sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Perante a repressão na Catalunha



     
       por PCPE [*] 

       Perante a onda repressiva do governo espanhol na Catalunha, o
      Secretariado Político do PCPE emite a seguinte declaração:
       A repressão exercida pelo governo espanhol contra as instituições catalãs
      é uma agressão sem precedentes na História recente, contrária ao discurso
      oficial sobre a invalidez e a inutilidade do 1 de outubro (1-O).
       A adoção da via repressiva – para a qual já tínhamos advertido – aumenta
      exponencialmente a tensão a escassos dias do 1 de outubro e coloca a luta
      política na Catalunha num novo plano.
       Com a sua atitude, o Estado está a querer mostrar a sua força e a sua
      capacidade de desarticulação de qualquer indício de contestação interna. A
      essa orientação responde principalmente a repressão contra o 1-O: o Estado
      pretende deixar claro o seu poder agora para, depois, poder oferecer
      negociações e pactos a partir de uma posição fortalecida, tratando de
      criar na subjetividade das massas a ideia de que não há lugar para
       dissidências, nem a nível nacional nem, muito menos, ao nível de classe.
       O Estado aspira a legitimar-se alimentando o nacionalismo espanhol e,
      como consequência, fortalecem-se todas as posições nacionalistas. O Estado
      promove, com a sua intransigência, a divisão da maioria trabalhadora e,
      com os seus atos, justifica e legitima a posição independentista,
      garantindo assim que todo o debate será mantido afastado das questões de
      classe. Portanto, a repressão estatal dirige-se, em última instância,
      contra todo o povo trabalhador – e não só contra os responsáveis da
       Generalitat  ou contra os independentistas.
       Promove-se a ideia da  "democracia militante",  que justifica a dura
      repressão, mesmo a ilegalização, daqueles que fazem propostas políticas
      que vão além dos estreitos limites constitucionais burgueses. Fez-se isto
      no passado recente e voltará a fazer-se. Hoje, o objetivo são os
      independentistas, mas ninguém duvide de que, amanhã, voltarão a ser os e
      as comunistas.
       Se o nacionalismo ganha força entre a maioria operária e popular é porque
      os comunistas têm estado ausentes da cena política desde há muitos anos.
      Não fomos capazes de encontrar uma alternativa independente que pusesse a
      tónica nas questões que nos unem como classe e não nas questões que nos
      separam pela consciência nacional. Por isso, a classe operária é presa da
      ideologia dominante; por isso, as forças burguesas dirigem as aspirações
      nacionais do povo catalão; e, por isso, a classe operária espanhola
      deixa-se arrastar por um governo burguês que só entende a linguagem da
      violência e da repressão. Por tudo isso, é ainda mais necessário que os
      comunistas deem a conhecer com clareza a sua posição.
       Os que capitaneiam a independência na Catalunha a partir das posições
      burguesas enfrentam um grave dilema: o respeito ou não às leis que
      garantem a sua posição de domínio das classes exploradas, mas, ao mesmo
      tempo, os impedem de desenvolver o quadro político que consideram ideal
      para continuar com essa exploração em melhores condições. A burguesia
       deixou há muito tempo de ser uma classe revolucionária. Por isso, não
      está disposta a chegar às últimas consequências dos seus atos, exceto
      quando, de forma reacionária, impede o avanço das posições da classe
      operária. Perante o dilema de manter o Estado ou abrir a porta a um
      processo de verdadeira rutura em que podem perder o controle da situação,
      a burguesia contemporânea opta sempre pela primeira situação, aspirando a
      adaptá-la melhor aos seus interesses.
       No final, quem sofre repressão é sempre o povo trabalhador. As forças
      policiais, sob uma ou outra bandeira, reprimiram severamente
       trabalhadores, estudantes, grevistas e qualquer um que tenha questionado
      o capitalismo e as suas consequências. Todos os governos burgueses
       reduziram os nossos direitos e liberdades. São governos que atuam contra
       os trabalhadores, contra os explorados e exploradas, mas aspiram a que os
       sigamos cegamente. Levam-nos a becos sem saída, oferecem-nos ilusões e
      acabam por descarregar sobre nós as piores consequências do seu modelo
      económico e social, do capitalismo.
       Como trabalhadores, como comunistas, sabemos bem o que é a repressão.
      Sabemos bem o que acontece nos piquetes, nas manifestações, o que se vê
      todos os dias nos locais de trabalho. A luta contra a repressão está no
      nosso ADN, por isso condenamos absolutamente qualquer medida repressiva
      que, dirigida hoje contra outras forças políticas, será finalmente
      dirigida contra as organizações operárias e populares, contra as forças
      que são o verdadeiro motor das transformações sociais. Fazemo-lo hoje
      exatamente como o fizemos no passado, quando se prendiam representantes
      políticos independentistas noutros territórios. A diferença nos nossos
      objetivos não impede que hoje, perante a repressão, haja objetivos
      idênticos.
       Apelamos à participação nas mobilizações contra a repressão e a
      incorporar plenamente na luta democrática a luta de classes, as exigências
      da nossa classe, que deverão, necessariamente, seguir unidas, para dotar
      de total sentido a mobilização operária e popular.
       Viva a classe operária da Catalunha!
       Viva a luta da classe operária! 
       21 de setembro de 2017
       Secretariado Político do PCPE 
      [*] Partido Comunista dos Povos de Espanha 
In
RESISTIR.INFO
http://resistir.info/espanha/catalunha_29set17.html
29/9/2017

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