quinta-feira, 2 de abril de 2020

Rumo a uma Frente de Salvação Popular


 


      – Impõe-se o resgate do nosso povo e não dos monopólios
      financeiros e empresariais que o parasitam

*por Red Roja *

Frente de Salvação Popular. O colapso sanitário que já ninguém nega
colocou na ordem do dia as reivindicações dos colectivos de luta pela
defesa da Saúde Pública: maiores recursos orçamentais, começando por
reverter os brutais cortes da década anterior, e anular as privatizações
que pretenderam fazer da saúde um negócio que, além disso, discrimina
entre pacientes conforme a sua classe social. Vemos como a saúde pública
derroca enquanto os hospitais de gestão privada com financiamento
público olham para outro lado e as seguradoras privadas, em meio da
tragédia, pretendem abrir o seu próprio caminho com a angústia do povo.
Por tudo isso, hoje torna-se indispensável *nacionalizar de forma
definitiva a saúde privada, * revogando a lei 15/97. Mas isto não é
suficiente na actual conjuntura de emergência sanitária e social. Há que
assegurar ao máximo o fornecimento do material hospitalar e de protecção
intervindo no âmbito empresarial, incluindo a indústria farmacêutica. No
aspecto laboral, a referida protecção tem que acabar com essa imagem
danosa de trabalhadores forçados a realizar seu trabalho sem condições
de segurança. Ao mesmo tempo, impõe-se uma *planificação social do
confinamento * é necessário para travar o abandono em que grandes
sectores da população foram mergulhados após o esgotamento dos já
escassos serviços sociais. E é necessária uma intervenção no domínio da
habitação, diante da incerteza que pesa sobre milhares de famílias
quanto à forma como vão assegurar o pagamento das suas rendas e hipotecas.

Mas esta emergência sanitária acelerou e agravou a profunda crise
socioeconómica que já se antecipava. Até ao momento, mais de 1,7 milhões
de trabalhadores foram afectados pelos ERTE, facilitados pelo governo.
Assistimos a uma verdadeira avalanche de mais de 200 mil deles, dos
quais os maiores são os do El Corte Inglés, Securitas Direct, Seat,
Burger King, Iberia, Renault... à espera da ERTE da Inditex que afectará
outros 25 mil trabalhadores. Todos percebem que, dada a recessão que nos
ameaça e a dependência endémica do turismo, muitos destes trabalhadores
acabarão por perder seus empregos de modo definitivo. Mas, além disso,
inúmeras empresas não estão a recorrer ao ERTE, mas sim ao despedimento
individual e definitivo.

O governo aprovou uma série de medidas que, embora anunciadas como um
"escudo social", poderiam antes ser descritas como um escudo para os
bancos e as grandes empresas. O Estado garantirá 117 mil milhões para
que a banca possa administrar mais empréstimos a seu critério e com
total segurança. Obviamente, serão os grupos financeiros a decidir a
qual empresa emprestar e a qual não emprestar. É mais que provável que a
lógica financeira os leve a conceder esse dinheiro às grandes
corporações com as quais os bancos estão entrelaçados. E além disso, sem
risco algum: de facto, quando se verificar um não pagamento o avalista é
o Estado. O que acontecerá às 150 mil pequenas empresas e aos três
milhões de trabalhadores autónomos sobre os quais pende a ameaça de
encerramento definitivo das suas actividades? Por seu lado, a UE aprovou
que o BCE compre 750 mil milhões de euros em activos. Qual é a dúvida de
que a parte destes destinada à Espanha será utilizada para comprar
obrigações destes mesmos bancos e grandes corporações?

Todas estas medidas a favor do grande capital antecipam um novo
salvamento que, se não acabar nos mesmos termos do anterior, é porque o
próprio sistema tem menos margem de manobra e as lutas dentro da própria
UE estão a ser exacerbadas. São precisamente os Estados dominantes desta
União Europeia que querem utilizar a crise para, através da arma da
dívida, conquistar sectores inteiros dos países mais fracos, como já
ocorreu com a Grécia há poucos anos atrás. *Devemos portanto alertar
contra a utilização propagandística do coronavírus para encobrir a
podridão e a barbaridade intrínsecas de um sistema dominado pelo
parasitismo financeiro, * que já nem sequer é capaz de estabilizar a
"sua" própria economia real produtiva. E consequentemente *devemos
também imunizar-nos o quanto antes contra a utilização perversa do
estado de alarme, * que dita o confinamento para nos amordaçar ainda
mais e sufocar a capacidade de luta redobrada que vamos precisar.

Devemos aprender com as experiências acumuladas da primeira grande
réplica da crise sistémica de 2007-2008, da qual ainda arrastamoa os
cortes sociais e trabalhistas que foram o contraponto do primeiro grande
resgate do grande capital "pátrio". E também temos de reter as lições
das marés de mobilizações começadas em 2011, em grande medida sufocadas
no altar de um reformismo cada vez mais impossível e do ilusionismo e da
politicagem eleitoralista. A partir daquele ciclo de mobilizações
sectoriais maciças e dispersas, ficou pendente a sua fusão numa única
torrente que abraçasse um programa comum que não se limitasse a demandas
particulares, nem à crítica de um ou outro governo do dia ao serviço do
grande capital, mas que visasse questionar o verdadeiro poder político.
Hoje cabe-nos completar esta tarefa.

Como resposta à crise económica que se está a forjar e para reverter as
cruéis consequências sociais e laborais que terá, propomos às
organizações operárias e ao activismo social promover uma frente comum
dedicada a salvar o povo e não o grande capital. Exortamos à unificação
de todos os sectores em luta e à adopção de um conjunto mínimo de
medidas que, sem serem de nenhum sector em particular, sejam de todos:
uma alternativa política comum que aponte claramente para a disputa do
poder real, sem o qual nenhuma das medidas propostas por qualquer sector
terá garantias de ser obtida e mantida.

1) *A expropriação da banca privada, * que parasita através do crédito
arbitrário ao resto da sociedade, asfixiando a própria economia
produtiva real. Um parasitismo cada vez mais presente na forte
competição internacional, com o resgate bancário como arma de luta entre
potências estrangeiras. Como contraponto, a criação de um banco público
sólido que relance a produção.

2) *A recusa de pagar a chamada "dívida pública", * uma ferramenta
/criada artificialmente / pelo capital financeiro internacional e
nacional para nos manter indefinidamente submetidos à sua chantagem. Só
o pagamento dos juros sobre a Dívida já ascende a 31,4 mil milhões de
euros por ano, 86 milhões de euros por dia. Recursos que poderiam ser
destinados a resgatarem o povo.

3) *A ruptura com os ditames da UE, * cujos gestores rapinantes optaram
pelo "salve-se quem puder", mesmo perante o drama vivido nos âmbitos
estatais italiano e espanhol, consagrando-nos na nossa condição de
quintal das potências centrais desse bloco imperialista.

4) Finalmente, impõe-se *a intervenção das grandes empresas de produção
e distribuição, * evitando assim a fuga de capitais que já se está a
verificar e que contribui muito para deixar milhões de trabalhadores
paralisados de forma crónica e, inclusive, literalmente despejados na rua.

Só assim poderemos tornar realidade o que é mais necessário:

5) *Implementar a planificação racional e democrática da economia * em
função das necessidades reais da população e não ao serviço da
especulação e do lucro dos oligarcas. Hoje, a quebra já constatada de
sectores como a construção e o turismo permite-nos repensar o nosso
modelo de desenvolvimento.

Este programa político pode ser modificado e tornado mais preciso,
sempre dentro do espírito de uma ruptura com a (des)ordem económica
existente. Mas, em qualquer caso, é necessário dar a estas ideias uma
cristalização política. O inimigo vai valorizar a sua experiência e nós
temos de fazer o mesmo. Se no período anterior de crise não foi
possível, não há tempo a perder. Apelamos ao povo e ao activismo
sindical, social e político. É tempo de pôr de lado as nossas legítimas
diferenças e começar a trabalhar para formar uma Frente de Salvação
Popular, para que esta crise não seja paga pelo povo e sim pela
oligarquia financeira e económica que a provocou.

Saudamos também as redes de auto-apoio popular que foram criadas e que,
não por acaso, surgiram onde o activismo se manteve forte. Para
materializar esta proposta será vital contar com o poder popular de base.

Construir poder popular por toda a parte, mas com um programa unitário
de ruptura. Tal é a estratégia de que necessitamos para que os sectores
populares e seus diferentes destacamentos possam fazer frente a esta
avalanche e passar ao contra-ataque.

Red Roja, 1 de Abril de 2020

*O original encontra-se em www.redroja.net/...
<http://www.redroja.net/index.php/noticias-red-roja/noticias-cercanas/5537-hacia-un-frente-de-salvacion-popular>*

In
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/espanha/red_roja_31mar20.html
3/4/2020

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