quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Quem quer derrubar o Presidente Lukashenko?

 


Thierry Meyssan

A imprensa ocidental põe em destaque Svetlana Tikhanovskaïa que ela
apresenta como vencedora da eleição presidencial bielorrussa e arrasa o
Presidente cessante Alexandre Lukashenko, o qual acusa de violência, de
nepotismo e de truncagem eleitoral. No entanto, uma análise desse país
atesta que a política do seu presidente corresponde ao interesse dos
cidadãos. Por trás desta querela fabricada levanta-se o espectro do
Euromaidan ucraniano e de uma ruptura provocada com a Rússia.

 

*Svetlana Tikhanovskaïa conseguiu reunir ao mesmo tempo milhares de
liberais e de neo-nazis contra o Presidente Lukashenko.*

Um dos objectivos do Golpe de Estado do Euromaidan (Ucrânia, 2013-14)
era o de cortar a Rota da Seda na Europa. A China reagiu a isso
modificando o traçado e fazendo-a passar pela Bielorrússia. Desde logo,
Minsk tenta proteger-se de uma igual desestabilização realizndo uma
política mais equilibrada vis-a-vis do Ocidente, participando tanto em
manobras militares com Moscovo como aceitando fornecer armas ao
Daesh(EI), o qual Moscovo combate na Síria.



No entanto apesar das tergiversações de Minsk, a CIA interveio por
ocasião da eleição presidencial de 2020. Svetlana Tikhanovskaïa desafiou
o Presidente cessante, Alexandre Lukashenko, que disputava um sexto
mandato. Ela não passou de 10 % dos votos, gritou por fraude e fugiu
para a Lituânia, para onde o Francês Bernard-Henri Lévy se precipitou a
fim de a acolher. Unânime, a imprensa ocidental denunciou o « ditador »
e deu a entender que a Srª Tikhanovskaïa havia saído vitoriosa aquando
do escrutínio.

A realidade é, porém, muito mais complexa.

Em primeiro lugar, embora seja bem possível que as eleições tenham sido
truncadas em favor do presidente cessante, é altamente improvável que
Svetlana Tikhanovskaïa se aproximasse da maioria, pois o que ela
representa é estranho à grande maioria dos Bielorrussos. Nos últimos
trinta anos, um debate corre o país a propósito da sua identidade
europeia. Está ele culturalmente próximo da Europa Ocidental pró-EUA ou
pertence à Europa eslava pró-Rússia? Sem dúvida alguma, a resposta é que
os Bielorrussos são culturalmente Russos, mesmo que alguns deles não
falem exactamente a mesma língua. É certo que duas pequenas minorias
professam opiniões divergentes: a primeira diz-se «nacionalista», em
referência à efémera República Popular Bielorrussa, (1918-19), cujos
corpos no exílio colaboraram com os nazistas durante a Segunda Guerra
Mundial, depois com as redes /Stay-Behind/ da OTAN; a segunda diz-se
favorável ao modelo liberal e à União Europeia.

Ao contrário da Ucrânia dividida em duas zonas culturalmente distintas
(o Ocidente pró-alemão e o Leste pró-russo), a Bielorrússia vê-se
fundamentalmente como russa, muito embora politicamente independente de
Moscovo.

 

Em segundo lugar, se houvesse alguma dúvida sobre o papel dos Serviços
Secretos dos EUA neste caso o aparecimento de Bernard-Henri Lévy
afasta-la-ia. O rico herdeiro de uma sociedade de importação de madeiras
preciosas fez carreira escrevendo ensaios anti-soviéticos. Vendido pelo
seu editor como «Novo Filósofo», passa ainda hoje por «filósofo». Ele
apoiou os «combatentes da liberdade», quer dizer, os mercenários árabes
da Confraria dos Irmãos Muçulmanos no Afeganistão contra os Soviéticos,
incluindo o seu chefe Osama bin Laden. Ele tomou partido pelos Contras
na Nicarágua, ou seja, os mercenários sul-americanos de John Negroponte
armados pelo Irão de Hashemi Rafsanjani. Ele gaba-se de ter sido
conselheiro de imprensa do Presidente bósnio, Alija Izetbegović, quando
o antigo pró-nazi tinha o neoconservador norte-americano Richard Perle
como conselheiro político e o já citado Osama bin Laden como conselheiro
militar.

Lembro-me de como ele, mais tarde, me espantou ao explicar-me que era
preciso bombardear Belgrado para fazer cair o «ditador» Slobodan
Milošević. Eu não conseguia compreender muito bem por que é que o
pró-nazi Izetbegović era um «democrata» enquanto o comunista Milošević
era um «ditador». Pouco importa, voltemos atrás, Bernard-Henri Lévy,
agora apelidado «BHL», deu o seu ruidoso apoio aos Irmãos Muçulmanos
tchetchenos que formavam o Emirado Islâmico da Itchquéria no território
russo. Segundo um relatório dos Serviços de Informação da Jamahiriya,
participou na reunião organizada pelo Senador republicano John McCain no
Cairo, em Fevereiro de 2011, para acertar os detalhes do derrube do
«regime de Khaddafi», que era então citado como exemplo pelos
Estados-Unidos. Os Franceses ficaram surpresos ao vê-lo anunciar no
pátio do Eliseu, em vez e no lugar do Ministro dos Negócios Estrangeiros
(Relações Exteriores-br), o envolvimento do seu país contra o «ditador»
(todos os homens a abater -e só eles- são «ditadores»). Como é evidente,
ele estava na Praça Maidan de Kiev durante a «revolução» colorida que
autênticos nazistas lá montaram.

 

*Nascido sem pai numa quinta (granja-br) colectiva, Alexandre Lukashenko
tornou-se o chefe de Estado mais hábil na Europa.*

Dito isso, os Bielorrussos podem ter queixas contra o Presidente
Lukashenko, mas não contra a sua política. Todos os conhecedores do
país, quer estejam entre os seus apoiantes ou entre os seus opositores,
admitem que este se atêm às preocupações dos Bielorrussos. Todos os que
tiveram contacto com Alexander Lukashenko ficaram surpreendidos com a
sua inteligência, o seu carisma e a sua incorruptibilidade. Aqueles que
o acusavam de defender a reunificação com a Rússia por cálculo político,
e não por convicção, admitiram estar errados quando ele manteve a sua
posição apesar das rejeições de Moscovo e da inacreditável guerra do gás
que opôs os dois países. Todos ficaram surpresos pelas suas capacidades
fora do comum, que o levaram a ameaçar o poder do Presidente Boris
Yeltsin, quando ele propôs a união com a Rússia.

A principal crítica que se pode fazer ao Presidente Lukashenko é de ter
feito desaparecer vários líderes da oposição; uma acusação que ele
desmente veementemente acusando essas personalidades de laços com
organizações criminosas que se revelaram prejudiciais.

Durante anos, os seus opositores acusaram-no de enriquecer às custas da
nação sem jamais apresentar o menor indício. No entanto, todos os
operadores internacionais sabem que quando a Bielorrússia assina um
contrato, as comissões nunca ultrapassam 5%, contra 10% nos EUA, 50% na
Rússia de Ieltsin (este número veio para os 10% durante a administração
Putin ) e 60% no Irão. É forçoso constatar que o homem não é motivado
pelo dinheiro. À mingua de corrupção, a propaganda ocidental começa
preventivamente a acusá-lo de nepotismo em proveito do seu filho,
Nikolai, dito «Kolia».

A única censura que se lhe pode fazer é de proferir com regularidade
comentários anti-semitas e homofóbicos -nunca de ter apoiado actos
anti-semitas ou homofóbicos- . Ao fazê-lo, está infelizmente na linha
dos dirigentes do país.

Desde o início da crise, o Presidente Lukashenko afirma que a oposição
de Svetlana Tikhanovskaya e dos seus aliados é um problema geopolítico
Ocidente-Leste e não uma querela política nacional. Enquanto essa
oposição afirma não estar ao serviço de nenhuma potência estrangeira.

Para além da irrupção de Bernard-Henri Lévy, vários elementos fazem
pensar que Alexandre Lukashenko fala verdade.
 O Grupo de acção psicológica das Forças Especiais polacas
(polonesas-br) parece extremamente activo desde o início da crise ao
serviço da Srª Tikhanovskaïa.
 Milícias neo-nazis ucranianas estão igualmente implicadas.
 Por fim, o Governo lituano, que abriga Svetlana Tikhanovskaïa, igualmente.

No entanto, ao contrário do Euromaidan ucraniano nenhum traço da União
Europeia. Assim, o mais provável é que Washington esteja a
instrumentalizar os actores regionais (Polónia, Ucrânia, Lituânia)
contra o mundo eslavo.

Seja como for, o Presidente russo, Vladimir Putin, acaba de constituir
uma força de reserva capaz de intervir na Bielorrússia para apoiar as
instituições e o Presidente Lukashenko; isso quando os dois homens tem
mantido relações por vezes muito conflituosas.

/Thierry Meyssan/ <https://www.voltairenet.org/auteur29.html?lang=pt>

Tradução
Alva <https://www.voltairenet.org/auteur125500.html?lang=pt>

In
PORT.PRAVD.RU
https://port.pravda.ru/busines/02-09-2020/51290-lukashenko-0/
2/9/2020

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