Henrique Tahan Novaes
O fetiche da tecnologia - a experiência das fábricas recuperadas
Marília-SP: Lutas Anticapital, 2020.
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Pós-fácio
Quem sonha com
uma sociedade livre das mazelas do capitalismo já indagou a respeito da razão
pela qual as revoluções proletárias se têm detido em algum ponto inicial da
trajetória necessária para consumar o que Marx e Engels teorizaram como
comunismo. Essa questão e a tentava de responde-la ilumina toda a análise do
objeto precípuo deste trabalho, o Fetiche
da tecnologia – a experiência das fábricas recuperadas (FRs).
As FRs constituem
a forma mais radical e totalizante de controle da produção exercido pelos
trabalhadores sob o regime burguês. A sua peculiaridade está em que as mesmas
introduzem modificações socializantes no processo de trabalho, o que o autor
apreende valendo-se da noção de adaptação sociotécnica (AST). As FRs apresentam
um potencial pró-socialista, porém, se elas poderão se somar ao movimento dos
trabalhadores que visa ultrapassar a revolução burguesa a fim de fazer a revolução
proletária já é outra história.
As
transformações que as FRs podem promover no processo de trabalho sob o domínio
do capital são limitadas. Mas, descontado esse limite, resta que a situação das
FRs lembra a dos países autodenominados socialistas, os quais tem revolucionado
a sociedade muito menos do que podem fazê-lo, ao menos em tese. Em ambos os
casos, a razão para isso, ou, pelo menos uma razão crucial segundo Novaes, é
uma concepção errônea do conceito de forças produtivas (FPs), ou por outra, da
tecnologia – se a tomarmos em amplíssima acepção.
O problema é a
poderosa influência do fetichismo da tecnologia na teoria social e no censo comum.
A visão dominante (burguesa) de tecnologia é a de um fenômeno socialmente neutro,
autônomo, de desenvolvimento ilimitado e provedor de progresso infinito. Essa
concepção não bate com a realidade, uma vez que, a tecnologia é indissociável
das relações de produção. E sob o capital, ela tanto serve para aumentar a
produtividade, quanto para submeter os trabalhadores. Infelizmente, sustenta
Novaes, no que concerne ao tema das FPs, o pensamento marxista tampouco escapou
dessa influência fetichista. Com efeito, o fato de que na Revolução Russa,
p.e., cabeças teóricas e políticas da estatura de Lênin e Trotsky tenham
defendido o uso do taylorismo para promover o socialismo em detrimento do
controle/gestão do operariado, parece corroborar essa tese.
Nas FRs,
independentemente de os atores serem marxistas ou não, o processo de trabalho é
pouco revolucionado e a tecnologia capitalista continua a ser encarada como o
“deus” do progresso. Em decorrência, o
revolucionamento das relações de produção tampouco avança. Assim, as FRs, vivem
sobre o fio da navalha, equilibrando-se entre o impulso à reconversão capitalista,
ou, o avanço na AST rumo a uma mais ampla e profunda socialização do processo
de trabalho. Neste último caso, uma das
condições para que o potencial socialista das FRs prospere, indica Novaes, é a
necessidade de que, tanto os marxistas quanto os demais atores da economia
ligada ao trabalho associado (FRs), livrem-se
da influência do fetichismo e desenvolvam tecnologias em acorde com o projeto
socialista de superar a alienação do trabalho.
Candido
G.Vieitez
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