segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Ante qué coyuntura nos encontramos


Wim Dierckxsens


Parece que hemos entrado en el Imperio del Caos, entendido como lo que resulta
de la negativa a aceptar el propio declive hegemónico. Parece que Obama lidió
con la decadencia de Estados Unidos, como Gorbachov en la ex URSS. Con la
pretensión de California, Hawai y Puerto Rico de separarse de la Unión de
Estados parece anunciarse incluso la Perestroika en Occidente. Las tendencias
nacionalistas amenazan también la desintegración de la Unión Europea y se
vislumbra un retorno al proteccionismo y nacionalismo.
 Ante la tesis que los nacionalismos solo generan caos, racismo, xenofobia y
hasta fascismo, los globalistas trabajan para poner nuevo orden en el mundo, con
un proyecto del Estado Global que estaría por encima de las naciones e incluso
por encima de los EE.UU. Para lograr su cometida no se puede descartar en este
contexto un golpe, la ley marcial para no mencionar la eliminación física del
nuevo presidente.
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Parece que hemos entrado en el Imperio del Caos, entendido como lo que resulta
de la negativa a aceptar el propio declive hegemónico. Parece que Obama lidió
con la decadencia de Estados Unidos, como Gorbachov en la ex URSS. Con la paliza
que recibieron los Demócratas en EE.UU., los perdedores principales son los
globalistas, con los banqueros de Wall Street (City Bank, los Rothschild, etc.)
y sus empresas transnacionales que operan en los países emergentes, así como los
principales medios masivos bajo su control (CNN, etc.). Con la pretensión de
California, Hawai y Puerto Rico de separarse de la Unión de Estados parece
anunciarse incluso la Perestroika en Occidente. Las tendencias nacionalistas
amenazan también la desintegración de la Unión Europea y se vislumbra un retorno
al proteccionismo y nacionalismo. Al no prosperar los tratados de libre comercio
empujados por Obama (ATP, el TTIP y TISA) un proceso de des-globalización se
pone en marcha a menos que se lo impongan a la fuerza.
Es preciso saber que en Estados Unidos existe un Estado profundo o gobierno de
sombra. Así como Clinton sufrió un ataque del Estado Profundo en la recta final
de las elecciones cuando el FBI presentó nuevos correos electrónicos
relacionados con el mal manejo de información clasificada, también Trump puede
ser comido por el omnipotente ´Deep State´ e incluso antes de asumir la
presidencia. Ya seis miembros del Colegio Electoral estadounidense, han
anunciado que no tienen intención de votar en línea con los resultados pero
hacen falta 21 para evitar que Trump asuma la presidencia. Todo sucede en un
paisaje económico con alto riesgo de otra crisis financiera mundial. Si Trump
asume la presidencia las tasas de interés subirán porque necesita dinero rápido
para su proyecto de invertir un billón de dólares en infraestructura. Es un
proyecto que constituye un genuino neo-keynesianismo anti-neoliberal que
conllevaría a la des-globalización.
Con aumento en las tasas de interés, en el entorno de una inmensa pirámide
invertido de crédito y deudas, otra gran crisis financiera global se pondrá en
marcha. La nueva política económica no podrá evitarla, pero los globalistas sí
podrían hacerle responsable a la administración Trump por el caos que resulte de
ello. En semejante coyuntura el capital financiero globalista (el verdadero
responsable de la especulación financiera) se presentará como los salvadores del
caos global. Ante la tesis que los nacionalismos solo generan caos, racismo,
xenofobia y hasta fascismo, trabajan para poner nuevo orden en el mundo, con un
proyecto del Estado Global que estaría por encima de las naciones e incluso por
encima de los EE.UU. Para lograr su cometida no se puede descartar en este
contexto un golpe, la ley marcial para no mencionar la eliminación física del
nuevo presidente.
Lo prioritario en este contexto es lograr que se conserve la paz. No se olvide
que ahora, si algo se rompe, estamos en pie de guerra, todos contra todos. No
está nada claro que exista una red de seguridad internacional. Y ni Trump ni
nadie puede estar seguro de que no la necesitará. La salida más sensata en el
momento parece ser ir por un nuevo orden multipolar con diferentes regiones en
el mundo sin guerra. La paz mundial tiene también su precio cuando China y
Rusia, deberían ser solidarios y ayudar incluso a Estados Unidos a salir de su
marasmo civilizatorio y económico. En un mundo multipolar más proteccionista se
erosiona el comercio internacional. La suma de las cuentas nacionales daría
negativa, o sea, habrá decrecimiento económico a escala mundial y sin mayor
perspectiva que lo habrá en el futuro. Tal vez se anuncia una nueva era de
decrecimiento estructural sin otra salida que la lucha social por otra
civilización donde la re-producción de la vida colectiva está en el centro de
nuestros valores y para lograrlo hemos de dar vida colectiva a las cosas que
producimos. Solo así también podamos devolver la vida a la naturaleza y saber
ser parte de ella.
In
La página de Wim Dierckxsens
http://mariwim.info/?p=59
Nov. 2016

domingo, 27 de novembro de 2016

Um revolucionário incomparável


Fidel, um Aquiles comunista*
 Miguel Urbano Rodrigues

O grande revolucionário já não está fisicamente presente. O seu exemplo heróico
não é pessoalmente repetível, mas a espantosa energia e determinação
revolucionária que mobilizou – que construiu o primeiro Estado socialista no
hemisfério ocidental, capaz de há quase seis décadas resistir à agressão
imperialista – constitui um exemplo e um património inapagável para os
trabalhadores e os povos de todo o mundo.
 Este texto de Miguel Urbano Rodrigues, escrito em vida de Fidel, pode ser
também lido como a comovida homenagem de odiario.info a El Comandante en Jefe.


Querido povo de Cuba:
Compareço com profunda dor para informar o nosso povo e os nossos amigos da
América e do mundo que hoje, 25 de Novembro, às 10:29 horas da noite, faleceu o
Comandante em Chefe da Revolução Cubana Fidel Castro Ruz. Em cumprimento da
vontade expressa do Companheiro Fidel, os seus restos serão cremados. Às
primeiras horas de manhã de sábado 26 a comissão organizadora dos funerais dará
ao nosso povo uma informação detalhada sobre a organização da Homenagem póstuma
que será feita ao fundador da Revolução Cubana.
 ¡Até à vitória sempre!
Raul Castro

Em meados dos anos 60, encerrando o XII Congresso dos Trabalhadores Cubanos, em
Havana, Fidel formulou um desejo: «que no futuro poucos homens, ou mesmo
ninguém, tenham a autoridade que tivemos no início da Revolução, porque é
perigoso que seres humanos disponham de tanta autoridade».
O revolucionário cubano não podia então prever que essa situação, que o
preocupava, iria manter-se por muitas décadas.
A doença que o levou agora a transferir a chefia do Estado e do Partido para o
irmão desencadeou a nível mundial uma avalanche de opiniões contraditórias sobre
o homem e a sua intervenção na História. Raramente em vida de um estadista
célebre se escreveu e falou tanto sobre ele como agora sobre Fidel.
 Ele foi na segunda metade do século XX o dirigente do Terceiro Mundo que maior
influência exerceu pela palavra e pela acção no rumo de acontecimentos que
marcaram o processo da descolonização e as lutas contra o imperialismo.
A meditação sobre a temática do poder pessoal acompanha-o desde a juventude.
Creio que foi sincero ao definir como perigoso o excesso de autoridade
concentrada num dirigente. Foram as próprias circunstâncias da História que o
investiram de um poder cada vez maior que não ambicionava.
Fidel tinha lido na universidade os clássicos do marxismo. Estudou-os depois na
prisão. Mas a sua opção pelo socialismo resultou do movimento, da dialéctica da
História.
O atentado terrorista que fez explodir La Coubre e a invasão mercenária de Playa
Giron, ideada e financiada pelos EUA, ocorreram numa época em que o brado soy y
seré marxista-leninista, que alarmou Washington, expressou mais a decisão de
defender a Revolução situando-a no campo socialista, do que propriamente uma
opção ideológica.
Fidel insistiu muitas vezes no significado que sempre atribuiu à avaliação da
correlação de forças. Ao reconhecer que em Cuba foram cometidos muitos erros
tácticos na condução do processo, conclui que não identifica um só erro
estratégico importante. O mérito, acrescentarei, é seu.
Já na Sierra Maestra durante a luta armada, ele revelara dotes de um grande
estratego. Mas foi posteriormente que, na confrontação permanente com o
imperialismo, desenvolveu uma capacidade extraordinária de compreender o
movimento da História nos momentos em que o seu rumo se define.
Escolha dolorosa
Isso aconteceu concretamente na fase crítica em que a Revolução, numa guinada
brusca, rompeu com o discurso e a praxis dos anos da utopia para fazer uma
escolha dolorosa. Cuba estava à beira do desastre económico e o único país que
lhe estendeu a mão foi a União Soviética. Sem essa aliança tudo se teria
afundado. Naturalmente o preço foi muito alto. A Revolução entrou num período
cinzento – assim lhe chamaram – num processo de burocratização que atingiu
duramente a intelligentsia, sufocou o debate de ideias e a criatividade em
múltiplas frentes.
Mas não havia alternativa.
Até o Che, o homem novo do futuro, na definição de Fidel, o companheiro entre
todos admirado e querido, que tinha sobre o mundo um olhar nem sempre
coincidente, reconheceu na sua carta de despedida, ao partir para a aventura
africana, que lamentava não se ter apercebido mais cedo das capacidades de
liderança e de visão estratégica que faziam do comandante um revolucionário
incomparável, único.
Lenine emergiu como um líder incontestado na mais brilhante geração de
revolucionários profissionais europeus do século XX. Fidel não foi tão
afortunado, nem isso era possível.
O núcleo de quadros revolucionários do Exército rebelde era insuficiente para
enfrentar após a vitória os desafios colocados pela História. A geração que
acompanhou Fidel forjou-se em circunstâncias muito adversas num pequeno país já
bloqueado pelos EUA, vítima de uma guerra não declarada.
A excepção Fidel
Alguns historiadores criticam em Fidel um voluntarismo que nunca conseguiu
dominar. Esse voluntarismo marcou-lhe aliás a intervenção nas lutas do seu povo
desde os anos da Universidade. A própria definição que Fidel apresenta do
«marxismo martiano» como síntese do materialismo dialéctico e do idealismo que
vinha de Luz Caballero y Varela confirma uma evidência: a Revolução Cubana
configura um desafio à lógica da História. Assim aconteceu com Moncada, com a
aventura do Granma, a luta na Sierra, e o choque posterior com o imperialismo
norte-americano. A decisão de resistir e a coragem do povo cubano no combate que
confirmou ser possível a resistência serão recordadas pelo tempo adiante como
acontecimentos épicos da História da humanidade.
Ora o épico não pode ser explicado pela razão.
Para compreendermos a excepção Fidel, os tratados de ciência política são
insuficientes.
Identifico nele uma síntese de heróis mitológicos e de heróis modernos que o
inspiraram num batalhar que já se tornou História.
Fidel traz à memória Aquiles, Martí e Bolívar.
Do aqueu e do venezuelano herdou a coragem sobre-humana e a fome dos desafios ao
impossível aparente. Mas a sede de glória, que acompanhou Bolívar, nunca o
fascinou e a desambição foi sua companheira permanente. Contrariamente a Aquiles
não atravessou o mar para destruir as Tróias contemporâneas. A sua gente
atravessou um oceano mas para levar solidariedade a povos que se batiam pela
liberdade.
Do cubano Martí aprendeu que revolução alguma pode vencer sem fidelidade a uma
concepção ética da vida, sem amor pela humanidade. E, por humano, apresenta
também alguns defeitos dos três.
Ao escrever estas linhas recordo uma conhecida afirmação sua: o dever do
revolucionário é fazer a revolução.
Poucos homens em milénios de História colocaram com tanta coerência a sua vida
ao serviço desse objectivo, erigido em infinito absoluto.
Imagino-o na sua cama, no hospital, insensível ao vendaval de calúnias
desencadeado pela sua doença e tocado pelo furacão simultâneo de afecto,
respeito e admiração.
Os revolucionários de todos os povos, onde quer que se encontrem, desejam-lhe um
rápido restabelecimento. Agradecem-lhe o que fez pela humanidade.
Quase carregou o Estado e o Partido às costas em períodos de crise. E isso foi
negativo. Por ter consciência da lei da vida, sabe que exigiu de si muito mais
do que podia e devia. Exagerou.
Recuperada a saúde, poderá ser ainda por longos anos uma consciência actuante da
humanidade revolucionaria se, distanciado de esgotantes tarefas do quotidiano,
utilizar o tempo para transmitir ao seu povo e ao mundo o saber e a experiência
acumulados, a sua lição de moderno Aquiles, de discípulo de Bolívar.
El comandante
Vivi oito anos em Cuba. Mais de uma vez, escutando durante muitas horas os seus
discursos na Praça da Revolução em Havana, ou em comemorações do 26 de Julho
noutras cidades da Ilha, me interroguei sobre a contradição entre um poder
pessoal enorme, minimamente partilhado a nível decisório, e o humanismo de quem
o exercia, identificável no amor pelas crianças e na solidariedade com os
oprimidos e excluídos de todo o planeta.
Comportam-se como hipócritas conscientes aqueles que por ódio ou fanatismo
ideológico qualificam Fidel de ditador brutal e sanguinário, de tirano feroz.
Sabem que a acusação é falsa
Quem conhece um pouco Cuba não ignora que existe ema relação de afecto profundo
entre o povo cubano e el comandante en jefe. Ele é amado pela esmagadora maioria
dos seus compatriotas. Depositam nele uma confiança absoluta. É um sentimento
que não cultivou e talvez o inquiete por estar consciente de que qualquer
dirigente, por mais dotado e sábio que seja, não pode substituir o colectivo
como sujeito transformador da História.
Não há calúnia mediática que resista à prova da vida. Definir como ditador um
dirigente amado por um povo que governa há quase meio século é um absurdo
maldoso. O consenso entre o governante e a sua gente ridiculariza a diatribe
forjada pelos seus inimigos.
A grandeza de Fidel teria obviamente de desencadear campanhas de ódio. Mas não
fez surgir somente inimigos e caluniadores. É inseparável também do aparecimento
de uma geração de epígonos. Em Cuba e pelo mundo afora eles apareceram. Ora a
tendência para a glorificação incondicional dos grandes homens é sempre
negativa. Porque não há governante perfeito. E Fidel sabe disso e não gosta que
vejam nele um super-homem.
Ele é o que é, um ser mortal, modelado por uma vontade de aço, uma inteligência
excepcional, e uma fome insaciável de humanização revolucionária da vida, mas
com uma lúcida percepção das limitações da condição humana.
 Este texto foi publicado no “Avante!” N.º 1706, 10.Agosto.2006. Foi também
publicado no “Granma”.
In
O DIARIO.INFO
http://www.odiario.info/um-revolucionario-incomparavel-fidel-um-aquiles/
26/11/2016

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

La conceptualización del modelo y el futuro del socialismo



Luismi Uharte


Los “Lineamientos de la Política Económica y Social del
Partido y la Revolución” marcaron el debate en Cuba y fijaron la hoja de ruta
para el cambio económico, 5 años después en el marco del VII Congreso del PCC,
la “Conceptualización del modelo económico y social cubano de desarrollo
socialista” es el principal documento de análisis colectivo. Un texto de
importancia vital ya que se ponen sobre el tapete aspectos estructurales del
sistema cubano, es decir, del socialismo autóctono, y se plantea una reflexión
político-filosófica que no se daba probablemente desde los años setenta, cuando
se aprobó la Constitución del país.
El otro documento que acompaña a la “conceptualización” es el “Plan Nacional de
desarrollo hasta 2030”, que de facto no es todavía un Plan sino más bien sus
principios y sus ejes estratégicos. Estos dos textos están siendo debatidos por
decenas de miles de personas en centros de estudio y de trabajo y serán
enriquecidos con los principales aportes que se vayan realizando a lo largo de
una reflexión colectiva que se prolongará, probablemente, hasta fin de año.
El debate en torno a la “conceptualización del modelo” sin duda resulta el más
apasionante y obviamente también el más polémico, ya que está permitiendo
discutir acerca de los grandes temas que históricamente marcaron la disputa
entre los dos grandes sistemas de la modernidad: el socialismo y el capitalismo.
La “conceptualización” está estructurada en cuatro capítulos principales que
abordan temáticas estructurales como los principios del modelo, la propiedad de
los medios de producción, la dirección planificada de la economía y la política
social.
Más allá de esta división formal, a lo largo del texto destacan dos grandes
debates: uno en torno a la propiedad y el otro acerca de la relación entre
Estado y Mercado. De estos dos principales debates se derivan otros de gran
relevancia como los modelo de gestión, el papel y potencialidades del
cooperativismo, la redefinición de la política social para que sea sostenible…
En síntesis, sitúa a las y los cubanos en la tesitura de conceptualizar el nuevo
proyecto socialista para el siglo XXI.
La propiedad. En el primer capítulo de la “conceptualización” se fijan los
“principios de nuestro socialismo que sustentan el Modelo” y se afirma con
rotundidad que “la propiedad socialista de todo el pueblo sobre los medios
fundamentales de producción” es la forma principal de la economía. Se agrega que
este tipo de propiedad garantiza la “condición de propietario común” a toda la
sociedad cubana. En el capítulo 2 dedicado a la propiedad sobre los medios de
producción, se concibe a la propiedad estatal como “la propiedad socialista de
todo el pueblo”.
Se establece, por tanto, una divisoria clara entre propiedad “estatal” y
propiedad “no estatal”, considerando que el mayor grado de socialización se
logra a través de la primera. El citado capítulo 2 indica que la “forma estatal
constituye la columna vertebral de todo el sistema de propiedad de la sociedad
socialista”. La novedad, según José Luis Rodríguez, ex ministro de Economía y
uno de los intelectuales más respetados, es que en esta nueva etapa del
socialismo se reconoce el papel funcional que puede jugar la propiedad no
estatal.
Una propiedad que, de todas formas, “está sujeta a temporalidad”. Esto significa
que en un futuro podría revertir de nuevo a estatal, como ocurrió, recuerda
Rodríguez, con la compañía de teléfonos ETECSA, que en 1995 era mixta y en 2008
fue recomprada por el Estado.
A pesar de la prioridad que se otorga a la propiedad estatal, la expansión de la
propiedad no estatal es un hecho, como lo evidencian los datos del empleo, ya
que si en 1989 solo el 6% de las y los trabajadores trabajaban en empresas no
estatales, en el 2016 ya suponen casi el 30% de la fuerza laboral. Sin embargo,
el peso de la economía no estatal en el PIB es apenas de un 12%, ya que su
presencia se restringe a pequeñas empresas y a sectores no estratégicos. Los
sectores estratégicos, las grandes industrias como la electricidad, las
telecomunicaciones, la minería, etc., seguirán indiscutiblemente bajo control
del Estado, asevera Rodríguez.
El documento de la “conceptualización” reconoce que la propiedad privada “cumple
una función social”, tanto la nacional como la extranjera, ya que coadyuva en la
mejora del “bienestar”, “tributa al desarrollo local” y contribuye a la
“eficiencia” económica. Pero a su vez, deja claro que solo se permitirán
pequeños emprendimientos y que se limitará la concentración de la propiedad y la
riqueza privada.
En la práctica, es reseñable el modelo de financiación de los nuevos negocios
privados, ya que según académicos norteamericanos el 50% de las remesas
provenientes de EE.UU. se transforma en capital para crear o impulsar empresas
privadas. Las lecturas, dentro de la propia intelectualidad económica cubana en
relación a los proyectos privados son diversas. Rodríguez destaca que en la
actualidad estas empresas están sub-declarando y por tanto pagando menos de lo
que les corresponde, lo cual es innegable. Everleny Pérez, por su parte,
considera que es necesario permitir más actividades profesionales privadas
(bufetes, arquitectos, consultorías económicas…) y agrega que si se frena la
iniciativa la gente seguirá yéndose del país, lo cual es una evidencia empírica.
En este nuevo contexto que se está creando en torno a los nuevos negocios
privados, se cruzan variables contradictorias que muestran con claridad los
aspectos positivos y negativos que están experimentando en primera persona los y
las trabajadoras contratadas. Por una parte, los sentimientos de “explotación”
emergen en las narrativas de esta franja incipiente de la clase trabajadora
cubana; pero por otra parte, manifiestan que sus ingresos son muy superiores a
los de cualquier empleo público. El testimonio de algunas empleadas de
cafeterías o restaurantes privados es paradigmático en este sentido.
Las cooperativas. Otro de los grandes debates que se están dando en relación a
la “conceptualización del modelo” y que son trascendentales para el Socialismo
en el siglo XXI, es el de la autogestión y su materialización en Cuba a través
del cooperativismo. El primer aspecto crítico a destacar es la desconfianza que
sigue generando en capas importantes del Partido, de la dirección política y
sobre todo de la burocracia intermedia. La cooperativa la siguen considerando
una forma inferior de socialización de la propiedad en comparación con la
propiedad estatal, lo cual evidencia la hegemonía del imaginario del socialismo
real del siglo XX.
En parte, existe un temor comprensible respecto al riesgo del cooperativismo, ya
que fue la forma encubierta de los negocios privados en la transición al
capitalismo en la URSS, como advierten algunos analistas cubanos. Sin embargo,
para los sectores favorables a la autogestión en Cuba la apuesta por el
cooperativismo permitiría una mayor socialización de los medios de producción
porque posibilitaría que los y las productoras pudieran, sin intermediación de
ningún funcionario, gestionar directamente la empresa. 
El cooperativismo ha tenido presencia en Cuba desde 1959 pero sólo en el sector
agrario. No será hasta el 2011, con la apuesta por el nuevo modelo, cuando se
impulse el cooperativismo en industrias y servicios (prioritariamente en este
último). Actualmente hay casi 500 cooperativas en proceso de prueba y
evaluación, la gran mayoría en el sector de gastronomía, comercio agropecuario y
construcción. Hay previsión de que en los próximos años más de 12.000 pequeñas
empresas estatales de servicios (la mayoría gastronómicos) se conviertan en
cooperativas. Para los grupos pro-autogestión el proceso de cooperativización se
está dilatando excesivamente y teniendo incluso más trabas que los negocios
privados, lo cual podría interpretarse como una contradicción del proceso de
cambio.
La gestión. Más allá del debate acerca de la propiedad existe otro trascendental
y complementario: el modelo de gestión. A veces las disputas se circunscriben a
la forma “propiedad”, cuando la forma “gestión” puede resultar más importante en
algunos casos. De hecho, el criterio de eficiencia está siendo determinante a la
hora de modificar el modelo de gestión en algunas empresas, aunque la propiedad
siga siendo estatal.
El primer caso relevante es el del cooperativismo, ya que el 70% de las
cooperativas en experimentación, son antiguas empresas públicas que ahora pasan
a ser gestionadas por sus trabajadores/as, aunque parte de la propiedad puede
seguir siendo estatal: los vehículos en el caso de las cooperativas de
transporte público, los almacenes en el de las cooperativas textiles…
El otro caso paradigmático es el de la gestión privada extranjera en empresas de
titularidad pública. El sector hotelero es quizás el más conocido, ya que desde
los años 90 se conoce este modelo de propiedad pública o mixta y gestión
privada, en el que los rendimientos económicos han sido positivos. La
exportación de ron es otro referente y más recientemente la apuesta ha sido
abrir a otros sectores, como el de los aeropuertos. La firma con una empresa
francesa de un contrato de gestión del aeropuerto de La Habana y la intención de
generalizarlo al resto de aeropuertos del país, es el ejemplo más destacado.
El Mercado. En el tercer capítulo de la “conceptualización”, el dedicado a “La
dirección planificada de la economía”, se afirma categóricamente que “las leyes
del Mercado no ejercen el papel rector”, siendo el Estado el gestor y regulador
principal. Sin embargo, se perciben dos cambios importantes. Por un lado, el
impulso a la descentralización, lo que implica dar mayor capacidad de decisión a
las provincias y municipios y conceder mayor autonomía a los órganos de
dirección de las empresas públicas.
Por otro lado, el “reconocimiento del Mercado”, esa institución que el
socialismo real quiso suprimir por decreto pero que nunca desapareció. Como
agudamente plantea el ex ministro Rodríguez, el mercado siempre existió aunque
se trató de manera idealista de suprimirlo. Como la ley lo prohibió entonces se
manifestó a través de la economía informal, del mercado negro. La lectura cubana
actual plantea la existencia de un mercado regulado, no de un mercado libre, y
por tanto la construcción de una economía “con mercado” y no una economía “de
mercado”, que sí es la propia de los países capitalistas.
Rodríguez pone un ejemplo muy gráfico para entender la nueva relación que hay
que establecer con el mercado. Afirma que los precios de muchos productos no se
pueden regular administrativamente sino a través de un flujo suficiente de
oferta, porque si no “la tendencia que se impone es a que se venda en la
economía sumergida a un precio superior”.
Política social. La “conceptualización” culmina con el capítulo referido a la
“política social”, donde se proclama la gratuidad de los derechos sociales
básicos. La novedad la encontramos en la apelación a las “posibilidades
objetivas de la economía”, reconociendo las limitaciones presupuestarias que
puedan existir. Además, se indica que “se cobrarán” los servicios
“complementarios y de carácter no fundamental”, advirtiendo que la gratuidad
absoluta y generalizada ya no será viable.
El debate estrella sobre política social de los últimos tiempos es acerca del
futuro de la histórica cartilla de abastecimiento, ya que a día de hoy sigue
siendo totalmente universal. Cada vez parece más claro que tarde o temprano se
asignará de forma focalizada a los sectores más vulnerables, y por tanto será un
instrumento de combate a la desigualdad, un problema creciente desde la década
del noventa.
El futuro del socialismo en Cuba nadie lo puede decretar. Lo único que está
claro es que el modelo tradicional deudor de las experiencias del siglo XX se
agotó y que será sustituido por otro modelo que necesariamente debe ser
autosustentable. La pluralidad de propiedades, modelos de gestión e
instituciones económicas será la clave sobre la que descanse el nuevo ensayo de
socialismo para el siglo XXI.
Luismi Uharte. Grupo de investigación Parte Hartuz (Universidad del País Vasco)
Rebelión ha publicado este artículo con el permiso del autor mediante una
licencia de Creative Commons, respetando su libertad para publicarlo en otras
fuentes.
In
REBELION
http://www.rebelion.org/noticia.php?id=219610
25/11/2016

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Um livro de Lenine que fala de hoje… e de amanhã



 Georges Gastaud

Escrito em 1916, há cerca de cem anos, o estudo magistral de Lenine intitulado O
Imperialismo, estado superior do capitalismo, continua de uma actualidade
extraordinária. O imperialismo tornou-se tão reaccionário, não só no plano
militar, como nos planos económico, político, ambiental, cultural que é
incompatível a médio, ou mesmo a curto prazo, com a sobrevivência da
civilização, e até com a sobrevivência da humanidade.


Escrito em 1916, há cerca de cem anos, o estudo magistral de Lenine intitulado O
Imperialismo, estado superior do capitalismo, continua de uma actualidade
extraordinária.
 
1.   Ver claro os carteis hiper-imperialistas
Ao relê-lo ficamos siderados pela visão superior do autor que, unindo a teoria à
prática, levaria em breve ao sucesso a primeira Revolução proletária da história
à escala de um grande país. Nesta brochura surgida em plena guerra mundial,
Lenine não se contenta em refutar as concepções ditas «hiper-imperialistas»
caras aos tenores da Segunda Internacional (os Kautsky e outros Hilferding
vaticinavam sem rir a extinção próxima das guerras imperialistas… enquanto os
operários socialistas, russos, alemães, ingleses, se matavam nas trincheiras ao
apelo dos respectivos partidos!). Esses teóricos falhados mascaravam assim nos
seus «discursos sapientíssimos» as contradições explosivas inerentes às quais o
estado monopolista do modo de produção capitalista tinha chegado desde o fim do
século 19. Lenine provou o inverso: o capitalismo moderno não marcha para a
ultrapassagem      espontânea das suas contradições pela colocação de um dos
vários Estados capitalistas mundiais ou continentais que sem cessar de explorar
os trabalhadores, se tornava  pelo menos em factor de paz e equilíbrio
geopolítico. Pelo contrário, afirma Lenine, as contradições inter-imperialistas
só podem agudizar-se: nesse ponto, Lenine concordava com Jean Jaurés quando este
último, assassinado dois anos mais tarde por um partidário da guerra
imperialista, declarou que «o capitalismo traz em si a guerra como a nuvem de
tempestade traz o raio».
 
Com efeito, os acordos do género «hiper-imperialista» pelos quais os Estados
capitalistas podem transitoriamente associar-se só podem ser muito instáveis. O
capitalismo é efectivamente marcado por um desenvolvimento desigual,
profundamente dissonante e desequilibrado, pretensos «Estados associados»; pela
sua natureza exploradora, estes não podem ter como fim a paz e a cooperação
internacional mas apenas a predação no interior e no exterior das suas próprias
fronteiras; agravamento da exploração dos trabalhadores pelas burguesias
coligadas de países diversos, pilhagem dos Estados mais fracos pelos Estados
mais fortes (ingénuos partidários da «Europa social», não vos lembra nada?),
ameaças militares, ingerência e invasão (bem entendido claro está em nome da
«civilização») contra os Estados que não fazem parte do cartel…
Pois o fim incessante desses acordos inter-estados transitórios entre máfias
capitalistas é a partilha incessante do mundo no quadro da caça ao lucro máximo,
da exportação dos capitais e da extorsão colonial (que se tornou hoje,
essencialmente, neocolonial) do surplus arrancado aos trabalhadores do «Oriente» 
sobre-explorados hoje, do Sul e do Leste, enquanto as forças produtivas dos
países dominadores são desmanteladas e/ou desviadas para o «parasitismo
económico». Passando assim tanto por tais carteis «hiper-imperialistas» como
pelas fases de confrontação inter-estados directa, o objectivo de classe dos
oligarcas imperialistas é sempre aumentar a rentabilidade dos investimentos
capitalistas e também o beneficio secundário não negligenciável para as
burguesias dominantes terem meios de «comprar» e «corromper» as camadas
superiores do salário, «institucionalizá-las» como diríamos hoje. Em particular,
o sobrelucro imperialista arrancado aos trabalhadores dos países dominados serve
para comprar (muitas vezes de maneira indirecta…) uma parte dos dirigentes
sindicais e dos eleitos «socialistas» dos países dominantes. Assim, a oligarquia
e o Estado imperialista que a serve asseguram-se de neutralizar o movimento
operário organizado: uma parte do «tributo» imperialista é assim prevalente
pelos capitalistas sobre o seu saque neocolonial serve para «irrigar» de mil
maneiras o que Lenine chama sarcasticamente os «tenentes trabalhadores da classe
capitalista», o mesmo acontecendo mais do que nunca nos nossos dias, tal é a
base material, «social-imperialista»  (ou seja «socialista em palavras,
imperialista na pratica») e contra-revolucionaria de uma social democracia que
passa normalmente do vermelho ao amarelo passando pelo rosa vivo: é hoje a
grande tentação de muitos dos «cães de Berger» do capital que se ajoelham
perante os pormenores do MEDEF e da CES pró-Maastricht.
Consequentemente, Lenine mostra que a luta anti-imperialista coincide com a luta
anti-oportunista e anti-revisionista já que essa gangrena do movimento
proletário se ancorava nas prebendas imperialistas aceites em certos
estados-maiores cuja missão pouco e pseudo-«internacionalista» é de paralisar as
organizações operárias mantendo os carteis imperialistas apresentados como
potencialmente «sociais, democráticos e pacíficos».
 
II Desmascarar a palavra de ordem dos Estados unidos «socialistas» da Europa
 
 Não nos admiramos que nestas condições, Lenine tenha visto na mesma época o
significado de classe real dos «Estados Unidos da Europa», ou da sua variante
trotskista, os Estados Unidos «socialistas» da Europa. Tratando-se dessa palavra
de ordem, no verdadeiro sentido de hiper-imperialista, Lenine afirmava então que
era tanto inútil como de uso duplo com a ideia da revolução socialista (do
entendimento entre os países já tornados socialistas ou em transição para o
socialismo), seja utopicamente (a paz, ou seja o acordo cordial durável e
impossível entre países capitalistas, cada um procura necessariamente devorar o
outro), seja francamente reaccionário pois voltado contra o conjunto das classes
trabalhadoras e também contra as nações mais fracas. Na mesma época Lenine,
polémico de resto contra Rosa Luxemburg - que na realidade se situa do mesmo
lado que os bolcheviques russos no ataque aos tenentes da guerra imperialista a
decorrer, mas que recusava o direito das nações (nomeadamente da sua Polónia
natal) a dispor de si mesmas: pelo contrário, na época imperialista onde o
desenvolvimento dos países é cada vez mais desigual e selvagem, é necessário
defender o direito das nações a formar o seu próprio Estado, a falar a sua
própria língua (ou seja separar-se da Rússia dos sovietes para formar a sua
própria República, sair para se federar depois da Rússia vermelha no quadro de
uma Federação soviética…) Embora seja necessário alargar a palavra de ordem de
Marx/Engels  «Proletários de todos os países uni-vos» associando a revolução
socialista à luta para a emancipação nacional dos povos dependentes:
«Proletários de todos os países, povos oprimidos do mundo uni-vos» tornar-se-ia
a palavra de ordem da internacional comunista nascente (o Komintern», para
retomar o acrónimo russo).
 
 É preciso ser cego até ao limite, como acontece hoje, não apenas aos
sociais-democratas do PS europeu, mas aos dirigentes «eurocomunistas» à Pierre
Laurent  (presidente do Partido da Esquerda Europeia),  da Confederação Europeia
dos Sindicatos, os partidos euro-trotskistas (Luta operária e o NPA
principalmente) e até alguns pseudo-«ML» que confundem nacionalismo e soberania
nacional, para não ver que as previsões de Lenine, total e sinistramente, se
concretizaram: consequentemente a subordinação ao principio, senão às
modalidades da «construção» europeia só poderiam levar à vassalização total do
movimento operário pela grande burguesia «europeia». Já a pretensa «Sociedade
das Nações» posterior à Primeira Guerra Mundial não fez mais que organizar a
repartição do mundo entre Estados imperialistas vencedores (cf. Acordos
Skyes-Picot que explodem hoje no rosto dos habitantes do Próximo Oriente), mas
também ela implodiu quando a corda ficou novamente tensa entre o imperialismo
alemão e o bloco anglo-americano. Quanto à «construção» europeia concebida
inicialmente por Monnet e Schumann como uma rampa anti-soviética arrimada à NATO
(esta «construção» foi fortemente acelerada pela contra-revolução no Leste) é
cada vez mais identificada pelos TRABALHADORES da Europa como o que
verdadeiramente é: uma prisão de povos triturando as aquisições sociais,
esmagando as soberanias nacionais, armando a Europa atlântica contra a Rússia,
associada aos Estados Unidos para submeter os povos do leste e do sul,
restaurando o seu negro esplendor ao imperialismo alemão. Enquanto os Estados
Unidos construíam o acordo «trans-pacífico» com o Japão revanchista e com a
ditadura sul-coreana para cercar os BRICS, principalmente a China e a Rússia,
desestabilizar a alternativa bolivariana das Américas, marginalizar as línguas e
as culturas nacionais que obstruem o «livre» comércio tal como o Tio Sam o
entende, e preparando a terceira repartição mundial dos pólos imperialistas
«transatlânticos» e «trans-pacíficos». Ver na construção europeia um espaço
possível para a «Europa social, democrática e pacífica», como o fazem o PS
europeu e os seus satélites eurocomunistas» e euro-trotskistas, negar a
possibilidade de cada país tentar sair da UE/NATO sem esperar pelos outros a fim
de empreender a construção do socialismo, isso só pode ser um logro
social-maastrichtiano, mesmo que tais slogans adocicados se dissimulem
normalmente por detrás de tiradas «antinacionalistas». Como a UE/NATO se
encontra numa escalada militar anti-russa que pode derrapar a qualquer instante
para a guerra mundial, os camaradas, incluindo os que militam no seio do
PCF-PGE, devem ver a tempo que o aparelho deste partido não é apenas, aquilo em
que se tornou depois quarenta anos de revisionismo (o abandono da ditadura do
proletariado data já de 1976!), um «partido reformista», mas - não obstante a
sua pequena envergadura eleitoral — uma peça importante do social-imperialismo
no movimento operário politico-sindical.
 
III Tendências exterministas do imperialismo contemporâneo
 
 Mas para lá dos aspectos estratégicos do texto de Lénine, é preciso apreender a
sua importância histórico-antropológica.
 
 Pois Lenine não se contenta em analisar o «momento actual»; tal como Hegel,
Marx ou Engels o fizeram antes dele, Lenine situa sempre as grandes etapas da
conjuntura na história geral da humanidade. E com efeito, se lermos bem esta
brochura, constatamos a alta consciência que Lenine tem do perigo maior, que o
estádio imperialista do capitalismo se torne uma ameaça terrível de regressão
absoluta, mesmo de destruição para a humanidade. Enquanto a primeira fase do
capitalismo analisada por Marx/Engels era ainda parcial e momentaneamente
progressista (como demonstra abertamente o Manifesto do Partido comunista), o
capitalismo «monopolista, agonizante e apodrecido» que é o imperialismo
caracteriza-se com efeito pela «reacção em toda a linha». Lenine tinha já sob o
olhar as terrificas devastações da Primeira Grande Guerra Mundial, que esmagou
literalmente uma geração de seres humanos. A Segunda Guerra mundial provocou,
como se sabe, a morte de cinquenta milhões de pessoas e concluiu-se com a
promessa de fazer ainda pior no futuro, porque é esse o significado de facto da
destruição gratuita de cidades alemãs desarmadas como Dresden ou o esmagamento
nuclear, sem a menor necessidade militar, senão a de ameaçar a URSS, de Hiroxima
e Nagasaki. Em resultado houve uma vertiginosa corrida aos armamentos em que
todas as etapas foram iniciadas pelos Estados Unidos (a URSS não parou de propor
a destruição de TODO o arsenal nuclear e de anunciar que, pelo seu lado,
renunciava a jamais usar a arma atómica em primeiro lugar, o que os Estados
Unidos nunca aceitaram assumir). Esta corrida aos armamentos imposta e levada «à
beira do abismo» tolheu largamente a construção do socialismo na URSS (mal saída
da invasão hitleriana que a privou de 30 milhões de cidadãos e da maioria
masculina da geração jovem, a URSS teve de consagrar uma parte maior dos seus
recursos a conter militarmente os Estados Unidos muito mais ricos, que saíram
economicamente mais fortes da guerra). Nos anos 80, é verdadeiramente a
humanidade que os imperialistas ocidentais conduzidos por Reagan e Thatcher,
seguidos por Mitterrand, justificados pelos pseudo-filosofos BHL e A.
Gklucksmann, tomaram por refém na sua chantagem nuclear anti-soviética. «Os
dirigentes soviéticos devem saber, explicava cruamente Nixon no Mito da paz, que
terão a guerra se não mudarem o seu sistema comunista». A reacção alemã reforça:
lieber tot, als rot! (antes mortos que vermelhos) ao mesmo tempo que Reagan
vaticinava reiteradamente em publico a iminência do Armagedon (A batalha bíblica
que precede o Juízo final e onde o «Império do Mal» e os «descrentes» são
vencidos pelos amigos de Deus). Quanto a Glucksmann, foi ao ponto de escrever em
plena crise dos euromísseis (1984): «prefiro sucumbir com o meu filho que eu amo
numa troca de tiros nucleares a imaginá-lo numa Sibéria planetária». É espantoso
como tantos analistas e mesmo marxistas não digam, sobre o processo
contra-revolucionário de Leste, uma palavra sobre a enorme chantagem
exterminista que pesou  de um modo terrível sobre a Rússia pós-Brejnev (em
dificuldades, ninguém nega) e que muito auxiliou o social-pacifista, ou melhor,
o neo-munique e super-capitulacionista Gorbatchev, a tomar o comando no seio do
PCUS tetanizado pelo espectro da guerra nuclear mundial. Como é escandaloso que
tantos «teóricos» actuais, mesmo alguns que se dizem marxistas,  e mesmo
leninistas, não tomem em linha de conta este carácter exterminista do
capitalismo imperialista contemporâneo. Este tornou-se tão reaccionário, não só
no plano militar, como nos planos económico, político (fascização, redução da
democracia burguesa a uma pura mascarada de «escolhas» fraudulentas) ambiental,
cultural (mercantilização galopante de todos os aspectos da vida social) que é
incompatível a médio, ou mesmo a curto prazo, com a sobrevivência da
civilização, e até com a sobrevivência da humanidade. Tudo isso Fidel já tinha
visto e transparece no ultimo discurso do velho sábio da revolução  perante o
congresso do PC de Cuba. Tudo isto já Engels, e depois Rosa, tinham anunciado
quando colocaram o problema «socialismo ou barbárie» no decurso dos séculos XIX
e XX.
 
 Consequentemente a presente critica de exterminismo imperialista justifica mais
do que nunca um slogan cubano, que para além do seu apelo entusiasta ao heroísmo
revolucionário comporta um significado simultaneamente patriótico e
anti-exterminista. «Pátria ou morte, socialismo ou morrer» Pois se a humanidade
não conseguir liquidar o capitalismo e construir o socialismo no século XXI,
então sim, tendo o capitalismo há muito tempo atingido a sua fase supremamente
senil, o imperialismo, e sendo o exterminismo a quinta-essência deste último
(num imenso «aprés moi le déluge», depois de mim o dilúvio», o lucro total
máximo über alles!), o capitalismo terá feito tudo para eliminar a humanidade, e
talvez mesmo a vida, da superfície do globo.
 
IV Combater o parasitismo financeiro, defender as forças produtivas
 
 Uma ultima palavra para sublinhar a modernidade económica fulgurante do texto
de Lenine que faz parecer muito «petit-bras» uma quantidade de obras «modernas»
deplorando sem explicações o «declínio» dos países «industrializados», com a
França à cabeça. Apoiando-se principalmente nos estudos do economista inglês
Hobson, Lenine mostrava que para a maioria dos países ocidentais, a economia
produtiva — industria, agricultura… — seria cada vez mais eliminada em proveito
de actividades parasitárias, financeiras. Além disso, como Hobson afirmava,
«grandes partes da Europa ocidental assemelhar-se-iam à Suíça ou à Riviera» de
modo que os «principais ramos de produção desapareceriam», que a «produção
material fluiria do Oriente como um tributo», que apenas seriam mantidas no
Ocidente as actividades industriais estratégicas que permitem o domínio
neocolonial e que emergiria finalmente um «enorme perigo de parasitismo
ocidental». Os habitantes dos países imperialistas e uma massa de proprietários
desclassificados e transformados em plebe arriscam então embater duramente
contra a humanidade produtiva mas escravizada: esse isolamento crescente do
«Ocidente» só poderá tornar cada vez mais agressivos esses países
automarginalizados pois cortados do Esforço mundial para produzir os seus meios
de subsistência que são, até nova ordem, a base da vida humana. Por isso quando
os militantes verdadeiramente comunistas do PRCF foram os primeiros a relançar a
batalha de «produzir em França» que o PCF euro-entontecido de R. Hue tinha
abandonado, quando denunciaram a transformação programada da França numa
plataforma logística desindustrializada completamente entregue à finança e ao
turismo cumpriram o seu triplo dever de patriotas (não numa «união sagrada» com
a sua burguesia, como tristemente o fez Guesde em 14, mas contra o patronato
«francês» deslocalizador), de defensores dos trabalhadores assalariados
produtivos e de amigos inquebrantáveis do direito à vida.
 
V A analise leninista do imperialismo, um antídoto contra o sectarismo e o
oportunismo
 
 Mas O imperialismo, estado supremo do capitalismo não se contenta em acumular
más notícias. Lenine insiste no facto de que o «capitalismo monopolista é a
antecâmara do socialismo» já que socializa, concentra e organiza a produção,
privatizando ao máximo a concentração das riquezas: um antagonismo notório que
só pode ter como consequência a alternativa: revolução proletária ou… repetidas
guerras mundiais.
 
 Isso não significa que a partir daí os comunistas não tivessem senão que
aguardar febrilmente a «luta final»: pelo contrário, devem estar à cabeça de
todas as lutas, de todas as frentes populares, pela independência nacional, pela
paz, pela igualdade homem-mulher, pela democracia (na nossa época acrescentemos:
pelo ambiente!) de maneira a orientar essas lutas contra a oligarquia
parasitária, a isolar ao máximo esta última e a abrir assim na pratica o caminho
à revolução socialista. Na nossa época, não poderão existir longas etapas entre
capitalismo e socialismo e esta constatação desagua politicamente na conclusão,
não de que os comunistas se deveriam desdenhosamente retirar dos combates
considerados «sectoriais» que respeitam à sobrevivência quotidiana da classe
trabalhadora, das nações atabafadas, das liberdades democráticas e da paz. O
leninismo não é nem a convergência amorfa a reboque da social-democracia, tipo
«união das duas esquerdas» (como desejava ardentemente o europeísta Chassagne),
nem o inverso: a proposta trotskizante do «poder operário já, senão nada!», que
só pode isolar o proletariado enviando-o para o matadouro.
 
 Pelo contrário, a aliança de trabalhadores e camponeses pela paz, pela
democracia soviética e pela nacionalização das terras, permitiu a vitória dos
bolcheviques sobre a reacção mundial coligada arrastando milhões de cidadãos
russos na luta pelo socialismo. Nem isoladamente sectário e dogmático, nem
dissolução num bloco pequeno-burguês, o leninismo mostra o caminho para uma
grande aliança antimonopolista conduzida pela classe operária.
 Uma aliança cujo termo progressista só pode ser a revolução proletária
realizada sobre as bases mais vastas possíveis. Pois a derrota do imperialismo é
necessária não apenas para emancipar a nossa classe, mas para que, sob a égide
da classe operária na ofensiva, a humanidade possa continuar a sua rota difícil
para o progresso obstruída nos nossos dias. Uma estrada provisoriamente
obstruída por um capitalismo cada vez mais bárbaro, fascizante e desumanizante.
12 Outubro de 2016
Tradução: Manuela Antunes
In
O DIARIO.INFO
http://www.odiario.info/um-livro-de-lenine-que-fala/
22/11/2016

terça-feira, 22 de novembro de 2016

A luta pela terra no Brasil.


por Jeferson Choma

Introdução

Este artigo é uma pequena contribuição para pensar a luta pela terra no Brasil.
O objetivo é realizar um breve resumo da história da luta pela reforma agrária
nos últimos 60 anos e também sistematizar o programa levado a cabo por
organizações sindicais e partidos de esquerda, inseridos nesse contexto
histórico. Por isso, se faz um balanço sobre a atuação dos governos – do regime
militar até os governos do PT – e das suas políticas agrárias.

Muitos daqueles que falavam na expropriação dos latifúndios e defendiam a
necessidade de reforma agrária, hoje, infelizmente, abandonaram este programa. O
que no mínimo é estranho, uma vez que o Brasil tem até hoje – apesar da tão
propagada “modernização na agricultura” – a mesma estrutura fundiária de sempre,
responsável pela enorme concentração de terras nas mãos de poucos proprietários.
Essa situação faz com que o Brasil apresente uma realidade no campo que é única
no mundo. Por aqui, poucos proprietários de terra controlam áreas cuja extensão
territorial é superior à de muitos países da Europa. Além disso, a chamada
“moderna agricultura” convive lado a lado com antigas formas de superexploração
da força de trabalho e de relações de semiescravidão. A verdade é que a
modernização do campo brasileiro se deu com base na manutenção do atraso. Um foi
condição do outro. Não se pode entender os mais de 500 anos de nossa história
sem levar em consideração a escravidão, o racismo, o patriarcalismo, o grande
latifúndio e a monocultura de exportação, heranças que ainda pesam sobre a nossa
estrutura social.

É preciso olhar o passado para se transformar o presente. A reforma agrária
ainda é uma necessidade para milhões de brasileiros que vivem no campo e
enfrentam todos os dias a violência dos fazendeiros e seus pistoleiros. Não se
pode dar as costas para essa realidade. Por isso, esse artigo é uma modesta
contribuição, sobretudo, àqueles que atuam no processo de reorganização política
e sindical também existente no campo brasileiro.

A CSP-Conlutas também atua na reorganização das lutas no campo, no sentido de
construir uma alternativa em relação as organizações que abandonaram a luta pela
terra. Dessa forma, a central procura construir um programa que unifique todos
aqueles que lutam no campo brasileiro: camponeses, operários agrícolas, sem
terras e os povos quilombolas e indígenas.

A luta pela terra entre os anos 1950-60
A luta pela Reforma Agrária no Brasil ganhou destaque nacional com a organização
das Ligas Camponesas, entre as décadas de 1950 e 1960. Contudo, é importante
lembrar que a luta pela terra já estava presente muito antes, em conflitos como
nas guerras de Canudos (1896-97) no interior da Bahia e do Contestado
(1912-1916) na fronteira entre o Paraná e Santa Catarina, nas revoltas de
Porecatu (1946-51) no Paraná e de Trombas e Formoso (anos 1950) em Goiás, entre
outros conflitos nos quais camponeses posseiros lutavam contra as investidas de
grileiros, latifundiários, jagunços e do exército. Mas é com a organização das
Ligas Camponesas que o debate sobre a reforma agrária ganha uma dimensão
nacional.

As Ligas surgem da resistência de foreiros ameaçados de expulsão pelos grandes
proprietários das antigas fazendas de cana-de-açúcar em Pernambuco. Num primeiro
momento, as Ligas surgem para lutar contra o aumento do preço do foro e contra
as alterações dos dias do cambão. No entanto, logo assume uma posição de luta
pela terra e promovem ocupações dos engenhos da Zona da Mata pernambucana.

A organização da Ligas se pautava pela criação de sindicatos de trabalhadores
rurais, e já na década de 1960 o movimento congrega também em sua base os
moradores dos engenhos, cujo núcleo eram as questões trabalhistas. Os primeiros
anos da década marcam o auge da luta das Ligas, com a criação de diversos
sindicatos rurais, sobretudo em Pernambuco, mas também em outras regiões do
país.

As Ligas Camponesas defendiam uma Reforma Agrária Radical para acabar com o
monopólio do latifúndio sobre a terra. Nisso apresentava uma grande diferença
com do programa do PCB, o principal partido da esquerda na época.

O Partido Comunista enxergava uma contradição entre os interesses dos
latifundiários proprietários de terra e a burguesia capitalista. Os primeiros
eram vistos como resquícios do atraso, restos de um suposto passado feudal do
Brasil; enquanto os últimos eram considerados representantes do desenvolvimento
e do progresso capitalistas e da democracia. Por isso, o PCB defendia uma
aliança entre o operariado urbano, camponeses e a burguesia nacional contra os
latifundiários, na construção de uma Frente de Libertação Nacional antifeudal e
antiimperialista. De acordo com a estratégia dos comunistas, o campesinato e o
operariado estariam neste bloco de classes, mas o integrariam de forma
subordinada à burguesia.

Coerente com essa estratégia, o PCB defendia uma Reforma Agrária parcial, no
sentido de desenvolver o mercado interno. Nesse sentido, tinham acordo com o
programa do PTB do então presidente João Goulart, que defendia a reforma agrária
para aumentar a oferta de alimentos, ampliar o mercado interno, proporcionar
mais fluxo de renda e poupança no meio rural, o que resultaria, em última
instância, no desenvolvimento da indústria.

Como veremos mais adiante, essa estratégia se provou totalmente equivocada, uma
vez que o desenvolvimento do capitalismo no Brasil não mostrou nenhuma
contradição de interesses de classes entre proprietários de terra e capitalistas
industriais (a burguesia). Ao contrário, o desenvolvimento desigual e combinado
do capitalismo no Brasil os uniu em um único bloco de classes.

Regime militar e a questão agrária

O golpe de 1964 esmagou as Ligas Camponesas. Muitos de seus líderes foram
implacavelmente perseguidos e assassinados por militares, policiais ou jagunços.
No entanto, o regime militar temia a possibilidade de uma revolução camponesa
varrer o país, uma preocupação que foi alimentada até por representantes do
governo dos Estados Unidos na época. Walt Rostaw, economista e ex-subsecretário
do Departamento de Estado dos EUA, por exemplo, defendia que, após a deposição
do governo Goulart e a desarticulação das Ligas através da repressão, estaria
aberto o caminho para que a reforma agrária fosse realizada para integrar vastas
populações ao mercado.

Mesmo com a desarticulação dos movimentos de luta pela terra, a enorme
concentração fundiária poderia ser matéria-prima para novas rebeliões sociais, o
que seria fonte de instabilidade política para o regime militar. Procurando
evitar esse cenário, logo após o golpe, os militares promulgaram o Estatuto da
Terra, criado pela Lei 4.504 de 1964.

O Estatuto da Terra tinha um caráter dúbio em relação à questão agrária. Em um
primeiro momento procurava aplicar uma política de reforma agrária, e assim
servir como instrumento de controle dos conflitos gerados pela concentração
fundiária. Mas na prática o Estatuto nunca foi totalmente aplicado. A lei
previa, por exemplo, a criação pelo governo de um Plano Nacional de Reforma
Agrária, o que nunca foi realizado pelos militares.

Repetiu-se aqui, como em outros momentos da história do Brasil, o velho roteiro
no qual propostas de reformas sociais são capturadas pelas elites e postas em
prática pelos seus representantes (a exemplo da libertação dos escravos pela
monarquia, da proclamação da República pelo exército ou da criação de um sistema
legal de proteção trabalhista pela ditadura de Getúlio Vargas). No entanto,
nesse jogo político o resultado é a não efetivação das reformas sociais. Leis
são aprovadas, mas as classes dominantes se asseguram que elas não serão
executadas contra os seus próprios interesses.

Assim, a reforma agrária prevista pelo Estatuto da Terra deu lugar a uma
política econômica que permitiu a ampla penetração do grande capital na
agropecuária. Sob o invólucro de reforma agrária, o regime militar iniciou a
implementação dos projetos de colonização dirigida na Amazônia (sob a
responsabilidade do Estado ou da iniciativa privada). Na realidade, os projetos
de colonização realizados tinham por objetivo a preservação da estrutura
fundiária em outras regiões do país, como o Sudeste, Sul e Nordeste. Dessa forma
serviam como “válvula de escape” para os conflitos fundiários dessas regiões
preservando a velha concentração fundiária das outras regiões do país. Como
afirmava o sociólogo Otavio Ianni, se efetivou uma verdadeira contrarreforma
agrária: se distribuía terras a alguns trabalhadores rurais para não distribuir
as terras aos muitos trabalhadores rurais sem terras do Nordeste, do Centro-Sul
e também do Oeste e no próprio Norte. Para isso, em 1970, o regime militar cria
o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), a partir da fusão do
Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC) com o Instituto Brasileiro
de Reforma Agrária (IBRA).

No entanto, em 1972 os assentamentos são suspensos pelo instituto. A política de
colonização cedeu lugar ao incentivo dos grandes projetos agropecuários na
Amazônia.

Por meio de uma generosa política de isenções no Imposto de Renda, a intenção
dos militares era claramente atrair capital de fora da Amazônia. As isenções
fiscais eram de 50% para empreendimentos que se encontravam na região, mas
chegava a 100% para aqueles capitais provenientes o Sul, Sudeste, e outras
regiões do país que se instalassem na Amazônia. Os investidores também estariam
isentos do imposto de exportação de produtos regionais e dos impostos sobre
importação de máquinas e equipamentos. Ou seja, comprar terras na Amazônia havia
se tornando um grande negócio, fonte de especulação e reserva de valor. Por
isso, grandes empresas investiram muito em terras na região como a Volkswagen,
grupos como Bordon, Zazur e bancos que se tornam proprietários de imensas áreas
de terra.

O sociólogo José de Souza Martins destaca que graças o papel fundamental
exercido pelo Estado, investir na compra de terras deixou de ser um entrave à
circulação e reprodução ampliada do capital, uma vez que comprar terra significa
imobilizar o capital. Com a política dos militares, investir na compra de terras
tornou-se um grande negócio para obter redução no Imposto de Renda das empresas,
garantia de empréstimos bancários e fonte de especulação imobiliária. É por isso
que muitas empresas pagavam pela terra, mesmo quando ela era grilada e
apresentava documentação falsa. Como resultado da política dos militares para a
Amazônia, ocorreu uma aliança entre empresários capitalistas (brasileiros ou
estrangeiros) e proprietários de terra. Ou seja, não havia nenhuma contradição
entre essas classes sociais como defendia o PCB. Muito pelo contrário, o
desenvolvimento do capitalismo no campo levou até mesmo a fusão entre o grande
proprietário de terra com o capitalista numa mesma pessoa, algo muito fácil de
perceber no agronegócio de hoje.

Conflito e resistência

Naturalmente, o avanço do capital significou a expropriação, violência e morte
para as populações amazônicas, sobretudo aos posseiros e indígenas que
tradicionalmente ocupavam a região. Muitas etnias indígenas e camponeses foram
exterminadas, ou expulsas para as grandes cidades. Mas também houve muita
resistência aos grandes projetos incentivados pelo regime militar, o que se
expressou, por exemplo, na luta do movimento dos seringueiros (Acre e Rondônia),
dos posseiros da região do Bico do Papagaio (Maranhão, Tocantis, Pará), e de
quilombolas e indígenas.

Foi pelas mãos dessa gente que a luta pela terra continuou viva, ganhando
contornos originais e adaptados ao seu modo de vida e cultura. Em muitos lugares
ela obteve grandes vitórias, permitindo a eles o acesso à terra.

Fim da ditadura e governo Sarney

Com a redemocratização do país, a luta pela terra se intensificou. Como previa o
Estatuto da Terra, finalmente o governo José Sarney cria o 1º Plano Nacional de
Reforma Agrária que previa o assentamento de 1,4 milhões de famílias. Contudo,
mais uma vez a lei não sai do papel. Procurando impedir a efetivação do plano, o
oligarca Jader Barbalho, então governador do Pará, estado que tinha o maior
número de assassinatos no campo, assumiu o Ministério da Reforma e do
Desenvolvimento Agrário (MIRAD) e paralisa a reforma agrária. O resultado é que
apenas 8% das terras previstas no plano foram desapropriadas, e 10% das famílias
assentadas.

Ao mesmo tempo, a reação dos latifundiários às ocupações de terra resultou na
criação da União Democrática Ruralista (UDR), liderada por Ronaldo Caiado e que
congrega grandes proprietários de terra. Nessa época a UDR se trona famosa por
arrecadar dinheiro com leilões de gado e shows para sustentar a criação de
milícias de jagunços e combater aqueles que lutam pela terra. A luta pela
reforma agrária se militariza em boa parte do país e muitos movimentos
camponeses são obrigados a organizar sua autodefesa diante do recrudescimento da
violência.

Na década de 1980 também surgem novas organizações da classe trabalhadora, como
a CUT e o PT.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), criada pelo
governo de João Goulart, filia-se à CUT. Muitos movimentos camponeses se
integram a essa central, o que coloca em um patamar superior a unidade de
classes entre aqueles que lutam pela terra e o operariado urbano.

A luta dos assalariados do campo também ganha força, e um dos maiores exemplos é
a greve dos cortadores de cana em Guariba, interior de São Paulo, onde
bóias-frias expulsos do campo lutaram contra as condições de superexploração
imposta pelos usineiros.

Também surge o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que será a
mais importante organização de luta pela terra nos anos seguintes.

A rápida urbanização do país levada a cabo na segunda metade do século XX, levou
muitos camponeses expropriados para os grandes centros urbanos. A crise
econômica dos anos 1980 e os ajustes neoliberais da década seguinte criaram uma
massa de desvalidos e desempregados. Muitos desses sujeitos tinham sido
trabalhadores assalariados, mas encontraram no MST o caminho para retornar à
terra e nela produzir através da ocupação dos latifúndios improdutivos. Assim, a
estratégia do MST é a exigência do cumprimento da Constituinte de 1988, a qual
prevê que a terra precisa  cumprir sua função social.

FHC: repressão e neoliberalismo no campo

Foi pelas mãos do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) que o grosso dos
planos neoliberais entraram no país. Privatizações de estatais, reestruturação
da dívida pública e o tripé da política econômica (pautada em gerar superávit
primário, controle da inflação e câmbio flutuante) proporcionam lucros
exorbitantes a banqueiros e empresários, enquanto o desemprego e a miséria
assumiam índices alarmantes.

A luta pela reforma agrária e as ocupações do MST crescem em todo país,
sobretudo nas regiões Sudeste, Nordeste e Sul onde se registram a maioria das
ocupações de terra. Sob enorme pressão social, FHC em seus dois governos adotou
uma política que apresentava algumas concessões, assentando 490 mil famílias – a
maioria (62%) na região amazônica, 22% no Nordeste, 10% no Centro-Sudeste e 6%
na região Sul. Ou seja, os assentamentos são realizados na região onde se tinha
o menor índice de ocupações de terra (Amazônia) e maior disponibilidade de
terras devolutas. Dessa forma, ao concentrar assentamentos na Amazônia,
mantinha-se a velha concentração fundiária em outras regiões do país.

Por outro lado, o governo FHC combinava essa política de assentamento com
medidas de repressão aos camponeses sem terras. Os Massacres de Corumbiara (RO)
e El Dorado dos Carajás (PA), além das perseguições no Pontal do Paranapanema
(SP) são alguns exemplos.

FHC também cria uma Reforma Agrária de mercado, com o Banco da Terra. A proposta
é de autoria do Banco Mundial e tem por objetivo estimular o arrendamento de
terras e a compra e venda de terras. Este modelo de reforma agrária foi bastante
difundido pelo FMI e Banco Mundial na América Latina, por ser extremamente
compensador para os latifundiários e especuladores, que escolhem as piores
terras para venderem aos camponeses, a preços geralmente elevados.

Por fim, o governo do PSDB também editou duas medidas provisórias para atacar os
movimentos de luta pela terra: a MP 2109, que proibia a vistoria por dois anos
em imóveis ocupados; e a Portaria MDA nº 62 que exclui da Reforma Agrária
aqueles que participassem de ocupações.

Governos do Lula e Dilma: aliança com o agronegócio 

O primeiro governo Lula (2003-2006) começou com grande expectativa da maioria
dos setores que sempre lutaram pela terra no Brasil. Mas não demorou muito para
que as expectativas se transformassem em frustração. Em novembro de 2003, o
governo anunciou a realização do II Plano Nacional de Reforma Agrária. Nele
estabelecia que até o final de 2006 seriam assentadas 400 mil novas famílias;
130 mil famílias terão acesso à terra por meio do crédito fundiário (uma versão
do programa “Banco da Terra”, de FHC) e outras 500 mil adquirirão estabilidade
na terra com a regularização fundiária. É importante lembrar que Lula descartou
outro plano coordenado por Plínio de Arruda Sampaio que previa o assentamento de
mais de 1 milhão de famílias até 2006.

As ocupações de terra – método de luta privilegiado pelo MST – também sofre
profundas mudanças. As medidas repressivas de FHC combinadas com a reforma
agrária de mercado já haviam diminuído as ocupações de terra.  Em 1999 foram
registradas 856 ocupações, nos anos seguintes o número caiu para 519 (2000), 273
(2001) e 269 (2002).

Nos primeiros anos do governo Lula houve um aumento de 540 (2003) e 662 (2004).
Mas logo houve um claro declínio. Em 2005 tivemos 561 ocupações, e em 2010 esse
número caiu para 184. Todos esses dados estão no Relatório Dataluta 2012.

O relatório conclui que essa diminuição está relacionada ao crescimento
econômico e ao acesso ao Bolsa Família por parte dos setores mais pobres da
sociedade. Contudo, é inegável que a diminuição das ocupações de terra também
está relacionada ao apoio que o MST prestou ao governo Lula nesse período. Tal
apoio estabeleceu na prática uma “trégua”, e o resultado é que se abriu mão das
ocupações como instrumento para forçar o governo a assentar famílias. Claro que
há honrosas exceções, onde setores da base do movimento não pararam de lutar
apesar do apoio de sua direção ao governo.

Vale a pena ler o artigo “Camponeses, indígenas e quilombolas em luta no campo:
a barbárie aumenta”, de autoria de Ariovaldo Umbelino de Oliveira, geógrafo da
USP, publicado no relatório “Conflitos no Campo: Brasil 2015”, da Comissão
Pastoral da Terra (CPT).

O artigo mostra como a reforma agrária foi congelada pelos governos petistas de
Lula e Dilma. Conforme o relatório, o primeiro governo Lula teria assentado
apenas 150 mil famílias em novos assentamentos. O restante das 231 mil famílias,
incluídas como uma manobra contábil na conta do governo, pertencem a ocupações
de terras que foram regularizadas. Com essa manobra contábil, o governo petista
inventou a grande mentira de que havia cumprido a meta do Plano Nacional de
Reforma Agrária. Já no segundo mandato Lula assentou apenas 65 mil e Dilma, em
seu primeiro mandato, somente 31 mil famílias foram assentadas.

Outro dado apresentado no artigo foi o aumento da concentração de terras sob os
governos do PT. Segundo Ariovaldo, nos dois mandatos de Lula a área apropriada
pela grande propriedade latifundiária aumentou 62,8%, “quase o dobro do seu
crescimento durante a ditadura militar, e, cinco vezes mais do que o governo
FHC”, destaca o professor. Com Dilma, a concentração fundiária não parou e
chegou a 66,7%, ou, mais 97,9 milhões de hectares estão nas mãos de grandes
proprietários.

Isso significa que o país viveu uma profunda contrarreforma agrária provocada,
sobretudo, pelas políticas favoráveis ao agronegócio. Bilhões foram entregues
para esse setor e, para piorar, o governo do PT nomeou para o Ministério da
Agricultura João Roberto Rodrigues (Lula) e Kátia Abreu (Dilma), representantes
do agronegócio e inimigos da reforma agrária.

Em suma, o governo Lula reproduziu a velha cartilha das elites: promulgou um
plano de reforma agrária, mas ficou longe de efetivá-lo. Pior ainda, obtendo o
apoio da direção do MST conseguiu neutralizar as ocupações no campo que tanto
incomodaram o governo de FHC.

Outro resultado dessa contrarreforma agrária foi a explosão da violência e dos
conflitos no campo. O número de assassinatos decorrentes de conflitos no campo
em 2015 foi o maior dos últimos 12 anos no Brasil, com 49 mortes registradas, a
maior parte na Região Norte e Nordeste do país, regiões que concentram intensa
atividade do agronegócio e alvo das grandes obras do governo em prol do setor,
como a construção da Hidroelétrica de Belo Monte.

Outro dado não menos importante levantado por Ariovaldo é a mudança dos sujeitos
sociais envolvidos na luta pela terra. Se antes o protagonismo era dos sem
terras, nos últimos anos essa posição vem sendo tomada pelos camponeses
posseiros (que não detém a titularidade da propriedade da terra que ocupa e
trabalha). Os posseiros protagonizaram 253 conflitos de terra, (33,2% do total).
 Na sequência vem os sem terras, com 214 conflitos (28% do total). Ou seja, o
que vemos hoje são duas lutas: a luta para não sair da terra e a luta para
entrar nela, ambas dominam os conflitos agrários na atualidade.

A atualidade da reforma agrária

“Tudo deve mudar para que tudo fique como está”. Essa frase do escritor italiano
de Giuseppe Lampedusa, em um de seus livros, expressa com maestria a forma como
as elites sempre se comportaram diante das pressões sociais pela reforma agrária
no Brasil. Os governos do PT mostraram que aprenderam bem essa lição, mas não
conseguiram desmobilizar a luta pela terra que continua e vai continuar
assumindo as mais diferentes formas. Uma luta que produziu 1.217 conflitos em
2015 (incluído os conflitos por terra, água e trabalhistas), uma média três por
dia, segundo os dados da CPT. Além disso, em 2015, foram assassinadas 50 pessoas
no campo, o maior número de vítimas desde 2004, e 39% a mais do que em 2014,
quando foram registrados 36 assassinatos.   Não poderia ser diferente, em um
país em que, segundo o IBGE, 0,91% dos proprietários de terra com mais de mil
hectares detém 44,42 da aérea ocupada, enquanto 86% dos pequenos proprietários
(que ocupam imóveis de 10 a 100 hectares) ocupam apenas 21,4 da área.

O Brasil precisa de uma reforma agrária que liquide a estrutura latifundiária
atual e desenvolva em seu lugar um amplo e massivo plano de acesso à terra e a
água. Por tudo isso, a luta pela reforma agrária é mais atual do que nunca e
continuará abalando o campo brasileiro enquanto o latifúndio não acabar.

É por isso que a CSP-Conlutas atua ativamente no processo de unificação das
lutas do campo e da cidade e procura agrupar todas aquelas organizações que
lutam contra o latifúndio e pela reforma agrária no país.

*Editor do jornal Opinião Socialista e pesquisador da questão agrária no Brasil
Relatório da CPT
http://www.cptnacional.org.br/index.php/component/jdownloads/send/41-conflitos-no-campo-brasil-publicacao/14019-conflitos-no-campo-brasil-2015
In
CSP CONLUTAS
http://cspconlutas.org.br/2016/11/a-luta-pela-terra-no-brasil-por-jeferson-choma/
18/11/2016

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

EE UU: La elección de Trump ha decretado la muerte definitiva de la política basada en las identidades




 Michael Hudson



“La elección de 2016 hizo doblar las campanas de muerte por las políticas de
identidad. Objetivo de esas políticas era persuadir a los votantes de que no
pensaran en su identidad en términos económicos, sino que pensaran en sí mismos,
primero y por encima de todo, como mujeres o como miembros de grupos raciales o
étnicos, no como gentes que tenían intereses económicos en común. Es obvio que
esta estrategia concebida para distraer al votante de la política económica ha
fracasado. (…) Esta elección ha mostrado que los votantes tienen una antena para
registrar la mentira. Tras ocho años de demagogia de un Obama que, pretendido
paladín del pueblo, entregó a su electorado a sus donantes de Wall Street. La
“política de la identidad” ha cedido ante el empuje de la fuerza superior que es
el malestar económico. La movilización política con banderas identitarias en
favor de un programa de Wall Street ha dejado de funcionar.”
En la semana anterior a la celebración de las elecciones el pasado jueves, la
prensa anduvo muy ocupada escribiendo necrológicas del Partido Republicano. Y
eso siguió tras la “sorprendente” victoria de Donald Trump, esa que, lo mismo
que el desplome del fraude bancario en 2008, “nadie podía esperar”. Pretexto:
Trump habría visto lo que ningún otro político vio: que la economía no se ha
recuperado desde 2008.
Los Demócratas todavía parecen asombrados de que los votantes se preocupen más
por la situación económica y sientan rabia contra Wall Street (ningún banquero
encarcelado, muy pocas hipotecas basura amortizadas). Es un signo de que los
estrategas del partido persisten en el errado camino por el que han solido
moverse desde los años 60: el de la fragmentación de los norteamericanos en
grupos de identidades compuestas con intereses especiales segmentantes.
Obviamente, el 95% de abajo se percata de que sus ingresos y su patrimonio neto,
lejos de recuperarse, han declinado. Las estadísticas del Ingreso Nacional y de
la Reserva Federal muestran que todo el crecimiento ha ido a parar tan sólo al
5% de la población. Se dice que Hillary ha gastado mil millones de dólares en
sondeos, publicidad televisiva y estratosféricos salarios para los miembros de
su equipo de campaña, pero no logró prever la reacción política que esa
polarización traía consigo. Ella y su camarilla ignoraron la política económica
tan pronto como Bernie [Sanders] fue apartado del camino y sus seguidores
renunciaron a sumarse a un tercer partido. El discurso de campaña de Hillary
buscó convencer a los votantes de que estaban mejor que hace ocho años. ¡Pero
los votantes estaban sobre aviso!
Así pues, la cuestión es ahora si Donald Trump se comportará realmente como un
aventurero inconformista y sacudirá los cimientos del Partido Republicano.
Parece estar librándose una batalla, si no por el alma de Donald Trump, al menos
por el personal que nombrará para su gabinete. Asistimos el jueves y el viernes
pasado a un verdadero bombardeo amoroso por parte de los habituales lobistas
empresariales cercanos al Partido Republicano, un poco al estilo de las sectas
Moon y Hari Krishna asediando a un potencial nuevo miembro. ¿Se rendirá Trump
simplemente ahora y pasará el trabajo real de gobierno a los aparatchiki del
Partido Republicano?
¡El mercado de valores así lo cree! El miércoles se disparó casi 300 puntos, y
repitió ganancias el jueves, ¡nuevo récord en el Promedio Industrial Dow Jones!
Las farmacéuticas suben, porque se avista la subida de precios de los fármacos
para Medicaid y Medicare. Se disparan las acciones de los oleoductos y otros
contaminantes medioambientales, desde el petróleo a carbón pasando por el gas,
la minería y la silvicultura, esperando el liderazgo medioambiental esté tan
muerto bajo Trump como lo ha estado bajo Obama y su presión en favor del TPP y
el TTIP (que incluyen multas a cualquier gobierno que ose imponer normativas que
cuesten dinero a esas empresas). En el lado menos oscuro de la cosa, esos
tratados “comerciales” que posibilitarían a las grandes empresas transnacionales
el bloqueo de leyes públicas protectoras del medio ambiente, de los consumidores
y de la sociedad en su conjunto están ahora presumiblemente muertos.
Por ahora, personalidad es política. Y un problema que presenta eso es que
cualquiera que se presenta para presidente lo hace en parte en busca del
aplauso. Ese fue el punto débil de Carter, que le llevó a claudicar ante los
apparatchikii del Partido Demócrata en 1974. Parecería que con Trump puede
ocurrir algo similar. Quiere ser amado, y los lobistas Republicanos y le ofrecen
aplausos atronadores con tal de que vire hacia ellos y rompa sus promesas de
campaña como hizo Obama en 2008. Lo que desharía sus esperanzas de ser un gran
presidente y el campeón de la clase trabajadora, que fue la imagen que vendió
hasta llegar al 8 de noviembre.
La lucha por el futuro (¿puedo decir “el alma”?)  del Partido Demócrata
En su mensaje post-mortem del miércoles por la mañana, Hillary hizo un
extravagante llamamiento a la gente joven (particularmente a las chicas) para
seguir su modelo y volverse políticamente activos como Demócratas. Lo que hace
tan extraño este llamamiento es que el Comité Nacional Demócrata (CND) ha hecho
todo lo posible por para desincentivar la participación de los jóvenes. Hay
pocos candidatos jóvenes (si descontamos a los Republicanos de Wall Street
disfrazados de Demócratas Blue Dog (conservadores). La izquierda no ha sido
bienvenida en el partido desde hace una década, salvo si se limitaba a la
retórica y a la demagogia, no al contenido. Para la camarilla de Hillary en el
CND, el problema con los milenials es que no son buen gancho para Wall Street.
El tratamiento dispensado a Bernie Sanders resulta ejemplar. El CND arrojó la
toalla.
En vez de un festival de amor entre las bases del Partido Demócrata, asistimos a
un explosivo juego de culpas.  Los Demócratas llegaron a recoger, según se
informa, 182 millones de dólares en donativos de campaña. Pero cuando Russ
Fengold en Wisconsin y otros candidatos en Michigan, Minnesota y Pensilvania
pidieron ayuda, Hillary monopolizó todo para anuncios publicitarios televisivos,
dejando a esos candidatos colgados de la brocha. La elección no parecía sino
cosa suya y no girar  sino en torno a políticas  personalidad e identidad, no en
torno a los asuntos económicos que ocupaban el primer rango en la mente del
grueso de los votantes.
Hace seis meses, los sondeos mostraban que los mil millones de dóalres gastados
por Hyllary en encuestas, publicidad televisiva y una colección carísima de
sicofantes en calidad de asesores había sido, y por mucho, un ejercicio de GIGO
[acrónimo de Garbage In Garbage Out:  “basura que entra, basura que sale”].
Entre mayo y junio, el CND supo que las encuestas daban a Bernie Sanders ganador
frente a Donald Trump, mientras daban a Hillary por perdedora. ¿Prefería caso la
dirección Demócrata perder con Hillary que ganar tras Bernie y sus reformadores
democráticos?
Hillary no aprende. El pasado fin de semana declaró que, según su análisis, los
informes del director del FBI, Comey, “levantando dudas que carecían de
cualquier base y fundamento” frenaron su inercia ganadora. Análogamente, el New
York Times, sostenía que el día antes de las elecciones la probabilidad de
victoria de Hillary era del 84%. Todavía no han dicho una palabra sobre lo
inadecuado de su análisis.
¿Qué se ha hecho de las antiguas bases del Partido Demócrata, constituidas por
el movimiento obrero y los reformadores progresistas? ¿Tienen que hacerse a un
lado y permitir ahora que el partido, en la estela de Hillary, sea prisionero de
la banda de Robert Rubin en Goldman Sachs-Citigroup que respaldó a Obama?
Si ha de recuperarse al partido, ahora es el momento. La elección de 2016 hizo
doblar las campanas de muerte por las políticas de identidad. Objetivo de esas
políticas era persuadir a los votantes de que no pensaran en su identidad en
términos económicos, sino que pensaran en sí mismos, primero y por encima de
todo, como mujeres o como miembros de grupos raciales o étnicos, no como gentes
que tenían intereses económicos en común. Es obvio que esta estrategia concebida
para distraer al votante de la política económica ha fracasado.
No funcionó con las mujeres. En Florida, sólo el 51% de las mujeres blancas se
animaron a votar por Hilary. Ni siquiera funcionó muy bien en los distritos
étnicamente hispanos. También ellos estaban más preocupados por sus
oportunidades de empleo.
La carta étnica funcionó con muchos votante negros, pero ya no tanto: por
Hillary votaron menos negros que por Obama. Bajo la administración Obama en los
últimos ocho años, en términos de ingreso y patrimonio neto a los negros les ha
ido peor que a cualquier otro grupo, de acuerdo con las estadísticas de la Junta
de Gobernadores de la Reserva Federal. Pero la política de identidad étnica del
Partido Demócrata distrajo a los votantes negros de sus intereses económicos.
Esta elección ha mostrado que los votantes tienen una antena para registrar la
mentira. Tras ocho años de demagogia de un Obama que, pretendido paladín del
pueblo, entregó a su electorado a sus donantes de Wall Street. La “política de
la identidad” ha cedido ante el empuje de la fuerza superior que es el malestar
económico. La movilización política con banderas identitarias en favor de un
programa de Wall Street ha dejado de funcionar.
Si, en efecto, a lo que estamos asistiendo es a un revival de la consciencia de
clase, ¿quién debería dirigir la lucha para limpiar el Partido Demócrata y echar
a su actual dirección pro Wall Street? Tendrá que ser el ala de Wall Street, o
acaso Bernie y tal vez Elisabeth Warren moverán pieza?
Sólo hay una forma de rescatar a los Demócratas de la banda de los Clinton y los
Rubin. Y es salvar al Partido Demócrata de convertirse irreversiblemente en el
partido de Wall Street y del aventurerismo neocon. Es necesario echar ya a la
banda wallstreetiana de los Clinton y los Rubin. Y que se lleven de paso consigo
a Evan Bayth.
Los peligros de no aprovechar esta oportunidad de limpiar el partido ahora
El Partido Demócrata solo puede salvarse centrándose en los asuntos económicos,
y en forma tal, que revierta la línea neoliberal prevalente bajo Obama y que se
remonta a los tiempos de la administración pro Wall Street de Bill Clinton. Los
Demócratas necesitan hacer lo mismo que ha hecho el Partido Laborista británico,
que es desembarazarse de los thatcheristas de Tony Blair. Como escribió Paul
Craig Roberts el pasado fin de semana:
“El cambio no puede darse, si la desplazada clase dominante queda intacta tras
una revolución contra ella. Tenemos una buena prueba de eso en Suramérica. Todas
las revoluciones indígenas se desarrollaron sin demasiadas molestias para la
clase dominante española, y todas las revoluciones fueron derrovadas por una
colusión entre la clase dominante y Washington.”[1]
Si no proceden como dicho, los Demócratas se quedarán como una concha vacía.
Ahora es la hora de Bernie Sanders, Elisabeth Sanders y el pequeño puñado de
progresistas que no han sido purgados por el CND. Llegó la hora de que muevan
pieza y presenten su candidatura al CND. Si fracasan en ese empeño, el Partido
Demócrata estará muerto.
Un indicador de la resolución con que la actual dirección del Partido Demócrata
luchará contra ese cambio de lealtades puede verse en su larga lucha contra
Bernie Sanders y otros progresistas desde los tiempos de Dennis Kucinich. Estos
últimos cinco días de manifestaciones callejeras MoveOn patrocinadas por George
Soros, el sostenedor de Hilary, bien podrían ser un intento de prevenir el
esperado empuje de los partidarios de Bernie apoyando la candidatura de  Howard
Dean como jefe del CND y organizando grupos movilizables en lo que podría llegar
a ser una “Primavera Maidán” norteamericana.
Tal vez algunos Demócratas prefirieron perder con una candidata de Wall Street
como Hilary que ganar con un reformista que les habría desalojado de sus
posiciones derechistas. Pero el problema principal fue la hybris. La camarilla
de Hilary pensó que podría fabricar su propia realidad. Llegó a creer que
centenares de millones de dólares gastados en publicidad televisiva y de otro
tipo podría mover a los electores. Pero ocho años de rescate a Wall Street, y no
a la economía, bastaron para que el grueso de los electores se percataran de la
mendacidad de las promesas de Obama. Y desconfiaron de la pretendida aceptación
por Hilary de la oposición de Bernie al TPP.
Los estados oscilantes y finalmente perdidos del Rust Bell o Cinturón Oxidado,
que habían apoyado a Obama en las dos últimas elecciones, no son estados
racistas. Votaron por dos veces a Obama, después de todo. Pero a la vista del
apoyo de éste a Wall Street, perdieron la fe y dejaron de darle crédito. En
todos ellos, Bernie había ganado a Hilary en las primarias. 
Donald Trump es, así pues, el legado de Obama. El voto de la semana pasada fue
una reacción, un culatazo. Hilary creyó que meter a Obama y a Michele en campaña
la ayudaría. Pero terminó siendo el beso de la muerte. Obama urgió a los
votantes a “salvar su legado” votando por ella como si fuera un tercer mandato
suyo. Pero los votantes no querían su legado de regalos despilfarradores a los
bancos, a las grandes farmacéuticas y a los monopolios de los seguros de salud.
Pero lo peor de todo fue Hilary pidiendo a los votantes que no tuvieran en
cuenta su lealtad a Wall Street y que se limitaran simplemente a votar por una
mujer. Y acusando à la McCarthy a Trump de ser “el candidato de Putin”
(acusación, dicho sea de paso, de la que se hizo penosamente eco Paul Krugman).
El miércoles, el antiguo embajador de Obama en Rusia, Michael McFaul, tuiteó que
“Putin intervino en nuestra elección, y ganó”. Era como si los Republicanos y el
FBI fueran una quinta columna del KGB. Su predisposición a recortar la Seguridad
Social y profundizar en la retención de salarios para derivarlos al mercado de
valores –especialmente hacia los fondos financieros de cobertura que financian
sus campañas— no le fue precisamente de ayuda. Los honorarios obligatorios
pagaderos a las compañías de seguros de salud siguen creciendo, pues la juventud
que goza de buena salud crece como el foco principal de beneficios que el
Obamacare ha ofrecido en régimen de monopolio a las grandes aseguradoras
médicas.
Las marchas anti-Trump movilizadas por George Soros y el MoveOn parecen un
intento preventivo destinado a aplicar a la izquierda socialista potencial la
vieja estrategia clintoniana del divide y vencerás. Ese grupo ya fue derrotado
hace cinco años cuando trató de hacerse con el control del movimiento Ocupa Wall
Street y subordinarlo al Partido Demócrata. Su amago de regreso precisamente
ahora deberían entenderlo las bases de Sanders y otros “genuinos” Demócratas
como indicador de la necesidad urgente de crear una alternativa inmediata para
evitar que el “socialismo” caiga prisionero de Soros y sus apparatchikii
responsables de la campaña de Clinton.
NOTA: [1] Paul Craig Roberts, “The Anti-Trump Protesters Are Tools of the
Oligarchy,” Counterpunch, 11 de noviembre de 2016.

Michael Hudson

es profesor de investigación de la facultad de económicas de la Universidad de
Missouri, Kansas City e investigador asociado del Instituto de Economía Levy. Su
último libro es Killing the Host: How Financial Parasites and Debt Destroy the
Global Economy. (“Matar al huésped: o cómo los parásitos financieros y la deuda
destruyen la economía mundial”) que está publicado en formato digital por
CounterPunch Books y en papel por Islet.
 
Fuente:
Counterpunch, 15 de noviembre de 2016
In
SINPERMISO
http://www.sinpermiso.info/textos/ee-uu-la-eleccion-de-trump-ha-decretado-la-muerte-definitiva-de-la-politica-basada-en-las
17/11/2016

domingo, 20 de novembro de 2016

Terceirização ampla e irrestrita é rebaixamento das condições de trabalho.



Valdete Souto Severo

Anunciada ontem a pauta do Congresso Nacional, com inclusão do PLC 30, que trata
da terceirização ampla e irrestrita, para votação no próximo dia 24/11. É uma
dança. Ou melhor: um movimento de guerra, em que estratégias são utilizadas para
fazer prevalecer a vontade de alguns, em detrimento da maioria, que ainda
resiste.

A inclusão do processo que versa sobre terceirização, na pauta do último dia 09,
no Supremo Tribunal Federal (STF), teve o objetivo de impor ao Congresso a
votação do PLC 30. Aliás, o Ministro Gilmar Mendes disse isso expressamente.
Fazem eles, ou faremos nós. Não fizeram. O processo foi retirado de pauta, mas o
Congresso entendeu o recado. E reincluiu em pauta de votação um projeto de lei
de 2004, contra o qual a sociedade organizada, através de entidades
representativas de classe, dos movimentos sociais e do Ministério Público do
Trabalho, vem incessantemente lutando. Foram realizadas mais de vinte audiências
públicas, por todo o Brasil, nas quais denunciados números irrefutáveis.
Terceirização é rebaixamento das condições de trabalho; é incentivo ao trabalho
infantil ou em condições de escravidão. O material empírico que demonstra isso
renova-se a cada dia. Em fevereiro deste ano, a prestadora de serviços Higilimp
desapareceu sem pagar salários, vale refeição e vale transporte atrasados há
meses.

Em outubro, empregados terceirizados que trabalham no município de Jequié, na
Bahia, contratados através da empresa Terceira Visão, protestaram contra o
atraso de mais sete meses no pagamento dos salários. Em Porto Alegre, mais da
metade das demandas trabalhistas envolve terceirização e na grande maioria delas
a prestadora de serviços já desapareceu ou comparece à audiência apenas para
dizer que encerrou suas atividades ou não tem patrimônio para adimplir seus
débitos.

Os trabalhadores, desesperados, se veem diante de grandes empresas, como
instituições financeiras ou companhias telefônicas, que se negam a realizar
acordos ou efetuar pagamento espontâneo dos salários não adimplidos, ao
argumento de que não tem responsabilidade. Enquanto isso, essas pessoas de carne
e osso seguem sua vida na miséria, fazendo empréstimos nessas mesmas
instituições financeiras para as quais prestaram serviço, atrasando a conta de
telefone e sujeitando-se aos juros abusivos que daí decorrem; pedindo dinheiro a
amigos e parentes.

Perdem seus empregos e nada recebem. Não recebem o valor do trabalho que
realizaram, mas também lhes é negada a própria condição de trabalhador. A frase
“eu nem sei se ele trabalhou ou não em favor da minha empresa”, repetida por
prepostos de tomadoras dos serviços de limpeza, vigilância, TI, telemarketing,
vendas, entregas, e tantas outras atividades, releva a face mais cruel da
terceirização. O terceirizado, embora muitas vezes sequer conheça a sede da
prestadora; embora tenha trabalhado, por meses ou anos, dentro da sede de uma ou
mais tomadoras, não tem sequer o direito ao reconhecimento de que trabalhou, de
que seu trabalho tornou possível aquele empreendimento, de que foi ele, e mais
ninguém, quem levantou pela manhã, tomou um ou dois ônibus, colocou o uniforme e
limpou, atendeu, vendeu, protegeu o patrimônio daquela empresa.

Se um projeto como o PLC 30 for aprovado, estaremos chancelando simbolicamente o
rebaixamento das condições de trabalho, de produção, de consumo e de convívio
humano. A terceirização estimula a realização de contratos mais curtos,
aumentando a rotatividade e, portanto, o uso de benefícios sociais como o seguro
desemprego. Os acidentes e doenças do trabalho ocorrem com muito mais frequência
entre os terceirizados, trazendo consigo consequências sociais e previdenciárias
graves. Essas consequências, especialmente a redução da remuneração, tem efeitos
diretos sobre o mercado de trabalho, pois a circulação de riqueza depende da
existência de sujeitos capazes de consumir e, portanto, bem remunerados.

O projeto de lei abre as portas para a existência de empresas sem empregados,
pois permite que toda a força de trabalho necessária à consecução do
empreendimento seja contratada por intermédio de terceiros. Essa distância
(apenas formal) entre o empregado e o verdadeiro beneficiário da sua força de
trabalho, provoca invisibilidade, descomprometimento, e, como consequência, a
fragmentação da classe trabalhadora em prejuízo direto à organização sindical.

O direito do trabalho e, portanto, as relações trabalhistas, foram construídas
no tempo pela organização e resistência. Pulverizando os trabalhadores,
atrelando cada setor da fábrica a uma empresa prestadora diferente, por exemplo,
o capital consegue aniquilar essa “sensação de pertencimento” a uma mesma classe
de trabalhadores, porque promove a concorrência interna e, com isso, elimina a
possibilidade de resistência coletiva organizada.  É preciso perceber que
qualquer redução de direitos sociais implica, em última análise, piora das
condições sociais de vida de toda a população, o que significa dar muitos passos
atrás em relação ao projeto de sociedade que instituímos com a Constituição de
1988, promover um retrocesso que certamente terá custos históricos que hoje
sequer conseguimos projetar integralmente.

Aprovar o PLC 30 é aprovar o calote institucionalizado. Quem perde são os
trabalhadores, mas é também a sociedade que, especialmente em caso de
terceirização em favor de ente público, acaba pagando a conta. Paga a conta com
o aumento do número de benefícios sociais e previdenciários, com a redução do
consumo, com a piora na qualidade dos produtos e serviços ofertados, e com a
invisibilidade para a qual joga uma parcela significativa da sua população. A
lição de Saramago é mais atual do que nunca: quando tratamos pessoas como
animais, elas passam a guiar seus atos pelo extinto de sobrevivência, pois nada
mais lhes resta de humano a preservar. Se esse projeto de lei for aprovado ou se
o STF chancelar a terceirização através de decisões com repercussão geral, em
breve teremos de fechar as portas da Justiça do Trabalho. Sobrará muito pouco
para discutir em demandas trabalhistas. Eis mais uma batalha importante a ser
travada: não, não, não à terceirização!

Valdete Souto Severo é Doutora em Direito do Trabalho pela USP/SP. Pesquisadora
do Grupo de Pesquisa Trabalho e Capital (USP) e RENAPEDTS – Rede Nacional de
Pesquisa e Estudos em Direito do Trabalho e Previdência Social. Professora,
Coordenadora e Diretora da FEMARGS – Fundação Escola da Magistratura do Trabalho
do RS. Juíza do trabalho no Tribunal Regional do Trabalho da Quarta Região.     
 
In
CSP CONLUTAS
http://cspconlutas.org.br/2016/11/terceirizacao-ampla-e-irrestrita-e-rebaixamento-das-condicoes-de-trabalho-por-valdete-souto-severo/
17/11/2016