sábado, 11 de abril de 2020

O fetiche da tecnologia - a experiência das fábricas recuperadas (livro)



Henrique Tahan Novaes
O fetiche da tecnologia - a experiência das fábricas recuperadas
Marília-SP: Lutas Anticapital, 2020.


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Pós-fácio

Quem sonha com uma sociedade livre das mazelas do capitalismo já indagou a respeito da razão pela qual as revoluções proletárias se têm detido em algum ponto inicial da trajetória necessária para consumar o que Marx e Engels teorizaram como comunismo. Essa questão e a tentava de responde-la ilumina toda a análise do objeto precípuo deste trabalho, o Fetiche da tecnologia – a experiência das fábricas recuperadas (FRs).
As FRs constituem a forma mais radical e totalizante de controle da produção exercido pelos trabalhadores sob o regime burguês. A sua peculiaridade está em que as mesmas introduzem modificações socializantes no processo de trabalho, o que o autor apreende valendo-se da noção de adaptação sociotécnica (AST). As FRs apresentam um potencial pró-socialista, porém, se elas poderão se somar ao movimento dos trabalhadores que visa ultrapassar a revolução burguesa a fim de fazer a revolução proletária já é outra história.
As transformações que as FRs podem promover no processo de trabalho sob o domínio do capital são limitadas. Mas, descontado esse limite, resta que a situação das FRs lembra a dos países autodenominados socialistas, os quais tem revolucionado a sociedade muito menos do que podem fazê-lo, ao menos em tese. Em ambos os casos, a razão para isso, ou, pelo menos uma razão crucial segundo Novaes, é uma concepção errônea do conceito de forças produtivas (FPs), ou por outra, da tecnologia – se a tomarmos em amplíssima acepção.
O problema é a poderosa influência do fetichismo da tecnologia na teoria social e no censo comum. A visão dominante (burguesa) de tecnologia é a de um fenômeno socialmente neutro, autônomo, de desenvolvimento ilimitado e provedor de progresso infinito. Essa concepção não bate com a realidade, uma vez que, a tecnologia é indissociável das relações de produção. E sob o capital, ela tanto serve para aumentar a produtividade, quanto para submeter os trabalhadores. Infelizmente, sustenta Novaes, no que concerne ao tema das FPs, o pensamento marxista tampouco escapou dessa influência fetichista. Com efeito, o fato de que na Revolução Russa, p.e., cabeças teóricas e políticas da estatura de Lênin e Trotsky tenham defendido o uso do taylorismo para promover o socialismo em detrimento do controle/gestão do operariado, parece corroborar essa tese.
Nas FRs, independentemente de os atores serem marxistas ou não, o processo de trabalho é pouco revolucionado e a tecnologia capitalista continua a ser encarada como o “deus” do progresso.  Em decorrência, o revolucionamento das relações de produção tampouco avança. Assim, as FRs, vivem sobre o fio da navalha, equilibrando-se entre o impulso à reconversão capitalista, ou, o avanço na AST rumo a uma mais ampla e profunda socialização do processo de trabalho.  Neste último caso, uma das condições para que o potencial socialista das FRs prospere, indica Novaes, é a necessidade de que, tanto os marxistas quanto os demais atores da economia ligada ao trabalho associado (FRs),  livrem-se da influência do fetichismo e desenvolvam tecnologias em acorde com o projeto socialista de superar a alienação do trabalho.

Candido G.Vieitez

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