sábado, 7 de julho de 2018

Imigração: Guerras Ocidentais e Exploração Imperial desenraízam milhões



 
James Petras
O “mundo Ocidental” tem na imigração um tema com várias vertentes. Mas nenhuma
delas vai ao essencial do problema: as causas dessa imensa deslocação de massas
humanas. Porque as causas de fundo são as guerras e a exploração desenfreada por
parte das mesmas potências que agora lamentam a chegada de milhões oriundos de
países que condenaram à pobreza e destruíram.


Introdução:
 A ”imigração” tornou-se o tema dominante que divide a Europa e os EUA, mas
todavia a questão mais importante que vem levando milhões a emigrar é ignorada –
as guerras.
 Iremos neste estudo discutir as razões que estão por detrás da massificação da
emigração, focando diversos temas, nomeadamente: (1) guerras imperiais (2)
expansão multinacional das grande corporações (3) o declínio dos movimentos
antiguerra nos EUA e na Europa Ocidental (4) a debilidade dos movimentos
sindicais e de solidariedade.
Iremos partir da identificação dos maiores países afectados por guerras dos EUA
e da UE conduzindo a emigração massiva, e voltar-nos depois para as potências
ocidentais forçando os refugiados a “seguir” os fluxos dos lucros.
Guerras Imperiais e Emigração em Massa
 As invasões e guerras dos EUA no Afeganistão e Iraque desenraizaram milhões de
pessoas, destruindo as suas vidas, famílias, modo de vida, habitação e
comunidades e minando a sua segurança.
Em resultado disso, muitas das vítimas viram-se perante a escolha entre resistir
ou fugir. Milhões escolheram fugir apar Ocidente, uma vez que os países da NATO
não iriam bombardear a sua residência nos EUA ou na Europa. Outros que fugiram
para países vizinhos foram perseguidos ou ficaram a residir em países demasiado
pobres para lhes oferecerem emprego ou oportunidades de vida.
Alguns afegãos fugiram para o Paquistão ou o Médio Oriente mas vieram a
descobrir que essas regiões eram também objecto de ataques armados do Ocidente.
Os iraquianos foram devastados por sanções ocidentais, invasão e ocupação e
fugiram para a Europa e, em menor escala, para os EUA, Estados do Golfo e Irão.
Antes da invasão pelos EUA-UE, a Líbia era um país “receptor”, aceitando e dando
emprego a milhões de africanos, atribuindo-lhes cidadania e condições de vida
decentes. Depois do ataque EUA-UE e o armamento e financiamento de bandos
terroristas, centenas de milhares de imigrantes subsarianos foram forçados a
fugir para a Europa. Muitos atravessaram o Mar Mediterrâneo em direcção ao
ocidente via Itália, Espanha, e encaminharam-se para os prósperos países
europeus que tinham devastado as suas vidas na Líbia.
Os exércitos terroristas, clientes financiados e armados pelos EUA-UE que
atacaram o governo sírio e forçaram milhões de sírios a fugir através das
fronteiras para o Líbano, Turquia e, mais longe para a Europa, causando a
chamada “crise de imigração” e a ascensão de partidos de direita anti-imigração.
Isto levou a divisões no interior dos partidos social-democratas e conservadores
estabelecidos, uma vez que sectores da classe operária se tornaram
anti-imigrante.
A Europa está a colher as consequências da sua aliança com o imperialismo
militarizado EUA, que desenraíza milhões de pessoas enquanto a UE despende
milhares de milhões de euros para cobrir o custo de imigrantes em fuga das
guerras ocidentais.
A maioria dos apoios sociais recebidos pelos imigrantes fica muito longe das
perdas sofridas nas suas terras. Os seus empregos, habitações, escolas e
associações cívicas nos EUA e na UE têm muito menos valor do que aquilo que
possuíam nas suas comunidades de origem.
Imperialismo Económico e Imigração: América Latina
 As guerras, intervenções militares e a exploração económica dos EUA forçaram
milhões de latino-americanos a emigrar para os EUA, Nicarágua, El Salvador e
Honduras, empenhados na luta popular por justiça socioeconómica e democracia
política entre 1960 e 2000. À beira da vitória sobre os terratenentes oligarcas
e as corporações multinacionais, Washington bloqueou os insurgentes populares
gastando milhares de milhões de dólares a armar, treinar e aconselhar as forças
militares e paramilitares. A reforma agrária foi abortada; sindicalistas foram
forçados a exilar-se e milhares de camponeses fugiram às campanhas de terror e
pilhagem.
A época das Guerras Imperiais
 Os regimes oligárquicos apoiados pelos EUA forçaram milhões de desalojados e
desenraizados, desempregados e sem terra e fugirem para os EUA.
Golpes e ditadores apoiados pelos EUA resultaram em 50.000 na Nicarágua, 80.000
em El Salvador e 200.000 em Guatemala. O Presidente Obama e Hillary Clinton
apoiaram um golpe militar em Honduras que derrubou o Liberal Presidente Zelaya —
o que levou a que milhares de activistas camponeses e defensores dos direitos
humanos fossem mortos ou feridos, ao regresso dos esquadrões da morte,
resultando numa nova vaga de emigração para os EUA. O acordo de comércio livre
promovido pelos EUA (NAFTA) levou centenas de milhares de agricultores mexicanos
à ruína e aos baixos salários nas maquiladoras; outros foram recrutados pelos
cartéis da droga; mas a maior parte foi forçada a imigrar através do Rio Grande.
O “Plano Colômbia” lançado pelo Presidente Clinton instalou sete Bases militares
dos EUA na Colômbia e disponibilizou 1 milhar de milhões de dólares de ajuda
militar entre 2001 e 2010. O Plano Colômbia duplicou a dimensão das forças
armadas colombianas.
 A acção do Presidente Alvaro Uribe resultou no assassínio de mais de
200.000camponeses, activistas sindicais e defensores dos direitos humanos por
parte dos esquadrões da morte dirigidos por Uribe. Mais de dois milhões de
agricultores fugiram dos campos e imigraram para as cidades ou para o outro lado
das fronteiras.
As empresas norte-americanas garantiram centenas de milhares de trabalhadores
agrícolas e industriais latino-americanos com baixos salários e praticamente na
totalidade sem garantias sociais nem de saúde – embora pagassem impostos.
A imigração duplicou os lucros, minou os contratos colectivos e baixou os
salários nos EUA. “Empreendedores” EUA sem escrúpulos recrutaram imigrantes para
as drogas, prostituição, negócio de armas e lavagem de dinheiro.
Políticos exploraram a questão da imigração para obter ganhos políticos –
responsabilizando os emigrantes pelo declínio dos padrões de vida da classe
operária, desviando a atenção da causa real: guerras, invasões, esquadrões da
morte e pilhagem económica.
Conclusãob/b>
Tendo destruído as vidas dos trabalhadores no estrangeiro e derrubado dirigentes
progressivos como o Presidente líbio Khadafi ou o Presidente das Honduras
Zelaya, milhões foram forçados a tornar-se emigrantes.
Iraque, Afeganistão, Síria, Colômbia, México assistiram à fuga de milhões de
emigrantes – todos eles vítimas das guerras dos EUA e da UE. Washington e
Bruxelas responsabilizaram as vítimas e acusaram os imigrantes de ilegalidade e
de conduta criminosa.
 O Ocidente debate a expulsão, a detenção e a prisão em vez das reparações
devidas por crimes contra a humanidade e violações do direito internacional.
 Para restringir a imigração o primeiro passo é pôr fim às guerras imperiais,
retirar as tropas, acabar com o financiamento a paramilitares e a terroristas ao
serviço.
 Em segundo lugar, o Ocidente deveria estabelecer um fundo de longo prazo de
multi-biliões para a reconstrução e a recuperação das economias, mercados e
infra-estruturas que bombardearam.
 O falecimento do movimento da paz permitiu aos EUA e à UE lançar e prolongar
guerras em série que conduziram a emigração massiva – a chamada crise dos
refugiados e fuga para a Europa. Existe uma ligação directa entre a conversão
dos liberais e social-democratas a partidos da guerra e o forçado êxodo de
emigrantes em direcção à UE.
 O declínio dos sindicatos e, pior, a sua perda de militância conduziu à perda
de solidariedade com as pessoas vivendo no meio das guerras imperiais. Muitos
trabalhadores dos países imperialistas dirigiram a sua ira contra os “debaixo” –
os imigrantes – em vez de contra os imperialistas que dirigiram as guerras que
criaram o problema da imigração.
 Imigração, guerra, o desaparecimento dos movimentos da paz e dos trabalhadores
e partidos de esquerda tem levado à ascensão dos militaristas e neoliberais que
têm vindo a assumir o poder por todo o lado no Ocidente. As suas políticas
anti-imigração têm, contudo, provocado novas contradições no interior de
regimes, entre elites dos negócios e entre movimentos populares na UE e nos EUA.
A luta da elite e a luta popular podem conduzir no mínimo em duas direcções – em
direcção ao fascismo ou em direcção à social-democracia radical.
Prof. James Petras é um Investigador Associado do Centre for Research on
Globalization.
Fonte:https://www.globalresearch.ca/immigration-western-wars-and-imperial-exploitation-uproot-millions/5645586

In
O DIARIO.INFO
https://www.odiario.info/imigracao-guerras-ocidentais-e-exploracao-imperial/
7/7/2018

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