Alysson Mascaro
Filósofo e jurista critica ausência de uma estratégia de poder e
abandono da perspectiva socialista edit
No programa /20 MINUTOS ENTREVISTAS/ desta segunda-feira (07/06), o
jornalista Breno Altman entrevistou Alysson Mascaro, jurista, filósofo e
professor de Direito da Universidade de São Paulo sobre socialismo e a
luta dos partidos de esquerda no Brasil.
Na opinião de Mascaro, “temos uma esquerda liberal que defende a ordem
burguesa, de forma que está desconectada do marxismo”. Ele defendeu que
a esquerda, ao se preocupar demais com eleições, se dissociou da luta
real, perdendo as perspectivas de transformação efetiva da sociedade.
“Se o sistema me deu espaço, eu não me rebelo contra ele. Todos estamos
atravessados pela ordem do capital, mas existem aqueles que querem
mantê-la e a esquerda é assim. Louva a ordem às instituições, àquilo que
chama de democracia, ao republicanismo”, criticou.
Ele não rejeitou, contudo, a necessidade de eleições, pois, no caso de
vitória progressista, “servem para mudar objetivamente a vida de uma
pessoa que vive em condições horríveis”. Por outro lado, ponderou: “Com
eleição, eu sustento uma política de transformação de mundo? Não. Bato
nas estruturas, sei onde quero chegar? Não. Tudo que se ganha em
eleições, quando é eleito alguém de direita, se perde. Não deixo de
reconhecer o impacto das eleições, a questão é que não é por essas
formas que se sai da sociabilidade capitalista”, argumentou o professor.
Ele explicou que a democracia é um mecanismo de manutenção do Estado
que, por sua vez, é um mecanismo de manutenção do capital. Sem Estado,
não haveria, portanto, o capital, pois o sistema precisa do Estado para
garantir sua existência.
Nesse sentido, não adiantaria, por exemplo, convocar uma Assembleia
Constituinte no caso de eleger um governo progressista. “O Direito não
salva o mundo. Não é uma Constituição burguesa contra outra não
burguesa. Se há Estado, é um Estado do capital”, reforçou.
Retomando as características revolucionárias
Para o professor, eleições podem servir, porém, para mexer com as bases
do Estado capitalista, “reestatizando o que foi privatizado,
revitalizando as Forças Armadas a favor da população e com projeto de
poder, reformando a educação”, por exemplo. No entanto, “como os
governos de esquerda só dão força para o capital, não chegamos a isso”.
Mascaro refletiu, então, sobre os elementos necessários para que a
esquerda recupere suas características revolucionárias, deixando de ser
liberal. Segundo ele, o primeiro passo seria entender, justamente, que o
poder não está nas instituições legais e que as pessoas não são todas
iguais perante as leis que regem a sociedade. "A ordem é do capital.
Portanto, é preciso superar o capital. Só o marxismo enxerga isso, então
precisamos voltar a nos aproximar dessa lógica", explanou.
Enxergando isso, a esquerda poderia começar a fazer seu trabalho
ideológico de maneira correta, “porque se eu não identifico e falo que o
problema é o capitalismo, eu nunca vou solucionar o capitalismo”. Mas
falar de socialismo, de acordo com Mascaro, “é a coisa que mais dói nas
pessoas”.
O professor citou o exemplo da Venezuela onde Hugo Chávez, ao dizer que
o capitalismo era o problema e o socialismo era a solução, gerou uma
energia revolucionária “impressionante”: “O pobre começou a ter a
dimensão de que a superação da condição dele passa por uma coisa que é o
socialismo, mesmo que ele não soubesse o que era socialismo naquele
momento”.
“Mas a esquerda não entende isso, aí tem impeachment, tem golpe… Lula
nunca vai dizer que foi preso por causa do capitalismo, então vai levar
outro golpe”, ressaltou.
Centros socialistas
Mascaro propôs, como forma de aproximar a população do marxismo, a
criação de “centros socialistas”.
“A convivência das pessoas não se faz mais pelo ambiente de trabalho, as
pessoas estão em home office, em locais com equipes pequenas. O peso dos
sindicatos na abertura da consciência das pessoas ficou menor. As
pessoas se orientam pelo celular, redes sociais e seus núcleos de
sociabilidade imediata, família, vizinhança, bairro e igreja. Então como
podemos abrir um espaço de luta ideológica?”, contextualizou o professor.
Para ele, a resposta são os centros socialistas, pequenos espaços
comerciais ou culturais onde se fale de Marx, Engels, Rosa Luxemburgo,
entre outros.
“Vão falar errado, não vão ler /O Capital/, mas não é isso que importa,
não quero que formem cientistas. É pra dar impulso às pessoas, para que
saiam dizendo que precisam se mobilizar e mobilizar os seus por uma luta
transformadora. Para que vejam que o comunismo, diferentemente do que
diz a igreja, não é o demônio”, disse Mascaro.
In
BRASIL 247
https://www.brasil247.com/brasil/nossa-esquerda-e-liberal-diz-alysson-mascaro
11/6/2021
***
o campo de trabalho ficou irrelevante?
Em tudo por tudo, muito improvável.
sábado, 12 de junho de 2021
‘Nossa esquerda é liberal’, diz Alysson Mascaro ***
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