terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Rememorando cinco anos de perturbação económica: azia ou ataque de coração?


por Zoltan Zigedy [*]
Quando mercados económicos significativos dos EUA se descontrolaram
durante o Verão e fins de 2008, um temor, mesmo um pânico, apossou-se dos
encarregados de desenvolver e aplicar a política económica. O pensamento
prevalecente – capitalismo desenfreado com confiança quase religiosa em
mecanismos de mercado – parecia estar em retirada irreversível.

O mercado habitacional esfriou, os valores das casas contraíram-se, e a
estrutura financeira construída em torno da propriedade habitacional
começou a entrar em colapso. Na medida em que o mercado de acções caía em
queda livre das alturas anteriores, levado pela implosão das acções de
bancos, os investidores retiravam-se dramaticamente do mercado. O crédito
congelou e o consumo diminuiu. Começou então uma espiral decrescente de
despedimentos colectivos, consumo reduzido, entesouramento de capital e
crescimento retardado, seguida por mais despedimentos, etc, etc.

Com o medo, decisores políticos mexiam-se para encontrar uma resposta à
crise que ameaçava aprofundar-se e propagar-se às mais remotas paragens da
economia global. Com taxas de juro próximas de zero, reconheceram por fim
que a caixa de ferramentas monetarista, em uso desde a administração
Carter, não apresentava resposta.

No fim da administração Bush, líderes bipartidários aprovaram a injecção
de centenas de milhares de milhões de dólares públicos no sistema
financeiro com a esperança de estabilizar o valor de mercado dos bancos
que estava em colapso, um movimento popularmente alcunhado como "bailout"
(salvamento externo).

No princípio da administração Obama, administradores do Partido Democrata
carpinteiraram um outro programa de recuperação que totalizava cerca de
três quartos de um milhão de milhões (trillion) de dólares, um programa
envolvendo uma combinação de cortes fiscais, projectos público-privados de
infraestrutura e alívio directo ampliado. A generalidade dos economistas
encarou este esforço como um programa de "estímulo" destinado a disparar
uma explosão de actividade económica para dar o arranque a um motor
económico enguiçado. Estimativas em dólar dos salvamentos federais e
estímulos federais destinados a ultrapassar a crise ascenderam a valores
tão altos quanto o Produto Interno Bruto de um ano nos anos iniciais após
o início da queda livre. A Reserva Federal continua a fazer uma transfusão
de US$75 mil milhões por mês para as veias da ainda enferma economia dos
EUA.

Má fé

As últimas três décadas do século XX produziram um novo consenso
económico: não meramente do primado do mercado, mas sim da total
governação da vida económica pelo mercado. Acreditou-se que a
regulamentação desestabilizava os mercado e não que o corrigia. A
propriedade pública e os serviços públicos eram vistos como ineficientes e
entraves inadmissíveis às forças do mercado. Tanto a vida pública como a
privada, para além do universo económico, foram sujeitas aos mercados,
medidas pelos mecanismos de mercado e analisadas através das lentes do
pensamento de mercado. Na verdade, a linguagem de mercado (market-speak)
tornou-se a língua franca unificadora de todas as ciências sociais e
humanas nesta era. Com a queda da União Soviética, o capital e seus
processos orientados pelo lucro penetraram todos os cantos do mundo. Só
movimentos independentes, anti-imperialistas, desconfiados do mercado,
como aqueles liderados por Hugo Chavez, Evo Morales e uns tantos outros
obtiveram algum êxito político contra a dominância global sem precedentes
da propriedade privada e dos mecanismos de mercado.

Enquanto o capitalismo na sua forma mais crua e agressiva desfrutava os
seus momentos de triunfo, estavam em actuação forças que minavam aquela
celebração. Aquelas forças estragaram a festa em 2000 sob a forma de um
grave arrefecimento económico, a chamada "Recessão Dot-com" caracterizada
por uma perda de valor no mercado de acções de US$5 milhões de milhões e o
desaparecimento de milhões de empregos. Economistas assombravam-se pela
lentidão com que os empregos estavam a retornar até os EUA e a economia
global serem atingidos em 2008 por outra bofetada ainda mais poderosa.
Claramente, a primeira década do século XXI será recordada como uma época
de crise económica e incerteza, uma perturbação que continua até o dia de
hoje.

Além do custo humano – milhões de empregos perdidos, pobreza, número de
sem abrigos, oportunidades perdidas, destruição de riqueza pessoal – o
século XXI infestado de crise desafiava a ortodoxia prevalecente dos
mercados sem peias e da propriedade privada. Mesmo advogados tão sólidos e
fervorosos daquela ortodoxia, como o Wall Street Journal, The Economist e
The Times foram abalados pela crise, questionando a validade de princípios
económicos clássicos. Nenhum princípio é mais querido e essencial para os
adeptos do livre mercado do que a ideia de que os mesmos são
auto-correctores. Apesar de poder haver desequilíbrios económicos de curto
prazo ou maus tempos nos negócios, os advogados do mercado livre acreditam
que o seu movimento tende sempre ao equilíbrio e à expansão no longo
prazo. Portanto, uma estagnação persistente e de longo prazo, ou declínio,
é considerada virtualmente impossível (com a condição de que não haja
restrições impostas ao mecanismo de mercado).

Assim, quando a era da mais ampla economia global de mercado aberto
experimentou o mais catastrófico colapso desde a Grande Depressão,
levantam-se sérias dúvidas acerca dos princípios fundamentais da ideologia
de mercado. E durante os dias mais negros de 2008 e 2009, um verdadeiro
pânico ideológico abateu-se sobre sabichões e peritos da direita e da
esquerda "respeitável". Alguns reabilitaram um economista fora de moda e
falaram de um "momento Minsky". Liberais proclamaram a morte do
neoliberalismo (a expressão popular para o retorno à respeitabilidade da
teoria económica clássica que começou no fim da década de 1970). E outros
ainda anteviram uma restauração dos intervencionistas teorias económicas
representados por John Maynard Keynes, teorias que guiaram a economia
capitalista através da maior parte do período do pós-guerra. Mesmo os
economistas mais conservadores admitiram que a supervisão do mercado, se
não mesmo a regulamentação, era tanto necessária como desejável.

Contudo, a mudança surgiu. Apesar de mais de cinco anos de declínio e
estagnação, apesar de um contínuo fracasso dos mercados para a
auto-correcção, a ideologia do livre mercado continua a dominar tanto o
pensamento como a política, claramente mais baseada na fé do que na
realidade. Em parte, a resiliência da filosofia do mercado aberto emana da
perspicaz fabricação do medo do endividamento por políticos e traficantes
de dívida das instituições financeiras. Ao levantar o grito estridente da
explosão da dívida e da catástrofe iminente, a atenção desviava-se dos
fracassos dos mercados sem peias e dirigia-se à austeridade governamental
e à redução da dívida maciça.

Diagnóstico?

É evidente que todos os modelos matemáticos vencedores do Prémio Nobel,
concebidos para apreender a actividade económica, fracassaram na previsão
e explicação do crash de 2008. Nenhuma quantidade de fé poderia disfarçar
o fracasso monumental dos mercados não regulamentados e das políticas que
os promoveram. Duas explicações simplistas e conflitantes, agudamente
contrastantes, são avançadas.

Os defensores dos mercados livres, desavergonhadamente e arrogantemente
argumentam que o governo se intrometeu e prejudicou a plena e livre
operação dos mecanismos de mercado, exacerbando portanto o que teria sido
uma correcção penosa mas que seria resolvida rapidamente. Seguindo a
metáfora mencionada no título deste artigo, a azia foi mal diagnosticada,
tratada com cirurgia radical, só para criar uma condição que põe a vida em
perigo.

Naturalmente, isto é uma insensatez dita em proveito próprio.

Seja o que for que possamos saber acerca de mercados, sabemos isto: desde
que o processo de desregulamentação de mercados começou no fim da década
de 1970, as crises têm ocorrido com mais frequencia, com maior amplitude e
com consequências humanas mais drásticas. Antes disso, e durante todo o
período anterior do pós guerra, a intervenção do governo e a
regulamentação tendiam a prevenir períodos maus, moderar o seu nadir e
suavizar os custos humanos. E um vislumbre do período anterior de política
favorável ao mercado – os primeiros anos da Grande Depressão – demonstra a
loucura de simplesmente esperar pela correcção prometida: as coisas só
ficam piores. Assim, tal como agora, a vida demonstrou ser um capataz
duro. Quando mecanismos de mercado realmente dão para o torto, ninguém
pode se dar a luxo de esperar por auto-correcção.

Os oponentes liberais e da esquerda suave ao mercado sem peias apresentam
um argumento diferente. Eles vêem a crise não na ausência de mercados
livres mas sim no fracasso em supervisioná-los e regulamentá-los
adequadamente. Nesta visão, partilhada por quase todos os liberais e a
maior parte da esquerda não comunista, os mercados são mecanismos
económicos fundamentais – essenciais, se quiser – mas melhor pastoreados
por controles do governo que os pilotam para porto seguro quando ameaçam
fugir ao controle.

Portanto, a crise de 2008 teria sido impedida, acreditam eles, se regras e
regulamentos permanecessem em vigor tal como haviam sido anteriormente
concebidos e implementados a fim de proteger a economia dos excessos do
mercado. Se não houvéssemos afrouxado as regras e regulamentos, nunca
teríamos experimentado o desastre de 2008.

Esta visão é história mal contada e análise económica ainda pior.

Se bem que os liberais gostem de acreditar que regulamentações e
instituições geradas pelo New Deal da década de 1930 estabilizaram o
capitalismo e domaram os mercados, a verdade é outra. O maciços gastos de
guerra iniciado algum tempo antes da entrada dos EUA na II Guerra Mundial
resolveram os problemas de crescimento e de excesso de mão-de-obra
associados à longa década de estagnação, recuperação hesitante, recuo e
nova estagnação que assolaram a economia desde 1929.

O capitalismo ganhou novo impulso com a reconstrução do pós guerra. Forças
produtivas foram restauradas onde haviam sido destruídas, renovadas quando
estavam gastas e melhoradas face aos novos desafios. Esta vasta
reestruturação do capitalismo produziu novas oportunidades tanto para o
lucro como para o crescimento. Ao mesmo tempo, a lição do gasto militar
maciço, socializado, público e planeado não foi perdida. Novas ameaças
foram conjuradas, novos temores construídos. A guerra quente na Coreia e a
Guerra-Fria sempre crescente alimentaram uma expansão dos EUA sem
precedentes. Não é inadequado caracterizar esta expansão do pós guerra
como um período de "keynesianismo militar". Por outras palavras, foi uma
era de politicas keynesianas de gastos governamentais planeados e extensos
acoplados a encomendas militares fora do mercado. Na medida em que
transferia uma fatia significativa da economia capitalista para um
comando, um sector extra-mercado, ela assinalou uma nova etapa do
capitalismo monopolista de estado, uma etapa que adoptava algumas das
características do socialismo.

Mas em meados da década de 1960 este "ajustamento" começou a perder a sua
vitalidade. O crescimento do lucro, a força condutora da expansão
capitalista, começou um declínio persistente (para uma ilustração gráfica
desta tendência, ver a página 103 de The Economics of Global Turbulence (
New Left Review, May/June 1998), de Robert Brenner.

A queda da taxa de lucro emparelhou-se à enorme inflação de meados da
década de 1970. As soluções militar-keynesianas para a crise capitalista
estavam gastas, exauridas, demonstrando-se inadequadas para tratar uma
nova expressão da instabilidade do capitalismo. Talvez nada tenha
assinalado mais a bancarrota da ortodoxia (keynesiana) prevalecente do que
a desesperada campanha WIN ( Whip Inflation Now, Bata a inflação agora) da
presidência Gerald Ford, uma tentativa impotente para deter a crise com
determinação em massa.

Ao contrário das afirmações de liberais, sociais-democratas e outros
salvadores do capitalismo voltados para reformas, a resultante mudança na
ortodoxia não foi meramente um golpe político, uma vitória da ideologia
retrógrada, mas ao invés disso um desmanchar das fracassadas políticas
keynesianas da época. Portanto, a "revolução" de Thatcher/Reagan foi
apenas o veículo para um ajustamento dramático da rota do capitalismo a
afastar-se de um paradigma gasto, ineficaz.

Com Paul Volker assumindo a presidência do Federal Reserve e os princípios
da desregulamentação sistemática, a administração Carter plantou as
sementes do abandono das velhas receitas. Volker, com o seu crescimento
sufocante das taxas de juro, assegurou uma recessão que afastaria qualquer
vontade de resistir ao aperto de cinto. Mas foi preciso a eleição de
Ronald Reagan orientado pelo dogma para emular a Margaret Thatcher do
Reino Unidos e utilizar a ocasião para estripar salários e benefícios a
fim de abrir o caminho para o crescimento do lucro.

O custo de devolver a vida à moribunda economia capitalista foi arcado
pela classe trabalhadora. Loucamente, a impassível e complacente liderança
[sindical] confiou na continuação do contrato tácito da Guerra Fria: O
trabalho apoia a campanha anti-comunista e as corporações honram a paz
trabalhista com salários firmes e crescimento de benefícios. Ao invés
disso, o crescimento do lucro foi restaurado pela supressão dos padrões de
vida do trabalho – cortando "custos". Seguiu-se uma odiosa ofensiva
anti-trabalho.

Se bem que a leal oposição insista em retratar a ruptura com a teoria
económica keynesiana como algo novo (habitualmente alcunhado
"neoliberalismo"), ela foi, de facto, uma capitulação à antiga. A
bancarrota da teoria económica burguesa não podia oferecer nada de novo,
nenhuma resposta criativa à crise capitalista; ela só podia abandonar uma
abordagem fracassada e restaurar lucros pelo esmagamento implacável do
mercado de trabalho.

Esta resposta só podia ter êxito devido à extraordinária fraqueza do
movimento trabalhista. Quando a taxa de lucro começou a recuperar, faltou
ao trabalho liderança e vontade para não só assegurar uma fatia dos
aumentos de produtividade, mas mesmo para defender seus ganhos anteriores.


Portanto, o capitalismo adquiriu um segundo fôlego ao recuar do consenso
económico do pós guerra e renegar o implícito tratado de paz com o
trabalho. O crescimento do lucro retornou e o sistema navegou.

Mas o contínuo avanço da desregulamentação e da privatização trouxe
consigo um retorno à anarquia drástica dos mercados. A crise das Caixas
Económicas (Savings e Loan) das décadas de 1980 e 1990 e o crash do
mercado de acções de Outubro de 1987 foram os arautos do que estava para
vir e reflexos de instabilidade mais profunda.

Com a queda União Soviética e do socialismo na Europa do Leste, foi
entregue um enorme novo mercado ao sistema capitalista global, um mercado
que mais uma vez revigorou as oportunidades para acumulação de capital e
expandiu lucros. Milhões de trabalhadores educados, recém "libertos"
(libertos da estabilidade de emprego, de condições de trabalho seguros, de
protecção legal e de organização) juntaram-se aos trabalhadores com
salários reduzidos e mal pagos do resto do mundo para constituir um vasto
manancial de trabalho barato. Portanto, uma guerra de classe imensa e
unilateral e a integração de milhões de trabalhadores com salários
deprimidos estabeleceram o capitalismo num saudável caminho de recuperação
do lucro, colocando a agora impotente ortodoxia keynesiana no espelho
retrovisor. Poucos imaginariam que esta viagem duraria menos de duas
décadas, até o capitalismo deparar-se outra vez com crises graves.

Crescimento económico significativo num período de trabalho fraco
necessariamente produz desigualdade galopante. Com políticas fiscais
amistosas para com as corporações e a riqueza, muitos mecanismos de
redistribuição do governo são exauridos ou desmantelados. O fluxo de
riqueza acelera-se para as corporações e os super-ricos e afasta-se
daqueles que trabalham para viver. Os cofres da classe investidora incham
com dinheiro ansioso por um retorno significativo sobre o investimento.
Quando o processo de acumulação de capital se intensifica, cada vez menos
seguro, surgem oportunidades de investimento produtivo de alto rendimento
para absorver a vasta acumulação de riqueza sempre em expansão
concentradas nas mãos de uma pequena minoria.

Num capitalismo maduro, novas e mais arriscadas avenidas – tipicamente
removidas do sector produtivo – se abrem para oferecer um lar para o
capital e prometendo um retorno. Banqueiros e outros "magos" financeiros
competem ferozmente para construir dispositivos geradores de lucro que
prometem cada vez mais. Estes instrumentos crescem gradualmente a partir
da actividade produtiva. Além disso, seus "lucros" resultantes são mais
uma vez removidos do valor real, tangível, material. Ao invés, eles
existem virtualmente como capital "hipotético", ou capital
"contra-factual", ou capital "direccionado ao futuro", ou capital
"contingente". Alguns marxistas apressam-se a etiquetar este produto da
especulação como "fictício", mas isso obscurece a sua origem fundamental
em actos exploradores no processo mercadoria-produção. É esta expansão de
capital promitente que alimenta volta após volta o investimento
especulativo lubrificado com dívida cada vez maior.

Abundam metáforas do fim de jogo deste processo: "bolhas", "castelo de
cartas", etc. Mas em última instância a causa da crise é o fracasso em
satisfazer a infindável busca do retorno. Por outras palavras, a causa da
crise reside no processo de acumulação intrínseco ao capitalismo e à
incapacidade para sustentar um retorno viável ao sempre crescente mar de
capital e capital promitente. Os capitalistas medem o seu êxito pelo modo
como os seus recursos são plena e efectivamente postos em uso para gerar
novos excedentes. Por outras palavras, o mais profundo e o mais
impressionante sendo da "taxa de lucro". É o critério que guia o
capitalista – uma taxa de lucro efectiva com base nos activos acumulados.
Além das medidas oficiais e forçadas das taxas de lucro, o crescimento do
capital acumulado, ponderado contra as oportunidades de investimento
disponível, conduz o investimento futuro e determina o curso da actividade
económica.

Em 1999, a lucratividade do sector tecnológico caiu precipitadamente em
resultado do investimento irrealizável de milhares de milhões de dólares à
procura de rendimento nas companhias marginais Dot.com e de serviços
internet. Em resposta ao problema da super-acumulação, investir nas
fantasias de jovens génios de 20 anos demonstrou-se ser tão irracional
quanto observadores lúcidos pensam ser. Seguiu-se o crash.

E mais uma vez os dias estonteantes de 2005, a comprar pacotes de títulos
bizarros com os destroços de hipotecas marotas parecia um meio de
encontrar um lar para vastas somas de capital "improdutivo". Afinal de
contas, o capital não pode permanecer ocioso; tem de encontrar um meio
para reproduzir-se. Mas o que fazer com os rendimentos da revenda de
títulos conduzidos pela procura? Mais do mesmo? Mais risco? Mais dívida? E
repetir?

A porção dos lucros das corporações estado-unidenses "ganha" pelo sector
financeiro cresceu dramaticamente desde 1990 até o crash de 2008,
atingindo aproximadamente os 40% em meados dos anos 2000 e demonstrando a
explosão de veículos de investimento alternativo que ocupava capital
ocioso. É crucial ver uma ligação, uma necessidade evolucionária, entre a
restauração da lucratividade, a intensa acumulação de capital e a
tendência para a lucratividade ser desafiada pela falta de oportunidades
de investimento prometedoras. Não é o capricho de banqueiros ou a
esperteza de empreendedores que conduz este processo, mas o imperativo
lógico do capital para produzir e reproduzir-se.

Alguns comentários e observações

Há outras teorias da crise apresentadas pela esquerda. Uma teoria,
abraçada por muitos Partidos Comunista, sustenta que a crise emerge da
super-produção. Naturalmente, num sentido a super-acumulalação é uma
espécie de super-produção, uma super-produção de capital a que falta um
destino para investimento produtivo. Mas muitos à esquerda entendiam algo
diferente. Eles argumentam que o capitalismo põe mais mercadorias no
mercado do que trabalhadores empobrecidos, mal pagos, podem comprar. Há
duas objecções a isto: uma teórica, uma ideológica.

Primeiro, a evidência mostra que uma queda no consumo ou um aumento na
produção de facto não antecede o declínio económico na nossa era. Se a
super-produção ou o seu primo, o sub-consumo, fossem a causa da retracção
económica de 2008, os dados necessariamente mostrariam algum desvio
anterior dos padrões de produção/consumo. Mas não há nenhum. Ao invés,
verifica-se o inverso: a própria crise provocou um fosso maciço entre a
produção e o consumo, exacerbando-a. A ameaça de oferta excessiva
prolonga-se na enorme pressão deflacionária que agita a economia global.
Apesar do facto de o gasto do consumidor ser uma grande componente da
economia dos EUA, os efeitos da sua estagnação secular ou declínio têm
sido em grande medida atenuados pela expansão do crédito ao consumidor e a
existência, embora ténue, de programas de bem-estar social como o seguro
de desemprego.

Segundo, se consumo retardado ou inadequado fosse a causa de crises, então
políticas redistributivas ou políticas fiscais proporcionariam uma solução
simples para retracções, ambas impedem-nas e revertem-nas. Portanto, o
capitalismo podia avançar no seu alegre carrossel com pouco temor de
crise. Certamente esta é a atracção ideológica de explicações de crises
pela super-produção: elas permitem a liberais e sociais-democratas
apregoar sua capacidade para administrar o capitalismo através de
políticas governamentais.

Contudo, eles não podem administrar o capitalismo porque as crises estão
localizadas não na arena da circulação (compatibilizando produção e
consumo), mas sim no mecanismo gerador de lucro do capitalismo, a sua
própria alma.

Devido à centralidade do lucro, a explicação da super-acumulação tem uma
afinidade com outra teoria da crise: o argumento de Marx para a tendência
de queda da taxa de lucro. De facto, pode ser encarada como uma versão
contemporânea do argumento sem as suposições do século XIX.

Felizmente, muitos comentadores de hoje revisitaram a teoria esboçada no
Volume III de O Capital, descobrindo uma relevância ignorada ao longo da
maior parte do século XX. Somente um punhado de admiradores do trabalho de
Marx manteve a teoria viva naquela era, autores como Henryk Grossman, John
Strachey e Paul Mattick. Infelizmente, admiradores de hoje, como os
antecessores acima mencionados, partilham o viés acriticamente ao tomar o
esquema de Marx como o Santo Graal. Na maior parte das vezes, Marx usava
formalismo muito ocasional como ferramenta de exposição e não como os
axiomas de um sistema formal. Aqueles treinados na análise económica
moderna são inclinados a saltar sobre estas fórmulas com um fervor de
discípulo. Eles debatem a resistência de um modelo que descreve a economia
global como uma colecção de empresas a devorarem capital constante a uma
taxa maior do que o emprego de trabalho e mecanicamente deprimindo a taxa
de lucro. Isto é confundir a simplificada exposição de Marx com explicação
robusta. Pode-se aprender muito da exposição de Marx sem que se faça disto
um exercício escolástico.

Entre os nossos amigos de esquerda, tornou-se popular falar da crise e
desta era como de "financiarização". Isto é sobretudo inútil. Na verdade,
a crise tem muito a ver com o sector financeiro; este desempenhou e
desempenha um papel maior na economia global, especialmente nos EUA e
Reino Unido. Mas recorrer a um novo nome nada faz para expor ou explicar o
papel da finança. Tal como "globalização" num momento anterior, a palavra
"financiarização" pode ser emocionante, elegante e conveniente, mas
normalmente esconde os mecanismos em funcionamento. É uma palavra
preguiçosa.





Há um ponto nesta algo extensa, mas apenas esboçada, jornada ao longo do
capitalismo do pós guerra. Esperançosamente, a jornada demonstra ou sugere
fortemente que os eventos do passado económico não foram nem aleatórios
nem simplesmente conduzidos pela política. Eles foram, ao invés, o produto
da lógica interna do capitalismo; eles brotaram de barreiras e de
ajustamentos na trajectória do capitalismo. Quando direcções se mostraram
infrutíferas, novas direcções foram tomadas. Se bem que não seja possível
descartar novas manobras que tratem o problema inerente da
super-acumulação, o problema não irá embora. Ele retornará para assombrar
qualquer tentativa que presuma conquistá-lo de uma vez por todas. E se o
capitalismo carrega este gene, então seria sábio procurar um melhor
sistema económico que prometa tanto maior estabilidade como maior justiça
social. Naturalmente, encontrar essa alternativa começa por revisitar a
ideia com duas centenas de anos há muito favorecida pelo movimento da
classe trabalhadora: o socialismo. Ligado a esse projecto está a tarefa de
reconstruir o movimento, a organização política necessária para alcançar o
socialismo.

Como as coisas estão no mundo de hoje, há apenas duas magras opções no
menu habitual: uma, é salvar e manter o capitalismo com os sacrifícios dos
trabalhadores e de outros, a outra é salvar e manter o capitalismo com os
sacrifícios dos trabalhadores e um simbólico sacrifício de uma "quota
justa" por parte das corporações e dos ricos. Nenhuma delas é muito
animadora.

A primeira opção é baseada na papa fina da teoria económica do
"gotejamento" ("trickle down") e na visão para embalar crianças de que
"uma subida da maré eleva todos os barcos". É a receita dos dois
principais partidos políticos dos EUA, do Abe do Japão, dos partidos
europeus do centro e dos Trabalhistas do Reino Unidos.

A segunda opção também promete salvar o capitalismo, mas através de uma
falsa distribuição justa da adversidade por todas as classes. Esta é a
rota apresentada pela maior parte dos partidos da esquerda europeia e
mesmo por alguns Partidos Comunistas.

Mas um sistema – o capitalismo – que está geneticamente propenso à extrema
distribuição de riqueza e à crise persistente não contribui para uma
refeição apetitosa. Precisamos, ao invés, dispensar programas que prometem
melhor gestão do capitalismo, como os comunistas gregos (KKE) gostam de
dizer. Isso é para outros que estão em paz com o capitalismo ou subestimam
seus fracassos inevitáveis.

A única resposta para a insuficiência cardíaca do capitalismo é mudar a
dieta e colocar o socialismo no menu.

23/Dezembro/2013
Do mesmo autor:

Nuvens tempestuosas?
A tirania dos títulos

[*] Economista, zoltanzigedy@gmail.com

O original encontra-se em
zzs-blg.blogspot.pt/2013/12/looking-back-on-five-years-of-economic.html

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .


31/Dez/13

http://www.resistir.info/crise/crise_23dez13.html#asterisco

domingo, 29 de dezembro de 2013

El debate de la gestión obrera en Venezuela


Luis Primo

El proceso revolucionario ha
llegado a una encrucijada, en donde debe definir cuál será el proyecto económico
que desarrollará la Revolución Bolivariana; es decir cómo transformar las
relaciones de producción capitalistas. Articulo del primero numéro de la revista
marxista El Militante, Julio 2003.
La clase obrera venezolana como protagonista en la gestión de la producción

Participar, es participar en el poder o no es nada
Alberto Delfico

El debate ha comenzado. Por una parte sectores de la alta dirigencia del
gobierno y algunos sectores de los partidos políticos que apoyan la revolución
están hablando de un ”Proyecto de Capitalismo Nacional” que desarrollaría una
burguesía nacional que junto al Estado industrializaría el país. Toda la
historia del proceso socioeconómico venezolano ha demostrado que no existe una
burguesía nacional interesada en el desarrollo económico de nuestra nación.
Creemos que es erróneo pensar que se puede construir una burguesía progresista
en la época de mayor concentración de capital del imperialismo. Incluso si fuera
posible dar pasos en ese sentido serían aplastados por el capitalismo
internacional, que no desea ni permitirá un crecimiento autónomo en la región.

Por otra parte otros sectores de los partidos políticos, movimientos,
organizaciones populares, sectores sindicales y de trabajadores apuestan a
nuevos modos de producción y formas de gestión en las empresas, verdaderamente
revolucionarias, que transformen las relaciones de producción capitalistas. Tal
vez estos sectores del pueblo tengan aún muchas confusiones e incoherencias,
pero tienen una intuición de clase que ha logrado dos grandes victorias: el
levantamiento popular contra el golpe de Estado del 11 de Abril de 2002 y la
derrota del lock-out petrolero con la toma por parte de los trabajadores de
nuestra principal industria petrolera y su puesta en producción. Estas
tendencias están entrando en un fuerte debate ideológico y político que
terminará definiendo el rumbo de la Revolución Bolivariana.

Para nosotros un proyecto revolucionario, verdaderamente emancipador, se debe
sostener en un cambio de las relaciones de propiedad y de producción que permita
a los trabajadores y al pueblo en general dos cosas fundamentales: Primero, que
sean los trabajadores los que decidan el destino social y el uso de los medios
de producción, comunicación y distribución y, segundo, cómo organizar el trabajo
para desarrollar las capacidades de producción de manera colectiva y autónoma.

Poseer los medios de producción no es sólo una posesión material o la propiedad
jurídica de la empresa, es además poseer los medios de poder para desarrollar la
producción social, de acuerdo a la participación y decisión tomada
democráticamente por todos los trabajadores.
El problema no es sólo participar, sino bajo qué condiciones se participa, cómo
se participa, es decir cómo se organiza la cooperación de las diferentes
instituciones de la sociedad de una manera democrática.

Los trabajadores se preguntan por qué razón las máquinas y las empresas deben
pertenecer a alguien diferente de aquellos que la ponen en movimiento día a día
y por qué la fuerza de trabajo es rebajada a simple mercancía. Es entonces que
en momentos de crisis coyunturales, donde existe un descontento acumulado
durante décadas de aspiraciones insatisfechas y sumadas además al lock-out
petrolero de diciembre del 2002 promovido por la burguesía, cuando los
trabajadores pasan instintivamente de una impugnación potencial a una
impugnación efectiva del sistema capitalista. El nivel de conciencia cambia; da
un salto cualitativo y buscan modificar y transformar las relaciones sociales de
producción.

Este gran salto de una conciencia corporativa, reivindicativa y una conciencia
política, los trabajadores lo dirigen en un primer momento a las empresas y van
directamente contra la organización del trabajo, las técnicas de producción y la
división del trabajo, que forman la matriz material que reproduce las relaciones
jerárquicas en el trabajo y las relaciones de producción capitalistas. Son, en
definitiva, las que permiten la desigualdad social.

En Venezuela sucedieron, dos hechos fundamentales que sacudieron la conciencia
de los trabajadores, transformándola en una conciencia impugnadora de la
sociedad capitalista: a) la toma y puesta en producción de la industria
petrolera por los trabajadores y el pueblo en diciembre del 2002; y b) la toma
de algunas empresas privadas por parte de los trabajadores, que fueron
abandonadas, cerradas o quebradas. Pero además se proponen líneas políticas,
como las del Presidente Hugo Chávez Frías, en el sentido de crear cooperativas
con las cuales “transformaremos el sistema económico y social”. Esta situación
ha venido generando un fuerte debate en el seno de los trabajadores, provisto de
confusión, en cuanto al modo de participación y la forma de gestionar las
empresas.

Así, los trabajadores venezolanos, en función de la práctica histórica del
movimiento obrero mundial, han desarrollado en este proceso revolucionario las
viejas formas de gestión de las empresas que quedarán como nuevas experiencias
para la emancipación de los trabajadores del mundo.

¿Cuáles son las formas de gestión que han desarrollado los trabajadores
históricamente en el mundo? ¿Cooperativas, cogestión, autogestión o control
obrero? ¿Cuáles son las que rompen con la lógica capitalista? ¿Cuáles sirven en
la actual lucha de los trabajadores venezolanos para la transformación de la
sociedad capitalista en una socialista?

Trataremos, en forma resumida de resolver aunque sea parcialmente estas
preguntas, presentando las formas de gestión social mas importantes
desarrolladas por los trabajadores; teniendo en cuenta que existe una
continuidad histórica de prácticas gestionarías que expresan la autoorganización
autónoma de los trabajadores en su lucha contra el Capital.

Las cooperativas: primera experiencia obrera de gestión colectiva

La cooperación se desarrolla con la conformación de la clase obrera en los
inicios del siglo XIX. La creación de mutuales o de ayuda mutua es anterior al
desarrollo de los primeros sindicatos. Las cooperativas y mutuales respondían a
la necesidad de mejorar la calidad de vida y la solidaridad de todos los
asociados, en un tiempo en donde la miseria y la explotación azotaban a las
clases desposeídas.

Las cooperativas obreras de consumo o de producción tuvieron su auge en el siglo
XIX, especialmente en Inglaterra y Francia. Los principios fundamentales del
cooperativismo, en esa época se basaron en: una democracia interna, un hombre un
voto, afiliación libre, los fondos pertenecían a toda la sociedad y la
“neutralidad política”.

En la primera mitad del siglo XIX, se inicia el proceso de expansión del
capitalismo, motivado por la libre competencia. Este proceso se intensificó,
llevando a la conformación de monopolios y a una mayor concentración del
capital. Marx, visualizó esta tendencia del capital, por eso explicó como las
cooperativas eran brotes de la nueva sociedad, dentro de la vieja y que no
podían sobrevivir como islas en una economía capitalista. Sólo podrían
sobrevivir si se extendían a todos los sectores de la producción y se
coordinaran a nivel nacional; que en definitiva no sería otra cosa que la
articulación de una economía planificada socialista

El cooperativismo se deslizaría por dos corrientes: una revolucionaria, que se
dirige hacia la superación de la explotación y otra, reformista, que reforzará
el sistema capitalista y permitirá la explotación de trabajadores no asociados a
la cooperativa. Esta última tendencia se reforzará y potenciará.

El marxismo revolucionario no descartara la cooperativa como forma de
participación democrática de los trabajadores pero buscara otras formas de
gestión obrera que permitan realmente romper con la lógica capitalista,
sirviendo de enseñanza y de avance cualitativo en la conciencia política y
revolucionaria de la clase obrera. Esa nueva forma de gestión será el control
obrero.
De todo este proceso teórico-práctico del movimiento obrero y del socialismo en
la construcción del cooperativismo, desarrollado durante la primera mitad del
siglo XIX y la primera década del siglo XX, podemos concluir con las siguientes
reflexiones:

En el marco de la crisis capitalista, entendemos la creación de cooperativas de
producción, ya que pueden eliminar la contradicción antagónica entre capital y
trabajo a lo interno, siempre que estén dentro de un plan de transformación
revolucionario de las relaciones sociales de producción del capitalismo.

Las cooperativas de consumo, sin negarle su importancia, no es la más adecuada,
porque sólo afecta a la esfera de la circulación y representa un paliativo que
ayuda parcialmente en la distribución de riqueza de los asociados, pero no va a
la raíz del problema: La explotación de la clase obrera.

Las cooperativas aisladas, en un régimen capitalista de gran concentración de
capital y altamente monopolizado serán barridas y derrotadas. Las cooperativas
deben alcanzar un amplio desarrollo nacional para poder subsistir como opción
revolucionaria; pero esto sólo será posible cuando la clase obrera se apodere de
los medios de producción y cree unas relaciones sociales colectivas.
La cooperativa es una forma colectiva de apropiación. La propiedad no es privada
sino social, pero es una socialización que cuando opera en el marco del sistema
capitalista (mercado, lucha competitiva, etc.) y no rompe con su lógica resulta
contradictoria. La asociación de los trabajadores es su propio patrón, es decir
se explota así misma y no tiene otro patrón que los mismos asociados. En el
marco de la competencia capitalista esto llevará, en muchos casos, a que los
trabajadores aumenten voluntariamente el grado de su explotación para “competir”
con otras empresas del mismo sector. La lógica del capital no parece abolirse,
pero los trabajadores han tocado un elemento fundamental del capitalismo: Las
relaciones de propiedad.

Dentro de la cooperativa debe ser colectiva, no sólo la propiedad, sino también
la organización jerárquica del trabajo y las técnicas de producción. Es decir
los trabajadores deben controlar los medios de decisión para evitar que se
reproduzcan las relaciones de producción capitalistas y las formas de
explotación.

Las cooperativas requieren de financiamiento y ayudas del Estado, no sólo para
iniciar sus operaciones sino también para invertir en nuevas aplicaciones
tecnológicas; estas ayudas no pueden permitir que la cooperativa pierda su
autonomía. Como lo expresaba Marx, las sociedades cooperativas tendrán valor
mientras sean creaciones autónomas de los trabajadores y no sean protegidas por
el gobierno ni por los burgueses. Para garantizar la supervivencia de las
cooperativas es fundamental la estatización del sistema bancario y crediticio
que puede proporcionar créditos accesibles a las mismas.

Las cooperativas de producción tendrán importancia en la lucha de la clase
obrera si son parte integrante de las sociedades de consumo, ya que pueden ser
instrumentos para lograr la extinción de la ley del valor – trabajo. Además las
cooperativas de consumo pueden ser importantes en el apoyo de las luchas obreras
y las huelgas. Pero las mejoras de las cooperativas serán insignificantes hasta
tanto los medios de producción sigan en manos de los capitalistas.

Las cooperativas no son organizaciones de lucha directa y dan la ilusión de que
pueden resolver la explotación sin lucha de clases y sin expropiar a la
burguesía.
El proceso del movimiento cooperativo ha crecido por tres vertientes. Las
cooperativas obreras que se desarrollan hacia la superación de la explotación e
inmersas en la lucha de clases; las cooperativas burguesas que explotan a
trabajadores que trabajan para las cooperativas en beneficio de los asociados; y
las cooperativas reformistas que es aquella que se beneficia de la división
internacional del trabajo, explota a otros obreros reforzando así el sistema
capitalista.

El control obrero: gestión revolucionaria en la producción

El control obrero es una propuesta de gestión colectiva en la empresa que tiene
su desarrollo a partir de la primera década del siglo XX. En todo este proceso
histórico la clase obrera comprendió que la contradicción capital–trabajo es
antagónica y que la burguesía lo resuelve, si la clase obrera no lucha por su
emancipación, con guerras que destruyan a grandes contingentes de trabajadores o
con su exterminio por efecto de políticas que produzcan un altísimo desempleo.

Es en este momento que la lucha de los trabajadores rebasa los objetivos
inmediatos, reivindicativos y se plantea la organización de la lucha y la
gestión obrera de las empresas, para reorganizar la producción de acuerdo a sus
intereses. Existe un cambio cualitativo de la conciencia en la clase obrera. Se
pasa de una conciencia corporativa a una revolucionaria que impugna todo el
sistema capitalista.
Podemos extraer de toda la experiencia histórica del desarrollo del control
obrero las siguientes reflexiones:

El proceso de desarrollo del control obrero se da cuando el país se encuentra en
una coyuntura política–económica de crisis y de contradicciones entre las clases
en pugna, más cuando pueda existir un gobierno popular y revolucionario, unido a
los trabajadores y sectores populares, y una burguesía que no acepta entregar
sus privilegios y desarrolla una política de sabotaje económico. Este sabotaje
esta dirigido a debilitar artificialmente la producción, mediante la reducción
del número de jornadas de trabajo, el cierre, la quiebra, el despido y la
suspensión de trabajadores en masa.

El control obrero tiene como objetivo la regulación planificada de la economía
por los trabajadores organizados en diferentes comités que incluyen a los
empleados y personal técnico. Los comités tendrán derecho de fijar límites de
producción y tomar medidas para determinar el costo de esa producción. Tendrán
acceso a toda información relativa al proceso productivo, a los libros de
contabilidad de la empresa y las finanzas, a las inversiones, a como organizar
el trabajo de manera democrática y participativa.

Sin embargo, el control obrero, después de tomar el camino del control de la
producción, se extenderá más allá de los límites de las empresas individuales y
los trabajadores exigirán intervenir en las decisiones de cómo organizar el
trabajo, las técnicas de producción y cómo romper la jerarquización en la
organización productiva de toda la sociedad.

El control obrero, de acuerdo a la experiencia histórica, es transitorio. Por su
esencia, se presenta en un período de convulsión política y económica. Al
generalizarse con la toma de conciencia de los trabajadores, de sus objetivos y
de su importancia social, creará las condiciones favorables para la toma de
poder político, la instauración del socialismo, con sus formas de autogestión
obrera para el desarrollo del trabajo colectivo y productivo.

La estrategia del control obrero debe ser un medio que permita acelerar la lucha
de clases en su conjunto y preparar a la clase obrera para gestionar el
gobierno, una vez que tome el poder político.

La lucha por la estatización bajo control obrero, de las empresas en crisis,
cerradas o que estén ocupadas es la única forma de garantizar la viabilidad de
estas empresas, a la vez que significa un avance para imponer la socialización
de la propiedad y del trabajo bajo control obrero y gestión de los trabajadores,
Y es una forma de transición de la lucha revolucionaria contra el Estado
capitalista.

El control obrero es una lucha contra el despotismo capitalista a lo interno de
la empresa, pero requiere la articulación de todas las empresas bajo control
obrero para trascender y enfrentar la oposición capitalista que luchara contra
su construcción.

La cogestión: participación en la gestión dentro de la producción capitalista

La cogestión es la participación de los trabajadores en la gestión de la
empresa, en conjunto con los propietarios de la empresa privada o los
representantes del Estado.

La cogestión se desarrolla a finales de la segunda guerra mundial como parte del
esfuerzo bélico en los países aliados occidentales. Después del conflicto, sobre
todo en Alemania se generaliza la experiencia de la cogestión, perfeccionándose
con leyes que aumentaron el poder de decisión laboral de los trabajadores, sobre
todo en las grandes empresas.

En los últimos años, en diversos países se han desarrollado experiencias de
participación en diversos niveles. En América Latina casi todos los países
tienen experiencias de participación de cogestión, incluidas en leyes y
constituciones.

Esta participación puede ser en los diferentes niveles de la empresa (junta de
accionista, junta directiva, gerencia, etc.). También viene combinada con la
participación en los beneficios de la empresa. La cogestión postula, además, una
intervención en dos factores: intervención en el nivel de concepción y en la
fijación de la política global de la empresa. Estas intervenciones se sitúan a
nivel de los consejos de administraciones que pueden ser paritarios o no. La
cogestión es un sistema de coparticipación que “institucionaliza” la discusión
obrero – patronal.

Como se observa la cogestión no impugna las relaciones de propiedad ni los
medios de producción capitalista, por lo que favorece la integración de la clase
obrera al sistema de producción capitalista. Su principal objetivo es hacer a
los trabajadores, a través de sus representantes, corresponsables de su propia
explotación y así extraer más plusvalía de su propio trabajo. Esto no significa
que, bajo una política revolucionaria clara de los objetivos de la clase obrera,
no se utilice este tipo de participación compartida como un instrumento para
avanzar en gestiones obreras que forman al trabajador. Esto sólo será posible
con el desarrollo de un sindicalismo clasista y revolucionario, en el que los
representantes de los trabajadores sean elegidos y puedan ser revocados por las
asambleas de los trabajadores y respondan de su actuación ante ellas.

Las formas actuales de participación en la organización de trabajo como el
toyotismo, la calidad total, los equipos autónomos de trabajadores, además del
aumento y enriquecimiento de las tareas en los puestos de trabajo, forman parte
de los nuevos sistemas de cogestión en la base de los trabajadores. No ponen en
peligro, ni siquiera en cuestión, los objetivos definidos por la dirección de la
empresa capitalista permitiendo la integración de los trabajadores en la lógica
capitalista de la empresa.

La autogestión: propiedad social y gestión colectiva en la producción

La autogestión es una de las formas de lucha de los trabajadores para la
construcción de una sociedad socialista. No es sólo un cambio en la gestión de
la empresa sino es la transformación total de las relaciones sociales de
producción capitalista, de manera que los trabajadores posean los medios de
producción y de poder y decidan sobre la gestión, acumulación y administración
de la empresa. Es la apropiación social de los medios de decisión y poder por
parte de los productores directos.

La autogestión propugna la gestión directa y democrática de los trabajadores, en
las funciones de planificación, dirección y ejecución. Rechaza y cuestiona el
poder de los propietarios de los medios de producción, distribución y consumo
capitalista.
En la empresa, la autogestión significa que los trabajadores a través de las
asambleas y otras formas democráticas de decisión colectiva, poseen todo el
poder dentro de la comunidad establecida para la producción o distribución de
bienes y servicios, mediante una planificación democrática.

Las empresas autogestionarías presentan, sin embargo los mismos problemas que
las cooperativas. Estas empresas aisladas dentro del sistema capitalista son
fácil presa de las grandes empresas privadas y de las trasnacionales. No pueden
existir islas de autogestión en el seno del capitalismo, sometidas a la
competencia y a la alta concentración de capitales que estrangulan a los más
débiles.

Las diferentes experiencias demuestran que la falta de planes financieros, que
son absorbidos por la banca y la empresa privada, la colocan en una situación de
supervivencia, en el mejor de los casos, o en la extinción definitiva. Otro
problema es como realizar la “transferencia tecnológica” cuando ésta es
controlada por el imperialismo y las trasnacionales, precisamente para
subordinar a las empresas en general.

Sin embargo, su perspectiva a futuro en una sociedad socialista las hacen una
experiencia formativa importante para la clase obrera. La autogestión no es un
cambio en la gestión de la empresa, ni un paso transitorio al control obrero en
el sistema capitalista, es la transformación total de las relaciones de
producción capitalista y la apropiación de los medios de producción y decisión;
porque la propiedad colectiva será una ficción sino lleva además una gestión y
planificación colectiva y democrática.

Estado, nacionalizaciones, estatización y relación con las formas de gestión de
la producción

El Estado Capitalista venezolano se desarrolla a partir de la segunda década del
siglo XX, con el descubrimiento y crecimiento de la industria petrolera. Esto le
imprime velocidad al desarrollo económico venezolano en esta etapa, impulsándose
la creación de Empresas del Estado. Éstas son formas colectivas de propiedad
capitalista, son una superación de la propiedad privada a lo interno del propio
sistema capitalista. Lo que permite intervenir en la economía. Así el Estado se
constituye en una palanca importante para el desarrollo, especialmente en los
países atrasados, con formas precapitalistas que aun subsisten. Esto es una
demostración más del carácter atrasado, parasitario y retrogrado de las clases
dominantes locales que son incapaces de jugar algún papel progresista. Pero si
el Estado y sus empresas forman una propiedad colectiva ¿cómo sigue siendo
capitalista? Los motivos son varios. En primer lugar, porque ese Estado responde
a los intereses del capital nacional e internacional y por lo tanto orienta la
producción y desarrollo de esas empresas bajo ese punto de vista. Y además,
porque las relaciones de producción que existen a nivel de la organización
jerárquica del trabajo están profundamente marcadas por las estructuras del
capital.

El problema de la superación del capitalismo plantea además el tema de la
estatización de las empresas. La estatización se nos puede presentar como si la
propiedad privada es abolida al pasar a un tipo de propiedad pública. Sin
embargo, la propiedad capitalista no se sostiene sobre el trabajo personal sino
sobre la apropiación del trabajo ajeno. Es la apropiación capitalista de los
medios de producción, poder y distribución que conlleva la propiedad de los
capitalistas sobre el producto del trabajo ajeno.

La estatización de las empresas ha sido considerada como una reforma de la
estructura que supondría la socialización de la propiedad, es decir un duro
golpe a la propiedad privada y al capitalismo, pero de acuerdo a la práctica
histórica esto no ha sido así. La reforma de la estructura de la propiedad
privada a una propiedad estatal no instaura un nuevo modelo económico, diferente
al capitalismo ni siquiera por si misma, al socialismo.

Esto se debe a que el Estado y sus empresas hay que analizarlas de acuerdo a dos
factores que consideramos, son fundamentales: Las relaciones y los medios de
poder, es decir cuáles son las clases sociales que controlan los poderes
públicos y el contexto nacional e internacional en el que, a pesar de las
nacionalizaciones no suprime el mercado mundial y mantiene la división
internacional del trabajo. Además las relaciones que existen a nivel de la
división y de la organización del trabajo a lo interno de las unidades de
producción son de carácter capitalista.

Esto lo podemos observar en la nacionalización de la industria petrolera en los
años 70. La propiedad privada pasó a una propiedad colectiva o pública pero se
mantuvo intacta la organización jerárquica del trabajo, la división del trabajo
y las técnicas de producción, que representan la matriz fundamental que
reproduce las relaciones de producción capitalista. Lo que pasó fue que se creó
una tecnoburocracia unida a la burguesía criolla y al capital internacional,
hasta diciembre del 2002, en donde esa casta fue derrotada y expulsada de PDVSA.
Pero ojo, sino existe gestión obrera y control de los trabajadores para cambiar
las relaciones sociales de producción capitalista esta tecnoburocracia se va a
reproducir.

En Venezuela el proceso revolucionario y el papel totalmente reaccionario de la
burguesía ha puesto en tela de juicio el modelo de organización capitalista de
la economía. La única manera de avanzar y defender el proceso revolucionario, es
impulsar y permitir todas las formas de gestión obrera y popular. Además iniciar
una fuerte transformación del Estado que implique la participación y la toma de
decisiones de los trabajadores en todas las esferas del Estado, y que sustituya
el Estado de los capitalistas por un Estado de los trabajadores.

Propuestas para desarrollar una política de gestión obrera en Venezuela

Después de las argumentaciones expresadas, producto de la experiencia histórica
de las formas de gestión obrera, debemos exponer algunos lineamientos que sirvan
para la discusión y el debate entre los trabajadores, sus sindicatos y
organizaciones populares, que permitan generar una política de gestión obrera y
popular en Venezuela. Algunas de las consideraciones serian:

La situación coyuntural que presenta nuestro país, producto del lock out
petrolero, el sabotaje a PDVSA y el cierre o quiebra de empresas ha producido en
dos meses la perdida de 553.515 puestos de trabajo. Ahora existe un agregado en
la estrategia de la burguesía, un “sabotaje de baja intensidad” en el sector de
la economía con el desabastecimiento de algunos productos, el cierre de empresas
y el desarrollo de un mercado negro de divisas. Esta situación exige por parte
de las organizaciones políticas, sociales y sindicales de una profundización de
la conciencia de los trabajadores y sectores populares que permita consolidar la
Revolución Bolivariana.
Consideramos que para el logro de esto debe desarrollarse una política de
participación y gestión obrera y popular.
Consideramos que las organizaciones sindicales y la nueva central UNT debe
desarrollar una Plataforma Político-Sindical orientada en tres ejes
fundamentales: Una estrategia sociopolítica y económica, una estrategia de
gestión obrera y popular en la producción y una estrategia para el desarrollo
del país.

El eje estratégico de gestión obrera y popular en la producción es fundamental
para transformar al trabajador de su condición de asalariado a la condición de
productor colectivo.
Impulsar la planificación democrática no como mera participación para legitimar
las decisiones del Estado, sino asumiendo los trabajadores el poder real tanto a
nivel de la planificación regional y local.

En lo referente a las cooperativas, como formas de gestión obrera, consideramos
que a pesar de ser una forma de propiedad social y colectiva tendrán grandes
debilidades cuando se enfrente al mercado capitalista y a la competencia entre
las empresas. Sin embargo no negamos su implementación, pero requieren de un
Plan Nacional Político-productivo expresado en los siguientes fundamentos: (a)
los objetivos políticos-productivos a desarrollar; (b) los tipos de cooperativas
que se crearán para el desarrollo económico del país, sean estas de producción,
consumo o servicios; (c) el plan de financiamiento; (d) la creación de un nuevo
tejido social en la producción y distribución de los bienes que genere y, (e)
las formas de articulación de las cooperativas (federación de cooperativas
productivas de una misma rama, integración de las cooperativas de producción y
de consumo que permitirían ser utilizadas para la solidaridad de los
trabajadores, creación de cooperativas intersindicales, creación de redes
cooperativas etc.).

El Gobierno debe implementar políticas de financiamiento y crédito para las
inversiones y cambios tecnológicos que requieran las cooperativas, pero es
importante que conserven su autonomía, tanto productiva como económica, pero
además no debe estar desligada de la lucha política contra las condiciones
generales del capitalismo. En el marco de un Plan productivo nacional, el
Gobierno debe potenciar, promover y proteger todas las formas de gestión obrera
y popular. Pero estas no deben estar bajo el control del Estado, sino bajo el
control de los trabajadores y el pueblo

La otra forma de gestión de la producción, el control obrero, se genera en
coyunturas de crisis políticas y económicas y tiene por objetivo la regulación
de la producción y el control de las decisiones por parte de los trabajadores.
El control obrero debe ser la política fundamental en el eje estratégico de
gestión obrera y popular y deberá ser implementada por los sindicatos de base y
sus trabajadores. Se debe impulsar los Comités de Trabajadores, en base a cinco
direcciones: (1) controlar la organización jerárquica del trabajo y crear una
nueva democrática y participativa; (2) ejercer el control en la división de
trabajo a nivel de la empresa y en los sectores de la economía; (3) controlar
las finanzas, contabilidad e inversiones de la empresa; (4) generar el control
sobre los despidos y cierres de empresas y, (5) controlar los medios de
decisiones en la empresa.

Se deben ocupar todas las empresas privadas abandonadas, cerradas quebradas o
semiparalizadas, creando los Comités de Trabajadores que impidan el vaciamiento
de la empresa por parte del patrón y proceder a su control obrero.
Implementar, como fase siguiente a la ocupación de la empresa, los trámites
necesarios para la estatización de la empresa ocupada bajo control obrero.

En las empresas del Estado, principalmente de transporte, básicas y petroleras,
se impulsarán los Comités de trabajadores que implementarán el control obrero a
diferentes niveles, pudiendo estar combinado con participación mayoritaria de
los trabajadores (cogestión). Esto permitirá enfrentar el poder de la
tecnoburocracia en las empresas del Estado.
Los directores laborales que plantea la actual Ley del Trabajo, deben ser
ampliados en forma paritaria en las Juntas Directivas y Juntas de Accionistas,
debiendo ser electos por los trabajadores y que no sean personal de confianza ni
directores. Estos podrán ser revocados por los trabajadores. Se creará una
Asamblea de Directores Laborales de todas las empresas del Estado a fin de
articular una política socioeconómica que favorezca la calidad de vida de los
trabajadores e impulsen formas de gestión obrera y popular a nivel nacional.

Los Comités de Trabajadores se articularán en Coordinaciones Regionales de
Control Obrero y estos una Coordinadora Nacional de Control Obrero. Estos
organismos implementaran políticas nacionales y regionales.
Para concluir debemos tener presente que si no se transforma la propiedad y sí
la gestión de la empresa, estaremos enmarcados en el sistema capitalista. Si
transformamos la propiedad y la gestión de la empresa no está en manos de los
trabajadores, estaríamos todavía en la lógica del capitalismo. Sólo
revolucionando las relaciones de propiedad y las formas de gestión en la
producción y en la sociedad, estaremos en el desarrollo de un nuevo modo de
producción y a las puertas de la emancipación definitiva del género humano.

IN
Frente Bicentenario de empresas bajo control obrero
http://www.controlobrero.org/noticias/control-obrero/18-el-debate-de-la-gestin-obrera-en-venezuela.html

sábado, 28 de dezembro de 2013

“El pueblo ruso se siente engañado y estafado”


Rusia: Entrevista con Ramón Franquesa, a 22 años de la disolución de la URSS

Àngel Ferrero
Rebelión

Ramón Franquesa es profesor de Economía en la Universitat de Barcelona (UB),
donde investiga la gestión de recursos naturales renovables, la economía social
y los procesos de organización económica no capitalista. En la década de los
ochenta participó en un programa de intercanvio de la Universidad Lomonosov de
Moscú que le permitió ser testimonio de la disolución de la Unión Soviética y la
rápida transición al capitalismo. Àngel Ferrero entrevistó a Ramón Franquesa
para La Directa en el barrio de Gràcia de Barcelona. Esta es la transcripción
íntegra de la entrevista.

¿Por qué motivo viajaste a la Unión Soviética?
Fui a finales de los ochenta por diversas razones, pero sobre todo porque
trabajaba en un grupo de investigación de empresas autogestionadas y
cooperativas de la Universidad de Moscú. En aquel momento se hbalaba de cómo se
tenia que hacer la reforma económica, y, dentro de este debate, una de las cosas
que se planteaban desde la izuiqerda era intentar ver cómo se podían transformar
las empresas estatales, gestionadas por el Gosplan de manera muy poco eficiente,
en un tipo de empresa más participada por los trabajadores, con más autonomía.
El problema de partida era que la propiedad pública únicamente existía como
propiedad estatal y eso condujo a que las empresas fueran poco eficientes y
tuvieran poca capacidad de innovación. Éste era uno de los elementos que estaba
llevando a la Unión Soviética a la pérdida de innovación y a perder, en cierto
modo, la carrera económica con Estados Unidos.
El programa donde trabajaba era parte de un programa de intercambio
universitario entre la Universidad Estatal de Moscú, la Lomonossov, y la
Universidad de Barcelona, pero también era muy informal, porque no había dinero
para financiar un proyecto como ahora. Lo que había era un acuerdo de
intercambio de conocimientos. En la Lomonossov trabajaba en seminarios y grupos
de investigación, pero no en las clases formales. Mi ruso era limitado y la
Unión Soviética era un país cerrado en sí mismo. No se podía impartir en otra
lengua que no fuera la rusa. Los catalanes que fuimos no tuvimos ningún tipo de
retribución, el programa sólo cubría la estancia. Una parte del acuerdo era que
yo no podía dejar mis obligaciones académicas en Barcelona. Gracias al resto de
los profesores, podía concentrar las clases y eso me permitía tener largas
estancias en la URSS.

¿Cuántos años estuviste?
Estuve cuatro años, pero ellos continuaron con el programa. Cuando se disolvió
la URSS y se emprendió un camino claro de privatización, su esperanza quedó
truncada. Se pasó de unas empresas estatales poco eficientes a unas empresas
privadas en manos de grupos de mafiosos. Muchas veces los antiguos directores
terminaron apropiándose de aquellas empresas.

Visitaste fábricas y centros de trabajo.
Parte del programa era mantener conversaciones con los trabajadores. El problema
que vivia la URSS era técnico, desde el punto de vista económico, pero también
político. Parte de un factor de desánimo, no sólo para mí, sino para mucha gente
que trabajaba con nosotros, era observar que los trabajadores no entendían lo
que estaba ocurriendo y cuáles serían las consecuencias de la privatizacion de
las empresas. Sólo veían a corto plazo una relajación de las obligaciones y una
tolerancia más grande hacia el mercado negro. Recuerda que en aquella época una
parte importante de los ingresos de los trabajadores procedía de llevarse los
productos de la fábrica para venderlos en el mercado negro. En estos años de
transición, los directores de la fábrica que aspiraban a quedarsela compraron
una cieta paz social a partir de la tolerancia hacia este hecho. Después,
evidentemente, la situación se invirtió y pasaron a comportarse como verdaderos
empresarios: desaparece cualquier concesión en la jornada laboral (hasta
entonces el absentismo era frecuente) o en la tolerancia hacia el hurto.

Has explicado que una parte del proceso fue convertir a los obreros en
accionistas y después presionarlos para convencerlos de que vendieran sus
acciones.
Eso fue en la etapa final. Tienes que pensar que todo el proceso fue muy
caótico. Se pretendía privatizar a las empresas, pero este proceso se hizo sin
que existiera un sistema impositivo, porque en la URSS, donde todas las empresas
eran propiedad del estado, no había beneficios empresariales. Una de las
dificultades era que, al introducir un mercado –como instrumento de medida de la
calidad–, tenían que introducirse, también, impuestos, mercados de materias
primas, productos, etcétera. En este proceso se tenía que introducir un sistema
fiscal. Este sistema, sin embargo, no se introdujo hasta más tarde y todavía hoy
Rusia tiene un sistema fiscal más que deficiente. La evasión fiscal era (y sigue
siendo) elevada y las empresas no tributaban lo que tributarian en un estado
capitalista mínimamente avanzado. Los beneficios empresariales tributaban de
manera muy deficiente o no lo hacían en absoluto. El estado se quedó rápidamente
sin recursos. El único recurso que le quedó fue el de imprimir rublos y generar
inflación. Eso provocó una pérdida del valor adquisitivo y la ruptura del
acuerdo social que existía previamente. Todos los acuerdos sociales, salarios,
pensiones, etcétera, dejaron de tener sentido. La inflación galopante obligó a
los pensionistas a volver a trabajar y aniquiló toda la legalidad que se había
acumulado durante la Unión Soviètica. Pero políticamente convenía, porque muchos
de los empresarios no querían pagar impuetsos y porque era una manera de romper
los acuerdos sociales que no podían cambiarse de un día para otro a golpe de
decreto. El mecanismo para conseguirlo fue la devaluación de la moneda. Eso
formaba parte del caso, que fue un caos planificado por determinados sectores
sociales para desmontar la estructura administrativa del país.

¿Qué tipo de debates teníais con los trabajadores?
En este proceso, nuestro trabajo era intentar convencer a los trabajadores y
sindicalistas que no vendieran su participación en la propiedad de la empresa,
sino que la reinvidicassen para su colectivo laboral. En el momento clave de la
transición, cuando Yeltsin llega al poder, el que hace es estimar el valor de
todos los activos del país y dividirlo por el número de habitantes para asignar
a cada habitante una participación en el valor del país. Este cálculo se hizo de
manera fraudulenta. La gente recibió una especie de acciones y los directores de
una empresa, si querían comprarla, tenían que reunir las acciones que valía para
que el estado se la cediese. Lo que hicieron los empresarios fue comprar estas
acciones a los trabajadores, mucho de los cuales llevaban dos mesos sin cobrar,
sufriendo calamidades, y dispuestos a vender su participación a bajo precio,
prácticamente los precios que les ofrecieron, porque así salían del brete en que
se encontraban. La falta de perspectiva política y conocimientos económicos
llevó a que la gente se desprendiese masivamente de estas acciones. La
diferencia salarial en la URSS era de uno a seis. En este período surgió un
núcleo de unas 200 ó 300 mil personas que, de repente, podían comprar el país.
La única manera de que aquello fuera posible fue, evidentemente, a través del
fraude, el robo y la extorsión.

¿Qué pensaban los trabajadores?
En la URSS la percepción de los trabajadores era que el director de la empresa
no era una persona que los estuviera explotando (y, de hecho, era así), sino un
intermediario entre ellos y un poder central que se encontraba muy lejos, el
Gosplan, la oficina central de planificación en Moscú. Esta persona intermediaba
entre el centro y ellos de manera paternalista. Por ese motivo muchos obreros
pensaban que la transferencia a estos directores mejoraría todavía más su
situación. Así que les vendieron sus acciones. Pero, obviamente, cuando esta
persona pasó a tener la propiedad de la empresa ya no se comportó del mismo
modo.
Uno de los problemas añadidos era que, si había una incultura económica entre
los trabajadores, también la había entre esta clase burocrática. Eso contribuyó
a la caída del país. Muchos de estos directores ni siquiera sabían actuar como
capitalistas. El primer error que cometieron fue, una vez apropiadas las
empresas, capturar como beneficio económico toda diferencia entre costes e
ingreso. Es decir, no amortizaron la maquinaria. Es un error grave. Ningún
gerente en un país capitalista es capaz de cometer un error así, no entender que
algún día tendrá que reponer la maquinaria. Como que se trataba de empresas
públicas, la inversión siempre la hacía el estado, no partía de una acumulación
interna en la misma empresa. En algunos lugares, cosas como alguna reposición,
reparar el techo o poner las bombillas podía correr a gasto de la empresa, pero
en cualquier caso la gran inversión procedía del estado. Y estos gerentes que se
apropian de las empresas que habían hecho funcionar durante decenios siguen
actuando al día siguiente como lo hicieron durante todo aquel tiempo.
Durante la URSS, el Estado se quedaba antes con los beneficios. Había
corrupción, pero vista la corrupción que hay hoy en día, la corrupción de
aquella época nos parece de risa. Corrupción, en aquella época, quería decir que
el director se llevaba a casa un televisor o dos botellas de champán. Era una
corrupción que tenía efectos sobre todo en el plano moral. El drenaje de
recursos se hacía en la infeiciencia y no porque nadie acumulase grandes
cantidades de bienes materiales, entre otras cosas porque uno de los aspectos de
la cultura, de la sociedad soviética (tampoco necesariamente demasiado sano,
pero era parte de como era la gente) era la envidia. Si el vecino tenía
demasiadas cosas, inmediatamente se generaba un entorno agresivo. Quien tenía,
tenía que esconderlo y no hacer ostentación, porque de lo contrario tenía quedar
explicacions de dónde había salido todo aquello. Era una sociedad que se
vigilaba mutuamente y la corrupción estaba limitada.
Cuando llegó el cambio, esta corrupción ya no es de un televisor, sino de
coches, casas, inversiones, dinero que se saca rápidamente al exterior. Estos
supuestos empresarios se quedan con la empresa, pero la gestionan mal, no hacen,
por ejemplo, ninguna inversión. Muchos se convirtieron en simples liquidadores
de empresas. Es decir, compraron la empresa y vendieron la maquinaria como
chatarra. Es cierto que la situación era muy difícil. Tal era el caos dentro de
la Rusia post-soviética, que una fábrica de tejidos, por ejemplo, tenía muchas
dificultades para conseguir algodón, porque los transportes no funcionaban o la
materia prima se robaba durante el transporte. Al final muchos optaron por
vender la maquinaria a los japoneses como chatarra a cambio de tener una cuenta
corriente en Suiza, pongamos por caso. En muchos casos se vendieron los terrenos
o los apartamentos que eran propiedad de la empresa. Estas liquidaciones no
ayudaron a la economía, más bien todo lo contrario: mucha gente terminó en la
calle y sin nada, ya que había vendido antes sus acciones de la empresa.

¿Qué papel jugó el capital extranjero?
Las empresas que aún se resistían se vieron forzadas a vender la propiedad a
empresas extranjeras a precios muy bajos, la mayoría de las cuales tenía como
objetivo cerrarlas para terminar con la competencia. Para evitar una catástrofe,
en Polonia, por ejemplo, tuvieron que aprobar una ley excepcional que prohibía
la compra de terreno por parte de alemanes. En Rusia, las “inversiones” fueron,
sobre todo, estadounidenses. Durante toda la transición había un cierto
papanatismo hacia la superioridad estadounidense. El pueblo ruso se ve en este
momento derrotado por una potencia que económicamente parece mayor y más capaz,
y por lo tanto, el país a imitiar se convierte inmediatamente en los EE.UU. Al
menos para una parte de la sociedad. La otra se convirtió al antiamericanismo,
que se irá reforzando con el paso del tiempo. En sus inicios había un elemento
racional en todo esto, porque los directores rusos se habían limitado en su
mayoría a liquidar empresas, pero esta esperanza se desvaneció rápidamente.
Estados Unidos no optó por construir un aliado estratégico ayudando a su
desarrollo, sino que intentó arruinar al país tanto como pudo. Se siguió
vengando del enemigo de la Guerra fría en el pueblo ruso. No era un problema que
tuvieran solamente los antiguos dirigentes del Kremlin, a algunos de los cuales
los trató i sigue tratando muy bien, sino que era un conflicto que tenía con el
pueblo ruso. Y el pueblo ruso ha pagado este odio de sectores influyentes de
Estados Unidos y sus aliados. Si algún país ha sido beligerante con Rusia, ése
ha sido EE.UU. Yo creo que a medio plazo el antiamericanismo jugará un papel
fundamental en Rusia, porque el pueblo ruso se siente engañado y estafado. Todas
estas empresas, en el mejor de los casos, se convirtierion en plataformas de
distribución de mercancías del extranjero.

De hecho, la dependencia externa continúa siendo uno de los problemas de la
economía rusa.
Rusia pasó de ser un país que tenía todo tipo de producción industrial a
convertirse en un país exportador de materias primas. Lo que acaba salvando a
Rusia es el gas y el petróleo. Pero, claro, eso no es propio de un país
desarrollado, es propio de un país de la periferia que compensa todas sus
deficiencias estructurales exportando materias primas: petróleo, gas, madera...

¿Qué explica la pasividad de la población rusa?
Hay diversos factores que explican este fenómeno. En primer lugar, políticos y
culturales. La gente había delegado la política a los dirigentes. La idea
general era que otro tomase las decisiones, porque tomar decisiones, después del
estalinismo, era un asunto arriesgado. La URSS era una sociedad que teóricamente
estaba en manos de los ciudadanos, pero éstos en realidad no participaban
políticamente ni tenían cultura política. El efecto desmoralizador que supuso
ver cómo estos dirigentes, que hasta hace cuatro días hablaban de socialismo, se
convertían en los primeros ladrones, fue enorme. El péndulo pasó rápidamente de
un lado al otro. El rico quería demostrar que era rico, entre otros motivos,
para atemorizar a la gente que tenía a su alrededor. Yo no he visto en Occidente
tanta ostentación como la que había en la Rusia de entonces: en coches, en
vestidos, en escoltas (como el país había quedado en manos de mafiosos y la ley
no se aplicaba, muchas cosas se solucionaban simplemente a tiros). Uno de estos
“nuevos rusos” podía llevar una escolta de 20 personas armadas, con las armas
visibles. Veteranos de Afganistán, mafiosos... Empujando a la gente por la calle
en Moscú mismo. La sensación de impotencia ciudadana, en un país donde hasta
entonces los policías ni siquiera llevaban pistola cuando patrullaban (casi
nunca pasaba nada), augmentó considerablemente.

¿Cuál fue el proceso que llevó del entusiasmo al desengaño y después a la
nostalgia?
Si la gente pudiera votar, lo haría a favor de volver a la situación anterior.
Pero las estructuras han cambiado. Y los cambios no son fácilmente reversibles.
Es un proceso largo, pero como todo proceso social, hay cosas que se van
acumulando lentamente, hasta que en un momento dado explotan y después se
aceleran inmediatamente.
¿De dónde venían los problemas? En los años veinte el estalinismo despolitizó a
la sociedad. La participación política se transforma en una sumisión
cuasirreligiosa. Las decisiones se van delegando en escalas superiores de la
jerarquía, porque cualquier decisión podía hacerte terminar en un campo de
concentración. La gente s elimitaba a cumplir estrictamente las órdenes. Eso
empobrecía la sociedad. El estalinismo transformó un país agrario en uno
industrial. En los treinta existe la sensación de que Rusia está asediada y de
que en cualquier momento serán aniquilados. La sensación tenía una base real.
Como estamos asediados, se piensa, hay que acabar con el enemigo en cualquiera
de sus expresiones, entre ellas la disidencia.
La Segunda Guerra Mundial reactivó la sociedad por la sensación, nada
equivocada, de que, o ganaban, o eran destruidos como nación. Se puso marcha de
nuevo toda la creatividad revolucionaria: la gente no espera a recibir órdenes y
toma la iniciativa para producir, para combatir, para improvisar la defensa.
Pero terminada la Segunda Guerra Mundial, todo eso se termina. Después de la
Segunda Guerra Mundial, la sensación de ser destruidos desaparece. Jruschov
intenta corregir las desviaciones del estalinismo, pero el legado es demasiado
grande. Después lo intentaron Kossiguin, Andrópov y, finalmente, Gorbachov. En
la historia soviética hay un intento permanente de salir del modelo de
socialismo estatalista para ir hacia un modelo descentralizado: en la Nueva
Política Económica (NEP) de Lenin, en el intento de reforma de Kossiguin o en la
perestroika de Gorbachov. Pero la inercia siempre fue demasiado grande. Breznev
destituye a Jruschov, y durante su mandato, que parece muy tranquilo, el
estancamiento se extiende como un cáncer. Breznev hace, a grandes rasgos, una
combinación para salir del brete: saca todos los elementos represivos del
estalinismo, pero manteniendo sus funciones económicas, muy estatalizadas e
ineficientes. No hay incentivos materiales, ni incentivos económicos. Los
incentivos morales no tienen una duración estructural, sólo se mantienen en
tiempos de crisis y guerra. ¿Por qué trabajaba la gente durante el estalinismo?
Por miedo. El estalinismo era un sistema brutal e inmoral, pero, tristemente,
que funcionaba económicamente. Con Breznev se mantiene la fachada ideológica a
la vez que se eliminan los castigos, y el sistema, lógicamente, se va pudriendo,
de manera que, cuando llega Gorbachov al poder años después, se encuentra con
una productividad muy baja.
Te doy un ejemplo: durante una serie de visitas a una fábrica vimos a un hombre
sentado en una silla sin hacer nada. Cuando preguntamos cuál era su función, nos
respondieron que formaba parte de la plantilla. “¿Y por qué lo tenéis sentado?”,
preguntamos. “Este hombre es un alcohoólico. Si lo ponemos en la cadena de
producción nos causa problemas. Por lo tanto, preferimos tenerlo sentado y que
no nos dé quebraderos de cabeza”, me respondieron. Eso tiene una parte humana
importante (nadie se planteaba su despido), que forma parte de la ambivalencia
moral de la URSS. Pero eso mismo destruía el país. Porque, a finale de mes,
cuando aquella persona recibía su salario, era el mismo que el del obrero que
había ocupado su puesto de trabajo de ocho horas, generando un sentimiento de
agravio comparativo. Así que mucha gente comenzaba a plantearse por qué
esforzarse si, en cualquier caso, cobraría igual. Todo eso hizo que la gente
perdiese el interés y la motivación por su trabajo, y agravó la situación. Pero,
¿cuál era la situación? ¿Una vuelta al estalinismo, a la coacción? ¿Introducir
mecanismos de incentivos salariales?

Muchos ven en la reforma de Gorbachov la brecha por donde se coló el
capitalismo.
La reforma era necesaria. Pero en esta situación, la gran mayoría social era
incapaz de tomar la iniciativa. No hubo ningún diálogo social para corregir este
tipo de situaciones, apra encontrar soluciones justas en lugar de normalizar un
hecho que no lo era. Era una salida complicada, que necesitaba mucha
participación de la gente, porque en el momento en que se descentraliza la
economía, la gente no acaba de entender la necesidad de un socialismo
autogestionario. Todo el mundo ve que un socialismo estatalizado –y mucho más
después de la experiencia soviética– retrae la iniciativa popular y tiene
aspectos muy desagradables. Pero un socialismo descentralizado implica que la
sociedad tiene que crear tipos impositivos, límites sobre qué nivel de
desigualdad es aceptable, cuál es el salario base para que las personas
marginales como la del caso anterior no queden en situación de riesgo de
pobreza, etcétera. Y eso implica una gran participación social para reorganizar
a la sociedad. Si la personas se retraen, si se niegan a participar, si se hace
una asamblea de trabajadores y nadie habla, la reforma no es posible. Éste era
el problema.
Quienes se apropiarion de los recursos también se apropiaron de la iniciativa
política. Y buscaron la brecha, que fue efectivamente la reforma, para convertir
lo que tenía que ser una reforma de carácter socialista en un paso en dirección
al capitalismo salvaje en un período muy breve de tiempo. Se cuelan por esa
brecha, pero no por la reforma en sí, sino por la pasividad política de la
población. Una población que había perdido su protagonismo, que no entendía lo
que sucedía después de años de escuchar que aquel socialismo en el que vivían
era el correcto. Es una situación muy complicada. Esta misma tradición jugó en
contra del cambio hacia un modelo de socialismo descentralizado.

¿Qué pasó con el Partido Comunista?
Todos los partidos posteriores salieron del Partido Comunista. Y no de cualquier
sitio, sino de la dirección misma, del Comité Central. Después del golpe de
estado de Yeltsin [en 1993], la misma persona que antes ocupaba un cargo seguia
ocupándolo en el nuevo régimen, sin cambiar de despacho ni de teléfonos. Una
pequeña parte de la gente continuó en el proyecto de transformación social, pero
no fue el caso, obviamente, de la mayoría de dirigentes, todos los cuales
procedían del PCUS. En el PCUS existía la sensación de que el negocio se había
ido a pique y había que montar otro. Cada uno se montó su propio partido,
buscando un pretexto ideológico. Para aquella gente, educada en la época de
Brezhnev, donde cada vez había más diferencias entre lo que se decía y lo que se
hacía, el ejercicio de la política era el ejercicio del cinismo y de la mentira.
En lugar de hablar del pueblo soviético comenzaron a hablar del pueblo ruso y la
iniciativa individual. Pero son las mismas personas, que a veces, con la fe del
consverso, adoptan otro catecismo, con el mismo cinismo que tenía antes.
Recuerdo la siguiente anécdota: el alcalde de Bucarest tomó la decisión de
destruir el monumento a Marx. Un socialismo fue a verlo para protestar contra el
fanatismo de llegar a destruir una estatua de Marx, que no tenía culpa de nada,
y pedirle que detuviera la demolición. La respuesta que le dio fue: “No te
preocupes. Probablemente tengas razón. Pero ahora la gente nos pide que la
destruyamos. Si consegues cambiar su opinión, ven a verme de nuevo para que la
vuelva a poner.” La idea que había al detrás no es sólo la hipocresía de esta
persona, sino que él se veía a sí mismo siempre como alcalde. Si para serlo
antes tenía que colgar un retrato de Marx, ahora sólo tenía que cambiarlo por el
de Milton Friedman. Y, si la gente cambiaba, entonces él sacaría el de Friedman
y volvería a poner el de Marx.
El PCUS básicamente estalla en una serie de partidos políticos que después
acaban convergiendo hasta lo que hoy es Rusia Unida. Tienen a algunos críticos
con el gobierno soviético, pero básicamente se compone de antiguos funcionarios
del partido y siguen funcionando del mismo modo que siempre lo habían hecho con
sus aimgos, sus familias y sus círculos de influencia.

¿Y el núcleo duro del PCUS?
El PCUS se disolvió para disolver a la entidad que había designado a mucha gente
en sus cargos. Al desaparecer esta entidad, nadie los podía echar, al menos
tmeporalmente. Por ese motivo quien disuelve el PCUS es, básicamente, la misma
dirección del propio PCUS. Y quieren una disolución rápida, no sea que haya otro
golpe de estado y la nueva dirección los destituya a todos. Así se disuelve el
organismo del cual, irónicamente, partía su legitimidad, en el que habían hecho
carrera política y gracias al ocual ocuparon su cargo. El Partido Comunista
restante se componía de una base social que, en buena medida, se sintió
engañada, y que, adoptando una actitud nostálgica, lo reconstryue.

Pero sin ningún tipo de autocrítica y con un fuerte componente nacionalista.
La mayoría de dirigentes comunistas continua teniendo vínculos muy estrechos con
el antiguo sistema. El Partido Comunista no ha jugado un papel radical de
oposición a las medidas de liberalización. Juega un papel de acompañamiento, de
“leal oposición”. Por otra parte, una parte de estos cuadros intenta recuperar
la situación que tenía en el pasado.
Con el cambio de sistema se podía pasar de tenir mucho poder a quedar mal
colocado. La gente que quedó mal colocada se quedó en el Partido Comunista,
junto a muchos que seguían compartiendo le ideal socialista, pero es un ideal
socialista que mira, sobre todo, al pasado. Para muchas deestas personas, el
programa simplemente es volver a lo que había antes, a pesar de que la historia
no vuelve nunca para atrás. Esta nostalgia hace muy difícil que a corto plazo
pueda recuperar un papel relevante. Todo esto, en cualquier caso, es muy
incierto, como lo son todos los procesos sociales. El Partido Comunista de la
Federación Rusa (KPRF), que actualmente es el principal partido de la oposición,
tampoco tiene propuestas serias.

¿De dónden surge el nacionalismo?
Surgen de la percepción, real, de que los están destruyendo...

¿Y fenómenos hasta entonces desconocidos, como la xenofobia?
No eran fenómenos desconocidos, ése es era el problema. Uno de los elementos que
articula el estalinismo en los últimos años es el antisemitismo. Los judíos
tuvieron el papel de chivo expiatorio de los problemas de la URSS, de lo que no
funcionaba. Yo lo viví durante la época de Gorbachov, a quien también acusaban
de ser judío sectores próximos a Yeltsin. La envidia hacia los judíos era muy
grande, porque los judíos, perseguidos secularmente, vieron en la URSS la
posibilidad de liberarse. Muchos de los dirigentes bolcheviques son de origen
judío. ¿Por qué? Porque son un grupo perseguido y porque su tradición interna de
grupo oprimido es muy importante, para sobrevivir en la sociedad, obtener una
cualificación. En la URSS, cuando comienza a generalizarse el acceso a las
universidades y academias, los judíos animan a sus hijos a estudiar. Como
consecuencia, la representación judía en la intelectualidad era enorme. Eso se
interpretó entre la población rusa como si los judíos se ayudasen entre ellos o
incluso conspirasen contra los rusos étnicos. Yo recuerdo haber visto en
Leningrado, poco antes de la disolución de la URSS, carteles que parecían
propios de la Alemania nazi, con lemas como “los judíos están destruyendo a la
Unión Soviética” o “los judíos nos roban”. El antisemitismo y el racismo fueron
utilizados como válvula de escape para todo lo que fallaba en la URSS. A corto
plazo, muchos judíos se marcharon del país, gracias también a la política de
Israel, que favorecía su emigración, sabiendo perfectamente que se trataba de
inmigrantes cualificados. Desde el punto de vista cuantitativo, puede que no
fuera muy significativa, pero desde el punto de vista cualitativo sí que lo fue
y contribuyó al declive del país.

¿Qué pasó con el resto de repúblicas soviéticas?
En general no tuvieron muy buen final. No olvidemos que en las repúblicas
bálticas la población rusa continua sin tener papeles. Con el argumento de que
no conocen las lenguas propias de estos países se les niega el pasaporte y el
derecho a votar. Hablamos de familias que llevan viviendo en el territorio desde
hace generaciones, cientos de años. Y la Unión Europea permite esta aberración.
Eso ha dividido el país en dos campos, porque son culturas y lenguas muy
diferentes. Los rusos no son reconocidos en ninguna de las repúblicas bálticas
como minoría. Evidentemente, eso genera un aumento del nacionalismo panruso y
una dinámica muy peligrosa de cara al futuro. Los rusos que viven en Lituania,
desprovistos de papeles, se convierten en mano de obra a bajo precio, que a su
vez presiona el mercado laboral a la baja. Y además está la historia: los
nacionalistas lituanos apoyaron a los alemanes durante la Segunda Guerra Mundia.
Y dos generaciones son pocas.
La población rusa vive marginada, no tiene derecho a voto y en las zonas donde
viven hay una falta de inversiones consciente y buscada. Todo eso tenía que
haberse terminado con la Unión Europea, que teóricamente no permite este tipo de
discriminación. Pero no ha pasado nada. Se ha permitido que estos países sigan
funcionando así. De hecho, lo ha empeorado, porque el nacionalismo báltico se ve
legitimado para continuar y aumentar esta discriminación.

¿El grupo de investigación continuó?
Continuó con muchísimas dificultades, y, desde el punto de vista institucional,
está en la marginalidad. En Rusia los sujetos políticos continuan muy anclados
en el pasado. El KPRF es un partido con muchas particularidades, especialmente
en la dirección. Muchos de ellos tienen vínculos con gente muy alejada
políticamente del comunismo. Cuanto más lejos queda todo aquello, cuanto más
dura es la realidad, cuanto más pasa el tiempo, más se olvidan los defectos que
tenía el sistema y más se idealiza. Hasta que no haya un cambio generacional es
difícil que puedan surgir cosas nuevas. La primera generación que no tiene
recuerdos y no ha estado implicada en aquel proceso, y que, por lo tanto, no
tiene trapos sucios que esconder, ahora comienza a participar políticamente. Ya
veremos lo que pasa.


Rebelión ha publicado este artículo con el permiso del autor mediante una
licencia de Creative Commons, respetando su libertad para publicarlo en otras
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28/12/2013