terça-feira, 1 de agosto de 2023

A Guerra na Ucrânia — “A cronologia [mais recente] da Ucrânia conta a história”

 


// Joe Lauria


«Esta cronologia mostra claramente a intenção agressiva do Ocidente em
relação à Rússia e como a tragédia poderia ter sido evitada se a NATO
não tivesse permitido a adesão da Ucrânia; se os acordos de Minsk
tivessem sido implementados; e se os EUA e a NATO tivessem negociado um
novo acordo de segurança na Europa, tendo em conta as preocupações de
segurança da Rússia.»

Sem contexto histórico, enterrado pelos media corporativos, é impossível
compreender a Ucrânia. Os historiadores contarão a história. Mas o
establishment ataca os jornalistas, como os do CN, que tentam contá-la
agora.

A forma de impedir a compreensão da guerra na Ucrânia é suprimir a sua
história.

Uma versão em caricatura diz que o conflito começou em Fevereiro de
2022, quando Vladimir Putin acordou uma manhã e decidiu invadir a Ucrânia.

De acordo com esta versão, não houve outra causa para além da agressão
russa não provocada contra um país inocente.

Utilize este pequeno guia histórico para partilhar com as pessoas que
ainda folheiam as páginas humorísticas para tentar perceber o que se
está a passar na Ucrânia.

O relato da corrente dominante é como abrir um romance a meio do livro
para ler um capítulo ao acaso, como se fosse o início da história.

Daqui a trinta anos, os historiadores escreverão sobre o contexto da
guerra na Ucrânia: o golpe de Estado, o ataque ao Donbass, a expansão da
NATO, a rejeição das propostas de tratados russos – sem serem chamados
de fantoches de Putin. Será da mesma forma que os historiadores escrevem
sobre o Tratado de Versalhes como causa do nazismo e da Segunda Guerra
Mundial, mas não são apelidados de simpatizantes do nazismo.

Fornecer contexto é tabu enquanto a guerra continua na Ucrânia, como
teria sido durante a Segunda Guerra Mundial. Os jornalistas têm de
seguir o programa de propaganda de guerra enquanto a guerra continua.
Muito depois da guerra, os historiadores são livres de analisar os factos.

Os jornalistas não têm claramente a mesmo grau de liberdade dos
historiadores.

Pelos nossos esforços para fornecer contexto em tempo real na Ucrânia,
que pode encontrar encapsulado abaixo, tivemos a PropOrNot, PayPal e
NewsGuard a tentarem impedir-nos. E Hamilton 68 colocou o editor do CN
no seu “painel” de desinformação. O Consortium News não se tem deixado
intimidar, graças ao generoso apoio dos seus leitores.

*Cronologia da Ucrânia*

Segunda Guerra Mundial – Os fascistas nacionais ucranianos, liderados
por Stepan Bandera, inicialmente aliados dos nazis alemães, massacram
mais de cem mil judeus e polacos.

1950 a 1990 – A CIA trouxe fascistas ucranianos para os EUA e trabalhou
com eles para minar a União Soviética na Ucrânia, dirigindo operações de
sabotagem e propaganda. O líder fascista ucraniano Mykola Lebed foi
levado para Nova Iorque, onde trabalhou com a CIA pelo menos durante a
década de 1960 e continuou a ser útil à CIA até 1991, ano da
independência da Ucrânia. As provas constam de umrelatório do governo
dos Estados Unidos
<https://www.archives.gov/files/iwg/reports/hitlers-shadow.pdf>que
começa na página 82. A Ucrânia tem sido, portanto, uma plataforma de
ação para os EUA enfraquecerem e ameaçarem Moscovo durante quase 80 anos.

Novembro de 1990 – Um ano após a queda do Muro de Berlim, a Carta de
Paris para uma Nova Europa (também conhecida como Carta de Paris) é
adoptada pelos EUA, Europa e União Soviética. A carta baseia-se nos
Acordos de Helsínquia <https://en.wikipedia.org/wiki/Helsinki_Accords> e
é actualizada na Carta para a Segurança Europeia de 199
<https://en.wikipedia.org/wiki/Charter_for_European_Security>9. Estes
documentos constituem a base da Organização para a Segurança e a
Cooperação na Europa
<https://en.wikipedia.org/wiki/Organization_for_Security_and_Co-operation_in_Europe>. A Carta da OSCE afirma que nenhum país ou bloco pode preservar a sua própria segurança à custa de outro país.

25 de Dezembro de 1991 – A União Soviética entra em colapso. Durante a
década seguinte, Wall Street e Washington entram em cena para esvaziar o
país de propriedades anteriormente pertencentes ao Estado, enriquecer,
ajudar a criar oligarcas e empobrecer os povos russo, ucraniano e outros
povos da antiga União Soviética.

Anos 90 – Os EUA não cumprem a promessa feita ao último líder soviético
Gorbachev de não expandir a NATO para a Europa Oriental em troca de uma
Alemanha unificada. George Kennan, o principal perito do governo dos EUA
sobre a URSS, opõe-se à expansão. O senador Joe Biden, que apoia o
alargamento da NATO, prevê uma reação hostil da Rússia.

1997 – Zbigniew Brzezinski, antigo conselheiro de segurança nacional dos
EUA, no seu livro de 1997, The Grand Chessboard: American Primacy and
Its Geostrategic Imperatives, escreve:
“A Ucrânia, um novo e importante espaço no tabuleiro de xadrez
euro-asiático, é um pivot geopolítico porque a sua própria existência
como país independente ajuda a transformar a Rússia. Sem a Ucrânia, a
Rússia deixa de ser um império eurasiático. Sem a Ucrânia, a Rússia pode
ainda aspirar a um estatuto imperial, mas tornar-se-ia um Estado
imperial predominantemente asiático”.
Véspera de Ano Novo de 1999 – Após oito anos de domínio dos EUA e de
Wall Street, Vladimir Putin torna-se presidente da Rússia. Bill Clinton
rejeita-o em 2000 quando ele pede para aderir à NATO.
Putin começa a fechar a porta aos intrusos ocidentais, restaurando a
soberania russa, acabando por irritar Washington e Wall Street. Este
processo não se verifica na Ucrânia, que continua sujeita à exploração
ocidental e ao empobrecimento do povo ucraniano.

10 de Fevereiro de 2007 – Putin profere o seu discurso na Conferência de
Segurança de Munique, no qual condena o unilateralismo agressivo dos
EUA, incluindo a invasão ilegal do Iraque em 2003 e a expansão da NATO
para leste.
Disse ele: “Temos o direito de perguntar: contra quem se destina esta
expansão [da NATO]? E o que aconteceu às garantias que os nossos
parceiros ocidentais deram após a dissolução do Pacto de Varsóvia? Onde
estão essas declarações hoje? Ninguém se lembra delas”.

2004-2005 – Revolução Laranja. Os resultados eleitorais são anulados,
dando a presidência a Viktor Yuschenko, alinhado com os EUA, em
detrimento de Viktor Yanukovich. Yuschenko faz do líder fascista Bandera
um “herói da Ucrânia”.

3 de abril de 2008 – Numa conferência da NATO em Bucareste,
umadeclaração
<https://www.nato.int/cps/en/natolive/official_texts_8443.htm> da
cimeira “saúda as aspirações euro-atlânticas da Ucrânia e da Geórgia de
adesão à NATO. Acordámos hoje que estes países se tornarão membros da
NATO”. A Rússia opõe-se a esta decisão. William Burns, então embaixador
dos EUA na Rússia e atualmente diretor da CIA, avisa num telegrama para
Washington, revelado pelo WikiLeaks, que, “O Ministro dos Negócios
Estrangeiros Lavrov e outros altos funcionários reiteraram a sua forte
oposição, sublinhando que a Rússia encararia uma maior expansão para
Leste como uma potencial ameaça militar. O alargamento da NATO, em
particular à Ucrânia, continua a ser uma questão “emocional e
nevrálgica” para a Rússia, mas as considerações de política estratégica
também estão subjacentes à forte oposição à adesão da Ucrânia e da
Geórgia à NATO. Na Ucrânia, estas incluem o receio de que a questão
possa dividir o país em dois, conduzindo à violência ou mesmo, segundo
alguns, à guerra civil, o que obrigaria a Rússia a decidir se deveria
intervir. … Lavrov sublinhou que a Rússia tinha de encarar a expansão
contínua da NATO para leste, em particular para a Ucrânia e a Geórgia,
como uma potencial ameaça militar.”

Quatro meses depois, eclode uma crise na Geórgia que conduz a uma breve
guerra com a Rússia, que a União Europeia atribui
<https://www.reuters.com/article/us-georgia-russia-report-idUSTRE58T4MO20090930>a provocações da Geórgia.

Novembro de 2009 – A Rússia procura um novo acordo de segurança na
Europa. Moscovo divulga um projeto de proposta para uma nova arquitetura
de segurança europeia que, segundo o Kremlin, deverá substituir
instituições obsoletas como a NATO e a Organização para a Segurança e a
Cooperação na Europa (OSCE).

Otexto <http://en.kremlin.ru/events/president/news/6152>, publicado no
sítio Web do Kremlin em 29 de Novembro, surge mais de um ano depois de o
Presidente Dmitry Medvedev ter levantado formalmente a questão pela
primeira vez. Em Junho de 2008, em Berlim, Medvedev afirmou que o novo
pacto era necessário para atualizar finalmente os acordos da era da
Guerra Fria.

“Estou convencido de que os problemas da Europa não serão resolvidos até
que a sua unidade seja estabelecida, uma totalidade orgânica de todas as
suas partes integrantes, incluindo a Rússia”, disse Medvedev.

2010 – Viktor Yanukovich é eleito presidente da Ucrânia numa eleição
livre e justa, segundo a OSCE.

2013 – Yanukovich opta por um pacote económico da Rússia em vez de um
acordo de associação com a UE. Isto ameaça os exploradores ocidentais na
Ucrânia e os líderes políticos e oligarcas compradores ucranianos.
Fevereiro de 2014 – Yanukovich é derrubado num violento golpe apoiado
pelos EUA (pressagiado pela interceção de Nuland-Pyatt), com grupos
fascistas ucranianos, como o Sector de Direita, a desempenharem um papel
de liderança. Os fascistas ucranianos desfilam pelas cidades em cortejos
iluminados por tochas com retratos de Bandera.

16 de Março de 2014 – Rejeitando o golpe de Estado e a instalação
inconstitucional de um governo anti-russo em Kiev, a população da
Crimeia vota com 97% dos votos a favor da adesão à Rússia, num referendo
com 89% de participação. A organização militar privada Wagner é criada
para apoiar a Crimeia. Praticamente nenhum tiro foi disparado e ninguém
foi morto naquilo que os media ocidentais erradamente retratam como uma
“invasão russa da Crimeia”.

2 de Maio de 2014 – Dezenas de manifestantes de etnia russa são
queimados vivos num edifício em Odessa por bandidos neonazis. Cinco dias
depois, Luhansk e Donetsk declaram a independência e votam a favor da
saída da Ucrânia.

12 de Abril de 2014 – O governo golpista de Kiev lança uma guerra contra
os separatistas anti-golpe e pró-democracia em Donbass. O Batalhão Azov,
abertamente neonazi, desempenha um papel fundamental na luta por Kiev.
As forças da Wagner chegam para apoiar as milícias do Donbass. Os EUA
voltam a exagerar esta situação, considerando-a uma “invasão” russa da
Ucrânia. “Não se pode, no século XXI, comportar-se à maneira do século
XIX, invadindo outro país com um pretexto completamente forjado”, diz
<https://www.politico.com/blogs/politico-now/2014/03/kerry-russia-behaving-like-its-the-19th-century-184280> o Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, que votou como senador a favor da invasão do Iraque em 2003, com um pretexto completamente forjado.

5 de Setembro de 2014 – O primeiro acordo de Minsk é assinado em Minsk,
na Bielorrússia, pela Rússia, Ucrânia, OSCE e os líderes das repúblicas
separatistas do Donbass, com a mediação da Alemanha e da França num
formato chamado de Normandia. O acordo não consegue resolver o conflito.

12 de Fevereiro de 2015 – Minsk II é assinado na Bielorrússia, pondo fim
aos combates e concedendo autonomia às repúblicas que continuam a fazer
parte da Ucrânia. O acordo foi aprovado
<https://press.un.org/en/2015/sc11785.doc.htm> por unanimidade pelo
Conselho de Segurança da ONU em 15 de Fevereiro. Em Dezembro de 2022, a
antiga chanceler alemã Angela Merkel admite que o Ocidente nunca teve
intenção de pressionar a implementação de Minsk e que o utilizou
essencialmente como um estratagema para dar tempo à NATO para armar e
treinar as forças armadas ucranianas.

2016 – O embuste conhecido como Russiagate apodera-se do Partido
Democrata e dos meios de comunicação social seus aliados nos Estados
Unidos, onde se alega falsamente que a Rússia interferiu nas eleições
presidenciais norte-americanas de 2016 para eleger Donald Trump. O falso
escândalo serve para demonizar ainda mais a Rússia nos EUA e aumentar as
tensões entre as potências com armas nucleares, condicionando o público
para a guerra contra a Rússia.

12 de Maio de 2016 – Os EUA activam
<https://www.bbc.co.uk/news/world-europe-36272686>o sistema de mísseis
na Roménia, enfurecendo a Rússia. Os EUA afirmam que se trata de um
sistema puramente defensivo, mas Moscovo diz que o sistema também pode
ser utilizado ofensivamente e que reduziria o tempo de um ataque à
capital russa para 10 a 12 minutos.

6 de Junho de 2016 – Simbolicamente, no aniversário da invasão da
Normandia, a NATO lança exercícios agressivos contra a Rússia. Inicia
jogos de guerra com 31.000 soldados perto das fronteiras da Rússia, o
maior exercício na Europa de Leste desde o fim da Guerra Fria. Pela
primeira vez em 75 anos, as tropas alemãs refazem os passos da invasão
nazi da União Soviética através da Polónia.

O ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Frank Walter-Steinmeier,
contesta. “O que não devemos fazer agora é inflamar ainda mais a
situação através de lutas de sabres e de belicismo”, afirma Steinmeier
ao jornal Bild am Sontag. “Quem acredita que um desfile simbólico de
tanques na fronteira oriental da aliança trará segurança está enganado”.

Em vez disso, Steinmeier apela ao diálogo com Moscovo. “É aconselhável
não criar pretextos para renovar um velho confronto”, diz, acrescentando
que seria “fatal procurar apenas soluções militares e uma política de
dissuasão”.

Dezembro de 2021 – A Rússia apresenta aos Estados Unidos e à NATO
projectos de propostas de tratados que propõem uma nova arquitetura de
segurança na Europa, reavivando a tentativa russa falhada de o fazer em
2009. Os tratados propõem a remoção do sistema de mísseis romeno e a
retirada do destacamento de tropas da NATO da Europa Oriental. A Rússia
diz que haverá uma resposta “técnico-militar” se não houver negociações
sérias sobre os tratados. Os Estados Unidos e a NATO rejeitam-nos de
imediato.

Fevereiro de 2022 – A Rússia inicia a sua intervenção militar em
Donbass, na guerra civil ucraniana ainda em curso, depois de ter
reconhecido a independência de Luhansk e Donetsk.

Antes da intervenção, os mapas da OSCE mostram um aumento significativo
dos bombardeamentos da Ucrânia contra as repúblicas separatistas, onde
mais de 10 000 pessoas foram mortas desde 2014.

Março-Abril de 2022 – A Rússia e a Ucrânia chegam a acordo sobre um
acordo-quadro que poria fim à guerra, incluindo o compromisso da Ucrânia
de não aderir à NATO. Os EUA e o Reino Unido opõem-se. O
primeiro-ministro Boris Johnsondesloca-se a Kiev
<https://responsiblestatecraft.org/2022/09/02/diplomacy-watch-why-did-the-west-stop-a-peace-deal-in-ukraine/#:~:text=The%20decision%20to%20scuttle%20the,for%20the%20war%20to%20end.>para dizer ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky quepare de negociar com a Rússia <https://news.antiwar.com/2023/02/05/former-israeli-pm-bennett-says-us-blocked-his-attempts-at-a-russia-ukraine-peace-deal/>. A guerra continua e a Rússia apodera-se de grande parte do Donbass.

26 de Março de 2022 – Bidenadmite
<https://consortiumnews.com/2022/03/27/can-russia-escape-the-us-trap/>,
num discurso em Varsóvia, que os EUA estão a tentar, através da sua
guerra por procuração contra a Rússia, derrubar o governo de Putin.

Setembro de 2022 – As repúblicas do Donbass votam a favor da adesão à
Federação Russa, bem como duas outras regiões: Kherson e Zaporizhzhia.

Maio de 2023 – A Ucrânia inicia uma contraofensiva para tentar recuperar
o território controlado pela Rússia. Como se viu em documentos
divulgados no início do ano, os serviços secretos dos EUA concluem que a
ofensiva falhará antes de começar.

Junho de 2023 – Uma rebelião de 36 horas do grupo Wagner fracassa,
quando o seu líder Yevegny Prigoshzin aceita um acordo para se exilar na
Bielorrússia. O exército privado de Wagner, que era financiado e armado
pelo Ministério da Defesa russo, é absorvido pelo exército russo.

Esta cronologia mostra claramente a intenção agressiva do Ocidente em
relação à Rússia e como a tragédia poderia ter sido evitada se a NATO
não tivesse permitido a adesão da Ucrânia; se os acordos de Minsk
tivessem sido implementados; e se os EUA e a NATO tivessem negociado um
novo acordo de segurança na Europa, tendo em conta as preocupações de
segurança da Rússia.

___________
/O autor: Joe Lauria é editor chefe do Consortium News e antigo
correspondente da ONU para o Wall Street Journal, o Boston Globe e
numerosos outros jornais, incluindo The Montreal Gazette e The Star of
Johannesburg. Foi repórter de investigação do Sunday Times de Londres,
repórter financeiro da Bloomberg News e começou o seu trabalho
profissional como freelancer de 19 anos para o New York Times./

//

/Fonte:
https://aviagemdosargonautas.net/2023/07/09/a-guerra-na-ucrania-a-cronologia-mais-recente-da-ucrania-conta-a-historia-por-joe-lauria//

Em
O DIARIO.INFO
https://www.odiario.info/a-guerra-na-ucrania-a-cronologia/
1/8/2023

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