sábado, 11 de julho de 2020

Cooperativismo potencializa a produção de alimentos saudáveis em todo país



 

Em entrevista, Chicão, do setor de produção do MST, fala da importância
das cooperativas como instrumento da classe trabalhadora

/Por Luciana G. Console
Da Página do MST/

Todos os anos, no primeiro sábado de julho, a Aliança Cooperativa
Internacional (ACI) <https://www.ica.coop/es>, organização fundada em
Londres em 1895, celebra o Dia Internacional do Cooperativismo. A data é
uma forma de confraternização e homenagem aos trabalhadores ligados a
este modelo econômico de produção que enaltece a solidariedade e a
distribuição de renda. Neste ano, o tema da data será “Cooperativas para
a Ação Climática”.

O cooperativismo surge da união de trabalhadores na realização de
tarefas de interesses em comum, com objetivo de cooperação e divisão dos
lucros, frutos da ação em conjunto. Com foco nas pessoas e não no
dinheiro, o modelo tende a evitar a concentração de capital nas mãos de
poucos. As primeiras cooperativas que se tem notícia surgiram em meados
do século 19 como pequenas organizações na Europa Ocidental, América do
Norte e Japão. Porém, foi em Rochdale, Inglaterra, em 1844, com a
fundação do Movimento Cooperativo, que surgiu a base do modelo que
conhecemos hoje.

O conceito de cooperativismo é carregado de valores como
responsabilidade, ajuda mútua, equidade, democracia e solidariedade e é
justamente neste modelo econômico que atua o MST, é o que conta, em
entrevista, Francisco Dal Chiavon (Chicão), do setor de produção do MST
e vice presidente da União Nacional das Organizações Cooperativistas
Solidárias (UNICOPAS) <http://unicopas.org.br/>. Para ele, “A classe
trabalhadora sempre esteve ligada à solidariedade. Quem os
individualizou foi o modo de produção capitalista”.



*Página do MST: Como você definiria o que é cooperativismo?*

Chicão: No nosso entender, a cooperativa se define como um grande
instrumento de organização social político e cultural da classe
trabalhadora. Podemos buscar no histórico do cooperativismo, embora a
atividade legal internacional tem início no ano de 1844 na Inglaterra.
Temos dados históricos de que no Brasil, em 1610, os padres jesuítas já
iniciaram um processo de criação de cooperativas. Elas tinham alguns
princípios como solidariedade, bem estar do ser humano e sua família e
auxílio mútuo e tinha muito um viés cristão. Então, para nós do MST, a
cooperativa é um instrumento importante de organização econômica e hoje
em dia se faz necessário que as cooperativas sejam esse instrumento
dentro dos assentamentos de Reforma Agrária para auxiliar no comércio e
na agroindustrialização dos produtos agrícolas e também na organização
social e política. É uma cultura do nosso povo, de se traduzir isso em
cooperativas, principalmente no meio rural. É uma forma de organização
importante e um instrumento de melhoria de vida da classe trabalhadora.

*Qual a importância do cooperativismo para a organização e luta camponesa?*

Historicamente, os camponeses tiveram, principalmente no Brasil, uma
dificuldade de se organizar enquanto classe, fundamentalmente por serem
ignorados pelas elites. Nós tivemos basicamente duas formas de
organização camponesa que vieram das suas origens. Nós temos os
descendentes de origem europeia, por conta da principal migração após
1870, então eles trouxeram para cá essa forma de organização,
principalmente da pequena agricultura, pois na Europa já existiam
cooperativas. Nós temos também os de origem africana e os indígenas.
Eles tem uma outra forma de organização que nós entendemos como uma
cooperação. Você encontra ainda hoje, apesar de todo abandono feito pelo
Estado às áreas quilombolas, regiões que ainda mantém uma forma de
organização que é semelhante à cooperativa, que é uma organização
comunitária. Os indígenas que vivem em suas tribos também é uma forma de
organização cooperada. Então, historicamente, a classe trabalhadora, a
classe pobre, sempre esteve ligada à solidariedade entre eles, de grupo.
Quem os individualizou foi o modo de produção capitalista, que fez com
que se as relações fossem individualizadas.

Mas ainda se mantém muita coisa no nosso meio e hoje, nós entendemos que
a organização das cooperativas no meio rural é fundamental no contexto
brasileiro, onde o agronegócio se organizou em grandes agroindústrias
para extorquir e explorar ainda mais os trabalhadores na produção da
matéria prima. Então, a cooperativa é um meio para organizar melhor os
trabalhadores rurais.

*Como as cooperativas se relacionam com a Reforma Agrária?*

Nós temos hoje, dentro do MST, uma grande missão de criar nos
assentamentos o que nós chamamos de Reforma Agrária Popular e as
cooperativas têm um papel fundamental nisso, principalmente quando ela
se torna esse instrumento de organização social dentro dos
assentamentos. Nós entendemos que a cooperação é mais abrangente que a
própria cooperativa, então trabalhamos muito para desenvolver formas
múltiplas de cooperação dentro dos assentamentos. Entendemos que não é
possível ter viabilidade, tanto econômica como política e social, com um
assentado individual. Além disso, a cooperativa tem um papel de
desenvolver a indústria e o comércio dos produtos dos assentamentos,
então temos inúmeras agroindústrias na área do cacau, arroz, leite e
assim vai em outras atividades também como a suinocultura, no que se
refere na organização da produção.

*Em relação ao meio ambiente, como a produção camponesa em cooperativas
pode contribuir?*

A cooperativa tem um papel de construir um novo sistema de produção
agroecológica. Nós entendemos que essas cooperativas têm que avançar
nessa linha, de forma a não reproduzir o modelo do agronegócio, para ir
construindo um sistema no qual a produção de alimentos, que é a base de
nosso trabalho, seja saudável para toda a população. Creio que um ponto
importante dentro da Reforma Agrária Popular é a criação de um vínculo
político social e econômico com o meio urbano. Então temos que ir, aos
poucos, fazendo uma ligação direta dessas nossas cooperativas de
produção, nossas feiras, para que possamos levar um produto de melhor
qualidade e que as pessoas possam se alimentar adequadamente no meio
urbano.

*Quantas cooperativas tem no MST? Qual o balanço destes anos de Movimento? *

Nós temos hoje, no MST, em torno de 151 cooperativas, número do último
levantamento que fizemos em 2018. Nós temos milhares de associações
dentro dos nossos assentamentos, mas nós não temos, digamos, controle de
quantas são dentro de cada um. Essas cooperativas estão em várias áreas
como produção, comércio, cooperativas de crédito de trabalho e centrais
de Reforma Agrária. Temos uma estimativa de que em torno de 30% dos
assentados estejam em cooperativas. No que se refere ao trabalho mais de
cooperação, nós entendemos que em torno de 90% dos assentados tem algum
tipo de cooperação, ou via cooperativa mesmo ou via associação ou outras
formas, que as vezes é comunitária, grupos informais, etc. Em relação
aos produtos da agricultura familiar, temos uma grande produção de
feijão, mandioca, café, milho, arroz, aves, suínos, carne bovina e leite.

Nós temos hoje no Brasil assentadas 972.289 famílias, em 9.374
assentamentos e temos 87.978.041 hectares de terra onde estão esses
assentamentos. Nós temos em torno de 7 mil cooperativas e dessas, 1600,
segundo o IBGE, estão no meio rural e congregam em torno de 181 mil
produtores, gerando em torno de um milhão de empregos. No dia 29 de
janeiro de 2014, nós organizamos a confederação que chamamos de Unicopas
<http://unicopas.org.br/>, que reúne as cooperativas dos assentamentos
de Reforma Agrária da agricultura familiar, das empresas recuperadas no
meio urbano e dos catadores de materiais recicláveis. Então temos a
Concrab (Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil), a
Unisol (Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários)
<http://portal.unisolbrasil.org.br/quem-somos/>, Unicafes (União
Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária)
<http://unicafes.org.br/home> e a UNICATADORES, na expectativa de
criarmos uma organização das cooperativas que estão mais ligadas às
atividades da economia solidária dentro do brasil.

Editado por Wesley Lima

In
MST
https://mst.org.br/2020/07/04/cooperativismo-potencializa-a-producao-de-alimentos-saudaveis-em-todo-pais/
4/7/2020

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