quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

É hora de Lula firmar pacto com a produção para enfrentar o golpismo, por Luís Nassif

 



Ou Lula se movimenta rápido e ampara-se no poder político das
indústrias. Ou, em breve, o Brasil voltará ao caos



O banzé montado em cima das declarações de Lula – invocando o Holocausto
como uma maneira de radicalizar as críticas contra o genocídio de Gaza –
tem o claro intuito de desestabilizar o governo. Não há outra explicação
para esse carnaval no qual colunistas se vestem com as lantejoulas da
adjetivação forte para aparecerem na passarela da mídia. Perto desse
show de vaidades vazias, o BBB parece uma reality de pessoas maduras.

Os fatos centrais são deixados de lado:

 1. O genocídio de Gaza, que vitima mulheres e crianças, destroi
    escolas, universidades e hospitais e deixa clara a intenção de
    Israel de expulsar 2 milhões de pessoas de Gaza.
 2. A inércia do mundo ocidental, a ponto de dezenas de países
    interromperem ajuda humanitária porque supostamente se descobriu que
    meia dúzia de funcionários da ONU seriam simpáticos ao Hamas.
 3. A humilhação que a chancelaria de Israel submeteu o Brasil (o
    Brasil, sim, seus viralatas!) ao levar o embaixador brasileiro ao
    museu do Holocausto e gravar a humilhação a que ele foi submetido.

Com raras exceções, vira-latas mesmo! Na linha de frente, colunistas sem
nenhuma noção sobre soberania nacional, sobre os rituais da diplomacia,
analfabetos em geopolítica, colocando-se como um professor Girafalaes
arrotando lições a Lula e deixando passar em branco o ataque à soberania
nacional perpetrado pela chancelaria de Israel. Atrás, o coral dos
colunistas secundários aplaudindo a comissão de frente, rápidos em
engrossar o cordão dos puxa-sacos, porque conta pontos junto às
respectivas empresas de comunicação. No meio, vozes minoritárias
tentando exercitar um mínimo de jornalismo.

Qual a intenção dessa tentativa clara de desestabilizar o governo Lula?
O fator Milei. Não bastou o desmonte do Estado, perpetrado a partir de
Michel Temer. Não bastaram as 700 mil mortes na pandemia, a tomada do
poder pelas milícias de Bolsonaro e pelos golpistas de Braga Neto. Não
bastaram o desmonte de estatais, as negociatas com refinarias. Agora se
quer o fim da saúde pública, da educação pública. E o Holocausto serve
de állibi.

Não bastam as concessões ao mercado, o arcabouço fiscal e a missão
impossível do déficit zero, o extremo cuidado do BNDES para tirar leite
de pedra e montar fundos de investimento com capital privado, a
reconstrução da saúde e da educação. Dia desses, dois dos jornalões
saíram com editoriais criticando os gastos brasileiros com … educação!

  * *No mundo:* O Brasil ocupa a 45ª posição entre 178 países, em gastos
    com educação como proporção do PIB, de acordo com o Relatório
    Mundial de Competitividade 2023 do IMD.
  * *Na América Latina:* O Brasil ocupa a 6ª posição entre 18 países, de
    acordo com o Panorama Social da América Latina 2022 da Comissão
    Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).
  * *Na OCDE:* O Brasil ocupa a 36ª posição entre 38 países, de acordo
    com o Education at a Glance 2023 da OCDE.

E os jornalões criticando os gastos com educação.

Depois, abriram manchetes para o pedido de impeachment de Lula pelo
partido Novo, por ter enviado uma ajuda humanitária brasileira ao
departamento da ONU que ampara as vítimas de Gaza!

E por que isso? Porque querem uma Petrobrás privatizada, querem o fim do
ensino público, querem o fim do SUS, dos últimos bancos públicos. E não
se envergonham de compor uma frente com garimpeiros, millicianos,
militares golpistas, pastores neopentecostais que se apropriam das
verbas assistenciais.

Repito o artigo de ontem à tarde, no auge das manifestações contra Lula:

Há um conjunto de elementos para se acreditar em uma tentativa de pacto
entre o crime organizado, o garimpo e igrejas neopentecostais para
reorganizar a aliança que elegeu Jair Bolsonaro.

O presidente eleito Jair Bolsonaro recebe a visita do primeiro-ministro
de Israel, Benjamin Netanyahu, em Copacabana.

Os indícios são muitos:

 1. O importante “De Olho nos Ruralistas” <https://tinyl.io/AJcB>
    mostrou as conexões históricas entre Valdemar da Costa, presidente
    do PL, e o garimpo.O artigo foi reproduzido no ICL <https://
    tinyl.io/AJcp>.  O mesmo fez a UOL <https://tinyl.io/AJcE>.
 2. Há tempos, Aldo Rebelo vem defendendo <https://tinyl.io/AJcH>, junto
    aos militares, a exploração do garimpo na Amazônia como um ato de
    afirmação nacional. Hamilton Mourão já criticou <https://tinyl.io/
    AJcf> o controle do garimpo em terras yanomami. General Heleno
    autorizou <https://tinyl.io/AJcg> garimpo em Roraima. A Polícia
    Federal confirmou o boicote <https://tinyl.io/AJch> do Exército em
    ação contra o garimpo no Pará. A PF prendeu um general três estrelas
    <https://tinyl.io/AJci> que extorquia garimpeiros. Em 2020, o
    Ministério da Defesa <https://tinyl.io/AJcv>proibiu uma ação do
    Exército contra o garimpo.
 3. Leve-se em conta que o garimpo – e o jogo de bicho – foram os
    setores oferecidos aos membros dos porões, quando veio a
    redemocratização.
 4. No momento, há um movimento que pretende formar uma frente PL-MDB-
    PSD entre outros para fazer oposição a Lula. Segundo a Folha, o MDB
    lotou de lideranças a posse de Aldo como Secretário do prefeito
    <https://tinyl.io/AJcK> Nunes de São Paulo. Se essa frente se
    consolida e elege o sucessor de Artur Lira – com David Alcolumbre
    como presidente do Senado – acaba o governo Lula e qualquer
    pretensão de normalização democrática.
 5. Na outra ponta, o hoje inexpressivo Roberto Mangabeira Unger,
    reeditando os velhos vendedores de Bíblias do Velho Oeste, coloca
    seu projeto de país nas costas e sai vendendo – agora, para o
    próprio Bolsonaro.
 6. E a mídia avança em dois temas nítidos. O primeiro, a hiper-
    dramatização da fala de Lula, comparando Gaza ao Holocausto. Só a
    Folha de hoje traz 11 (onze!) <https://tinyl.io/AJcj> matérias sobre
    o tema.
 7. O segundo tema são os ataques diários dos jornalões – especialmente
    nos editoriais – a Alexandre de Moraes. Jornais, como o Estadão, que
    saudaram a prisão preventiva de Lula, hoje utilizam o garantismo
    como arma de guerra contra o Supremo. Mesmo sabendo que Alexandre
    foi o grande defensor da democracia, inclusive correndo riscos de
    vida. Não fosse sua coragem e firmeza, Bolsonaro e seus militares
    certamente já teriam imposto censura à imprensa. Mas a imbecilidade
    brasileira é galopante.

É mais do que hora de Lula construir pontes políticas com a sociedade. O
caminho é óbvio: um pacto de desenvolvimento e de governabilidade com a
indústria e a produção – por tal entendendo-se a extensa rede de
federações empresariais (da economia real), cooperativismo, agricultura
familiar. A política industrial tem que ser conduzida diretamente pelo
presidente da República.

Ou Lula se movimenta rápido, encontra uma marca para seu governo,
reconstrói alianças com setor privado – depois da destruição das
empreiteiras pela Lava Jato -, ampara-se no poder político das
indústrias. Ou, em breve, o Brasil voltará ao caos e à destruição que
caracterizaram o governo Bolsonaro. O antipetismo visceral fez a mídia
bolsonarar novamente.

Em
JORNAL GGN
https://jornalggn.com.br/noticia/e-hora-de-lula-firmar-pacto-com-a-producao-para-enfrentar-o-golpismo-por-luis-nassif/
21/2/2024

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