segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Por que o Ocidente reaprendeu a abraçar o fascismo?

 
 


    Matthew Ehret [*]

Durante a Guerra Fria e especialmente depois de 1991, poucos se
perguntaram: do sangue de quem surgiu tamanha abundância e “liberdade”?

No ocidente, muitos foram levados a acreditar que a ideologia do
nazifascismo era simplesmente tão má que nada disso poderia acontecer
novamente. O romance /It Can't Happen Here/
<https://resistir.info/livros/s_lewis_it_cant_happen_here.pdf>, de
Sinclair Lewis, 1935, tentou alertar os americanos de que o maior perigo
do fascismo ser bem sucedido não estava no seu retrato caricatural dos
media, mas sim na ilusão psicológica coletiva de que tal sistema nunca
poderia ver a luz do dia num país “amante da liberdade “como os Estados
Unidos.

Infelizmente, como temos visto em quase oito décadas desde a vitória dos
Aliados em 1945, o fascismo ressurgiu de facto numa expressão mais
virulenta do que qualquer um podia imaginar. [1] <#nt>

À medida que o sistema financeiro atual caminha para um colapso
inevitável, não totalmente diferente do rebentar das bolhas da economia
de casino em 1929
<https://matthewehret.substack.com/p/hyperinflation-fascism-and-war-how>, as forças geopolíticas estão mais uma vez em jogo e mais uma vez evocam a possibilidade muito real de uma nova guerra mundial.

Em vez de tentar evitar um confronto nuclear desastroso e honestamente
aceitar as vias diplomáticas oferecidas por estadistas russos e
chineses, só se ouve o ruído de espadas belicistas nos salões
autocongratulatórios de Davos e da NATO.

Em vez de se verem esforços para remediar o aniquilamento de formas
viáveis de energia, produção de alimentos e capacidade industrial,
necessárias para suportar a vida nas nações ocidentais, vê-se a
tendência oposta seguir em rigorosa sintonia. Em quase todas as nações
apanhadas na jaula da NATO, encontramos apenas líderes fantoches
desprovidos de qualquer substância e que parecem não estar dispostos a
inverter a crise de escassez que eles próprios causaram e que ameaça
destruir inúmeras vidas.

Alguns até parecem pensar que esta era de escassez é uma coisa boa. Os
unipolares e transumanistas [nt] <#asterisco>[2] que se arrastam pelos
corredores do poder continuam proclamando que a crise atual é, na
verdade, uma "oportunidade" disfarçada.

*Mudando definições: Quando "suicídio" se torna "oportunidade"*

Seja Mark Carney defendendo esta crise civilizacional como uma
oportunidade maravilhosa
<https://www.worldfinance.com/special-reports/climate-change-from-crisis-to-opportunity> para tirar a humanidade de sua dependência de hidrocarbonetos combustíveis baratos e abraçar uma nova ordem de energia verde, ou Anthony Blinken celebrando a sabotagem do Nordstream como uma "tremenda oportunidade" <https://www.zerohedge.com/geopolitical/blinken-calls-sabotage-attacks-nord-stream-pipelines-tremendous-opportunity> para libertar a Europa do gás russo barato. O efeito é sempre o mesmo.

Todas essas elites parecem acreditar que o comportamento coletivo do
ocidente transatlântico pode finalmente ser transformado por esta
infeliz crise, para que aprendamos a viver com menos, a não possuir nada
sendo felizes, a comer insetos em vez de carne "suja" e a reduzir nosso
impacto no meio ambiente "tornando-nos verdes". O presidente francês,
Macron, expressou essa visão tecnocrática da maneira mais fria em
setembro, quando proclamou
<https://thenakedhedgie.com/2022/09/09/age-of-abundance-is-over-but-whered-the-abundance-go/> que "a era da abundância acabou".

No meio deste novo ethos surgindo sob o disfarce de um "Grande Reset",
viu-se o governo dos EUA alocar milhões de dólares de fundos públicos
para explorar técnicas para bloquear a luz solar que chega à Terra, a
fim de impedir o aquecimento global <https://archive.ph/HRXol>. Até
mesmo a molécula de dióxido de carbono, antes valorizada como alimento
para as plantas (junto com a luz solar, também demonizada), tornou-se o
inimigo número 1, destinado a ser banido
<https://canadianpatriot.org/2021/08/11/in-defense-of-co2-astro-climatology-climategate-and-common-sense-revisited/> do reino humano numa era pós-reset.

Este é o mesmo governo “amante da liberdade” que nos últimos anos
investiu milhões de milhões de dólares no resgate de bancos zumbis e
despejou armas de destruição em massa em nações outrora viáveis como
Iraque, Líbia, Síria, Iémen e Ucrânia, enquanto praticamente nada gastou
para reconstruir a infraestrutura vital e as indústrias de que
desesperadamente os cidadãos necessitam para sua sobrevivência básica.

Em países da NATO, as leis de eutanásia são alargadas muito para além
dos limites da razão para incluir doentes mentais e menores “maduros”
<https://www.theblaze.com/news/canada-s-already-liberal-euthanasia-laws-will-soon-expand-permitting-mature-children-under-18-mentally-ill-to-qualify> com menos de 18 anos, para obter uma pílula paga pelo contribuinte para cometer suicídio. As drogas que alteram a mente são apontadas por propagandistas como formas de libertação a serem descriminalizadas, enquanto os financeiros da City de Londres e da Wall Street que lavam os dinheiros destas drogas em contas offshore, ficam impunes <https://www.globalresearch.ca/wall-street-and-the-global-laundering-of-drug-money/5380153>.

Mesmo "revistas científicas" como a /Live Science/ publicam artigos de
propaganda
<https://www.livescience.com/12996-regional-nuclear-war-effects-global-cooling.html> que justificam a noção absurda de que uma "pequena guerra nuclear" poderia realmente beneficiar o meio ambiente ao reverter o aquecimento global que os modelos computacionais do IPCC nos dizem ter ocorrido, apesar de todas as evidências empíricas em contrário <https://canadianpatriot.org/2021/08/11/in-defense-of-co2-astro-climatology-climategate-and-common-sense-revisited/>.

Se todos os elementos descritos acima são sintomas, a */essência/*
particular da expressão moderna do fascismo tem sido difícil de
identificar por muitas razões. Talvez a mais importante dessas razões
resida no facto de que a mente de qualquer pessoa, demasiadamente bem
adaptada à nova modernidade, tornou-se inválida, pela propaganda
concebida nesse sentido. Parece duro, mas muitas vezes é assim.

*Educado para a estupidez*

Enquanto a educação foi baseada em incentivar os alunos a fazerem
descobertas e aprenderem a pensar por si mesmos, podiam tornar-se bons
trabalhadores e bons cidadãos. Os padrões educacionais de hoje
afundaram-se em profundidades de mediocridade que nossos avós não teriam
pensado ser possível.

Em vez de replicar as descobertas de ideias verdadeiras, os alunos das
instituições de ensino superior modernas, aprendem a memorizar as
fórmulas necessárias para passar nos exames sem entenderem como ou por
quê essas fórmulas são verdadeiras. Em todos os programas STEM
<https://fr.wikipedia.org/wiki/STEM_(disciplines)>, os alunos orientados
para a ciência, em vez de usarem seus próprios poderes de raciocínio,
aprendem a repetir crenças comummente sustentadas e promovidas pelo
consenso dos especialistas que controlam revistas e soberanamente
avaliam os textos submetidos.

O brilhante engenheiro agrónomo Allan Savory, que realizou milagres ao
transformar regiões desérticas da Terra por meio de práticas básicas do
entendimento integral dos fenómenos, descreveu a fraude da lavagem
cerebral moderna da revisão dos textos no seguinte pequeno vídeo:


*Qu’est-ce que la science? (em francês):* pic.twitter.com/cJwjDz2cI4
<https://www.resistir.info/crise/pic.twitter.com/cJwjDz2cI4>

Os estudantes de história aprendem modelos explicativos que enfatizam
leituras higienizadas de nosso passado, obscurecendo a realidade das
intenções (pseudónimo de conspirações) e os estudantes de ciências são
treinados para pensar em termos de "probabilidade estatística" em vez de
princípios de causalidade. A nossa crise é na realidade ainda mais profunda.

*O aspeto subjetivo do êxito do fascismo*

Embora seja confortável para alguns pensar que a causa de nossos
problemas está na corrupção e manipulação de uma elite conspirativa, a
verdade é muito mais subjetiva como Shakespeare observou em sua peça
/Júlio César./ Nesta peça, Cássio, adverte o seu co-conspirador Brutus
que "nosso destino... não está nas estrelas, mas em nós mesmos que somos
súbditos". Por outras palavras, são necessários dois para o tango.

Nesse sentido, uma das principais razões para o sucesso da ascensão do
fascismo após a Segunda Guerra Mundial tem pouco a ver com o planeamento
conspirativo das forças oligárquicas que se infiltraram nos nossos
governos desde a morte prematura de Franklin Roosevelt, mas muito mais
com a subtil corrupção do próprio povo, os cidadãos que constituem o
chamado "mundo livre".

Com poucas exceções, os cidadãos do ocidente “livre e democrático
baseado em regras" consideraram-se livres simplesmente por desfrutarem
um alto nível de conforto e abundância, enquanto a maior parte do mundo não.

Se a Segunda Guerra Mundial não tivesse sido inteiramente vencida pelos
“nossos bons rapazes”, como nos disseram, como seria possível a nossa
liberdade pessoal de consumir o que queremos, votar em quem queremos e
dizer o que queremos?

A libertação sexual e a liberdade de "fazer o que se quer" tornaram-se
as novas normas de liberdade e a ideia de que a liberdade depende de
princípios morais ou do peso da consciência tornou-se sinónimo de
"autoritarismo" e "sabedoria obsoleta de europeus falecidos".

A nova geração de /baby boomers,/ que aprendeu a "não confiar em ninguém
com mais de 30 anos", a "viver o momento" e a "deixar acontecer",
imbuiu-se de uma ética de pós-verdade relativamente estranha à
civilização ocidental. Se, para muitos dos que viveram aquela época, foi
uma inocente mudança de valores, para uma relação mais "emocional" com a
verdade, baseada na "empatia", no amor, não na guerra, com a adoção do
relativismo moral algo muito mais sombrio se insinuou.

À medida que a geração do /"flower power"/ que se ligou, se desligou e
se tornou a geração do "eu" do mundo corporativo dos anos 80, o mito da
derrota final do fascismo ficou ainda mais enraizado no “zeitgeist”
(espírito do tempo). Definições cada vez mais fluidas de verdade e valor
deslocaram-se para o relativismo, tais como instrumentos financeiros
especulativos e derivativos, com pouca relação com a realidade, sendo
vistos como formas legítimas de valor na nova sociedade orientada pelo
mercado. Culturalmente, as gerações mais jovens perderam o acesso a
modelos iliberais mais antigos que demonstravam verdade e dignidade,
levando a um deslizamento mais profundo em direção ao niilismo entre a
geração X, a geração Y e os do milénio.

Durante a Guerra Fria e especialmente após a desintegração da União
Soviética em 1991, poucas pessoas se perguntavam: em que se fundava essa
abundância e "liberdade"? Por que líderes nacionalistas na África,
América Latina ou mesmo no nosso próprio ocidente transatlântico
morreram horrivelmente ou sofreram golpes sob a cuidadosa coordenação e
financiamento de agências de serviços secretos ligadas aos governos da
Inglaterra e Estados Unidos?

Se nós, ocidentais, deixássemos de produzir os bens industriais que
necessitamos para nosso próprio consumo, quem preencheria o vazio? Onde
estariam as colónias de escravos que Hitler e seus apoiantes imaginaram
na nossa era moderna? É possível que a intenção por detrás do flagelo
global da guerra, do radicalismo e da fome que assola o Terceiro Mundo
desde 1945 tenha algo a ver com as forças que administram os sistemas
económicos aos quais os antigos povos coloniais têm sido levados a
adaptar-se de acordo com as mesmas potências coloniais que nos disseram
ter-lhes concedido a independência nos últimos 70 anos?

Reformulando o ponto essencial: a verdadeira razão pela qual o domínio
hediondo do fascismo está mais uma vez a ser sentido, tem muito a ver
com o facto de que muitos de nós desfrutamos dos frutos que ele trouxe
aos do "primeiro mundo" que beneficiaram da sua existência após a
Segunda Guerra Mundial e, portanto, simplesmente se recusam a vê-lo.

Podemos lamentar a incompetência criminosa e os programas maliciosos que
estão empurrando a nossa sociedade para uma nova era das trevas, mas
apenas quando percebermos que o povo deve ter os líderes políticos que
merece, é que podemos começar a curar as feridas que infligimos a nós
próprios ao longo de várias gerações.

Atualmente, as nações da Eurásia demonstraram não desejar apagar sua
história, sistemas de herança cultural antigos ou valores tradicionais
perante um Grande Reset. Eles não querem a guerra, prefeririam a
cooperação com ganhos mútuos /(win-win)/ com as nações ocidentais.

O conceito de "adaptação à escassez" foi rejeitado em favor da criação
de abundância através da adoção do progresso científico e tecnológico
nas nações da aliança multipolar e nenhum estadista na Rússia, China ou
Índia expressou a intenção de travar guerra ou sacrificar seu povo no
altar de Gaia. Com tantas nações representando tantos povos e culturas
diversas do mundo desejando rejeitar o fascismo (também na versão do
neofeudalismo transumano) no meio da nossa atual era de crise, por que
não devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para expiar os
pecados do ocidente, lutando para nos juntar a esse movimento antifascista?


        26/Outubro/2022


      NT
      [1] Recorde-se a reflexão de B. Brecht: “O fascismo não é o
      contrário da democracia burguesa é a sua evolução em tempos de crise".
      [2] Transumanismo, movimento intelectual que visa transformar a
      condição humana com o uso de tecnologias, alcançando as máximas
      potencialidades, basicamente através de meios cibernéticos para
      melhorar capacidades e experências genéticas.


    [*] Jornalista, conferencista e fundador da /Canadian Patriot Review./


    O original encontra-se em
    strategic-culture.org/news/2022/10/26/why-did-the-west-learn-to-embrace-fascism-again/ <https://strategic-culture.org/news/2022/10/26/why-did-the-west-learn-to-embrace-fascism-again/>

Em
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/crise/ehret_fascismo.html#asterisco
26/10/2022



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