sábado, 23 de novembro de 2019

Guerra de classe: a “esquerda” entra no jogo a perder! Porquê?



Luniterre

O que se passou recentemente com a iníqua resolução anticomunista no
Parlamento europeu deixou de novo em evidência que não pode existir
anti-comunismo ou anti-sovietismo «de esquerda». Que se trata de opções
ideológicas inculcadas pela classe dominante. E que transigir com elas
é, desde logo, aceitar a derrota.

/“Há uma guerra de classes, é um facto. Mas é a minha classe, a classe
dos ricos, que está a travar essa guerra e está em vias de a vencer.”
/Ninguém esqueceu realmente essa afirmação “chocante” do multimilionário
Warren Buffet. Foi no canal CNN dos EUA, em 2005. Após a crise de 2008 e
sua “solução” financeira exponencial, ele afirmava mesmo o carácter
definitivo dessa vitória …!

Até há pouco tempo, quase 15 anos depois, a história, apesar da
violência exacerbada dos vários conflitos no planeta, parecia ainda
dar-lhe razão. Nos últimos tempos, no entanto, as múltiplas e massivas
revoltas em todo o mundo reintroduziram de certa forma uma séria dúvida
sobre essa afirmação. Porque sucede que, apesar de sua aparência maciça,
todas essas lutas parecem sistematicamente encalhar em impasses, por
falta de uma perspectiva política realmente alternativa ao sistema em
vigor, que assim parece permanecer inamovível. E isso apesar da gritante
evidência de desigualdades gigantescas que ele continua a cavar e das
aberrações económicas e ecológicas que gera.

O gerador desta catástrofe planetária está no entanto perfeitamente
identificado, e em particular precisamente desde a crise de 2008: é
claramente a dominação planetária do capital financeiro sobre
praticamente todas as formas de expressão do poder.
A “democracia” liberal deixou de ser o campo delimitado onde os
diferentes lobbies se confrontam pela partilha de influências
lucrativas, através de seus fantoches políticos cada vez mais
confrangedoramente agitados no palco e dos quais Trump parece ser o
arquétipo, caricatural ao extremo.

E a guerra de classes, no domínio ideológico e cultural, nunca parou
realmente, muito pelo contrário! A burguesia não deixou de perseguir a
menor reminiscência do período em que uma alternativa ao capitalismo
parecia possível, e era-o realmente assim, em certa medida.

Por um lado, o absurdo do sistema actual é tão flagrante que uma parte
substancial da intelligentsia e das classes médias ao seu serviço
regularmente se declara mais ou menos “anticapitalista”, mesmo que isso
não tenha outras consequências senão movimentos de contestação puramente
formal rapidamente recuperados sob as diferentes formas de reformismo da
sua classe política. Mas, por outro lado, o verdadeiro medo que ainda
parece afectar a burguesia é o possível ressurgimento do “espectro
comunista” que ele não cessa de perseguir onde quer que pudesse retomar
forma.

Ao contrário das esperanças que fundou na “queda do muro” e no período
1989-92, é o chamado “fim da história” que pertence já claramente ao
passado e, se um “fim” parece estar a aproximar-se novamente a grandes
passos, é de facto o” fim” possivelmente apocalíptico do próprio
sistema, não necessariamente devido a sabe-se lá qual hipotético”
inimigo “, mas muito simplesmente pelas suas próprias contradições.
Nestas condições, o sistema mantém constantemente um olho alerta sobre
todos os vestígios de memória, sejam eles quais forem, do período
soviético. Foi o que vimos por ocasião do centenário de Outubro em que
toda uma bateria de “especialistas” e “historiadores” entrou em cena,
por vezes muito oficialmente designados e, se não, indirectamente, por
para garantir um sono profundo a este terrível fantasma …

Mas o sistema, à falta de resolver a sua própria crise, tem todo o
interesse em alimentar ele mesmo o “messianismo” milenar de um fim
apocalíptico próximo, seja ele “ecológico” ou não, e contra o qual possa
portanto apresentar-se como “baluarte da humanidade”, e assim tentar
prolongar-se, através de algumas fórmulas “choque”, como única
“alternativa” possível … ao desastre que ele próprio engendrou!

Para a burguesia, tudo o que não é ela própria ou diretamente dependente
dela mesmo é “apocalíptico”. Desde o nascimento da URSS, esforçou-se
para forjar uma visão “apocalíptica”, a ponto de tentar torná-la um mito
de pesadelo federador da sua própria classe, e até mesmo passando por
cima dos seus próprios conflitos internos de interesses. . É assim que o
verdadeiro monstro nazi, potencialmente criado em 1919 pelo Tratado de
Versalhes pôde ser chocado como um antídoto potencial a esse pesadelo,
apesar dos seus desmandos no próprio coração do capitalismo europeu e
internacional.

Mas a burguesia tinha claramente subestimado a bulimia desse monstro
gerado no seu seio, e cuja natureza profunda não era, portanto,
diferente dela mesma. Ela esperava simplesmente que essa bulimia apenas
fosse orientada para leste …

Esse “erro de perspectiva” acabou por levá-la a uma inversão, mesmo que
muito provisória, na atribuição do papel dos monstros a exorcizar …

É isso que nos lembra um filme notável recentemente encontrado por um de
nossos camaradas e que apresentamos no TML. Este filme foi realizado no
essencial em 1943, pouco depois da vitória soviética de Estalinegrado.
Realizado por encomenda para as autoridades dos EUA, foi manifestamente
pensado por cineastas que tinham já uma visão histórica espantosamente
pertinente do conjunto da “Frente Oriental”, tendo em conta a reduzida
distância temporal em relação a acontecimentos muito recentes para eles
e para o mundo dessa época!

A Batalha da Rússia pelo governo dos EUA em 1943 !!!
https://my.pcloud.com/publink/show?code=XZUUn8kZMKew9HkqsdyqR7hwHoT88m6hYjek
Evidentemente, esses cineastas tinham portanto acesso a fontes em
primeira mão, o que o torna ainda hoje um documento histórico
excepcional. Mas o que é mais característico relativamente aos pontos de
vista “oficiais” actuais sobre aquela época é a importância que atribuem
à vida social das infraestruturas económicas soviéticas, que tornaram
precisamente possível e eficaz o esforço de guerra.

Fica claro neste filme que a vitória desse esforço de guerra é de facto
a vitória do conjunto da sociedade socialista soviética, e não a de um
tirano maquiavélico secundado por um punhado de generais e burocratas
despóticos. É a vitória dos soviéticos que se mobilizaram na ordem dos
milhões, seja na linha de frente ou como guerrilheiros, por detrás das
linhas inimigas, ou simplesmente nos seus postos de trabalho, todos eles
essenciais para o esforço de guerra .

É um vislumbre da realidade soviética, neste filme norte-americano de
1943, que é, portanto, concretamente a antítese da visão supostamente
“histórica” ​​que nos é dada nos manuais escolares actuais, nos registos
Wikipédia, nas emissões de televisão etc.

E, é claro, é também a antítese da desde agora votada “oficialmente” no
Parlamento Europeu por sua “resolução” sobre a “memória” da 2ª Guerra
Mundial, que atribui sem rodeios à URSS a responsabilidade pelo
desencadeamento da guerra! (*)

E é nesse sentido que este filme é hoje particularmente significativo!

De facto, o Parlamento Europeu, ao endereçar directamente a sua
“resolução” assimilando o comunismo ao nazismo ao parlamento da
Federação Russa, ordena expressamente ao governo russo que na prática
cesse de comemorar essa vitória soviética.
E por que razão real, se não para tentar novamente apagar a memória, não
apenas dessa vitória, mas da sociedade socialista soviética que a tornou
possível?

De facto, porquê tantos esforços e sacrifícios da parte dos cidadãos
soviéticos, se não para defender este país, a URSS, que vinham de
reconstruir quase inteiramente numa dezena de anos, desde o final da NEP
e o início da colectivização?

Porque teriam eles feito tanto esforço e sacrifícios, se o seu país
correspondesse de algum modo à visão de pesadelo que dela dão hoje os
manuais escolares, a Wikipédia e outros media?

Porquê tanto esforço e sacrifício por este país, se a “resolução” de
19/09/2019 do Parlamento Europeu não passa simplesmente de uma
manipulação enganosa da história?

Através da memória nacional russa, o que ainda hoje é massivamente
comemorado, em todas as ocasiões possíveis e com o apoio efectivo do
governo da Federação Russa, não é apenas a festa da vitória, mas é
precisamente a memória desse esforço colectivo e de todos os sacrifícios
que foram necessários para construir, passo a passo, essa vitória.

É nesse sentido que essas comemorações se tornaram uma comunhão nacional
popular que constitui ainda hoje uma parte essencial da alma russa.

E acontece que essa memória coletiva da Rússia coincide completamente
com a realidade filmada em 1943 pelos cineastas norte-americanos, e não
com a actual caricatura ocidental de pesadelo que o Parlamento Europeu
vem de “legalizar” pelo seu voto.
Este voto é, no campo da “memória” em que pretende situar-se, uma
declaração de guerra ideológica, nem mais nem menos.

O que o Parlamento Europeu procura expressamente, nas expectativas do
seu voto, é todo o conjunto do período socialista soviético que permitiu
a construção dessa capacidade de derrotar o fascismo. É um momento
histórico particularmente emocionante deste período que nos é dado a
entender no filme de 1943, e ele mostra-nos precisamente o que o
socialismo real significava na URSS, para a classe operária e o conjunto
das classes populares desse país. Este acto de guerra ideológica
fomentado pelo Parlamento Europeu é, portanto, também, e acima de tudo,
um acto de guerra de classe.

Agora, como é que a “esquerda” francesa se situa face a este acto de
guerra de classe? Situa-se verdadeiramente do lado do proletariado e das
classes populares? É ela é capaz de conduzir uma contra-ofensiva?

Na realidade, desde há décadas que ela não cessa de denegrir a URSS,
seja durante a sua vida seja após sua queda! E autoflagela-se pelo o
período em que a apoiou.
Orgulha-se de “antifascismo” mas é incapaz de assumir o desafio deste
confronto, quando é atacada a memória da URSS que é realmente o país que
fez o essencial do esforço de guerra contra o nazismo, infligiu-lhe a
primeira derrota às portas de Moscovo em Dezembro de 1941 e finalmente o
derrotou em Estalinegrado antes de o vencer finalmente em Berlim!

Uma boa parte da esquerda encaixa-se mesmo directamente nos apoios a
esta “resolução”, e se uma outra parte esboça protestos, é sempre de
maneira a de algum modo caucionar o anti-sovietismo fundamental,
directamente ou não. Nenhum desses “esboços” retóricos, por mais
alambicados e sofisticados que sejam, assume o essencial daquilo que
exacta e realmente fazia a força da URSS na época: a construção do
socialismo e o desenvolvimento das forças produtivas que ele tornou
possível, na década anterior à guerra.
A vitória da URSS sobre o nazismo não é simplesmente a vitória do
exército de uma nação sobre outra, mas antes de tudo a vitória da
construção do socialismo, a vitória do proletariado e das classes
populares, precisamente, na guerra de classes!

E certamente a maior vitória histórica do proletariado nesta guerra de
classes da qual hoje os financeiros multimilionários, como Warren
Buffet, que estão a acabar de destruir o planeta, ousam proclamar-se
vencedores!

Reduzir a responsabilidade da vitória histórica proletária da URSS à de
um só homem, seu líder político, Joseph Stalin, e tentar fazer dele ao
mesmo tempo uma espécie de demiurgo, concentrando na sua pessoa toda
força de um país do tamanho de um continente e apresentá-lo como um
burocrata despótico irresponsável e paranoico, uma caricatura de diabo
de opereta, é essa a estratégia de comunicação conduzida em todas as
direcções pelo Ocidente, da direita à «esquerda», desde há décadas, como
contra-ofensiva nesta guerra de classe, para mascarar a mais do que
culpável tolerância que a burguesia demonstrou em relação à sua própria
e verdadeiramente monstruosa descendência, o nazismo!

Não podendo apagar historicamente o comportamento criminoso desse avatar
ideológico da sua própria classe, a burguesia negou-o oficialmente como
ela sabe fazer de qualquer descendência indigna, escorraçando-o pela
grande porta das suas proclamações humanistas, para o deixar entrar pela
pequena janela das suas necessidades urgentes, como continua a fazer na
Ucrânia, por exemplo.

É o que normalmente emerge desta resolução de 19 de Setembro de 2019,
que de facto cauciona os regimes europeus legalizando e incentivando o
anticomunismo, o anti-sovietismo e a russofobia.

Pretendendo embora equiparar o comunismo ao nazismo, trata-se de facto
de uma tentativa de apagar a responsabilidade do Ocidente “liberal” e a
sua complacência de Munique em relação ao nazismo, ou seja, a sua
responsabilidade real na génese da Segunda Guerra Mundial, a mais
mortífera de todas, e que assassinou mais de 25 milhões de cidadãos
soviéticos em quatro anos!

Como pode a actual esquerda pretender afirmar-se antifascista ao
caucionar, directa ou hipocritamente, essa mentira da burguesia europeia
e sentar-se, de facto, sobre essa montanha de cadáveres proletários?

Como pode ela, por um único segundo, falar em nome das revoltas
proletárias e populares que se levantam, um pouco por toda a parte,
hoje, ao redor do mundo?
Não apenas não pode, mas é muito natural que se veja rejeitada pelo
proletariado pelo que realmente é: uma emanação do pensamento “liberal”
escravizada ao sistema que destrói o planeta e condena cada dia para
novos retrocessos sociais, e em muitos países a uma miséria cada vez
mais negra.

Se alguns raros elementos sinceramente de esquerda, sinceramente
decididos a acabar com este sistema ainda estão nessa esquerda, este
filme pode constituir para eles matéria de reflexão sobre a realidade
histórica da guerra de classe.

E perante a ofensiva ideológica da burguesia expressa nesta “resolução
europeia”, deve ser para eles logicamente o tempo de uma escolha
política essencial: a do campo em que realmente querem estar na guerra
de classe.

Já em 1941, apenas seis meses após a sua entrada “triunfal” na URSS, o
exército nazi era detido às portas de Moscou e obrigado a recuar 200 km.
Para o nazismo, era o verdadeiro começo do fim.

Na guerra de classe, não há derrota que seja irremediável. Mas sem uma
contra-ofensiva adequada, a vitória permanece com os Warren Buffet e
seus zeladores políticos, direita e “esquerda” misturados. Eles são o
campo determinado a manter o sistema mortífero no seu lugar.

Eles são o campo dos destruidores do planeta, o campo dos financeiros
imperialistas para os quais a memória da URSS e da sua vitória
antifascista é intolerável. A mentirosa resolução europeia de 19 de
Setembro de 2019 é o culminar da sua ideologia na guerra de classe.
A vitória antifascista do proletariado na Segunda Guerra Mundial não
repousa obviamente sobre os ombros de um único homem, Joseph Stalin, mas
sobre os de todo um país socialista reconstruído em dez anos com base na
sua ideologia de classe, o legado da Revolução de Outubro, o legado de
Marx e Lénine: o Marxismo-Leninismo.

Enquanto a esquerda continuar a rejeitar os fundamentos que permitiram a
histórica vitória do proletariado permanecerá no campo dos inimigos do
proletariado, no campo da burguesia e, enquanto se proclamava
“antifascista”, no campo dos neonazis, no fim de contas. E a sua derrota
não será senão a demolição de um dos muitos palermas descartáveis ​​do
sistema, e não a do proletariado que tenta hoje levantar a cabeça por
meio das suas múltiplas revoltas no planeta.
/
Fonte:
https://www.legrandsoir.info/guerre-de-classe-la-gauche-joue-desormais-perdant-pourquoi.html./

In
O DIÁRIO.INFO
https://www.odiario.info/guerra-de-classe-a-esquerda-entra/
14/11/2019

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