terça-feira, 5 de setembro de 2023

Que tal uma guerra mundial?

 


    Dmitry Orlov [*]


Passaram mais de 18 meses desde o lançamento da Operação Militar
Especial (OME) da Rússia, que tem os seguintes objetivos declarados:  
garantir a segurança da região de Donbass, desmilitarizar e desnazificar
a Ucrânia e assegurar perpetuamente o seu estatuto de neutralidade.

Desde essa altura, o Ocidente coletivo fez uma série de coisas para
ajudar a Rússia e para se prejudicar a si próprio. As sanções
anti-russas, por exemplo, conseguiram muitas coisas: expulsaram grande
parte da "quinta coluna" russa e fizeram com que grande parte dela
abandonasse o país; motivaram numerosas empresas ocidentais a deixarem
de fazer negócios na Rússia, vendendo as suas ações a empresas russas a
preços de saldo; a negação de acesso à rede bancária SWIFT e os ataques
especulativos à moeda russa isolaram-na financeiramente do Ocidente e
impediram a expatriação de lucros e várias formas de fuga de capitais,
derrubando a inflação na maioria dos sectores (os veículos de
passageiros são uma exceção); e as grandes perturbações que as sanções,
juntamente com a explosão do gasoduto Nord Stream por Biden, causaram
nos mercados mundiais de energia, fizeram aumentar as receitas de
exportação da Rússia a um nível bastante embaraçoso. Assim, a Rússia
está agora a crescer economicamente, tem muito dinheiro para investir em
infraestruturas como estradas e pontes (incluindo novas linhas
ferroviárias de alta velocidade), escolas, jardins de infância e
hospitais, etc, enquanto o Ocidente coletivo, em resultado dos seus
danos auto-infligidos, está a afundar-se cada vez mais na
recessão/depressão e, o que é pior, está a ser forçado a
desindustrializar-se devido aos custos muito mais elevados da energia.
Como último golpe de faca auto-infligido, a Europa (Espanha e Bélgica,
especificamente, mas através delas grande parte do resto) está a
importar enormes quantidades de gás natural liquefeito russo, que é
muito mais caro e, por conseguinte, muito mais rentável do que o gás
canalizado que substituiu.

Para o caso de não estar impressionado com o brilhantismo dos esforços
do Ocidente para isolar e enfraquecer economicamente a Rússia,
consideremos a parte militar do conflito. O plano inicial era que as
forças ucranianas expulsassem os russos dos seus territórios,
reafirmando o controlo sobre as regiões separatistas de Donetsk e
Lugansk e recapturando a Crimeia, que se tinha tornado uma região da
Rússia em 2014. Como recompensa pelo seu valor, a Ucrânia seria
autorizada a aderir à NATO e à UE e a viver infeliz para sempre – tal
como qualquer outra nação despovoada e empobrecida da UE, como a Roménia
ou a Bulgária (mas não era suposto dizer essa parte em voz alta).
Entretanto, a perda maciça de prestígio sofrida pelo ditador russo Putin
minaria a sua autoridade, varrê-lo-ia do poder e permitiria ao
Departamento de Estado dos EUA e a várias ONGs ocidentais dividir a
Rússia em regiões de tamanho reduzido, cada uma delas ansiosa por vender
tudo o que tem às corporações transnacionais.

A fase I deste plano consistia numa blitzkrieg ucraniana lançada contra
Donetsk, que era adequadamente defendida pela sua força de defesa
voluntária, que incluía um certo número de voluntários russos do outro
lado da fronteira, mas que não estava equipada para lidar com tal
investida. As forças armadas ucranianas tinham passado vários anos a
armar-se e a treinar-se para este evento, que estava previsto para março
de 2022. Mas, apenas duas semanas antes da data de lançamento não tão
secreta, Putin lançou subitamente o SMO e todos os planos bem concebidos
foram por água abaixo.

Depois de uma visita relâmpago às regiões ucranianas, descobriu-se que
grande parte da população tinha sido condicionada, ao longo dos últimos
30 anos, a odiar a Rússia e tudo o que era russo (ao mesmo tempo que a
maioria deles era e falava russo). Isto tornava-os maus candidatos a uma
futura cidadania russa. Descobriu-se também que o governo ucraniano não
se estava a render voluntariamente. Assim, os russos tentaram evitar
mais derramamento de sangue e fazer a paz com o país. Negociaram um
projeto de acordo de paz, retirando voluntariamente as suas forças da
região de Kiev como sinal de boa fé. Em resposta, os ucranianos
recusaram-se a aceitar o acordo que os seus representantes tinham
negociado... e recomeçaram a combater. Os russos retiraram-se então para
trás de uma linha defensável e prepararam-se para travar uma guerra de
desgaste, que continua até aos dias de hoje.

Entretanto, todas as regiões anteriormente ucranianas – não só Donetsk e
Lugansk, mas também Zaporozhye e Kherson – mostraram-se bastante
ansiosas por se separarem da Ucrânia e voltarem a juntar-se à Rússia, da
qual faziam parte desde o início do seu povoamento e desenvolvimento.
Realizaram referendos para ratificar esta decisão, que foi depois
inscrita na Constituição russa, apesar de partes do que é agora
território russo soberano estarem temporariamente ocupadas por forças
ucranianas.

Durante o verão de 2023, assistimos a um fracasso espetacular e
fabulosamente dispendioso da "contra-rota" ucraniana – a sua tentativa
falhada de recapturar as suas regiões, até então totalmente alienadas,
que resultou em várias centenas de milhares de baixas do lado ucraniano,
uma grande quantidade de blindados e outros armamentos, tanto
remanescentes da era soviética como doados pelo Ocidente, explodidos e
zero território ganho.

Os ucranianos são agora obrigados a recrutar os doentes, os coxos e os
idosos, os cobardes e os loucos, uma vez que a maioria dos homens
capazes já fez o seu melhor para fugir do país. Os que conseguem
recrutar são mal treinados, mal equipados e não têm muita vontade de
combater. São enviados para a batalha depois de terem sido drogados com
metanfetaminas, tanto as fornecidas pelos americanos como as produzidas
localmente, mas muitos deles não estão demasiado desejosos de lutar e
fazem o que podem para se renderem.

Num período de dois meses, as forças ucranianas não conseguiram
conquistar qualquer território. De facto, não conseguiram avançar sequer
até à primeira das três linhas defensivas russas. Os russos, por outro
lado, recuperaram tranquilamente o controlo de parte do território que
tinham desocupado quando se reagruparam numa postura defensiva e
começaram a escavar há quase um ano. Se as coisas continuarem como
antes, os russos podem muito facilmente recapturar Slavyansk e
Kramatorsk, depois do que não há nada a não ser estepe aberta até ao rio
Dniepr, onde, durante o inverno, tudo o que é vivo brilha nos
infravermelhos como uma vela no escuro, tornando-o bastante fácil de
atingir.

E agora vem uma notícia verdadeiramente espantosa:   algumas pessoas no
Ocidente, incluindo alguns americanos, estão a começar a suspeitar que
os ucranianos não vão prevalecer contra a Rússia! O quê?! Os ucranianos
não receberam montes de armas semi-obsoletas, algum treino relativamente
inútil e, no total, qualquer coisa como 150 mil milhões de dólares de
apoio? Porque é que isso não seria suficiente para derrubar "uma estação
de serviço mascarada de país" (John McCain) cuja "economia está em
frangalhos" (Barack Obama)? É claro que uma boa parte desse dinheiro foi
parar aos amplos cofres do sindicato do crime de Biden, engraxando todas
as palmas das mãos pelo caminho, e muitas dessas armas foram
transacionadas no mercado negro, de modo que os cartéis de droga
mexicanos têm agora capacidades antitanque e antiaérea (Obrigado Joe
Biden!). Mas aos ucranianos foi-lhes dito que atacassem, e eles
atacaram, vezes sem conta, e morreram em massa e... nada? Não é embaraçoso?

Perante esta perda maciça de prestígio, os europeus, que os americanos
arrastaram pelo caminho róseo até ao depósito de lenha, onde lhes
fizeram coisas muito pouco naturais, e que agora se mostram na sua
maioria confusos e a olhar para os seus pés, enquanto os próprios
americanos permanecem na sua maioria em completa negação, repetindo
incessantemente o mantra "Apoiaremos a Ucrânia enquanto for necessário".
Necessário para quê? A morte sem sentido de cada um dos ucranianos? Como
Mike Tyson disse uma vez: "Toda a gente tem um plano até levar um murro
na boca". Bem, toda a gente acabou de levar um murro na boca. O plano da
América para a Ucrânia fracassou a todos os níveis e os americanos estão
a levar um murro todos os dias em que este conflito armado continua. No
entanto, eles persistem... Deve haver uma razão médica... Alzheimer, talvez?

Há também outras vozes a proporem várias coisas, mas ainda não li nem
ouvi nenhuma que expressasse o que seria necessário para pôr fim ao
conflito. Ao invés disso, temos um bocado de cacofonia. Com um pouco de
esforço, podemos dividi-la em vários cenários. Não gosto de cenários; a
palavra cheira a guiões, dramas e outras obras de ficção e fantasia.
Numa peça de teatro, um ator pode morrer em palco, ressuscitar a tempo
de subir ao palco e voltar a fazê-lo na noite seguinte; na vida, só se
morre uma vez. A História não é uma peça de teatro – é o destino – e o
facto de não o conhecermos de antemão não muda nada. Olhar para o futuro
como um conjunto de "cenários" esconde o facto de estar para além do
nosso controlo. Ainda assim, para o bem da discussão, chamemos-lhes
cenários e examinemos cada um deles.

O divertido e simpático Tucker Carlson, antigo membro da Fox News e
agora um agente livre, opinou que estamos a caminhar rumo à Terceira
Guerra Mundial. Tucker é um jornalista; os jornalistas repetem o que
ouvem de não-jornalistas (é o seu trabalho); e foi isso que Tucker ouviu
recentemente de Viktor Orbán, o primeiro-ministro da Hungria, que
entrevistou. Por sua vez, Orbán falou da Terceira Guerra Mundial num
esforço para chamar a atenção de outros líderes ocidentais, com os quais
está a encontrar cada vez menos causas comuns.

A Ucrânia, como o próprio Tucker salientou, não é de interesse vital
para os EUA. Fazia parte de um plano brilhante para desmembrar, engolir
e devorar a Rússia, mas uma vez que esse plano está agora em frangalhos,
por que não o anular e voltar à prancheta de desenho? No entanto, Tucker
não é o único a falar da Terceira Guerra Mundial – há também o coronel
reformado Douglas Macgregor e vários outros que procuram a atenção do
público, por isso vamos marcar a Terceira Guerra Mundial como um dos
cenários.

O problema da Terceira Guerra Mundial é encontrar alguém que a queira
começar. A Rússia certamente não quer, e ninguém mais quer. Começar a
Terceira Guerra Mundial implica duas coisas: ter o controlo de armas
nucleares estratégicas e ser suicida. E acontece que estes são conjuntos
disjuntos: ninguém chega a controlar fisicamente arsenais nucleares sem
primeiro passar num exame psicológico rudimentar. A tendência suicida é
um fator de desqualificação.

Mas suponhamos que o velho Joe Biden, num acesso de raiva senil, decide
acabar com tudo e pede que o "futebol" nuclear seja trazido para o Salão
Oval, porque quer lançar um primeiro ataque nuclear antecipativo
/(preemptive)/ contra a Rússia, a China, a Coreia do Norte e quem mais
estiver na lista de alvos. O que ele provavelmente receberia em vez
disso seria uma enfermeira com uma pílula num copo de plástico e um copo
de água e, quando os recebesse, já se teria esquecido do que havia
pedido, tomaria a pílula e adormeceria.

Ou suponhamos que alguns neoconservadores desesperados conspirassem para
fazer explodir uma bomba nuclear tática algures na Ucrânia e tentassem
atribuir a culpa à Rússia, sendo a sua especialidade os ataques de falsa
bandeira. A Rússia investigaria, chegaria às suas próprias conclusões,
comunicá-las-ia a todo o mundo, menos ao Ocidente (que já não acredita
em nenhuma das mentiras que o Ocidente dissemina regularmente), e
estaria tudo resolvido, exceto um enorme desastre humanitário e político.

Ou suponhamos que esse mesmo grupo de neoconservadores conspirasse para
fazer explodir uma ogiva nuclear tática algures no interior da Rússia.
Nesse caso, a Rússia exigiria que os americanos trouxessem as suas
cabeças – se não! E como a Rússia tem agora as armas para destruir
economicamente os EUA usando armas convencionais a partir de uma
distância segura, enquanto os EUA não têm essa capacidade, os americanos
obedeceriam tranquilamente.

Em suma, é muito difícil fazer com que as pessoas se suicidem se, à
partida, não forem suicidas. Há um poderoso instinto em ação.

Em seguida, temos o venerável cientista político americano John
Mearsheimer e o seu plano da Coreia do Norte para a Ucrânia. Mearsheimer
propõe congelar perpetuamente o conflito ao longo da atual linha da
frente, como acontece entre as Coreias do Norte e do Sul. A parte russa
da antiga Ucrânia permaneceria russa e a parte ucraniana tornar-se-ia um
protetorado dos EUA, aderiria à NATO e acolheria bases militares
americanas – se continuarmos com a analogia coreana.

O plano é de certa forma admirável: acabaria com o derramamento de
sangue; daria aos russos o que Mearsheimer pensa que eles querem; e
agradaria infinitamente ao complexo militar-industrial-congressual dos
EUA, dando-lhe outro recreio permanente no estrangeiro onde desperdiçar
fundos públicos enquanto se faz de líder mundial. Acima de tudo,
permitiria aos americanos salvar a face: não conseguiram destruir a
Rússia, mas pelo menos teriam algumas bases militares mesmo ao lado
dela, onde poderiam esperar e fazer esquemas. A Ucrânia nunca se
tornaria um centro industrial de alta tecnologia como a Coreia do Sul; o
mais provável é que se tornasse como o Kosovo – um Estado mafioso étnico
sem lei com uma enorme base militar americana como peça central. Suponho
que até poderiam construir uma base naval em Odessa ou Nikolaev. Vamos
classificar o sonho de Mearsheimer como o segundo cenário.

O problema com este cenário é que não é isso que os russos querem.
Porquê aceitar um cessar-fogo quando se está prestes a ganhar? E porquê
aceitar uma presença militar dos EUA nas suas fronteiras se o seu
objetivo declarado é garantir que a Ucrânia é desmilitarizada,
desnazificada e neutralizada? O plano de Mearsheimer pode parecer bom em
teoria, mas os seus méritos práticos são nulos.

Finalmente, temos os /peaceniks:/ os candidatos presidenciais Donald J.
Trump, Robert Kennedy Jr. e Vivek Ramaswami. Trump e Kennedy dizem que
querem uma relação pacífica e amigável com a Rússia, mas sabiamente
recusam-se a dizer como o vão conseguir. Trump disse que iria acabar
imediatamente com o conflito na Ucrânia mas, mais uma vez, não disse em
que termos. Ramaswami, por outro lado, disse algo sobre o assunto que
foi tão disparatado que alguns responsáveis russos muito sérios ainda se
riem disso: ele disse que permitiria que a Rússia mantivesse os seus
antigos territórios ucranianos (temporariamente) se, em troca, cessasse
a cooperação militar com a China!

Em primeiro lugar, para se estar em posição de permitir algo, também se
tem de estar em posição de negar esse algo. Definitivamente, não é esse
o caso aqui, pelo que o jovem e tolo Vivek está essencialmente a dizer
que permitiria que o sol brilhasse se isso fizesse com que a lua
orbitasse em torno de outro planeta. Ainda assim, a paz com a Rússia é
uma grande ideia e, por isso, vamos marcá-la como o terceiro cenário.

Mas isso é praticamente tudo o que podemos fazer, uma vez que, para além
da ideia tola de Vivek, só podemos adivinhar o que está a ser proposto,
mas o meu palpite é que continua a ser muito tolo. "Claro que passámos
quase uma década a armar, treinar e controlar um bando de nazis
assassinos que mataram e aterrorizaram o vosso povo, mas agora que
prevaleceram vamos deixar o passado para trás..." Que raio de disparate
é este? Trata-se de uma oferta velada de dinheiro de sangue? Em caso
afirmativo, quanto? Até os russos ouvirem um valor suficientemente
elevado (pagável em ouro, uma vez que já não gostam de dólares
americanos), não há muito a discutir.

*CENÁRIO OPERAÇÃO AFEGANISTÃO 2.0*

Quanto a mim, sou a favor de um quarto cenário, para o qual escolhi o
nome de código bastante transparente de "Operação Afeganistão 2.0". É um
cenário em que os americanos, basicamente, se baldam, fogem, penduram os
ucranianos a secar e dizem-lhes que o que resta do seu país,
irremediavelmente lixado, cabe aos russos e aos europeus resolver. Os
europeus começariam imediatamente a examinar visualmente os seus sapatos
enquanto conversam amigavelmente sobre o tempo, deixando apenas os russos.

Mas os Estados Unidos têm todos os motivos para reduzir as suas perdas
na Ucrânia. Os ucranianos – os que estão no poder – conseguiram
manipular os EUA para que lhes dessem uma quantidade ridícula de
dinheiro e armas, que usaram sobretudo para se enriquecerem enquanto
atiravam recrutas em bruto para as linhas defensivas russas, compravam
mansões na Suíça e em Miami, guardavam milhares de milhões em contas
offshore e por aí afora, porque tinham o material de Joe Biden e da sua
organização criminosa. Mas agora que as provas sobre a criminalidade de
Joe Biden já estão disponíveis e estão a ser gradualmente divulgadas ao
público, a sua capacidade de o chantagear desapareceu e é altura de os
cortar.

O meu plano é tão brilhante quanto simples: envolve não fazer exatamente
nada. Não há tropas para repatriar, não há 80 mil milhões de dólares de
equipamento militar para (não conseguir) transportar por via aérea de
volta para os EUA, nem sequer um grande grupo de serviçais afegãos, a
quem foi prometida a cidadania americana em troca dos seus serviços,
para abandonar vergonhosamente. É um plano perfeitamente exequível
porque exige que os funcionários americanos não façam absolutamente nada
– uma tarefa que tenho a certeza de que conseguem realizar. Está
perfeitamente de acordo com o meu princípio Zen favorito de Wúwèi (无为
/ 無爲) – ação através da inação.

Esta inação teria algumas consequências que podemos tentar mapear. Em
primeiro lugar, as forças armadas ucranianas desvanecer-se-iam, a
maioria dos soldados mudando simplesmente para um uniforme civil e indo
para casa, sem ninguém para os impedir. Em segundo lugar, a polícia
militar russa espalhar-se-ia pela paisagem ucraniana, reunindo os
criminosos de guerra ucranianos que têm processos penais pendentes na
Rússia, abrindo gradualmente caminho de leste para oeste. Talvez a
Rússia levantasse temporariamente a sua moratória sobre a pena de morte
por causa deles.

Depois, quando os nacionalistas/criminosos de guerra tiverem sido
suficientemente afastados para oeste, a Rússia organizaria referendos
nas várias regiões sobre a sua reintegração na Rússia. (A Ucrânia fez
parte da Rússia de 1654 a 1917, depois fez parte da URSS de 1922 até à
sua dissolução). A maioria dos ucranianos não é parva e, assim que a
propaganda se desvanecesse, votaria com as mãos e os pés para se juntar
à Rússia e colher todos os benefícios de uma cidadania russa. Suponho
que a Rússia também aceitaria a Transnístria (uma parte russa da
Moldávia) e a Gagaúzia [1] <#nt> (porque os gagauzes gostam dos russos e
não gostam muito de fazer parte da Moldávia).

Os vizinhos europeus da Rússia seriam então convidados a banquetear-se
com as restantes regiões mais ocidentais que nunca fizeram parte da
Rússia e que só aderiram à URSS após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Imagino que teria de ser assinado um tratado – digamos, o Tratado de
Pinsk [2] <#nt>, numa conferência organizada pela Bielorrússia – que
dividiria equitativamente a parte mais ocidental da antiga Ucrânia entre
a Roménia, a Eslováquia, a Hungria e a Polónia.

Uma pequena parte permaneceria como um parque temático étnico para os
nacionalistas ucranianos que restassem, se ainda restasse algum,
completo com cabanas de lama caiadas de branco e com telhado de palha,
homens corpulentos de nariz vermelho, com a cabeça rapada exceto no
topete, mulheres espetacularmente gordas e voluptuosas com vestidos
floridos e porcos a chafurdar em poças de lama por todo o lado. Vendiam
toucinho de porco fumado e vodka de ameixa em bancas à beira da estrada,
cantavam canções melancólicas sobre um arbusto de arando e planeavam
secretamente torturar e matar toda a gente que não fosse como eles, mas
nunca estavam suficientemente sóbrios para fazer alguma coisa.


        04/Setembro/2023


      NT
      [1] Gagáusia: parte da Moldávia cuja população é de origem turca.
      [2] Pinsk: cidade, antes da Polónia, a sudoeste de Minsk, próxima
      da fronteira com a Ucrânia. É um jogo de palavras pois Pinsk rima
      Minsk, cidade onde foram assinados dois acordos que não foram
      respeitados pela Ucrânia nem pelos seus garantes (a França e a
      Alemanha).


    [*] Escritor, russo.


    A versão em inglês encontra-se em
    boosty.to/cluborlov/posts/4e5b6af0-84be-46dd-b5fb-0bcd21df9ef1?from=email <https://boosty.to/cluborlov/posts/4e5b6af0-84be-46dd-b5fb-0bcd21df9ef1?from=email>.

Em
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/russia/orlov_04set23.html
4/9/2023

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