segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Fazenda modelo em agroecologia não tem agrotóxico nem queimadas

 
 

Como é a vida no Jacy Rocha, referência em agroecologia no sul da Bahia
e que se contrapõe ao agronegócio na região edit

Igor Carvalho, no Brasil de Fato

Do campo para a cidade, da produção na roça ao prato das famílias
brasileiras: pratos típicos e gastronomia com gosto de luta; assim é o
espaço Culinária da Terra, que funcionará durante 3ª Feira Nacional da
Reforma Agrária, em São Paulo; organizado por assentados e acampados do
Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), o
espaço contará com a participação de 20 estados
Do campo para a cidade, da produção na roça ao prato das famílias
brasileiras: pratos típicos e gastronomia com gosto de luta; assim é o
espaço Culinária da Terra, que funcionará durante 3ª Feira Nacional da
Reforma Agrária, em São Paulo; organizado por assentados e acampados do
Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), o
espaço contará com a participação de 20 estados (Foto: Voney Malta)


"Desde 2010, dialogávamos sobre a produção agroecológica, as famílias já
tinham o entendimento de que aqui não podemos usar agrotóxicos, que p
legal é você plantar e tirar da natureza o sustento, sem agredir o meio
ambiente, sem agrotóxicos e queimadas". A afirmação é de Maristela
Cunha, uma das assentadas do Assentamento Jacy Rocha, do Movimento dos
Trabalhadores Sem Terra (MST), localizado em Prado, extremo-sul da Bahia.

Agora, com a ameaça do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra), que pretende despejar alguns assentados, Cunha está
preocupada, mas segue otimista com o desfecho do imbróglio. “Aqui é o
lugar que escolhi para viver até o fim da vida”, afirma a assentada, que
também integra a direção estadual do movimento na Bahia.

A área de 30 mil hectares, onde está o Jacy Rocha e vivem 227 famílias,
foi resultado de um acordo, em 2010, com a Suzano Papel e Celulose e a
Fibria S/A, empresas que se uniram em 2020. A área foi reconhecida como
assentamento pelo Incra em 2015. No ano seguinte, 2016, o movimento
organizou a partilha dos lotes entre as famílias, de acordo com as aptidões.

“Cada assentado disse o que pretendia plantar ou o animal que queria
criar e aí decidíamos a área, de acordo com as características do lote.
Se mais de um desejasse o mesmo lote, fazíamos sorteio”, recorda Cunha,
que chegou em 2010 no assentamento.

Em dez anos, o Jacy Rocha se tornou referência em agroecologia. A
produção de alimentos saudáveis se tornou uma bandeira no assentamento
que, em 2012, criou a Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta
Egídio Brunetto, onde oferece dois cursos, o Técnico em Agroecologia,
reconhecido pela Secretaria de Educação da Bahia, e uma Especialização
em Educação do Campo e Agroecologia, em parceria com a Fiocruz.

Além disso, na Egídio Brunetto, 800 famílias do extremo sul da Bahia
aprenderam a ler e escrever. “Essa escola está nesse território desde
2012 e ela tem um papel fundamental dentro do território, dentro do
movimento. A escola está aqui para trabalhar a agroecologia e a
agrofloresta. Nem todo o público que estuda nessa escola são filhos de
assentadas e assentados, mas são filhos de pequenos agricultores,
indígenas e quilombolas”, afirma Eliane Oliveira, coordenadora
pedagógica da Escola de Agroecologia.

A escola é mantida aberta para os 15 assentamentos que abrigam 1,5 mil
famílias na região, que estão espalhados entre cinco municípios:
Eunápolis, Itamaraju, Mucuri, Prado e Santa Cruz de Cabrália.

Além da Egídio Brunetto, há a Escola Estadual do Campo Anderson França,
inaugurada em 2013 e que foi reformada em março deste ano. Ao todo, 490
crianças do assentamento estudam na unidade.

Durante a pandemia, as aulas são mantidas em casa. Motoristas fazem a
ponte entre os alunos e professores. No raiar do dia, os carros saem da
escola com atividades e informações impressas para os alunos. No final
do dia, voltam com os cadernos e exercícios preenchidos, para que os
docentes analisem.

*O alimento nas feiras e o café*

Há uma diversidade de produção agrícola espalhada entre os 227 lotes do
Jacy Rocha. A mandioca é o carro-chefe do assentamento, além de
hortaliças, cacau, urucum, banana, entre outros. Há também produção de
leite, criação de gado, galinhas e porcos.

A produção é comercializada nas feiras dos municípios do sul baiano e
garante o sustento dos assentados. “Meu sustento sai das hortas, eu
nunca imaginei que meu sustento pudesse sair do coentro e da cebolinha.
Eu faço duas ou três feiras por semana”, explica Cunha.

Graças ao programa Alianças Produtivas, do governo da Bahia, que
distribuiu R$ 60 milhões em todo o estado, houve recurso para dar início
ao plantio de café no Jacy Rocha. Cada assentado contemplado no programa
disponibilizará um hectare de seu lote para 3 mil pés de café.

No sul da Bahia, as características da produção do Jacy Rocha oferecem
um contraponto ao agronegócio na região, o que motivaria os ataques do
Incra ao assentamento, segundo Oliveira. “Quando olhamos para as
bandeiras de luta da educação, a soberania alimentar, produção
agroecológica, este, é um território riquíssimo, mas também empobrecido,
por conta do monocultivo de eucalipto, cana e café.”

Para Cunha, a manutenção do território e a afirmação da produção
agrícola dos assentamentos, corroboram a resolução tomada no início da
década passada. “A decisão que tomei em 2010, de vir para a roça e para
dentro do movimento, eu não arrependo em nenhum momento, meu filho foi
criado aqui. A vida, os amigos e a escola estão aqui. Eu sei que o meu
filho tem moradia, alimentação e dignidade.”

In
BRASIL 247
https://www.brasil247.com/regionais/nordeste/fazenda-modelo-em-agroecologia-nao-tem-agrotoxico-nem-queimadas
12/9/2020

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