domingo, 17 de setembro de 2023

Quais poderiam ser as razões para o atraso ocidental nas armas hipersônicas?

 




      Jean-François Geneste

Já que estamos no Ocidente, lembremo-nos destas palavras de Richard
Feynman, ganhador do Prêmio Nobel de Física: “o objetivo do físico é
fazer as equações falarem”.

Notemos então que, no final da Guerra Fria, encontramo-nos numa situação
bastante estranha à primeira vista. O Ocidente levou a eletrônica e a
computação muito mais longe do que a União Soviética. Não ocorreu a
ninguém que este último tivesse prevalecido sem isso e contentamo-nos em
pensar, aqui, que o seu equipamento era obsoleto e ineficaz. O conflito
ucraniano demonstrou o contrário!

Porém, quem trabalhou em material adverso à queda do Muro de Berlim sabe
muito bem que o “inimigo” da época implementou tesouros de pensamento
para fazer com precisão as equações falarem e entender o que realmente
estava no jogo sem ter que passar cálculos pelo computador. Foi o caso,
por exemplo, dos chamados motores de propulsão espacial “iônicos”.

Enquanto isso, em casa, dependíamos cada vez mais de software.
Constituíam uma caixa preta sobre a qual não tínhamos controle e
“engoliamos” os resultados, quaisquer que fossem, como se fossem a
verdade nua e crua saindo do poço.

Muitas vezes um exemplo é melhor do que um longo discurso. Em 2013,
testei uma máquina que projetei em um túnel de vento digital. Foi
assinado contrato com a Escola de Minas que incluía um dos seus melhores
alunos do Politécnico de Milão. O objetivo do estudo era determinar os
coeficientes de arrasto e sustentação da minha aeronave. Eu tinha feito
uma estimativa manualmente que levou 10 minutos. Após 6 meses de
esforço, a supercalculadora produziu um coeficiente de arrasto igual ao
meu com precisão de 10%. Se pararmos a história aqui, você pode pensar
que eu estava 10% errado. Não! Na verdade, em essência, meu conceito
deveria de fato ter um coeficiente de sustentação diferente de zero. Mas
o que saiu do programa “infernal” foi zero. Foi, portanto, um erro claro
que mostrou que não podíamos ter qualquer confiança no resultado
relativo ao arrasto. Vou lhes poupar da análise que se seguiu, bem como
das suas conclusões.

Hoje, as escolas de engenharia, em pleno acordo com as empresas, querem
pessoas que sejam eficientes no manejo de diversas ferramentas de TI:
Catia, etc. Se de fato estes últimos, na altura em que foram concebidos,
trouxeram grandes progressos para aqueles que estavam habituados a
pensar, agora apenas “taylorizaram” a verdadeira profissão, degradando-a
enormemente, levando à melhoria incremental que amanhã será prerrogativa
da inteligência artificialidade (IA). Por outro lado, do meu ponto de
vista, substituir os físicos e engenheiros soviéticos daquela época pela
IA não seria absolutamente possível.

Portanto, é aqui que estamos e até que os nossos cientistas sejam
capazes de fazer com que as equações falem, parece muito improvável que
o Ocidente será capaz de fabricar mísseis hipersônicos dignos desse
nome. O que quero dizer com isso? Não foguetes que vão até Mach 5, que é
o limite entre o supersônico e o hipersônico, mas que chegam a Mach 9
como o Zircon ao nível do mar ou March 27, como o Avangard, em grandes
altitudes, mantendo-se manobráveis.

Para chegar a tal patamar é imprescindível retornar aos estudos com foco
no papel e lápis. Escreva as equações, tente resolvê-las manualmente e
entenda, ao fazer aproximações, ao que correspondem fisicamente e se são
legítimas.

Vejamos mais um exemplo. Existem os chamados circuitos de fluido de
mudança de fase para resfriar peças de, por exemplo, satélites. Se não
realizássemos, com aproximações /ad hoc/, uma expansão limitada à ordem
4 do sistema Navier-Stokes, não poderíamos conceber tais circuitos. Um
computador nunca será capaz de conseguir isso, embora excelentes
engenheiros no passado tenham conseguido fazê-lo.

Quando vemos hoje o baixo nível da matemática e da física em toda a
estrutura escolar ocidental, dizemos a nós mesmos que a luz virá de
outro lugar. E é isso que estamos vendo.

[1]
<applewebdata://0E1AF9D5-03AA-4BE4-A530-0E346FC6A7A9?_x_tr_sl=auto&_x_tr_tl=en&_x_tr_hl=pt-BR" \l "_ftnref1> https://www.eurasiantimes.com/hypersonic-china-unleashed-two-new-hypersonic-missiles/

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/Jean-François Geneste tem quase 40 anos de experiência nas áreas
aeronáutica, espacial e de defesa. Foi diretor científico do grupo EADS,
hoje Grupo Airbus, por 10 anos. Foi professor do Instituto Skolkovo de
Ciência e Tecnologia, em Moscou. Atualmente, ele é o CEO da startup
WARPA, que acaba de receber a patente de seu motor de propulsão espacial
de impulso específico infinito. /

Fonte:
https://cf2r.org/rta/quelles-peuvent-etre-les-raisons-du-retard-occidental-en-matiere-darmements-hypersoniques/

Em
SAKERLATAM.ORG
https://sakerlatam.org/quais-poderiam-ser-as-razoes-para-o-atraso-ocidental-nas-armas-hipersonicas/
17/9/2023

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