segunda-feira, 11 de maio de 2020
A grande mudança que vem aí: o Yuan Digital
*por Pepe Escobar [*]
Yuan digital Avança uma nova e radical mudança de paradigma. A economia
dos EUA pode contrair-se em até 40% no primeiro semestre de 2020. A
China, já a maior economia do mundo em paridade de poder de compra
<https://www.statista.com/statistics/270183/countries-with-the-largest-proportion-of-global-gross-domestic-product-gdp/>
(PPC) desde há alguns anos, pode em breve tornar-se a maior economia do
mundo mesmo em termos de taxa de câmbio.
O mundo pós-confinamento planetário – ainda uma miragem difusa – pode
precisar de uma divisa pós confinamento planetário. E é nessa altura que
um candidato sério entra na luta: o yuan digital fiduciário /(fiat
digital yuan). /
No mês passado, o Banco Popular da China
<https://www.caixinglobal.com/2020-04-18/china-starts-trial-of-digital-currency-in-four-cities-101544126.html>
(PBOC) confirmou que um grupo de bancos de topo iniciou ensaios de
pagamento electrónico em quatro diferentes regiões chinesas, utilizando
o novo yuan digital. No entanto, ainda não existe um calendário para o
lançamento oficial do que se designa por Pagamento Electrónico em Moeda
Digital (Digital Currency Electronic Payment, DCEP).
O homem responsável pelo plano é o governador do PBOC, Yi Gang
<https://www.caixinglobal.com/2020-05-02/chinas-recovery-from-coronavirus-epidemic-better-than-expected-pboc-chief-says-101549408.html>
. Ele confirmou que além dos ensaios em Suzhou, Xiong'an, Chengdu e
Shenzhen, o PBOC também está a testar cenários hipotéticos para as
Olimpíadas de Inverno em 2022.
Se bem que o DCEP, segundo Yi, "tenha feito progresso muito bom", ele
insiste em que o PBOC será "cauteloso em termos de controle de risco,
especialmente no estudo de medidas anti lavagem de dinheiro e de
'conhecer as exigências do cliente' para incorporá-las na concepção e no
sistema do DCEP.
DCEP should be interpreted as the road map for China leading to an
eventual, even more groundbreaking replacement of the U.S. dollar as the
world's reserve currency. China is already ahead in the digital currency
sweepstakes: the sooner DCEP is launched the better to convince the
world, especially the Global South, to tag along.
O PBOC está a desenvolver o sistema com quatro bancos estatais de topo,
bem como com os gigantes dos pagamentos Tencent e Ant Financial.
Uma aplicação móvel
<https://www.coindesk.com/chinese-state-owned-bank-offers-test-interface-for-pboc-central-bank-digital-currency>
desenvolvida pelo Banco Agrícola da China (ABC) já está a circular no
WeChat. Trata-se, na realidade, de uma interface ligada ao DCEP. Além
disso, 19 restaurantes e estabelecimentos retalhistas, incluindo
Starbucks, McDonald's e Subway, fazem parte dos testes-piloto
<https://news.bitcoin.com/digital-yuan-to-fuel-chinas-economic-reign-mcdonalds-starbucks-subway-test-pbocs-cryptocurrency/>
.
A China está a avançar rapidamente em todo o espectro digital. Uma
Blockchain Service Network
<https://www.coinspeaker.com/china-national-blockchain-system/> (BSN)
foi lançada não só para fins de comércio interno como também para o
comércio mundial. Um amplo comité está a supervisionar a BSN, incluindo
executivos do PBOC, Baidu e Tencent, de acordo com o Ministério da
Indústria e das Tecnologias da Informação
<http://www.miit.gov.cn/newweb/n1146295/n7281310/c7861668/content.html>
(MIIT) .
*APOIADO PELO OURO *
Assim, o que significa tudo isto?
Fontes bancárias bem conectadas em Hong Kong contaram-me que Pequim não
está interessada em que o yuan substitua o US dólar – apesar do
interesse de todo o Sul Global em contorná-lo, especialmente agora que o
petrodólar está em estado de coma.
A posição oficial de Pequim é que o dólar americano deve ser substituído
pelos Direitos Especiais de Saque (DES), um cabaz de moedas (dólar,
euro, yuan, iene) aprovado pelo FMI. Isso eliminaria o pesado fardo do
yuan como a única moeda de reserva.
Mas isso pode ser apenas uma táctica diversionista, num ambiente de
guerra de informação generalizada. Um cabaz de moedas sob o controlo do
FMI ainda implica o controlo dos EUA – não é exactamente o que a China
quer.
O cerne da questão é que um yuan digital e soberano pode ser apoiado por
ouro. Isso não está confirmado – ainda. O ouro poderia servir como um
apoio directo; para sustentar títulos; ou permanecer apenas como
garantia colateral. O que é certo é que, quando Pequim anunciar uma
moeda digital apoiada pelo ouro, isto será como o dólar americano ser
atingido por um raio.
Neste novo quadro, as nações não precisarão de exportar mais para a
China do que importam para terem suficientes yuan para o comércio. E
Pequim não terá de continuar a imprimir o yuan electronicamente – e
artificialmente, como no caso do dólar americano – para cumprir
exigências comerciais.
O yuan digital será efectivamente apoiado pela enorme quantidade de bens
e serviços Made in China – e não por um Império transoceânico de 800
Bases Militares. E o valor do yuan digital será decidido pelo mercado –
como acontece com o bitcoin.
Todo este processo já se arrasta há anos, parte das discussões sérias
iniciadas já no final dos anos 2000 no âmbito das cimeiras BRICS,
especialmente pela Rússia e pela China – a principal parceria
estratégica no âmbito dos BRICS.
Considerando múltiplas estratégias para contornar progressivamente o
dólar americano, a começar pelo comércio bilateral nas suas próprias
divisas, a Rússia e a China, por exemplo, três anos atrás criaram um
Fundo de Cooperação Rússia-China
<https://steemit.com/news/@an0nkn0wledge/a-shift-of-power-russia-and-china-finalize-moves-to-replace-u-s-dollar-as-world-reserve-currency>
RMB.
A estratégia de Pequim é cuidadosamente calibrada, a jogar a longo
prazo. Para além da acumulação metódica de ouro em grandes quantidades
(tal como a Rússia) nos últimos sete anos, Pequim tem estado a fazer
campanha para uma utilização mais vasta dos DES, assegurando ao mesmo
tempo que não posiciona o yuan como um competidor estratégico.
Mas agora o ambiente pós-confinamento planetário está a perfilar-se como
o ideal para Pequim dar um passo em frente. Mesmo antes do início da
crise do Covid-19, o sentimento predominante entre a liderança era que a
China está sob um ataque de espectro amplo por parte do Governo dos
Estados Unidos. A Guerra Híbrida, que já está a atingir o auge, implica
que as relações bilaterais só poderão piorar, não melhorar.
Assim, quando temos a maior economia mundial tanto em termos de PPC como
de taxa de câmbio; ainda a mais forte grande economia em crescimento,
excepto no primeiro semestre de 2020; produtiva, inovadora, eficiente e
em vias de alcançar um nível tecnológico mais elevado com o programa
Made in China 2025; e ainda capaz de vencer em tempo recorde a "guerra
popular" contra o Covid-10, todos os elementos necessários parecem estar
reunidos.
Mas depois, há o soft power. Pequim precisa de ter o Sul Global do seu
lado. O Governo dos Estados Unidos sabe disso muito bem; não é de
admirar que a histeria actual se limite a demonizar a China como
"culpada" de todas as acusações – não provadas – de fomentar e mentir
acerca do Covid-19.
*Uma "obstrução à chegada *
Uma vantagem fundamental de um yuan digital soberano é que Pequim não
precisa de flutuar um yuan em papel – que, a propósito, está a ser posto
de lado por toda a China, uma vez que praticamente toda a gente está a
mudar para o pagamento electrónico.
O yuan digital, utilizando a tecnologia do blockchain, flutuará
automaticamente – contornando assim o casino financeiro global
controlado pelos EUA.
O montante de divisa digital soberana é fixado. Isso por si só elimina
uma praga: a flexibilização quantitativa /(quantitative easing, QE), /
como no dinheiro despejado de helicópteros. E isso deixa a divisa
digital soberana como o meio preferido para o comércio, com as
transferências de divisas sem entraves geográficos e, a cereja no bolo,
sem que os bancos cobrem taxas ultrajantes como intermediários.
É claro que haverá oposição. Tal como na incessante demonização da China
neo-Orwelliana por se desviar de toda a finalidade dos bitcoin e
criptodivisas – a qual é ficar livre de uma estrutura centralizada
através de uma propriedade descentralizada. Haverá uivos de horror no
PBOC potencialmente capaz de confiscar fundos digitais de qualquer um ou
fechar uma carteira se o proprietário desagradar ao PCC.
A China está a tratar disso, mas os EUA, o Reino Unido, a Rússia e a
Índia também estão a caminho de lançar as suas próprias criptodivisas.
Por razões óbvias, o Banco de Pagamentos Internacionais (BPI), o Banco
Central dos Bancos Centrais, está bem ciente de que o futuro é agora
<https://www.bis.org/publ/bppdf/bispap107.pdf> . A sua investigação
junto a mais de 50 Bancos Centrais é inequívoca: estamos a enfrentar uma
"obstrução à chegada". Mas quem irá receber o Grande Prémio?
05/Maio/2020
*[*] Jornalista, autor de Empire of Chaos
<https://www.bookdepository.com/Empire-Chaos-Pepe-Escobar/9781608881642?ref=grid-view&qid=1588973924659&sr=1-5>
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/crise/escobar_yuan_05mai20.html
5/5/2020
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