terça-feira, 1 de dezembro de 2020

As subvenções do Estado ao grande capital que despede trabalhadores

 



    – O escândalo do Capitalismo Monopolista de Estado na hora da
    "construção europeia"

*por Georges Gastaud [*]

*Disse "liberalismo"? *

Durante décadas, disseram-nos, do secundário à universidade, em quase
todos os meios de comunicação, e em todos os tons, que vivemos numa
sociedade "liberal" e que o "neoliberalismo" é nosso destino. Os que são
politicamente um pouco mais críticos, mas que ainda assim se envolvem na
ilusão ideológica, falarão, para condená-lo, de "ultraliberalismo" ou
"turbo-capitalismo". Na verdade, o Tratado de Maastricht, difundido por
todos os tratados europeus que o sucederam, define a União Europeia como
uma "economia de mercado aberta ao mundo, onde a concorrência é livre e
não falseada". Em nome deste artigo irremovível que constitui o coração
da "construção europeia" e de construções político-económicas
semelhantes noutros continentes (NAFTA, MERCOSUL, ASEAN ...), os Estados
nacionais e seus dirigentes políticos abstêm-se de nacionalizar os
grandes bancos e outras empresas de caráter estratégico para os seus
países. Ao mesmo tempo, é proibido planear cientifica e democraticamente
o desenvolvimento económico, a implantação do progresso social, a
distribuição de "ganhos de produtividade", impedir devastadoras
deslocalizações de industrias e serviços e, claro, banir os
despedimentos coletivos em nome da "Lei do mercado".

Pior, na França desde pelo menos 1992 (quando o Tratado de Maastricht
obteve 50,8% num referendo em que Chirac e Mitterrand pediram um voto
Sim), sucessivos governos franceses privatizarem os chamados "monopólios
públicos" (como EDF, Gaz de France, SNCF, France-Télécom, La Poste, Air
France, Aeroespacial, autoestradas, etc.) ... para criar monopólios ou
oligopólios capitalistas privados como SANOFI, Bolloré ou ENGIE, aliás
Suez. E isso era ainda mais verdadeiro na época do governo Jospin, dito
ser "da esquerda plural", flanqueado por ministros "comunistas"
(Gayssot, Buffet, Demessine) e "verdes" (Voynet), que, entre 1997 e
2002, privatizaram ainda mais rápido do que os governos de direita
anteriores o setor público francês, desde bancos de poupança à
France-Télécom via Air-France e SNECMA. Além disto, foi o "socialista"
Rocard, um grande "europeu" que deu início à privatização da Renault,
aproveitando de passagem para decapitar a CGT da empresa e fechar a
Renault-Billancourt, epicentro da greve de 1968…

*Liberalismo para quem? *

De facto, é verdade num certo sentido que esta política,
totalitariamente imposta em toda a UE pela Comissão de Bruxelas com
multas e "sanções", é "liberal"; mas para QUEM o é realmente, senão para
os grandes grupos capitalistas de dimensão continental ou mundial que
podem assim em completa "liberdade" demolir as conquistas sociais dos
trabalhadores, praticar os mínimos em termos ambientais e sociais à
escala transcontinental, multiplicar suculentas fusões capitalistas e,
especialmente agora, assassinos de empregos continentais e
transcontinentais (Renault-Nissan, PSA-Chrysler-FIAT, Alstom / Siemens
ou Alstom-GE, etc.): em suma, atropelar "livremente" o mundo do trabalho
e o verdadeiro interesse nacional, duas noções que se tornam uma só
quando a expressão "interesse nacional" não é mal utilizada no sentido
imperialista.

A UE não apenas permite aos monopolistas sobre-explorarem e
desqualificarem milhões de trabalhadores considerados "muito caros"
(deslocalização real ou chantagem para deslocalizar, são exatamente a
mesma coisa), mas ainda ajuda a esmagar, de uma forma muito "liberal",
as pequenas empresas: porque em cada momento paira sobre as cabeças dos
artesãos, dos pequenos industriais, dos pequenos agricultores, e ainda
mais, sobre a dos assalariados privados de direitos de muitas PME (sem
falar nesse patronato fictício que são os trabalhadores uberizados e
outros "empresários por conta própria"), uma "concorrência" de extensão
planetária cuja escala e regras deliberadamente minuciosas favorecem as
únicas empresas realmente capazes de se envolver numa competição "não
falseada": os monopólios capitalistas vinculados aos bancos.

As pequenas e médias empresas são, portanto, solicitadas, com total
"liberdade empresarial", a esmagar os seus preços e, com elas, os
salários dos seus trabalhadores, a rastejar para chegar aos mercados,
para competir com os gigantes internacionais pelo menor preço, para
serem subcontratadas por tirânicos "dadores de encomendas", em
particular da grande distribuição. Ou, mais simplesmente, como acontece
com centenas de milhares de "patrões" de MPME ou "empresários por conta
própria"... a "desaparecerem" pura e simplesmente (com centenas de
suicídios cada ano no mundo camponês).

'.

Não falemos do papel devolvido por este sistema "libertador" nos antigos
países socialistas do Leste: a sua indústria socialista e os seus
incomparáveis ganhos sociais foram liquidados por uma terrível "terapia
de choque", anterior à sua anexação pela UE (e, no seguimento, pela
NATO!). *Nem do futuro dos países do Sul, quase proibidos de
desenvolvimento industrial e agrícola, excepto do tipo neocolonial
(fixado pelas necessidades das grandes empresas dos países ricos): * é
claro que uma jovem indústria nacional partindo do zero, ou tendo
inicialmente pouco financiamento, tecnologia e poucos escoamentos
próprios, não poderá competir seriamente, sem direitos aduaneiros
nacionais, os mastodontes capitalistas dos países dominantes já
instalados no mercado que se apropriam das matérias-primas, sementes
agrícolas, etc.

Não foi por acaso que em França, para criar indústria, Colbert teve que
montar uma indústria estatal, e regulamentar firmemente as importações:
todos sabem que a França, nunca teria tido uma indústria sem a
intervenção planificadora do Estado e que, como contraprova da mesma
hipótese, a indústria francesa entrou literalmente em colapso, pois *ao
Estado, escravo voluntário da "construção europeia", lhe é vedado
nacionalizar, proteger e planificar... *

*"Liberalismo" assimétrico internacional e blindado de
cripto-proteccionismo *

Notemos também que, mesmo neste nível continental e transcontinental, o
pretenso "livre comércio mundial" é uma ficção: na realidade, os Estados
capitalistas mais poderosos, e centralmente no que diz respeito à
França, os EUA e a Alemanha capitalista unificada (verdadeira senhora da
UE) dotaram-se de milhares de ferramentas cripto-proteccionistas ou
abertamente proteccionistas: direitos aduaneiros anti-chineses de Trump,
"sanções económicas" supostamente destinadas a defender os direitos dos
homem com geometria variável que atinge os rivais actuais ou potenciais
da grande capital norte-americano, em particular a China, vários
embargos estrangulando a Rússia, China, Irão, Venezuela, Bielorrússia e,
claro, a indomável "besta vermelha" cubana!

Poderemos também mencionar as inúmeras normas "sanitárias" (e cada vez
mais "ambientais") impostas pelos EUA para fechar seu território às
exportações dos países dominados. Trata-se, a todo custo, de filtrar a
entrada de competidores reais ou potenciais no seu mercado interno e
permitir assimetricamente ao grande capital dos países líderes invadir
os mercados do Leste e do Sul sem que a recíproca seja possível.

*O euro, uma moeda cripto-protetora; o acordo monetário
inter-imperialista alemão-EUA e a crise actual deste acordo [1] <#notas> *

A principal destas ferramentas desleais que permitem a "concorrência
livre" (para os Estados ricos) e sistematicamente falseada é o binário
monetário conflitante, mas cúmplice (como duas máfias que podem ao mesmo
tempo aliar-se para pilhar uma cidade enquanto periodicamente se
combatem) que formam...

*– por um lado, o dólar: * uma estranha moeda mundial não convertível em
ouro e garantida na realidade pelo poder das Forças Armadas dos Estados
Unidos: (80% das armas do mundo são dos EUA! Quem irá assim exigir aos
EUA que pague as suas enormes dívidas?); o que vale bem uma guerra por
ano em média para sustentar o medo, não do polícia, mas do ladrão. Tanto
mais que os projectos de moeda internacional para contornar o dólar
estão em execução há anos (acordo entre a Rússia e a China para trocas
sem passar pelo dólar, projecto da Líbia para uma moeda africana
autónoma - o que sem dúvida provocou em grande parte o derrube e o
linchamento "humanitário" de Khadaffi...) e

*– por outro lado, a zona euro, coração da "construção europeia"
centrada em Berlim, garantida pelo marco alemão. * A moeda única
europeia garantiu à Alemanha uma espécie de mercado europeu
permanentemente cativo, embora deixando – por quanto tempo mais? – o
dólar mais fraco dominar globalmente.

Assim, os respectivos "rebanhos" do Tio Sam e do amigo Fritz foram
inicialmente bem guardados. Pois, desta forma, os imperialistas
hegemónicos EUA e RFA podem "dividir" global e continentalmente áreas de
influência e mercados. Desta forma, Berlim "tosquia" interminavelmente a
Europa Oriental (um paraíso para as deslocalizações capitalistas, uma
reserva de mão-de-obra bem treinada e barata para o Ocidente) e o Sul da
Europa, transformado numa válvula de escape, amplamente passivo e
impotente para penetrar seriamente no mercado industrial do norte da
Europa (os chamados "estados frugais" ligados à Alemanha capitalista).

Além disto, devido ao diferencial de moeda entre o euro forte e o dólar
fraco, a Europa alemã prometeu inicialmente não invadir o mercado dos
EUA. Claro, que este compromisso cripto-protecionista entre os dois
tubarões imperialistas que estão em pé de igualdade Berlim e Washington
(o PRCF é o único até agora a ter referenciado e denunciado este
compromisso cripto-protecionista) é necessariamente frágil, o que
explica as tensões entre Trump e Merkel: com um golpe de euro forte, a
Alemanha capitalista matou ou submeteu as indústrias mais fracas dos
países do Sul, incluindo a França, e transformou em neocolónias de
mão-de-obra barata os ex-países socialistas do Leste, Polónia, Estados
Bálticos, ex-Checoslováquia, ex-Jugoslávia.

Os países do sul da Europa não podiam, de facto, contra-atacar por meio
de "desvalorizações competitivas", como faziam quando não havia moeda
europeia fixada no marco. Mas este sistema está necessariamente fadado
ao desequilíbrio e à sua autonegação dialéctica. *Tendo acabado por
arruinar os países do sul da Europa, os chamados "PIGS" (Portugal,
Itália, Grécia, Espanha), a Alemanha mudou o rumo; o euro foi
sistematicamente enfraquecido pelo BCE com a sua política de "fábrica de
notas". * De repente, a Mercedes invadiu... o mercado dos Estados
Unidos, cuja reação anti-alemã e anti-UE, mas também anti-chinesa, se
chama Donald Trump.

Claro, que aqueles dois megapredadores que se autodenominam "comunidade
internacional" continuam como ladrões a entender-se às mil maravilhas
para atacar os países do Sul, proteger o capitalismo mundial, evitar o
retorno sempre possível de comunistas e revolucionários e até prepararem
juntos uma boa guerra contra a China e/ou contra a Rússia.

Mas, o idílio EUA/Europa alemã sob domínio absoluto do primeiro – que
perdurava desde o período entre guerras e ainda mais, desde 1945 e o
financiamento americano da fortaleza Alemanha (contra a URSS, mas também
contra a França, vejam-se os livros de Annie Lacroix-Riz
<https://www.wook.pt/autor/annie-lacroix-riz/1681662> ) está doravante
terminado. Não concluamos que eles vão desentender-se e atacar-se, pelo
menos imediatamente, eles têm muitos interesses em comum para isso e
podem, mais uma vez, reconciliar-se para atacar a Rússia ou a China...
enquanto continuam juntos a avançar se puderem na Ucrânia, Bielorrússia,
Cáucaso, etc.

*"Ajuda ao emprego = ajuda publica para despedimentos em massa:
aberração ou efeito sistémico? *

Devemos ver também e sobretudo o aspecto oculto desta política económica
que revela cruamente a multiplicação de despedimentos nas empresas
capitalistas a abarrotar de dinheiro por Macron e Cia. (e antes dele
pela CICE [2] <#notas> sarkozysta e pelo Pacto de Responsabilidade
holandês), e isso sem qualquer contrapartida séria do lado patronal.
Esta política de subsidiar massivamente o lucro privado com dinheiro
público leva a uma contradição potencialmente revolucionária quando o
dinheiro do contribuinte, distribuído às cegas para o emprego, é usado
para... deslocalizar massivamente e eliminar os empregos industriais
restantes. Devemos também falar sobre a maneira como em 2008 os Estados
burgueses, e a França sarkozysta deram o exemplo, salvando os bancos
privados da falência, endividando-se colossalmente... junto dos mesmos
banqueiros, e fazendo em seguida os povos pagarem ("euro-austeridade")
em nome do "reembolso da dívida".

A Air France-KLM, Renault, PSA, Auchan e agora Bridgestone-Béthune,
todos eles obtiveram enormes verbas retiradas dos nossos impostos para,
de facto, realizar planos de despedimentos em massa que já estavam em
preparação nos conselhos de accionistas muito antes que alguém tivesse
ouvido a palavra "Covid-19"…

O escândalo é enorme e a raiva cresce por todos os lados porque quem
neste momento apenas vê o poder de Macron, mesmo olhado pela "esquerda"
pelo vigarista político Xavier Bertrand, não sabe como justificar o
enorme desperdício de dinheiro público que constituem estas "ajudas" ao
grande patronato sem controle público ou "contrapartidas" em termos de
emprego, meio ambiente e condições de trabalho. Todos vêem, pelo
contrário, que se trata, do ponto de vista ético, de um grande desvio e
que os cofres dos capitalistas parecem cada vez mais um novo "barril de
Danaïdes" cuja particularidade seria de estar privado de fundo, à
excepção de privatizar os fundos públicos!

Vemos, portanto, os mesmos economistas burgueses que protestam contra a
"tributação confiscatória" (isto é, sobre os ricos, /Le Point/
<https://en.wikipedia.org/wiki/Le_Point> não tem nada contra o IVA pago
pelos trabalhadores, mas muito contra o que é pago pelos
capitalistas...) considerando funcionários públicos (bombeiros,
funcionários de hospitais, professores, pesquisadores do CNRS, etc.)
parasitas sugando o sangue da burguesia. Aceitam como é evidente que
Estados e governos "liberais" paguem dezenas de milhares de milhões (e
será ainda pior com o "empréstimo europeu") aos accionistas das empresas
privadas que costumam "justificar" as suas enormes receitas pelos
supostos "riscos" que correm. Mas quem tem mais "risco" de dormir
debaixo de pontes, o accionista da Bridgestone ou o trabalhador químico?

*Por trás do "neoliberalismo", as novas formas de capitalismo
monopolista de Estado à escala (trans)continental *

Simplesmente eis o "escândalo" que fingem denunciar Xavier Bertrand,
dirigentes do PS, etc, que fizeram e que fariam como Macron se chegassem
ao poder, e que não se deve à "ingenuidade" de Macron que teria, enfim,
sido enganado pelos capitalistas ... dos quais ele próprio é uma
emanação, como antes dele, Pompidou foi uma espécie de procurador de
Rothschild antes de se tornar ministro e depois presidente).

Em suma, não se trata de um "erro" ou então seria diabólico, já que o
PCF, então marxista, o denunciava nos anos 1970 ao publicar o livro /Le
Capitalisme Monopoliste d'État, / demonstrando, na continuação dos
estudos avançados por Marx, depois por Lenin, que na nossa época, o
capitalismo competitivo e liberal mais ou menos "puro" do século XIX há
muito tinha dado lugar:
a) ao imperialismo, onde dominam os monopólios capitalistas, onde domina
o capital financeiro e onde a exportação massiva de capitais
sobre-acumulados é a causa permanente de guerras pela partilha do mundo
(tese clássica do leninismo);
b) e que, especialmente após a terrível crise de 1929 e da resposta
keynesiana, colocou em seu lugar por toda a parte um "mecanismo único
Estado burguês/monopólios capitalistas" no seio do qual predomina em
última análise o grande capital privado.

Já sob De Gaulle e Pompidou, o Estado se desviou das nacionalizações
democráticas levadas a cabo em 1945 pelos comunistas Marcel Paul,
Billoux e Thorez, e alocou milhares de milhões de dinheiro público,
direta ou indiretamente, ao grande capital privado que então procedia a
fusões especialmente à escala nacional (base do gaulismo histórico para
a alta burguesia).

Na época, o Capitalismo Monopolista de Estado (CME) era mais apelativo
que hoje porque se escondia atrás do patriotismo nacional (como se os
capitalistas tivessem uma pátria diferente daquela onde obtêm o máximo
lucro!) e porque, a força do PCF e da CGT ajudando, o financiamento dos
serviços públicos e o dinheiro destinado aos salários eram em proporção
mais elevados que hoje.

Os livros de história e economia explicam-nos como o atual "liberalismo"
destruiu o estado Providência: na realidade, serviram-se do fim do campo
socialista mundial e do (auto-)enfraquecimento dos partidos e sindicatos
comunistas (confundindo "modernidade" com abandono da luta de classes)
para liquidar os serviços públicos destinados a todos e vampirizar o
dinheiro dos cidadãos como nunca antes, colocando-o ao serviço dos
grandes capitalistas em escala cada vez menos nacionais e cada vez mais
transnacionais.

Em suma – e até o economista "liberal" mais estúpido é forçado a vê-lo
hoje – o "neoliberalismo" atual é antes de mais a liquidação do "Estado
Providência" para os assalariados ("providência", mas em resultado de
grandes lutas como as da Frente Popular, da Libertação ou de maio de 68)
enquanto desenvolvia como nunca o Estado providência para os
capitalistas; o que nós, militantes francamente comunistas, sempre
chamamos de Capitalismo Monopolista de Estado, em particular essa
subvenção sistémica e potencialmente mortal do grande capital que é a
corrida aos armamentos fautora de incessantes guerras imperialistas e
enormes desperdícios em termos de recursos naturais, dinheiro subtraído
a produções úteis e desvio para pesquisas científicas mortíferas.

*Dialética da forma e da essência *

O CME não "desapareceu", "desloca-se" e continentaliza-se de maneira
ainda mais perigosa! Mas as aparências iludem apenas aqueles que são
incapazes de distinguir as formas desatualizadas de CME, que na década
de 1960 eram principalmente internas aos Estados nacionais e as formas
atuais, cada vez mais euro-regionalizadas, continenalizadas e
transcontinentalizadas; "Estado" não é sinónimo de "Estado-nação", e do
império continental germano-europeu, se possível aninhado numa futura
"União Transatlântica" (é o vocabulário do MEDEF
<https://www.medef.com/en/> que fala de "precisar de ar" - no passado já
se disse, em alemão, /"Lebensraum" / ) que mostra a sua vontade de
poder. Tanto Dominique Stauss-Kahn, do PS, como Bruno Le Maire, exaltam
um e outro aberta e publicamente o "Império Europeu" em construção
(tendo por base jurídico-económica presente ou futura, a CETA
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_Integral_de_Economia_e_Com%C3%A9rcio>
, o TAFTA <https://en.wikipedia.org/wiki/Transatlantic_Free_Trade_Area>
, etc, coroado pela OMC e protegido por uma NATO globalizada).

Mas o que seria a "Europa federal" desejada por Macron e flanqueada por
um "exército europeu" encostado à NATO e uma "diplomacia europeia",
senão um novo estado supranacional expansivo (depois da Ucrânia e se
possível da Bielorrússia, o que se passará?). Que abaixamento do QI
político médio significa encontrar ainda no nosso tempo "marxistas
internacionalistas" que sufocam de raiva contra qualquer ideia de
patriotismo francês, como se Robespierre, Jaurès ou Politzer não
tivessem escrito nada sobre isso, mas quem, como Arlette Laguiller
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Arlette_Laguiller> , que tolamente
gaba-se de ser "mais europeia do que francesa": como se o
supranacionalismo euro-atlântico não fosse ainda mais perigoso que o
nacionalismo burguês do avô! Como se a frase devastadora de Mitterrand
exclamando "França é nossa pátria, Europa é nosso futuro" (quase um
elogio fúnebre da República Francesa!) não parecia estar a mil milhas
desta reconfiguração europeia e "transatlântica" do imperialismo que o
filósofo ultra-reacionário (pelo menos na política) Nietzsche já clamava
no final do século XIX, sob o nome de "grande política" devolvida à
elite mundial.

Como Losurdo estabeleceu, este filósofo da hiperpredação feliz opondo-se
ao nacionalismo abertamente "plebeu", "cristão", "nacional" e
"socializante" de um Bismarck! Lembremos a estes falsos marxistas as
palavras de Lenine criticando as reflexões pseudo-internacionalistas
europeias de Kautsky ou Trotsky: "em regime capitalista, os Estados
Unidos da Europa não podem ser senão utópicos ou reacionários"…

Quem poderia dizer fria, empírica, pragmaticamente, olhando de perto o
que a "Europa" trouxe aos trabalhadores em termos de destruição social e
degradação massiva, que Lenine estava errado no seu diagnóstico? Em todo
caso, os trabalhadores não se enganam: em 1992, quase 60% votaram NÃO na
bacia mineira de Lens e, em 2005, quase 80% dos trabalhadores franceses
disseram NÃO à constituição europeia. Vamos lá então, senhores burgueses
e pequeno-burgueses com a vossa propaganda euro-adocicada, nunca
convencerão alguém que é cuspido a exclamar: "eis o orvalho da manhã"!

*O Estado não desaparece, redimensiona-se à escala continental *

O CME "moderno", não é "menos Estado", mas mais Estado burguês, polícia,
exército, deduções fiscais (de preferência através de impostos indiretos
que atingem principalmente os "pequenos"), indo dialeticamente a par com
menos serviços públicos e proteção social, para poder financiar a
acumulação de capital. De facto, vivemos numa época em que a inevitável
tendência da queda da taxa média de lucro exige que à exploração
clássica seja adicionada uma pilhagem excessiva dos países pobres e um
subsídio massivo ao capital, vindo de todos os escalões territoriais do
poder público: Estado-nação ainda e sempre, enquanto permanecer nas mãos
da grande burguesia, mas também "Europa" - o que é o "grande empréstimo
europeu" senão CME praticado à escala continental?

"Grandes regiões", "Metrópoles" e outras "comunidades aglomeradas"
sufocando as comunas e os departamentos republicanos. Mais uma vez, o
poder do Estado não desaparece: move-se, transforma-se da escala
nacional para as escalas infra e supranacionais. E é triste que ainda
haja tantos "marxistas" para aplaudir com as duas mãos o estabelecimento
desses monstros político-militares que carregam a guerra mundial dentro
de si como a nuvem carrega o raio!

*Conclusão *

Para acabar com o escândalo permanente que são as ininterruptas
subvenções ao capital privado por parte do poder público, não basta
protestar contra Macron, nem mesmo exigir a sua demissão, por muito
necessário que seja, porque todos os partidos ligados à UE e à "economia
de mercado aberta ao mundo", o dito neoliberalismo, fazem, fizeram ou
farão o que Macron está a fazer, seja o LAREM, o LR, o RN (que pretende
ser "patriota", mas aceita oficialmente o capitalismo, o euro, a NATO e
a UE) ou o PS ladeado pelos seus eternos satélites "euro-ecológicos",
"euro-comunistas", "euro-trotskistas" e outros vendedores ambulantes da
"Europa Social".

Para se livrar do escândalo permanente que a construção europeia
constitui em termos de milhões de operários, empregados e engenheiros
postos na rua, de camponeses levados ao suicídio, mas também de
funcionários públicos precários, pressionados em serviços públicos
exangues, é necessário uma saída pela via revolucionária, a das
nacionalizações-expropriações, da democracia popular, da saída da UE e
do euro, essa austeridade continental feita dinheiro. Sair do perigoso
império capitalista em gestação, a NATO – máquina de globalizar as
guerras americanas e da corrida armamentista – e do próprio capitalismo,
de que o neoliberalismo e a "construção euro-atlântica" são apenas as
máscaras atuais.

Porque, por muito que desagrade aos soberanistas de direita, aos
nostálgicos de um bom e velho liberalismo idealizado e aos
"eurocomunistas" malabaristas da Europa social, a evolução do modo de
produção capitalista é irreversível: não é possível voltar
duradouramente ao capitalismo de Estado "nacional" da era gaulista, nem
restabelecer o "capitalismo competitivo e liberal" do século XIX, nem
reconstituir suavemente ganhos sociais, poupando-se a dura tarefa da
revolução.

Uma nação verdadeiramente emancipada, igualitária e fraternal só pode
ter um conteúdo socialista, a marcha para o socialismo precisa de uma
emancipação completa das nações europeias da camisa de força da UE, e
não de 100 mil sofismas pseudomarxistas contra um "Frexit" progressista.
O "soberanismo" burguês e a "euro-esquerda plural" são dois impasses
simétricos: há que sair pela esquerda, rumo à democracia popular, rumo
ao socialismo, sem hesitar em expropriar pura e simplesmente o grande
capital, o euro mortífero da UE pré-totalitária, da NATO belicista e do
capitalismo monopolista e imperialista!

[1] Ver: O euro já custou 56 000 € a cada francês. Sair do euro, uma
urgencia!
<https://www.initiative-communiste.fr/articles/europe-capital/leuro-a-deja-coute-56-000e-a-chaque-francais-sortir-de-leuro-une-urgence/>

[2] Ver: Tudo sobre o CICE
<https://www.initiative-communiste.fr/theme/cice/>

*[*] Co-secretário nacional do PRCF (Polo de Renascimento Comunista
Francês)

O original encontra-se em www.initiative-communiste.fr/...
<https://www.initiative-communiste.fr/articles/europe-capital/subventions-detat-au-grand-capital-licencieur-ou-le-scandale-permanent-du-capitalisme-monopoliste-detat-a-lheure-de-la-construction-europeenne/>
*

In
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/franca/gastaud_nov20.html#asterisco
1/12/2020

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