por César Príncipe [*]
O anti-sovietismo primário, secundário e universitário e a russofobia emergente elevaram Estaline [6] a sineta-mor dos pestíferos. Não admira: o estalinismo constitui uma das rações de combate de eficácia garantida junto das cabeças de cérebro rapado. Mas os alimentadores de campanhas não são labregos. Têm um plano e um orçamento. O estalinismo é usado para desautorizar ou matar à renascença quanto cheire a socialismo, afastando desta veleidade o mundo do trabalho e a pequena-burguesia e fazendo pairar o labéu sobre um país que (embora retornado às lógicas do Kapital e carente de uma via socialista autocrítica) não abdica da sua soberania nem do seu desempenho geo-estratégico, o que dificulta o domínio das nações e de seus recursos pelos executivos chicaguenses, pentagonenses e cianenses. E a ignorância hiperactiva campeia: a maioria absoluta dos anti-estalinistas e pró-estalinistas nunca soube nem procurou saber quem foi Estaline e o que terá sido o estalinismo concreto e contextualizado. (Estudar estes assuntos implica trabalho diurno e nocturno e não garante bolsas de estudo nas Universidades George Soros). No período dos guardas brancos (de todas as cores) e da internacionalização militar dos conflitos de classe, dos processos de industrialização acelerada e da colectivização da terra, da opção por mais escolas e hospitais e menos bolbos dourados das igrejas e do preço da vitória sobre as hordas nazis (25 milhões de mortos e 80% das estruturas urbanas e fabris destruídas) – não há dúvida de que, no meio da inversão da pirâmide classista e na sequência de batalhas que só fecharam o ciclo em 1945, se verificaram perversões do ideário original que mancham mas não anulam o saldo progressista (plurinacional e mundial) da Revolução de Outubro. O Congresso do PCUS/1956 denunciou os desmandos da época de Estaline. O Congresso dos Estados Unidos nunca se penitenciou do genocídio dos índios, da escravidão em massa, do lançamento de bombas atómicas, das guerras intermináveis e do fomento e suporte de ditaduras por todo o planeta. A tese de Putin convida à reflexão. Que tal um Congresso Cromwell-Napoleão-Estaline, financiado pelo Programa Erasmus? Por acaso ou por unção ou amnésia ou falta de registo, não cometeram e não toleraram graves erros e arbitrariedades? Para estes queridos líderes , aplicar-se-á a magnânima tese de que, face às circunstâncias, não poderia ter sido de outra maneira? Tiveram pleno direito de se enganar e de se exceder e de não se arrepender ou condoer? Cromwell e Napoleão e outros regentes e agentes serão impróprios para figurar ao lado, por baixo ou por cima de JE? E que tal um relance pelos álbuns das nações? Mais ídolos? Júlio César e Godofredo de Bulhão e Átila e Gengis Khan e Hong Xiuguan e Afonso de Albuquerque e Carlos V e Hernán Cortés e Tamerlão e Vlad Tepes e Abdul Hamid II e Leopold II e Nicolau II e Hitler e Mussolini e Hirohito e Shiro Ishii e Franco e Chiang Kai-Kak e Harry Truman e Werwoerd e Reza Pahlevi e Duvalier e Rios Montt e Somoza e Stroessner e Mobutu e Idi Amin e Kissinger e Dinh Diem e Pol Pot e Shuharto e Zia Ul Haqq e Lyndon Johnson e John Kennedy e Chun Doo-hwan e Bush e Clinton e Kagame? E Obama, Prémio Nobel da Guerra? As atrocidades e iniquidades directas ou sob a tutela de Homens de Estado desta envergadura merecem indulto, resguardo e reverência? E as empresas que colaboraram e lucraram com o nazismo, algumas comprometidas com o instrumental bélico e torcionário, o holocausto, o trabalho escravo, a lavagem de dinheiro, a propaganda negra, a espionagem? Porque não são chamadas aos bancos dos réus pelos magistrados políticos, académicos e mediáticos? Interesses cruzados? Memória à la carte ? Insanável duplicidade? Fontes? Estão disponíveis à distância de uma tecla. Empreendedores-entusiastas do III Reich não escassearam: exemplos? – Thyssen Krupp, MAN, BASF, BDF, Henkel, Siemens, Daimler-Benz, Porsche, Volkswagen. BMW, Ford, Commerzbank, Deutsche Bank, Suisse Bank, Allianz, General Motors, General Electric, IBM, Lufthansa, Bosch, Hoechst, Bayer, Kodak, Hugo Boss, Coca-Cola, Nestlé. E se alguma instituição (tipo TERP) [7] negociasse com estas companhias prestige o reconhecimento dos seus pactos com o Diabo Ariano? Nem se clama por justiça à Nuremberga ou sequer à Haia. Seria ingénuo. Os procuradores e juízes das altas instâncias são avessos a acórdãos que perturbem a pax capitalista. Constituiria um sinal esperançoso que (ao menos) se gravasse uma punção nos produtos e serviços suásticos (à maneira dos metais preciosos, das baixelas fidalgas, dos botões de punho): HCG. [8] Mas não se antevê qualquer contrição e reparação. Os empresários do nazismo passaram incólumes nos santos e altissonantes inquéritos do pós-guerra. Para expiar os delitos deste mundo basta um georgiano, filho de um sapateiro e de uma costureira. Estaline está na moda. Bate Hugo Boss. [2] LPN/Livros da Peste Negra. [3] BPESP/Bases do Primeiro Estado Socialista do Planeta. [4] Sneg. Neve. [5] Malorússia. Pequena Rússia. [6] José Estaline (1878-1953). Nascido em Gori, Geórgia. Secretário-geral do PCUS (1922-1953). Primeiro-ministro (1941-1953). Comissário do Povo para a Defesa (1941-1947). [7] TERP/Tribunal Europeu de Registos & Patentes. [8] HCG/Hansa Cruz Gamada. Die Hanse ou Hansa ou Liga Hanseática ou Germânica: sistema de organização económico-mercantil que fez lei na Europa do séc. XII ao séc. XVII. Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |
18/Dez/17
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