domingo, 13 de outubro de 2024

Jessé Souza critica estratégia identitária da esquerda e vê avanço da direita nas periferias




    Sociólogo critica abandono das periferias pela esquerda e alerta
    para a influência das igrejas evangélicas no avanço da direita


*247 - *O sociólogo Jessé Souza, autor de “O pobre de direita — a
vingança dos bastardos”, concedeu entrevista ao jornal O Globo na qual
analisa o fenômeno do apoio de camadas populares ao bolsonarismo e
critica a postura dos partidos de esquerda nas últimas eleições. Souza,
que já presidiu o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no
governo Dilma Rousseff, destaca a combinação entre racismo regional e a
inação da esquerda como fatores centrais para entender o apelo do ex-
presidente Jair Bolsonaro e de figuras como Pablo Marçal, especialmente
nas periferias de São Paulo.

Segundo o sociólogo, a adesão de muitos eleitores pobres à direita é
marcada pela influência das igrejas evangélicas e pela disseminação de
valores neoliberais e reacionários, muitas vezes promovidos pela
Teologia da Prosperidade. Ele explica que, ao não disputar narrativas e
deixar de lado o trabalho de base nas periferias, a esquerda abriu
espaço para que esse discurso ganhasse força. “Passamos por um processo
de idiotização das pessoas e de inação dos que deveriam fazer um
trabalho de base de qualidade”, lamenta Souza.

Os números mostram que a falta de engajamento da esquerda em dialogar
com as comunidades periféricas tem um custo eleitoral. Souza menciona a
dificuldade de candidatos como Guilherme Boulos (PSOL) em conquistar
votos nas franjas da cidade de São Paulo, onde predominam eleitores que
se identificam mais com o discurso de candidatos de direita.

Além disso, Jessé Souza destaca que o bolsonarismo encontra terreno
fértil nas regiões sulistas e paulistas, onde há uma maior identificação
racial com Bolsonaro. “O pobre de direita de São Paulo ao Rio Grande do
Sul vê no ex-presidente Jair Bolsonaro um semelhante”, explica. Ele
também aponta que o ressentimento e a frustração econômica levam esses
eleitores a adotar uma postura moralista e a culpar outros grupos
sociais, como nordestinos e beneficiários do Bolsa Família.

Na entrevista, Souza também critica a abordagem identitária adotada pela
esquerda, considerando-a um “erro completo”. Ele defende que a esquerda
precisa, além de pautas de gênero e raça, retomar um diálogo que
explique as desigualdades econômicas e as limitações estruturais
enfrentadas pela maioria pobre. Para ele, isso inclui entender que o
mérito individual, promovido pelo discurso neoliberal, não pode ser a
única resposta à questão social.

O sociólogo alerta ainda para a crescente influência de líderes
religiosos como Pablo Marçal, que souberam capturar o imaginário
popular. Marçal é descrito como um “político Bets”, capaz de traduzir os
anseios d

Em
BRASIL 247
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13/10/2024

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