quinta-feira, 31 de março de 2016

Há golpe no ar: o complô para desestabilizar Rousseff, Lula e o Brasil






Shobhan Saxena


Partidos neoliberais, mídia comercial, Judiciário conservador, lobbyistasdas
petroleiras, elite branca e grupos de direita, com ajuda abundante que vem de
fora do país, reuniram-se em gangue para derrubar o governo do Brasil. E a coisa
está sendo feita de modo a fazer crer que teria havido um levante popular contra
regime corrupto.

São Paulo: Em novembro de 2009, The Economist põe o Brasil na capa. "Brasil
Takes Off" [Brasil decola], diz a manchete, sobre uma foto do icônico Cristo
Redentor, como se decolasse sobre o mar azul, feito uma nave espacial. Prevendo
que "o Brasil está a caminho de tornar-se a 5ª maior economia do mundo,
deslocando a Grã Bretanha e a França", a revista dizia que a maior economia da
América do Sul deveria "tomar maior velocidade nos próximos cinco anos, com a
ativação dos campos de petróleo de mar profundo, e os países asiáticos ainda
famintos de alimento e minérios da vasta e dadivosa terra do Brasil."

Em 2009, mesmo com o mundo ainda convalescendo de uma catastrófica crise
financeira, The Economist viu o Brasil como a maior esperança do capitalismo
global.

Naquele momento, a revista britânica não era a única apaixonada pelo Brasil.
Sob a liderança de Lula da Silva, o país testemunhava prosperidade sem
precedentes e mudança social. A própria ascensão pessoal de Lula, de menino
pobre e empregado metalúrgico à presidência do maior país da América Latina era
material do que se enchem as lendas. Foi tema de vários livros e de um filme de
sucesso. Na reunião do G-20 em Londres, em abril de 2009, o presidente dos EUA
Barrack Obama disse dele que era "o político mais popular da Terra". E dois dois
maiores espetáculos esportivos - a Copa do Mundo da FIFA (2014) e as Olimpíadas
(2016) - marcadas para acontecer no país, o Brasil, há tanto tempo conhecido
como "o país do futuro", pareceu estar chegando finalmente ao centro do palco
global.

Sete anos adiante, o Brasil já parece um país completamente diferente. Lula,
que concluiu o segundo mandato em 2010, com aprovação de 80% da população, foi
detido, esse mês, para ser interrogado na investigação de um escândalo de
corrupção que já pôs na cadeia alguns de seus camaradas do Partido dos
Trabalhadores (PT). A sucessora de Lula, presidenta Dilma Rousseff enfrenta
pedido de impeachment no Congresso. A economia do país encolheu 3,5% ano
passado, e esse ano não verá melhor resultado. A inflação chegou aos dois
dígitos e centenas de milhares de brasileiros enfrentam o desemprego. E milhões
de pessoas tomaram as ruas, muitos em apoio, muitos em oposição, ao governo.
Ninguém parece nem remotamente preocupado com as Olimpíadas do Rio de Janeiro,
que estão a menos de cinco meses de começarem. E a mídia comercial - global e
brasileira - já rifou Lula, Rousseff e o Brasil.

A história do Brasil começou a perder grande parte do brilho em 2013,
especialmente aos olhos da mídia-empresa internacional e de negócios. Em
setembro de 2013, novamente The Economist põe o Brasil na capa. A matéria
pingava veneno e culpava Rousseff, então no governo há três anos, mas que
enfrentaria eleições de reeleição no ano seguinte, por ter feito "muito pouco
para reformar seu governo nos anos do boom." Acusava o Brasil de ter "impostos
demais", "excessivo gasto público" e de pagar aposentadorias exageradamente
"generosas".

Aquele não foi um bom ano para o Brasil. A economia patinava e centenas de
milhates de pessoas saíram às ruas em manifestações contra o governo, pouco
antes do início da Copa das Confederações da FIFA, para protestar contra a
corrupção e exigir melhores serviços públicos. A economia parecia estar
completamente paralisada.

Mas... O que deu errado entre 2009 e 2013? Como aconteceu de Rousseff, que em
2010 a revista Forbes declarara a mulher mais poderosa do mundo, virar, de
repente, fraca e incompetente? Como aconteceu de a história do Brasil passar, da
esperança ao desespero, em tempo tão curto?

A resposta é simples: petróleo e o dinheiro, a força e a política que o
petróleo gera.

Em 2007, o Brasil descobriu um campo de petróleo com quantidades imensas de
petróleo numa região do pré-sal em águas oceânicas profundas. No período de um
ano, o país descobriu reservas de petróleo e gás natural que ultrapassam os 50
bilhões de barris - a maior reserva confirmada na América do Sul. Com isso, o
Brasil passou a ser o queridinho dos mercadores de petróleo do planeta e de Wall
Street.

A empresa estatal petroleira do Brasil, Petrobrás sempre tivera o monopólio da
exploração do petróleo no Brasil desde a criação da empresa, em 1953, mas o
setor abriu-se, em 1997, para a Royal Dutch Shell. Com as descobertas de
2007-08, gigantes globais como as empresas Chevron, Shell e ExxonMobil puseram
os olhos no Brasil, antevendo contratos lucrativos. Mas não fecharam negócio
algum.

Em 2007, Lula restabeleceu parcialmente o monopólio da Petrobrás sobre o
petróleo brasileiro. Prepararam-se leis, sob orientação de Rousseff, então
ministra de Lula, que deram à Petrobrás direitos de exclusividade na exploração,
com todos os lucros do petróleo orientados para os programas sociais do governo,
de Educação e Saúde. E a Petrobrás também iniciou parcerias com outras
petroleiras estatais de outros países, principalmente com petroleiras chinesas
(as petroleiras indianas ONGC e Bharat Petroleum também são parceiras da
Petrobrás e têm escritórios no Rio de Janeiro, onde opera o quartel-general da
empresa brasileira).

Imediatamente o Departamento de Estado e a Agência de Informação de Energia,
AIE [ing.Energy Information Agency (EIA)] dos EUA puseram-se a trabalhar no
lobbying de funcionários brasileiros, a favor das empresas dos EUA.

Telegramas diplomáticos secretos dos EUA distribuídos por Wikileaks em 2010
relevaram o quanto os norte-americanos estavam preocupados com a presença de
empresas estatais chinesas no Brasil; e um dos telegramas expõe detalhadamente
como os EUA tentavam naquele momento alterar as leis a seu favor (2/12/2009,
"Pode a indústria do petróleo fazer retroceder a lei do pré-sal", Emb. do RJ,
Confidencial).

Em pouco tempo o Brasil entrou em modo de escolher quem sucederia Lula; e seu
partido, PT, indicara Rousseff como sua candidata. O principal partido de
oposição, o Partido da Social Democracia Brasileira, PSDB, que sempre apoiara a
privatização da Petrobrás, escolheu, como seu candidato, o ex-governador de São
Paulo, José Serra.

Os EUA acompanhavam muito de perto as eleições; documentos distribuídos por
Wikileaks mostram que os EUA apostavam numa vitória de José Serra, para mudar as
leis. "Deixe esses sujeitos (o PT) fazerem o que quiserem. Os leilões e
concorrências não acontecerão, e depois nós mostraremos a todos que o velho
modelo funcionava (...) e faremos tudo voltar ao que era antes" - lê-se em
conversa entre José Serra com o lobby do petróleo.[1]

Mas Serra foi à lona, na disputa eleitoral contra Rousseff nas eleições de
2010. E a Petrobrás continuou como única operadora dos campos de petróleo do
Brasil, e a renda do petróleo continuou a ir para programas sociais do governo.

Rapidamente, a chinesa Sinopec tornou-se ativa na exploração de petróleo em
águas brasileiras, nos termos determinados pela lei, que estipulava um mínimo de
30% para a Petrobrás em todas as ventures. Esse foi o fim da lua-de-mel do
chamado 'Ocidente', com o Brasil.

"Dado que o lobbying deles não conseguiu arrancar contratos de petróleo, o
Brasil virou vilão, como a Venezuela. O governo dos EUA e empresas de petróleo
lançaram contra nós um ataque clandestino. A mídia-empresa deles fez como manda
o figurino" - disse no Itamaraty um experiente diplomata brasileiro, pedindo que
seu nome não fosse divulgado. "Mas o governo também errou, ao depositar
excessivas esperanças na Petrobrás e no petróleo, esquecendo que o petróleo
écommodity cujo preço desaba quando menos se espera" - completou ele.

Chegado ao poder sobre a promessa de fazer do Brasil uma sociedade mais
igualitária, com estado de bem-estar forte, o petróleo e a Petrobrás estavam no
centro dos planos dos governos de esquerda para usar recuros e dinheiro público
para combater a miséria, criar empregos públicos e levar o desenvolvimento para
as áreas mais remotas do país. A Petrobrás não era aposta errada.

Em 2007, a capitalização da empresa no mercado alcançou $190 bilhões. Em 2010,
último ano de Lula no governo, o Brasil crescera 7,5% e as coisas caminhavam
para cima. Embora nos anos seguintes tenha havido uma queda na capitalização e
nos lucros da Petrobrás, a empresa permaneceu como uma das maiores petroleiras
do mundo. Mas as coisas ainda piorariam.

Entra em cena a Agência de Segurança Nacional dos EUA

Em junho de 2013, Edward Snowden, administrador de sistemas da Agência de
Segurança Nacional dos EUA (NSA, em inglês), fugiu para Hong Kong com uma vasta
quantidade de documentos confidenciais. Nos meses seguintes, trabalhando junto a
vários jornalistas de diferentes órgãos de imprensa, Snowden disponibilizou uma
série de arquivos, demonstrando como o governo norte-americano espionava
políticos, governos, empresas e movimentos sociais ao redor do mundo.
Surpreendentemente, o Brasil estava no topo da lista de alvos da NSA, que
coletava mais informações daqui do que da Rússia ou da China. O governo
americano alegou que a vigilância fazia parte de suas medidas antiterrorismo,
mas os documentos sobre o Brasil - e países como a Índia - revelaram um quadro
totalmente diferente. Logo ficou evidente que os alvos principais da NSA no
Brasil eram a Petrobras e Rousseff.

O e-mail de Dilma, o telefone oficial e seu celular pessoal foram rastreados
pela NSA, assim como todos os e-mails, telefonemas, mensagens e documentos
oficiais da rede da Petrobras. Com essas revelações, a relação Estados
Unidos-Brasil atingiu seu ponto mais baixo. Autoridades brasileiras foram
rápidas em declarar que a espionagem tinha sido realizada em razão dos
interesses dos EUA no petróleo e gás do Brasil.

Naquele período, a Petrobras estava prestes a leiloar uma de suas maiores
jazidas petrolíferas, com a esperada participação de várias empresas americanas.
Mas após Dilma ignorar Obama na reunião do G-20 na Rússia e as autoridades da
Petrobras acusarem os Estados Unidos de roubarem informação que lhes daria
"posição privilegiada no leilão", histórias negativas sobre a empresa brasileira
e seu iminente leilão começaram a surgir na mídia ocidental. Quando o leilão foi
realizado, nenhuma empresa americana deu qualquer lance. O que Serra 'previra',
aconteceu.

Com os segredos e informações sobre seus ativos copiados pelas instalações da
NSA, a Petrobras era agora um alvo fácil. Sua queda apenas começava.

Em março de 2014, Alberto Yousseff, doleiro condenado por lavagem de dinheiro
que havia sido preso cinco vezes, começou a dar com a língua nos dentes após
negociar um acordo de delação premiada com os procuradores de Curitiba, capital
do estado do Paraná, no sudeste do Brasil. Youssef denunciou muitas pessoas do
alto escalão que, segundo ele, haviam sido beneficiárias de suborno, propina e
lavagem de dinheiro na Petrobras. Desde então, a investigação sobre esse
escândalo, chefiada pelo juiz Sergio Moro, levou a nomes de altos executivos
brasileiro no ramo do petróleo e, mais importante, da liderança do PT.

Conhecida como "Operação Lava Jato", a investigação se desenrola como uma
telenovela, com pessoas de renome sendo levadas pela polícia ou mandadas para
prisão por Moro em intervalos regulares.

Neste mês, o impensável aconteceu. O líder mais popular da história do Brasil
esteve prestes a ser preso por suspeita de corrupção relacionada à Petrobras. No
dia 3 de março, a Polícia Federal levou Lula de sua casa sob um "mandado de
condução coercitiva" (que força a pessoa a testemunhar sobre um caso) e o deteve
por cinco horas em um dos escritórios da polícia no aeroporto para voos
domésticos de São Paulo.

Enquanto Lula era detido e liberado, a tensão foi-se acumulando pelo país com
uma parte da sociedade brasileira - classe alta e de maioria branca - celebrando
a ação policial, enquanto a outra parte protestava contra o "golpe". O Brasil
dividiu-se verticalmente no dia em que Lula foi detido.

História de golpes

O Brasil é país dividido, já há um bom tempo. Poucas pessoas no país aceitam a
existência de linhas de ruptura de classe e raça, mas elas são visíveis todos os
dias nos conflitos sociais e políticos do Brasil. Após anos de estresse, as
linhas começaram a se agitar em junho de 2013 enquanto o Brasil se preparava
para receber a Copa das Confederações da FIFA; milhares foram às ruas protestar
contra o governo, com alguns pedindo o impeachment e outros ainda pedindo
intervenção militar.

Ignorando a natureza racial e de classe dos protestos, a mídia - local e
internacional - chamou aquilo de "primavera brasileira" - um levante contra
governo impopular e corrupto.

Narrativa similar se repetiu nos últimos dias desde a detenção de Lula. Mas
muitos do governo veem isso como conspiração. "O que está acontecendo no país é
uma conspiração nacional e internacional para destruir o PT e introduzir no
Brasil um modelo econômico como o atual (neoliberal) da Argentina" - disse o
veterano diplomata brasileiro Samuel Guimarães a repórteres, após Lula ser
detido pela polícia. "Isto é um golpe em andamento".

O Brasil tem familiaridade com golpes. Assim como com as interferências
externas dos Estados Unidos. No século 20, pelo menos três presidentes
brasileiros perderam o mandato - e um, a vida - por realizar políticas
populares, despertando a ira das elites do país e de Washington.

Em todos os casos, o culpado pela queda dos presidentes foi a alta da inflação,
queda da renda e má administração da economia. Há um claro padrão nisso tudo.
Getúlio Vargas, criador da Petrobras como uma empresa estatal e que deu direitos
sociais aos pobres do país, foi acusado pela elite carioca, liderada pelo
conglomerado midiático, de corrupção que ele nunca cometeu. Em 1954, pôs fim à
humilhação pública ininterrupta com uma bala no peito.

O próximo a cair foi Jânio Quadros, vencedor da eleição presidencial com margem
de diferença recorde em 1961. No mesmo ano, Jânio convidou o revolucionário
argentino Ernesto "Che" Guevara ao Brasil, e o honrou com a Ordem Nacional do
Cruzeiro do Sul. Essa iniciativa alarmou a elite brasileira e os americanos,
ambos paranoicos com a expansão do comunismo na América do Sul. Então, Jânio
cometeu um erro ainda maior: nacionalizou jazidas minerais. Em menos de um ano,
foi retirado do poder por um Congresso dominado por antigos capitalistas e
pessoas leais a Washington.

Jânio foi substituído por João Goulart. Líder de centro com visões
progressistas, Goulart começou a implementar políticas de aumento salarial para
os trabalhadores, reforma agrária, direito ao voto para todos os brasileiros e
justiça social. Enquanto o governo brasileiro se dirigia levemente para a
esquerda, John F. Kennedy, o então presidente americano que ainda se recuperava
do infortúnio na Baía dos Porcos em Cuba, começava a discutir com seus aliados
as maneiras de tirar Goulart do poder.

De acordo com documentos do Arquivo da Segurança Nacional dos EUA, em março de
1963, Kennedy disse a seus aliados: "Temos que fazer alguma coisa quanto ao
Brasil". Logo depois, a mídia brasileira chamava Goulart de comunista e
reclamava sobre a alta da inflação. Em 1964, sob o comando dos EUA, o exército
brasileiro derrubou Goulart para "salvar o país" do comunismo. Até hoje, muitos
círculos da elite brasileira chamam aquele golpe de "revolução".

O mundo sabe dos regimes ditatoriais brutais da Argentina e do Chile, mas tudo
começou no Brasil - em 1964. A maioria dos países sul-americanos foi devastada
por décadas de ditaduras patrocinadas pelos EUA. Os países só iniciaram o
retorno à democracia nos anos 90, após o fim da Guerra Fria.

Então, numa virada irônica de grande abalo para a Doutrina Monroe, um país após
o outro, começando pela Venezuela, depois Brasil, Argentina, Uruguai e Chile
elegeram governantes de esquerda. A América do Sul não era mais o quintal de
Washington.

Nos últimos 15 anos, todas as nações sul-americanas testemunharam acelerado
crescimento econômico à medida em que estabeleceram relações com a China,
fazendo do país asiático o maior ator na região.

Tragédia pela segunda vez

A contínua marcha para a esquerda na América do Sul disparou os alarmes de
Washington novamente e também tirou o sono da elite local. Depois de 13 anos de
governo petista, durante o qual enormes planos de bem-estar social foram
implementados, a elite brasileira está cega de preocupação com a "bolivarização"
do Brasil - referência às políticas de esquerda da Venezuela sob o governo de
Hugo Chávez. Em São Paulo, a capital financeira da América do Sul, as conversas
de bar geralmente são em torno de como o Brasil está se "tornando uma
Venezuela". Os manifestantes antigoverno nas ruas repetem os mesmos slogans,
enquanto agridem agridem qualquer um que lhes apareça vestido de vermelho.

Muitos dizem que a tragédia de 1964 está-se repetindo. "Estamos enfrentando uma
estratégia de golpe de estado contra uma presidente eleita", informou
recentemente o historiador Paulo Alves de Lima ao jornal RT. "Estamos à beira de
uma nova etapa de contrarrevolução, com uma democracia ainda mais restrita,
impregnada de arrogância e violência institucional...", disse Lima ao jornalista
brasileiro Pepe Escobar, que vê a 'mudança de regime' no Brasil como um ataque
contra o grupo BRICS.

No Brasil, muitos intelectuais, observadores políticos, ativistas sociais,
peritos judiciais e membros do governo acreditam que, diferentemente de 1964,
quando o exército liderou a tomada do governo, a atual "contrarrevolução" está
sendo organizada e liderada pelos partidos neoliberais em conluio com lobistas
do país, grupos de direita, a mídia corporativa e um "judiciário altamente
politizado".

Liderando o ataque ao governo Dilma Rouseff está o PSDB, autoproclamado
democrata social, mas que de fato é um partido de direita que advoga políticas
neoliberais e destruição de políticas sociais. Tendo perdido quatro eleições
consecutivas para o PT, o PSDB testemunha uma guerra amarga entre seus líderes -
todos desejando ser o presidente do país. O partido sentiu uma chance de vitória
em 2015, após as pesquisas de opinião projetarem Dilma enfraquecida pelo
escândalo da Petrobras e pelos protestos das ruas. No meio do processo
eleitoral, após Eduardo Campos, um popular candidato do Partido Socialista
Brasileiro, ter misteriosamente falecido num acidente de avião, o candidato pelo
PSDB, Aécio Neves, começou a imaginar-se no palácio presidencial. A mídia
ocidental o projetou como o salvador do Brasil. Banqueiro do Morgan Stanley
chegou a comparar a 'ascensão' de Aécio ào do Primeiro-ministro indiano Narendra
Modi.

Aécio estava certo de sua vitória após a revista Veja publicar uma matéria na
véspera do 2º turno das eleições em dezembro de 2014, alegando que o doleiro
Yousseff havia dito à polícia que Dilma e Lula sabiam da corrupção na Petrobras.
Mas mesmo assim, Aécio perdeu a eleição. Um mês após o início do segundo
governo Dilma Rousseff, em janeiro de 2015, Aécio iniciou o pedido de
impeachment, ainda tendo o artigo de Veja como "prova" da cumplicidade da
presidente com o escândalo.

O artigo, publicado sem nenhuma resposta de Lula e Dilma, não era exceção. Os
julgamentos da "Operação Lava Jato" estavam tanto na mídia quanto nas cortes,
com vazamentos regulares de acusações feitas em delações premiadas. O magistrado
de Curitiba, declaradamente influenciado pela operação Mani Pulite da Itália,
tornou-se cultuado pela classe média, com suas fotos e frases espalhadas por
revistas e jornais quase que diariamente.

Mas Moro, o juiz, também tem enfrentado críticas por suas táticas de manter os
acusados na prisão, sem fiança, e utilizando-se de acordos de delação premiada
para construir casos contra outros. Até o The Sunday Times de Londres
recentemente publicou artigo sobre o juiz brasileiro, questionando a forma como
ele conduz o caso.+

O complexo judicial-jornalístico



Moro pareceu dar importância mínima a essas críticas, quando enviou a Polícia à
casa de Lula para prendê-lo. Apesar de o nome do ex-presidente aparecer citado
em incontáveis artigos que o dão como ligado ao escândalo, a verdade é que, até
hoje ninguém apresentou qualquer tipo de prova contra ele - nem em tribunais nem
em algum veículo de imprensa comercial. Além disso, o ex-presidente jamais se
recusou a cooperar com a investigação. Portanto, quando Lula foi preso por
mandato coercitivo assinado por juiz, muitos entenderam que o juiz Moro pisara
fora da linha. Um juiz da Suprema Corte brasileira, Marco Aurélio Mello,
criticou publicamente o juiz, porque "coerção só se aplicaria se Lula tivesse
sido intimado e se recusasse a depor, o que não aconteceu."

Mas, mesmo com a tática dura de Moro, a detenção de Lula não saiu conforme o
script. Tão logo a notícia da prisão espalhou-se por São Paulo, começaram as
brigas a murros na calçada em frente ao prédio onde Lula mora. E a conta do PT
no Twitter lançou mensagem em que Lula era chamado de "preso político". Com as
mídias sociais fervilhando de notícias sobre o "sequestro" de Lula pela polícia,
centenas de pessoas começaram a reunir-se pelas ruas em São Paulo, gritando "Não
vai ter golpe" [N. Quando já começavam a chegar notícias de multidões
mobilizadas em outras cidades do país, o ex-presidente Lula foi deixado partir.]
E dirigiu-se diretamente à sede do Partido dos Trabalhadores, onde falou a uma
multidão de ativistas e estudantes. "Mereço mais respeito nesse país" - disse
Lula, com ar cansado, mas resoluto. Na mesma noite, Lula estava numa reunião de
sindicalistas, onde disse que, sim, pode candidatar-se à presidência em 2018.
"Sinceramente, espero que tenha outras pessoas para serem candidatas. Agora, uma
coisa pode ficar certa: se for necessário, eu vou para a disputa em 2018" -
disse Lula a uma multidão reunida para ouvi-lo, no centro de São Paulo.

Até apoiadores ferrenhos do PT e de Lula consideram que o Partido dos
Trabalhadores é em parte responsável pelo que acontece hoje no Brasil. O
envolvimento de líderes do partido em atos de corrupção maculou sua imagem até
entre seguidores. Além disso, o núcleo duro de apoio ao partido, sindicatos,
movimentos sociais, ativistas e ideólogos de esquerda já se afastaram do PT, com
Rousseff empurrando o governo para o centro e, ela própria, afastando-se
daquelas bases. Nesse cenário, a prisão de Lula deveria ser o golpe de morte
contra o PT. Na mídia comercial - local e global - Lula era apresentado como
figura isolada. Na verdade, a situação em campo mostrou-se muito diferente, ante
os milhões de apoiadores que se apresentaram nas ruas em apoio ao ex-presidente.

Mas outras reviravoltas estavam por vir.

Dia 11 de março, Rousseff ofereceu a Lula um posto de ministro de seu governo.
Depois de muita discussão e adiamento, Lula afinal aceitou ser ministro da Casa
Civil da presidenta Dilma (cargo, aproximadamente, de primeiro-ministro). O
movimento foi considerado pelos petistas como necessário para salvar o governo
do "golpe" em curso; a oposição não tardou a 'denunciar' o que, para ela, seria
tentativa de salvar Lula de ser preso no "escândalo da corrupção". Dia seguinte,
o juiz Moro entregou à Globo TV a gravação de uma conversa telefônica entre a
presidenta e o ex-presidente, em que conversam sobre a ida de Lula para o
ministério. À noite, a TV Globo exibiu a gravação em horário nobre,
interpretando as falas como se fossem uma espécie de 'arranjo', para garantir a
Lula um cargo que o poria em situação de só poder ser julgado pela Suprema
Corte.

Como se não bastasse divulgar material sem verificar a veracidade dos fatos e
sem autorização legal, os âncoras e repórteres da TV Globo puseram-se a incitar
a população a ir para as ruas protestar contra Lula e Rousseff.

A gravação pela Polícia Federal, de conversas de Rousseff no próprio telefone,
quando a presidenta falava com um ex-presidente, imediatamente disparou uma
comparação com a vigilância ilegal da Agência de Segurança Nacional dos EUA.
Vários importantes juristas e especialistas em questões de escutas ilegais
questionaram a decisão de Moro, de gravar conversas privadas e 'vazá-las' para a
TV Globo, antes de a gravação ter sido apresentada como prova na corte. Mas Moro
justificou sua ação, comparando o caso brasileiro ao escândalo Watergate que
envolveu o ex-presidente Richard Nixon.

A gravação de 30 segundos, que já não tem qualquer valor judicial, deu munição
à oposição para exigir a prisão de Lula e que se acelerasse a tramitação de um
pedido de impeachment contra Rousseff.

Apesar de o ministro Mello da Suprema Corte já ter criticado Moro duramente,
chamando de "crime" a ação de gravar clandestinamente conversas da presidenta, o
vazamento da gravação e as manchetes histéricas de O Globo e da TV do mesmo
grupo Globo tiveram o efeito desejado: a nomeação de Lula ao cargo de ministro
foi bloqueada - e eclodiram movimentos de rua contra o governo Rousseff.

Dois Brasis, duas narrativas

No dia seguinte ao vazamento da conversa gravada, cerca de 1,5 milhão de
pessoas, muitas usando a camisa amarela da seleção de futebol do Brasil e
ostentando bandeiras do Brasil, saíram às ruas pelo país.

Com muitos fotógrafos e cinegrafistas em helicópteros registrando o mar de
verde-e-amarelo na Av. Paulista em SP, onde se reuniram 400 mil pessoas, no
maior protesto antigoverno da história da cidade, dia seguinte os jornais
estavam também pintados de verde-e-amarelo. Quem visse pensaria que todo o
Brasil exigia a cabeça do PT. Foi o que bastou para que a velha narrativa de
"levante popular contra governo corrupto e ineficiente" voltasse às páginas da
mídia comercial internacional.

A verdade é um pouco mais complicada.

Embora vestidos com as cores nacionais, as pessoas que protestaram naquele dia
na Av. Paulista seriam qualquer coisa, exceto nacionalistas. Pesquisa da empresa
Datafolha revelou que 80% dos 'manifestantes' anti-Rousseff e anti-PT eram
brancos; 77% com formação universitária; e 75% classificados nos grupos de mais
alta renda.

Num país cuja população apresenta 50% de brancos, 11% apenas, com formação
universitária e menos de 6% classificados nos grupos de mais alta renda, não é
difícil entender quem, afinal de contas, manifestava-se nas ruas contra o
governo Rousseff. Praticamente todos ali eram representantes da elite da
sociedade brasileira: ricos, brancos e conservadores.

A elite brasileira sempre manifestou grande incômodo com a vitória de
candidatos populares de tendência de esquerda; o partido preferencial da elite
era o PSDB - várias vezes derrotado nas urnas. No governo do PT, mais de 40
milhões de pessoas superaram a pobreza e ascenderam socialmente. Foi o período
de mais consistente inclusão social, num país conhecido pela terrível
desigualdade. Aconteceram mudanças sociais amplas no Brasil. Com leis que
garantem salários mínimos e aposentadorias e pensões, a classe média alta deixou
de poder manter empregados domésticos e motoristas. Com quotas asseguradas para
o acesso à educação, estudantes negros entram afinal nas universidades públicas
e no mercado de trabalho profissional, em números jamais vistos no Brasil. E com
renda melhor, os pobres afinal viajam de avião, compram em shopping centers e
compram casa própria em bairros tradicionalmente 'de ricos' (e brancos). Fato é
que os governos do Partido dos Trabalhadores, sim, perturbaram a velha ordem
estabelecida.

Poucos países viram, em toda a história, mudança social tão ampla, em tão pouco
tempo. Assim como os ricos explodiram em fúria nos tempos de mudanças nos
governos de Getúlio Vargas e João "Jango" Goulart,também dessa vez as classes
privilegiadas do Brasil estão furiosas contra o PT por dar dinheiro diretamente
às mães pobres, no programa Bolsa Família - que inspirou o programa indiano
Mahatma Gandhi National Rural Employment Guarantee Act, MNREGA (Lei Mahatma
Gahdhi de Garantia Nacional de Emprego Rural).

Em seus discursos, Lula frequentemente denuncia a elite brasileira por não
aceitar essa mudança social e ressentir-se por a vida dos mais pobres ter
melhorado um pouco. No Brasil, muitos entendem que a atual crise foi urdida pela
elite brasileira, para desestabilizar o governo e conseguir voltar ao poder.

"Os primeiros protestos contra Dilma aconteceram em 2013, quando nos
preparávamos para receber a Copa das Confederações da FIFA. Naquele momento, o
desemprego era o mais baixo que jamais houve no Brasil, inflação de um dígito,
salários em alta, e Dilma tinha aprovação de 70%. E tanta gente exigia
'mudanças'?! Claro q há mudanças a fazer, mas reivindicar naquele momento, e não
em tantos outros, não fazia sentido. De fato, foi o início de uma operação de
mudança de regime, mais uma 'revolução colorida', dessa vez no Brasil" - diz
membro do PT que pede para não ser identificado. "Foram ações organizadas e
promovidas pelas mídias sociais. Foi quase como uma operação de inteligência" -
acrescenta.

Embora não haja prova de que os protestos antigoverno de 2013 tenham sido
arquitetados de fora, também ali, sem dúvida possível, a multidão era
indiscutivelmente 'elite'. Pesquisa da Datafolha feita naquele momento mostrou
que 90% dos manifestantes eram brancos; 77% com formação universitária. Desde
2013, todos os protestos contra o governo acontecem em áreas de classe média
rica, longe das áreas onde vive a maioria da população mais pobre. Mas as mídias
comerciais sempre falam da "indignação dos brasileiros", como se todos fossem
igualmente ricos, ou igualmente pobres.

No Brasil toda a imprensa/mídia comercial é controlada por oligarcas - e o país
já foi chamado de "Um país de 30 Berlusconis" em documento dos Jornalistas Sem
Fronteiras. Sempre houve, desde o primeiro mandato de Lula em 2003 - governo de
tendência de esquerda ou apenas progressista -, guerra declarada àquele governo,
pelas empresas da imprensa comercial no Brasil.

Nos anos Rousseff, a guerra tornou-se ainda mais suja. O massacre contra os
governos petistas sempre foi comandado pelo Grupo Globo, que inclui dúzias de
jornais, revistas, canais de TV e websites. O conglomerado, que tem monopólio
quase total sobre noticiário, entretenimento, futebol e carnaval, sempre,
historicamente, foi anti-PT. O grupo também apoiou ativamente o golpe militar de
1964 e cresceu, com lucros gigantes, durante os 21 anos do governo dos
militares.

Mas o tom beligerante da TV Globo não caiu bem entre os brasileiros pobres e
das classes médias, e muitos já trabalham para boicotar a rede. Um dia depois
que o canal de TV do grupo exibiu a fita da conversa entre Lula e Rousseff, o
famoso ator brasileiro Wagner Moura, astro deNarcos em Netflix, distribuiu um
vídeo por sua página de Facebook, manifestando preocupação com o "circo
midiático" e a "agenda política" do Judiciário. "A mídia, claro, se se examina o
passado, todos os grupos estiveram envolvidos no golpe de 64" - diz Moura no
vídeo.

A noite das facas longas

A mídia comercial brasileira dominante tem poder tremendo no país, mas raramente
usa esse poder para questionar o Judiciário. Todos os 'vazamentos seletivos'
feitos por Moro e pela polícia federal foram cuidadosamente publicados e
repetidos.

E há graves acusações por corrupção contra altos chefes do PSDB, inclusive
contra Aécio Neves e contra o presidente da Câmara de Deputados, Eduardo
Cunha... o mesmo que, agora, conduz o processo de impeachment contra Rousseff.
Mas a imprensa comercial absolutamente não se interessou por levantar qualquer
discussão que envolva esses chefes.

Os principais intelectuais brasileiros vêm problema maior que esse. Nas
palavras de Jesse Jose Freire de Souza de Souza, sociólogo renomado, o
Judiciário tomou a posição de "força moderadora superior", acima da política, a
mesma que, na ditadura, era ocupada pelos ditadores militares e, antes ainda,
pela monarquia. "Quem possibilitou tudo isso foi a mídia-empresa comercial" -
Jesse escreveu em artigo publicado semana passada.

Para comentaristas de esquerda, o país enfrenta "golpe", e as empresas
comerciais de mídia e o Judiciário trabalham juntos. Miguel do Rosário, editor
de O Cafezinho, website não comercial, de esquerda, vê conspiração ainda maior
que em 1964. "Semelhante a 1964, o golpe atual é apoiado pela maior empresa de
mídia comercial do Brasil, Globo. Diferente de 1964, o golpe atual é resultado
da ação de um Judiciário ideologicamente tendencioso, que tem três objetivos:
derrubar presidenta democraticamente eleita; impedir que o ex-presidente Lula
concorra às eleições de 2018; e, afinal, pôr na ilegalidade o Partido dos
Trabalhadores brasileiro" - escreveu ele.

Pode soar alarmista, mas há medo no ar, no Brasil, pelo modo como as coisas
vão-se desdobrando: medo pelo futuro da democracia e do Estado de Direito.

Dia 18 de março, centenas de milhares de pessoas comuns encheram as ruas em
"defesa da democracia", em 45 cidades em todo o país. A maior concentração
aconteceu em São Paulo onde 250 mil pessoas, inclusive críticos do governo de
Dilma e de Lula, encheram a Avenida Paulista, apesar das ameaças de violência
por gangues de direita. Foi um show de força, contra "o golpe". Foi um show da
diversidade do Brasil. A noite incendiou-se quando Lula, vestindo camisa
vermelha [sempre usou camisa vermelha em todos os atos do Partido dos
Trabalhadores (NTs)], chegou à avenida e falou durante 20 minutos, sobre o teto
de um ônibus que fechava a passagem. "Não vai ter golpe," gritou Lula, ecoado
por milhares de vozes. "Democracia tem a ver com a voz do povo, trata da voz da
maioria" - disse ele, eletrizando a multidão.

A detenção de Lula energizou a esquerda brasileira. As ruas, desde 2013,
estavam dominadas pela direita. Agora, com os grupos de esquerda se
reorganizando, muitos temem o pior: violência e conflito social.

A disputa final

Brasileiros comuns podem estar-se preparando para brigas de rua, mas os
verdadeiros jogos estão sendo jogados em Brasília, capital do país. Um juiz da
Suprema Corte, Gilmar Mendes, suspendeu a nomeação de Lula para o ministério da
presidenta Dilma. Cunha uniu-se ao PSDB para acelerar o impeachment de Rousseff.
Michel Temer, o vice-presidente, estaria discutindo a formação do governo
pós-Dilma, com José Serra, hoje senador. Há rumores de que o processo de
impeachment estará concluído no fim de abril, e de que Temer - que aparece em
posição de destaque em vários casos de corrupção - assuma o governo do Brasil.

O Brasil está na corda bamba. Um ex-presidente que transformou o país pode ir
para a prisão. A atual presidenta, contra quem não há qualquer acusação de
corrupção, pode ser impedida. E tudo isso no ano em que o país hospedará os
Jogos Olímpicos. Pois por mais que alguns temam que a atual crise venha a causar
dano às instituições do país, e outros falem de uma ameaça à democracia, a elite
brasileira parece não se preocupar.

Indicação do que pode estar sendo cozinhado em Brasília, Ilimar Franco,
conhecido jornalista e blogueiro publicou foto de uma reunião de almoço, dia 16
de março, um dia antes de a nomeação de Lula para o ministério ter sido
suspensa. Na foto, Mendes, o juiz que, no dia seguinte, suspendeu a posse, é
visto almoçando com Serra e Armínio Fraga, [ex-presidente do Banco Central do
Brasil, de 1999 a 2002, assessor dos dois governos do PSDB de Fernando Henrique
Cardoso (NTs) e] ex-gerente do Fundo Quantum, de George Soros. A foto viralizou
nas mídias sociais, com muita gente se perguntando sobre o que estariam
discutindo o juiz; um ex-candidato à presidência e nome que aparece várias vezes
citados nos telegramas de Wikileaks [como 'contato' da Embaixada e de consulados
dos EUA no Brasil (NTs)], e um gerente de fundos que representa o interesse das
corporações financeiras dos EUA.

É. Podem ter sentado para almoçar e discutir futebol.

Mas com Serra, mestre de conspirações políticas, no centro da ação, depois da
humilhante derrota que sofreu nas eleições de 2010, quando Dilma o tirou da
corrida presidencial, as próximas poucas semanas serão cruciais para o Brasil,
para o PT e para a Petrobrás.

Em Brasília, a batalha está sendo chamada de "ou vai ou racha", com alianças
políticas dos dois lados do muro sob pressão intensa, para alcançar os números
necessários, seja para descartar seja para aprovar o impeachment de Dilma. Dilma
e Lula lutam pela democracia e pela própria sobrevivência política, mas já se
veem lobbyistas trabalhando freneticamente para quebrar o monopólio da Petrobrás
sobre o petróleo brasileiro.

Em meio a todas as mais ferozes disputas nos tribunais, no Congresso e nas
ruas, o Senado brasileiro aprovou recentemente uma lei que pode "cancelar a
exigência de que a Petrobrás seja operadora e fique com pelo menos 30% dos
lucros operacionais em todos os campos do pré-sal". Se essa lei, cujo projeto é
patrocinado pelo senador José Serra, vier a ser lei, terá acabado o controle que
a Petrobrás tem sobre os campos de petróleo do país. Embora fortemente rejeitado
por alguns senadores, como Roberto Requião, do Paraná, a lei foi aprovada no
Senado, por diferença mínima.

Surpreso ante o frenesi para privatizar os negócios do petróleo, Requião disse
que a tramitação da lei está avançando "na correria, sem passar pelas comissões,
com os gabinetes dos senadores cheios de lobbyistasque promovem interesses de
multinacionais como Shell e British Petroleum". Mas, ante a massiva pressão dos
lobbyistas, a oposição do senador Requião não foi suficiente. "Será que o Brasil
perdeu a maioria no Senado, para petroleiras multinacionais? Ainda espero que
não" - o veterano senador tuitou, depois da votação.

Agora o projeto de lei vai à Câmara de Deputados e, na sequência, terá de ser
sancionado pela presidenta. Rousseff ainda pode vetar o projeto de lei. Mas, se
o vice-presidente Michel Temer, que se separou de Dilma, assumir a presidência
em lugar dela, há bem pouca dúvida de que o projeto será sancionado e se
converterá em lei. Significaria que todo o drama que o Brasil está vivendo -
detenção de Lula, impeachment de Dilma e perseguição incansável ao PT -
resume-se, afinal, a petróleo.

Como voz do Big Oil, The Economist põe o Brasil outra vez na capa, essa semana.
"Time to go" [Hora de sair], diz a revista, sobre uma foto de Dilma com ar
desolado. Repetindo o mesmo velho script de "má administração da Economia", a
revista 'exige' a remoção, do governo, de uma governante eleita, que recebeu seu
mandato, de pleno direito, em eleições livres e justas, ocorridas há menos de 15
meses.

Hoje, a elite e o complexo midiático-judiciário brasileiro também seguem o
mesmo script. Como aconteceu com presidentes anteriores - Vargas, Quadros e
Goulart -, se Dilma Rousseff tiver de deixar o governo, as multinacionais do
petróleo terão vencido mais uma vez. E mais uma vez o Brasil terá sucumbido a um
golpe de Estado.*****+


25/3/2016, Shobhan Saxena,* de São Paulo, Br, para The Wire, Mumbai, Índia

http://thewire.in/2016/03/25/a-coup-is-in-the-air-the-plot-to-unsettle-rousseff-lula-and-brazil-25893/
+


* Shobhan Saxena é jornalista, indiano, que cobre assuntos da América do Sul,
com base em São Paulo.+

[1] Esse telegrama, datado de 13/2/2010, "coordenado entre os consulados do Rio
de Janeiro e São Paulo, foi distribuído para as embaixadas dos EUA em "ARGENTINA
BUENOS AIRES | BOLIVIA LA PAZ | BRAZIL BRASILIA | BRAZIL RIO DE JANEIRO | BRAZIL
SÃO PAULO | CHILE SANTIAGO | COLOMBIA BOGOTÁ | PERU LIMA | SECRETARY OF STATE |
URUGUAY MONTEVIDEO | VENEZUELA CARACAS".

Nele se lêem opiniões de William Waack, em conversas com o Cônsul Geral dos
EUA:

(C) O jornalista William Waack conversou detalhadamente com o [Cônsul Geral] CG
Sao Paulo, em recente fórum de negócios do qual participaram Serra, Rousseff,
Neves and Gomes. Segundo Waack, Gomes é o mais forte de todos; Neves, o mais
carismático (sic), Serra desligado mais claramente competente; e Rousseff a
menos coerente".

Sempre coerente na missão de desinformar, o portal G1.Globo des-noticiou que
"wikileaks não diz que Waack é informante dos EUA". Agora, já se sabe que sim,
Wikileaks diz e prova. A blogosfera noticiou tudo, na hora que aconteceu (NTs).+



In
port.pravda.ru.
http://port.pravda.ru/cplp/brasil/30-03-2016/40684-complo_brasil-0/
30/3/2016

terça-feira, 29 de março de 2016

“La izquierda tiene que repensar su aparato teórico y táctico”




Entrevista a David Harvey, geógrafo y teórico social británico


AK Malabocas

Roar Magazine

David Harvey, uno de los pensadores marxistas más prominentes de nuestro tiempo,
se sentó con el activista colectivo AK Malabocas a discutir las transformaciones
en el modo de acumulación capitalista, la centralidad del terreno urbano en las
luchas de clase contemporáneas, y las implicancias de todo esto para la
organización anti-capitalista.

AK Malabocas: En los últimos 40 años, el modo de acumulación capitalista ha
cambiado globalmente. ¿Qué significan estos cambios para la lucha contra el
capitalismo?

DH: Desde una perspectiva macro, cualquier modo de producción tiende a generar
un tipo distintivo de oposición, la cual es un espejo curioso de sí mismo. Si
miras atrás, en los ’60 o ’70, cuando el capital estaba organizado en grandes
formas corporativas, jerárquicas, tenías estructuras de oposición que eran
corporativas, tipos sindicalistas de aparatos políticos. En otras palabras, un
sistema fordista generaba una oposición de tipo fordista.

Con el quiebre de esta forma de organización industrial, particularmente en los
países capitalistas avanzados, se terminaba con una configuración del capital
mucho más descentralizada: más fluida sobre el espacio y el tiempo que lo
pensado previamente. Al mismo tiempo veíamos el surgimiento de una oposición que
está ligada a las redes, a la descentralización y a la que no le gusta la
jerarquía y las formas previas de oposición de tipo fordista.

Así, que de una manera curiosa, las y los militantes de izquierda se reorganizan
a sí mismos en el mismo modo en el que la acumulación del capital se reorganiza.
Si entendemos que la izquierda es una imagen en espejo de lo que estamos
criticando, entonces tal vez lo que debamos hacer es romper el espejo y salir de
esta relación simbiótica con aquello que estamos criticando.

MK: ¿En la era fordista, la fábrica era el principal sitio de resistencia. Dónde
podemos encontrarla ahora que el capital se ha movido lejos del piso fabril
hacia el terreno urbano?

DH: Antes que nada, la forma fabril no ha desaparecido. Todavía encuentras
fábricas en Bangladesh o en China. Lo que es interesante es cómo el modo de
producción en las ciudades centrales cambió. Por ejemplo, el sector logístico se
ha expandido: UPS, DHL y todos sus trabajadores y trabajadoras están produciendo
valores enormes hoy en día.

En las últimas décadas, un gran cambio tuvo lugar en el sector servicios
también: los más grandes empleadores de mano de obra en la década de 1970 en los
Estados Unidos eran General Motors, Ford y US Steel. Los más grandes empleadores
de mano de obra hoy son Mc Donalds, Kentucky Fried Chicken y Walmart. Antes, la
fábrica era el centro de la clase obrera, pero hoy encontramos a la clase obrera
más que nada en el sector servicios. ¿Por qué diríamos que producir autos es más
importante que producir hamburguesas?

Desafortunadamente la izquierda no se siente cómoda con la idea de organizar a
los trabajadores y trabajadoras de la comida rápida. Su imagen de la tradicional
clase obrera no encaja con la producción de valor de los trabajadores y
trabajadoras de servicios, los de distribución, de restaurants, de los
supermercados.

El proletariado no desapareció, pero hay un nuevo proletariado que tiene
características diferentes del que tradicionalmente la izquierda solía
identificar como la vanguardia de la clase trabajadora. En este sentido, las y
los trabajadores de Mc Donalds se convirtieron en las y los trabajadores
metalúrgicos del siglo XX.

MK: ¿Si esto es lo que es el nuevo proletariado, cuáles son los lugares desde
organizar la resistencia hoy?

DH: Es muy difícil de organizar en los lugares de trabajo. Por ejemplo, las y
los trabajadorss de la distribución se mueven de un lado a otro. Así que esta
población tal vez podría organizarse mejor fuera del lugar de trabajo, quiero
decir, en sus estructuras barriales.

Hay una frase interesante en el trabajo de Gramsci de 1919 que dice que
organizarse en el lugar de trabajo y tener concejos fabriles está muy bien, pero
que deberíamos tener también concejos en los barrios también. Y los concejos de
los barrios, dijo, tienen un mejor entendimiento de lo que son las condiciones
de toda la clase trabajadora, comparado con el entendimiento sectorial de la
organización en el lugar de trabajo.

Las organizadoras y organizadores fabriles solían saber muy bien lo que un
trabajador metalúrgico era, pero no entendían lo que el proletariado era como un
todo. La organización barrial habría incluido, por ejemplo, a los trabajadores y
trabajadoras de la limpieza urbana, de la distribución y las trabajadoras
doméstica. Gramsci nunca tomó esto y dijo: “Vamos! el Partido Comunista debería
organizar asambleas barriales”

No obstante, hay algunas excepciones en el contexto europeo donde los partidos
comunistas organizaron, de hecho, concejos barriales, porque no podían
organizarlos en las fábricas, por ejemplo en España. En la década de 1960 esta
era una forma de organización muy poderosa. Por ello, como he discutido por un
largo tiempo, deberíamos ver la organización barrial como una forma de
organización de la clase. Gramsci sólo lo mencionó una vez en sus escritos y
nunca lo desarrolló más en profundidad.

En Gran Bretaña en los ’80, hacía formas de organización laboral en plataformas
a lo largo de la ciudad, sobre la base de concejos de oficios, que estaban
haciendo lo que Gramsci sugirió. Pero dentro del movimiento sindical, estos
concejos siempre fueron mirados como formas inferiores de organización laboral.
Nunca se los trató como un componente fundacional de cómo el movimiento sindical
debería operar.

De hecho, ocurrió que los concejos de oficios fueron a menudo mucho más
radicales que los gremios tradicionales y eso era porque estaban basados en las
condiciones de toda la clase trabajadora, no sólo de los sectores más
privilegiados de la clase. Así, al punto de que estos tenían una definición
mucho más amplia de la clase, los concejos tendieron a darse políticas mucho más
radicales. Pero esto nunca fue valorado por el movimiento sindical en general,
siempre fue mirado como un espacio en el que lxs radicales podían actuar.

Las ventajas de esta forma de organización son obvias: supera la brecha entre
organizarse de manera sectorial, incluye todas las formas de trabajo
“desterritorializado” y es muy adaptable a nuevas formas de organizaciones
comunitarias y de base asamblearia, como Murray Boockchin planteó, por ejemplo.

MK: En las recientes oleadas de protesta -en España y Grecia, por ejemplo, o el
movimiento Occupy- puedes encontrar esta idea de “localizar la resistencia”.
Pareciera que estos movimientos tienden a organizarse alrededor de cuestiones de
la vida cotidiana, más que en torno a grandes cuestiones ideológicas en las que
la izquierda tradicional solía enfocarse.

DH: Por qué dirías que organizarse alrededor de la vida cotidiana no es una de
las grandes cuestiones. Yo creo que es una de las grandes cuestiones. Más de la
mitad de la población mundial vive en ciudades, y la vida cotidiana urbana es a
lo que la gente está expuesta y en lo que encuentra dificultades. Estas
dificultades residen tanto en la esfera de realización del valor como en la
esfera de la producción del valor.

Este es uno de mis más importantes argumentos teóricos: todo el mundo lee el
Volumen I del Capital y nadie lee el Volumen II. El Vol I es acerca de la
producción del valor, el II es sobre la realización del valor. Al enfocarse en
el Vol II, puedes ver claramente que las condiciones de realización son tan
importantes como las de producción.

Marx a menudo hablaba de la necesidad de ver al capital como la unidad
contradictoria entre la producción y la realización. Donde el valor es producido
y donde es realizado son dos cosas diferentes. Por ejemplo, mucho valor es
producido en China y, de hecho, es realizado por Apple o por Walmart en los
Estados Unidos. Y, por supuesto, la realización del valor trata de la
realización del valor por medio de costoso consumo de la clase obrera.

El capital puede conceder salarios más altos en el punto de la producción, pero
luego los recupera en el punto de la realización por el hecho de que los
trabajadores y trabajadoras tienen que pagar alquileres y gastos de vivienda más
elevados, costos de teléfono, tarjetas de crédito y así sucesivamente. Así que
las luchas de clase en torno a la realización, alrededor de viviendas más
baratas por ejemplo, son tan significativas para la clase trabajadora como las
luchas acerca de salarios y condiciones de trabajo. Cuál es el punto de tener un
salario más alto si te es inmediatamente extraído en términos de gastos más
elevados para tener un techo?

En su relación con la clase trabajadora, los capitalistas han aprendido hace
mucho que pueden hacer un montón de dinero recuperando lo que antes habían
entregado. Y, al punto que -particularmente en los 60 y 70- lxs trabajadorxs se
empoderaron de manera creciente en la esfera del consumo, así que el capital
comienza a concentrar mucho más en extraer valor a través del consumo.

Así que las luchas en la esfera de la realización, que no eran tan fuertes en
los tiempos de Marx, y el hecho de que nadie lea el maldito libro (Vol II), es
un problema para la izquierda convencional. Cuando vos me decís: “¿cuál es el
problema macro aquí?”- bueno, ¡esto es un problema macro! La concepción del
capital y la relación entre producción y realización. Si no ves la unidad
contradictoria entre ambos entonces no vas a tener la imagen completa. Tiene
lucha de clases escrita todo alrededor y no puedo entender por qué un montón de
marxistas no logran ver cuán importante es esto.

El problema es cómo entendemos a Marx en el 2015. En los tiempos de Marx, la
extensión de la urbanización era relativamente conveniente y el consumo de la
clase trabajadora era casi inexistente, así que de lo único que Marx tenía que
hablar era acerca de la clase trabajadora arreglándoselas para sobrevivir con un
salario magro y cómo eran bastante sofisticados para hacerlo. El capital los
dejaba hacer con sus propios dispositivos lo que les gustaba.

Pero hoy en día, vivimos en un mundo en el que el consumo es responsable de casi
el 30 % de la dinámica de la economía global; en EE UU llega al 70 %. Así que
¿por qué estamos aquí sentados y diciendo que el consumo es casi irrelevante,
pegándonos al Volúmen I y hablando acerca de la producción en lugar del consumo?

Lo que hace la urbanización es forzarnos a cierto tipo de consumo, por ejemplo:
tienes que tener un auto. Y tu estilo de vida está dictado en muchos sentidos
por la forma que toma la urbanización. Y de nuevo, en los tiempos de Marx esto
no era significativo, pero en nuestros días es crucial. Tenemos que amigarnos
con formas de organización que de hecho reconozcan este cambio en la dinámica de
la lucha de clases.

Los grupos que marcaron los recientes movimientos con su estilo, viniendo de
tradiciones anarquistas y autonomistas, están mucho más metidos en la política
de la vida cotidiana, mucho más que las y los marxistas tradicionales.

Les tengo mucha simpatía a las y los anarquistas, tienen una mucha mejor línea
en este tema, precisamente al lidiar con la política del consumo y su crítica
acerca de lo que el consumo es. Parte de su objetivo es cambiar y reorganizar la
vida cotidiana alrededor de nuevos y diferentes principios. Así que creo que
esto es un punto crucial hacia el cual mucha de la acción política debería ser
dirigida en estos días. Pero desacuerdo con vos cuando decís que esta no es una
“gran cuestión”.

MK: Así que, mirando ejemplos de Europa del Sur -redes de solidaridad en Grecia,
auto-organización en España o Turquía- parece ser muy crucial para construir
movimientos sociales alrededor de la vida cotidiana y las necesidades básicas en
estos días. ¿Ves esto como un acercamiento promisorio?

DH: Creo que es muy promisorio, pero hay una clara limitación ahí, lo que es un
problema para mí. La propia limitación es la reticencia para tomar el poder en
algún punto. Bookchin, en su último libro, dice que el problema con las y los
anarquistas es su negación del significado del poder y su inhabilidad para
tomarlo. Bookchin no va tan lejos, pero yo creo que es su rechazo a ver al
Estado como un posible aliado hacia la transformación radical.

Hay una tendencia a considerar al Estado como enemigo, el enemigo al 100 %. Y
hay muchos ejemplos de estados represivos fuera del control público en el que
este es el caso. No hay duda: el estado capitalista debe ser combatido, pero sin
dominar el poder del estado y sin tomarlo, pronto vuelves a la historia de lo
que pasó por ejemplo en 1936 y 1937 en Barcelona y luego en toda España. Al
rechazar tomar el Estado en un momento en el que tenían el poder para hacerlo,
los revolucionarios y revolucionarias de España permitieron que el estado
volviera a caer en las manos de la burguesía y del ala estalinista del
movimiento comunista. Y el estado se reorganizó y aplastó la resistencia.

MK: Eso puede ser cierto para el estado español en la década de 1930, pero si
miramos al estado neoliberal contemporáneo y el retroceso del estado de
bienestar, ¿que queda de estado para conquistar, para aprovechar?

DH: Para empezar, la izquierda no es muy buena para responder la pregunta de
cómo construimos infraestructura masiva. ¿Como construirá la izquierda el puente
de Brooklyn, por ejemplo? Toda sociedad reposa sobre grandes infraestructuras,
infraestructuras para toda una ciudad, como el suministro de agua, electricidad,
etc. Yo creo que hay una gran reticencia dentro de la izquierda para reconocer
que necesitamos diferentes formas de organización.

Hay áreas del aparato de estado, aún del aparato de estado neoliberal, que son
terriblemente importantes; el centro de control de enfermedades, por ejemplo.
¿Cómo respondemos a epidemias globales como el Ébola o similares? No puedes
hacerlo al modo anarquista del “hazlo tu mismo o tú misma”. Hay muchas
instancias en las que necesitas alguna forma de infraestructura de tipo estatal.
No podemos confrontar el problema del calentamiento global a través de formas
descentralizadas de confrontación y actividades solamente.

Un ejemplo que es frecuentemente mencionado, a pesar de sus muchos
inconvenientes, es el Protocolo de Montreal para enfrentar el uso de
clorofuorocarbono en heladeras para limitar la afectación de la capa de ozono.
Fue reforzada de manera exitosa en los ’90 pero necesitó de un tipo de
organización que es muy diferente a aquella que proviene de una política basada
en asambleas.

MK: Desde una perspectiva anarquista, yo diría que es posible reemplazar aún
instituciones supranacionales como la OMS con organizaciones confederales que
serían construidas de abajo hacia arriba y que eventualmente arribarían a una
toma de decisiones global.

DH: Quizás a un cierto grado, pero tenemos que ser conscientes de que siempre
habrá algún tipo de jerarquías y de que siempre enfrentaremos problemas como la
responsabilidad o el recurso correcto. Siempre habrá relaciones complicadas
entre, por ejemplo, gente lidiando con el problema del calentamiento global
desde el punto de vista del mundo como un todo y desde el punto de vista de un
grupo que está en el territorio, digamos, en Hanover o similar, y que se
pregunta, por qué debería escuchar lo que ellxs están diciendo?

MK: Entonces, ¿crees que esto requeriría alguna forma de autoridad?

DH: No, va a haber estructuras de autoridad de cualquier modo, siempre las
habrá. Nunca he estado en una reunión anarquista en la que no hubiera una
estructura de autoridad secreta. Está siempre esa fantasía de todo siendo
horizontal, pero me siento, miro y pienso, “oh dios, hay toda una estructura
jerárquica acá pero está encubierta”

MK: Volviendo a las protestas recientes alrededor del Mediterráneo, muchos
movimientos se han concentrado en luchas locales. ¿Cuál es el siguiente paso
hacia la transformación social?

DH: En algún punto tenemos que crear organizaciones que sean capaces de
ensamblar y reforzar el cambio social en una escala más amplia. Por ejemplo,
será ¿Podemos en España capaz de hacer eso? En una situación caótica como la
crisis económicas de los últimos años, es importante que la izquierda actúe. Si
la izquierda no lo hace, entonces la derecha será la siguiente opción. Yo pienso
-y odio decirlo- que la izquierda tiene que ser más pragmática en relación a las
dinámicas que están ocurriendo ahora.

MK: ¿Más pragmática en qué sentido?

DH: Bueno, ¿por qué apoyé a SYRIZA aunque este no fuera un partido
revolucionario? Porque abría un espacio en el que algo diferente podía pasar y
eso era una movida progresiva para mí.

Es un poco como Marx diciendo: el primer paso hacia la libertad es la limitación
de la duración de la jornada de trabajo. Demandas muy estrechas abren un espacio
para resultados más revolucionarios, y aún cuando no hay ninguna posibilidad
para ningún resultado revolucionario, tenemos que buscar soluciones de
compromiso que sin embargo se apartan del sinsentido de la austeridad neoliberal
y abren el espacio en el que nuevas formas de organización pueden tener lugar.

Por ejemplo, sería interesante si Podemos buscara organizar formas de
confederalismo democrático, porque en cierto modo Podemos surgió de un montón de
reuniones de tipo asambleario teniendo lugar a lo largo de España, así que
tienen mucha experiencia con ese tipo de estructura.

La cuestión es cómo conectarán la forma asamblearia a formas más permanentes de
organización, en relación a su creciente posición como un partido fuerte en el
parlamento. Esto también vuelve a la pregunta de la consolidación del poder:
tienes que encontrar maneras de hacerlo, porque si no la burguesía y el
capitalismo corporativo van a encontrar modos de reafirmarse y tomar nuevamente
el poder.

MK: ¿Qué piensas acerca del dilema de las redes de solidaridad llenando el vacío
que dejó la retirada del estado de bienestar e indirectamente convirtiéndose en
un aliado del neoliberalismo en ese sentido?

DH: Hay dos formas de organizarse. Una es el vasto crecimiento del sector ONG,
pero mucho de eso está financiado de manera externa, no son organizaciones de
base, y eso no se acerca a la cuestión de los grandes donantes que marcan la
agenda, la cual no será una agenda radical. Aquí nos acercamos a la
privatización del Estado de bienestar. Esto me parece que es muy diferente
políticamente a las organizaciones de base en las que la gente dice “Ok, el
estado no se ocupa de nada, así que vamos a tener que hacernos cargo de nosotros
y nosotras mismas” Esto me parece que tiende a formas de organizaciones de base
con un status político muy diferente.

MK: Pero ¿cómo evitar llenar esa brecha al ayudar, por ejemplo, a gente
desempleada para que no sean exprimidos por el estado neoliberal?

DH: Bueno, tiene que haber una agenda anti-capitalista, para que cuando el grupo
trabaje con gente todo el mundo sepa que no se trata sólo de ayudarla a
arreglárselas sino que hay todo un intento organizado de tratar de cambiar
políticamente el sistema en su integralidad. Esto quiere decir tener un proyecto
político muy claro, lo cual es problemático con tipos de movimientos no
centralizados, no homogéneos, donde alguna gente trabaja de un modo, otra
trabajan de manera diferente y no hay ningún proyecto colectivo en común.

Y esto se conecta con la primera pregunta que hiciste: no hay coordinación
acerca de lo que son los objetivos políticos. Y el peligro es que sólo estes
ayudando a la gente a arreglárselas y que no haya política saliendo de ahí. Por
ejemplo, Occupy Sandy ayudó a la gente a volver a sus casa e hizo un maravilloso
trabajo, pero en última instancia, hicieron lo que la Cruz Roja y los servicios
de emergencia federales deberían haber hecho.

MK: El fin de la historia parece haber pasado de largo. Mirando las condiciones
actuales y los ejemplos concretos de lucha anti capitalista, ¿piensas que
“ganar” es todavía una opción?

DH: Definitivamente; y más aún, tienes fábricas ocupadas en Grecia, economías
solidarias a través de cadenas productivas siendo forjadas, instituciones de
democracia radical en España y muchas cosas hermosas ocurriendo en muchos otros
lugares. Hay un crecimiento saludable del reconocimiento de que necesitamos ser
mucho más amplios y amplias en lo que concierne a la política en todas esas
iniciativas.

La izquierda marxista tiende a desdeñar un poco estas cosas y creo que está
equivocada. Pero al mismo tiempo no creo que ninguna de estas cuestiones sea lo
suficientemente grande en sí misma como para lidiar con las estructuras
fundamentales de poder que necesitan ser desafiadas. Aquí hablamos de nada menos
que del Estado. Así que la izquierda debe repensar su aparato teórico y táctico.

Fuente: https://roarmag.org/magazine/david-harvey-consolidating-power/

Traducción: de Gabriela Mitidieri para Democracia Socialista, editado por VIENTO
SUR

In
REBELION
http://www.rebelion.org/noticia.php?id=210507
29/3/2016

A revolução do pato amarelo no Brasil ***



A última criação de Langley:
A revolução do pato amarelo no Brasil

por Wayne Madsen [*]

A mais recente revolução cozinhada pelos agentes "soft power" da Central
Intelligence Agency que actuam nos legislativos federal e estaduais
brasileiros, nos media corporativos, nos tribunais e nos gabinetes de
promotores – todos eles incitados pela ajuda financeira de organizações
não governamentais de George Soros – é a "Revolução do pato amarelo".

Enormes patos amarelos infláveis – que dizem representar a "fraude"
económica da presidente Dilma Rousseff e do seu governo do Partido dos
Trabalhadores – surgiram nas manifestações de rua financiadas pelos EUA
em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Os principais coordenadores
destes protestos são encontráveis nas maiores federações corporativas e
nos conglomerados de media possuídos por corporações e todos eles têm
ligações a organizações internas não lucrativas como o Vem Pra Rua –
uma típica denominação em estilo Soros – e o Movimento Brasil Livre , que
por sua vez é financiado pelos suspeitos habituais: o National Endowment
for Democracy ( NED ), a US Agency for International Development
(USAID) e o Open Society Institute de Soros.

Depois de tentar armar uma derrota eleitoral da presidente progressista e
de esquerda [1] do Brasil, Dilma Rousseff, através de uma combinação de
assassínio de um candidato presidencial (o assassinato aéreo de Eduardo
Campo em 2014 para abrir o caminho à presidência à candidata verde ao
serviço da Wall Street, Marina Silva, companheira de lista de Campos), de
"contratar uma multidão" para manifestações de rua e de propaganda nos
media corporativos, os diabos de Langley agora estão a tentar correr
Rousseff do cargo através de um processo de impeachment "Made in America".
Consciente de que o antecessor e mentor progressista de Rousseff [1] ,
Luís Inácio Lula da Silva , fora visado por promotores brasileiros na
folha de pagamentos da CIA para prisão e processo por suborno, ela
nomeou-o para o seu governo com nível ministerial e imunidade a processo
[em baixa instância, NR]. Lula só se tornou um alvo porque manifestou o
seu desejo de concorrer à presidência após o término do mandato de
Rousseff em 2016.

O Partido dos Trabalhadores destaca correctamente que as manobras de
impeachment legislativo contra Rousseff e as operações judiciais contra
ambos, Rousseff e Lula, emanam de Washington. As mesmas "regras da lei"
foram avançadas pela CIA nas operações contra os presidente Cristina
Fernandez de Kirchner na Argentina, Rafael Correa no Equador, Evo Morales
na Bolívia, Nicolas Maduro na Venezuela, Fernando Lugo no Paraguai e
Manuel Zelaya em Honduras. Nos casos de Lugo e Zelaya, as operações
tiveram êxito e ambos os líderes foram removidos do poder por forças
direitistas apoiadas pela CIA.

Protestos de rua contra Rousseff, desde que começaram em 2014, assumiram
a típica concepção de Soros de uma revolução. Tal como os desastrosos
protestos da Primavera Árabe, inspirados por Soros e alimentados pela CIA,
no Egipto, Líbia, Síria e Tunísia, assim como o protesto do Euromaidan na
Ucrânia, o movimento Vem Pra Rua e o seu associado Movimento Brasil
Livre são basicamente campanhas capitalistas politicamente motivadas
apoiadas no Facebook, Twitter, redes de rádio, televisão, jornais e sítios
web pró insurreição.

Além dos patos amarelos insufláveis, os protestos de rua foram
assinalados por bonecos fabricados rapidamente com Lula em uniforme de
prisão [2] e um cartaz em que se retratava Rousseff com um sinal de "Não"
em diagonal vermelha. Os dispositivos para os protestos de rua, os quais
incluem também bandeiras e vestuário verde e amarelo, são sinais
reveladores dos montantes de dinheiro significativos que apoiam estes
truques de guerra psicológica.

Promotores brasileiros na folha de pagamento de Langley prenderam Lula
depois de encenarem uma maciça investida policial à sua casa. A polícia
também prendeu a antiga Primeira-Dama do Brasil, a esposa de Lula, Marisa
Letícia. Lula disse sentir que fora sequestrado pela polícia. Em 2009,
tropas hondurenhas realmente sequestraram o presidente Manuel Zelaya no
meio da noite e detiveram-no numa cela militar antes de o expulsarem do
país. Aquela operação, tal como esta contra Lula e Rousseff, foi apoiada
não só pela CIA e NSA como também pelo US Southern Command com sede em
Miami. O golpe hondurenho também foi corroborado pelo Supremo Tribunal de
Honduras. Para impedir uma nova prisão política do seu antecessor,
Rousseff nomeou Lula seu chefe da Casa Civil, uma posição ministerial que
lhe permite alguma protecção à contínua fustigação judicial e processos
legais pelo Supremo Tribunal.

Em 16 de Março, o juiz Sérgio Moro, o qual está encarregado da Operação "
Lava-jato ", a investigação da Petrobrás que perdura há dois anos e o
alegado suborno envolvendo Rousseff e Lula, divulgou duas intercepções de
chamadas telefónicas entre a presidente e o antigo presidente. A
conversação telefónica "grampeada" envolvia planos de Rousseff para nomear
Lula como seu chefe da Casa Civil, um cargo ministerial, como meio de lhe
dar alguma protecção em relação à operação em andamento de golpe judicial
apoiada pela CIA. Rousseff anteriormente trabalhara como chefe da Casa
Civil de Lula. Documentos classificados da National Security Agency –
revelados pelo denunciante Ed Snowden – ilustram como a NSA espionou o
gabinete de Rousseff e seus telemóveis. O presidente Obama afirmou ter
ordenado acabar com a espionagem a líderes mundiais amistosos para com os
Estados Unidos. A declaração de Obama era falsa.

O nome do juiz Sérgio Moro aparece em um dos telegramas vazados do
Departamento de Estado. Em 30 de Outubro de 2009, a embaixada dos EUA em
Brasília relatou que Moro compareceu a uma conferência patrocinada pela
embaixada no Rio de Janeiro efectuada de 4 a 9 de Outubro. Intitulada
"Illicit Financial Crimes", a conferência parece ter sido uma avenida
para a CIA e outras agências de inteligência dos EUA treinarem-se quanto à
imposição das leis federal e estaduais do Brasil – bem como de outros
responsáveis de polícias da Argentina, Paraguai, Panamá e Uruguai – em
procedimentos para montar falsos processos criminais de líderes
latino-americanos considerados inamistosos para com os Estados Unidos. O
telegrama do Departamento de Estado, datado de Brasília, declara: "Moro...
discutiu as 15 questões mais comuns que ele considera em casos de lavagem
de dinheiro nos tribunais brasileiros".

Um ítem que não constava na agenda do seminário da embaixada dos EUA era
a espionagem da NSA das comunicações de Rousseff, Lula e da companhia
petrolífera estatal brasileira Petrobrás. Numa técnica conhecida como
"construção paralela" processual, promotores estado-unidenses aos quais
fora dado acesso a comunicações interceptadas ilegalmente, iniciaram
processos contra cidadãos americanos com base na utilização selectiva de
intercepções sem permissão. Se tais tácticas podem ser utilizadas nos
Estados Unidos, certamente também podem ser utilizadas contra líderes como
Rousseff, Lula e outros. As intercepções da operação Lava Jato às
conversações telefónicas de Rousseff-Lula divulgadas para os media pelo
juiz Moro podem ter tido origem na NSA e sua base de dados XKEYSCORE de
intercepções do governo brasileiro e de comunicações efectuadas através de
operações de escuta com os nomes de código KATEEL, POCOMOKE e
SILVERZEPHYR .

No que poderia ser denominado a "Doutrina Obama", a CIA mudou o seu plano
de jogo para derrube de governos legítimos pela utilização utilização
ostensiva de meios "legais". Ao invés de confiar em juntas de generais e
em tanques nas ruas a fim de impor a sua vontade, a CIA, ao contrário, tem
empregue promotores, juízes, líderes de partidos da oposição, editores de
jornais e administradores de sítios web, bem como truques utilizando
multidões [3] – tudo, desde patos amarelos insufláveis, fantoches de
papier-mâché, t-shirts recém-pintadas com serigrafia, bandeiras e faixas
de pano – como instrumentos facilitadores de revoluções coloridas.

Como mostram os telegramas vazados do Departamento de Estado, a CIA
identificou um certo número de agentes de influência nos quais pode
confiar para proporcionar inteligência tanto sobre Rousseff como sobre
Lula. Estas fontes incluíram a liderança sénior do Partido dos
Trabalhadores; responsáveis da Petrobrás ansiosos por vez a sua companhia
vendida a saldo aos abutres financeiros que melhor pagassem; executivos do
Banco Central do Brasil e oficiais da inteligência militar brasileira que
originalmente haviam sido treinados pelas agências de inteligência e
militares dos EUA.

Além do Brasil, outros países membros dos BRICS também tem assistido ao
aumento dos esforços dos EUA para organizar revoluções coloridas. A África
do Sul está na lista alvo, tal como a Rússia e a China.


24/Março/2016

NR
[1] A classificação é do autor, a publicação do seu artigo não significa
o endosso de resistir.info a tudo o que diz.
[2] Há notícia de que cada boneco insuflável de Lula em uniforme de
presidiário custa 137 mil reais (cerca de 34 mil euros).
[3] A utilização de multidões por parte da CIA está bem documentada no
derrube do governo democrático Mossadegh, no Irão, que impôs o regime do
Xá. V. por exemplo "Os homens do Xá: O golpe no Irão e as origens do
terrorismo no Médio Oriente", de Stephen Kinzer, ed. Tinta da China,
Lisboa, 2007, 352 p., ISBN 978-972-8955-23-6

Ver também:
Brazil, like Russia, undhttp://resistir.info/brasil/madsen_24mar16.htmler attack by Hybrid War , de Pepe Escobar
Ilusões progressistas devoradas pela crise , de Jorge Beinstein

[*] Jornalista de investigação, escritor, membro da Society of
Professional Journalists (SPJ) dos EUA e do National Press Club.

O original encontra-se em www.strategic-culture.org/...

In
RESISTIR.INFO
http://resistir.info/brasil/madsen_24mar16.html
29/3/2016

*** O blog não necessariamente concorda, no todo ou em parte, com as matérias que pública.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Historia y lecciones del Neoliberalismo




Por Perry Anderson



Primero, examinaremos los orígenes de lo que se puede definir como
neoliberalismo, como corriente estrictamente diferente del liberalismo clásico
del siglo XIX. Después, estableceremos el balance del neoliberalismo en el
poder. Finalmente, extraeremos algunas lecciones para la izquierda.



Construcción de una vía única

El neoliberalismo nace después de la Segunda Guerra Mundial en el oeste de
Europa y en Norteamérica. Esta corriente surge como una vehemente reacción
teórica y política contra el intervencionismo de Estado y contra el Estado de
bienestar social. Friedrich August von Hayek publica en 1944 The Road to Serfdom
(La ruta hacia la servidumbre). Esta obra constituyó, de alguna manera, la carta
de fundación del neoliberalismo, y desarrolló un ataque apasionado contra toda
limitación impuesta por el Estado al libre funcionamiento de los mecanismos del
mercado. Las trabas del Estado son denunciadas pero, a su vez, la obra contiene
una mortal amenaza contra la libertad económica y política. En esa época, el
blanco principal de von Hayek es el Partido Laborista inglés. Se acercan las
elecciones en Gran Bretaña y este partido las va a ganar en julio de 1945,
llevando a Clemente Attlee al puesto de Primer ministro. El mensaje de von Hayek
puede ser resumido así: a pesar de sus buenas intenciones, la moderada
socialdemocracia inglesa conduce al mismo desastre que el nazismo germano, a la
servidumbre moderna.

Compañeros de Mont-Pèlerin

Tres años más tarde, en 1947, cuando los fundamentos del Estado Social se ponen
efectivamente en marcha en la Europa de postguerra, von Hayek convoca a quienes
comparten su orientación ideológica y los reúne en una pequeña estación de
veraneo helvética, en Mont-Pèlerin, abajo de Vevey, en el cantón de Vaud. Entre
los célebres participantes de esta reunión se encuentran no sólo determinados
adversarios del Estado Social en Europa sino también feroces enemigos del New
Deal americano. Dentro de la selecta asistencia, reunida en abril de 1947 en el
Hôtel du Parc, se destacan Maurice Allais, Milton Friedmann, Walter Lippman,
Salvador de Madariaga, Ludwig von Mises, Michael Polanyi, Karl Popper, William
Ranpard, Wilhelm Röpke y Lionel Robbins. Al final de este encuentro se funda la
Societé du Mont-Pèlerin (Sociedad de Monte Peregrino), una especie de
francmasonería neoliberal, bien organizada y consagrada a la divulgación de las
tesis neoliberales, con reuniones internacionales regulares.

El objetivo de la Societé du Mont–Pèlerin es, de una parte, combatir el
keynesianismo y toda medida de solidaridad social que prevalezca después de la
Segunda Guerra Mundial y, de otra parte, preparar para el porvenir los
fundamentos teóricos de otro tipo de capitalismo, duro y libre de toda regla.

Durante este período, las condiciones para tal empresa no eran muy favorables.
En efecto, el capitalismo –que algunos años después será denominado
neocapitalismo– entra entonces en una gran onda de expansión que habría de
representar su edad de oro. El crecimiento es particularmente rápido y continuo
a lo largo de las décadas de 1950 y 1960. Por esta razón, las advertencias de
los neoliberales contra los peligros que representa cualquier control del Estado
sobre los mercados aparecían poco creíbles. No obstante, la polémica más
específica en torno encontrar una regulación social tiene una gran repercusión.
Entonces, von Hayek y sus amigos argumentan contra el nuevo igualitarismo –muy
relativo– de ese período. Para ellos, tal igualitarismo, promovido por el
Estado-Bienestar es destructor de la libertad de los ciudadanos y de la
vitalidad de la competencia, dos cualidades de las que depende la prosperidad
general. Los animadores de la Societé du Mont-Pèlerin defienden las ideas y
teorías oficiales de la época. Pretenden que la desigualdad es un valor positivo
-de hecho indispensable como tal- del que tienen necesidad las sociedades
occidentales. Este mensaje permaneció en estado teórico por más de veinte años.

El giro de 1974

Todo cambió desde la eclosión de la gran crisis del modelo económico de
postguerra ocurrida en 1974. Los países capitalistas desarrollados entran en una
profunda recesión. Por primera vez se combinan una baja tasa de crecimiento y
una elevada inflación, dando lugar a la estanflación. Favorecidas por esa
situación, las ideas neoliberales comienzan a ganar terreno. Así, von Hayek y
sus camaradas afirman que las raíces de la crisis se encuentran en el poder
excesivo y nefasto de los sindicatos y, de manera más general, en el movimiento
obrero. Según ellos, los sindicatos han minado las bases de la acumulación de la
inversión privada con sus reivindicaciones salariales y sus presiones orientadas
a que el Estado aumente sin cesar los gastos sociales parasitarios.

Estas presiones han recortado los márgenes de ganancia de las empresas y han
desencadenado procesos inflacionarios (alza de precios), lo que no puede más que
terminar en una crisis generalizada de las economías de mercado. Desde entonces,
el remedio es claro: mantener un Estado fuerte, capaz de romper la fuerza de los
sindicatos y de controlar estrictamente la evolución de la masa monetaria
(política monetarista). Este Estado debe ser frugal en el dominio de los gastos
sociales y abstenerse de intervenciones económicas. La estabilidad monetaria
debe constituir el objetivo supremo de todos los gobiernos. Para este fin, es
necesaria una disciplina presupuestaria, acompañada de una restricción de los
gastos sociales y la restauración de una llamada tasa natural de desempleo, es
decir, de la creación de un ejército de reserva de asalariados -batallones de
desempleados- que permita debilitar a los sindicatos. Por otra parte, deben
introducirse reformas fiscales a fin de estimular a los ´agentes económicos‘ a
ahorrar e invertir. En otras palabras, esta propuesta implica –simplemente- una
reducción de los impuestos sobre los ingresos elevados de las personas y sobre
las ganancias de las empresas.

De esta manera, una nueva y saludable inequidad reaparecerá y dinamizará las
economías de los países desarrollados enfermos de estanflación, patología
resultante de la herencia combinada de las políticas inspiradas por Keynes y
Beveridge, basadas en la intervención estatal anticíclica (dirigida a amortiguar
las recesiones) y la redistribución social, pues el conjunto de estas medidas ha
desfigurado de manera desastrosa el curso normal de la acumulación de capital y
del libre funcionamiento de los mercados. Según esa “saludable inequidad”, el
crecimiento se logrará naturalmente cuando se alcance la estabilidad monetaria y
la aplicación de las principales políticas (reforma fiscal, reducción de cargas
sociales, desregulación de controles estatales, y otros).

Margaret Thatcher, Ronald Reagan y los otros



Margareth Thattcher, Milton Friedman y Friedrich August von Hayek

La hegemonía del programa neoliberal no se impuso de un día para otro; demandó
algo más de un decenio. En los primeros tiempos, la mayoría de países de la
Organización para la Cooperación y el Desarrollo Económico (OCDE) intentó
aplicar remedios keynesianos a la crisis desatada por la recesión generalizada
de 1974-1975. Sin embargo, desde el fin de los años 70 –más exactamente en 1979–
una nueva situación política se configuró. En este año comenzó el régimen de
Margaret Thatcher en Inglaterra. Este fue el primer gobierno de un país
capitalista avanzado que se comprometió públicamente a poner en práctica el
programa neoliberal. Un año más tarde, en 1980, Ronald Reagan fue elegido a la
presidencia de Estados Unidos. En 1982, Helmut Kohl y la coalición
demócrata-cristiana CDU-CSU derrotaron a la socialdemocracia de Helmut Schmidt.
En 1982-1984, en Dinamarca, símbolo del modelo escandinavo del Estado
providencial, una coalición claramente derechista tomó las riendas del poder.
Por consiguiente, casi todos los países del norte de Europa occidental, a
excepción de Suecia y Austria, dieron un giro a la derecha. La oleada derechista
de esos años permitió reunir las condiciones políticas necesarias para la
aplicación de las recetas neoliberales, consideradas como salida a la crisis
económica.

En 1978, la ‘segunda guerra fría‘ se endureció luego de la intervención
soviética en Afganistán y de la decisión estadounidense de instalar una nueva
generación de cohetes nucleares (misiles de crucero Pershing II) en Europa
occidental. Dentro del abanico de las corrientes procapitalistas de postguerra,
la escuela neoliberal siempre ha integrado como elemento central un virulento
anticomunismo. El nuevo combate contra el ´imperio del mal‘ -la más completa
esclavitud humana, a los ojos de von Hayek- refuerza inevitablemente el poder de
atracción del neoliberalismo en tanto que corriente política. La hegemonía de
una nueva derecha en Europa y en Norteaméricana se consolidó. De esta manera, en
el curso de los años 80 asistimos al incuestionable triunfo de la ideología
neoliberal en los países capitalistas avanzados.

El neoliberalismo en el poder

En términos prácticos, ¿cuáles son las realizaciones de los gobiernos
neoliberales de la época? El modelo inglés es el más puro y constituye a la vez
una experiencia pionera. Los diferentes gobiernos dirigidos por la señora
Thatcher refrenaron la emisión de la masa monetaria, elevaron las tasas de
interés, redujeron drásticamente los impuestos sobre los ingresos más altos,
abolieron los controles sobre los flujos financieros (entrada y salida de
capitales), elevaron fuertemente la tasa de desempleo, aplastaron las huelgas,
pusieron en vigor una legislación antisindical e impusieron recortes en los
gastos sociales. Finalmente se lanzaron –con un retardo sorprendente si se
consideran las prioridades en el dogma neoliberal– a un amplio programa de
privatizaciones, comenzando por los alojamientos públicos y afectando después a
sectores de la industria básica, tales como el acero, la electricidad, el
petróleo y la distribución de agua. Este conjunto de medidas constituyó el
proyecto más sistemático y ambicioso de todos los experimentos neoliberales en
los países capitalistas avanzados. La variante norteamericana es diferente. En
Estados Unidos, donde no existe un Estado Social similar al de Europa, el
presidente Reagan y su administración dieron prioridad a la competencia militar
con la Unión Soviética. Esta fue considerada como una estrategia orientada a
minar la economía soviética y, por esta vía, subvertir el régimen en vigor en la
URSS.

En el plano de la política interior es preciso revelar que también Reagan redujo
los impuestos en favor de los ricos, elevó las tasas de interés y aplastó la
única huelga importante decretada durante su mandato, la de los controladores
aéreos. Sin embargo, Reagan no respetó la disciplina presupuestal; al contrario,
se lanzó en una carrera armamentista sin precedentes que implicó enormes gastos
militares, provocando un déficit en las finanzas públicas superior a todos los
conocidos bajo los otros presidentes. Además, ello significó una subvención
directa e indirecta a un vasto sector industrial. Se recurrió a una especie de
keynesianismo militar y este desenfreno no fue imitado por los otros países.
Sólo Estados Unidos, a causa de su peso en la economía mundial, puede pagarse el
lujo de un déficit masivo de la balanza de pagos inducido por tal política.

En el continente europeo, los gobiernos de derecha de esa época –frecuentemente
de origen demócrata-cristiano- pusieron en marcha el programa neoliberal con un
poco más de moderación. Insistieron más en priorizar la disciplina monetaria y
las reformas fiscales y menos en los recortes drásticos de los gasto sociales.
No buscaron deliberadamente el enfrentamiento con los sindicatos. No obstante,
la distancia entre esas políticas y aquellas dirigidas por la socialdemocracia
en el curso de los períodos anteriores es grande.

En tanto que la mayor parte de países del norte de Europa eligieron gobiernos de
derecha que aplicaban diversas versiones del programa neoliberal, al sur del
continente –es decir, en los países donde reinaba Franco, Salazar, De Gaulle y
los coroneles griegos– llegaron por vez primera al poder gobiernos de izquierda.
Se habló entonces de eurosocialismo. Esta fue la época de François Mitterrand en
Francia, Felipe González en España, Mario Soares en Portugal, Bettino Craxi en
Italia y Andreas Papandreus en Grecia. Todos se presentaron como una alternativa
progresista, frecuentemente apoyados por el movimiento obrero y popular, y en
oposición a las orientaciones reaccionarias de los gobiernos de Reagan,
Thatcher, Kohl y otros del norte de Europa. En efecto, en un primer período, por
lo menos François Mitterrand y Andreas Papandreus se esforzaron en realizar una
política de redistribución, de ´pleno empleo‘ y de protección social. Esta
tentativa se inscribía en la perspectiva de crear en el sur de Europa un modelo
análogo al establecido en al postguerra por la socialdemocracia del norte de
Europa.

No obstante, el proyecto del gobierno socialista francés se desvaneció desde
finales de 1982 y fue abiertamente suspendido a partir de marzo de 1983. Esta
administración, bajo la ´presión de los mercados financieros internacionales‘,
cambió radicalmente de curso económico. Se empeñó en una orientación muy próxima
a la ortodoxia neoliberal, con prioridades tales como la estabilidad monetaria,
el control del déficit de las finanzas públicas y las concesiones fiscales a los
detentadores de capitales. El objetivo del ´pleno empleo‘ fue abandonado. A
finales de los 80, el nivel de desempleo en Francia era más elevado que en la
Inglaterra conservadora, lo que la señora Thatcher se complacía en subrayar.

En España, el gobierno de Felipe González jamás buscó realizar una política
keynesiana o redistributiva. Por el contrario, desde el comienzo del régimen del
Partido Socialista Obrero Español (PSOE), el monetarismo estuvo en el puesto de
comando. Muy ligado al capital financiero, favorable a la política de
privatizaciones, el gobierno del PSOE manifestó asimismo una cierta pasividad
frente al desempleo que, rápidamente, llegó al 20% de la población activa, un
récord en Europa.

Del otro lado del mundo, en Australia y en Nueva Zelanda, el mismo esquema
neoliberal fue aplicado con una fuerza brutal. Los diversos gobiernos
laboralistas superaron a las fuerzas conservadoras de derecha en la aplicación
de programas neoliberales radicales. Nueva Zelanda representa ciertamente el
caso más extremo. Allí el Estado Social fue desarticulado de manera más completa
y feroz que en la Gran Bretaña de la señora Thatcher.

Alcances y límites del programa neoliberal

Estas experiencias demuestran la hegemonía del neoliberalismo como ideología. Al
comienzo, sólo los gobiernos de derecha se arriesgaron a poner en práctica las
orientaciones neoliberales. Después, diversos tipos de gobiernos, incluidos los
que se autoproclamaban de izquierda, rivalizaron con los primeros en fervor
neoliberal.

El neoliberalismo había comenzado por declarar a la socialdemocracia como su
principal enemigo en los países capitalistas avanzados, lo cual provocó una
reacción de hostilidad por parte de las fuerzas socialdemócratas. Por
consiguiente, los gobiernos que se reclamaban socialdemócratas eran los más
resueltos en aplicar las políticas neoliberales. Hay algunas excepciones. Al
final de los años 80, en Austria y en Suecia, se manifiesta una cierta
resistencia frente a la marejada neoliberal en Europa.

No obstante, en lo esencial de los países de la OCDE, las ideas de la Societé du
Mont-Pèlerin habían triunfado plenamente. Desde entonces, convendría formular
una pregunta: ¿Cómo se concretó efectivamente la hegemonía neoliberal en los
países industrializados en el curso de los años 80? ¿Ha mantenido el
neoliberalismo sus promesas? Para responderla, tracemos un panorama de conjunto.
La prioridad más inmediata del neoliberalismo se dirigía a contener la inflación
de los años 70. En este campo tuvo éxito. La tasa de inflación pasó en los
países de la OCDE de 8.8% en los años 70 a 5.2% en los años 80. Esta tendencia a
disminuir se confirmó en el curso de los años 90. La baja inflación, a su turno,
debía crear las condiciones para recuperar las ganancias. En este aspecto, el
neoliberalismo también consiguió logros reales. La tasa de ganancia industrial
de los países de la OCDE, que durante los años 70 fue de 4.2%, aumentó a 4.7% en
los 80. Tal elevación de la tasa de ganancia fue más impresionante si la
comparamos a la Europa occidental como un todo, que disminuyó de 5.4% a 5.3%.

La razón principal de esto residió, sin duda, en la derrota del movimiento
sindical, que se tradujo en el dramático retroceso del número de huelgas y en la
congelación o reducción de los salarios. Esta nueva situación del movimiento
sindical -en la que la moderación es cada vez más manifiesta- fue resultado, en
gran parte,de la tercera victoria obtenida por el neoliberalismo, es decir, la
elevación de la tasa de desempleo, conocida como un mecanismo natural y
necesario para el funcionamiento eficaz de toda economía de mercado. La tasa
media de desempleo en los países de la OCDE, que se situaba en 4% durante los
años 70, por lo menos se dobló durante los 80. Tal resultado ha sido considerado
como satisfactorio desde el punto de vista de los objetivos de los neoliberales.

En fin, la inequidad en los ingresos -otro objetivo muy importante para los
neoliberales- se han profundizado. Puesto que el poder de compra de los salarios
se ha estancado o reducido, según los países, los valores de la Bolsa vieron
triplicar o cuadruplicar su cotización. Por lo que se refiere a sus objetivos
-baja de la inflación, los empleos y los salarios, y aumento de la tasa de
ganancia- podemos decir que el programa neoliberal ha triunfado. Pero en tanto
que todas esas medidas fueron concebidas como instrumentos para alcanzar el
objetivo histórico de reactivar las economías capitalistas desarrolladas a
escala internacional y restaurar las tasas de crecimiento estables que existían
antes de la crisis de los años 70, en estos aspectos, el fracaso es manifiesto.
No cabe duda alguna al respecto. Entre los años 70 y 80, y aún más al comienzo
de los años 90, no se ha producido un cambio significativo en las tasas medias
de crecimiento. En el conjunto de países de la OCDE, la reactivación ha
resultado débil y vacilante, muy alejada de los ritmos conocidos durante la onda
expansiva de los años 50 y 60.

Crisis y tregua

¿Por qué resulta esto paradójico? A pesar de todas las nuevas condiciones
institucionales puestas en vigor en favor del capital, la tasa de acumulación,
es decir, la inversión efectiva neta en el dominio de los bienes y equipos de
producción, ha aumentado poco durante los años 80, reduciéndose si se la compara
con los niveles de los años 70; en el conjunto de los países capitalistas
avanzados, las tasas de inversión productiva han evolucionado anualmente en
promedio así: 5.5% durante los años 60, 3.6% en los 70 y sólo 2.9% durante los
80. La curva es claramente declinante.

De ello surge un interrogante: ¿Por qué razones la recuperación de las tasas de
ganancia no ha conducido a una recuperación de la inversión? De una parte, se
puede encontrar un importante elemento de respuesta en la desregulación de los
mercados financieros (libertad de movimientos de capitales, de compra y venta de
obligaciones, creación de nuevos productos financieros y otros). Esta
desreglamentación hacía parte integrante del programa neoliberal. Pero ella ha
conducido a que las inversiones financieras, llamadas especulativas, sean más
rentables que las inversiones productivas. Así, durante los años 80 hemos
asistido a una verdadera explosión de operaciones en los mercados de cambio
internacionales; las transacciones monetarias han tomado tal vuelo que se han
multiplicado frente a los intercambios comerciales basados sobre bienes reales.
El aspecto rentable, parasitario del funcionamiento capitalista, se ha acentuado
fuertemente en el curso de estos años.

Por lo demás, y esto constituye un fracaso para el neoliberalismo, el peso
financiero del Estado de Bienestar no ha disminuido considerablemente, a pesar
de todas las medidas tomadas para contener los gastos sociales. En los países de
la OCDE su participación en el producto interno bruto (PIB) ha permanecido
estable o incluso aumentado durante los años 80. Esta situación se explica por
dos razones de fondo: el crecimiento de los gastos sociales debidos al
desempleo, que aumentan en miles de millones de dólares los presupuestos
sociales de los Estados, y el ascenso de los jubilados entre la población, lo
que también contribuye a elevar los gastos sociales. En el curso de los años 90,
los programas de seguridad social han sido el blanco de las nuevas medidas
neoliberales.

En fin, cuando el capitalismo entró en una nueva y profunda recesión en 1991, se
pudo constatar con cierta ironía que el endeudamiento público de casi todos los
países occidentales alcanzó niveles alarmantes, inclusive en Gran Bretaña y
Estados Unidos; además, el endeudamiento privado de las familias y las empresas
alcanzó un nivel sin precedentes desde finales de la Segunda Guerra Mundial. Con
la recesión de comienzos de los años 90, todos los índices económicos en los
países de la OCDE se han mostrado más negativos. Se cuentan 38 millones de
personas sin empleo, lo que representa casi dos veces la población actual de
toda Escandinavia.

En estas condiciones de crisis aguda, era de esperar una fuerte reacción contra
el neoliberalismo desde comienzos de los años 90. Pero, al contrario, aunque
pueda parecer extraño, el neoliberalismo tuvo entonces un segundo aire en su
tierra natal, Europa. El ‘thatcherismo‘ sobrevivió a la señora Thatcher con la
victoria de John Major en las elecciones de 1992. En Suecia, la
socialdemocracia, que resistió el asalto neoliberal de los años 80, fue abatida
por un frente unido de la derecha en 1991. Los socialistas franceses sufrieron
una derrota humillante en 1993. En Italia, Silvio Berlusconi llegó en 1994 al
poder, a la cabeza de una coalición que incluye una fuerza neofascista. En
Alemania, el gobierno de Kohl fue despedido y en España José María Aznar, a la
cabeza del Partido Popular, derrotó al PSOE.

América Latina, un laboratorio



General Augusto Pinochet, dictador de Chile

El impacto del triunfo neoliberal en Europa del Este se hizo sentir en otras
partes del globo, particularmente en América Latina. Esta es la tercera gran
región de experimentación de las políticas neoliberales. De hecho, aún cuando en
ciertos países de Europa oriental se aplicaron algunas privatizaciones masivas
después de las de los países de la OCDE, el continente latinoamericano ha sido
el epicentro de la primera experiencia neoliberal aplicada de forma sistemática.
Me refiero a Chile, bajo la dictadura del general Pinochet, tras el golpe de
Estado septembrino en 1973. Ese régimen tiene el ´mérito‘ de haber anunciado el
desencadenamiento del ciclo neoliberal en la presente fase histórica. El Chile
de Pinochet aplicó su programa inmediatamente, bajo las formas más duras:
desregulación, desempleo masivo, represión antisindical, redistribución de la
riqueza en favor de los ricos, privatización del sector público… Todo lo cual
comenzó justo un decenio antes del gobierno de la señora Thatcher.

En Chile, la inspiración teórica de la experiencia del general Pinochet fue más
directamente norteamericana; Milton Friedman era entonces una referencia más
directa que el austríaco von Hayek. Es preciso subrayar que la experiencia
chilena de los años 70 interesó mucho a los consejeros ingleses de la señora
Thatcher. Por lo demás, se tejieron excelentes relaciones entre los dos
regímenes durante los años 80. El neoliberalismo chileno, bien entendido,
presuponía la abolición de la democracia y la puesta en vigor de una de las
dictaduras más sanguinarias de la postguerra.

La democracia, como tal, cual repite sin cesar von Hayek, nunca ha sido un valor
central del neoliberalismo. La libertad y la democracia, según explicaba, pueden
fácilmente volverse inconciliables si la mayoría democrática decide interferir
los derechos incondicionales que cada agente económico tiene de disponer como
quiera de su propiedad y sus ingresos. En este sentido, el señor Friedman y von
Hayek pudieron admirar la experiencia chilena sin sucumbir a una incoherencia de
orden teórico y sin comprometer sus principios. Ellos pudieron justificar aún
más su admiración porque la economía chilena conoció un ritmo de crecimiento
relativamente rápido bajo el régimen de Pinochet, a diferencia de las economías
capitalistas de los países avanzados sometidos al programa neoliberal. Ese ritmo
ha sido, por lo demás, perseguido por los regímenes de la era post-Pinochet, que
han aplicado, en esencia, la misma orientación económica.

Si Chile representa una experiencia piloto para el neoliberalismo de los países
de la OCDE, América Latina también ha servido de campo experimental de los
planes que se aplicarían al Este. Aquí hago alusión a las ´reformas‘ aprobadas
en Bolivia desde 1985. Jeffrey Sach, el joven gurú económico norteamericano,
puso en vigor su tratamiento de choque en Bolivia antes de proponerlo en Polonia
y en Rusia. En Bolivia, la imposición de un plan de ajuste estructural no
necesitaba de la derrota de un movimiento obrero pujante, como sí fue el caso de
Chile. Acabar la hiperinflación era el primer objetivo declarado. El régimen
político que aplicaba el plan de Jeffrey Sach no tomó la forma de una dictadura;
se situó dentro del marco de la herencia del partido populista que había
dirigido la revolución de 1952.

Chile y Bolivia han servido, pues, de laboratorio a los experimentos
neoliberales. Pero hasta el fin de los años 80 fueron excepciones en América
Latina. El viraje hacia un neoliberalismo perfilado comenzó en México, en 1988,
con el arribo del presidente Carlos Salinas de Gortari. Y se prolongó con la
elección de Carlos Ménem en 1989 y con el comienzo, ese mismo año, de la segunda
presidencia de Carlos Andrés Pérez en Venezuela; finalmente, con la elección de
Alberto Fujimori a la presidencia del Perú en 1990. Ninguno de estos gobiernos
hizo conocer a la población, antes de su elección, el contenido de las políticas
que habrían de aplicar. Por el contrario, Ménem, Pérez y Fujimori prometieron
exactamente lo opuesto a las medidas antipopulares que aplicaron en el curso de
los años 90. En cuanto a Salinas, es de conocimiento público que no habría sido
elegido si el Partido Revolucionario Institucional (PRI) no hubiera organizado
un fraude electoral masivo.

De las cuatro experiencias, tres han conocido un éxito inmediato sobre la
hiperinflación –Méjico, Argentina, Perú– y una fracasó –Venezuela. La diferencia
es importante. En efecto, las condiciones políticas necesarias para una
deflación -la desregulación brutal, el aumento del desempleo y las
privatizaciones- se han hecho posibles gracias a la existencia de ramas
ejecutivas del poder estatal que concentran un poder aplastante. Éste siempre ha
sido el caso en México, gracias al sistema de partido único del PRI. Al
contrario, Ménem y Fujimori debieron innovar, instaurando legislaciones de
urgencia, reformas constitucionales u organizando el autogolpe de Estado. Este
tipo de autoritarismo político no ha podido aplicarse en Venezuela.

Sería arriesgado concluir que en América Latina sólo los regímenes autoritarios
pueden imponer políticas neoliberales. El caso de Bolivia, donde todos los
gobiernos elegidos después de 1985 –el de Paz Zamora o el de Sánchez de Losada–
han aplicado el mismo programa, demuestra que la dictadura, como tal, no es
necesaria, aún cuando los gobiernos “democráticos” hayan tenido que tomar
medidas antipopulares de represión. La experiencia boliviana suministra una
enseñanza: la hiperinflación, con el efecto pauperizador que cotidianamente trae
para la gran mayoría de la población, puede servir para hacer ´aceptables‘ las
brutales medidas de la política neoliberal, preservando formas democráticas no
dictatoriales. En 1987, un economista brasileño miembro de una institución
financiera internacional y admirador de la experiencia chilena de Pinochet,
confesaba que el problema crítico del Brasil, en ese momento presidido por
Sarney, no residía en una tasa de inflación muy elevada, como pregonaban los
funcionarios del Banco Mundial. Por el contrario, él sostenía que la tasa de
inflación era muy reducida y proclamaba abiertamente: “Esperamos que los diques
se rompan”. ¿Por qué? Su respuesta era simple: “En Brasil necesitamos de una
hiperinflación para crear las condiciones que empujen a la población a aceptar
el tratamiento deflacionario drástico que necesita el país.” La hiperinflación
brasileña ha comenzado reuniéndose así las condiciones para iniciar un programa
neoliberal sin instrumentos dictatoriales.

In
Kaosenlared
http://kaosenlared.net/historia-y-lecciones-del-neoliberalismo/
28/3/2016