terça-feira, 18 de março de 2025

Xadrez da maior luta nacional de todos os tempos




 por Luís Nassif




    Peça 1 – os novos tempos do trumpismo

As características da geopolítica de Donald Trump e do capitalismo de
catástrofe já estão delineadas:

  * combate à globalização, entendida como livre fluxo de comércio;
  * destruição dos Estados nacionais;
  * disseminação do discurso de ódio e do individualismo como motores da
    ultra-direita;
  * a partir daí, controle do mundo pelas big techs e mercados
    financeiros, embora sujeito a fricções entre ambos os grupos.


    Peça 2 – o controle do dinheiro mundial

A crise de 2008 consolidou, inicialmente, o poder dos grandes bancos
globais.

Segundo a BBB News, os 28 maiores bancos do mundo passaram a dominar os
mercados financeiros, com um controle significativo sobre o fluxo de
capitais globais.

Ampliou a concentração de poder, houve poucas mudanças pós-crise e essas
instituições continuam sendo estratégicas na alocação do crédito e na
criação de crises financeiras. Ficou nítido o papel do JP Morgan na
crise cambial brasileiro de dezembro passado.


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Ao mesmo tempo, os grandes fundos globais passaram a atuar sobre um
universo cada vez maior de companhias, como tem alertado o economista
Ladislau Dowbor.

Entrou-se em uma espiral financeira que impede qualquer aumento do
investimento público ou privado. De um lado, os grandes fundos
acionistas exigem aumento continuado dos dividendos, tendo como
parceiros os CEOs, e sacrificando investimentos no crescimento,
manutenção e consolidação das companhias. De outro, os spreads bancários
tirando enormes volume da economia e dos investimentos.

O modelo exaure as empresas privadas, obrigando a vender o futuro para
gerar dividendos; e o governo, obrigando a aumentar juros da dívida
pública e cortar toda forma de gastos.


    Peça 3 – padrão Jack Welch

O primado dos grandes fundos internacionais, exigindo cada vez mais
dividendos e retorno do capital – em detrimento do próprio futuro da
empresa -, consagrou-se no chamado padrão Jack Welch – o executivo que
alçou a General Eletric às alturas e, depois, contribuiu decisivamente
para sua derrocada,

São características desse modelo:

  * Cultura dos cortes e pressão excessiva.
  * Desvalorização dos empregos tradicionais e terceirização excessiva
  * Foco excessivo no lucro de curto prazo
  * Cultura do medo e do stress
  * Impacto negativo na inovação
  * Falhas éticas e escândalos

Os ameaçados pela globalização são identificáveis:


    Peça 4 – as limitações do governo

O governo Lula se vê acuado por três frentes:

  * mercado-mídia, com o terrorismo fiscal e inflacionário;
  * Congresso, se apropriando do orçamento;
  * falta de um projeto claro de país, como principal fator da perda de
    popularidade, que acaba se manifestando nas críticas à carestia –
    que é apenas um subproduto da decepção com a ausência de sonhos.

Por outro lado, o modelo internacional em vigor, é ameaça clara a um
conjunto de atores econômicos:

  * os trabalhadores, pela consolidação do método Jack Welch;
  * as grandes empresas internacionais do setor produtivo, alvos fáceis
    de jogadas dois grandes fundos, através da mera manipulação do
    câmbio. Confira um exemplo hipotético: uma multinacional iniciando o
    ano com projeção de lucro líquido de R$ 15 milhões, com o câmbio a
    R$ 4.80. Basta um movimento especulativo jogando o câmbio em R$ 6,20
    (como ocorreu em dezembro), para seu resultado, em dólares, ter uma
    queda de 22,6%.

  * os grupos nacionais do setor produtivo – industriais e do varejo -,
    sendo espremidos pela competição internacional, especialmente das
    grandes plataformas;
  * as Pequenas e Médias Empresas, tendo que enfrentar cada vez mais a
    competição chinesa.


    Peça 5 – o Plano de Metas de JK

Juscelino Kubitschek enfrentou cenário semelhante quando presidente: sob
ataque constante da imprensa, ameaça de golpe militar, inflação, contas
públicas e externas no pandareco.

Mesmo assim, com seu Plano de Metas virou o jogo.

Consistia, de um lado, na criação de um conjunto de Grupos Executivos.

O plano focou em 5 setores principais. Energia, Transportes,
Alimentação, Indústria de Base e Educação eram essenciais. A
interdependência desses setores impulsionaria o desenvolvimento. GTs
foram formados para cada setor, com metas específicas:

  * Energia: geração e distribuição.
  * Transportes: integração do território nacional
  * Alimentação: aumento da produção e distribuição.

Havia um setor exclusivo para a reestruturação industrial:

  * GEIA – Grupo Executivo da Indústria Automobilística
  * GEICON – Grupo Executivo da Construção Naval
  * GEIMEPE – Grupo Executivo da Indústria da Mecânica Pesada
  * GEAMPE – Grupo Executivo da Assistência à Média e Pequena Empresa

Entre outros feitos, o plano lançou o Programa Nacional de Fabricação de
Veículos a Motor, aprovou 17 projetos e implantou 12.

O plano focou em 5 setores principais. Energia, Transportes,
Alimentação, Indústria de Base e Educação eram essenciais. A
interdependência desses setores impulsionaria o desenvolvimento. GTs
foram formados para cada setor, com metas específicas.

O programa atraiu pesos-pesados de diversos setores, obedecendo a
condições impostas pelo governo: participação do capital nacional e
fornecedores nacionais.


    Peça 6 – a estratégia à disposição de Lula

Lula tem inúmeros instrumentos à mão para virar o jogo. Não vira, se não
quiser. Há duas frentes prontas para serem acionadas, cujo objetivo
final é o da construção da solidariedade nacional.


      Frente 1 – a reestruturação industrial.

Já está em andamento, com alguns resultados palpáveis, mas sem ter se
tornado peça central do governo. Atribui-se ao fator Rui Costa, que
possui uma guilhotina pronta a cortar o pescoço de qualquer ministro que
ouse se destacar.

Já há duas iniciativas prontas para serem turbinadas.

  * Transição Energética, de Fernando Haddad
  * Nova Indústria Brasileira, de Geraldo Alckmin.

Ambas definiram metas, articulam ações, fazem o meio campo com outros
ministérios e com agentes econômicos. E envolvem milhares de empresas
dos mais variados setores

*Energia renovável*    *Energia solar**Energia Eólica**Hidrelétrica**Outras
– biomassa, geotermia, energia oceânica*
*Armazenamento*    *Baterias**Em larga escala*
*Eficiência energética*    *Soluções inteligentes**Eletrodomésticos e
veículos eficientes*
*Redes inteligentes*    *Modernização da infraestrutura**Micro-redes*
*Mobilidade sustentável*    *Veículos elétricos**Biocombustíveis*
*Captura e armazenamento de carbono*    *Tecnologias de
captura**Armazenamento subterrâneo*
*Sustentabilidade e responsabilidade social*    *Novos modelos de
negócio*•*Certificações e selos**
*


      Frente 2 – o Arranjo Produtivo Digital

Um dos grandes ativos nacionais é a profusão de organizações públicos e
privadas com distribuição nacional: sistema S, cooperativismo,
confederações de empresas e de trabalhadores, evangélicos do bem,
agricultura familiar, movimentos sociais, Banco do Brasil, Caixa
Econômica Federal, Correios.

O principal se tem. Falta apenas imaginação criadora para juntar todas
essas peças em um grande programa de mobilização nacional.

Uma das idéias é criar uma grande plataforma de produção, com grupos de
pequenos produtores divididos por tipos de produção: têxtil, vestuário,
mobiliário etc.

Haverá uma campanha estimulando o cadastramento das PMEs em portais
próprios.

Depois, cada uma delas será certificada pelo SENAI e pelo SEBRAE de sua
região.

A certificação é o atestado de que ela tem condições de produzir de
acordo com critérios de qualidade e rapidez.

Caberá ao projeto organizar os produtores para negociar com as grandes
plataformas.

Eles poderão ser produtores para marcas conhecidas, ou – com assessoria
do Sebrae e do BB – montar sua própria linha de produção e marcas próprias.


      As Brigadas da Informação.

Para dar visibilidade midiática ao projeto:

1. Criação de Brigadas da Informação, formadas por técnicos do Senai,
Sebrae, Banco do Brasil e governo.

2. Seleção de cidades e empresas para receber a visita das brigadas.

3. Evento público com as empresas e os arranjos, visando estimulá-las
para a certificação e para o projeto.

4. Cada cidade será tratada como Polo de Desenvolvimento.

5. Inauguração do Polo, com presença da ABDI, CNI, da Federação de
Indústria local, dos sindicatos e de autoridades do governo, como o
Ministro do Desenvolvimento e o próprio Presidente da República


    Peça 7 – à guisa de conclusão

Enfim, Lula tem à mão todos os ingredientes para marcar definitivamente
o modelo Lula 3, preparando o país para o maior desafio da sua história:
ou reencontrar a vocação de grandeza, que se perdeu nas dobras do tempo,
ou entregar-se ao bolsonarismo-tarcisismo, que significará o fracasso
final como projeto de nação.

Uma bandeira mobilizadora da sociedade, de trabalhadores, empresários,
crentes de todas as religiões, terá o condão de fornecer ao presidente a
força política para superar as restrições do Congresso e do mercado.

Em
JORNAL GGN
https://jornalggn.com.br/politica/xadrez-da-maior-luta-nacional-de-todos-os-tempos-por-luis-nassif/
18/3/2025

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