terça-feira, 27 de abril de 2021

Badiou, a Comuna de Paris e a reafirmação da hipótese comunista

 



O filósofo francês Alain Badiou responde às perguntas
do */AbrilAbril/* sobre as lições da Comuna de Paris para os dias de hoje.

 

*O que significa comemorar a Comuna de Paris?*

A Comuna de Paris foi a primeira «tomada do poder», à escala de uma
grande cidade, pelos trabalhadores e intelectuais revolucionários. Já
eram conhecidas greves, manifestações e até revoltas armadas, como em
1848. Mas essas insurreições nunca tinham conduzido a uma nova forma de
poder político, mesmo na forma restrita de um poder limitado a Paris.
Deste ponto de vista, a Comuna é aquilo a que chamei uma «declaração
política sobre política».

Estabelece um programa sobre quase todas as questões da vida social,
procura resolver quase todas as questões colocadas ao poder do Estado
conquistado aos burgueses.

Tudo isso constitui um pensamento activo sobre o que deve ser uma
estratégia política realmente revolucionária, o que significa também uma
estratégia política orientada por uma espécie de comunismo. Claro que,
por razões de inferioridade militar, quase tudo permaneceu sob a forma
de um programa. Mas é impressionante ver que depois de Outubro de 1917,
Lenine e os bolcheviques, que tinham tomado o poder, não tinham outro
ponto de comparação política, como resposta à pergunta «o que fazer?»,
do que a Comuna. Foi por isso que Lenine dançou na neve quando o poder
dos sovietes durou um dia mais, na Rússia, do que o dos /communards/ em
Paris.

*O que foi a Comuna de Paris?*

A expressão utilizada por Marx foi «ditadura do proletariado». Isto
significava que o poder político em Paris tinha sido arrancado das mãos
da classe burguesa e transferido para representantes do movimento
operário e popular. Isto pode ser visto perfeitamente no programa e na
acção da Comuna: trata-se de instalar uma «verdadeira» democracia, a
todos os níveis, desde a organização do trabalho até às assembleias
políticas, passando pelas forças militares, educação popular, trabalho
assalariado, etc. A verdadeira natureza da Comuna não é mudar apenas o
poder do Estado, mas mudar a própria sociedade, em todas as suas dimensões.

*Quais as razões do seu falhanço e qual a razão que faz com que a Comuna
de Paris continue presente na nossa imaginação*?

O fracasso da Comuna deve ser pensado a dois níveis: a organização
militar, e a organização económica. No primeiro ponto, este fracasso era
inevitável, uma vez que nenhum movimento conseguiu estender a revolução
da Comuna a todo o país, ou mesmo às grandes cidades. A Comuna
permaneceu triplamente cercada, pelo exército clássico, que na sua quase
totalidade permaneceu fiel ao regime burguês, e estava pronto, como
vimos, a massacrar os revoltosos; pela opinião pública provincial,
especialmente a opinião camponesa, ainda maioritária em França naquela
época, que via com terror os defensores da Comuna que se opunham à
propriedade privada; e finalmente pelo exército do invasor alemão, que
estava acampado muito perto de Paris, e que desejava, tal como os
políticos burgueses que fugiram para Versalhes, o esmagamento da
revolução. Contra tudo isto, a coragem dos voluntários da Comuna e de
alguns oficiais revolucionários, especialmente estrangeiros, não poderia
ser suficiente.

Quanto ao segundo nível, a Comuna cometeu o erro de não aproveitar a
alavanca financeira representada pelo Banco de França. Havia, de um
ponto de vista comunista, uma espécie de timidez, um respeito excessivo
pelas fortunas capitalistas.

Nestas condições, a defesa de Paris pelos partidários da Comuna assumiu
o fascínio romântico de uma luta desesperada, em que a coragem era o
único recurso, face aos seus assassinos muito mais armados e
disciplinados. Este romantismo era inevitável, mas não deve esconder o
facto de que o esmagamento da Comuna praticamente eliminou a hipótese
comunista no movimento operário, à escala internacional durante
cinquenta anos.

*Os revoltosos da Terra estão condenados sempre à derrota?*

Não há exemplo, depois de praticamente um século, de um sucesso
revolucionário orientado por comunistas para o comunismo, que tenha
tomado a forma de insurreição numa ou mais grande cidade. Todas as
anteriores tentativas deste tipo terminaram em massacres e na
restauração da ordem capitalista, desde o esmagamento dos espartaquistas
na Alemanha até às revoltas na América Latina e aos terríveis fracassos
das insurreições em Xangai ou Cantão. Todos os sucessos, desde a China
de Mao, a Cuba de Castro ou o Vietname de Ho Chi Minh, tomaram a forma
de uma guerra prolongada travada primeiro no campo. Como resultado, a
questão da perspectiva de uma vitória comunista nos grandes países
capitalistas, na América do Norte ou na Europa Ocidental tornou-se
bastante sombria, e deve ser totalmente repensada. Mas este trabalho
político e histórico deve ser feito sem enfraquecer a própria hipótese
comunista, longe de ser, como é hoje, largamente abandonada, deve ser
renovada e reconstituída, integrando a lógica dos sucessos muito
parciais e dos fracassos gloriosos, desde a Comuna de Paris até ao presente.
 

https://www.abrilabril.pt/internacional/badiou-comuna-de-paris-e-reafirmacao-da-hipotese-comunista
<https://www.abrilabril.pt/internacional/badiou-comuna-de-paris-e-reafirmacao-da-hipotese-comunista>

In
Port.Pravda.Ru
https://port.pravda.ru/news/desporto/26-04-2021/52723-hipotese_comunista-0/
26/4/2021

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Democratopatia osteomuscular

 



// António Santos


Os trabalhadores da Amazon em Bessemer, Alabama, queriam formar um
sindicato. O objectivo era modesto: uma estrutura que os defendesse das
desumanas cargas e ritmos de trabalho impostos pela empresa cujo
proprietário é o homem mais rico do mundo. Foram derrotados por uma
campanha de chantagem e de pressão autenticamente terrorista. Na maior
potência capitalista, que se arroga o direito de dar lições de
democracia ao mundo, qualquer tentativa de organização dos trabalhadores
defronta tais dificuldades e hostilidade que é praticamente inviável.

1798 votos contra 738. Houve eleições, as pessoas lá escolheram, agora
aguentem, eis a democracia: Jeff Bezos, dono da Amazon e o homem mais
rico do mundo, derrotou os trabalhadores dos armazéns de Bessemer, no
Alabama, que queriam formar um sindicato. Mas, se é verdade que quando
se luta só se ganha às vezes e que quando não se luta se perde sempre,
também é verdade que há derrotas em que se aprende mais do que com
muitas vitórias.

A derrota dos trabalhadores da Amazon é todo um tratado sobre a natureza
da democracia no capitalismo e da sua bizarra necessidade de recorrer
aos meios mais sofisticados para manter intocados os problemas mais simples.

Uma das principais razões que levou os trabalhadores do armazém de
Bessemer a querer sindicalizar-se foi a altíssima taxa de acidentes
laborais da Amazon: o dobro da média nacional. Apesar da automação dos
armazéns, estes operários são forçados a repetir os mesmos movimentos a
ritmos cada vez mais rápidos. Afinal trata-se, recorde-se, da empresa
que força os trabalhadores a urinar em garrafas para não perderem tempo
a ir à casa de banho.

O problema é que ao contrário da sede da acumulação do capitalismo, os
músculos e os ossos humanos têm um limite físico que, se ultrapassado,
resulta em acidentes de trabalho e em doenças osteomusculares que
afectam 46% dos trabalhadores dos armazéns da Amazon.

A solução de Jeff Bezos foi a introdução de um algoritmo que monitoriza,
em tempo real, o esforço músculo-esquelético de cada trabalhador em
função da sua actividade física e do seu ritmo de trabalho. O novo
algoritmo permite aumentar ainda mais os ritmos de trabalho porque prevê
o momento em que a lesão osteomuscular está quase a acontecer e faz
circular o trabalhador para outra tarefa em que outros tendões e outros
ossos possam ser sobrecarregados até outro ponto de ruptura.

O sindicato propunha simplesmente que os trabalhadores trabalhassem mais
devagar, menos horas e com mais pausas, mas, como já dissemos, foi
derrotado. O que não dissemos é que, antes, a Amazon ameaçou despedir 75
por cento dos trabalhadores caso o sindicato tivesse mais votos, nem que
havia uma câmara a filmar as urnas de voto, nem que foram contratados
analistas de inteligência para identificar os agitadores sindicais, nem
que havia um programa de espionagem online para infiltrar os grupos
privados dos trabalhadores no Facebook e no Whatsapp, nem que no
exterior da tenda onde decorreu a votação podia ler-se propaganda contra
o sindicato.

É que democracia não é só haver eleições. É, principalmente, as
circunstâncias em que elas acontecem e que condicionam as opções de cada
um. Por outras palavras, quem faz um algoritmo para propositadamente
acelerar e micro-gerir a decadência osteomuscular só pode votar numa
«democracia» igualmente decadente.

/Fonte:
https://www.avante.pt/pt/2473/internacional/163883/Democratopatia-osteomuscular.htm/

In
RESISTIR.INFO
https://www.odiario.info/democratopatia-osteomuscular/
26/4/2021

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Encontrando significado em um sistema sem sentido.

 

 

Autor: Caitlin Johnstone


Quantos dos diagnósticos de saúde mental das pessoas são realmente
apenas elas lutando para funcionar em um sistema capitalista que é
amoral, destrutivo, opressor, autoritário, insatisfatório e desprovido
de significado?

É certamente uma das questões mais subestimadas no campo da psicologia
moderna. As pessoas em geral e os pesquisadores em particular muito
raramente pensam em dar um passo para trás dos dados que estão olhando e
consideram a estrutura de grande escala dentro da qual esses dados estão
se materializando, e para considerar se há algo sobre essa estrutura
específica que está dando chegar aos conjuntos de dados específicos que
estão vendo.

Quantos dos diagnósticos de saúde mental divulgados são, na verdade,
apenas pessoas que não estão lidando bem com o capitalismo? Vale a pena
investigar. Quantas pessoas acabam consultando profissionais de saúde
mental porque se encontram psicologicamente incapazes de acompanhar o
ritmo frenético da empresa que é exigido delas para “ganhar a vida”? Ou
antes, como crianças, porque são incapazes de navegar com sucesso no
campo de treinamento do capitalismo conhecido como escola? Quantas
pessoas recebem diagnósticos e frascos de comprimidos correspondentes
simplesmente porque não podem marchar ao som do tambor capitalista?

Além disso, quantas pessoas são empurradas para a doença mental pela
loucura de nosso sistema atual? Quantas pessoas sofrem de depressão ou
ansiedade muito reais que surgem da pressão para continuar despejando
resíduos em futuros aterros sanitários em empregos sem sentido que não
têm outro propósito a não ser transformar milionários em bilionários?
Quantas pessoas simplesmente desmaiam sob o peso da insegurança
financeira, insegurança alimentar, insegurança habitacional, insegurança
de emprego e seguro, combinados com os efeitos de tentativas
desesperadas de automedicar o estresse?

Quantos desses fatores de estresse são exacerbados por serem
psicologicamente bombardeados pela propaganda da mídia de massa dia após
dia, transformando sua mente artificialmente na crença de que tudo isso
é normal e que, se você não consegue acompanhar, você é o problema?
Dizendo que é normal e normal haver bilionários e propriedades de
investimento vazias enquanto você luta para manter um teto sobre sua
cabeça? Dizendo que está tudo bem e normal para riqueza e recursos irem
para matar estranhos no exterior enquanto você é forçado a escolher
entre remédios e mantimentos?

E pela propaganda capitalista conhecida como publicidade? Como nossa
saúde psicológica é afetada por uma enxurrada ininterrupta de mensagens
corporativas nos informando de que somos deficientes e de que há coisas
que carecemos e que devemos obter para nos tornarmos completos? Que não
somos bonitos o suficiente, não somos magros o suficiente, não estamos
na moda o suficiente, não somos ricos o suficiente, que não temos o
suficiente dos itens de primeira linha que apenas os ricos podem pagar?

Atrevo-me a dizer que tudo isso tem um grande impacto em nossas mentes.
Você pode ter ansiedade sem ser pobre, mas não pode ser pobre sem ter
ansiedade. Nosso modelo baseado na competição usa o estresse do
potencial sem-teto e da morte para manter todos os escravos girando as
engrenagens da máquina, e esse estresse agora está entrelaçado na
própria estrutura de nossa sociedade. É tão difundido que você precisa
dar um passo para trás apenas para ver tudo.

Então, qual a melhor forma de responder a essa situação deprimente? Qual
a melhor forma de evitar afogar-se no asfalto de um paradigma político e
econômico niilista e sem alma? Como encontrar significado em um sistema
sem sentido que comprime seu bem-estar psicológico para alimentar suas
baterias?

Bem, essa pergunta é muito mais fácil de responder. Você encontra
significado em um sistema sem sentido trabalhando para destruir esse
sistema.

Faça tudo o que for preciso para sobreviver, incluindo tomar
medicamentos psiquiátricos, se necessário, e com todo o tempo e energia
que sobrar, jogue areia nas engrenagens da máquina . Faça o que puder
para perturbar o status quo. Envolva-se no ativismo. Junte-se a um
sindicato. Comece um sindicato. Comece um podcast. Inicie uma conta no
Twitter. Acima de tudo, trabalhe para espalhar a consciência sobre o que
realmente está acontecendo em nosso mundo, porque esse é o ponto mais
fraco na armadura da máquina agora.

A frouxa aliança transnacional de plutocratas e agências governamentais
que compõe nosso governo real trabalha tão arduamente para fabricar
consentimento porque requer o consentimento dos governados para
governar; nós os superamos em muito e podemos derrubar seu governo se um
número suficiente de nós decidir que não consentimos mais com isso. Em
uma sociedade ocidental que deve tentar pelo menos parecer apoiar a
liberdade de expressão, a melhor frente para atacar tal estrutura de
poder é a frente da informação.

Eles não podem matar e aprisionar todos nós, então, se todos nós
despertarmos para o quão oprimidos somos e para quem tem nos oprimido,
podemos usar o poder de nossos números para expulsá-los e substituí-los
por um modelo mais saudável. O trabalho dos propagandistas é evitar que
isso aconteça. O trabalho de você e eu é fazer acontecer.

Portanto, ajude as pessoas a acordar para as injustiças de nosso
sistema, o máximo de pessoas possível, por qualquer meio aos quais você
tenha acesso. Desperte-os para os abusos do capitalismo. Aos abusos do
imperialismo. Aos abusos da propaganda dos meios de comunicação de
massa. Aprenda o máximo que puder sobre a loucura do nosso sistema atual
e compartilhe o que você aprendeu com o maior número de pessoas possível.

Todas as mudanças positivas no comportamento humano surgem de uma
consciência crescente da dinâmica subjacente que lhes dá origem, quer
você esteja falando sobre a dinâmica psicológica subjacente aos
comportamentos viciantes ou compulsivos de um indivíduo ou a dinâmica de
poder subjacente aos comportamentos assassinos e opressores de um
império que abrange todo o mundo. Se você está procurando um
significado, você o encontrará na difusão dessa consciência.

Temos absolutamente a capacidade de nos afastar desse modelo baseado em
competição geradora de miséria que está nos sufocando até a morte e
substituí-lo por um em que colaboramos uns com os outros e com nosso
ecossistema em direção à saúde, beleza, verdade e prosperidade. Se há
sentido a ser encontrado em nosso mundo, é nessa direção.

*

Traduzido para publicação em dinamicaglobal.wordpress.com
<https://dinamicaglobal.wordpress.com/>

Fonte: Caitlin Johnstone
<https://caitlinjohnstone.substack.com/p/finding-meaning-under-a-meaningless>

In
DINÂMICA GLOBAL
https://dinamicaglobal.wordpress.com/2021/04/17/encontrando-significado-em-um-sistema-sem-sentido/
17/4/2021

domingo, 18 de abril de 2021

FERIDA ABERTA

 



  25 anos após Massacre de Eldorado do Carajás, violência no campo
  dispara no Brasil


    Em 1996, 21 sem-terra foram mortos pela PM do Pará; sob Bolsonaro,
    número de conflitos fundiários é o maior em 10 anos

Catarina Barbosa
Belém (PA) | Brasil de Fato |
17 de Abril de 2021 às 07:00
Pará, palco da chacina em 1996, é líder no ranking de assassinatos de
lideranças do campo no Brasil
Pará, palco da chacina em 1996, é líder no ranking de assassinatos de
lideranças do campo no Brasil - Amnesty International

Em abril de 1996, cerca de 3,5 mil famílias sem-terra ocupavam a Fazenda
Macaxeira, em busca de um pedaço de chão para plantar e sobreviver.

Representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra) garantiram aos trabalhadores a desapropriação da área para a
reforma agrária. O cenário mudou quando um laudo considerou a
propriedade como produtiva, beneficiando o latifundiário que se dizia
dono da fazenda.

Em protesto, mais de 1,5 mil camponeses começaram uma marcha
pela rodovia BR-155 com destino a Belém. Os trabalhadores questionavam a
veracidade do laudo e tentavam pressionar as autoridades públicas.

No dia 17 de abril, próximo a área de Eldorado conhecida como "curva do
S", foram cercados por um contingente de 150 homens da Polícia Militar
(PM) de Pará. O protesto terminou naquele momento, sob gritos, choro e
sangue.

Pará lidera assassinatos por conflitos de terra

O massacre dos 21 trabalhadores sem-terra ganhou manchetes nacionais e
internacionais. Passados 25 anos, poucos são os avanços no campo da
reforma agrária na região.

As ameaças e ataques aos trabalhadores rurais, antes promovidos
sobretudo por latifundiários do agronegócio, são realizados agora também
por empresários de outros setores, como mineração e energia.

De acordo com o monitoramento realizado pela Comissão Pastoral da Terra
(CPT <https://www.cptnacional.org.br/>), 320 trabalhadores e lideranças
foram assassinadas no Pará entre 1996 e 2019. O estado lidera o ranking
nacional de conflitos por terra.

Nesse mesmo período, outros 1.213 receberam ameaças de morte, 1.101
foram presos pela polícia, 30.937 foram vítimas do trabalho escravo e
37.574 famílias foram despejados em decorrência de decisões judiciais.

Inúmeras lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST
<https://mst.org.br/>), movimentos sindicais, religiosos e
ambientalistas foram vítimas da violência no campo no Pará, entre elas
Onalício Barros, Valentim Serra, José Dutra da Costa, José Pinheiro
Lima, Dorothy Stang, José Claudio e Maria, Jane Julia, Dilma, Carlos
Cabral, Raimundo Paulino, Ronair Lima, Fernando Araújo e muitos outros.  

*:: Leia também: MST relembra 25 anos do Massacre de Eldorado do Carajás
com ações e luta em todo país
<https://www.brasildefato.com.br/2021/04/16/mst-relembra-25-anos-do-massacre-de-eldorado-do-carajas-com-acoes-e-luta-em-todo-pais> ::*

Para Tito Moura, da direção do MST no estado, o conflito no campo sempre
foi latente na região, sobretudo no sul e sudeste do Pará, e são fruto
da herança colonialista que ainda vigora no Brasil. O dirigente do MST
<https://mst.org.br/> classifica o massacre como uma tentativa de calar
os camponeses da região.

Desde 1996, o caso que mais se aproximou, em termos de violência, do
ocorrido em Carajás foi a Chacina de Pau D'Arco
<https://www.brasildefato.com.br/2017/05/31/chacina-em-pau-darco-tem-as-mesmas-raizes-do-massacre-de-carajas>. Em
maio de 2017, 16 policiais civis e militares mataram dez trabalhadores
sem-terra que ocupavam a Fazenda Santa Lúcia, no município de Pau
D’Arco, no Pará, com a justificativa de cumprimento de mandados
judiciais no local.

*:: Leia também: Testemunha da chacina de Pau D’arco relatou ameaças da
polícia antes de ser morto
<https://www.brasildefato.com.br/2021/02/15/testemunha-da-chacina-de-pau-d-arco-relatou-ameacas-da-policia-antes-de-ser-morto> ::*

*Novos contornos da violência no campo*

Tito Moura lembra que as respostas das autoridades ao Massacre de
Eldorado dos Carajás, como a criação da Delegacia de Conflitos Agrários
e a Ouvidoria Agrária, ocorreram depois da repercussão internacional do
caso.

Os conflitos no campo, explica Moura, ganharam outro formato a partir do
golpe de 2016, que depôs a ex-presidente Dilma Rousseff
<https://www.brasildefato.com.br/2021/04/17/5-anos-do-impeachment-entenda-o-papel-do-machismo-no-processo-contra-dilma-rousseff>, e
da posse de Jair Bolsonaro (sem partido) à presidência.

"Depois do governo Bolsonaro, quando foi quase extinta a ouvidoria, o
conflito se acirrou na região. Há vários relatos de pessoas que sofrem
violências. O MST não recuou enquanto movimento de massa. O que
repensamos foi, justamente, redobrar os cuidados necessários para
continuarmos lutando".

Próximo ao palco do Massacre, novos conflitos agrários surgiram e vêm
fazendo vítimas. "De quatro anos para cá, foram assassinadas algumas
lideranças em Parauapebas [cidade no sudeste do Pará]. Nós desconfiamos
de uma ligação entre pistoleiros e um consórcio de fazendeiros da
região", diz Moura.

"Esse consórcio de fazendeiros conta com uma milícia própria que despeja
sem terra, assassina trabalhador, joga agrotóxicos em cima dos nossos
acampamentos. São diversas formas de ameaças", afirma.

Moura teme que, depois do fim da pandemia, as ameaças aos trabalhadores
rurais voltem a se acirrar na região.

"Depois da pandemia, com a fome que o povo está passando, não tem outro
lugar para as pessoas irem a não ser para as ocupações de terra. Vai ter
conflito, com certeza. Não tem um INCRA que funcione, não tem um governo
que funcione, não tem uma ouvidoria agrária que funcione. Temos que
estar muito atentos porque o governo está disposto a ir para o conflito,
a armar a pistolagem para assassinar trabalhador na região", alerta o
dirigente estadual do MST.

*Números sobre assassinatos no campo e ameaças no Brasil*

Andréia Silvério, da Coordenação da Executiva Nacional da CPT, explica
que as ameaças e violências aos povos do campo acontecem de diversas
maneiras no Pará e em todo o país, e que o poder público tem se omitido
de mediar e prevenir os conflitos.

"Multiplicam-se denúncias de ameaças e diversos tipos de violência, como
pulverização aérea de agrotóxicos sobre assentamentos populares,
exploração indevida do território, despejos ilegais. O governo
Bolsonaro, criminosamente, sucateia órgãos como INCRA, Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e paralisa
a reforma agrária".

Segundo dados da CPT, desde 1985, quando a comissão iniciou a publicação
do caderno "Conflitos no Campo Brasil", 1.501 casos de assassinatos
foram registrados em todo o país.

As vítimas incluem indígenas, posseiros, quilombolas, pescadores,
agricultores, ribeirinhos, sem-terra e lideranças religiosas. O número
inclui, ainda, 250 vítimas de massacres.

Já o total de massacres no campo de 1985 a 2020 chegou a 51. "Além
disso, em 2020, 159 pessoas foram ameaçadas de morte, 35 sofreram
tentativas de assassinato e mais de 30 mil famílias foram ameaçadas de
serem retiradas dos seus territórios, tanto pelo poder público, quanto
pelo poder privado", pontua Silvério.

"Muitas perderam suas casas em plena pandemia. Tivemos um aumento de
mais de 30% nas ocorrências de conflitos por terra, a maioria na
Amazônia legal".

O primeiro ano da gestão de Jair Bolsonaro, em 2019, foi o que registrou
o maior número de conflitos no campo dos últimos 10 anos, com um total
de 1.833 ocorrências registradas. Em 2018, foram registradas 1.489
ocorrências.

*:: Leia mais: Com Bolsonaro, número de conflitos no campo é o maior dos
últimos 10 anos
<https://www.brasildefato.com.br/2020/04/17/com-bolsonaro-conflitos-no-campo-sao-os-maiores-dos-ultimos-10-anos>
::*

O número de assassinatos no campo apresentou um aumento de 14% em
2019 (32) em relação a 2018 (28). As tentativas de assassinato, por sua
vez, passaram de 28 para 30, e as ameaças de morte de 165 para 201.

*Novas frentes de ataque *

Para Ayala Ferreira, da direção nacional do MST, o massacre não encerrou
um ciclo de conflitos na luta pela terra e pela reforma agrária nessa
região, que apenas ganhou novas proporções.

"Há um avanço da fronteira agrícola e minerária na região Norte do país.
Há um avanço da apropriação e privatização da terra, sobretudo das
terras públicas, que poderiam ser destinadas para a reforma agrária e
para a demarcação de terras indígenas e quilombolas", explica.

"Atrelado a isso, vemos essa desconstrução de todos os mecanismos que
poderiam ser adotados para se avançar na política de reforma agrária.
É um bloqueio proposital para favorecer o agronegócio, o latifúndio
oligárquico, a mineração. Para favorecer os grandes projetos que tendem
a se expandir na região em função do momento econômico e político do país".

"Há um esforço de transformar o Brasil nesse grande fornecedor de
matérias primas, de /commodities/ agrícolas e minerárias para dar conta
das necessidades do mercado internacional. O problema do conflito do
campo se agravou porque não há uma agenda positiva para os sujeitos que
lutam pela terra aqui na região", pontua.

"Ao contrário, há cada vez mais uma negação desses direitos, de
criminalização daqueles que ousam se organizar, se mobilizar para lutar
pelos seus direitos".

Para o professor e dirigente estadual do MST no Pará, Batista Nascimento
Silva, o acordo entre o agronegócio e o judiciário tem permitido que os
trabalhadores tenham seus direitos violados. "Nossas pressões, nesse
momento, estão se dando mais por meio da mídia, para tentar barrar as
ações de despejo forçadas – mesmo na pandemia – na nossa região".

*O que diz o Incra?*

Questionado pela reportagem do *Brasil de Fato* acerca dos avanços da
reforma agrária na região sul e sudeste do Pará, o Incra disse:

/"Em 17 de outubro de 1996, foi criada a Superintendência Regional do
Incra no Sul do Pará - SR (27), com sede em Marabá (PA) e mais 4
Unidades Avançadas, localizadas nos municípios de Conceição do Araguaia,
São Félix do Xingu, São Geraldo do Araguaia e Tucuruí. Desde então,
foram criados 447 projetos de assentamento em 39 municípios da região.
Somando-se os projetos criados antes de 1996, temos um total de 514
assentamentos. Atualmente, existem 72 mil famílias assentadas pelo
Programa Nacional de Reforma Agrária, numa área total de 4,6 milhões de
hectares./

/Diversas políticas públicas vêm sendo implementadas pelo Incra na
região. Uma delas é a concessão de créditos rurais para assentados.
Somente em 2020, foram aplicados R$17 milhões nas várias modalidades do
Crédito Instalação. A titulação é outra ação que tem sido priorizada. No
ano passado, o Incra Sul do Pará emitiu 21.675 documentos titulatórios
para produtores assentados, sendo 1.175 de caráter definitivo. Essas
medidas garantem a propriedade definitiva dos assentados sobre suas
parcelas rurais, permitindo o acesso às linhas de crédito e minizando
conflitos no campo./

/O Projeto de Assentamento 17 de Abril, em Eldorado dos Carajás, é uma
das áreas que estão em processo de titulação. Nos próximos dias, o Incra
irá ao assentamento para se reunir com os assentados e solucionar
pendências com vistas à titulação"./

Edição: Poliana Dallabrida

In
BRASIL DE FATO
https://www.brasildefato.com.br/2021/04/17/25-anos-apos-massacre-de-eldorado-dos-carajas-violencia-no-campo-dispara-no-brasil
17/4/2021

sábado, 17 de abril de 2021

Política de financiarização neoliberal dos EUA vs. socialismo industrial da China



*por Michael Hudson *

'O príncipe', de Maquiavel. Quase meio milénio atrás, /O Príncipe / de
Niccolo Machiavelli descreveu três opções de como uma potência
conquistadora poderia tratar os estados que derrotou na guerra, mas que
"estavam habituados a viver sob suas próprias leis e em liberdade: ... a
primeira é arruiná-los, a seguinte é residir lá pessoalmente, a terceira
é permitir que vivam sob suas próprias leis, arrecadando um tributo e
nele estabelecendo uma oligarquia que manterá amizade para consigo". [1]
<#notas>

Maquiavel preferia a primeira opção, mencionando a destruição de Cartago
por Roma. Foi o que os Estados Unidos fizeram com o Iraque e a Líbia
depois de 2001. Mas na Nova Guerra Fria de hoje o modo de destruição é
em grande medida económico, por meio de sanções comerciais e
financeiras, tal como as que os Estados Unidos impuseram à China,
Rússia, Irão, Venezuela e outros. adversários designados. A ideia é
negar-lhes insumos essenciais, principalmente em tecnologia e
processamento de informação essenciais, matérias-primas e acesso a
conexões bancárias e financeiras, tais como as ameaças dos EUA de
expulsar a Rússia do sistema de compensação bancária SWIFT.

A segunda opção é ocupar os rivais. Isto é feito apenas parcialmente
pelas tropas nas 800 bases militares americanas no exterior. Mas a
ocupação habitual e mais eficiente é através de aquisições corporativas
americanas da sua infraestrutura básica, possuindo seus activos mais
lucrativos e remetendo sua receita de volta ao núcleo imperial.

O presidente Trump disse que queria confiscar o petróleo do Iraque e da
Síria como reparação pelo custo da destruição das suas sociedades. Seu
sucessor, Joe Biden, procurou em 2021 nomear Neera Tanden, leal a
Hillary Clinton, para chefiar o Gabinete de Gestão e Orçamento (OMB) do
governo. Ela instou a que os Estados Unidos obrigassem a Líbia a
entregar suas vastas reservas de petróleo como reparação pelo custo da
destruição da sua sociedade. "Temos um défice gigante. Eles têm muito
petróleo. A maior parte dos americanos escolheria não se envolver no
mundo por causa desse défice. Se quisermos continuar a nos envolver no
mundo, gestos como fazer com que países ricos em petróleo nos paguem
parcialmente não me parecem loucura". [2] <#notas>

Os estrategas americanos preferiram a terceira opção de Maquiavel:
Deixar o adversário derrotado nominalmente independente, mas dominar por
meio de oligarquias clientes. O conselheiro de segurança nacional do
presidente Jimmy Carter, Zbigniew Brzezinski, referiu-se a eles como
"vassalos", no significado medieval clássico de exigir lealdade aos seus
patronos americanos, com um interesse comum em verem a economia sujeita
privatizada, financiarizada, tributada e transferida para os Estados
Unidos pelo seu patrocínio e apoio, com base numa reciprocidade de
interesses contra a afirmação democrática local de auto-suficiência
nacionalista e de manter o excedente económico em casa a fim de promover
a prosperidade interna ao invés de enviá-lo para o exterior.

Esta política de privatização por uma oligarquia cliente com sua própria
fonte de riqueza baseada na órbita dos EUA foi o que a diplomacia
neoliberal americana consumou nas ex-economias soviéticas depois de 1991
para assegurar a sua vitória na Guerra Fria sobre o comunismo soviético.
A forma como as oligarquias clientes foram criadas foi uma
/grabitization / *[NT]* <#nt> que rompeu totalmente as interconexões
económicas que tornam as economias integradas. "Para dizer isto numa
terminologia que remonta à era mais brutal de antigos impérios",
explicou Brzezinski, "os três grandes imperativos da geoestratégia
imperial são evitar conluio e manter a dependência de segurança entre os
vassalos, mantê-los como tributários cordatos, protege-los para evitar
que os bárbaros se unam". [3] <#notas>

Depois de reduzir a Alemanha e o Japão à vassalagem a seguir à sua
derrota na Segunda Guerra Mundial, a diplomacia dos Estados Unidos em
1946 fez o mesmo à Grã-Bretanha e a sua área da libra imperial, seguida
no devido tempo pelo resto da Europa Ocidental e suas antigas colónias.
O próximo passo foi isolar a Rússia e a China, enquanto evitava que "os
bárbaros se unissem". Se se unissem, advertia Brzezinski, "os Estados
Unidos podem ter de determinar como enfrentar coligações regionais que
procuram expulsar os EUA da Eurásia, ameaçando assim o status da América
como potência global". [4] <#notas>

Em 2016, Brzezinski viu a Pax Americana desfazer-se dado o seu fracasso
em atingir estes objectivos. Ele reconheceu que os Estados Unidos "não
são mais a potência imperial global". [5] <#notas> Foi isso que motivou
o seu crescente antagonismo em relação à China e à Rússia, juntamente
com o Irão e a Venezuela.

TRANSIÇÃO: o problema não era a Rússia, cuja /nomenklatura / comunista
deixou o seu país ser dominado por uma cleptocracia orientada pelo
ocidente, mas a China. O confronto EUA-China não é simplesmente uma
rivalidade nacional, mas um conflito económico e de sistemas sociais. A
razão pela qual o mundo de hoje está a ser mergulhado numa Guerra Fria
2.0 económica e quase militar pode ser encontrada na perspectiva de
controle socialista daquilo que as economias ocidentais desde a
antiguidade clássica trataram como activos geradores de renda de
propriedade privada:   moeda e bancos (junto com as regras que regem a
dívida e execução hipotecária), terra, recursos naturais e monopólios de
infraestrutura.

O contraste entre dinheiro, crédito, terra e monopólios naturais
privatizados e concentrados nas mãos de uma oligarquia /rentista / ou
utilizados para promover a prosperidade geral e o crescimento tornou-se
basicamente um contraste entre capitalismo financeiro e socialismo. No
entanto, em termos mais vastos, este conflito já existia há 2500 anos,
no contraste entre a realeza do Oriente Próximo e as oligarquias grega e
romana. Tais oligarquias, ostensivamente democráticas numa forma
política superficial e de ideologia hipócrita, lutaram contra o conceito
de realeza. A fonte dessa oposição era que o poder real – ou o dos
"tiranos" internos – poderia patrocinar o que os reformadores
democráticos gregos e romanos estavam a advogar: o cancelamento de
dívidas para salvar as populações de serem reduzidas à servidão da
dívida e à dependência (e em última análise à escravidão) e a
redistribuição de terras para impedir que a sua propriedade se
polarizasse e se concentrasse nas mãos de credores e latifundiários.

Do ponto de vista actual dos Estados Unidos, tal polarização é a
dinâmica básica do neoliberalismo hoje patrocinado pelo país. China e
Rússia são ameaças existenciais à expansão global da riqueza
financiarizada /rentista. / A Guerra Fria 2.0 actual visa dissuadir a
China e potencialmente outros países de socializar seus sistemas
financeiros, terras e recursos naturais, e manter no domínio público as
empresas de serviços de infraestrutura a fim de impedir que sejam
monopolizados em mãos privadas para desviar rendas económicas a expensas
do investimento produtivo em crescimento económico.

Os Estados Unidos esperavam que a China fosse tão crédula quanto a União
Soviética e adoptasse uma política neoliberal que permitisse que sua
riqueza fosse privatizada e transformada em privilégios de extracção de
renda, para ser vendida aos americanos. "O que o mundo livre esperava
quando saudou a entrada da China no organismo do livre comércio [a
Organização Mundial do Comércio] em 2001", explicou Clyde V. Prestowitz
Jr, conselheiro comercial no governo Reagan, era que "desde a época da
adopção de Deng Xiaoping de alguns métodos de mercado, em 1979, e
especialmente após o colapso da União Soviética em 1992 ... o aumento do
comércio e do investimento na China levasse inevitavelmente à
mercantilização de sua economia, ao desaparecimento das suas empresas
estatais". [6] <#notas>

Mas, ao invés de adoptar o neoliberalismo baseado no mercado, queixou-se
Prestowitz, o governo da China apoiou o investimento industrial e
manteve o controle da dívida e do dinheiro nas suas próprias mãos. Esse
controle governamental estava "em desacordo com as regras do sistema
global liberal" de acordo com as linhas neoliberais que haviam sido
impostas às antigas economias da soviéticas depois de 1991. "Mais
fundamentalmente", resumiu Prestowitz:

    "A economia da China é incompatível com as principais premissas do
    sistema económico global hoje corporificadas na Organização Mundial
    do Comércio, no Fundo Monetário Internacional, no Banco Mundial e
    numa longa lista de outros acordos de livre comércio. Estes pactos
    pressupõem economias que sejam baseadas primariamente no mercado,
    com o papel do Estado circunscrito e as decisões microeconómicas
    deixadas em grande parte aos interesses privados que operem sob um
    estado de direito. Este sistema nunca previu uma economia como a da
    China, na qual empresas estatais respondem por um terço da produção;
    a fusão da economia civil com a economia estratégico-militar é uma
    necessidade do governo; planos económicos quinquenais orientam o
    investimento para sectores-alvo; um partido político eternamente
    dominante nomeia os CEOs de um terço ou mais das principais
    corporações e estabeleceu células partidárias em todas as empresas
    significativas; o valor da divisa é administrado, dados corporativos
    e pessoais são meticulosamente colectados pelo governo para serem
    usados para controle político e económico; e o comércio
    internacional está sujeito a ser transformado em arma a qualquer
    momento para finalidades estratégicas".

Isso é uma hipocrisia de cair o queixo – como se a economia civil dos
EUA não estivesse fundida com seu próprio complexo militar-industrial e
não administrasse sua moeda ou usasse seu comércio internacional como
arma a fim de atingir objectivos estratégicos. É o caso de dizer: quem
tem telhados de vidro não atira pedras ao vizinho, uma fantasia que
retrata a indústria americana como independente do governo. Na verdade,
Prestowitz disse que "Biden deveria invocar a Lei de Produção de Defesa
para aumentar a produção baseada nos EUA de bens críticos, como
medicamentos, semicondutores e painéis solares".

Enquanto os estrategas comerciais estado-unidenses comparam a
"democracia" americana e o Mundo Livre com a autocracia chinesa, o
principal conflito entre os EUA e a China tem sido o papel do governo no
apoio à indústria. A indústria americana cresceu fortemente no século
XIX com o apoio do governo, tal como agora a China está a providenciar.
Afinal de contas, essa era a doutrina do capitalismo industrial. Mas, à
medida que a economia dos Estados Unidos se torna financiarizada, ela se
desindustrializa. A China tem-se mostrado consciente dos riscos da
financiarização e tem tomado medidas para tentar contê-la. Isso a ajudou
a alcançar o que costumava ser o ideal estado-unidense de providenciar
serviços básicos de infraestrutura a preços baixos.

Aqui está o dilema da política dos EUA: Seu governo está a apoiar a
rivalidade industrial com a China, mas também apoia a financiarização e
privatização da economia interna – a mesma política que tem usado para
controlar os países "vassalos" e extrair seu excedente económico pela
busca de renda monopolista /(rent-seeking). /

*Por que o capitalismo financeiro dos EUA trata a economia socialista da
China como uma ameaça existencial *

O capital industrial financiarizado quer um estado forte para servir a
si mesmo, mas não para servir ao trabalho, aos consumidores, ao meio
ambiente ou ao progresso social de longo prazo ao custo de erodir lucros
e rendas.

As tentativas dos EUA de globalizar essa política neoliberal estão a
levar a China a resistir à financeirização ocidental. Seu êxito fornece
a outros países uma lição objectiva de por que evitar a financiarização
e a busca de rendas monopolistas que aumentam as despesas gerais da
economia e, portanto, seu custo de vida e de fazer negócios.

A China também está oferecendo uma lição prática sobre como proteger sua
economia e a de seus aliados de sanções estrangeiras e da
desestabilização relacionada. Sua resposta mais básica tem sido impedir
o surgimento de uma oligarquia independente interna ou externa. Isso tem
acontecido sobretudo pela manutenção do controle do governo sobre
finanças e crédito, propriedade e política de posse da terra nas mãos do
governo tendo em mente um plano de longo prazo.

Olhando para trás no curso da história, foi com esta retenção que
governantes do Oriente Próximo da Idade do Bronze impediram a emergência
de uma oligarquia que ameaçasse as economias palacianas. Foi uma
tradição que persistiu durante os tempos bizantinos, tributando grandes
agregações de riqueza para evitar uma rivalidade com o palácio e a sua
protecção de uma ampla prosperidade e a distribuição de terras de
auto-sustento.

A China também está a proteger a sua economia do comércio e das sanções
financeiras apoiadas pelos EUA e dos distúrbios económicos, visando a
auto-suficiência no essencial. Isso envolve independência tecnológica e
capacidade de providenciar alimentos e recursos energéticos suficientes
para sustentar uma economia que possa funcionar de forma isolada do
bloco unipolar dos EUA. Também envolve o desengate do dólar americano e
dos sistemas bancários a ele vinculados e, portanto, da capacidade de os
Estados Unidos imporem sanções financeiras. Associado a este objectivo
está a criação de uma alternativa informatizada interna ao sistema de
compensação bancária SWIFT.

O dólar ainda representa 80% de todas as transacções globais, mas menos
da metade do comércio sino-russo de hoje – e a proporção está a
diminuir, especialmente as empresas russas assim evitam que pagamentos
ou contas dolarizadas sejam confiscadas por sanções dos EUA.

Estes movimentos de protecção limitam a ameaça dos EUA à primeira opção
de Maquiavel: destruir o mundo se ele não se submeter à extracção de
rendas financiarizadas patrocinadas pelos EUA. Mas, como Vladimir Putin
enquadrou as questões: "Quem gostaria de viver num mundo sem a Rússia?"

Kin Chi: Meu comentário rápido: Os EUA certamente gostariam de destruir
seu rival, optando pela primeira opção. Mas sabem que é impossível ter
êxito, mesmo no caso da Rússia, sem mencionar a China. Assim, espera que
o rival se desintegre a partir de dentro, ou por blocos de interesses
significativos dentro que sejam cúmplices dos interesses dos Estados
Unidos. Portanto, precisamos avaliar como a Rússia e a China estão a
reagir a este desafio, uma vez que existem múltiplas forças
contestatárias dentro de cada país. E é também por isso que nos temos
preocupado muito com os economistas políticos neoliberais pró-EUA e
decisores políticos nestes dois países.

Concordo consigo em que a China investiu muito em infraestrutura e
indústria. No entanto, estamos preocupados com os movimentos de
financiarização da China. Daí, a sua declaração de que "a China tem
evitado a financiarização" pode não ser o caso real, pois foram feitos
vários movimentos de financiarização, mas podemos dizer que a *China
parece estar consciente dos riscos da financiarização e tem tomado
medidas para tentar contê-la, causando descontentamento por parte dos
interesses financeiros dos EUA, que gostariam de ver a China a ir mais
longe nesse caminho. *

É interessante que ontem a Casa Branca exprimiu preocupação com o uso do
RMB <https://pt.wikipedia.org/wiki/Renminbi> digital pela China e o
Iraque para liquidar contas de petróleo, pois isto estaria além do
monitoramento das transacções pelos EUA.

15/Abril/2021

[1] Niccolo Machiavelli, /O Príncipe / (1532), Capítulo 5: "A respeito
da maneira de governar cidades ou principados que viviam sob suas
próprias leis antes de serem anexados".
[2] Neera Tanden, "A Líbia deve pagar-nos?" memorando para Faiz Shakir,
Peter Juul, Benjamin Armbruster e NSIP Core, 21 de outubro de 2011. O
Sr. Shakir, para seu crédito, respondeu: "Se acharmos que podemos ganhar
dinheiro com uma incursão, o faremos? Isso é um sério problema de
política / mensagem / moral para nossa política externa, acho eu". Como
presidente do Center for American Progress, Tanden apoiou uma proposta
de 2010 para cortar os benefícios da Previdência Social, reflectindo o
objectivo de longo prazo de Obama-Clinton de austeridade orçamental
interna e externa.
[3] Zbigniew Brzezinski, /The Grand Chessboard: American Primacy and its
Geostrategic Imperatives / (New York: 1997), p. 40. Ver a discussão de
Pepe Escobar, " For Leviathan, It's So Cold in Alaska
<https://www.unz.com/pescobar/for-leviathan-its-so-cold-in-alaska/> ",
Unz.com, 18 de março de 2021.
[4] Brzezinski, /ibid., / P. 55.
[5] Brzezinski, "Towards a Global Realignment,"  /The American Interest
/ (17 de abril de 2016). Para uma discussão, consulte Mike Whitney, "The
Broken Checkboard: Brzezinski Gives Up on Empire," /Counterpunch, / 25
de agosto de 2016.
[6] Clyde Prestowitz, "Blow Up the Global Trading System, /Washington
Monthly, / 24 de março de 2021.

[NT] /Grabitization: / "A palavra russa para *privatização * depois de
Boris Yeltsin ter dissolvido a União Soviética em 1991 e aceite o
conselho americano para entregar empresas e recursos naturais existentes
a directores vermelhos e aos bancos que eles se apressaram a organizar.
Os neoliberais da Guerra Fria aplaudiram isto como um mercado livre,
reconhecendo que o único meio pelos quais os apropriadores
pós-soviéticos poderiam transformar suas conquistas em cash e mantê-las
livres de impostos futuros e restituições /(clawbacks) / era vender suas
acções a compradores dos EUA e europeus, mantendo a maior parte das suas
receitas em Londres e outros centros de hot-money.

"A narrativa neoliberal de encobrimento era que administradores a
actuarem no seu próprio interesse tornariam a indústria mais produtiva
do que no caso de propriedade estatal. Na prática o resultado foi o
*despojamento de activos * e *operações de iniciados * /(insider
dealing) / (ver *Cleptocracia * ). Os novos proprietários das fábricas
deixaram de pagar benefícios aos empregados e ficaram longos períodos
sem lhes pagar de todo. Isto transformou a Rússia e outras economias
pós-soviéticas em oligarquias financeiramente polarizadas, com muito
menos tributação progressiva do que a aplicada no ocidente – tipicamente
um imposto uniforme /(flat tax) / que incidia só sobre o trabalho e os
consumidores, não sobre a propriedade e o rendimento financeiro ou
ganhos com preços de activos. As acções russas listadas nas bolsas de
valores de Nova York e Londres tornaram-se as principais ganhadoras o
que levou à crise financeira russo-asiática de 1997, mas entre 1997 e
2015 a Rússia sofreu fugas de capital e perdas da ordem dos US$25 mil
milhões por ano – mais de 500 mil milhões de dólares".
/in / /J is for Junk Economics: A Guide to Economic Survival in an Age
of Deception/
<https://www.bookdepository.com/J-is-for-Junk-Economics-Michael-Hudson/9783981484250?ref=pd_gw_1_pd_gateway_1_1>
, Michael Hudson, Islet, 2017, p.110.

*O original encontra-se em thesaker.is/...
<http://thesaker.is/americas-neoliberal-financialization-policy-vs-chinas-industrial-socialism/>
*

In
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/m_hudson/financiarizacao_15abr21.html
16/4/2021

quinta-feira, 15 de abril de 2021

O desmonte da indústria farmacêutica brasileira




Paulo Henrique A. Rodrigues*


Para o Jornal O Poder Popular

A evolução da pandemia de Coronavírus, além de vir impondo centenas de
milhares de mortes — a maior parte delas evitáveis —, adoecimento para
os brasileiros e sobrecarga de trabalho e sofrimento para os
trabalhadores da saúde, vem revelando a imensa dependência do país à
importação de medicamentos, vacinas e insumos farmacêuticos ativos. Um
país que figura entre os seis maiores consumidores de medicamentos para
uso humano e constitui o segundo maior mercado de medicamentos para uso
animal, não desenvolveu capacidade de produzir os remédios e vacinas que
necessita.

A vacinação contra a Covid-19 vem revelando o enorme descaso com a vida
humana, incompetência e improvisação por parte do governo federal que
tem a obrigação de coordenar a aquisição, distribuição e informação para
a população. Milhares de novas mortes evitáveis seguem ocorrendo por
conta dessa incompetência governamental e da ausência de políticas
industriais farmacêuticas adequadas nas últimas décadas.

O Brasil reduziu de 55% para 5% a capacidade de produção de insumos
farmacêuticos, situação decorrente da abertura comercial promovida nos
governos Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso nos anos 1990 e da
falta de políticas industriais que promovessem a capacitação tecnológica
para a produção interna de medicamentos e insumos farmacêuticos ativos.
Há capacidade tecnológica na indústria brasileira, mas faltam políticas
governamentais de fomento industrial, capacitação de profissionais e de
verticalização da cadeia produtiva para que possa haver a integração da
indústria de insumos farmacêuticos com os produtores de medicamentos.

O Brasil vive atualmente uma situação de grave vulnerabilidade
sanitária, decorrente da dependência tecnológica no setor farmacêutico e
da dependência da importação tanto de insumos farmacêuticos ativos
(IFAs), principalmente da China e da Índia, quanto de medicamentos
acabados prontos dos grandes laboratórios estadunidenses e europeus.
Como foi possível que o abastecimento de medicamentos no país tenha
chegado a esta situação?

Como o Brasil se tornou vulnerável do ponto de vista sanitário?

A resposta a esta pergunta obriga a conhecermos de forma rápida as
políticas industriais farmacêuticas desenvolvidas desde que as políticas
econômicas neoliberais foram impostas ao Brasil nos anos 1990, no auge
da chamada crise da dívida externa. É importante saber, em primeiro
lugar, que entre 1930 e 1990, o Brasil teve uma política econômica
protecionista em relação ao desenvolvimento industrial, que promoveu a
substituição de importações de produtos industriais que passaram a ser
feitos no país, além de ter capacitado tecnologicamente o parque fabril
brasileiro, inclusive a indústria farmacêutica brasileira.

Um marco importante dessa política foi a criação da Companhia Nacional
de Álcalis (CNA), em 1944, no atual município de Arraial do Cabo (RJ),
durante o governo Getúlio Vargas. A CNA foi planejada para produzir
matérias-primas básicas — carbonato de sódio, barrilha e hidróxido de
sódio, soda cáustica conhecidos como álcalis sódicos -, itens essenciais
para impulsionar a indústria de transformação. Tais matérias-primas são
fundamentais para a indústria química como um todo e particularmente a
produção de medicamentos. Em 1952, foi criada a Carteira de Comércio
Exterior do Banco do Brasil (CACEX), instrumento de proteção tarifária
para a indústria brasileira, que tornou difícil a importação de insumos
farmacêuticos ativos (IFAs) para a produção de medicamentos. Isso forçou
a produção no Brasil desses insumos, reduzindo a dependência do país à
importação desses produtos, uma vez que a produção nacional abastecia a
maior parte das necessidades da indústria.

As medidas que protegiam a produção interna de medicamentos e a
manipulação dos preços pelos laboratórios nacionais e estrangeiros, foi
desmontada pela política neoliberal. Em 1990, Collor de Mello extinguiu
a CACEX e com ela a proteção à produção interna dos insumos
farmacêuticos ativos. Desde então, o déficit com a importação desses
produtos não parou de aumentar. Entre 1995 e 2014, o déficit aumentou
488,3%, chegando a US$ 2,58 bilhões de dólares em 2014.

Uma política de subserviência ao imperialismo

Uma das medidas mais criminosas dos governos neoliberais foi o
reconhecimento de forma radical e precoce do acordo internacional de
patentes, TRIPS (Trade Related Aspects of Intellectual Rights), aprovado
em 1995. O projeto foi aprovado durante o governo FHC, e o Brasil passou
a ter uma das piores e mais servis legislações de patentes do mundo, a
Lei nº. 9.279/1996. Esta Lei abriu mão, por exemplo, do prazo que o
acordo TRIPS permitia que os países continuassem sem reconhecer patentes
até o final de 2005. Enquanto o Brasil adotou com nove anos de
antecedência o reconhecimento de patentes, a China e a Índia, cujas
políticas industriais eram semelhantes à brasileira até então,
aproveitaram o prazo até o último dia, desenvolvendo o que hoje são as
maiores indústrias químicas e farmacêuticas do mundo. Enquanto isso, a
indústria farmacêutica brasileira deixou praticamente de produzir
insumos farmacêuticos ativos — hoje menos de 5% das necessidades são
atendidos pela produção interna — e só produz medicamentos de baixo
conteúdo tecnológico e baixo valor agregado.

Houve, entretanto, importante e vitoriosa queda de braço com os
laboratórios multinacionais em relação aos antirretrovirais
(medicamentos para AIDS), garantida pela capacitação do laboratório
público de Farmanguinhos, para fazer engenharia reversa, depois de muita
pressão dos movimentos sociais brasileiros.

A produção interna de genéricos cresceu muito desde os anos 1990,
beneficiando principalmente a burguesia interna do setor farmacêutico e
menos a população. Já a política das PDPs dos governos petistas permitiu
a absorção da capacidade tecnológica para a produção de alguns
medicamentos cujas patentes de propriedade de laboratórios
multinacionais já estavam para cair, enquanto asseguravam o acesso
monopolístico dos mesmos ao mercado brasileiro durante o processo de
transferência de tecnologia. Nenhuma dessas duas políticas gerou
capacitação tecnológica importante, nem redução significativa da
dependência de importações.

O resultado desses quase trinta anos de neoliberalismo em relação aos
medicamentos é uma crescente dependência brasileira frente às
importações e à tecnologia estrangeira, além de enorme vulnerabilidade
sanitária, que vem prejudicando a população e o setor público, que tem
de comprar medicamentos para os usuários do SUS, além do risco de o país
se ver praticamente sem medicamentos e vacinas, caso haja um agravamento
da crise econômica e política internacional. A população já está pagando
um preço alto demais com a crescente dificuldade em ter acesso a
medicamentos e agora à vacina contra a Covid-19, em função da criminosa
política de subordinação econômica ao imperialismo.

* Cientista social e professor do Instituto de Medicina Social da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). É militante do PCB de
Petrópolis – RJ.

In
PCB
https://pcb.org.br/portal2/27110/o-desmonte-da-industria-farmaceutica-brasileira/
5/4/2021

segunda-feira, 12 de abril de 2021

A fratura brasileira entre o Universo em Expansão e a nova corrida imperialista na América do Sul

 



 

Por Fabio Reis Vianna

 

Em artigo publicado esta semana na revista /Foreign Affairs - /uma das
mais proeminentes porta-vozes do imperialismo estadunidense - , e
assinado por, entre outros, Marcus Hicks, ex-comandante do Comando de
Operações Especiais dos Estados Unidos na África durante o período
2017-2019, defende-se a idéia de que o aumento da competição entre as
grandes potências acende um alerta vermelho de que os Estados Unidos
deveriam voltar suas atenções para o continente africano.

 

O principal motivador desta preocupação seria a necessidade urgente de
limitar a "influência maligna" dos dois grandes rivais estratégicos do
/hegemon:/ Rússia e China.

 

Citando o aumento da presença sino-russa no continente africano, em que
a Rússia sozinha já teria estabelecido acordos militares com pelo menos
19 países, e a China, instalado em 2017 sua primeira base militar
internacional no Djibout.

 

Cabe ressaltar, que apesar do artigo da /Foreign Affairs /mencionar que
houve um refluxo da presença americana durante a administração de Donald
Trump, na realidade, e num olhar de longo prazo, desde 2001 a política
externa americana voltou-se mais agressivamente para África, tendo sido
esta postura, inclusive, um incentivo para uma maior presença de outros
atores do sistema interestatal naquele continente.

 

A presença americana na África, justificada na desculpa do combate ao
terrorismo transnacional, foi portanto, o estopim de um aumento da
presença de outros atores interestatais, e por conseguinte, da
competição imperialista que neste 2021 pandêmico ganha contornos ainda
mais dramáticos.

 

Apesar do referido artigo tratar-se especificamente de uma defesa da
presença americana na África, ele serve como um aviso de como o
/establishment /daquele país estaria se posicionando frente a um
fenômeno que vem se aprofundando consideravelmente nos últimos anos: a
nova corrida imperialista.

 

Sendo assim, é de suma importância compreender o papel da América do Sul
neste complexo jogo de poder.

 

Levando em consideração que o aumento da pressão competitiva no sistema
mundial vem se acelerando de maneira considerável desde o colapso da
União Soviética, ganhou contornos imperiais após o 11 de setembro, e
descortinou-se como, de fato, num cenário de quase guerra com o advento
da pandemia, é possível deduzir que os acontecimentos recentes em
determinados pontos da América do Sul a colocam definitivamente como
campo de batalha da disputa mais ampla das atuais potências pela
hegemonia global.

 

Sintomas deste fenômeno competitivo puderam ser vistos recentemente em
insinuações de que os chineses estariam realizando manobras navais em
águas argentinas (quando na verdade foram os americanos que de fato
fizeram exercícios nas proximidades do litoral brasileiro), bem como na
intensificação da crise diplomática entre Venezuela e Guiana.

 

Existem muitos pontos de fratura na América do Sul, e o mais visível e
perigoso talvez resida sobre a zona de Esequibo, território guianês de
159 mil quilômetros quadrados jamais reconhecido por Caracas.

 

No inicio de março a Guiana acusou a Venezuela de ter violado seu espaço
aéreo com o uso de dois drones Sukhoi SU 30, de origem russa.
Prontamente Caracas refutou as acusações como sendo falsas.

 

Repudiado pelo Secretário de Estado para Malvinas, Antártica e Atlântico
Sul, Daniel Filmus, mais recentemente, a publicação do novo plano de
defesa britânico - ratificando a decisão de manter uma presença militar
permanente nas Ilhas Malvinas - trouxe preocupações à Buenos Aires.

 

É nítida a presença de potências estrangeiras em território
sul-americano, e à luz do expressivo aumento da pressão competitiva no
sistema mundial - que vem ocorrendo gradativamente desde a
desproporcional demonstração de poderio bélico americano contra um
indefeso Iraque em 1991 -, a teoria do Universo em Expansão confirma-se
ano após ano, e de maneira cada vez mais dramática.

 

Contradizendo a idéia de que um sistema unipolar, e portanto liderado e
conduzido por um único /hegemon, /levaria à "paz perpétua" de kant, a
teoria do Universo em Expansão sustenta a tese de que o jogo de poder
global tende a se reproduzir /ad infinitum /como um universo em expansão
contínua, anárquica e sem direção.

 

Sendo assim, não importa se a disputa é bipolar ou multipolar/: /quem
está no topo do sistema tende a expandir ainda mais seu poder - mesmo
que não esteja, necessariamente, sendo desafiado no momento, como é o
caso do período logo após o colapso soviético, em que os Estados Unidos
reinavam absolutos sobre o resto do mundo.

 

A realidade fática (e cruel) que vem a confirmar a teoria do Universo em
Expansão não poderia caber em uma roupa mais apropriada que a do momento
presente.

 

Assim como o 11 de setembro serviu como a desculpa perfeita para a
expansão do poder global dos Estados Unidos (neste caso específico
contra um inimigo imaginário - já que o inimigo de sempre, a Rússia,
estava temporariamente fora do jogo), a pandemia da Covid-19 serve hoje
como escada para um aumento sem precedentes da pressão competitiva no
sistema interestatal.

 

Seguindo este raciocínio, e ao contrário do que os analistas
atlanticistas estão a dizer, a crise pandêmica estaria a favorecer
apenas um único país: os Estados Unidos da América.

 

Não apenas pelas empresas de tecnologia do Vale do Silício nunca terem
lucrado tanto quanto agora, mas o despertar de instintos soberanistas e
militaristas proporcionado pelo caos pandêmico, tornou possível a
concretização do único consenso fundamental e intocável das atualmente
tão divididas elites estadunidenses: a reprodução e expansão permanente
e contínua de seu complexo industrial militar. Expansão esta que nada
mais seria que a viabilização do chamado Domínio do Espectro Total
contido no /DOD Joint Vision 2020, /publicado no ano 2000.

 

Neste contexto, a América do Sul vem a desempenhar um novo papel no
tabuleiro geopolítico global, papel este, que o longo período de zona de
paz sob influência anglo-saxã teria amenizado.

 

Com o aumento da pressão competitiva ocasionado pelo evento pandêmico,
que em outros termos poderia ser visualizado como uma reação do /hegemon
/à entrada de novos competidores no sistema, veio um aumento ou choque
de demanda por recursos energéticos.

 

Neste cenário, poderíamos exemplificar a perspectiva de um crescente
expressivo na demanda global por petróleo para os próximos 30 anos,
sendo que, somente China e Índia, representariam aproximadamente 50% de
toda a demanda.

 

Tendo em vista que a América do Sul hoje pode ser considerada a região
detentora das maiores reservas petrolíferas (Venezuela) e de Lítio
(Bolívia) do planeta - e sem falarmos da floresta amazônica e das
reservas de água doce (Brasil) - , e à luz dessa ordem energética global
em formação e disputa, não seria exagero dizer que a nova corrida
imperialista entre as grandes potências deste início de século estaria
paulatinamente se voltando para a região.

 

Tal situação abre um alerta para um país da região que atualmente vive a
maior crise de identidade de toda a sua história: o Brasil.

 

Fraturado internamente desde antes da pandemia, o gigante sul-americano
nunca se viu tão pressionado e isolado internacionalmente.

 

O caos sistêmico iniciado na Revolução Colorida de junho de 2013, e que
vem se aprofundando ano após ano, até culminar na eleição de Jair
Bolsonaro (presidente fantoche emergido do golpe branco orquestrado pelo
consórcio entre o Alto Comando das Forças Armadas e o governo
americano), finalmente entra em curto circuito total a partir do estouro
da pandemia da covid-19.

 

Desde então é visível o descontentamento crescente de setores das elites
econômicas locais com a desastrosa gestão da crise sanitária por parte
do atual governo regido pela junta militar.

 

Ameaçado por sanções externas de todos os lados, o país que ultrapassou
a marca de 300 mil mortes, vive uma fratura interna sem precedentes em
sua história.

 

Algo pouco lembrado, mas já em outubro de 2019, os escritores lusófonos
Mia Couto e José Eduardo Agualusa, em visita ao Brasil, se disseram
impressionados com o clima de animosidade política local, chegando a
comparar o gigante sul-americano com países africanos como Moçambique e
Angola durante o período pré-guerra civil.

 

Ao mesmo tempo em que policiais militares do Rio de Janeiro organizam
marchas vestidos com sugestivas camisas pretas em defesa do presidente
Jair Bolsonaro, policiais militares do Estado da Bahia ameaçam instalar
o caos com um motim contra o governador local (Rui Costa, do Partido dos
Trabalhadores, adversário de Bolsonaro).

 

Em meio à escalada das tensões, a queda de braço entre governo e
parlamento se acentua, e em particular no que diz respeito a duas
questões de relevância geopolítica: o 5G e a vacina Sputnik V.

 

Mesmo que não fique claro nas matérias veiculadas pela imprensa
hegemônica brasileira, é visível que o governo Bolsonaro atua
deliberadamente como representante dos interesses dos Estados Unidos no
Brasil.

 

As dificuldades criadas para a aprovação da vacina russa Sputnik V, e a
ameaça constante de exclusão da gigante de tecnologia chinesa Huawei do
grande leilão do 5G no país, refletem o papel atual do Brasil como campo
de batalha da grande disputa expansionista do sistema mundial neste
início de século.

 

A fratura social, e a divisão cada vez mais profunda no seio das elites
locais expõem o risco seríssimo de um país que a qualquer momento pode
sair do controle.

 

A notícia de que a Articulação dos Povos indígenas do Brasil (APIB)
teria enviado uma carta ao Sr. Joe Biden, e ao seu Secretário Especial
Climático John Kerry, solicitando um canal direto de comunicação - e ao
largo do governo brasileiro - para tratarem de assuntos ligados à
Amazônia, abre um alerta gravíssimo sobre algo que, para os conhecedores
da história, não seria novidade.

 

Tendo em conta que a competição geopolítica entre as grandes potências
costuma se concentrar em zonas de fratura do sistema mundial, a história
nos ensina que sociedades fraturadas - e em Estados enfraquecidos -
tendem a se tornar objeto de joguetes divisionistas nas mãos das grandes
potências.

              

Com todo respeito a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil - tão
maltratados e ameaçados pelo atual governo - , mas o momento pede uma
profunda reflexão sobre isso.

In
PORT.PRAVDA.RU
https://port.pravda.ru/mundo/06-04-2021/52593-corrida_imperialista-0/
6/4/2021

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Crece el peligro de guerra

 





 *DE LA DEMENCIAL ESTRATEGIA DE EE.UU. Y DE SUS SERVIDORES EUROPEOS*

*/ANDRES PIQUERAS , SOCIOLOGO, PROFESOR DE LA UNIVERSIDAD JAUME I/*

Para todas aquellas personas que se alegraron de la victoria electoral
de Biden, me temo que hay malas noticias. Quienes ya advertimos que con
los demócratas el peligro de guerra se dispararía parece que no hemos
fallado. Los peores augurios que del discurso del nuevo presidente se
pudieron extraer tras su toma de posesión se han ido materializando.

1.Ha advertido (amenazado) a Alemania de no seguir adelante con su
proyecto de abastecimiento energético (Nord Stream 2), y da marcha atrás
en la retirada de tropas del territorio germano, lo que de paso deja
claro que sigue siendo un país colonizado (la administración USA,
riéndose una vez más del “libre comercio”, acaba de amenazar
directamente con represalias a las compañías que participan en la
construcción del gaseoducto, detectándose incluso hostigamiento militar
al mismo).

2.Ha llamado a Putin “asesino”, lo que en términos diplomáticos equivale
a solamente medio escalón previo a una declaración abierta de guerra.
Presiona cada vez más las fronteras rusas a través de la OTAN, poniendo
en alarma tanto al Báltico (e incluso las latitudes polares) como a la
Europa oriental, también desestabilizando el Cáucaso.

3.Se permite invitar a China a su casa (Alaska) para acto seguido
ponerse a insultar a los diplomáticos chinos sobre supuestas violaciones
de derechos, sobre todo en territorio uigur (claro, los emisarios
norteamericanos se cuidaron mucho de comentar cómo EE.UU. lleva
infiltrando desde hace años redes terroristas y paramilitares en ese
territorio para desunir China).

4.Ha amenazado con sanciones a India si no revierte la compra y
despliegue de misiles rusos S-400.

5.Quiere renovar la unión contra Irán para doblegar a ese país y cortar
el núcleo vital de la Ruta de la Seda china.

6.Asedia a la propia China en el mar que la envuelve.

7.Amenaza a Corea mediante nuevas maniobras militares navales.

8.Frena la retirada de tropas de Asia occidental, y en el caso concreto
de Siria (donde ocupa ilegalmente sus pozos petrolíferos), pretende
reactivar la guerra con nuevas infiltraciones de paramilitares y
yihadistas en el país.

9.Está gestando una intervención contra Venezuela a través de tropas
irregulares, paramilitares, narco-bandas y grupos delincuentes armados,
con la colaboración del ejército colombiano, en la frontera entre ambos
países.

10.Pero lo más descabelladamente peligroso de todo es que está activando
una nueva escalada bélica en Ucrania, de ominosas consecuencias. El
ejército ucraniano ha comenzado a desplegar masivamente sus sistemas de
cohetes de lanzamiento múltiple en Donbass, para atacar las Repúblicas
Populares de Donetsk y Lugansk, a las que vuelve a hostigar desde hace
semanas. Y, más grave aún, ya ha declarado su intención de ir a por
Crimea. Todo eso tras recientes conversaciones de alto nivel entre
funcionarios estadounidenses y ucranianos. EE.UU. está abasteciendo de
armas a Ucrania, al tiempo que despliega algunas de sus más mortíferos
aparatos de combate en la zona.

Esto marca un peligro inminente de guerra total, especialmente
sobrecogedor para las sociedades europeas, dado que Rusia parece tener
superioridad militar sobre la OTAN. De desencadenarse un enfrentamiento
podría destruir Europa en breve tiempo.  Mientras, EE.UU. quedaría una
vez más lejos del escenario bélico.

Antes de seguir, dejemos claras unas cuantas cosas

En un capitalismo globalizado pero carente de una entidad política
territorial global (algo así como un Estado mundial), buena parte de las
estrategias de mando vienen ejercidas directa o indirectamente por la
potencia dominante, un hegemón que se encarga en mayor medida que ningún
otro de crear o recrear, organizar y dirigir el conjunto de
instituciones mundiales necesarias para la regulación global del sistema.

Este sistema, el capitalista, sólo muy casualmente puede procurar
“bienestar” y mejoras a las poblaciones del mundo, puesto que su
principal fin es la reproducción ampliada de capital a través de altas
tasas de beneficio empresarial.

EE.UU. como potencia hegemónica, es el principal valedor de esa
acumulación de capital y del beneficio privado de la clase capitalista,
al coste que sea.  Por eso, entre otras muchas cosas, a EE.UU. lo único
que le preocuparía de los DD.HH. es que en realidad se cumplieran. De
ahí que haya promovido y mantenido dictaduras en todo el planeta, desde
las del Cono Sur americano, hasta las monarquías salvajes del Golfo,
pasando por la Suráfrica del “apartheid”.

Por eso su principal aliado y destinatario de apoyo
financiero-político-estratégico es Israel, el Estado que comete más
violaciones de resoluciones de la ONU, que practica un sistemático
‘apartheid’ y limpieza étnica, que se basa en una constitución racista,
que practica sistemáticamente el terrorismo y que es un continuo peligro
para toda Asia occidental.

Por eso tiene como aliado a Turquía, miembro de la OTAN, otro
plusmarquista en limpiezas étnicas y en terrorismo contra su propia
población y las adyacentes. Por eso su principal receptor de “ayuda” en
América es Colombia, campeón del terrorismo de Estado, con matanzas
sistemáticas de su población, y causa de un creciente riesgo de
desestabilización de toda la región (ver este excelente informe al
respecto:
https://isrobinson.org/investigaciones/la-construccion-de-una-zona-de-guerra-difusa-en-la-frontera-colombo-venezolana/).

En cuanto al capítulo de invasiones y destrozo de países, estas han sido
las intervenciones militares directas de EE.UU. (solo o con la OTAN)
tras la caída de la URSS:     

Irak (1991): con sanción de la ONU

Somalia (1993): EE.UU. y algunos “aliados”, con sanción de la ONU

Yugoslavia (1995): OTAN, sin sanción de la ONU

Afganistán y Sudán (1998): ataque unilateral de EE.UU.

Yugoslavia (1999): OTAN, sin sanción de la ONU

Afganistán (2001): OTAN, sin sanción de la ONU [dura hasta hoy]

Irak (2003): EE.UU. y algunos “aliados”, sin autorización de la ONU

Pakistán, Yemen, Somalia (2002): ataques con aviones no tripulados,sin
autorización de la ONU [dura hasta hoy]

Libia (2011): intervención de la OTAN, con sanción de la ONU

Siria (2014): EE.UU. – OTAN [dura hasta hoy]

Intervenciones que Arthur K. Cebrowski, almirante y director de la
Office of Force Transformation in the U.S. Department of Defense,
concibió hechas sobre “países desechables” a los que había que destruir
sus estructuras estatales.

Fundamentalmente están en el punto de mira del hegemón aquellas
formaciones sociales que se encuentran dentro del espacio territorial o
la zona de seguridad de lo que fue la URSS y de sus alianzas. También
los países susceptibles de consolidar la Ruta de la Seda china.

En cuanto al propio continente americano, recientemente, EE.UU. ha
promovido golpes de Estado judiciales, con intervención de fuerzas
policíaco-militares, en Paraguay, Brasil, Bolivia y Honduras. Ha
destruido casi toda Centroamérica (a la que invadió o dio golpes de
Estado en repetidas ocasiones en el siglo XX), con guerra
contrainsurgencia, bandas paramilitares, promoción de Estados de terror
y bandas de delincuencia armada por doquier, consiguiendo un
empobrecimiento brutal de las poblaciones que ahora se le vuelve en
forma de “caravanas migrantes”, masas desesperadas huyendo de la miseria
y la muerte.

Dentro de esa estrategia de muerte se incluyen las llamadas guerras de
cuarta generación o “híbridas”, que combinan el uso de la presión
político-económica, los “levantamientos populares” y el terrorismo en
sus diferentes expresiones (operaciones subversivas, actuaciones
clandestinas y de falsa bandera, guerra por delegación…), incluida la
utilización de cuerpos armados irregulares y redes terroristas
potenciadas o creadas ad hoc. Se usa también la propaganda mediática, la
cibernética y la inteligencia artificial. En buena parte con la
inestimable ayuda de Gran Bretaña y su BBC.

Todo esto en un contexto histórico de decadencia capitalista, de crisis
estructural sistémica sin perspectivas de recuperación sostenida.

Tenemos, entonces, un capitalismo degenerativo más una potencia
hegemónica en declive: una situación perfectamente explosiva. Máxime si
consideramos que esa potencia se niega a ser superada y se ha convertido
en un monstruo que se revuelve contra todo, incluida su propia
población, cada vez más parte de la cual queda ajena los mínimos
derechos de ciudadanía [un peligro para el mundo como ya se indicó en
EEUU contra el mundo (y contra sí mismo) – Dominio público (publico.es)].

Pero hay también un actor secundario, a la par triste y vil: la UE. Este
“supra-Estado” paradigma de la institucionalidad del capitalismo
financiarizado, ha decidido seguir sumisamente todos los planes del
decadente hegemón, aun a costa de sus intereses vitales. Uno y otros
están haciendo de las sanciones político-económicas su principal razón
contra países emergentes a los que ya no pueden dominar con el “libre
mercado”. Un arma de guerra sucia.

Alegan los líderes y lideresas de la UE que esas sanciones son para
hacer respetar los Derechos Humanos. Sería para reír si detrás de eso no
hubiera tanta muerte y dolor.

Si quieren sancionar a alguien por no cumplir con los Derechos Humanos,
ahí tienen a EE.UU. por las acciones descritas.

Si quieren un caso como el de Navalni, pero esta vez cierto, ahí tienen
a Assange, perseguido, encarcelado y torturado por denunciar con pruebas
los crímenes de EE.UU. (ante el apabullante silencio y complicidad de la
mayor parte de la “prensa libre occidental”). Si quieren hablar sobre
torturas, ahí tienen Guantánamo (además de las decenas de centros de
tormento “clandestinos” que USA mantiene en todo el mundo, a veces a
bordo de barcos de guerra). Pero parece que a la servil dirigencia
europea no le salen los colores cuando se inventa excusas.

Desesperadas ante el caos sistémico que generan, con debacle económica
incluida, y ante su inocultable ineptitud para salvaguardar ni siquiera
la salud de sus poblaciones frente a la actual pandemia, las elites del
capital global han anunciado en el último Foro Económico Mundial, el
Gran Reinicio del capitalismo.

Una vuelta de tuerca a la pérdida de democracia, al control poblacional,
a la precarización de los mercados laborales, al empobrecimiento
generalizado, al deterioro ambiental. Las mismas elites lo anuncian como
la convergencia de los sistemas económicos, monetarios, tecnológicos,
médicos, genómicos, ambientales, militares y de gobierno.

En términos económicos y de política monetaria, el Gran Reinicio implica
una consolidación de la riqueza, por un lado, y la probable emisión de
una renta básica universal, por otro, para “mantener” a poblaciones sin
empleo. Podría incluir el paso a una moneda digital, con una
centralización de las cuentas bancarias y de los Bancos, una fiscalidad
inmediata en tiempo real, tipos de interés negativos (cobrando cada vez
más por tener dinero en el Banco) y una vigilancia y un control
centralizados del gasto y la deuda.

El Gran Reinicio significa también la emisión de pasaportes médicos,
pronto digitalizados, incluyendo la historia médica, la composición
genética y los estados de enfermedad. La covid-19 está suponiendo un
entrenamiento ideal para que las poblaciones acepten cosas así. El Gran
Reinicio acentúa además la guerra como instrumento económico,
geoestratégico y de relaciones internacionales, especialmente contra
Rusia y China.

Como es obvio, lo que está provocando de momento, por reacción, es un
mayor acercamiento entre esos dos países, que intentan tejer también una
diplomacia constructiva como contrapeso al caos. China acaba de
estrechar lazos estratégicos con Irán; ha propuesto una coordinación con
los países árabes, tentando también a Turquía para que se vuelva hacia
Asia, y mostrando a India el interés de la Ruta de la Seda, basada en el
comercio, la economía productivo-energética y, en definitiva, el
beneficio mutuo. Rusia es una potencia energética, fulcro ya
insoslayable de Eurasia.

Lamentablemente, todo indica que la UE ha decidido suicidarse al lado
del hegemón en decadencia. Irse por el mismo sumidero de la historia que
él. Eso quiere decir que la diplomacia “occidental” queda confinada cada
vez más a acciones de guerra. Es decir, se niega a sí misma como
“diplomacia”. Una loca “estrategia” que acerca precipitadamente al
enfrentamiento militar y que pone en riesgo al planeta entero. Una nueva
“Guerra Fría” con cada vez más posibilidades de convertirse en caliente
y que se ceba en las propias poblaciones europeas como víctimas de otra
guerra que acompaña indisociablemente a la anterior: la guerra de clases


In
OBSERVATORIO DE LA CRISIS
https://observatoriocrisis.com/2021/04/07/crece-el-peligro-de-guerra/
7/4/2021

domingo, 4 de abril de 2021

A tortura de Gregório Bezerra, dia da vergonha e da covardia

 


    Gilvandro Filho  do **Jornalistas pela Democracia*
<https://catarse.me/jornalistaspelademocracia>

Jornalista e compositor/letrista, tendo passado por veículos como Jornal
do Commercio, O Globo e Jornal do Brasil, pela revista Veja e pela TV
Globo, onde foi comentarista político. Ganhou três Prêmios Esso. Possui
dois livros publicados: Bodas de Frevo e “Onde Está meu filho?”


    
"Gregório Bezerra, o primeiro torturado da ditadura militar brasileira,
ficou preso até 1969, quando foi trocado, junto com outros 13 presos
políticos, pelo embaixador dos Estados Unidos, Charles Burck Elbrick.
Voltou ao Brasil em 1979, com a anistia. Morreu no Recife, aos 83, em
1983", escreve o jornalista Gilvandro Filho edit

*Por Gilvandro Filho,

Em um dia 2 de abril feito hoje, a manhã transcorreu banhada de sangue
no bairro de Casa Forte, no Recife. Dois dias antes, a Democracia
brasileira era estuprada e o Brasil iniciava um período de trevas que
duraria 21 anos e deixaria marcas profundas na vida do País. Eram os
primeiros dias da quartelada que tirou do poder o presidente João
Goulart e entregou o poder aos militares. O golpe militar, que começou
em 31de março de 1964, consolidando-se no dia seguinte,
institucionalizaria o autoritarismo, as prisões sem amparo legal, as
torturas, os assassinatos, os desaparecimentos de políticos e
opositores. Começava a ditadura militar.

Aquela tarde, data seguinte ao “dia da mentira”, ficaria na memória dos
pernambucanos como o “dia da vergonha”.  Era entregue ao Exército o
prisioneiro político mais procurado pelos militares, o líder comunista
Gregório Lourenço Bezerra, ícone do movimento no Nordeste, protagonista,
no Estado, do levante comunista de 1935. Desde então, por sinal, ele era
seguido pelas forças de segurança, mais ainda naqueles dias turbulentos
de 64.

Historiadores sustentam que Gregório tinha seus passos rigidamente
seguidos pelos militares e pelo DOPS-PE, o que o levou a ser uma das
primeiras capturas “importantes” do golpe em Pernambuco, junto com o
governador Miguel Arraes – apeado do Palácio do Campo das Princesas, no
fatídico Primeiro de Abril, Arraes negou-se a qualquer tipo de
negociação e fez questão de deixar o Palácio pela porta da frente,
direto para a Casa de Detenção (hoje Casa da Cultura), de lá para o
presídio de Fernando de Noronha, de onde seguiu para o exílio na
Argélia. Mas, embora igualmente importante, esta é outra história.

Gregório Bezerra foi preso em terras da Usina Pedrosa, próxima do
município de Cortês, zona da mata pernambucana. Liderados por donos das
terras, como o usineiro José Lopes de Siqueira Santos, da Usina
Estreliana (Ribeirão), vários empresários do setor canavieiro,
importante braço armado do golpe militar, queriam fazer justiça com as
próprias mãos. Mas, Gregório teria que ser entregue ao Exército, que não
iria abrir de exibir em público um troféu daqueles, inimigo histórico
número um de vários militares golpistas, desde 1935. Não bastaria
prender, torturar ou até matar. Era importante mostrar, fazer do ato
covarde um circo de horrores.

Foi o que aconteceu. Diante de usineiros desolados por não acabarem ali
mesmo o serviço, Gregório Bezerra foi levado de Cortês pelos militares
até o Forte das Cinco Pontas, no bairro de São José. De lá, seria
conduzido ao Quartel de Moto-mecanização do Exército, em Casa Forte,
zona norte do Recife, por um oficial do Exército e mais três algozes,
colaboradores voluntários do golpe: um militar reformado em 1951, Artur
Bruno Schwambach, o comerciante Elson Pinto Teixeira Souto e o agente do
DOPS-PE Cristóvão Cavalcanti Moreira.

Os três escalados para a empreitada, os mesmos que serviriam de
testemunhas de acusação do inquérito aberto contra o líder comunista,
entregaram Gregório ao coronel Darcy Ursmar Villocq Vianna, comandante
da unidade e protagonista de uma das cenas de tortura mais cruéis e
funestas ocorridas ao longo do período ditatorial (1964-1985). Gregório
foi amarrado com cordas, pelo pescoço, com três pontas puxadas ao mesmo
tempo, por soldados. Na rua começou o espancamento. Foi agredido com
paus e canos de ferro, inclusive na cabeça. Seus pés foram mergulhados
em ácido e, em seguida, foi obrigado a caminhar sobre britas.

Trecho do depoimento de Gregório, ainda na prisão: “Uns três ou quatro
sargentos do Parque de Moto-mecanização, instrumentos inconscientes
daquele verdugo (Villocq), completavam o espancamento com pontapés e
socos por todos os lugares do meu corpo. As pancadas se sucediam no
estômago, no rosto, nos rins, nos testículos, nas costas, nas pernas. Um
grupo de sargentos e soldados, ao longe do pátio do quartel, assistia
aquele quadro de covardia e sadismo sem precedentes, silenciosamente.”

As sevícias foram assistidas pelos transeuntes e moradores de Casa Forte
e só pararam depois de freiras de um convento próximo fazerem queixa ao
próprio Exército e à esposa do vice-governador Eraldo Gueiros Leite, no
exercício do governo após a queda de Arraes. À noite, as cenas foram
exibidas no noticiário da TV Jornal do Commercio Canal 2, imagens que se
perderam no tempo. Gregório foi trancado em uma cela, muito ferido e
preso a correntes. No xadrez continuou apanhando de Villock e seus
homens. O comandante gritava “Eu sou ibadeano” (do IBAD – Instituto
Brasileiro de Ação Democrática, entidade que atuou no golpe) e seus
soldados repetiam, em coro: “Nós também!”. Cenas inacreditáveis se tudo
não constasse do próprio inquérito policial militar.

Gregório Bezerra, o primeiro torturado da ditadura militar brasileira,
ficou preso até 1969, quando foi trocado, junto com outros 13 presos
políticos, pelo embaixador dos Estados Unidos, Charles Burck Elbrick.
Voltou ao Brasil em 1979, com a anistia. Morreu no Recife, aos 83, em
1983. A ele, o poeta Ferreira Gullar dedicou um poema, chamando de
“homem feito de ferro e de flor”.

Gregório ficou na História. Seus torturadores, não. Ninguém se lembra
deles. Nem mesmo os que hoje “festejam” o “movimento de 31 de março”,
como alguns militares insistem em classificar um ato que inaugurou um
dos mais brutais períodos que o País já viveu.

In
BRASIL 247
https://www.brasil247.com/blog/a-tortura-de-gregorio-bezerra-dia-da-vergonha-e-da-covardia
2/4/2021

sexta-feira, 2 de abril de 2021

China: ¿Socialismo o capitalismo

 
 


*KEN HAMMOND,PROFESOR DE HISTORIA DE ASIA ORIENTAL*

*Hacia una comprensión de la economía política histórica de China*

I

La economía política contemporánea de la República Popular China, la
naturaleza del sistema chino, ha sido objeto de mucha discusión y debate
en la izquierda, así como en los círculos académicos, mediáticos y
políticos dominantes. 1

Desde finales de la década de 1970, China ha aplicado políticas de
«reforma y apertura»(gaige kaifang, 改革 開放) para desarrollar su
economía, un proceso que ha tenido como resultado sacar a más de 8000
millones de personas de la pobreza, un crecimiento masivo de la
producción y el surgimiento de China como un actor importante en el
comercio mundial. Al mismo tiempo este proceso ha generado graves
problemas de desigualdad, corrupción y estrés ambiental.

En el corazón de este proyecto ha estado el Partido Comunista, que, a
través de sucesivos de liderazgos, (inicialmente con Deng Xiaoping) ha
decidido utilizar los mecanismos del mercado para desarrollar la
economía productiva.

¿Cómo se debe caracterizar esta situación? ¿Es capitalismo, capitalismo
de estado, socialismo de mercado? 2

Solo se puede dar sentido a la China contemporánea con una comprensión
de la historia económica del país 3 y un análisis materialista histórico
de la naturaleza del orden político económico de China a lo largo de su
historia, especialmente los últimos mil años.

Un compromiso con las complejidades de los sistemas económicos
históricos de China debe tener en cuenta que el pasado chino no estaba
disponible para Karl Marx, por tanto, debe permitirnos ir más allá del
conocido como “modo de producción asiático” y trascender las
limitaciones de las teorizaciones hechas por historiadores en las
décadas de 1950 y 1960. 4

Aplicar las categorías y el método de análisis de El Capital de Marx – y
otros escritos- a la comprensión de la historia moderna temprana de
China nos debe permitir explorar la relevancia de su historia para la
China contemporánea. Este es uno de los objetivos de este ensayo.

Para iniciar, debemos aclarar que desde el período Tang-Song –
aproximadamente en los siglos IX y X – China desarrolló una economía
capitalista comercial que abarcaba un sector manufacturero
principalmente urbano y también reformuló la producción agrícola en gran
parte del imperio.

Se desarrolló una clase dominante que era un híbrido de una élite
terrateniente, establecida desde hace mucho tiempo, y un estrato
comercial moderno temprano, que administraba los asuntos económicos del
país a través de una combinación de la empresa privada y de los
ordenamientos del estado imperial. Durante gran parte del pasado
imperial de China, el estado mantuvo un papel complejo, no siempre
consistente, en los asuntos económicos, buscaba apoyar el sustento de la
gente, promover la prosperidad, limitar las ganancias privadas y regular
las funciones del mercado.

II

La historia registrada de China se remonta a más de 3.200 años y puede
dividirse en cuatro períodos principales: (1) antigüedad, desde el
principio hasta el final del siglo III a. C.; (2) período medio, desde
el siglo II a. C. hasta el siglo X d. C.; (3) período moderno temprano,
desde el siglo X hasta el XVIII; y (4) China moderna, desde finales del
siglo XVIII hasta el presente. 5

A lo largo de la antigüedad, China fue gobernada por una élite de
guerreros que controlaban la tierra y recaudaban tributos de sus
súbditos. La actividad económica era básicamente autosuficiente a nivel
local, con una pequeña capa de comercio de élite de alto valor, centrado
en las cortes reales. Con el tiempo, se desarrolló una élite
administrativa profesional, denominada “literatos”, debido a su dominio
de los registros escritos de la historia y a su cultura literaria. Estos
funcionarios administrativos a menudo fueron recompensados ​​con
concesiones de tierras y, con el tiempo, estas tierras se convirtieron
en propiedad “hereditaria”, aunque el soberano siempre retuvo la
propiedad para el reino. 6

El período intermedio comenzó con la unificación del imperio y la
consolidación del sistema imperial bajo la dinastía Han (202 a. C. – 220
d. C.). Durante ese período, la propiedad privada de la tierra se
convirtió en una realidad práctica, mientras que en teoría las tierras
cultivables siguieron perteneciendo al gobernante, ahora Emperador.

Muchos funcionarios del gobierno obtuvieron posesiones de tierras, y
surgieron asociaciones familiares que se hicieron propietarias de
extensos activos agrícolas. Este proceso largo y complejo condujo a la
formación de grandes latifundios que constituyeron la base de la
influencia política de la clase terrateniente en los últimos gobiernos
de la dinastía Han.

Después del colapso de la dinastía Han en 220, durante los siglos del
período medio, se produjo una fuerte concentración de la riqueza y China
atravesó períodos de división interna que terminó con una nueva
unificación imperial bajo las dinastías Sui y Tang (589–618 y 618–907,
respectivamente).

La aparición de una clase aristocrática al servicio en el gobierno
imperial, permitió a las familias enriquecidas colocar a sus hijos en
cargos oficiales y perpetuar el poder de la élite. Esta clase
aristocrática dominaba efectivamente el estado, lo que le servía para
promover y proteger sus intereses. 7

Junto a las haciendas de las grandes familias existía un sector de
producción agrícola organizado en torno a pequeños propietarios,
gestionado a través de un sistema de tenencia de la tierra mantenido por
el estado imperial, que regularmente redistribuía la tierra a los jefes
de familia masculinos que, a su vez, pagaban impuestos en granos y
productos de tela. El sistema varió en sus detalles en diferentes partes
del imperio, pero fue un ejemplo de supervisión y gestión estatal de la
actividad económica.

Esta supervisión también se extendió a los centros urbanos y los
mercados. La ley imperial restringió el número y la ubicación de los
mercados y estableció controles estrictos sobre sus operaciones. Esta
combinación de propiedades aristocráticas, de pequeñas propiedades
administradas por el estado y de mercados urbanos estrictamente
regulados no fue, en ningún sentido una sistema feudal en su
funcionamiento económico o político.8

En el siglo IX, comenzaron a surgir cambios en las ciudades y el campo
de China. La dinastía Tang había sido profundamente sacudida por la
rebelión de An Lushan (en 755-63) y, la aristocracia establecida desde
hacía mucho tiempo comenzó a declinar. Pero incluso antes de esto, el
éxito del sistema imperial de gestión económica había dado lugar a
conflictos dentro de los actores económicos.

Su potencial de crecimiento y desarrollo excedió los parámetros de la
supervisión estatal, y nuevas fuerzas comenzaron a empujar más allá de
las regulaciones del gobierno. El poder de la élite dominante y el
control del espacio urbano por parte de los supervisores oficiales se
debilitaron.

Los mercados comenzaron a extenderse fuera de las áreas que habían sido
designadas por el estado y a integrarse en las áreas residenciales. La
propiedad privada de las tierras agrícolas se expandió más allá de las
grandes propiedades y las tierras sujetas a distribución gubernamental.

La corte imperial mantuvo un papel en la producción y distribución de
ciertos productos básicos clave a través de monopolios gubernamentales,
una práctica que tuvo sus raíces siglos antes en la dinastía Han. Pero,
el papel general del estado en los asuntos económicos declinó, al igual
que la base de clase del gobierno imperial se alteró dramáticamente.

A finales del siglo IX, nuevas rebeliones destruyeron gran parte de la
riqueza de la élite y la infraestructura institucional que había
legitimado su poder y prestigio. Los campesinos rebeldes atacaron las
propiedades de los ricos, mataron a muchos miembros de la élite y
quemaron los documentos que validaban su estatus.

La caída de los Tang en 907 condujo al caos de las Cinco Dinastías y los
Dieciséis Reinos, con pequeños estados regionales que lucharon por el
poder en guerras interminables, hasta que los hermanos Zhao
establecieron la dinastía Song en 960 y reunificaron el imperio durante
el período subsiguiente. La guerra de esta era de transición abrió el
camino para una transformación del orden económico y político de China.
La vieja aristocracia se había ido. 9

A medida que la dinastía Song (960-1279) consolidó su poder, surgió una
nueva élite, basada, teóricamente, en el mérito a través de la
educación, pero en la práctica era una forma de dominación de los
propietarios de la tierra más enriquecidos. Esta clase proporcionaba los
recursos para la educación de sus hijos en las tradiciones clásicas
confucianas, filosofía que formó la base del sistema de examen civil
imperial y que se convirtió en el principal vector de entrada a la
administración burocrática del imperio.

No todas las familias terratenientes produjeron graduados o funcionarios
gubernamentales. La clase terrateniente era más extensa que el grupo de
“literatos” que formaba parte del personal del estado imperial, y las
relaciones entre los miembros de esta clase en su calidad de élites
locales o como representantes del poder imperial podían ser complejas.
Esta clase a menudo se conoce, tal vez torpemente, como “nobleza”. 10

Esta reconfiguración de la élite terrateniente tuvo lugar junto con el
mayor desarrollo de una economía comercial en China. Los mercados
proliferaron, entretejidos por redes de comercio a larga distancia que
se extendían por todo el imperio y se vinculaban con sistemas globales
fuera de las fronteras. Nuevos contornos de valorización y acumulación
de capital tomaron forma dentro de una economía cada vez más monetizada.

La división del trabajo tanto dentro de las empresas productivas como en
la geográfica regional, así como la innovación tecnológica en curso,
impulsaron mejoras en la productividad. Los nuevos desarrollos en las
operaciones bancarias y financieras facilitaron la movilización y
asignación de capital. 11

Esta es la clave para comprender el período moderno temprano que comenzó
en los siglos IX y X y continuó – con avances y retroceso – a lo largo
de los siguientes ochocientos años, a través de varias dinastías, hasta
el comienzo de la era moderna en el siglo XIX. El surgimiento de la
economía comercial capitalista moderna temprana en China y su desarrollo
durante los años siguientes es lo que debe estudiarse para comprender la
China del «socialismo con características chinas».

III

La “revolución comercial” de China en la dinastía Song ha sido
reconocida desde hace mucho tiempo, comenzando con el trabajo de Naitō
Konan y las investigaciones de Escuela de historiadores marxistas en
Japón (Kioto) en la década de 1930. 12

Pero, las limitaciones intelectuales impuestas por la ortodoxia del
pensamiento económico e histórico estalinista (con una secuencia
escalonada de desarrollo que tenía que aplicarse a todas las sociedades
del mundo) significó que los marxistas no pudieron estudiar a una China
que tuvo un sistema capitalista temprano, existente  antes de la llegada
del imperialismo europeo en el siglo XIX.

China fue vista como parte del modo de producción asiático, un mundo que
había permanecido estático e inmutable, con una forma primitiva de
feudalismo durante tres milenios. 13

La formulación original de Marx del modo de producción asiático se
refería principalmente a la India y se basaba en información parcial y,
a menudo errónea. Su conocimiento de China estaba severamente limitado
tanto, por los prejuicios imperialistas de la mayoría de los
investigadores de la época, como por el diminuto acceso a fuentes en
idioma chino, disponibles en ese momento.

La relevancia de la China contemporánea debería obligarnos a colocar la
economía política moderna temprana del gigante asiático en una
perspectiva más sería. Deberíamos estudiar la organización, la
producción y la circulación de la China moderna temprana en términos
marxistas. 14

En el volumen uno de El Capital, Marx investiga y perfila las
características claves del capitalismo, tal como se había desarrollado
en Europa, particularmente en Inglaterra. En su prefacio a la primera
edición, deja en claro que, si bien se basó principalmente en el
análisis de la dinámica del capital en Occidente, ve estas
características aplicables a una definición más amplia de capitalismo. 15

Comenzando por la producción de mercancías, es decir, la producción para
el intercambio en el mercado, pasa a explicar el dinero como mercancía
universal, el proceso de valorización del capital (MCM ′) basado en la
explotación de la fuerza de trabajo, los mecanismos del trabajo
asalariado, la división del trabajo como medio para maximizar esa
explotación y el imperativo permanente de acumulación del capital. Estos
son elementos claves que definen un modo de producción capitalista. 16

Todos estos factores están presentes en China desde la dinastía Song en
adelante. Los mercados florecieron y proliferaron, entretejidos por
redes de intercambio que se extendieron por el imperio y se vincularon a
sistemas regionales y globales más amplios. La producción de productos
básicos, con sofisticadas divisiones del trabajo tanto en el territorio
como dentro de las empresas, se expandió sistemáticamente.

El crecimiento de la manufactura capitalista de China, que iba desde el
elaborado sistema de industrias textiles de seda y algodón hasta, el
enorme complejo de hornos de cerámica en Jingdezhen (el centro
industrial más grande del mundo antes del siglo XIX) también reformuló
la esfera de la producción agrícola. 17

En China el capitalismo temprano también reformulo la producción
agrícola con un sofisticado sistema de propiedad privada de la tierra.
La compra y venta de bienes inmuebles se llevaba a cabo y se documentaba
mediante el uso de contratos legalmente vinculantes a través del sistema
judicial imperial. 18

La agricultura se comercializó, y la producción para la distribución del
mercado nacional llegó a formar una parte significativa de la producción
en provincias como Sichuan y Hunan. La agricultura de arrendamiento y
los jornaleros agrícolas crecieron en importancia. El trabajo asalariado
y subcontratado era fundamental para el sector manufacturero en Jiangnan
y, en otros lugares, eran los hilanderos, los tejedores y los
trabajadores de cerámica y talladores de impresión en madera. Las
huelgas y otras formas de disturbios laborales eran recurrentes en
ciudades como Suzhou y Wuxi. 19

China es un espacio geográfico grande y complejo, con una variación
considerable y subunidades regionales distintivas, llamadas
macro-regiones 20. Cada una de estas regiones es tan grande como un
estado europeo importante. El capitalismo temprano en China no se
desarrolló por igual en todo el imperio.

Algunas regiones, como el noroeste o el suroeste, estaban mucho menos
desarrolladas comercialmente que otras (como el área de Jiangnan del
delta del río Yangtzé, la costa sureste, el corredor a lo largo del Gran
Canal o el largo valle del Yangtzé).  El capitalismo temprano de China
fue más evolucionado en Jiangnan, donde las redes de producción y
distribución urbanas facilitaron la acumulación y despliegue de capital.

En la historia europea, dada la fragmentación de la autoridad política
en territorios pequeños y conflictivos, la consideración de la economía
de Inglaterra como una unidad de análisis, en oposición a un conjunto
europeo más grande, ha sido la norma. 21

Pues bien, el punto no es que China fuera como Europa (o, propiamente,
al revés, dada la secuencia cronológica de los desarrollos del capital),
sino que los atributos fundamentales del capitalismo, como se explica en
El Capital, también estuvieron presentes, en formas históricas y
culturalmente específicas.

La economía política moderna temprana de China, una forma distintiva del
capitalismo temprano, surgió en la dinastía Song y persistió durante
períodos de crecimiento y contracción a lo largo de las siguientes eras
Yuan y Ming y hasta el final de la dinastía Qing.

Dos aspectos de esta trayectoria histórica son de particular interés
para comprender el curso distintivo de desarrollo que caracterizó la
modernidad temprana de China en contraste con el camino posterior de la
experiencia europea. Uno es el lapso de tiempo, este periodo se extendió
a lo largo de unos ocho siglos; la otra es la naturaleza de la formación
y la interacción de las clases.

IV

La modernidad temprana en China no fue un proceso lineal que condujera a
una economía industrial completamente moderna. El capitalismo chino
temprano, a pesar de atravesar períodos de crecimiento y transformación
dinámicos, siguió siendo esencialmente un capitalismo comercial al nivel
de la manufactura, como se describe en el capítulo 14 del primer volumen
de El capital. 22

Era un sistema de producción más complicado que simples actividades
artesanales de los hogares, salvo en el caso especial de la ciudad de
los hornos de Jingdezhen, no existían empresas industriales a gran
escala. La producción se llevaba a cabo a través de complejas redes de
relaciones sociales, en talleres y hogares.

Mientras que la distribución fue administrada por redes de comerciantes
que se extendían por múltiples provincias interconectadas, los
mecanismos financieros del crédito y la banca facilitaron el comercio a
larga distancia 23. Estas características estructurales surgieron por
primera vez en la dinastía Song y se refinaron en las dinastías Ming y
Qing. Pero, el curso de la vida económica, como la historia de China en
general, no transcurrió mediante un progreso dócil y tranquilo.

En el siglo XII, los Song perdieron el control de la mitad norte del
imperio ante los invasores del noreste llamados Jurchen, quienes
establecieron su propia dinastía. En el siglo XIII, el ascenso de los
mongoles sumió al resto del Sur en una guerra de resistencia de décadas
que terminó con el colapso de la dinastía y la creación del reino del
Yuan, en manos de los mongoles.

Estas guerras, y las políticas a menudo anticomerciales de los mongoles
durante su gobierno, causaron una gran destrucción en la economía de
China. Los mongoles se dedicaron al comercio internacional de alto
valor, pero la economía interna declinó durante el siglo que estuvieron
en el poder, aunque la región de Jiangnan más desarrollada parece haber
tenido mejores resultados que otras partes del imperio.

Cuando se fundó la dinastía Ming en 1368, después de que China central
hubiera sido devastada por enfermedades y rebeliones que derrocaron al
Yuan, el primer emperador fue activamente contrario a la riqueza
mercantil y promovió una visión fisiocrática de la sociedad basada en la
pequeña propiedad de la tierra y en la autonomía y suficiencia local.
Aunque, por otro lado, la red de carreteras del propio imperio facilitó
el resurgimiento del comercio de larga distancia 24.

Los siglos XV y XVI vieron un resurgimiento dramático del capitalismo
temprano ya que la producción y el comercio florecieron y la demanda
internacional de productos chinos como té, porcelana y textiles de seda
y algodón trajo cantidades cada vez mayores de plata (primero de Japón y
luego desde las minas del imperio español del Nuevo Mundo) a través del
comercio de galeones desde Manila. 25

Las innovaciones tecnológicas impulsaron mejoras en la productividad y
la calidad hicieron que las manufacturas chinas fueran cada vez más
populares en los mercados globales. Pero a mediados del siglo XVII, las
contradicciones dentro de la sociedad llevaron al colapso de la dinastía
Ming, y una nueva invasión de una coalición no china liderada por los
manchúes tomó el poder e instaló la dinastía Qing en 1644. En el siglo
XVIII China logra recuperarse de los traumas de la transición dinástica
y sobreviene una era de prosperidad capitalista temprana 26.

En 1793, el rey británico Jorge III envía una misión diplomática a
China, encabezada por Lord George McCartney, para buscar nuevas
relaciones comerciales. En ese momento el emperador permite a los
extranjeros comerciar con un sistema regulado en el puerto de Guangzhou,
conocido por los occidentales como Cantón, en el extremo sur del
imperio. Los británicos, imbuidos de la nueva ideología del libre
comercio y en la cúspide de su Revolución Industrial, decidieron exigir
a China abrir más puertos y permitir una presencia diplomática
permanente en Beijing.

El emperador Qianlong rechazó estas solicitudes y recordó a los
británicos- en una carta al rey Jorge – que China tenía todo lo que
necesitaba dentro de sus fronteras y no deseaba los productos inferiores
de Occidente. Pero, aunque se mantuvo esta política, una combinación de
factores nacionales e internacionales estaba a punto de poner fin a la
temprana era capitalista moderna de China.

Los límites de la agricultura para sostener un crecimiento demográfico
continuo comenzaron a erosionar los niveles de vida, el auge de la
economía industrial moderna de Inglaterra trajo bienes baratos que
compitieron exitosamente con los productos domésticos de China y la
fuerza militar británica obligó al gobierno Qing a abrir la nación al
imperialismo occidental. Comenzaba una nueva era.

V

El capitalismo moderno temprano en China perduró durante siglos, con
períodos de expansión y contracción, pero con una tracción persistente
hacia una mayor sofisticación y productividad, y con la acumulación de
riqueza derivada de la extracción de plusvalía de la fuerza de trabajo,
de hecho, el capitalismo temprano revivió después de cada era de
destrucción.

Este largo proceso generó un estrato adinerado de comerciantes e
inversionistas, en su mayoría de residencia urbana – distintos de la
élite tradicional de terratenientes- que, a través de su dominio del
sistema de exámenes del servicio civil confuciano, controlaban los
ordenamientos del gobierno imperial.

Dentro del campo discursivo del pensamiento confuciano existía una
fuerte tradición de aversión a la riqueza comercial y falta de respeto
por quienes vivían de las ganancias del comercio. Los comerciantes y sus
hijos (y nietos) estaban legalmente excluidos de la participación en el
sistema de exámenes y, por tanto, del poder político.

Con el surgimiento del capitalismo temprano y de una élite comercial
adinerada, estas ideas comenzaron a ser desafiadas y trasformadas por
algunos intelectuales. Este cambio en la cultura política, fue impulsado
por los intereses materiales de los productores agrícolas y
manufactureros.27

Si bien los comerciantes nunca llegaron a tener un papel igualitario en
el sistema de exámenes (el estatus político de la élite literaria /
noble) una convergencia de intereses impulsó un lento proceso de ajuste
cultural que creó una clase híbrida más compleja que una élite basada
puramente en la tierra o el comercio.

A medida que la economía de China se volvió más diferenciada -con la
especialización regional en la producción de ciertos productos básicos y
el consiguiente crecimiento del comercio a larga distancia tanto de
productos manufacturados como de alimentos- la agricultura
comercializada se volvió cada vez más rentable y las familias de
terratenientes buscaron nuevas formas de invertir su riqueza.

Como los comerciantes e inversores en actividades manufactureras
generaban riqueza, muchos miembros de la élite comercial buscaron
posicionarse socialmente como iguales a los literatos / aristócratas, en
estatus y prestigio al participar en el patrocinio de establecimientos
religiosos, actividades culturales como colecciones de arte, bibliotecas
o, construcción de grandes mansiones. 28

El encuentro de los intereses de las élites terratenientes y de los
comerciales se produjo a través del proceso de inversión en actividades
económicas. Los miembros de la élite literaria / noble dirigieron parte
de su riqueza a los negocios de comerciantes y fabricantes, y
compartieron las ganancias de esas empresas.

Estas estrategias económicas dieron como resultado una convergencia de
intereses más que una relación de antagonismo. Esto es, en cierto modo,
un marcado contraste con la historia del conflicto de clases entre la
burguesía en ascenso y la aristocracia feudal en Europa, pero no deja de
tener un paralelo. De hecho, en una reseña de 1850 de un libro sobre la
Revolución inglesa del siglo XVII del político francés François Guizot,
Karl Marx describió una convergencia similar de intereses de clase:

/Esta clase de grandes terratenientes aliados con la burguesía … no
estaba, como los terratenientes feudales franceses de 1789, en conflicto
con los intereses vitales de la burguesía, sino en completa armonía con
ellos. De hecho, sus propiedades no eran propiedad feudal sino burguesa.
Por un lado, proporcionaban a la burguesía industrial la población
necesaria para operar el sistema manufacturero y, por otro, estaban en
condiciones de elevar el desarrollo agrícola a un nivel correspondiente
al de la industria y el comercio. De ahí sus intereses comunes con la
burguesía, de ahí su alianza. 29/

La convergencia de intereses entre la nobleza terrateniente y la élite
industrial y comercial en parte urbana de China persistió, y se
profundizó, a lo largo de los primeros tiempos modernos. Por supuesto,
ambos lados de las clases dominantes, se dedicaron a la extracción de
plusvalía de los trabajadores, ya sea en granjas, talleres, hogares o en
el mercado. Esta hibridación también se reflejó en el pensamiento
económico y la política gubernamental.

El estado imperial, aunque no era un firme defensor de los intereses
comerciales, a menudo desempeñaba un papel en la vida económica
beneficiando tanto a la fabricación como al intercambio. En este sentido
la construcción, las carreteras y canales eran un factor decisivo para
facilitar el crecimiento del comercio de larga distancia.  

La intervención del gobierno en algunos mercados de productos básicos
críticos, especialmente cereales. 30 varió a lo largo del tiempo, pero
siempre fue compleja y ciertamente podría ser calificada de polémica.

Fundamental para la cultura política confuciana de China era la idea de
que el propósito principal del estado era crear y mantener condiciones
de estabilidad y seguridad que permitieran a la gente obtener el
sustento en una sociedad moderadamente próspera. Los debates sobre la
mejor manera de lograr este ideal podrían ser intensos, y en varios
momentos predominaron diferentes orientaciones políticas, pero el papel
activo del estado en la vida económica siempre fue parte de esta mixtura.

*/El proceso de cambio intelectual y cultural fue más allá del ámbito
puramente económico./*

En el prefacio de Contribución a la crítica de la economía política,
escrito en 1859, Marx señala que, /en la producción social de su
existencia, los hombres entran en relaciones definidas y necesarias, que
son independientes de su voluntad, es decir, relaciones de producción
correspondientes a una determinada etapa de desarrollo de sus fuerzas
materiales de producción. La totalidad de estas relaciones de producción
constituye la estructura económica de la sociedad, el fundamento real
sobre el que surge una superestructura jurídica y política y al que
corresponden determinadas formas de conciencia social/. 31

En China, a medida que el capitalismo temprano se desarrollaba, a partir
de la dinastía Song en adelante, también se formaron nuevas “formas de
conciencia social” que reflejaban estas nuevas realidades materiales.
Esto se hizo especialmente evidente en la dinastía Ming, ya que una
nueva cultura mercantil, basada en elementos del pensamiento confuciano,
articuló la hibridación de la sociedad de élite de China.

La integración de elementos de élite basados ​​en la manufactura y el
comercio con los literatos / aristócratas establecidos produjo nuevas
ideas que revelaron la influencia mutua con nuevas creencias y
comportamientos culturales.

El pensamiento confuciano fue influenciado por la cultura de mercado,
como lo ejemplifica el surgimiento de «libros de méritos y deméritos»,
una forma de contabilidad moral en la que los individuos elaboran
balances de su conducta, o en la producción de manuales de práctica
empresarial que buscaban navegar la compleja relación entre la búsqueda
de ganancias y el mantenimiento de relaciones sociales adecuadas de
comunidad y estabilidad .32

La forma de capitalismo que surgió en China durante el período moderno
temprano estuvo marcada por formas distintivas de relaciones de poder.
En lugar de desarrollar una contradicción antagónica entre una clase
burguesa urbana de comerciantes y fabricantes y una aristocracia feudal
conservadora de terratenientes, China desarrolló una élite híbrida en la
que los intereses de terratenientes y comerciantes convergieron y
funcionaron como la clase dominante a través de los instrumentos legales
establecido por el estado imperial.

El itinerario histórico de China no condujo a una revolución burguesa
que tomara el poder, sino que produjo un equilibrio de fuerzas e
intereses de clase que permaneció hegemónico a través de repetidas
transiciones dinásticas y que moldeo las políticas y prácticas del
estado imperial.

Al gobierno se le encomendó, como mínimo, la tarea de proporcionar la
seguridad y la estabilidad necesarias para que las personas pudieran
obtener sus medios de vida, aunque, el estado imperial, en más de una
ocasión, desempeñó un papel proactivo en la vida económica.

Los monopolios gubernamentales en ciertos productos básicos críticos se
utilizaron para amortiguar algunos de los excesos de la oferta y la
demanda y restringieron la búsqueda de ganancias por parte del capital
privado. Se realizaron intervenciones en los importantísimos mercados de
cereales para sostener a los consumidores en épocas de malas cosechas y
escasez. El estado imperial no era un actor mercantilista.

VI

Esta comprensión del pasado de China puede ayudar a iluminar algunos
aspectos de las formaciones económicas y políticas contemporáneas del
país. China es hoy una sociedad que emerge de un largo período de
humillación y opresión a manos del imperialismo occidental, de agitación
de décadas de conflicto revolucionario y de la devastación y muerte
producida por la invasión y ocupación japonesa de 1937 a 1945.

*/El orden moderno temprano de China fue incapaz de enfrentar la
intrusión y la dominación extranjera./*

 A fines del siglo XVIII, el imperio Qing había comenzado a enfrentar
serios desafíos económicos, con el crecimiento de la población empujando
los límites de la producción agrícola dentro de los sistemas
establecidos de tenencia de la tierra y de las tecnologías productivas.

Mientras tanto, en Europa la revolución Industrial desataba inmensas
capacidades productivas y nuevas y poderosas capacidades militares que,
combinadas con la ideología del libre comercio promovida por los
imperativos competitivos de la producción capitalista (y las ideas de
Adam Smith y otros economistas políticos) transformaron primero la
economía británica y luego al de Europa.

Se impuso, entonces, una ola de expansionismo colonialista que
reconfiguró fundamentalmente el orden económico y político global.

El capitalismo comercial chino, de larga data, sucumbió rápidamente a la
competencia extranjera. El capitalismo industrial europeo reconfiguró
las relaciones globales, creando una división planetaria del trabajo
dentro de la cual China asumió un papel subordinado, como fuente de
materias primas y como mercado de productos manufacturados europeos.

El capital occidental y los gobiernos nacionales que lo servían
desarrollaron y mantuvieron su poder sobre la base del monopolio de las
tecnologías productivas industriales. Este sistema colonial, que incluía
una posición semicolonial de China, se mantuvo hasta que la Unión
Soviética comenzó a desarrollar su propia capacidad industrial en la
década de 1920.

En el periodo de dominación occidental en el campo chino, la élite
terrateniente mantuvo gran parte de su poder y preeminencia cultural,
pero, incluso allí, la riqueza disminuyó y la inestabilidad erosionó la
cohesión social.

El sistema imperial se tambaleó hasta su colapso final a principios del
siglo XX, y siguieron casi cuatro décadas de conflicto político e
invasión extranjera, que destruyó innumerables vidas y empobreció al
país. En ausencia de un gobierno nacional coherente, la extracción de
excedentes de la producción agrícola por parte de las élites locales se
intensificó mediante impuestos de caudillos y de las prácticas corruptas
del régimen nacionalista del Kuomintang. La invasión japonesa de 1937 y
la guerra de resistencia que duró hasta 1945 trajeron más destrucción a
la China tanto urbana como rural.

Solo con el triunfo de la revolución liderada por el Partido Comunista y
el Ejército Rojo se puso en marcha la construcción de una nueva China
moderna. La reforma agraria, entre 1948 y 1952, eliminó los últimos
vestigios de la vieja clase terrateniente y creó las condiciones para
construir una nueva agricultura basada en la propiedad colectiva y el
desarrollo planificado 33.

La economía industrial se nacionalizó por etapas comenzó a crecer
mediante el despliegue de la manufactura de acuerdo con los planes
quinquenales desarrollados desde mediados de la década de 1950 en adelante.

Los experimentos con diversas formas de gestión industrial buscaron
nuevas formas de contribuir al desarrollo de una economía socialista
moderna 34. La ayuda y asistencia técnica de la Unión Soviética y de los
estados socialistas de Europa del Este fue crucial en la primera década
de la República Popular. China pudo comenzar a desarrollar un sector
industrial moderno distinto al del monopolio occidental.

El camino de la construcción socialista fue polémico y las profundas
divisiones sobre la mejor manera de avanzar llevaron a décadas de
conflicto dentro del partido y en la sociedad. Los años desde 1949 a
1979 fueron testigos de éxitos y fracasos, avances y retrocesos.

Se lograron mejoras dramáticas en la salud pública, con un aumento
significativo de la esperanza de vida promedio, mientras que la
mortalidad infantil disminuyó. La infraestructura nacional en transporte
y comunicaciones se expandió masivamente, al igual que los embalses y
otros recursos hidráulicos, y el crecimiento económico promedió más del
3 por ciento por año. Se proporcionaron servicios sociales básicos y se
extendió la educación a la absoluta mayoría del país. 35

No obstante, en 1979 China seguía siendo un país pobre, ya que el
crecimiento de la población anuló algunos de los aumentos en la
producción y el enfoque en la industria pesada y la infraestructura
mantuvo el consumo de los hogares en niveles básicos.

En una serie de decisiones a fines de la década de 1970 y principios de
la de 1980, el Partido Comunista decidió emprender un camino de “reforma
y apertura al exterior”

(改革 開放) con el objetivo de desarrollar rápidamente la economía y
reorientar la producción, tanto para satisfacer las necesidades de los
consumidores nacionales como para crear un sector exportador que
generara un mayor crecimiento a través de las ganancias y la acumulación
de divisas.

En el centro de este proceso estaba la decisión de utilizar los
mecanismos del mercado para desarrollar la economía productiva. En otras
palabras, una cierta cantidad de capital privado podría funcionar dentro
de la economía, en conjunto o en paralelo con las empresas estatales y
otras formas de industria y agricultura socialistas. El capital
extranjero sería bienvenido a empresas conjuntas, inicialmente limitadas
a zonas económicas especiales, pero eventualmente extendiéndose al país
en general.

No se trataba de un cheque en blanco para una nueva clase capitalista.
La decisión de adoptar el uso de los mercados como motor del desarrollo
se basó en el papel clave del Partido Comunista en el sistema político y
económico de China. El partido continúo siendo la fuerza rectora de la
política y la práctica, y supervisaría el progreso del país hacia un
nivel de prosperidad que pudiera satisfacer las necesidades de todas las
personas y generara un orden social más equitativo. Esta es la visión
que se definió como “socialismo con características chinas” ( Zhongguo
tese shehui zhuyi , 中國 特色 社會主義). 36

Aunque no sin deficiencias y contradicciones, la economía de China entró
en una era de notable expansión como resultado de estas políticas y
prácticas. Las tasas de crecimiento de la economía china a menudo
excedieron el 10 por ciento durante las siguientes tres décadas y, en
los años anteriores a COVID, siguió  creciendo en más del 6 por ciento
anual.

La capacidad productiva se expandió rápidamente y se adquirieron
tecnologías modernas, en parte mediante asociaciones de empresas
conjuntas con capital extranjero. China también comenzó a invertir
fuertemente en investigación y desarrollo, para avanzar en innovación
tecnológica y reducir los insumos extranjeros. Cientos de millones de
personas salieron de la pobreza, los niveles de vida aumentaron
drásticamente y China emergió en el escenario mundial como un actor cada
vez más importante en la escena internacional.

La economía de China hoy en día es un híbrido de empresas estatales y
otras empresas de propiedad colectiva, que van desde grandes entidades
nacionales hasta fábricas o talleres a nivel de región o municipio
(alrededor del 45 por ciento de la propiedad de los activos), y un
sector privado que incluye tanto empresas nacionales como empresas
conjuntas internacionales (alrededor del 35 por ciento de la propiedad
de los activos). Otro 20 por ciento de las empresas se ubica en una zona
intermedia, con una combinación de propiedad pública y privada 37.

Las empresas estatales, tanto a nivel central como local, forman el
núcleo de la economía productiva y la infraestructura, predominan
también en la banca y las finanzas y son la principal fuente de ingresos
del gobierno, pero el sector privado también ha asumido proporciones
importantes, con una serie de corporaciones de clase mundial que
desempeñan papeles de liderazgo, con un número importante de
multimillonarios.

El sector privado representa actualmente un poco más de la mitad de todo
el empleo en la industria, más del 40 por ciento de la población todavía
vive y trabaja en el sector agrícola y la tierra sigue siendo propiedad
del estado y se alquila a los campesinos. La producción tanto del sector
industrial como agrícola, tanto en empresas públicas como en privadas,
está orientada por los equilibrios del mercado.

El fundamento de las políticas de reforma puede entenderse en parte
dentro de los parámetros teóricos de la experiencia marxista y
leninista. En el Manifiesto Comunista y en muchos otros escritos, Karl
Marx y Frederick Engels fueron claros sobre el poder de los mercados
capitalistas para impulsar la innovación y el desarrollo. También, Lenin
recurrió a los mecanismos de mercado con las Nueva Política Económica
(NEP) en los años posteriores a la Guerra Civil en Rusia.

Sin embargo, el poder de los mercados siempre amenaza con convertirse en
un monstruo feroz, como el demonio conjurado por el aprendiz de brujo.
Es por eso que la escrupulosa supervisión del Partido Comunista es
fundamental para el futuro de China. 38

En una discusión sobre el desarrollo de las políticas de reforma en
noviembre de 2013, Xi Jinping expuso la posición del partido: /“En 1992,
el XIV Congreso Nacional del Partido estipuló que la reforma económica
de China tenía como objetivo establecer una economía socialista,
permitiendo que el mercado desempeñara un papel en la asignación de
recursos bajo un macro-control estatal «.  /

/A continuación, agregó: “todavía hay muchos problemas. El mercado
carece de orden y mucha gente busca beneficios económicos por medios
injustificados. Debemos consolidar y desarrollar inquebrantablemente la
economía pública, persistir en el papel de liderazgo de la propiedad
pública, dar mayor importancia al papel de la economía estatal y
aumentar incesantemente su vitalidad, levantando su poder y fuerza». 39/

En los últimos años, el partido y el gobierno han llevado a cabo una
agresiva campaña contra la corrupción, han ampliado la supervisión
regulatoria de la industria y de las finanzas (tanto en el sector
público como privado) y han promovido los valores socialistas. Estas
políticas y prácticas sugieren la complejidad y el dinamismo de la
relación entre el partido, el Estado y los actores económicos privados.

Bajo las políticas de reforma, China ahora tiene capitalistas, pero no
tiene una clase capitalista que pueda controlar el estado y moldearlo
según sus propios intereses. Los efectos prácticos del liderazgo del
partido se pueden ver en las formas en que los aspectos dañinos de la
economía capitalista están siendo amortiguados y restringidos en la
actualidad.

China continúa dedicando importantes recursos a la eliminación de la
pobreza, un punto de referencia es el reciente logro en la provincia de
Guizhou. En noviembre de 2020 los municipios, que se habían quedado
atrás, salieron definitivamente de la pobreza.

Es cierto que China debe seguir mejorando los medios de vida de su
pueblo, pero está haciendo un progreso constante en esa dirección. Se
están abordando los graves problemas ambientales, que alcanzaron su
punto máximo en la primera década del siglo XXI. (40)

China también está desarrollando una cultura de lo que a veces se llama
«empresarios patrióticos»: capitalistas que entienden que, en el
socialismo con características chinas, tienen un lugar un híbrido de
mercados y planificación, una mezcla de lo público y lo privada, y que
los empresarios tienen la obligación de contribuir al desarrollo no solo
de sus propias empresas, sino al mejoramiento de los medios de vida de
la población 41. El trabajo del Departamento del Frente Unido del
partido se ha ampliado en los últimos años para gestionar con eficacia
la relación entre el partido y otros elementos sociales y políticos 42.

Ahora con mayor intensidad, el partido y el estado están aplicando
políticas y acciones prácticas para dirigir los recursos sociales hacia
un mayor desarrollo, y un programa de política cultural para asegurar
que las operaciones del capital privado estén integradas dentro de los
objetivos generales del desarrollo socialista.

Los trabajadores en China no están obligados a vender su fuerza de
trabajo en el mercado. El sistema de propiedad socialista asegura que
todos en China tienen recursos económicos suficientes para su
mantenimiento. Todas las personas están censadas lo que permiten que
tengan acceso gratuito a la educación, a la atención médica y a la
tierra de su lugar de origen

La importancia de este mecanismo de seguridad social se demostró durante
la crisis de 2008. La caída de la demanda de bienes producidos y
exportados desde China, dejo sin empleo a unos veinte millones de
trabajadores en fábricas de Shenzhen y Shanghái. Sin embargo, estos
trabajadores no fueron abandonados a su suerte, porque siguieron
teniendo derecho al apoyo del sistema socialista y regresaron a sus
aldeas de origen para trabajar con sus familiares. La provisión o
“dedibao” (低保), un ingreso básico de apoyo en las zonas rurales,
sirvió para salvar el período de desempleo causado por la crisis mundial.

Después de la crisis, con el aumento de la demanda internacional de
productos chinos la actividad se recuperó y los trabajadores regresaron
a su antiguo empleo o buscaron nuevas oportunidades, ninguno se vio
reducido a la pobreza.

Los trabajadores también utilizan los mecanismos de la legalidad
socialista para defender sus intereses económicos dentro de una economía
en rápido desarrollo.

La Federación de Sindicatos de China ejerce habitualmente los derechos
de protesta, petición y litigio. También utiliza los tribunales para
abordar cuestiones que van desde los salarios, las condiciones
laborales, los peligros de la contaminación ambiental hasta la
corrupción y el abuso de poder por parte de funcionarios.

Más allá de las batallas de la Federación Sindical, los trabajadores
chinos han sido militantes en la defensa de sus intereses a través de
protestas y huelgas. Los trabajadores se toman la ley y sus derechos en
serio y participan regularmente en acciones directas para defender sus
intereses 43.  En la practica tanto el Gobierno como el Partido
Comunista sirven para contener los excesos y abusos de los elementos
capitalistas y para mantener el papel central de la clase trabajadora en
la vida económica y social.

Todo esto no quiere decir que el capital no esté actuando por
motivaciones económicas, ni que la fuerza de trabajo no genere
plusvalía. En esta etapa del proceso de desarrollo, con aspectos
capitalistas se mantiene la obtención de ganancias privadas.

Esto es parte del trato, parte del experimento en el que se embarcó el
Partido Comunista para desarrollar la economía productiva y acumular
riqueza para conducir un socialismo con una «sociedad moderadamente
próspera» (小康 社會) , la primera etapa para lograr el nivel de
abundancia que necesita una sociedad  comunista. Hay riesgos y desafíos
en este camino.

El crecimiento que se ha logrado no ha estado exento de costes. El uso
de mecanismos de mercado implicó la aceptación de las contradicciones
inherentes a su funcionamiento. La desigualdad en el país ha aumentado
drásticamente, la contaminación ambiental se convirtió en un problema
grave, dañando la salud de las personas y socavando la calidad de vida.

El Partido Comunista ha realizado grandes esfuerzos para abordar estas
contradicciones, pero ha mantenido el camino de la reforma. El proceso
de experimentación e innovación que se ha desarrollado en el transcurso
de la era de la reforma a veces se denomina “cruzar el río tocando las
piedras” (mozhe shitou guohe, 摸著 石頭 過河).

En su libro La transformación del socialismo chino, Lin Chun escribe:
«no es una tarea fácil usar al mercado para vencerlo ¿Podría el capital
privado ser simultáneamente «social» y servir a los intereses públicos?
¿Podría un mercado así, eventualmente, superar al mercado capitalista
mundial? Al plantear estas preguntas, debemos reconocer una obviedad,
incluso una sociedad socialista no puede evitar utilizar el capital… sin
embargo, la diferencia entre capital y capitalismo indica la posibilidad
de evitar que la lógica del lucro colonice la esfera política, social y
cultural de la sociedad En otros términos, el resultado del experimento
chino con la construcción de una economía de mercado socialista sigue
siendo una cuestión abierta al debate histórico”. 44

El notable éxito de China para hacer frente a la pandemia de COVID-19 y
movilizar todos recursos para abordar la salud pública como un derecho
humano, en contraste con las catastróficas fracaso de los sistemas de
atención médica capitalista de los Estados Unidos y Occidente, sugiere
que, si bien queda mucho trabajo por hacer, es posible que China se
encuentre en el camino hacia la modernidad socialista. Echar una mirada
a la historia de la República Popular desde 1949 ofrece una visión de
las complejidades de la búsqueda de China de un sistema socialista
industrial moderno.

VII

Otra forma de considerar la era de reformas actual y la naturaleza de la
economía política china del siglo XXI es desde la perspectiva de la
historia del capitalismo temprano en este país. Las «características
chinas» de este socialismo pueden entenderse, en parte, como una
reorganización estructural y cultural que retoma las tradiciones
sociales antiguo cuño.

La compleja dialéctica de la China actual que junto con animar también
restringe los mercados recuerda de alguna manera la hibridación de los
agentes económicos públicos y privados en la era Song-Qing o dicho de
otra manera, la formación de una conciencia política y económica
culturalmente específica dentro del amplio campo del pensamiento y los
valores confucianos.

Esto no significa que la República Popular sea simplemente una nueva
versión del viejo imperio. Al contrario, significa que la política en la
China imperial y el actual “socialismo de mercado” constituyen dos modos
de producción distintos que pueden entenderse mejor desde el punto de
vista del materialista histórico. Para esto es necesario analizar los
procesos globales de la económica política china y las corrientes
profundas que nos muestran una continuidad histórica en la vida material
y cultural del gigante asiatico.

La diferencia clave es, por supuesto, la naturaleza de clase del estado,
en la época imperial era el instrumento de dominio de clase de la élite
gobernante terrateniente y comercial, pero que hoy, con el papel del
Partido Comunista, el estado es en realidad comité de dirección para la
construcción de un nuevo orden social basado en los intereses y deseos
de la clase trabajadora. Esto sigue siendo un trabajo en progreso, ya
que la historia continúa avanzando.

Apreciar las especificidades de la historia de China dentro del marco
general de una perspectiva materialista histórica nos permite ir más
allá de una plantilla universal de la modernidad capitalista y los
heterogéneos caminos hacia el socialismo. Este modo de análisis nos
debería permitir entender la complejidad de las diversas etapas de la
sociedad china.

La perspectiva analítica derivada de El Capital – y de otros escritos de
Marx – no significan que debamos encontrar la misma totalidad en todos
los lugares para poder aplicar una definición precisa del capitalismo y
encajar la experiencia de diferentes pueblos en diferentes lugares. Una
aplicación matizada de los métodos de Marx a las particularidades del
lugar y del tiempo produce resultados de utilidad práctica tanto en la
comprensión del pasado como en el compromiso con los desarrollos
políticos contemporáneos.

*Notas*

↩ Véase, por ejemplo, Yan Xuetong, Leadership and the Rise of Great
Powers (Princeton: Princeton University Press, 2019); Zhang Weiwei, The
China Wave: Rise of a Civilizational State (Hackensack, Nueva Jersey:
World Century Publishing, 2012); Yukon Huang, Cracking the China
Conundrum: Why Conventional Economic Wisdom is Wrong (Oxford: Oxford
University Press, 2017); Wang Hui, el siglo XX de China (Londres: Verso,
2016); Charles Horner, Rising China and Its Postmodern Fate (Athens, GA:
University of Georgia Press, 2009).

↩ El argumento de que China ha capitulado ante un sistema capitalista se
ha formulado muchas veces desde el comienzo de la era de las reformas.
Véase, entre otros, William Hinton, The Great Reversal: The
Privatization of China, 1978-1989 (Nueva York: Monthly Review Press,
1990); Eli Friedman, «Por qué China es capitalista: hacia un
antiimperialismo antinacionalista», Spectre, 15 de julio de 2020.

↩ Se proporciona una descripción básica en Richard von Glahn, The
Economic History of China: From Antiquity to the Nine 19th Century
(Cambridge: Cambridge University Press, 2016).

↩ Para una buena descripción en inglés de la escritura china sobre el
modo de producción asiático durante la década de 1980, véase Timothy
Brook, The Asiatic Mode of Production in China (Armonk, NY: ME Sharpe,
1989). La erudición china sobre historia económica y la cuestión de los
“brotes del capitalismo” incluye, entre otras cosas, 傅 衣 凌。 明清 時
代 商人 及 商業。。 北京 : 中華書局 , 2007 ; 李伯 重。 多 視角 看 江
南 經濟 ((1250– 1850) , 北京 : 三聯 書局 , 2003 ; 萬 明 , 主編。
晚 明 社會 變遷 : 問題 與 研究。 北京 : 商業 印書館 , 2005.

↩Gran parte de los escritos sobre la historia de China se siguen
organizando sobre la base de las dinastías imperiales. Las categorías
más amplias son útiles para comprender las tendencias y los desarrollos
a largo plazo, pero no existe un consenso sobre la terminología
adecuada. La mayoría de los eruditos aceptan el término antigüedad, pero
algunos continúan refiriéndose al período medio como medieval, mientras
que el término moderno temprano es adoptado por un número creciente de
eruditos, pero con diferentes definiciones de período. Algunos continúan
prefiriendo el término imperial tardío para este período. Para una
discusión crítica de la periodización y una caracterización de los
últimos mil años de la historia china, ver Richard von Glahn, “Imagining
Premodern China”, en The Song-Yuan-Ming Transition in Chinese History,
ed. Paul Jakov Smith y Richard von Glahn (Cambridge, MA: Centro de Asia
de la Universidad de Harvard, 2003), 35–70.

↩ Hsu Cho-Yun, China antigua en transición: un análisis de la movilidad
social, 722-222 a. C. (Stanford: Stanford University Press, 1965).

↩ Zhang Chuanxi, “Crecimiento de la economía feudal”, en La historia de
la civilización china: Qin, Han, Wei, Jin y las dinastías del norte y
del sur (221 a. C.-581 d. C.), ed. Yuan Xingpei, Yan Wenming, Zhang
Chuanxi y Lou Yulie (Cambridge: Cambridge University Press, 2012),
139–95. El uso del término feudal en el título de este capítulo refleja
la continua influencia de las ortodoxias de la era soviética.

↩ Joseph P. McDermott y Shiba Yoshinbu, “Economic Change in China,
960–1279”, en The Cambridge History of China, vol. 5, parte 2, Sung
China, 960–1279, ed. John W. Chaffee y Denis Twitchett (Cambridge:
Cambridge University Press, 2015), 321–436.

↩ Nicolas Tackett, La destrucción de la aristocracia china medieval
(Cambridge, MA: Harvard University Asia Center, 2014).

↩ El uso del término nobleza es problemático, dada su derivación de la
historia social europea, pero está convencionalmente establecido en la
historia china anglófona y se retiene aquí junto con los literatos para
delinear la naturaleza dual de la élite terrateniente como local e imperial.

↩ Shiba Yoshinobu, Comercio y Sociedad en China Sung (Ann Arbor: Centro
de Estudios Chinos, 1992); William Guanglin Liu, The Chinese Market
Economy, 1000–1500 (Albany: SUNY Press, 2015); McDermott y Shiba,
«Economic Change in China, 960-1279».

↩ Joshua A. Fogel, Política y sinología: el caso de Naitō Konan
(1866-1934) (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1984).

↩ Joseph Stalin, “Materialismo dialéctico e histórico” y otros escritos
(Graphyco, 2020).

↩ Los esfuerzos anteriores para situar a China en relación con el
desarrollo europeo del capitalismo se resumen en Timothy Brook y Gregory
Blue, eds., China and Historical Capitalism: Genealogies of Sinological
Knowledge (Cambridge: Cambridge University Press, 1999). Véase también
David Faure, China and Capitalism: A History of Business Enterprises in
Modern China (Hong Kong: Hong Kong University Press, 2006). Para una
exploración de la historia del capitalismo a nivel global, utilizando
definiciones no marxistas que incluyen derechos de propiedad privada,
contratos exigibles por terceros, mercados con precios receptivos y
gobiernos de apoyo, consulte Larry Neal y Jefferey G. Williamson, The
Cambridge History del capitalismo, vol. 1, The Rise of Capitalism: From
Ancient Origins to 1848 (Cambridge: Cambridge University Press, 2014).

↩ Los estudios recientes han destacado las formas en que Marx también
articuló, en El Capital, los Grundrisse y en otros lugares, el
reconocimiento de que el curso de la historia y el desarrollo económicos
europeos no era el único o inevitable camino para todas las sociedades
del mundo. Kevin B. Anderson, Marx en los márgenes: sobre nacionalismo,
etnicidad y sociedades no occidentales (Chicago: University of Chicago
Press, 2016); Marcello Musto, Los últimos años de Karl Marx, una
biografía intelectual (Stanford: Stanford University Press, 2020).

↩ Karl Marx, El capital: una crítica de la economía política, vol. 1
(Londres: Penguin Books, 1990).

↩ Sobre el complejo industrial de Jingdezhen, véase Anne Gerritsen, The
City of Blue and White: Chinese Porcelain and the Early Modern World
(Cambridge: Cambridge University Press, 2020).

↩ Valerie Hansen, Negociando la vida cotidiana en la China tradicional:
cómo la gente común usaba los contratos, 600–1400 (New Haven: Yale
University Press, 1995); Madeleine Zelin, Jonathan K. Ocko y Robert
Gardella, eds., Contract and Property in Early Modern China (Stanford:
Stanford University Press, 2004).

↩ Michael Marmé, Suzhou: Donde convergen los bienes de todas las
provincias (Stanford: Stanford University Press, 2005).

↩ G. William Skinner, editor, La ciudad de la China imperial tardía
(Stanford: Stanford University Press, 1965).

↩ Para una discusión incisiva sobre la cuestión de la comparabilidad,
véase Kenneth Pomeranz, The Great Divergence: China, Europe, and the
Making of the Modern World Economy (Princeton: Princeton University
Press, 2001).

↩ Marx, Capital, vol. 1, 455–91.

↩ Estas características del capitalismo comercial en China son
comparables a las de Europa, como se describe en Jairus Banaji, A Brief
History of Commercial Capitalism (Chicago: Haymarket, 2020).

↩ Timothy Brook, «Comunicaciones y comercio», en The Cambridge History
of China, vol. 8, The Ming Dynasty, 1368–1644, parte 2 (Cambridge:
Cambridge University Press, 1998), 579–707.

↩ Arturo Giraldez, The Age of Trade: The Manila Galeons and the Dawn of
the Global Economy (Boulder: Rowman y Littlefield, 2015).

↩ Jie Zhao, Brush, Seal, and Abacus: Troubled Vitality in Late Ming
Economic Heartland, 1500–1644 (Hong Kong: Chinese University of Hong
Kong Press, 2018); Timothy Brook, Las confusiones del placer: comercio y
cultura en la China Ming (Berkeley: University of California Press, 1999).

↩ Margherita Zanasi, Pensamiento económico en la China moderna: mercado
y consumo, c. 1500–1937 (Cambridge: Cambridge University Press, 2020).

↩ Timothy Brook, Praying for Power: Buddhism and the Formation of Gentry
Society in Late Ming China (Cambridge, MA: Harvard-Yen-Ching Institute,
1996).

↩ Karl Marx, Surveys from Exile (Londres: Verso, 2010), 254.

↩ William T. Rowe, Salvar el mundo: Chen Hongmou y la conciencia de
élite en la China del siglo XVIII (Stanford: Stanford University Press,
2002).

↩ Karl Marx, prefacio e introducción a Contribución a la crítica de la
economía política (Beijing: Foreign Languages ​​Press, 1976).

↩ Cynthia Joanne Brokaw, Ledgers of Merit and Demerit: Social Change and
Moral Order in Late Imperial China (Princeton: Princeton University
Press, 2016); Richard Lufrano, comerciantes honorables: comercio y
autocultivo en la China imperial tardía (Honolulu: University of Hawaii
Press, 1997).

↩ William Hinton, Fanshen: A Documentary of Revolution in a Chinese
Village (Nueva York: Vintage, 1966).

↩ Franz Schurmann, Ideología y organización en la China comunista
(Berkeley: University of California Press, 1966).

↩ Jean Chesneaux, China: The People’s Republic, 1949–1976 (Nueva York:
Pantheon, 1979).

↩ La frase “socialismo con características chinas” ha pasado por un
proceso de transformación. Originalmente se desarrolló en la década de
1950 en el contexto de los esfuerzos de Mao Zedong por promover su
visión del desarrollo económico a diferencia de la experiencia
soviética. Deng Xiaoping reasignó el término en la década de 1980 y ha
seguido adaptándose a la evolución de las políticas en curso en China.
Bajo Xi Jinping, se ha ampliado para convertirse en «socialismo con
características chinas para una nueva era».

↩ Nicholas Borst, «Empresas de propiedad estatal e inversiones en
China», Seafarer, noviembre de 2019.

↩ Domenico Losurdo, “¿China se ha convertido en capitalismo? Reflexiones
sobre la transición del capitalismo al socialismo”, Pensamiento Crítico
Internacional 7, no. 1 (2017): 15–31.

↩ Xi Jinping, The Governance of China, I (Beijing: Foreign Languages ​​
Press, 2014), 83–86.

↩ Barbara Finamore, ¿China salvará el planeta? (Cambridge: Polity, 2018).

↩ “Se insta a los empresarios chinos a mostrar patriotismo”, Apple
Daily, 14 de diciembre de 2020.

↩ Takashi Suzuki, «Trabajo del Frente Unido de China en la era de Xi
Jinping: Desarrollos y actividades institucionales», Revista de Estudios
Contemporáneos de Asia Oriental 8, no. 1 (2019): 83–98.

↩ Ching Kwan Lee, Against the Law: Labor Protests in China Rustbelt and
Sunbelt (Berkeley: University of California Press, 2007).

↩ Lin Chun, La transformación del socialismo chino (Durham: Duke
University Press, 2006), 251–52.

Sobre Ken Hammond

Ken Hammond es profesor de historia mundial y de Asia oriental en la
Universidad Estatal de Nuevo México. Es autor de cinco libros y
numerosos artículos sobre la historia política y cultural china, así
como de una serie de treinta y seis conferencias,

De Yao a Mao: 5000 años de historia china. Ha sido activista desde que
estaba en Estudiantes por una Sociedad Democrática como estudiante en la
Universidad Estatal de Kent de 1968 a 1971. Actualmente está trabajando
con Pivot to Peace, una organización dedicada a promover un mejor
entendimiento y evitar conflictos entre los Estados Unidos y Porcelana.

In
OBSERVATORIO DE LA CRISIS
https://observatoriocrisis.com/2021/04/01/china-socialismo-o-capitalismo/
1/4/2021