Ou Lula se movimenta rápido e ampara-se no poder político das
indústrias. Ou, em breve, o Brasil voltará ao caos
O banzé montado em cima das declarações de Lula – invocando o Holocausto
como uma maneira de radicalizar as críticas contra o genocídio de Gaza –
tem o claro intuito de desestabilizar o governo. Não há outra explicação
para esse carnaval no qual colunistas se vestem com as lantejoulas da
adjetivação forte para aparecerem na passarela da mídia. Perto desse
show de vaidades vazias, o BBB parece uma reality de pessoas maduras.
Os fatos centrais são deixados de lado:
1. O genocídio de Gaza, que vitima mulheres e crianças, destroi
escolas, universidades e hospitais e deixa clara a intenção de
Israel de expulsar 2 milhões de pessoas de Gaza.
2. A inércia do mundo ocidental, a ponto de dezenas de países
interromperem ajuda humanitária porque supostamente se descobriu que
meia dúzia de funcionários da ONU seriam simpáticos ao Hamas.
3. A humilhação que a chancelaria de Israel submeteu o Brasil (o
Brasil, sim, seus viralatas!) ao levar o embaixador brasileiro ao
museu do Holocausto e gravar a humilhação a que ele foi submetido.
Com raras exceções, vira-latas mesmo! Na linha de frente, colunistas sem
nenhuma noção sobre soberania nacional, sobre os rituais da diplomacia,
analfabetos em geopolítica, colocando-se como um professor Girafalaes
arrotando lições a Lula e deixando passar em branco o ataque à soberania
nacional perpetrado pela chancelaria de Israel. Atrás, o coral dos
colunistas secundários aplaudindo a comissão de frente, rápidos em
engrossar o cordão dos puxa-sacos, porque conta pontos junto às
respectivas empresas de comunicação. No meio, vozes minoritárias
tentando exercitar um mínimo de jornalismo.
Qual a intenção dessa tentativa clara de desestabilizar o governo Lula?
O fator Milei. Não bastou o desmonte do Estado, perpetrado a partir de
Michel Temer. Não bastaram as 700 mil mortes na pandemia, a tomada do
poder pelas milícias de Bolsonaro e pelos golpistas de Braga Neto. Não
bastaram o desmonte de estatais, as negociatas com refinarias. Agora se
quer o fim da saúde pública, da educação pública. E o Holocausto serve
de állibi.
Não bastam as concessões ao mercado, o arcabouço fiscal e a missão
impossível do déficit zero, o extremo cuidado do BNDES para tirar leite
de pedra e montar fundos de investimento com capital privado, a
reconstrução da saúde e da educação. Dia desses, dois dos jornalões
saíram com editoriais criticando os gastos brasileiros com … educação!
* *No mundo:* O Brasil ocupa a 45ª posição entre 178 países, em gastos
com educação como proporção do PIB, de acordo com o Relatório
Mundial de Competitividade 2023 do IMD.
* *Na América Latina:* O Brasil ocupa a 6ª posição entre 18 países, de
acordo com o Panorama Social da América Latina 2022 da Comissão
Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).
* *Na OCDE:* O Brasil ocupa a 36ª posição entre 38 países, de acordo
com o Education at a Glance 2023 da OCDE.
E os jornalões criticando os gastos com educação.
Depois, abriram manchetes para o pedido de impeachment de Lula pelo
partido Novo, por ter enviado uma ajuda humanitária brasileira ao
departamento da ONU que ampara as vítimas de Gaza!
E por que isso? Porque querem uma Petrobrás privatizada, querem o fim do
ensino público, querem o fim do SUS, dos últimos bancos públicos. E não
se envergonham de compor uma frente com garimpeiros, millicianos,
militares golpistas, pastores neopentecostais que se apropriam das
verbas assistenciais.
Repito o artigo de ontem à tarde, no auge das manifestações contra Lula:
Há um conjunto de elementos para se acreditar em uma tentativa de pacto
entre o crime organizado, o garimpo e igrejas neopentecostais para
reorganizar a aliança que elegeu Jair Bolsonaro.
O presidente eleito Jair Bolsonaro recebe a visita do primeiro-ministro
de Israel, Benjamin Netanyahu, em Copacabana.
Os indícios são muitos:
1. O importante “De Olho nos Ruralistas” <https://tinyl.io/AJcB>
mostrou as conexões históricas entre Valdemar da Costa, presidente
do PL, e o garimpo.O artigo foi reproduzido no ICL <https://
tinyl.io/AJcp>. O mesmo fez a UOL <https://tinyl.io/AJcE>.
2. Há tempos, Aldo Rebelo vem defendendo <https://tinyl.io/AJcH>, junto
aos militares, a exploração do garimpo na Amazônia como um ato de
afirmação nacional. Hamilton Mourão já criticou <https://tinyl.io/
AJcf> o controle do garimpo em terras yanomami. General Heleno
autorizou <https://tinyl.io/AJcg> garimpo em Roraima. A Polícia
Federal confirmou o boicote <https://tinyl.io/AJch> do Exército em
ação contra o garimpo no Pará. A PF prendeu um general três estrelas
<https://tinyl.io/AJci> que extorquia garimpeiros. Em 2020, o
Ministério da Defesa <https://tinyl.io/AJcv>proibiu uma ação do
Exército contra o garimpo.
3. Leve-se em conta que o garimpo – e o jogo de bicho – foram os
setores oferecidos aos membros dos porões, quando veio a
redemocratização.
4. No momento, há um movimento que pretende formar uma frente PL-MDB-
PSD entre outros para fazer oposição a Lula. Segundo a Folha, o MDB
lotou de lideranças a posse de Aldo como Secretário do prefeito
<https://tinyl.io/AJcK> Nunes de São Paulo. Se essa frente se
consolida e elege o sucessor de Artur Lira – com David Alcolumbre
como presidente do Senado – acaba o governo Lula e qualquer
pretensão de normalização democrática.
5. Na outra ponta, o hoje inexpressivo Roberto Mangabeira Unger,
reeditando os velhos vendedores de Bíblias do Velho Oeste, coloca
seu projeto de país nas costas e sai vendendo – agora, para o
próprio Bolsonaro.
6. E a mídia avança em dois temas nítidos. O primeiro, a hiper-
dramatização da fala de Lula, comparando Gaza ao Holocausto. Só a
Folha de hoje traz 11 (onze!) <https://tinyl.io/AJcj> matérias sobre
o tema.
7. O segundo tema são os ataques diários dos jornalões – especialmente
nos editoriais – a Alexandre de Moraes. Jornais, como o Estadão, que
saudaram a prisão preventiva de Lula, hoje utilizam o garantismo
como arma de guerra contra o Supremo. Mesmo sabendo que Alexandre
foi o grande defensor da democracia, inclusive correndo riscos de
vida. Não fosse sua coragem e firmeza, Bolsonaro e seus militares
certamente já teriam imposto censura à imprensa. Mas a imbecilidade
brasileira é galopante.
É mais do que hora de Lula construir pontes políticas com a sociedade. O
caminho é óbvio: um pacto de desenvolvimento e de governabilidade com a
indústria e a produção – por tal entendendo-se a extensa rede de
federações empresariais (da economia real), cooperativismo, agricultura
familiar. A política industrial tem que ser conduzida diretamente pelo
presidente da República.
Ou Lula se movimenta rápido, encontra uma marca para seu governo,
reconstrói alianças com setor privado – depois da destruição das
empreiteiras pela Lava Jato -, ampara-se no poder político das
indústrias. Ou, em breve, o Brasil voltará ao caos e à destruição que
caracterizaram o governo Bolsonaro. O antipetismo visceral fez a mídia
bolsonarar novamente.
Em
JORNAL GGN
https://jornalggn.com.br/noticia/e-hora-de-lula-firmar-pacto-com-a-producao-para-enfrentar-o-golpismo-por-luis-nassif/
21/2/2024
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024
É hora de Lula firmar pacto com a produção para enfrentar o golpismo, por Luís Nassif
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