sexta-feira, 29 de março de 2013

Iniciativa 136, una gestión común del agua

C. Palma. Atenas (Grecia)

28/03/13 · 8:37 Edición impresa Comentarios 0 +A +A

El anuncio del Gobierno griego de una licitación internacional para la
adquisición del 51% de Eyath (organismo que gestiona el suministro de agua de
Tesalónica) ha vuelto a sacar a la palestra una iniciativa con origen en 2011.
Entonces, trabajadores de Eyath junto con otros colectivos y ciudadanos
preocupados por las consecuencias de la privatización, pusieron en marcha el
proyecto denominado Iniciativa 136, en referencia a la cantidad resultante de
dividir el valor de la empresa de agua entre las personas abastecidas. Su
propósito, la creación de cooperativas ciudadanas que, unidas, adquirieran la
parte de Eyath sacada a concurso. Después, su gestión, organizada en torno a
principios de democracia de base, justicia social y respeto por el
medioambiente, garantizaría, según sus impulsores, un servicio verdaderamente
público.
El acceso al agua
Según denuncia Costas Marioglu, vicepresidente del sindicato de trabajadores de
Eyath, la privatización, que afecta ya a un 26% de las acciones de la compañía,
no repercutiría sólo de manera negativa en las condiciones laborales de los
empleados. Las infraestructuras de la red de agua y saneamiento se resentirán
debido a la falta de inversiones y la calidad del servicio se verá deteriorada.
“Pero el principal problema”, añade el activista de la Iniciativa 136, “serán
las tarifas. ¿Qué ocurrirá con quienes han perdido sus trabajos y carecen de
ingresos [para hacer frente a un incremento]? ¿Cómo van a vivir sin agua?”.
Eyath presta servicios de suministro y saneamiento a más de un millón de
personas en el área metropolitana de Tesalónica. En los últimos años la empresa
no sólo no ha generado pérdidas, sino que los beneficios se incrementaron de
12,4 millones de euros en 2010 a 20,1 en 2011. Sin embargo se encuentra, junto
con su homóloga de Atenas, en la lista de organismos cuya privatización la
troika exigió el año pasado al Ejecutivo heleno. Según un procedimiento habitual
en estos casos, el mantenimiento de las infraestructuras seguirá siendo
responsabilidad del Estado, mientras que la gestión de los cobros o la fijación
de las nuevas tarifas corresponderán a quien adquiera el 51% en proceso de
licitación. El gigante del agua Suez es uno de los favoritos.
“Pero el principal problema”, añade el activista de la Iniciativa 136, “serán
las tarifas. ¿Qué ocurrirá con quienes han perdido sus trabajos y carecen de
ingresos [para hacer frente a un incremento]? ¿Cómo van a vivir sin agua?” La
propuesta de la Iniciativa consiste en que, mediante el pago de una contribución
de 136 euros, gradualmente todos los ciudadanos –y las personas jurídicas que lo
deseasen, exceptuando partidos políticos–, entren a formar parte de una serie de
cooperativas locales. Éstas, bajo la forma de una Sociedad Anónima, adquirirían
y gestionarían Eyath de manera democrática y sin ánimo de lucro. Todos los
procesos serían transparentes y estarían sujetos al control de la Asamblea
General de cooperativistas, que elegiría también a los cargos, revocables, a
partir de una lista única.
Desde que se iniciara en 2011, el proyecto ha recibido el apoyo de la mayoría de
los ayuntamientos de los municipios de Tesalónica, y de gran número de
colectivos sociales. Hasta la fecha, varios miles de personas se han inscrito en
las cooperativas constituidas.
Sin embargo, la acogida no ha sido la que los impulsores contaban, y que achacan
a la crisis que hace imposible contribuir económicamente a los ciudadanos.
Buscando posibles soluciones, en la reunión del Foro Social Europeo de otoño
pasado, el Foro Italiano del Agua lanzó la propuesta de reunir fondos a nivel
europeo para prestarlos a la cooperativas de la Iniciativa 136.
Según explica Marioglu, cuando el mes pasado el Gobierno griego abrió el proceso
para concursar en la licitación, lo hizo imponiendo una serie de condiciones
que, de momento, dejarían fuera a la Iniciativa. Por eso la estrategia se centra
ahora en la ofensiva legal, basada en la ley antimonopolio europea, y en la
movilización social que logre hacer presión para la gestión pública de Eyath.
“Confío en que el llamamiento a la Justicia europea obtenga resultado y el
procedimiento de venta se bloquee”, dice Marioglu, y asegura que la Iniciativa
136 pretende ir más allá. “Creemos que los modelos estatal y privado [de gestión
de los recursos] han fallado. Implica corrupción. Nuestra lucha no es sólo para
que los bienes comunes pertenezcan a los ciudadanos y cada país, sino para que
sean ellos también quienes los gestionen”, dice el representante de Eyath.
*****
In
Diagonal
http://www.diagonalperiodico.net/global/iniciativa-136-gestion-comun-del-agua.html
283/2013

sábado, 16 de março de 2013

Marx e a crise: os fantasmas, agora, são eles Marx

por Mauro Luís Iasi [*] "Marx, hoje, volta a rondar a Europa, os EUA, a Ásia, nossa América Latina. Não somos mais um mero espectro. Somos cada vez mais de carne, osso, sangue e sonhos, enquanto eles se transformam a cada dia em fantasmas." A atual crise do capitalismo mundial, além das graves consequências que traz para os trabalhadores, acabou por propiciar um efeito direto no debate teórico e acadêmico: uma retomada das ideias de Marx. Por que isso ocorre? Que tipo de previsão foi realizada por Marx que o faz tão maldito, perseguido e tão renitente em nascer e renascer cada vez que o julgam morto em definitivo? Passamos, nós marxistas, pelas décadas de 1980 e 1990 resistindo no universo acadêmico como se fôssemos dinossauros anacrônicos, insistindo em teses que desmoronam diante das "evidências" pós-modernas, que afirmavam o fim da validade da teoria do valor, o fim da centralidade do trabalho, das classes e, por consequência, das formas organizativas e dos projetos políticos próprios da classe trabalhadora. Karl Offe [2] chegou a afirmar que, depois das ideias de Touraine, Foucault e Gorz, o pensamento marxista não teria mais muita "respeitabilidade cientítico-social". O próprio Keynes, que alguns se preparam para resgatar como balsamo benígno contra os males da desregulação, sobre O Capital de Karl Marx decretou: "Como posso aceitar uma doutrina que estabelece como bíblia, acima e além de qualquer crítica, um manual econômico obsoleto que reconheço não só como científicamente errôneo, mas também sem interesse ou aplicação para o mundo moderno?" [3] Logo na sequência do mesmo texto, Keynes confirmará sua postura "científica" ao declarar preferir a burguesia que "apesar de suas falhas, representa a prosperidade" e certamente leva as "sementes de todo avanço humano", criticando aqueles que "preferem a lama ao peixe" e "exaltam o proletariado rude" contra a burguesia. Parece que a burguesia continua, em sua incansável rota em direção ao avanço humano, cometendo "algumas falhas", que ameaçam a humanidade para garantir o avanço do capital. O proletariado rude, imerso na lama na qual tem que viver, mais uma vez tenta compreender a natureza da vaga que ciclicamente o afoga e, mais uma vez, o velho Karl Marx se levanta de seu descanso no cemitério de Londres para assombrar os respeitáveis senhores da ciência. Qual seria o elemento teórico que encontramos em O Capital que permite que Marx seja ainda tão contemporâneo? Primeiro, poderíamos dizer que Marx era, de certa forma, mais anacrônico em sua época do que agora. Como pensa o capital como um conceito, um movimento do real que dialeticamente transita através de suas formas e, sendo histórico, nasceu, se desenvolveu e um dia irá ser superado, Marx projeta, pela análise precisa do ser do capital, aquilo que denomina de modo de produção especificamente capitalista, ou seja, um mundo subsumido inteiramente ao metabolismo do capital, no qual reina a subordinação real do trabalho ao capital, no qual a mercadoria e o dinheiro são realidades universais, subordinando o valor de uso ao valor de troca. Ao projetar o capital maduro e completo é que Marx pode avaliar o processo possível de sua superação. Um procedimento que os antigos, antes que os pós-modernos convencessem o mundo acadêmico a aderir a um novo agnosticismo, chamavam de ciência. Ora, este capital maduro estava longe de corresponder à realidade de meados do século XIX; no entanto, para desespero da respeitável intelligentsia, o capitalismo contemporâneo se parece muito mais com a previsão de Marx do que com a projeção mítica anunciada pelos arautos do liberalismo e da economia política. Apesar de autores como Boaventura de Souza Santos afirmarem que, considerando os três gigantes clássicos do pensamento social (Marx, Durkheim e Weber), Marx teria sido entre eles o que "errou de forma mais espetacular" [4] . Mas o desfecho do mundo burguês no inicio do século XXI se caracteriza inequivocamente por uma constatação: o mito liberal morreu! Qual é a essência do mito liberal e como Marx se contrapôs a ele? O fundamento do mito liberal pode ser resumido da seguinte maneira: o capitalismo é um sistema virtuoso, pois permite que cada um, buscando seu próprio interesse egoísta, contribua para o estabelecimento do bem comum. Dessa maneira, é o único que pode articular de maneira eficiente os valores do indivíduo, da liberdade, da propriedade e da igualdade. O capitalista busca lucro, mas para obtê-lo produz mercadorias e para tanto gera emprego. O trabalhador quer pagar suas contas e viver e por isso vende sua força de trabalho. Com seu salário compra as mercadorias oferecidas pelos capitalistas e assim se fecha o ciclo. O burguês tem seu lucro, o trabalhador seu salário e a sociedade cada vez mais mercadorias com que satisfazer suas necessidades. O sistema capitalista seria, ainda, virtuoso não apenas pelo equilíbrio entre interesses individuais egoístas e interesse geral, mas por sua dinâmica: quanto mais o capital produz mercadorias, mais contrataria, mais salários distribuídos intensificariam o consumo, que levaria a nova produção, mais contratações e novos salários que induziriam ao aumento do consumo e assim por diante, da melhor forma possível e no melhor dos mundos. Recentemente, o presidente Lula conjurou o mito com todas suas letras ao afirmar que diante da crise os trabalhadores em vez de pedir aumento deveriam fazer com que suas empresas produzissem mais, para aquecer o Mercado, atender as necessidades do mercado consumidor e daí garantir, não apenas empregos como a possibilidade futura de melhores salários. Apesar da fé consagrada de muitos ao mito, Marx escreveu O Capital para comprovar a falácia deste argumento central do pensamento burguês. Podemos resumir desta forma as principais conclusões do pensador alemão para contrapor uma visão científica à ideologia liberal: a) quanto mais cresce a concorrência entre os capitalistas, menor é a livre concorrência e maior é a tendência ao monopólio; b) nas condições de uma concorrência entre monopólios, os capitalistas tendem sempre a investir mais em capital constante (máquinas, instalações, novas matérias primas, etc) para aumentar a produtividade do trabalho, do que em capital variável (a compra da força de trabalho) alterando drasticamente a composição orgânica do capital em favor do trabalho morto; c) o resultado aparentemente paradoxal desse processo é uma tendência à queda na taxa de lucro, ou seja, quanto mais o capital cresce, maior é a produtividade do trabalho pela aplicação consciente da técnica e da ciência ao processo de trabalho, quanto mais o capital se torna monopolista e mundial, menor é a taxa de lucro. Na verdade, a tautologia liberal afirma que quanto mais o capital cresce, mais ele cresce. O que Marx anunciou pela dialética do capital, compreendido pela minuciosa análise que se nega a permanecer na superfície aparente dos fenômenos, é que quanto mais o capital cresce, mais ele produz a crise que é própria à sua natureza, ou seja, de ser valor em constante processo de valorização, ou seja, uma crise de superacumulação que se combina de forma explosiva com manifestações de superprodução, subconsumo e queda tendencial da taxa de lucro. O fato desconcertante para os adeptos dos planos de aceleração do crescimento, ou da irracionalidade exuberante como batizou Greenspan (ex-presidente do Banco Central norte-americano), é que o que causa a crise não é a carência, mas a abundância, a pletora. Um raciocínio típico de Marx, isto é, não argumenta com o adversário teórico pela negação de sua tese, mas pela suposição de sua plena realização. No caso concreto de nossa análise, afirma que a dinâmica do capital leva à aparente confirmação do mito liberal, levando a sociedade a uma espiral irresistível de produção, consumo e reinvestimento; no entanto este reinvestimento sempre se dá, pela própria concorrência, seja livre ou monopólica, alterando a composição orgânica em favor do capital constante e, portanto, alimentando a queda tendencial da taxa de lucro. No momento agudo deste processo, o capital realizado ao final do ciclo, e que deveria voltar ao início como novo capital inicial, encontra todo o metabolismo do capital saturado de investimentos, muitos meios de produção instalados, muitos trabalhadores empregados, muitas mercadorias produzidas, e tudo isso com taxas de lucro menores. Em momentos normais, o capital migra para outra área, seja para produzir outro tipo de mercadoria, seja para outra região em busca de elementos que possam baratear seus custos com força de trabalho, matérias primas ou outros elementos do capital constante. No entanto, nas épocas que antecedem às crises, considerando o capital total, é como se o capital não encontrasse onde aportar e começa a parar. Como o capital é, antes de qualquer coisa, movimento do valor em constante processo de valorização, sua crise ocorre quando este movimento se paralisa em algum ponto do ciclo do capital: como dinheiro que não consegue virar crédito, como capacidade instalada e ociosa, como força de trabalho contratada e impedida de trabalhar, como mercadoria produzida e que não encontra o consumo na proporção de sua oferta, ou ainda pior, como consumo realizado que alimenta a fogueira da superacumulação. Para que possamos entender o desfecho da crise e, principalmente, os efeitos sobre a classe trabalhadora, é necessário recorrer a um raciocínio essencial que Marx desenvolve ao tratar de sua tese sobre a queda tendencial da taxa de lucro no Livro III de O Capital: as contratendências. Marx precisava defender sua tese em um momento no qual o mito liberal esbanjava saúde. A primeira grande crise do capital, entre os anos 1870 e 1880, ofereceu para o autor os elementos centrais de sua afirmação. No entanto, o capital estava destinado a sair dessa crise e de outras. É preciso não confundir a teoria de Marx sobre a crise com qualquer afirmação messiânica sobre uma crise final catastrófica que levaria por si mesma ao fim do capitalismo [5] . Para o autor, o capital desenvolveria elementos contra-tendenciais que fariam da queda na taxa de lucro uma tendência e das crises uma realidade cíclica, ou seja, em outras palavras, não se trata de uma linha descendente que culmina no fim do poço, mas de um movimento de crescimento, auge, crise e retomada até novo ápice que leva a uma nova crise. As chamadas contratendências [6] seriam todas as ações empreendidas pelo capital no sentido de se contrapor à queda na taxa de lucro. Podemos resumi-las da seguinte maneira: a) aumento do grau de exploração da classe trabalhadora, seja pelo aumento da jornada de trabalho, seja pela intensificação do trabalho; b) redução dos salários; c) redução dos preços dos elementos do capital constante, tais como buscar matérias-primas mais baratas, máquinas mais eficientes, subsídios para insumos e serviços essenciais como aço, mineração, energia, armazenamento, transporte e outros; d) formação de uma superpopulação relativa, ou seja, reunir um contingente de força de trabalho muito além das necessidades do capital e mesmo além do exército industrial de reserva como forma de pressionar o valor da força de trabalho para baixo; e) ampliação e abertura de mercado externo como forma não apenas de desovar o excedente produzido, como de encontrar fontes de matéria prima e recursos abundantes, barateando seus custos; d) o aumento do capital em ações, isto é, buscando compensar a queda na taxa de lucro com juros oferecidos pelo mercado de papéis oferecidos por empresas ou por títulos do Estado. Notem que todas as contratendências escondem um sujeito oculto. Trata-se, já no final de O Capital, de mais um embate, este decisivo, contra a ideologia liberal. Quem administra os limites da exploração do trabalho, seja pelo tamanho da jornada, seja pelas condições gerais da contratação? Quem determina os limites legais da compra da força de trabalho e seu valor? Quem pode baratear os elementos do capital constante por meio de subsídios, créditos facilitados, isenções e outros meios conhecidos? Quem assume o custo de administração, manutenção e controle sobre uma superpopulação relativa cujo papel é nunca entrar no mercado e trabalho? Quem representa os interesses das corporações monopólicas na ampliação, conquista e manutenção de mercados em disputa com outros monopólios? Finalmente, quem se presta ao papel de oferecer títulos que remuneram com taxas de juros generosas sem se preocupar em perder dinheiro ou comprar de volta títulos podres e sem valor? Esse sujeito, que mal se oculta, só pode ser o Estado! Eis que se desmorona a mãe de todos os mitos liberais: o Estado não deve intervir na livre concorrência entre os indivíduos pela disputa de riquezas e propriedades, resumido na tese da não intervenção estatal na economia. Para Marx, o Estado sempre foi um fator determinante no sociometabolismo do capital, em seu nascimento na acumulação primitiva de capitais, na garantia das condições gerais chamadas de extraeconômicas (garantia da propriedade, subordinação legal e institucional da força de trabalho ao capital, defesa da ordem, etc.) no período de ouro do liberalismo, na representação dos monopólios na partilha e repartilha do mundo, fazendo dos interesses das corporações o interesse nacional; e, por fim e mais importante, nos momentos de crise em que o custo da exuberância irracional, que levou à apropriação indecente da riqueza socialmente produzida na forma de acumulação privada, tem que ser socializado por toda a Nação. Além do evidente papel do Estado no comando e gerenciamento das contratendências, fica evidente o caráter de classe destes mecanismos, o que nos ajuda a entender os efeitos que recairão sobre os trabalhadores. A intensificação da exploração, que leva ao aumento do desgaste da força de trabalho e à intensificação dos acidentes e das doenças profissionais; a redução de salários, assim como a precarização das condições de contratação, com relativização e perda de direitos; o aumento da superpopulação relativa, que tem por base a intensificação da expropriação dos camponeses e de todos que ainda conseguem manter seus meios diretos de trabalho, e que leva à explosão urbana com todas suas consequências conhecidas no campo da habitação, dos serviços essenciais como educação e saúde, mas também no que se refere a questão da violência e da criminalidade. Mesmo as ações que aparentemente não se relacionam diretamente com o agravamento das condições de exploração e a precarização das condições de vida dos trabalhadores acabam por ter efeitos muito sérios sobre a vida de quem trabalha. Os subsídios e isenções ao capital, para baratear os elementos do capital constante ou ajudá-los a manter seus patamares de venda, só podem sair do fundo comum do Estado e, portanto, à custa de cortes dramáticos em serviços públicos duramente conquistados. Só em uma semana, o governo brasileiro gastou R$50 mil milhões para manter o valor do dólar, enquanto durante todo o ano anterior foram gastos um pouco mais de R$ 20 mil milhões com a saúde, apenas para ficar em um exemplo. As fortunas gastas para manter bancos em funcionamento só podem sair do recurso público numa clara expressão de privatizar a pequena parte da produção social da riqueza que ficou no espaço publico, sem que em nenhum momento se questione o volume da riqueza que no ciclo de crescimento permaneceu na esfera da acumulação privada. Talvez o mais grave quanto aos efeitos da ação do Estado na gestão das contratendências para os trabalhadores e a própria humanidade seja um aspecto para o qual Marx não deu maior atenção: a expansão do mercado externo. Quando Marx escrevia o último livro de O Capital, a ordem monopolista mal fazia sua estreia histórica. Para o autor, tratava-se apenas de encontrar mercados para os produtos e encontrar fontes de matérias-primas. Ocorre que, com o pleno desenvolvimento dos monopólios, passa a ser decisivo, como estudou mais tarde Lenin, a exportação de capitais, e daí a necessidade de controle das áreas de influência, levando a constante partilha e repartilha do globo, primeiro entre os monopólios e depois entre as nações que os representam, levando à Guerra. A fase imperialista e a prática da guerra, que lhe é inseparável, fizeram desta contratendência quase que a síntese da ação do Estado em defesa do capital e da manutenção de suas taxas de lucro contra a tendências das mesmas em cair. Não apenas pela enorme destruição material que a Guerra causa, abrindo campo para novas inversões em condições de lucratividade retomada em patamares aceitáveis para o capital, como pelo próprio estabelecimento de um complexo industrial-militar que vende ao Estado mercadorias que terão que ser substituídas quer sejam ou não usadas (como no caso do arsenal nuclear), como teorizou de forma precisa Mészáros. Podemos resumir, afirmando que, na dinâmica das contratendências, as vítimas são os trabalhadores, os beneficiários a burguesia monopolista e o instrumento o Estado, não apenas como aparato técnico jurídico-adiministrativo, mas também e principalmente pela capacidade que lhe é própria de apresentar como universal um interesse que é particular. Nesse campo, o da luta política, a crise é o momento de retirar da gaveta do arsenal da política burguesa a tese do pacto social. No momento da crise se reapresentam todas as alternativas em disputa. Podemos resumi-las em três posições: a) a afirmação de que tudo não passa de um incidente, mais ou menos grave, mas de qualquer forma um incidente que não compromete a estrutura do mito, ou seja, basta voltar a crescer que os empregos voltam, o consumo cresce, e tudo volta ao círculo virtuoso do capital; b) a retomada da crítica keynesiana, que aparece simultaneamente como afirmação da ordem do capital com todos os elementos que lhe são próprios (inclusive a livre concorrência), mas que afirmará a necessidade de retomar mecanismos de regulação, ou seja, não se trata de evitar a livre concorrência, mas de regular certos aspectos para que suas consequências inevitáveis não gerem condições catastróficas que possam levar ao questionamento do sistema; c) a alternativa socialista, ou seja, aquela que se fundamenta na afirmação sobre a necessidade da produção social da riqueza ser gerida também de forma social, levando à acumulação social da riqueza ser concebida como valor de uso e não mercadoria. No presente quadro, a primeira, um pouco na defensiva e sem a arrogância que caracterizou o último ciclo, não desaparecerá. Ela se inscreverá na afirmação que basta o Estado dar os elementos para que o capital volte a crescer, sem que interfira na disputa econômica direta, por exemplo, através das estatizações. A segunda, de corte keynesiana, será a mais ativa e, portanto, mais enganosa e perigosa para os trabalhadores. Sob o manto de uma necessidade comprovada de maior regulação, que deverá se inscrever nos limites do mundo financeiro, pode chegar até a defender, como aliás já está acontecendo, algumas ações estatizantes. No entanto, esta opção mal esconde uma enorme luta política que marcou o século XX. Foi preciso ceder a determinadas demandas dos trabalhadores, por direitos e condições de vida, frente à ameaça de superação revolucionária da ordem, representada pelo advento da revolução Russa de 1917. A solução keynesiana, que não se revestiu no século XX necessariamente com a forma de um Welfare State social democrata de perfil europeu, nos EUA prevaleceu com o New Deal, mantendo a base de uma economia de mercado fundada na livre concorrência, e na América Latina, por exemplo, a regulação estatal se deu na forma de ditaduras militares mais preocupadas com o Estado do que com o bem-estar. No quadro conjuntural atual, de inflexão política, de desmonte e isolamento das tímidas alternativas de transição socialista iniciadas no século XX, os regulacionistas tendem a se comportar mais como liberais contidos e responsáveis do que como social democratas. Aos trabalhadores cabe uma outra ordem de tarefas. Primeiro: resistir, não aceitando que o ônus da crise recai sobre o setor que mais se penalizou no ciclo de crescimento. Não apenas lutando para que nenhum direito lhe seja retirado, como se recusando a proposta do tipo redução de jornada com redução de salário ou qualquer precarização de suas já precárias condições de contrato e de trabalho. Segundo: forçar o Estado para que se recuse a usar o recurso público para dirimir perdas ou incentivar produtividade de um setor da economia monopolizada, que lucrou fortunas e as acumulou privadamente. Enquanto o governo se regojiza com a informação de que os 20% mais pobres passaram de U$1,00 por dia para U$2,00 de maneira que saíram de uma posição que os colocava abaixo da linha da miséria para uma condição de dignidade duvidosa na linha da miséria, as 500 maiores empresas do Brasil, entre 2002 e 2007 viram seus lucros saltarem de R$ 2,9 mil milhões para R$43 mil milhões. Em terceiro lugar, está na hora de a classe trabalhadora deixar de optar entre qual é a ortodoxia burguesa que mais lhe convém, se a liberal ou a keynesiana, e dizer a pleno pulmões que as previsões liberais ou regulacionistas, que prometiam que o crescimento econômico levaria a uma paulatina diminuição das desigualdades sociais e a um mundo justo e equilibrado, naufragaram triunfalmente. Depois os marxistas é que são acusados de "determinismo econômico"! O que é a tese de que os problemas sociais só se resolverão com o crescimento econômico de tipo capitalista senão a mais mecânica afirmação economicista? O Brasil tinha como modelo os EUA e a Europa. Queríamos, na expressão de Galeano, ser como eles. Pois bem, já somos. Somos parte integrante do sistema capitalista mundial, no papel que nos cabe, como área de saque do imperialismo. Uma área especial que, devido ao grau de investimento imperialista dos grandes monopólios, constituímos como uma formação social com um capitalismo moderno e completo que inclusive ensaia seus primeiros movimentos no sentido do imperialismo tupiniquim, como tem teorizado Virgínia Fontes, sem, contudo, nunca sair de baixo das asas dos centros hegemônicos do imperialismo mundial. Devemos recusar o papel miserável de entrar no debate que busca "como sair da crise". Devemos pautar o debate, o único que interessa aos trabalhadores, sobre qual forma de sociabilidade atende os interesses reais dos trabalhadores e da humanidade e pode, de quebra, evitar que ciclicamente todo o esforço produtivo seja destruído por uma nova crise que, para salvar o capital e suas taxas de lucro, destrói produtos, fábricas e seres humanos em uma escala genocida. Para nós, marxistas, existe essa alternativa: é necessário e urgente que a produção social da vida liberte-se das relações sociais de produção de tipo capitalista, superando a propriedade privada dos meios de produção e desenvolvendo as forças produtivas materiais como recursos coletivos e patrimônio da humanidade, e não propriedade dos monopólios burgueses, de maneira que possamos caminhar para a superação da forma mercadoria e afirmar a centralidade do valor de uso. Nossa meta socialista pode ser compreendida por aqueles que nos interessam que a compreendam? Em grande parte esta é a arte da política, como disse Bourdieu: a política é a arte de "fazer crer que se pode fazer o que se diz" [7] . Nós acreditamos que sim e que podemos expressar os fundamentos de nossa proposta através de três afirmações muito simples: 1) ninguém pode se apropriar de recursos necessários à produção das condições que garantem a existência coletiva da humanidade; 2) ninguém pode se apropriar em caráter privado da força de trabalho humana, pois ela é a principal força de produção e o principal recurso comum da espécie para garantir sua existência, não podendo assumir a forma de uma mercadoria; e 3) a riqueza coletivamente produzida não pode ser acumulada privadamente. Como dizia Brecht, "uma coisa muito simples, dificílima de ser feita". No entanto, nesse ponto a crise nos ajuda, Nunca ficou tão didático o caráter destrutivo da atual forma do capitalismo monopolista e imperialista, nunca ficou tão evidente a falácia do mito liberal, nunca foi tão urgente dotar a humanidade de uma alternativa para além da ordem do capital. Os liberais, velhos, neos e recentes; os pós-modernos, pós-industriais, pós-socialistas; todos timidamente voltam ao "refugo das livrarias vermelhas", ao qual Keynes havia condenado a leitura marxista como nada tendo de aplicabilidade prática para os tempos modernos, para discretamente voltar a ler Marx e entender o que se passou e o que seus ideólogos não conseguem lhes explicar. Marx, hoje, volta a rondar a Europa, os EUA, a Ásia, nossa América Latina. Não somos mais um mero espectro. Somos cada vez mais de carne, osso, sangue e sonhos, enquanto eles se transformam a cada dia em fantasmas. Notas 1 Apresentado inicialmente no Seminário sobre a Crise Econômica Mundial, promovido pelo PCB São Paulo em novembro de 2008 e modificado para a publicação. 2 Offe, Claus. Capitalismo desorganizado. São Paulo: Brasiliense, 1984, p. 195. 3 Keynes, John Maynard. A short view of Rússia [1925]. Apud Meszáros, Istvan. Para além do Capital. São Paulo: Boitempo, 2002, p. 16. 4 "Max Weber e Durkheim falharam menos estrondosamente que Marx nas suas previsões". (Santos, Boaventura de Souza. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 1999, p. 34.) Do mesmo autor podemos citar a seguinte passagem: "Se o marxismo é uma ciência tem que se submeter à prova dos fatos e os fatos não vão no sentido previsto por Marx" (idem p. 25) 5 Para uma análise crítica sobre a tese da crise final, ver O encontro da revolução com a História, de Valério Arcary (São Paulo: Xamã/ Institute Rosa Sundermann, 2006) 6 Ver o capítulo XIV, do livro III, volume 4 de O Capital de Karl Marx. 7 Bourdieu, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertran Brasil, 1998, p. 185. [*] Membro do Comitê Central do PCB . O original encontra-se em pcb.org.br/... Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . 16/Mar/13 http://www.resistir.info/crise/marx_crise_mar13.html

sábado, 9 de março de 2013

La Antigua Prisión de Huelva transformada en nuevo Centro Social Okupado y

por Javier Rodríguez Después de años de abandono, dejadez e inoperancia de las administraciones para volver a ponerlo en uso, un grupo de personas ha decidido volver a ponerlo en uso, transformando un símbolo de la represión en un símbolo de las alternativas que nos pueden llegar... Algunos de ustedes se habrán preguntado qué quieren decir estas palabras que desde hace unos días lucen en una pancarta que cuelga desde un balcón de la antigua Prisión Provincial. “Centro Social Okupado y Autogestionado” es lo que quieren decir las siglas, lo de “Apoyo Mutuo” es más fácil de entender. A mi, particularmente, me alegra que un grupo de personas haya decidido transformar el infame edificio en el que tantas tropelías se cometieron no hace tanto tiempo: símbolo de la represión franquista y post-franquista contra homosexuales, rojos, anarquistas, primero y después contra “quinquilleros”, gitanos y después contra toxicómanos y siempre contra las clases populares, contra los pobres: “en estos muros malditos, donde reina la tristeza, no se condena el delito, se condena la pobreza”. Después de años de abandono, dejadez e inoperancia de las administraciones para volver a ponerlo en uso, ha sido este grupo de personas los que, valientemente, han decidido volver a ponerlo en uso, transformando, como decimos, un símbolo de la represión en un símbolo de las alternativas que nos pueden llegar: ¿seguimos esperando que las soluciones nos lluevan del FMI, de Bruselas, de Madrid o de Sevilla o asumimos nosotros desde la autogestión y la ocupación legítima de los espacios públicos que otros están intentando “apropiarse” ilegítimamente? Uno puede estar más o menos de acuerdo con el ideario de los promotores de esta iniciativa, puede compartir algunos de los elementos que los animan y otros no, pero nadie puede negar que son valientes, que van por delante en la realización de propuestas y alternativas, que, en los tiempos que corren son más que necesarias. El okupar -así con k, aunque el corrector marque esta palabra como falta de ortografía- un espacio vacío y baldío, no para apropiárselo, si no para ponerlo al servicio de la ciudadanía es un gesto que les honra, un gesto que hay que respaldar y no denunciar. Ellos animan a la participación y a la construcción conjunta de este proyecto, así que, ya saben, en la antigua cárcel podrán encontrar un nuevo espacio en el que construir otro tipo de relaciones, de sociedad, porque hay alternativas, porque no nos podemos conformar, porque otro mundo ya está en marcha y espacios como el Centro Social Okupado y Autogestionado “Apoyo Mutuo” así lo demuestran, no les dejemos solos. Les necesitamos y, probablemente, nos necesitan. (Fuente: Las dos orillas. Autor Javier Rodríguez) http://www.laotraandalucia.org/node/528 ********************** In: http://www.kaosenlared.net/component/k2/item/49780-la-antigua-prisión-de-huelva-transformada-en-nuevo-centro-social-okupado-y-autogestionado.html 9/3/2013

A participação de PCs nos governos: Seria esta uma forma de sair da crise capitalista?

por Herwig Lerouge [*] Ao longo dos últimos anos, a possibilidade existente de certos partidos comunistas (ou ex-comunistas) de participar do governo, permanece na ordem do dia. Na Alemanha, o Die Linke participou de alguns governos regionais e, certamente, continua participando. O partido discute a possibilidade de participar do governo federal. Na Grécia e nos Países Baixos, a coligação de esquerda Syriza e o Socialistische Partij vem anunciando claramente sua vontade de entrar para o governo. A folgada maioria do Partido Socialista Francês, durante as recentes eleições parlamentares de 2012, eliminou a dúvida sobre uma nova participação no governo do Partido Comunista Francês. O PCF e, na Itália, a Rifondazione Comunista e o Partido dos Comunistas Italianos, participaram de muitos governos no transcorrer das últimas décadas. Em 2008, o êxito eleitoral de alguns destes partidos levaram uma revista britânica de esquerda, a The New Statesman, concluir: "O socialismo, o socialismo puro, inalterado, uma ideologia considerada morta pelos capitalistas liberais, regressa com força. Ao longo do continente, assistimos à tendência de que os partidos de centro-esquerda estabelecidos há muito tempo sejam desafiados por outros, indubitavelmente socialistas, que defendem um sistema econômico em que os interesses do capital se subordinem aos dos simples trabalhadores". [1] Infelizmente, esta visão sobre um brilhante futuro socialista para a Europa foi ultrapassada pelos últimos resultados eleitorais e, fato mais importante ainda, pela evolução política destes partidos. A tragédia italiana A maioria destes partidos foi criada depois da contra-revolução de veludo de Gorbachev. Na Itália, durante seu congresso em Rimini, em 1991, o histórico Partido Comunista Italiano (PCI) se transformou em um partido social-democrata ordinário. Nesse mesmo ano, os comunistas italianos fundaram o Partito della Rifondazione Comunista (Partido da Refundação Comunista). No seio do Rifondazione, o debate sobre a estratégia do partido ficou aberto por muito tempo... Quando Bertinotti ascendeu à presidência, o debate se acelerou. Durante o 5º Congresso do Rifondazione, em fevereiro de 2002, Bertinotti apresentou suas 63 teses como uma soma de "inovações". Descobriu uma "nova classe operária" nascida em Gênova, em 2001, e um "novo conceito de partido". Recusando o partido de vanguarda, que era "obsoleto", substituiu-o por um partido concebido como uma soma de "movimento de movimentos". Descobriu, igualmente, uma "nova definição de imperialismo", segundo a qual o mundo já não se dividia em blocos capitalistas rivais e a guerra deixou de ser o meio pelo qual o mundo era partilhado de maneira periódica. "O antigo centralismo democrático foi substituído pelo direito a tendências". [2] Depois de 36 meses de inovação, a direção do Rifondazione Comunista declarou-se pronta para participar do governo, junto com os democratas cristãos de Romano Prodi e a social-democracia de D'Alema. Durante o 6º Congresso do PRC, em março de 2005, Bertinotti afirmou que seu partido devia ser a força motriz de um processo de reforma. E a participação no governo passou a ser um passo necessário na dita direção. No discurso de encerramento do Congresso afirmou: "O governo, inclusive o melhor, não é mais que um passo, um passo de compromisso. O partido deve situar-se em uma posição em que se deixe transparecer sua estratégia, a fim de mostrar que quer ir mais longe […]". [3] Para prevenir se de críticas contra o PRC, que faz parte de uma coligação favorável à UE junto ao antigo presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, Bertinotti não encontrou melhor desculpa que a já gasta pirueta da social-democracia: "Devemos difundir a ideia de que os movimentos e o partido devem guardar sua autonomia a respeito do governo. O partido não deve ser identificado com o governo. Deve manter sua própria linha e uma estratégia ativa separada deste". [4] O conhecidíssimo membro do grupo Bildelberg, Romano Prodi, esteve presente no Congresso e percebeu muito bem a virada do dirigente da Rifondazione: "Há aqui um partido socialista de esquerdas que aceita o desafio de governo". [5] Em menos de 10 anos, Bertinotti conseguiu colocar um importante potencial revolucionário sob o controle do sistema. No ano de 2007, o PRC somou-se à coligação do "Olivo". Sem uma clara oposição de esquerdas anti-capitalista à participação na guerra no Afeganistão e às medidas de austeridade do governo de Prodi, a direita chegou ao vazio político e Berlusconi chegou ao poder. O PRC perdeu toda sua representação parlamentar na derrocada da esquerda eleitoral. Trata-se da experiência mais recente dos estragos que o revisionismo pode ocasionar. Atualmente, o movimento comunista italiano atravessa uma profunda crise. França: Comunistas no governo (1981, 1987) O século XX já provou o fracasso dos que pretendem modificar o equilíbrio de poder em favor da classe trabalhadora, mediante maiorias no seio do parlamento burguês. Na euforia da vitória eleitoral de Miterrand, em 1981, o secretário-geral do PCF, George Marchais, designou quatro comunistas ao governo com o intuito de modificar "o equilíbrio de poder". O dirigente do PCF, Roland Leroy, justificou o ato da seguinte maneira: "Nossa presença está relacionada à nossa missão e nossa estratégia: utilizar cada oportunidade, inclusive o menor passo adiante, para construir um socialismo original, mediante meios democráticos". [6] No lugar de obter um socialismo original, a classe operária francesa teve de suportar um Código de Trabalho desregulado, uma segurança social reduzida, além do desequilíbrio dos salários em relação ao aumento da inflação. Seis anos mais tarde, em julho de 1997, a direção do PCF voltou a fazer o mesmo. Três ministros comunistas se aliaram ao governo da "esquerda plural" (PS-PCF-Verdes-MDC), que chegava ao poder depois das grandes lutas de 1995. Resultado? No dito governo houve mais privatizações que na soma das administrações de direita de Juppé e Balladur. Por exemplo, a privatização da Air France foi supervisionada pelo ministro comunista de Transportes, Jean-Claude Gayssot. A Air France, France Télécom, as companhias de seguros GAN e CIC, a Sociedade Marselhesa de Crédito, CNP, Aeroespacial, todas elas foram "abertas ao capital". A direção do PCF continuava no governo de "Jospin – o guerreiro" quando, em 1999, a França apoiou o bombardeio da Jugoslávia pela OTAN. Certamente foram feitas concessões às exigências sindicais, porém, como ocorreu em 1936, com o governo da Frente Popular, basicamente foram resultado das grandes lutas que precederam ou acompanharam a vitória eleitoral da esquerda. Pretender modificar no parlamento o equilíbrio de poder em favor da população trabalhadora é absurdo aos olhos de todos aqueles que observam o circo eleitoral, que veem aos milhares os grupos de pressão e as comissões de especialistas pagos pelos grupos de negócios, cuja finalidade é influir diretamente nas decisões políticas. E para mostrar de que maneira "a riqueza exerce seu poder indiretamente, porém com maior eficácia" (retomando as palavras de Engels), o melhor lugar são os Estados Unidos. No ano de 2000, os 429 candidatos com melhor financiamento em suas campanhas ocuparam os 429 primeiros lugares no Congresso estadunidense. Só os lugares do 430 ao 469 foram dados a candidatos com menos "fortuna". [7] Se existe uma conclusão de toda a época do neoliberalismo, é esta: a evidência de que a influência dos grupos mais poderosos do capital sobre os Estados-nação, as instituições europeias e as instituições financeiras internacionais nunca estiveram tão abertas e descaradas. As decisões reais são a prerrogativa do executivo há muitas décadas e o Parlamento não é mais que um instrumento para ratificar as decisões já tomadas a nível governamental. Cada vez mais as leis se preparam nos gabinetes ministeriais e, atualmente, nos grupos de pressão das empresas mais importantes. A paz duradoura e o progresso social requerem uma sociedade socialista e uma transformação radical da sociedade. A via parlamentar para o socialismo repousa na ilusão de que o grande capital vai aceitar retroceder e que chegará a ceder, sem mais, o aparato do Estado à classe operária quando esta se tornar suficientemente representada no Parlamento. Naturalmente, devemos ser conscientes que, atualmente, a maioria da população da Europa vê a ordem social atual como a única possível. Um processo revolucionário requer flexibilidade tática, adaptação à realidade política, uma adequada avaliação do objetivo de cada batalha, um conhecimento exato das contradições de classe e das correlações de força, assim como grandes alianças. Nós lutamos por reformas, lutamos para reforçar a força política e organizativa dos trabalhadores. Não dizemos à população: "Resolveremos isto por vocês", mas dizemos: "Tomem vocês mesmos o destino em suas mãos". Em cada batalha, os trabalhadores adquirem experiência e nosso dever é introduzir a perspectiva socialista, no longo prazo. Inclusive na luta pelas reformas, o decisivo não são o parlamento e as eleições, mas as lutas. Todos os avanços do movimento operário vêm sendo resultado de um combate organizado, fazendo campanha e criando correlação de força nas ruas. A esquerda europeia Nos dias 8 e 9 de maio de 2004, os dois partidos já mencionados, o PRC e o PCF, tornaram-se fundadores do Partido da Esquerda Europeia (PEE). Bertinotti foi nomeado seu presidente. O Partido da Esquerda é um salto qualitativo da evolução para o reformismo (de esquerdas), declarou um de seus fundadores, o presidente do Partido do Socialismo Democrático (PDS), Lothar Bisky. Em uma entrevista realizada pela revista Freitag, explicou: "Para as forças políticas da União Europeia que têm como origem o movimento operário revolucionário, o Partido da Esquerda Europeia significa um novo passo qualitativo no processo de adaptação do socialismo de esquerdas". [8] Nem no Manifesto da Esquerda Europeia e nem em seus estatutos, se faz referência à propriedade privada dos meios de produção, às crises econômicas inerentes ao sistema, à concorrência assassina travada entre as empresas monopolistas ou à partilha do mundo entre as principais potências imperialistas. O partido da Esquerda Europeia promete "uma alternativa progressista", a "paz", a "justiça social", um "desenvolvimento sustentável" e outras maravilhas aos quais ninguém se apresenta contrário. [9] Tudo se apresenta de forma muito vaga dentro dos limites do sistema e de suas relações de propriedade. É um esforço vão buscar a menor referência à estratégia da revolução social. Ao contrário, o Partido se centra basicamente na "reforma em profundidade" das instituições do sistema. "Queremos fazer com que as instituições eleitas – o Parlamento Europeu e os parlamentos nacionais – tenham mais poder e possibilidades de controle". [10] Die Linke Um partido importante no seio da Esquerda Europeia é o partido alemão da esquerda, Die Linke. Ele é o resultado da unificação, no ano 2007, do Partido do Socialismo Democrático (PDS, o partido que sucedeu o principal partido da RDA, o SED) e o WASG (os socialdemocratas de esquerda desiludidos, dirigentes sindicais e grupos trotskistas da Alemanha Oriental). O WASG, composto pelo Partido Socialdemocrata (SPD) e os Verdes, nasceu no ano de 2005, depois dos protestos suscitados contra o governo de Gehrard Schröder. A reforma Hartz IV, que acabou com o seguro desemprego no prazo de um ano ao introduzir os desempregados em um sistema de assistência social, criou um enorme setor de salários baixos. As consequências da reforma Hartz IV foram desastrosas. Um relatório das Nações Unidas [11] sobre a situação social na Alemanha mostra que, na atualidade, 13% da população vivem abaixo do nível de pobreza e que 1,3 milhões de pessoas, ainda que tenham trabalho, precisam de uma ajuda suplementar, pois seus rendimentos não são suficientes para a subsistência. A pobreza infantil afeta 2,5 milhões de crianças. Alguns estudos mostram que 25% dos estudantes vão para as aulas sem tomar o pequeno-almoço. Assistimos ao aumento da pobreza entre as pessoas idosas devido às aposentadorias modestas que diminuem por conta da redução do salário. Atualmente, existem 8,2 milhões de pessoas com empregos temporários ou "mini-jobs" – com salários de menos de 400 euros por mês. Dos novos empregos, 75% são precários. Tudo isto fortalece os super-ricos. Na Alemanha, em 2010, existiam 924 mil milionários, ou seja, eles aumentaram 7,2% em três anos. Esta "reforma" dividiu o partido socialdemocrata e levou o antigo ministro socialdemocrata, Lafontaine, a abandonar o partido. Ele foi seguido por federações inteiras do movimento sindical alemão. Estes dissidentes criaram o WASG. O partido unificado WASG-PDS se converteu em "Die Linke" e, em 2009, obteve 11,9% dos votos nas eleições federais, alcançando 78 assentos. Seu número de membros rondava a casa dos 80.000. Porém, três anos mais tarde, segundo as pesquisas mais recentes, o Die Linke passou a ter problemas em ultrapassar o antidemocrático limite dos 5%, que se aplica a todas as eleições, tanto nacionais como regionais alemães. Em maio de 2012, perdeu seus assentos nos Parlamentos federal e regionais de Schleswig-Holstein (de 6%, os votos passaram a 2,2%) e da Renânia do Norte-Westfalia (de 5,6% a 2,5%). O número de membros diminuiu para menos de 70.000. A nova socialdemocracia O Die Linke adotou um programa durante seu congresso em Erfurt, em 2011. Ele se apresenta como uma síntese entre as tendências marxistas e os realistas muito reformistas. [12] "O Die Linke, como partido socialista, opta por alternativas, por um futuro melhor" (p. 4). Este futuro inclui, com grande justiça, "uma vida com segurança social, com um rendimento mínimo assegurado, isenta de impostos e protegida da pobreza, assim como uma proteção total contra a dependência, com uma pensão obrigatória para todos, que se apoie na luta contra a pobreza, com educação de qualidade, gratuita, acessível a todos, com diversidade cultural e participação de todos na riqueza cultural da sociedade, com um sistema de impostos justo, que reduza as cargas impostas às rendas baixas e médias, porém que as aumente às altas rendas, apontando substancialmente às grandes fortunas, para fazer efetiva a democracia e fazer valer a lei contra o poder exorbitante das grandes companhias, com a abolição de toda forma de discriminação baseada no sexo, idade, classe social, filosofia, religião, origem étnica, orientação sexual e identidade, ou baseada nas incapacidades de qualquer gênero". Porém, não se sabe ao certo se estas boas intenções se concretizarão neste sistema capitalista ou se é necessário abolir este sistema. Em uma passagem, é possível ler: "Necessitamos de um sistema econômico e social diferente: o socialismo democrático" (p. 4). Critica-se a "'economia social de mercado" como "um compromisso entre o trabalho assalariado e o capital que nunca eliminou a exploração depredadora da natureza e nem as relações patriarcais nas esferas públicas e privadas". Em outras passagens, o problema não é o sistema, mas sim o "capitalismo sem restrições" (p. 58), o "modelo político neoliberal" (p. 56) e os "mercados financeiros desregulados" (p.15). O texto evoca um "longo processo de emancipação, no qual o domínio do capital será revertido mediante as forças democráticas, sociais e ecológicas", que levará a uma "sociedade democrática" (p.5). Em outra parte do documento, a chave da transformação social é a questão da propriedade. "Enquanto as decisões tomadas pelas grandes companhias se orientarem mais pelos benefícios ansiados que para o bem público, a política estará sujeita a chantagens e se minará a democracia". Mais adiante, "a propriedade pública" se limita "aos serviços de interesse geral de infraestrutura social, às indústrias do setor energético e ao setor financeiro" (p.5). E o programa copia a velha tese socialdemocrata "da democracia que se estende à tomada de decisões econômicas e submete todas as formas de propriedade a normas emancipacionistas, sociais e ideológicas. Sem democracia na economia, a democracia permanece imperfeita […]". De modo que esta "ordem econômica democrática diferente" será uma economia de mercado regulada. "Submeteremos a regulação do mercado da produção e da distribuição a um marco e a um controle democrático, social e ecológico". "O mundo dos negócios deve estar submetido a um severo controle da concorrência" (p.5). A classe operária não tem nenhum papel na conquista do poder político. É questão de "maiorias vencedoras" (p.20) e o "socialismo democrático" poderá ser levado a cabo no seio das estruturas "democráticas" da constituição alemã e de um "estado social de direito". Os serviços de inteligência deverão ser abolidos, porém o "controle democrático" do exército e da polícia será suficiente para transformá-los em ferramentas do socialismo. A participação no governo Segundo o programa, a participação no governo só tem sentido se baseada no "repúdio ao modelo político neoliberal", se supõe uma mudança "social e ecológica" e a possibilidade de melhorar o nível de vida da população. No caso, "o poder político do Die Linke e dos movimentos sociais poderão ser reforçados" e "o sentimento de impotência política que existe entre um sem número de pessoas poderá ser eliminado" (p.56). A pergunta feita é: como é possível adotar esta posição pouco depois da queda daquilo que sempre tinha sido apresentado como um notável exemplo da estratégia do partido: o desastre de Berlim? Em agosto de 2010, Die Linke se fundiu nas eleições do Senado de Berlim. Em 10 anos de participação no governo berlinense, o partido sofreu uma derrocada, passando de 22,3% a 11,5%. Durante 10 longos anos, a coligação governamental SPD-Die Linke governou a capital alemã. Foram fechadas inúmeras creches, cortadas indenizações sociais e privatizadas 122.000 habitações sociais. O Die Linke votou pela privatização parcial do sistema berlinense de eletricidade, fez campanha contra a paridade nacional de salários dos trabalhadores do setor público (que, todavia, ganham consideravelmente menos no Ocidente) e manifestou-se contra os esforços de devolver à titularidade pública a Sociedade de Água de Berlim. Contribuiu, igualmente, para privatizar uma parte do principal hospital de Berlim – o que se traduziu em uma degradação das condições de trabalho e uma diminuição dos salários. Mathias Behnis, cientista político e porta-voz da frente de resistência contra a privatização da sociedade berlinense de distribuição de água, e Benedict Ugarte Chacón, cientista político e porta-voz da iniciativa berlinense contra o escândalo bancário, publicaram um balanço particularmente preocupante no jornal Junge Welt, de 20 de agosto de 2011. [13] A coligação SPD-PDS (até então, tratava-se do PDS que, mais tarde, participaria da criação do Die Linke) expôs claramente, desde o início de 2002, qual caminho percorreria ao aprovar um fundo de risco para a Bankgesellschaft Berlín. Ela assumiu os riscos de um fundo imobiliário criado por bancos no valor 21,6 mil milhões de euros. Desde então, Berlim administra as perdas anuais destes bancos. O PDS esteve de acordo em garantir os lucros dos acionistas destes fundos, com ajuda do dinheiro público. Ao mesmo tempo, dirigiu uma política monetária estrita em detrimento, por exemplo, dos subsídios aos cegos, em 2003, ou dos bilhetes sociais para o transporte público urbano, em 2004, depois que os governos federais suprimiram os subsídios. Foram necessários enormes protestos sociais para reintroduzir estes bilhetes, porém a um custo muito mais elevado. As creches e as universidades deixaram de se subvencionarem. Isto detonou veementes protestos entre os estudantes e o congresso do PDS, ocorrido em 6 de dezembro de 2003, no luxuoso hotel Maritim, no centro de Berlim, teve que ser protegido pela polícia de choque, que forçou a evacuação das ruas com brutalidade. Em maio de 2003, os pais foram obrigados a gastar até 100 euros com a compra de livros escolares. O Die Linke, em Berlim, é igualmente responsável pela piora na situação de milhares de inquilinos. Em maio de 2004, o governo regional berlinense vendeu 65.700 casas da sociedade pública de alojamento GSW ao vantajoso preço de 405 milhões de euros a um consórcio ao qual o Whitehall-Fund, do banco de investimentos Goldman Sachs e da sociedade de investimentos Cerberus. Em 2010, permitiu que estas sociedades entrassem na Bolsa de Valores e transformassem milhares de alojamentos berlinenses em objetos de especulação. Da mesma forma, aboliu os subsídios dos proprietários que disponibilizavam suas casas ao arrendamento social, sem se preocupar com o que aconteceria aos inquilinos. Nos antigos apartamentos, até então muito baratos, ocupados, sobretudo, por trabalhadores com baixos salários e por desempregados, as rendas aumentaram em 17%. A água que se tornou mercadoria Em 1999, o antigo governo vendeu 49.9% da antiga sociedade de distribuição de água berlinense para a RWE e a Vivendo (Veolia). O PDS obteve o posto de ministro da Economia em 2002, porém não fez nenhuma mudança. O preço da água aumentou, aproximadamente, 33%. Durante o antigo governo, o PDS fez campanha contra a privatização parcial da água. Porém, o ministro do PDS, Wolf, fez exatamente aquilo que era contra: garantiu os benefícios dos acionistas privados e beneficiou-se com os elevados preços da água. No acordo de coligação de 2006, Die Linke e o SPD falaram em comprometer-se com o retorno da sociedade de distribuição de água à autoridade municipal. Porém, não se fez nada. Pior ainda, opuseram-se, de todas as maneiras, ao grande movimento extraparlamentar em favor da publicação do acordo secreto de privatização da sociedade de distribuição de água. Mais de 666.000 pessoas exigiram que fosse objeto de um referendo. A coligação fez campanha contra esta ação. Aceitaram o referendo, obtido forçosamente, porém continuaram opondo-se a toda iniciativa legal da população. Tudo o que podem dizer em sua defesa, é a eterna cantilena dos social-democratas: "Sem nós, teria sido pior". Porém, não. Teria sido bastante parecido ou, talvez, melhor, pois com sua participação paralisaram uma parte do potencial de resistência. Depois de sofrer um golpe nas eleições, queixaram-se de não terem conseguido impor seus pontos de vista ao SPD. Havia "restrições à liberdade do movimento", disse o dirigente do partido, Klaus Lederer. Naturalmente. Porém, quando existe a promessa de participar de um governo para mudar as coisas, não é surpresa se, no fim das contas, as pessoas perguntam o que foi modificado. Nos governos regionais de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, de Brandeburgo e de Berlim, o partido participou das restrições e dos fechamentos. Certamente, o Congresso de Erfurt concluiu que a participação no governo tem sentido. A participação em governos locais e, inclusive, federais, apenas se discute no seio do partido. A ala direita da direção aproveita, inclusive, os maus resultados recentes para reclamar que o partido renuncie a seu "desejo de permanecer na oposição". Deve declarar abertamente sua intenção de participar em todos os níveis de governo, particularmente com seu "companheiro natural de coligação", o SPD. Dietmar Bartsch, um de seus principais porta-vozes, é apoiado pelo partido do Länder do Leste, onde a organização é mais numerosa. No Leste, a participação no governo se tornou norma. Oskar Lafontaine, considerado como representante da esquerda do partido, nunca se opôs a que o partido embarque nas coligações do poder – ao contrário. É keynesiano e sonha com um tipo de Estado de bem-estar socialmente limitado a nível nacional. O regresso aos anos 70. Junto com seus companheiros, não deixa de formular os "princípios" ou "condições" que justifiquem a participação no governo. "Não podemos deixar o SPD e os Verdes governarem sozinhos. O social só é possível com a nossa participação". Esse era o título do texto de base da direção do partido durante seu congresso em Rostock, no ano de 2010. "O Die Linke pode governar, inclusive melhor que os demais. E nós, em Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental temos ideias muito claras sobre o que deve melhorar e como fazê-lo", declara Steffen Bockhahn, presidente regional do Die Linke no Land Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental [14] . "Devemos ter alternativas à coalizão CDU-FDP", dizem os dirigentes do partido. Como se o SPD e os Verdes não estivessem de acordo em fazer os trabalhadores pagarem os prejuízos causados pela crise! Já não há crítica radical para estes partidos. O Die Linke afirma que combina os protestos sociais e políticos, elaborando possíveis alternativas e transformações políticas no marco do governo. Porém, é evidente que, atualmente, não existem as correlações de força que tornem possível o exercício de tal pressão sobre os governos, que se veem forçados a realizar reformas importantes a favor do povo. A única consequência da participação governamental é que paralisa os movimentos de massas e os integra ao sistema, como já visto em Berlim. As experiências da participação comunista nos governos europeus comprovam que esta participação não detém as privatizações, a regressão social e nem as guerras imperialistas. Estas experiências estremeceram a confiança nos partidos que participam desses governos e mostram que não há diferença com outros partidos. A participação de um governo burguês, onde os monopólios capitalistas dominam, debilita as forças anti-capitalistas. Na Grécia No entanto, alguns partidos repudiam aprender as lições das ditas experiências. Provam que se tornaram autênticos partidos social-democratas, prontos para substituir os antigos, hoje desacreditados, partidos. Na Grécia, quanto maiores as possibilidade existentes de uma vitória eleitoral, mais aceitável seu programa se torna, assim como a seção local do Partido da Esquerda Europeia, o Syriza, para a direção da UE e para a burguesia grega. Seu programa governamental [15] se apresentou como um "plano para colocar fim à crise". "O propósito é unir o povo ao redor do programa governamental do Syriza com a finalidade de libertar a Grécia da crise, da pobreza e sua má reputação". Não se menciona em nenhum sítio o sistema capitalista como o causador da crise: tão somente é mais o resultado da gestão "neoliberal". O programa se apresenta como social e fiscalmente equitativo, prometendo anular as medidas mais insuportáveis e anti-sociais, aumentar o salário mínimo, restaurar o antigo nível de proteção contra o desemprego e enfermidade. Também promete suprimir os impostos especiais àqueles que possuem baixo ou médio rendimento. Porém, este plano só pretende a "estabilização dos gastos básicos em torno de 43% do PIB, frente aos 36% do relatório e a um máximo de 46% do PIB". A ideia é colocar a Grécia "no centro atual do seio da zona do euro". É um programa que não vai mais além do marco capitalista. "Organizaremos a revitalização da produção do país com importantes investimentos para apoiar o desenvolvimento de indústrias competitivas". Também promete congelar a privatização apenas de entidades públicas de importância estratégia que ainda eram públicas em 2010, quando estourou a crise. Sobre a dívida, o programa busca um compromisso com a burguesia da UE. Está muito abaixo do programa de 10 pontos do Syriza das eleições de 6 de maio, que exigia "uma moratória do pagamento da dívida, negociações para anular certas dívidas (não à dívida, como exige o KKE) e a regulação da dívida restante para incluir provisões para o desenvolvimento econômico e o emprego" [16] . Em 8 de maio, depois das primeiras eleições, Alexis Tsipras, o dirigente do Syriza, apresentou um programa de cinco pontos como base para a formação de um "governo de esquerdas". Agora, só pleiteia "a criação de uma comissão de auditoria internacional para investigar as causas do déficit na Grécia, com uma moratória do pagamento da dívida em espera da publicação dos resultados da auditoria" [17] . Antes das novas eleições de 17 de junho, seu "programa de governo" limita-se a denunciar os empréstimos (negociados com a Troika) substituindo suas condições por "outras que não ponham em dúvida a soberania nacional da Grécia e a sobrevivência econômica de nosso país. Não se aceitarão sem mais condições como a prioridade no reembolso de empréstimos ou a apreensão dos bens de propriedade do Estado, como acordada com os credores no relatório…". Não há reivindicações radicais que busquem fazer pagar os responsáveis da crise (os burgueses gregos e europeus e outros bancos...), nem meios para impor suas medidas. Tudo será negociado. O programa não espera impor "a anulação do regime de imposto zero para as companhias de transporte e para a Igreja", mas "busca um acordo" com a indústria marítima para abolir as 58 isenções. Não se diz nada sobre a criação de um governo capaz de impor suas próprias medidas. Quer "elevar o nível de impostos ao mesmo nível que o resto da UE", onde a totalidade da carga recai nas costas da população trabalhadora. Em nenhuma parte se discute a questão do controle da administração ou do sistema econômico pelos trabalhadores. Quem vai controlar os patrões, os banqueiros? Nada se aborda sobre a polícia, o exército. O Syriza permanece no seio da OTAN, da UE. As duras lições do passado As experiências confirmam as posições de Marx, Lênin e a Terceira Internacional sobre este assunto. Elas repudiam toda a participação, à exceção de situações nas quais o fascismo constitua uma ameaça real, no caso de uma situação que possam dar lugar a uma transição para um governo realmente revolucionário, isto é, em situações pré-revolucionárias importantes com lutas de classe e correlação de forças favorável (como no Chile, no início dos anos 70, e em Portugal, em 1975...). Nestas situações, é possível que devamos selar alianças com forças que representem camadas não proletárias, porém que são igualmente oprimidas pelos monopólios ou ameaçadas pelo fascismo ou inimigos exteriores. Porém, só sob a condição de que este poder evolua ou deseje evoluir para a democracia popular e para o socialismo, para um Estado diferente controlado pelos trabalhadores. Não foi o caso do Chile, onde a reação massacrou socialistas e comunistas, metendo-os no mesmo saco. O governo dos trabalhadores, tal e como foi proposto pela Terceira Internacional, se entende como "a frente unida de todos os trabalhadores e uma coalizão de todos os partidos de trabalhadores, tanto na área econômica como política, para lutar contra o poder da burguesia e, finalmente, para derrubá-la". "As tarefas mais fundamentais de tal governo de trabalhadores devem consistir em armar os trabalhadores, desarmar as organizações contra-revolucionárias burguesas, introduzir o controle da produção (pelos trabalhadores), fazer carregar o principal peso dos impostos sobre os ricos e romper a resistência da burguesia contra-revolucionária" [18] . O dito governo dos trabalhadores só é possível se nasce das lutas de massas e se é apoiado pelas organizações militantes dos trabalhadores. [19] Aqueles que justificam uma coalizão com os partidos políticos burgueses nas instituições parlamentares, utilizam parte dos escritos de Dimitrov sobre a frente unida contra o fascismo. É certo que Dimitrov criticava as pessoas que rechaçavam a política da frente unida contra o fascismo, porém segundo Dimitrov, a frente popular antifascista deve ser criada tendo como base uma frente unida de trabalhadores. Pede que um governo de frente popular tome medidas revolucionárias anti-capitalistas: pode surgir "uma situação tal que a formação de um governo de frente única proletária ou de frente obedeça aos interesses do proletário. […] Exigimos deste que ponha em prática as reivindicações revolucionárias radicais, determinadas, que respondam à situação. Por exemplo, o controle da produção, o controle dos bancos, a dissolução da polícia, sua substituição pela milícia operária armada, etc". [20] Dimitrov alertou contra o fato de que, "manter uma frente popular na França não significa que a classe operária vá apoiar o atual governo [21] a todo custo [...]. Se, por uma razão ou outra, o governo existente se mostra incapaz de fazer valer o programa da Frente Popular, adota uma linha de retirada ante o inimigo, de seu país e do estrangeiro. Se uma política debilita a resistência à ofensiva fascista, então, a classe operária, com o propósito de reassegurar os laços da Frente Popular, provocará a substituição do atual governo por outro". [22] É o que aconteceu e o PCF demorou muito tempo para compreender. Em 1936, depois da vitória eleitoral dos partidos de esquerda, formou-se o governo Blum de socialistas e radicais, apoiado externamente pelo PCF. Uma enorme onda de greves exerceu pressão sobre o governo para forçá-lo a satisfazer as reivindicações que se encontravam no programa da Frente Popular. Porém, para retomar os termos de seu presidente, o governo se fixou como objetivo encontrar uma maneira de "procurar um alívio suficiente para aqueles que sofrem" no marco da sociedade de então. Para Blum, a missão da Frente Popular consistia em "moderar a sociedade burguesa" e remover "um máximo de ordem, bem-estar, segurança e justiça". Nessas condições, o impacto negativo da participação no governo aumentou consideravelmente. Historicamente, as administrações "de esquerda" presidindo sistemas capitalistas desmoralizaram e desmobilizaram a classe operária, além de abrirem caminho para partidos e governos conservadores e, inclusive, de extrema direita. O governo de Blum foi derrubado dois anos depois e bastaram dois anos a mais para que os capitalistas franceses quisessem revanche e recuperassem as concessões que haviam feito. Por iniciativa do Partido Socialista, o governo dirigido pelo líder do Partido Radical, Daladier, ilegalizou o PC em 21 de novembro de 1939 e seus representantes foram submetidos a julgamento. Em 7 de julho de 1940, os mesmos representantes radicais e socialistas deram seu voto de confiança ao governo do traidor Pétain. Inclusive nos períodos em que a participação no governo pode levar à fase de luta aberta pelo socialismo, é necessária uma extrema vigilância. Em setembro de 1947, durante uma reunião onde estavam presentes membros do novo órgão de coordenação dos partidos comunistas depois da Segunda Guerra Mundial – o Kominform [23] – os participantes criticaram a linha oportunista do PCF em sua política de frente unida durante a ocupação e sua participação no subsequente governo. A burguesia tinha interesse em cooperar com os comunistas durante e depois da guerra porque era débil. Os comunistas deveriam ter aproveitado essa situação para ocupar postos-chave, porém não o fizeram. No lugar de conquistar o apoio das massas para tomar o poder, desarmaram as massas e semearam ilusões sobre a democracia burguesa e o parlamentarismo. No lugar de criar a unidade antifascista a partir da base, mediante a criação de instrumentos emanados das massas, juntando todas as tendências que estavam realmente dispostas a seguir a via da luta por um poder revolucionário, os dirigentes do PCF e do PCI cometeram o erro de construir uma frente por cima, tendo como base uma representação igualitária dos diferentes partidos, quando o objetivo dos partidos burgueses era evitar a transformação real do país. Para colocar em prática esta política, os dirigentes do PCF e do PCI argumentaram que toda reivindicação diferente à de libertação nacional, toda reivindicação diferente à de mudanças democráticas radicais e revolucionárias, afastaria da frente antifascista um número expressivo de grupos sociais e de forças políticas. A reunião criticou o PCF por ter permitido e até facilitado o desarmamento e a dissolução das forças da Resistência sob o pretexto de que a guerra tinha terminado e que uma ação contra a política de De Gaulle desembocaria em um confronto com os Aliados. Esta concepção facilitou a tarefa dos imperialistas preocupados em reconquistar suas posições anteriores à guerra. Criou ilusões sobre a "democracia" dos imperialistas e sua capacidade de ajudar na reconstrução, sem outros objetivos, das nações que foram libertadas do fascismo. Em geral, os delegados da Conferência reprovaram a persistência nas ilusões de uma via parlamentarista para o socialismo, na propagação das mesmas entre as massas no lugar de mobilizá-las contra a política pró-estadunidense de seus governos e por uma alternativa verdadeiramente revolucionária. [24] Agora menos que nunca A primeira pergunta persiste: qual é o caráter da sociedade na qual um partido comunista queira participar do governo? É um Estado capitalista. Sua base econômica é o capitalismo e sua tarefa é, obviamente, administrar o capitalismo, proteger e criar condições favoráveis ao sucesso de seu desenvolvimento. Este Estado adota uma constituição, leis e regulamentações que possuem como objetivo garantir a ordem constitucional, criar as condições para o desenvolvimento do capital e evitar conflitos no seio da sociedade. A política hostil com os trabalhadores nestes Estados não revela políticos malvados e nem os maus partidos, com programas maliciosos. Enquanto a propriedade privada dos meios de produção reinar, enquanto as empresas devem competir para sobreviver, deverão acumular, aumentar seus lucros, reduzir os salários, repudiar as reivindicações sociais. A esta lei não se podem opor "bons" políticos no governo com ideias e programas "corretos". O capitalismo atual já não pode, como esperava Lafontaine, voltar à época da chamada "economia social de mercado" com cooperação social. Foi um episódio que deve ser situado no contexto da rivalidade ideológica entre socialismo e capitalismo, da força dos partidos comunistas após a Resistência, quando podiam atender às reivindicações a partir dos lucros da fase da reconstrução do pós-guerra. Isto já não é possível e nem obviamente necessário na lógica capitalista. Os 25 milhões de desempregados oficiais da UE, que exercem uma pressão sobre os salários e os mercados de trabalho, hoje mundialmente acessíveis, reduzem o preço da mão-de-obra. O custo do desemprego duplica o orçamento social: os salários em baixa proporcionam menos receita aos fundos de segurança social e, cada vez mais, existem beneficiários para serem atendidos por esses fundos. O colapso do sistema de segurança social não é mais que uma questão de tempo se não houver um combate de envergadura para fazer com que o capital pague impostos. Além disso, as arrecadações dos impostos sobre os lucros das empresas vão em baixa, apesar de os lucros crescerem: necessitam-se reduções suplementares aos impostos para reforçar os capitais nacionais nos mercados internacionais. O Estado capitalista trabalha para criar as condições favoráveis para o crescimento da rentabilidade das empresas, para criar novos mercados graças à privatização e à redistribuição do rendimento nacional em favor dos possuidores de capital. Está aí para fazer calar ou reprimir a classe operária nacional e para garantir os interesses do capital em outras regiões. De modo que a participação em governo nestas condições significa unicamente a participação na regressão social, inclusive ainda que alcançada lentamente. Significa desarmar a resistência e dar falsas esperanças ao movimento operário. Antigos partidos comunistas escolheram participar do poder, sabendo, com certeza, que isto significa governar sob os interesses do capital e participar da destruição das conquistas sociais obtidas após as lutas do movimento operário. A participação no governo contribuiu para desmobilizar a resistência tão necessária e o desenvolvimento de um contrapoder. Atualmente, para modificar o equilíbrio das forças de classe, devemos nos unir em numerosos combates defensivos contra a regressão social, com a finalidade de criar um movimento político independente de trabalhadores e daqueles a quem se impede trabalhar e difundir uma consciência anti-capitalista no seio do movimento operário. A debilidade dos comunistas e dos sindicatos com uma clara orientação anti-capitalista é a principal causa do domínio agressivo do capital na maior parte dos países capitalistas. Necessitamos um programa político alternativo e devemos lutar por ele. Que inclua reivindicações imediatas, porém que também possua a palavra de ordem da abolição das relações capitalistas de propriedade. Estas reivindicações não devem se dirigir a potenciais sócios no seio de um governo de esquerdas (que não existe), mas a um movimento operário organizado e a outras camadas exploradas da sociedade. Devem dirigir-se aos sindicatos, a todo tipo de organizações populares ativas em todos os domínios da luta social, democrática, anti-imperialista e cultural. A verdadeira pergunta é saber de que maneira os partidos comunistas se vão preparar para as batalhas que virão, como se vão organizar para serem capazes de assumir eficazmente a carga das novas lutas da classe operária e da população trabalhadora no sentido amplo. A crise leva grandes massas de trabalhadores a dar as costas à social-democracia. Não devemos lhes oferecer uma sociedade social-democrata renovada. É necessário um partido revolucionário que tenha em conta o nível de consciência atual, que faça seus os problemas do povo, que fale uma linguagem acessível, que busque a unidade do maior número possível de pessoas na luta. Porém, que não esqueça seus princípios, que mantenha o rumo para uma sociedade na qual não exista exploração do homem pelo homem, uma sociedade sem propriedade privada dos meios de produção, uma sociedade em que os trabalhadores sejam realmente livres e com um Estado que proteja a liberdade da vasta maioria contra a opressão de uma minoria. [1] " Socialism's comeback ", New Statesman, diciembre 2008, www.newstatesman.com/europe/2008/12/socialist-partysocialism?page=5 . [2] Fausto Bertinotti e.a., Tesi maggioranza (tese da maioria), V Congresso Nazionale, 2002, Partito della Rifondazione Comunista. Todas as citações sobre o PRCI provém da obra "La clase obrera en la era de las multinacionales" "A classe operária na era das multinacionais"), de Peter Mertens: http://www.jaimelago.org/node/7. (As teses em italiano : www.d-meeus.be/marxisme/modernes/Bertinotti63Tesi.html ). [3] Partito della Rifondazione Communista. VI Congresso Nazionale. Relazione introduttiva del segretario Fausto Bertinotti. [4] Partito della Rifondazione Comunista. VI Congresso Nazionale. Conclusioni del segretario Fausto Bertinotti. [5] La Stampa, 4 de março de 2005, p. 7, www.archiviolastampa.it/ . [6] Le Nouvel Observateur, 10 de fevereiro de 1984. [7] Michael Scherer, Amy Paris e.a., " Campaign inflation ", en The Mother Jones 400, março 2001, www.motherjones.com/news/special_reports/mojo_400/index.html . [8] Junge Welt, 8 de abril de 2004, www.jungewelt.de/2004/04-08/004.php . [9] Parti de la Gauche européenne, " Manifeste du Parti de la Gauche européenne ", 10 de maio de 2004. [10] Ibidem. [11] United Nations Economic and Social Council, 20 de Maio de 2011.Concluding Observations of the Committee on Economic, Social and Cultural Rights. Alemanha, www.agfriedensforschung.de/themen/Menschenrechte/deutsch-un.pdf [12] Programme of the Die Linke Party en.dielinke.de/... [13] Mathias Behnis et Benedict Ugarte Chacón "Die Überflüssigen: Hintergrund. Harmlos, farblos und immer treu zur SPD. Zehn Jahre Regierungsbeteiligung der Linkspartei in Berlin — eine unvollständige Bilanz des Scheiterns", www.jungewelt.de/loginFailed.php?ref=/2011/08-20/024.php . [14] Disput, junho de 2010. [15] transform-network.net/de/... [16] hellenicantidote.blogspot.be/... [17] www.ekathimerini.com/4dcgi/_w_articles_wsite1_1_08/05/2012_441181 [18] www.contre-informations.fr/komintern/komintern/5.html#A point XI [19] www.marxists.org/francais/inter_com/1922/ic4_01.htm [20] Georgi Dimitrov, L'Offensive du fascisme et les tâches de l'Internationale communiste dans la lutte pour l'unité de la classe ouvrière contre le fascisme, actionantifasciste.fr/documents/analyses/28.html [21] O governo da Frente popular de socialistas e radicais dirigido por Léon Blum, ver mais adiante. [22] Georgi Dimitrov, OEuvres choisies, t. 2, p. 160, Sofia Presse [23] Em 1943, foi desfeita a Terceira Internacional. Após a derrota do fascismo, foi restaurada sob o nome de Kominform. Esta se reuniu somente três vezes. Durante suas sessões, que ocorreram de 23 a 26 de setembro de 1947, discutiu-se em pormenor a situação na França e na Itália. [24] Intervenção de Djilas de 25 de setembro de 1947. Giuliano Procacci (red.), The Cominform: Minutes of the Three Conferences 1947/1948/1949, Milan, Fondazione Giangiacomo Feltrinelli & Russian Centre of Conservation and Study of Records for Modern History (RTsKhIDNI), 1994, pp 255-257. Citado en Peter Mertens, " La clase obrera en la era de las multinacionales " http://www.jaimelago.org/node/7 . [*] Redator-chefe da Estudos Marxistas, www.marx.be A versão em castelhano encontra-se em www.pcpe.es/ . A tradução do PCB encontra-se em pcb.org.br/... (efectuadas pequenas alterações). Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . 08/Mar/13 http://www.resistir.info/europa/lerouge_15fev13.html

terça-feira, 5 de março de 2013

Los obreros toman las riendas en Grecia

5-03-2013 Antonio Cuesta Gara En la convulsa situación laboral griega, la decisión de los obreros de VioMe (Viomijanikí Metaleftikí, Industrial Minera) de hacerse con las riendas de la factoría ha supuesto un revulsivo para muchos otros trabajadores que, de pronto, comienzan a vislumbrar la que podría ser su única posibilidad para conservar el puesto de trabajo y su salario. VioMe es una de las mil empresas que semanalmente cierran sus puertas en Grecia desde el inicio de la crisis. Solo que en su caso los problemas iniciados hace tres años han finalizado con la ocupación de la fábrica y el reinicio de la producción por parte de sus empleados bajo un sistema asambleario y autogestionado. Situada en la segunda ciudad del país, Tesalónica, y filial de Philkeram-Johnson (el mayor fabricante de azulejos y materiales cerámicos de Grecia), la empresa se dedicaba a la fabricación de materiales y productos químicos destinados al sector de la construcción. En 2009 y 2010, VioMe obtuvo beneficios por valor de 2,7 millones de euros, llegando a vender sus productos a las empresas encargadas de construir el aeropuerto de Dubai, entre otras. Pero a finales de ese año, coincidiendo con la irrupción de la crisis de la deuda soberana en Grecia, la gestión del negocio comenzó a hacer aguas y pocos meses después, en mayo de 2011, la empresa se declaró en suspensión de pagos. A partir de ese momento los empleados trataron por todos los medios de mantener sus puestos de trabajo y de volver a percibir sus salarios. Su propuesta de comprar las acciones de la empresa, dejando claro que no se harían cargo de las deudas acumuladas por la administración anterior, fue rechazada por los propietarios. En la misma línea el ministerio de Trabajo denegó su demanda de ayuda financiera, pese a contar con programas destinados a desempleados que tratan de iniciar su propio negocio. Tampoco llegó a materializarse una ayuda de emergencia de 1.000 euros prometida por los responsables de Trabajo al no lograr el visto bueno de los de Hacienda. E igualmente fue desestimada por el Gobierno la solicitud de crear un marco legal que contemplara la creación de cooperativas laborales bajo gestión asamblearia. Llegados a este punto, la plantilla consideró que la única respuesta razonable a la tragedia del desempleo (que en Grecia ya se acerca al 30%) es que la fábrica pasase a manos de los trabajadores y se estableciera un sistema de producción equitativo, sin jerarquía ni explotación. La propuesta fue recibida con indiferencia por el Estado y con cierta frialdad por parte de las burocracias sindicales. Solo el movimiento social acogió la noticia con gran entusiasmo, y mediante una iniciativa de solidaridad desarrollada dentro y fuera del país se consiguió reunir, durante los últimos seis meses, el apoyo social y los fondos necesarios para poner de nuevo en funcionamiento la factoría. A nivel internacional se sumaron a la campaña intelectuales de la talla de Naomi Klein, David Harvey, John Holloway, Silvia Federici o Raúl Zibechi. Pero además se recibió ayuda económica de organizaciones populares y sindicales de América Latina y Europa, así como un buen número de resoluciones de apoyo procedentes de colectivos de muchos países. Una empresa que comienza ahora La pasada semana, GARA se desplazó hasta VioMe para conocer de primera mano la situación de la fábrica y las expectativas de sus trabajadores, convertidos ahora en gestores de su propio destino. En una fría y húmeda mañana visitamos unas instalaciones que comienzan a despertar del letargo de meses. Ver vídeo: http://www.naiz.info/es/mediateca/video/viome-fabrica-bajo-control-obrero-en-tesalonica Lo primero que nos llamó la atención fue la ilusión en el proyecto y la certeza de estar en el camino correcto. La crisis en el sector de la construcción, que ha sufrido una recesión del 80% desde el inicio de la crisis, no ha frenado el entusiasmo de los trabajadores a la hora de poner en pie la factoría. Aunque el dinero procedente de donaciones y conciertos de apoyo supone el presupuesto de los dos próximos meses, su principal prioridad es comenzar a vender a los clientes las existencias almacenadas, para poder dar paso a la nueva producción. Dimitri Nikolaidis, electricista y responsable del mantenimiento de las máquinas, es uno de los 35 operarios comprometidos en el proyecto, toda vez que los componentes de los departamentos de administración y productos químicos rechazaran sumarse a la empresa colectiva. «Nos hemos quedado trabajadores y técnicos -explicó Nikolaidis-; se fueron los químicos y estamos buscando ayuda para esos puestos». Sin embargo, el principal obstáculo es la prolongada ausencia de ingresos. Su última nómina llegó en setiembre de 2011, desde entonces -según señaló- «tenemos serios problemas de supervivencia. Muchos sindicatos nos ayudan con comida y por eso seguimos aquí, gracias a las donaciones de muchas personas seguimos aquí luchando con coraje». Durante nuestra conversación, Nikolaidis mostró su firmeza y convencimiento en el éxito de la empresa, subrayando que, en su opinión, «funcionará. Además, no tenemos nada que perder, así que vamos a intentarlo con todas nuestras fuerzas. Cuando no tienes nada ¿qué haces? ¿Te sientas en casa a ver la televisión esperando a que Dios te de algo? A nosotros nos ha dado esta fábrica así que la usaremos, lucharemos hasta el final, tenemos que intentarlo». Otro trabajador de la planta, Alekos Sideridis, nos detalló la dura lucha sindical llevada a cabo durante los meses en que la anterior dirección de la fábrica comenzó a reducir salarios y derechos laborales. «En 2010, cuando los problemas económicos afectaron a la empresa, empezaron con los recortes y los trabajadores intentamos negociar con la dirección, al tiempo que iniciamos huelgas, paros de la fábrica, bloqueamos sus puertas....pero no hubo respuesta. En abril de 2011 nos rebajaron el salario y un mes después dejaron de pagarnos. Seguimos acudiendo al puesto de trabajo para poder exigir nuestros sueldos pero sin producir más. Finalmente, la justicia dictaminó que no podíamos ser despedidos mientras no recibiéramos lo que se nos debía». Durante todo ese tiempo surgieron varias ideas sobre lo que se podía hacer. Finalmente se optó por tomar la fábrica, como pago de lo adeudado, y reanudar la producción para mantener el empleo. 35 de los 42 trabajadores apoyaron la medida, y a partir de ese momento comenzaron a realizar turnos de vigilancia, 24 horas al día, para evitar que desmantelaran las instalaciones llevándose los equipos o las existencias almacenadas. Por el momento, no han tenido ningún contacto con los anteriores propietarios, «en los últimos dos años únicamente hemos mantenido conversaciones con el Ministerio y parece que quieren hacer algo», pero no existe ninguna propuesta formal. Sin embargo, la perspectiva de trabajar sin patrón es una de las consecuencias más positivas de esta nueva etapa. A la pregunta se si «están mejor sin jefes», le siguió un rotundo «sí, sí, claro, sin ninguna discusión». Como su compañero, Sideridis destacó la extremadamente dura situación personal en la que se hallan. «Para nuestras familias no hay otro camino, tenemos que sobrevivir en estos tiempos tan difíciles. Hace meses que no cobramos pero gracias a la solidaridad de Grecia y también de otras partes del mundo estamos todavía vivos. Nuestra lucha es diaria», remarcó. Comentó al respecto que han recibido la visita de personas procedentes de algunas de las fábricas ocupadas en Argentina. Sideridis reconoció que la primera idea que llegó a su cabeza cuando, meses atrás, dejaron de pagarle su salario fue violenta. «Creo que todos los trabajadores tuvimos el mismo pensamiento, quizá por nuestra cultura», pero posteriormente y con la mente en frío, llegó a encontrar junto a sus compañeros «un camino que ha sido la mejor solución». Desde hace algo más de dos semanas todos los trabajadores se reúnen en asamblea a primera hora de la mañana para discutir el orden del día, «nos asignamos las tareas de acuerdo con la especialidad de cada uno y para que todo el mundo esté en el lugar que se le necesite. Luego empezamos con el control del stock y posteriormente vendemos los productos en subasta». No dudó en animar a los trabajadores de otros pueblos y naciones a tomar el camino de la autogestión, pues «sin trabajo, sin dinero, sin ayuda del Estado y con las fábricas cerradas, no hay otra solución que pensar en hacer lo mismo que nosotros». Por encima de culturas y fronteras «cuando no tienes nada que perder, esta es la solución», sentenció. Antes de finalizar la visita, otros trabajadores allí presentes también nos insistieron en que «la lucha no debe limitarse a VioMe, para que sea victoriosa debe generalizarse y extenderse a todas las fábricas y empresas que están cerrando», porque solo a través de una red de fábricas autogestionadas será posible alumbrar un nuevo tipo de economía. Fuente: http://gara.naiz.info/paperezkoa/20130304/390777/fr/VIOME-quiebra--autogestion ******************** In: http://rebelion.org/noticia.php?id=164734 5/3/2013