970, enquanto a democracia do
país foi fortemente erodida. Esta informação está no domínio público
desde 1976, graças à abertura do relatório Pike, do Congresso, que
detalhou a interferência da CIA nos assuntos italianos.

Na Grécia, quando a Wehrmacht foi finalmente expulsa, no outono de 1944,
os soldados britânicos substituíram-na, simplesmente invadindo o país,
em vez de deixar que a Resistência Grega dele tomasse posse. Sem alemães
à vista, em dezembro de 1944, Churchill ordenou aos seus homens que
tratassem Atenas como uma “/cidade conquistada/” e sufocassem as forças
antifascistas, se necessário, com “/derramamento de sangue/” [22]. Os
britânicos encontraram uma forte presença antifascista na Grécia,
composta por camponeses e trabalhadores liderados por comunistas.

As forças da Grã-Bretanha foram inicialmente capazes de frustrar a
Resistência Grega pela violência, enquanto restauravam as fações
monárquica e de colaboradores nazis no poder. Surgiu então uma renovada
oposição armada que Londres foi incapaz de controlar. No início de 1947,
eles entregaram a tarefa de pacificar a Grécia aos americanos, que a
prosseguiram com fanatismo. Esta foi a base para a Doutrina Truman, um
princípio central que consistia em eliminar a resistência na Grécia e em
qualquer outro lugar, sob o pretexto de conter a URSS. Outra preocupação
do Ocidente em relação à Grécia e à Itália, que são Estados
mediterrâneos, estava relacionada com o embarque de matérias-primas do
Médio Oriente com destino ao Ocidente.

O diplomata norte-americano Adlai Stevenson explicou mais tarde que
Washington tinha de proteger a Grécia dos “/agressores/” que “/tinham
conquistado o controle da maior parte do país/” [23]. Os agressores
seriam aqueles que estoicamente lideraram a luta contra as tropas de Hitler.

Os americanos estavam comprometidos com a violência estatal, a tortura e
a repressão, que incluiu a prisão sem julgamento de dezenas de milhares
de gregos em campos de concentração. Londres, para ser justo, opôs-se a
algumas dessas ações com um oficial britânico a dizer, desde muito cedo,
que era “/insensato/” arrebanhar 14.000 pessoas e interná-las sem
julgamento em campos de concentração insulares [24]. O embaixador dos
EUA, Lincoln MacVeagh, disse que o governo grego “/tinha de lançar a sua
rede com amplitude para prender as pessoas certas/”, que ele calculou em
cerca de “/uma dúzia de homens-chave/”.

Uma vez presos, os detidos eram sujeitos a “/redoutrinação/”, se “/fosse
considerado que tinham filiações que colocassem sérias dúvidas sobre a
sua lealdade ao Estado/”, nas palavras da Missão Americana de Ajuda à
Grécia. Noutros lugares, foram criados “/campos de reeducação/” aliados,
onde centenas de milhares de prisioneiros de guerra alemães e italianos
estiveram detidos, de 1945 a 1948. Foram expostos à propaganda,
trabalhos forçados e severos maus-tratos, incluindo execuções em massa.

O encarregado de negócios dos EUA, Karl Rankin, enfatizou, em maio de
1948, que não deveria haver “/qualquer indulgência para com os agentes
confirmados de uma influência estrangeira e subversiva/”. Rankin
adiantou que as execuções eram legítimas, porque mesmo que os presos
políticos, quando foram presos, não fossem “/endurecidos comunistas, é
improvável que tivessem sido capazes de resistir à influência das
organizações de doutrinação comunistas existentes dentro da maioria das
prisões/” [25]. Muitas destas coisas foram esquecidas, recebendo poucas
menções quando instituições ocidentais condenam as políticas de Pequim
na província de Xinjiang que, pode acrescentar-se, está dentro das
fronteiras internacionalmente reconhecidas da China.

O apoio dos EUA ao terrorismo de Estado na Grécia continuou por muitos
anos, culminando no seu apoio ao golpe militar fascista de 1967 em
Atenas. Mais tarde, o presidente Bill Clinton reconheceu indiretamente a
interferência dos EUA nos assuntos gregos, enquanto, ao mesmo tempo,
clamava que a “/obrigação/” de Washington era “/apoiar a democracia/”
durante a Guerra Fria [26]. O golpe da extrema-direita foi elogiado na
altura por trazer amplas oportunidades para o investimento empresarial
dos Estados Unidos.

Na Coreia, no final da década de 1940, as forças americanas dissiparam o
governo popular local e instituíram uma severa repressão, recorrendo à
polícia japonesa e a outros colaboradores. Antes do que é conhecido como
Guerra da Coreia, entre 1948 e 1949, cerca de 100.000 pessoas foram
mortas na Coreia do Sul por forças de segurança instaladas e apoiadas
por Washington [27]. A luta na península coreana foi entre um movimento
nacionalista anticolonial e uma ordem conservadora ligada ao /status
quo/, apoiada pelos EUA.

O governo Truman deu início a uma série de golpes militares na
Tailândia, em meados da década de 1940, um país ao qual os americanos
prestariam especial atenção. A subversão dos EUA na Tailândia permitiu o
retorno ao poder, no início de 1948, do Marechal de Campo Phibun
Songkhram, um ex-ditador de extrema-direita pró-japonês que admirava
Hitler e Mussolini e copiou alguns dos seus comportamentos, como a
saudação fascista. Washington concordou com o isolamento de Pridi
Banomyong, líder do Movimento Tailandês Livre, que tinha cooperado com
os Aliados durante a guerra. Pridi era a figura liberal democrática mais
proeminente na Tailândia, mas as suas convicções políticas eram agora
vistas com desconfiança no Ocidente e, com os japoneses derrotados, ele
não tinha mais qualquer utilidade.

O especialista da CIA na Tailândia, Frank Darling, observou que o
Marechal de Campo Songkhram foi “/o primeiro ditador pró-Eixo a ganhar o
poder depois da guerra/”. Em 1954, o Conselho de Segurança Nacional dos
EUA, sob o presidente Dwight D. Eisenhower, reiterou que a Tailândia
deveria ser estabelecida como “/o ponto focal das operações secretas e
psicológicas dos EUA no sudeste da Ásia/”, com o objetivo declarado de
“/dificultar o controle pelo Viet Minh do Vietname do Norte/”
[28]. Eisenhower, um general experiente que tinha criticado publicamente
o andamento da guerra, não concordava com ataques militares
diretos; mas, ao contrário de Roosevelt, Eisenhower não podia continuar
como presidente indefinidamente e, depois de deixar o cargo, em 1961, a
Tailândia serviu como base central de planeamento para as invasões
americanas do Vietname e, posteriormente, do Camboja e do Laos.

*Notas*

[1] Donald J. Goodspeed,  /The German Wars/ [As Guerras Alemãs](/Random
House Value Publishing/, 2ª edição, 3 de abril de 1985), p. 326.

[2] Paul Beston, “/The Great Documentary, The World at War, a 1973
series/” [O Grande Documentário, O Mundo em Guerra, série de 1973], City
Journal , Primavera de 2016.

[3]  /Goodspeed, The German Wars/, p. 315.

[4] Ibidem, p. 323.

[5] John Simkin, “/Nazi-Soviet Pact/” [Pacto
Germano-Soviético], Spartacus International , setembro de 1997
(atualizado em janeiro de 2020).

[6] /Goodspeed, The German Wars/, p. 324.

[7] Parlamento Europeu, “/Importance of European remembrance for the
future of Europe/” [Importância da lembrança europeia para o futuro da
Europa], 19 de setembro de 2019.

[8] Guido Giacomo Preparata, /Conjuring Hitler: How Britain and America
Made the Third Reich/ [Invocando Hitler: Como a Grã-Bretanha e a
Américafizeram o TNerceiro Reich] (Pluto Press; Edição ilustrada, 20 de
maio de 2005), p. 224.

[9] Jacques R. Pauwels, “/Profits über Alles! American Corporations and
Hitler/” [Os lucros acima de tudo: as corporações americanas e
Hitler], Global Research , 7 de junho de 2019.

[10] Noam Chomsky, /Hegemony or Survival: America's Quest for Global
Dominance/  [Hegemonia ou sobrevivência: América procura o domínio
global](Penguin, 1 de janeiro de 2004), p. 69.

[11] Noam Chomsky, /Deterring Democracy/ (Vintage, Nova edição, 3 de
janeiro de 2006), p. 42.

[12] Ibid.

[13] Noam Chomsky, /Optimism over Despair/ (Penguin; 1ª edição, 27 de
julho de 2017), p. 141.

[14] Biblioteca Virtual Judaica, “/Política dos EUA durante a Segunda
Guerra Mundial: Os criminosos de guerra da CIA & Nazis/”, (atualizado em
fevereiro de 2005).

[15] Noam Chomsky, /How The World Works/ (Hamish Hamilton; edição de
reimpressão, 3 de maio de 2012), /The Main Goals of US Foreign Policy/.

[16] Ibid., /Antecedentes históricos, Como os nazistas venceram a guerra/.

[17] Chomsky, /Optimism over Despair/, p. 141.

[18] Ibid.

[19] Ibidem, p. 140.

[20] Ibidem, p. 141.

[21] Paul Ginsborg, /A History of Contemporary Italy: 1943-80/ (Penguin;
Reprint edition, 27 de setembro de 1990), Capítulo 2, /Resistance and
Liberation/.

[22] Fraser J. Harbutt, /Yalta 1945: Europe and America at the
Crossroads/ (Cambridge University Press; 1ª edição, 1 de maio de 2014),
p. 199.

[23] /The Pentagon Papers/, Gravel Edition, Volume 3, pp. 715-716, “/EUA
solicitam a patrulha de Fronteira para Ajudar a Prevenir Incidentes nas
Fronteiras entre o Camboja e o Vietname/”, Declaração de Adlai Stevenson
ao Conselho de Segurança , 21 de maio de 1964.

[24] Noam Chomsky, /The Chomsky Reader/ (editado por James Peck,
Serpent's Tail; Edição principal, 1 de junho de 1988) p. 213.

[25] Ibid.

[26] James Gerstenzang e Richard Boudreaux, “/Clinton Says US Regrets
Aid to Junta in Cold War/”, Los Angeles Times , 21 de novembro de 1999.

[27] Chomsky, /Optimism over Despair/, p. 138.

[28] Douglas Allen, Ngo Vinh Long, /Coming to Terms: Indochina, the
United States, and the War/ (publicado pela primeira vez em 1991, pela
Westview Press, publicado em 2018 pela Routledge) Capítulo 4, Longe de
uma Aberração.

* *Shane Quinn* obteve um diploma com distinção em
jornalismo. Interessa-se e escreve principalmente sobre matérias de
negócios estrangeiros. É um colaborador frequente da /Global Research/ e
do /Morning Star/.

*Fonte*:
https://orinocotribune.com/allies-destroy-anti-fascist-resistance-stalins-failed-bid-to-align-with-the-west/
<https://orinocotribune.com/allies-destroy-anti-fascist-resistance-stalins-failed-bid-to-align-with-the-west/>,
publicado em 2021/02/26, acedido em 2021/03/23

Tradução do inglês de PAT

In
PELO SOCIALISMO
https://pelosocialismo.blogs.sapo.pt/os-aliados-destroem-a-resistencia-140394
7/5/2021