quarta-feira, 31 de maio de 2017

      Como os media inventam a "repressão" na Venezuela


       por Thierry Deronne 


      Enfiemo-nos na pele de uma pessoa que apenas dispusesse dos media para se
       informar sobre a Venezuela e que dia após dia se falasse de
       'manifestantes' e " ;repressão" ;. Como não entender que essa pessoa
      acreditasse que a população está na rua e que o governo a reprime?
       Porém, não há nenhuma revolta popular na Venezuela. Apesar da guerra
      económica a grande maioria da população vai para as suas ocupações,
      trabalha, estuda, sobrevive. É por isso que a direita organiza as suas
      marchas com início nos bairros ricos. É por isso que recorre à violência,
      ao terrorismo e se localiza nos municípios de direita. Os bairros
      venezuelanos são em 90%, bairros populares. Compreende-se a enorme lacuna:
      os media transformam as ilhas sociológicas das camadas ricas (alguns % do
      território) em "Venezuela". E 2% da população em "população". [1]
       A ex-presidente argentina Cristina Fernandez, depois de Evo Morales,
      denunciou: "a violência é utilizada na Venezuela como metodologia para
       alcançar o poder e derrubar um governo" [2] . Do Equador, o ex-presidente
      Rafael Correa recordou que "a Venezuela é uma democracia. É através do
      diálogo, com eleições, que devem ser resolvidas as diferenças. Muitos
       casos de violência vêm claramente dos partidos da oposição [3] . Esta
      também é a posição do Caricom, que inclui os países do Caribe [4] . O papa
      Francisco teve que incitar os bispos da Venezuela que, como no Chile em
      1973, arrastavam os pés face ao diálogo nacional proposto pelo Presidente
      Maduro [5] . Este lançou o processo participativo para a Assembleia
      Constituinte, e confirmou a eleição presidencial legalmente prevista para
      2018.
       Desde o desaparecimento de Hugo Chávez, em 2013, a Venezuela é vítima de
      uma guerra económica que visa privar a população de bens essenciais,
      principalmente alimentos e medicamentos. A direita local reúne certos
      elementos da estratégia implementada no Chile pelo par Nixon-Pinochet,
      claramente para causar a exasperação dos sectores populares e legitimar a
       própria violência. De acordo com o relatório do orçamento 2017 colocado
      no site do Departamento de Estado [6] , Foram entregues 5,5 milhões de
      dólares à "sociedade civil" da Venezuela. O jornalista venezuelano Eleazar
      Diaz Rangel, editor do diário  Últimas Notícias  (centro-direita) revelou
      trechos do relatório que o Almirante Kurt Tidd, chefe do comando Sul,
      enviou para o Senado dos EUA: "com a política do MUD  (coligação da
      oposição venezuelana)  estabelecemos uma agenda comum, que inclui um
      cenário duro, combinando acções de rua e dosificando o emprego da
      violência a partir da perspectiva de cerco e asfixia." [7]
       A fase insurreccional implica atacar os serviços públicos, escolas,
      maternidades  (El Valle, El Carrizal),  instituições de saúde, bloquear
      ruas e artérias principais para bloquear a distribuição de alimentos e
      paralisar a economia. Através dos media privados, a direita apela
      abertamente aos militares para realizarem um golpe de Estado contra o
      Presidente eleito [8] . Mais recentemente os bandos paramilitares
      colombianos passaram do papel de formadores para um papel mais activo: o
      corpo sem vida de Pedro Josué Carrillo, militante chavista, acaba de ser
      encontrado no Estado de Lara, com marcas de tortura típicas do país de
      Uribe [9] .
       Apesar dos morteiros, armas, granadas ou coquetéis Molotov usados por
       manifestantes " ;pacíficos" ; (sem esquecer as efígies de chavistas
      enforcadas em pontes, assinatura dos paramilitares colombianos), a lei
      proíbe a polícia ou a guarda nacional de usar as armas de fogo.
      Manifestantes da direita aproveitam a oportunidade para forçar a sua
      vantagem e evidenciam o seu ódio sobre guardas ou polícia, provocá-los com
      jactos de urina, excrementos e disparos com balas reais, observando a
      reacção das câmaras da CNN.
       Elementos das forças de segurança que desobedeceram e foram culpados de
      ferimentos ou mortes de manifestantes foram presos e processados [10] . O
      facto é que a grande maioria das vítimas são trabalhadores que iam para o
      trabalho ou voltavam, activistas chavistas ou elementos das forças da
      ordem [11] . É por isso que os media falam de mortes em geral – para que
      se acredite que se trata de  "mortos pelo regime."  A lista dos "mortos"
      serve para aumentar o apoio global à desestabilização: há nestes
      assassinatos, é terrível constatá-lo, o efeito de uma encomenda para os
      media.

       Qualquer manifestante que mata, destrói, agride, tortura, sabota sabe que
      será santificado pelos media internacionais. Estes tornaram-se um
       incentivo para perseguir o terrorismo. Todos os mortos, todas as
      sabotagens económicas serão atribuídas ao "regime", incluindo dentro da
      Venezuela, onde os media, como a economia, é na sua maioria privada. Que a
      democracia participativa que é a da Venezuela tente defender-se como
      compete a todo o Estado de direito, vai ser imediatamente denunciada como
       "repressiva".  Quem ouse punir um terrorista, e isto o tornará de
      imediato um  "preso político".  Para o jornalista e sociólogo argentino
      Marco Teruggi " ;  uma intervenção na Venezuela, o governo dos Estados
      Unidos tem condições mais favoráveis do que tinha para bombardear a Líbia,
      tendo em conta o facto de que a União Africana tinha condenado essa
      intervenção quase por unanimidade. (..) Tudo depende da capacidade da
      direita manter mais tempo o braço de ferro na rua como espaço político.
      Donde a importância de manter a caixa de ressonância mediática". [12] 
       Exemplo sórdido desta ligação: em 5 de Maio de 2017, usando uma foto
      digna de um fotograma de Hollywood (mas que não é a da vítima)  Le Monde 
      denuncia  "a morte de um líder estudantil morto durante os protestos
       contra o projecto do Presidente Maduro convocar uma Assembleia
       Constituinte".   Ora a vítima, Juan (e não José como escreveu  Le Monde
       ) Bautista Lopez Manjarres é um jovem líder estudantil revolucionário,
      assassinado por um comando da direita quando participava numa reunião em
      apoio do processo da Assembleia Constituinte.
       Le Monde  menciona também a reacção do maestro Gustavo Dudamel, em
       digressão no estrangeiro, pedindo para que "cesse a repressão" após a
      morte do jovem violista Armando Canizales. No entanto, este músico não foi
      vítima da repressão, mas também ele de um projéctil disparado das fileiras
      da direita.
       O jornal espanhol  La Vanguardia,  virulentamente oposicionista da
      Revolução Bolivariana, admite excepcionalmente pelo texto do seu enviado
      especial Andy Robinson:  "Tal como em outros momentos da crise, a
      narrativa de uma juventude heróica, morta pela ditadura Bolivariana não
      cola no caso de Armando Canizales. (..) É quase certo que o projéctil não
       foi disparado pela polícia, mas pelos próprios manifestantes. É sabido
      que alguns deles fizeram armas artesanais para os choques diários a
      polícia."  [13] .
       A reacção rápida do Sr. Dudamel é representativa das numerosas
      personalidades artísticas submetidos a forte pressão mediática nos seus
      países, obrigados a fazer declarações para satisfazer a opinião pública,
      99% convencida pelos media, para denunciarem a "repressão na Venezuela" ;.
       A 16 de Maio, o  Le Monde  denunciou " ;a morte de um jovem de 17 anos,
      baleado num comício contra o Presidente Maduro" ;. Não é verdade. A
      pesquisa mostra que Yeison Natanael Mora Castillo foi morto por um
      projéctil idêntico ao usado para assassinar o violista Canizales. Ele não
       participava numa reunião anti-Maduro. Seus pais são membros de uma
      cooperativa em luta para recuperar um latifúndio de sete mil hectares,
      suportando desde há muito ataques do grande proprietário. Eles
      apresentaram uma queixa contra os organizadores da marcha da oposição, e
      numa entrevista ao jornal local  Ciudad Barinas  denunciaram a manipulação
      que falsamente atribuía ao governo Maduro o assassinato de seu filho. [14]
       Imputar sistematicamente ao governo bolivariano os assassinatos cometidos
      pela direita, é todo o "jornalismo" de Paulo Paranaguá no  Le Monde.  Em
      21 de Abril, atribui aos colectivos chavistas a morte de um estudante de
      17 anos, Carlos Moreno, morto por uma bala na cabeça, bem como de Paola
       Ramírez Gómez, de 23. Dupla mentira. De acordo com a família de Carlos
      Moreno, o adolescente não participava em qualquer manifestação e
      dirigia-se para um torneio de desportivo. O assassino foi preso: é um
      membro da polícia de Oscar Oscariz, presidente da Câmara Municipal de
      Sucre. O jornal da oposição  Tal Cual  assim relata. [15] . Quanto à
      segunda vítima referida por Paranaguá, Paola Rodríguez, o seu assassino
      foi preso pelas autoridades: é Ivan Aleisis Pernia, um militante da
      direita.
       O "diário dos mercados" ; não é o único a mentir de forma assim tão
      sórdida nesta 'luta pela liberdade'. O  La Libre Belgique, New York Times,
      France-Culture, El Pais, Le Figaro,  ou mesmo  Mediapart  são robôs da
      vulgata global. Esta invenção da "repressão" é tanto mais fácil quanto a
      imagem típica do manifestante maltratado por um polícia tem vantagem
       quando se é privado do contexto relativo à imagem. Longe da Venezuela,
      apenas alguns poderão dispor dos cenários onde jovens são treinados,
      armados, pagos para provocar as forças de segurança e produzir a "
      ;imagem" ; necessária. A concentração global dos meios de comunicação e a
       crescente convergência de redes sociais com os grandes media fazem o
       resto, fixando o imaginário tanto à esquerda como à direita. Vêem-se
      assim os politicamente " ;insubmissos" ; submeterem-se aos media e
      acrescentarem sem dar por isso a sua pedrinha para a campanha global:
       Os que retransmitem na internet este poster provavelmente não imaginam a
       falsidade que se esconde por trás do " ;Anonymous Venezuela" ;. A
       capacidade da extrema-direita de se servir de alguns símbolos do
       movimento alternativo global e capitalizar apoios é revelada aqui: Quando
      cai a máscara de Guy Fawkes da oposição venezuelana". [15]
       Em suma, como se da história da propaganda e das guerras nada se tivesse
       aprendido, caímos sem cessar na armadilha. Malcolm X tinha prevenido: "se
      não tivermos cuidado, os media vão fazer que as vítimas sejam consideradas
      os torturadores e os carrascos as vítimas" ;. Transformando a violência da
      extrema-direita em "revolta popular", travestindo de " ;combatentes da
       liberdade" ; assassinos nostálgicos do apartheid dos anos 90, é em
      primeiro lugar contra os cidadãos da Europa, que a uniformização mediática
      se volta: a maioria dos telespectadores, leitores e ouvintes apoiam sem
      saber uma agressão para derrubar um governo democraticamente eleito. Sem a
      democratização em profundidade da propriedade dos media, a profecia de
      Orwell acaba por ser tímida. A Venezuela é suficientemente forte para
      evitar um golpe como aquele que acabou com a unidade popular de Salvador
      Allende, mas a crescente desconexão da população de ocidente com o mundo
       voltar-se-á contra ela própria.

      Micromanual de autodefesa perante a vaga mediática
       "A Venezuela é um "regime ditatorial"  . Falso. Desde 1999, a Venezuela
      bolivariana organizou um número recorde de votos (25), reconhecidos como
      transparentes por observadores internacionais. De acordo com o antigo
      presidente do Brasil Lula da Silva, é um "excesso de democracia". Por
      Jimmy Carter, que observou 98 eleições em todo o mundo, a Venezuela tem o
      melhor sistema eleitoral no mundo. Em Maio de 2011, o relatório da
      canadiana  Fondation pour l'Avancée de la Démocratie  (FDA) colocou o
      sistema eleitoral da Venezuela no primeiro lugar do mundo pelo respeito
      das normas de base da democracia. A ONG chilena  Latinobarómetro 
      estabeleceu no seu relatório de 2013 que a Venezuela bate registos da
       confiança dos cidadãos na democracia na América Latina (87%), seguidos
      por Equador (62%) e México (21%). O Presidente Nicolás Maduro acaba de
      lançar um processo participativo para a Assembleia Constituinte que
      permite que todos os sectores sociais façam as suas propostas, o que vai
      resultar num novo escrutínio, tendo também reafirmado que as eleições
      presidenciais terão lugar em 2018, conforme estipulado na lei.
       "Não há liberdade de expressão para a Venezuela"  Falso. Das mais de 1000
      estações de rádio e televisão, a que o Estado concedeu permissão para
      emitir, 67% são privadas (a grande maioria opostas à Revolução
       Bolivariana), 28% estão nas mãos das comunidades, mas transmitem apenas a
      um nível estritamente local e 5% são Propriedade do Estado. Em 108 jornais
      que existem, 97 são privados, 11 públicos; 67% da população venezuelana
      tem acesso à internet. Esta plataforma é dominada pelos media privados,
      reforçada pela rede das transnacionais desempenha um papel crucial na
      desinformação e no serviço de desestabilização. Para um dossier
       pormenorizado e quantificado desta paisagem mediática ver  "François
      Cluzel ou l'interdiction d'informer sur France-Culture".  [17]
       "Existem prisioneiros políticos na Venezuela".  Falso. A menos que se
      considere "presos políticos" assassinos de extrema-direita do partido
      Aurora Dourada presos na Grécia. No Estado de direito, quer se chame
      França ou Venezuela, ser de direita não significa estar acima da lei, nem
      poder cometer impunemente crimes como assassinatos, ataques à bomba ou ser
      corrupto. Não é pelas suas políticas, mas por este tipo de crimes que as
      pessoas têm sido julgadas e aprisionadas. [18] Na prática, observa-se
      também um certo laxismo da justiça. De acordo com pesquisas da empresa
      privada  Hinterlaces , 61% dos venezuelanos consideram que os promotores
      da violência e actos de terrorismo devem responder pelos seus actos
      perante um tribunal. [19]
       Lembremos que os actuais líderes da direita nunca respeitaram as
       instituições democráticas: estes são os mesmos que, em Abril de 2002,
      lideraram um sangrento golpe de Estado contra o Presidente Chavez, com a
      ajuda da confederação patronal local e soldados treinados na  School of
      Americas.  Estes são os mesmos que organizaram a violência de 2013 a 2016.
       Observe-se a identidade de um dos seus mentores
       Alvaro Uribe, um dos maiores criminosos contra a humanidade da América
       Latina, antigo presidente de um país governado pelo paramilitarismo e os
       cartéis de drogas, que tem as maiores valas comuns do mundo, o que conta
       9 500 prisioneiros políticos, 60 630 pessoas desaparecidas nos últimos 45
      anos e que desde a assinatura dos acordos de paz retomou uma política
      selectiva de assassinato de líderes sociais e defensores dos direitos
      humanos. Para informações completas e fotos destas ligações dos heróis do
       Le Monde  com o paramilitarismo colombiano, leia-se  Venezuela: la presse
      française lâchée par sa source?
       Venezuela, 20 de maio de 2017.
       Notas
       [1] Ver  venezuelainfos.wordpress.com/...
       [2] Entrevista integral de Cristina Kirschner com Jorge Gestoso 
      www.youtube.com/watch?v=-WM6nD6hPu0
       [3] 
      ambito.com/883274-tras-reunirse-con-michetti-correa-defendio-a-venezuela
       Ver também  www.telesurtv.net/...
       [4]  correodelorinoco.gob.ve/...
       [5]  www.ultimasnoticias.com.ve/...
       [6]  www.state.gov/documents/organization/252179.pdf , (pág. 96)
       [7]  www.southcom.mil/...
       [8] Como reconhece Julio Borges, líder do partido de extrema-direita
       Primero Justicia  e atual presidente da Asembleia Nacional, numa
      entrevista não complacente que lhe fez o jornalista da BBC Stephen Sackur,
      em 19 maio de 2017:  bbc.co.uk/programmes/p052nsxd
       [9]  /tatuytv.org/...
       [10] Detalhes de vários casos no site Parquet  bit.ly/2ro4iXE ; 
      bit.ly/2qE9MNb ;  bit.ly/2q5RsbU  ;  bit.ly/2rnNT5s
       [11] 
      albaciudad.org/2017/05/lista-fallecidos-protestas-venezuela-abril-2017/
       [12]  hastaelnocau.wordpress.com/2017/05/09/radiografia-de-la-violencia
       [13]  www.lavanguardia.com/...
       [14] 
      www.desdelaplaza.com/poder/yeison-lo-mataron-manifestantes-la-mud-destacado/
      
       [15]  www.talcualdigital.com/Nota/...
       [16]  venezuelainfos.wordpress.com/...
       [17]  venezuelainfos.wordpress.com/...
       [18]  venezuelainfos.wordpress.com/...
       [19]  hinterlaces.com/... 
       O original encontra-se em 
      www.legrandsoir.info/comment-le-monde-invente-la-repression-au-venezuela.html
       
In
RESISTIR.INFO
http://resistir.info/venezuela/como_os_media_inventam_repressao_na_venezuela.html
31/5/2017

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Estados Unidos y Brasil: lo que oculta el Lava Jato



Silvina M. Romano
CELAG

Brasil transita hoy por una de las crisis institucionales y políticas más
contundentes de las últimas décadas. Lo que transmiten los medios hegemónicos es
que la corrupción constituye el meollo de esta crisis. Sin embargo, considerando
la dimensión que está adquiriendo el Lava Jato, parecería ser que la
 judicialización de la política tiene un claro propósito (no siempre evidente a
la opinión pública): condenar la “ineficiencia” de “lo público”, la incapacidad
del Estado y la corrupción (inevitable) de los políticos, para así justificar el
retorno a la senda neoliberal, retorno que ya se está experimentando y a gran
velocidad.
Algunas suspicacias sobre el modo en que se presenta el Lava Jato obedecen a la
opinión de los “expertos” de la prensa y think tanks de Estados Unidos, que
abundan en análisis sustentados en una suerte de moral liberal. Sostienen, por
ejemplo, que el caso Lava Jato está ayudando a cambiar la “cultura de la
impunidad” que caracterizó a Brasil. Según ellos “la presión popular es muy
fuerte en Brasil y la gente ya no puede soportar la corrupción”. Lo sospechoso
 es que no se le da el mismo peso a la presión de la gente en las calles en
contra de las medidas de ajuste neoliberal que viene implementando del gobierno
de Temer. Estas medidas “anti populares”, son nada menos que necesarias y
“gracias” a la baja popularidad de la que goza Temer, es el único capaz de
llevar a cabo estas reformas “fundamentales” para que funcione la economía
brasileña [1].
A su vez, lo que desde una perspectiva ceñida estrictamente a los atributos de
estatidad sería considerado como injerencia, es retrucado desde un discurso en
el que Estados Unidos aparece como salvador o como parte de la salvación de
Brasil, porque todo el proceso de Lava Jato se hace en coordinación con (y
 asesoría previa de) el Departamento de Justicia de este país –situación que
debe enmarcarse en el proceso de reformas judiciales en toda América Latina
financiadas e impulsadas en plena era neoliberal por BID, USAID y el Banco
Mundial [2]-. Un dato reciente es que uno de los testigos,  el que insistió en
la ligazón de Lula con el caso, tuvo que declarar directamente y sin motivo
específico ante el Departamento de Justicia estadounidense, dando clara cuenta
del control que ejerce el gobierno estadounidense sobre los procesos en Brasil
[3].
Pero la judicialización de la política tiene objetivos materiales claros. Sin
necesidad de escudriñar demasiado, puede verse que el “árbol” de la corrupción,
parecería estar tapando un bosque: el desguace de la estructura económica
brasileña. Tal como lo apuntan algunos especialistas, los sectores clave de esta
 disputa (que están siendo vulnerados) como el petróleo, construcción y
 producción de carne, son la columna vertebral de la economía nacional [4]. Un
hecho que lo demuestra es que, en el momento de pico de la crisis institucional,
a inicios de 2016, la oposición al PT presentó proyectos de ley para retirar el
monopolio operativo de Petrobras sobre reservas de hidrocarburos de gran
envergadura [5] (objetivo que lograron luego del golpe a Rousseff), vinculando
de modo directo e indirecto al Lava Jato con intereses de negocios y
 geopolíticos del sector privado y el gobierno de Estados Unidos.


Estados Unidos y el rumbo de Brasil [6]
En el 2013, Edward Snowden publicó documentos filtrados de la Agencia de
Seguridad Nacional de Estados Unidos (NSA) que muestran la vigilancia permanente
al gobierno brasileño [7]. Brasil aparece en estos documentos como una suerte de
“enemigo” no solo de EEUU sino a los ojos de la OTAN (debido, entre otras cosas,
a la cercanía con China). A partir de lo enunciado en los documentos, parece
 claro que una de las motivaciones del espionaje fue Petrobrás y el rol de
Brasil en el mercado mundial de hidrocarburos. Esto no es un secreto, pues en
2012, la Agencia de Información sobre Energía de EEUU destacaba el crucial
descubrimiento de reservas de petróleo en Brasil, los depósitos en plataforma
submarina Presal, que podían transformar a ese país en uno de los mayores
productores de petróleo a nivel mundial [8].
En efecto, cuando el gobierno brasileño se enteró del operativo de espionaje,
adujo que estaban seguros de que el motivo era “comercial” debido
particularmente al descubrimiento de Presal. Lo interesante es que, además de
las mencionadas agencias del gobierno de EEUU, también participó en estos
operativos el Departamento de Estado (dejando rastro a través de los cables con
sus diplomáticos en Brasil). En uno de estos cables de 2009, José Serra, del
Partido de la Social Democracia Brasileña (en ese tiempo candidato a elecciones
y luego del golpe canciller de Michel Temer) aseguraba que de llegar a la
 presidencia cambiaría las leyes que regulaban el sector petrolero.
En los documentos también se percibe el lobby ejercido por las petroleras
estadounidenses, que en sus comunicados al Departamento de Estado advertían
sobre el difícil clima para la inversión y los negocios en Brasil: “Mientras
hacer negocios en Brasil es más fácil que operar en Bolivia, nos han comentado,
que en muchos aspectos las condiciones para invertir son peores que en
 Venezuela” –detallaba un cable de 2006.
Retomando nombres concretos, se lee la disconformidad de Chevron, empresa que a
pesar de estar operando como partner de Petrobras, consideraba que la estatal
“abusaba” de sus privilegios en el sector. En otro cable se da cuenta de la
reunión entre el entonces embajador de Estados Unidos en Brasil, Clifford Sobel
(2006-2009), y CEOs de las principales transnacionales de hidrocarburos,
incluidas Chevron, Exxon Mobil, Devon Energy, Anadarko, etc. dando cuenta del
 involucramiento del gobierno estadounidense en la “cuestión” del petróleo
brasileño. En los cables sobre la situación en Brasil se puede leer: “La
estrategia ahora es reclutar nuevos compañeros para trabajar en el Senado, para
aprobar enmiendas esenciales a la ley…”.

La profecía auto cumplida: el cambio de rumbo de Petrobras
Petrobras es la empresa brasileña de mayores dimensiones, responsable por la
investigación, explotación, transformación y distribución de un recurso
estratégico por excelencia, el petróleo. Además, gestiona la mayoría de las
patentes brasileñas registradas, y tiene un rol protagónico en la construcción
naval y en desarrollo y fabricación de maquinaria pesada. Por lo tanto, se trata
de un instrumento estratégico para la economía y el desarrollo brasileño. En el
año 2010, en el denominado Presal ubicado en aguas profundas del Atlántico,
descubrieron reservas de petróleo y gas [10] que para 2013 se estimaron en 40
mil millones de barriles (aprox.) y de probables reservas por 176 mil millones
no descubiertas. Además, según lo calculado, su costo de extracción estaría muy
por debajo del costo medio de la producción mundial [11]. Luego del
descubrimiento, el monopolio de Petrobras comenzó a ser cada vez más molesto
para las transnacionales petroleras.
En un reporte sobre negocios de hidrocarburos de septiembre 2016, se advierte
que Petrobras, la “empresa estatal más endeudada del mundo”, está reorientando
sus energías a explotar el área del Presal, a pesar de haber recortado el ámbito
de acción a un mínimo de exploración. El problema –para las grandes petroleras–
es que tales limitaciones no pueden ser superadas, pues Petrobras tiene el
monopolio de estos espacios, al actuar como operador, situación que –advertían
con alivio– sería revertida en el Senado, para quitar esta restricción de acción
a otros operadores y quitar tanta “presión” a la estatal brasileña [12]. Lo
cierto es que Petrobras nunca entró en quiebra y aún con dificultades, siguió
explotando los yacimientos de Presal.
Con el Golpe Parlamentario a Dilma Rousseff (proceso en el que el gobierno de
Estados Unidos mostró un sospechoso “perfil bajo”) [13], las compañías lograron
acelerar la disputa por las tan preciadas reservas de hidrocarburos. Pasados dos
meses del golpe, la Cámara de Diputados aprobó una reforma a ley que exonera a
Petrobras de la obligación de mantener una participación mínima del 30% en la
 explotación del Presal [14], permitiendo acceso directo a las transnacionales
de hidrocarburos para explotar las reservas de petróleo de Brasil [15]. Uno de
sus impulsores fue nada menos que José Serra, siguiendo con un compromiso
previamente adquirido, tal como se percibe en los Wikileaks mencionados
anteriormente.
Así, Petrobras ya no detenta el monopolio sobre los hidrocarburos brasileños. El
primer negocio de apertura se dio con la empresa francesa Total SA para vender
activos por 2.2 mil millones de dólares. Incluye participación en campos
petroleros y en dos estaciones de energía térmica. A cambio, Petrobras recibió
en un primer momento 1.6 mil millones de dólares, además de poder optar
 participar en la producción campos de petróleo del Golfo de México, actualmente
bajo la propiedad de Total y ExxonMobil [16]. Precisamente, un dato a destacar
es que el cambio en la legislación ha generado expectativas en Exxon Mobil, la
única transnacional estadounidense que no tenía presencia en Brasil, y que ya
está planeando sus próximos pasos para acceder a las reservas off-shore de ese
país. Otra de las empresas que primero se benefició fue la estatal de petróleo
noruega, adquiriendo Carcará por 2.5 mil millones de dólares [17].
Desde el mundo de los negocios (léase, los sectores interesados en la apertura
del mercado de los hidrocarburos), como resultado del Lava Jato, Petrobras
perdió inversiones en 2015 y será “difícil” salir de esa situación. Aseguran que
con la nueva ley Petrobras “comenzará a repuntar”, aunque auguran tiempos
delicados debido a posibles cambios de rumbo en la decisión de la OPEP de
recortar la producción de crudo –sospecha infundada porque Arabia Saudita (líder
de la OPEP) parece acordar no solo en mantener sino en ampliar los recortes a la
producción de crudo en los próximos meses [18]. Pero lo que más preocupa a los
empresarios brasileños son las elecciones del próximo año: “esperemos que Lula
no gane” [19], exclaman.
Desde la perspectiva de los trabajadores vinculados al sector de hidrocarburos,
se aclara que la modificación de la ley (junto con el Lava Jato) es una
estrategia muy bien elaborada con el objetivo de privatizar (cosa que ya se ha
hecho) el sector para que las multinacionales accedan a reservas de petróleo de
Brasil en un momento de rapiña por recursos estratégicos a nivel mundial. Para
 legitimar esta venta (de hidrocarburos y soberanía) es fundamental mostrar la
ineficiencia e incapacidad de Petrobras, como empresa estatal, para asumir la
explotación de los recursos [20].

De los negocios a la geopolítica
En el 2015, a pesar de las críticas al gobierno de Dilma Rousseff, el
Departamento de Comercio de EEUU aseguraba que “Brasil continua siendo muy
atractivo para las empresas estadounidenses”. Se aclaraba que Brasil era el
principal socio comercial de Estados Unidos, siendo que en 2014 el intercambio
entre ambos países alcanzó los 37 mil millones de dólares, además de ser la
 séptima economía del mundo y que por eso (a pesar de la crisis) sigue siendo un
“mercado fantástico”. En el mismo documento se enuncia que ambos gobiernos
firmaron en 2010 un Acuerdo de Cooperación en Defensa, que Rousseff envió al
Congreso para su ratificación. Esto es sugerente, pues en el mismo texto se
aclara a los empresarios que uno de los ámbitos preferentes para hacer negocioso
es el de la defensa [24].
Con la asunción de Temer, se estrecharon los lazos con las FFAA de Estados
Unidos en virtud de este rol privilegiado del sector defensa (como “nicho de
mercado” y por supuesto, en términos geopolíticos). En marzo 2017, el Ejército
de los EEUU inauguró un centro de tecnología en São Paulo para “asociarse con
Brasil en proyectos de investigación enfocados en la innovación” –similar a las
bases militares que EEUU plantea instalar en Argentina para “investigación
científica” [23]– y el Ministerio de Defensa de Brasil y el Departamento de
Defensa de los EEUU firmaron el Convenio para Intercambio de Informaciones en
 Investigación y Desarrollo, el MIEA (Master Information Exchange Agreement).
Ante lo dicho y considerando la importancia geoestratégica y geopolítica de
Brasil, preocupa una información que trascendió sobre invitación de las Fuerzas
Armadas brasileñas a tropas de los EEUU para participar de un ejercicio militar
“inédito” en la triple frontera entre Brasil, Perú y Colombia. El ejercicio se
denomina “Operación América Unida”, inspirado en una actividad similar que fue
realizada por la OTAN en Hungría, en 2015 (ocasión en la que Brasil participó
como observador). Luego de ese ejercicio, la OTAN abrió una base en Hungría.
Además, vale recordar que en 2013, Colombia firmó un acuerdo de cooperación con
la OTAN [24]. Esto no debe pasar desapercibido en las actuales circunstancias de
 escalada del conflicto en Venezuela (cuyo principal e inocultable motivo son
las reservas de petróleo), que se inserta en un esquema de provocación y/o
mantención de “situaciones bélicas” por parte de EEUU en un escenario de rapiña
por la apropiación de recursos estratégicos.


Notas

1 https://www.ft.com/content/8edf5b2c-c868-11e6-9043-7e34c07b46ef
2
http://www.celag.org/lawfare-la-judicializacion-de-la-politica-en-america-latina/
3https://www.brasil247.com/pt/247/poder/297111/Delc%C3%ADdio-diz-que-foi-interrogado-pelo-Departamento-de-Justiça-dos-EUA.htm
4 http://www.celag.org/el-impacto-del-lava-jato-en-el-capitalismo-brasileno/
5
https://mundo.sputniknews.com/americalatina/201602171056856274-brasil-petrobras-reserva/
6 Esta sección está realizada en base a información tomada de
https://wikileaks.org/Nos-bastidores-o-lobby-pelo-pre.html ;
 http://www.brasilwire.com/snowden-wikileaks-brasil/
7 Estos documentos dan cuenta del entrenamiento de agentes para acceder y espiar
las redes internas de empresas, gobiernos e instituciones financieras,
entrometerse en redes diseñadas para proteger información de esas instituciones.
8 Hasta 1997 Petrobras tenía el monopolio de la producción de petróleo, año en
el que el gobierno decidió abrir el sector a la competencia, siendo Shell, la
primera transnacional en producir petróleo crudo en el país. Se sumaron luego
Chevron, Repsol, BP, Anadarko, El Paso, Galp Energia, Statoil, BG Group,
Sinopec, ONGC and TNK-BO.
9 http://www.as-coa.org/speakers/ambassador-clifford-sobel
10 http://www.elmundo.es/america/2010/10/29/brasil/1288378788.html
11
http://www.resumenlatinoamericano.org/2016/03/12/petrobras-y-el-presal-brasileno-el-centro-de-la-disputa/
12
http://www.offshore-mag.com/articles/print/volume-76/issue-9/deepwater-update/deepwater-development-in-golden-triangle-down-but-not-out.html
13
http://www.celag.org/estados-unidos-y-el-perfil-bajo-sobre-brasil-por-silvina-m-romano/
14
http://www.telesurtv.net/news/Congreso-brasileno-aprobo-reforma-sobre-explotacion-del-presal-20161110-0014.html
15 http://www.brasilwire.com/snowden-wikileaks-brasil/
16
http://www.nasdaq.com/article/oil-gas-stock-roundup-chevrons-asset-sale-petrobras-total-deal-and-more-cm726369
17 http://www.brasilwire.com/snowden-wikileaks-brasil/
18 http://www.preciopetroleo.net/opep-reunion-mayo-2017.html
19
https://www.forbes.com/sites/kenrapoza/2017/05/16/these-guys-are-bullish-on-beleaguered-brazil-oil-firm-petrobras/#2ae280854f33
20
http://www.mdzol.com/opinion/672089-brasil-es-el-petroleo-la-verdadera-razon-de-la-lucha-por-el-poder/
21
https://www.washingtonpost.com/news/energy-environment/wp/2016/12/13/trump-taps-former-texas-gov-rick-perry-to-head-energy-department-he-once-vowed-to-abolish/?utm_term=.afcc6358fb01
22
https://www.commerce.gov/news/blog/2015/06/brazil-continues-be-attractive-us-companies-says-andrews
23
http://tn.com.ar/tnylagente/denuncias/macri-abre-las-puertas-eeuu-para-instalar-bases-militares_689656
24
http://www.telesurtv.net/analisis/Cuatro-anos-del-acuerdo-entre-la-OTAN-y-Colombia-20150305-0034.html

Fuente: http://www.celag.org/estados-unidos-y-brasil-lo-que-oculta-el-lava-jato/


In
REBELION
http://www.rebelion.org/noticia.php?id=227169
29/5/2017

domingo, 28 de maio de 2017

CONTAG repudia massacre contra trabalhadores(as), em Pau D’arco-PA





A CONTAG vem reafirmar a nota conjunta (CUT, FETAGRI-PA, MST E CPT), onde as organizações repudiam o massacre contra trabalhadores e trabalhadoras rurais ocorrido no dia 24 na Fazenda Santa Lúcia, no município de Pau D’arco, sudeste do Pará, a 860 quilômetros de Belém. 

Leia a NOTA na íntegra:

        Imediatamente um dia após a audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Estado do Pará que tratou a respeito da acentuação da violência no campo em território paraense, fomos novamente sacudidos por mais uma chacina de trabalhadores e trabalhadores rurais, desta vez vitimando 10 (dez) pessoas na fazenda Santa Lúcia, situada no município de Pau D'Arco, na região Sul do Pará, durante ação comandada pelas Polícias Militar e civil do Pará.

        A chacina de Pau D'arco é mais um triste episódio que evidencia o acirramento da violência no campo, vitimando trabalhadores e trabalhadoras rurais, a parte mais vulnerável dos conflitos envolvendo a posse e uso da terra no Pará. As causas estruturais da acentuação dos asassinatos de camponeses nas áreas rurais paraenses estão associadas à impunidade, à grilagem de terras, à concentração da estrutura fundiária e ao ambiente político-institucional forjado pelo golpe parlamentar-jurídico-midiático de 2016. 

       A chegada dos golpistas ao centro do poder no Brasil, oriundos das bancadas do Boi, da Bala e dos Bancos encorajou politicamente as elites agrárias da Amazônia e as autorizou tacitamente a empregar a violência como o principal meio de apropriação das terras e de extermínio das lideranças camponesas. Por outro lado, o desmantelamento da política de reforma agrária (extinção da Ouvidoria Agrária e do MDA) e a aprovação de medidas perversas em favor do grande capital designado sob o nome de "mercado", tais como a MP 759/2016 aprovada ontem pelos golpistas na Câmara dos Deputados, conformam a caótica situação atual de supressão de direitos fundamentais e ataques aos bens comuns. Querem a todo custo transformar a terra de trabalho em terra de negócio, mercantilizando todas as esferas da vida. 

          A barbaridade da ação policial deflagrada pelas forças da PM e Policia Civil paraense em Pau D'arco, sob o pretexto de ter reagido à suposta resistência de famílias que se negavam a cumprir 14 mandados de prisão contra si, revela que o Estado coercitivo anda de braços dados com a morte. Trata-se de uma frágil argumentação desprovida de qualquer fundamento, pois nenhum policial sofreu dano físico, enquanto do outro lado tombaram dez vítimas fatais, dezenas saíram feridos e outros encontram-se desaparecidos. Em outras palavras, trata-se de um crime de Estado, tal qual ocorreu há 21 anos em Eldorado do Carajás, quando 19 trabalhadores foram brutalmente executados.

     Após a ocorrência da chacina, participamos hoje de reunião promovida pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Pará, onde estavam presentes várias instituições públicas e organizações sociais. Na oportunidade pedimos a mais rigorosa apuração dos fatos e punição dos responsáveis, ficando encaminhadas várias medidas, dentre as quais, a abertura de inquérito por parte do Ministério Público estadual, a reinstalação da Comissão Estadual de Mediação de Conflitos Agrários, audiência em caráter de urgência com o Tribunal de Justiça e visita à área de conflito.

         Diante de tantas mortes e de descaso por parte do Estado brasileiro, denunciamos nacional e internacionalmente a atuação autoritária, desproporcional e despreparada da Polícia Militar do Pará diante do conflito de Pau D'Arco. Adotaremos todos os protocolos necessários junto aos organismos internacionais de Direitos Humanos para que apurem a responsabilidade do Estado com a escalada de violência contra trabalhadores e trabalhadoras rurais e os movimentos sociais que os representam. 

       Esperamos que as dez novas mortes não sejam naturalizadas apenas como números frios em uma nefasta estatística que não para de crescer e que infelizmente tende a se intensificar diante de tantas medidas criminosas adotadas pelo governo Temer contra os mais pobres. 

        Em um Estado onde apenas 8% de proprietários concentra 69% das terras, onde a grilagem se reinventa a cada dia por meios escusos, onde as grandes corporações do agronegócio se expandem violentamente sobre as terras camponeses, que lidera os casos de trabalho escravo e a lista de maiores desmatadores da Amazônia, a solução passa pela democratização do acesso à terra e o reconhecimento de direitos territoriais historicamente violados. 

     Por fim, nós da CUT, da FETAGRI, do MST e da CPT repudiamos esse massacre, o derramamento de sangue e a criminalização das pessoas e dos movimentos sociais. Chega de barbárie e impunidade! Reforma Agrária Já! Fora Temer! Diretas Já!

Belém, 25 de maio de 2017.
FONTE: Assessoria de Comunicação da CONTAG - Barack



In

CONTAG


25/7/2017

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Inestabilidad hegemónica y crisis de Estado: La encrucijada brasileña en la lucha de clases

1

José Luis Ríos Vera


Cuando las contradicciones se acumulan es natural que ocurra el salto cualitativo. Brasil asistió en tan sólo veinticuatro horas a un verdadero terremoto político. Lo que ocurre frente a nuestras narices es el proceso de recomposición de una nueva correlación de fuerzas entre los principales campos que disputan el poder estatal.
La consigna popular “Fuera Temer” se la ha apropiado a su vez el capital monopólico. Brasil asiste a una segunda fase del golpe de Estado: un “golpe dentro del golpe”, la profundización del golpe, un desdoblamiento del golpe.
Asistimos a un segundo estadio de la crisis política permanente brasileña. Si en el primer estadio se trató de la ofensiva autoritaria del capital sobre el trabajo, el actual estadio anuncia los niveles más intensos de la lucha de clases en Brasil, más propiamente, por la nueva ofensiva de las luchas de las clases trabajadoras y populares contra la nueva estrategia de las clases dominantes.
De un terremoto de esta intensidad en escala política, emergieron, uno a uno a su propio ritmo, el movimiento revolucionario bolivariano y el poder popular boliviano “hacia el socialismo”. Eso deben saberlo como nadie, las oligarquías, el imperio y las fuerzas del orden.
Con el quiebre de la institucionalidad democrática establecida el país amazónico presenta rasgos claros de descomposición del régimen político y el desmoronamiento de sus instituciones. Se rozan las puertas de un cataclismo institucional-estatal. Una crisis política de niveles inéditos, quizá. De ahí que sea insuficiente hablar en términos de “crisis de gobierno”, “crisis de gobernabilidad” o “crisis institucional” por más que se venga profundizando la bancarrota de las instituciones políticas.
La decadencia del Legislativo (“república de delincuentes”), un Ejecutivo usurpador cada vez más despreciable, y un sistema de Justicia metamorfoseado en “partido político” deformador del texto constitucional para convenir a los intereses
2
oligárquicos que representa. Todo un cuadro de conspiración política, depredación económica y corrupción económico-política que ha llevado al país al agotamiento de todo el orden político estatal.
A un año del golpe de Estado, el desenvolvimiento vivo de las fuerzas políticas y sociales ha recreado un nivel de condensación de contradicciones que marcan un nuevo episodio en la coyuntura actual de la crisis política permanente.
La articulación del bloque de dominación golpista (2014-2016)
El bloque político golpista logró articularse en el periodo 2014-2016 entre las siguientes fuerzas principales:
-La burguesía brasileña dependiente (bancos y finanzas, agronegocio, medios de comunicación, grandes industriales);
-Las poderosas fracciones trasnacionales del capital financiero;
-La burguesía posicionada en el mercado interno;
-El Poder Judicial y los aparatos de justicia y represión (STF, MPF, PGR, Policía Federal, Magistraturas, Jueces) y las altas clases medias que los apoyan;
-La inmensa mayoría de partidos políticos anquilosados en el Legislativo y atrincherados con alianzas partidistas portadoras del sustento a la figura del Ejecutivo usurpador y del proyecto de clase que personifica;
El desgajamiento del bloque golpista: De las fisuras a la fractura
A dos años de la articulación del bloque de dominación golpista consolidado con la destitución de la presidenta Dilma en 2016, la unidad golpista ha venido presentando cada vez con mayor fuerza serios desgarramientos que la han arrastrado hacia su fractura. Como sostuvimos en un escrito de mayo de 2016:
… el desenlace puede ser más largo aún y la relación de fuerzas puede resultar imprevisible dada la posibilidad de la aparición de fisuras en el seno del bloque en el poder y sus propias fracciones: financieras, industriales, comerciales, agrarias- por una parte, y por el nivel de politización y agudización de las luchas populares.
Destacan en este sentido los siguientes factores de fractura:
3
El fracaso del gobierno Temer y de su bloque partidista de alianzas (fundamentalmente con el PSDB de la tríada Cardoso-Serra-Neves) en llevar adelante la radical restauración neoliberal conservadora, esto es, el desmantelamiento de las conquistas histórico-sociales de las clases trabajadoras y populares. Contrario a lo que prometió en el discurso de su toma de posesión, Temer no “tranquilizó al mercado” y fracasó con las “reformas fundamentales”. Dicho fracaso se evidencia: a) con los problemas por sacar adelante la Reforma Laboral (trabalhista) y de las jubilaciones y seguridad social (previdência) en tanto piezas centrales de la ofensiva golpista del gran capital; b) la crisis de legitimidad de su gobierno, con el descrédito mayoritario de la población brasileña al orden político-institucional empantanado en un gigantesco cuadro de podredumbre y corrupción; c) con su propia responsabilidad en el fortalecimiento de las fuerzas políticas de las clases trabajadoras y populares y su radical antagonismo frente al proyecto golpista ultra neoliberal.
Ante el fracaso del gobierno oportunista y el propio escalonamiento de los intereses oligárquicos, se ha puesto en primer plano una nueva carta estratégica de los grandes capitales anclada en la defenestración del gobierno Temer (un espantapájaros cada vez más descartable para el gran capital). No puede pasar desapercibido que ha sido mediante el oligopolio de las telecomunicaciones Globo que se ha dado paso -no sin arriesgar el proyecto- al plan para destituir a la figura presidencial.
Los aparatos de Justicia atrincherados en la ofensiva político-judicial de la Lava-Jato, han venido ejerciendo el papel de “partido político”. Dicha fuerza estatal, conocida como el “partido de la Lava-Jato” tiene sus propias bases sociales fincadas en las clases medias altas. Estas fuerzas judiciales, verdaderas mantenedoras de los aparatos de justicia y represión del Estado, se han distanciado con gran ímpetu de la alianza (complicidad) Ejecutivo-Legislativo. Sea por el enorme caldo de corrupción que atraviesa a este cuerpo político institucional, o sea, incluso, por la propia defensa de los intereses (de la alta burocracia judicial) que están amenazados fundamentalmente por la contra-reforma de la Seguridad Social.
4
El desgarramiento entre estos aparatos estatales es tal que la Justicia se ha lanzado por la caída del gobierno y de sus aliados. De tal modo que, el sistema estatal de Justicia como “partido de la Lava-jato” -bajo la operación de su monumental embestida judicial- ha impactado en el blanco: tiene al gobierno Temer y su sistema de complicidades y alianzas a un paso del colapso y de su descomposición. Basta con que sople el viento.
Por otro lado, tenemos a una burguesía más orientada al mercado nacional. Si bien en un primer momento esta fracción se adhirió al impeachment de la presidenta Dilma, ha venido mostrando claras señales de la incompatibilidad de intereses respecto al escalonamiento al que ha llegado la radical restauración neoliberal.
La entrega del Pre-sal, la desindustrialización, la apertura económica, el apoyo a las importaciones, la carga fiscal, las tasas elevadas de interés, el ajuste del gasto, la restricción del crédito, la desnacionalización, le han arrojado el guante a una fracción burguesa más orientada a la acumulación en el mercado nacional. ¿Quién pagará el pato del pato? preguntaba Dilma ya destituida, apropósito del ataque de los industriales brasileños (FIESP) al gobierno de Dilma bajo el emblema “Yo no voy a pagar el pato”.
Como lo señalamos en su momento:
No es fácil descartar la posibilidad de una profundización de contradicciones en el seno del bloque en el poder y modificaciones sustantivas al interior de éste, ya que, con el desenvolvimiento de la crisis económica y política y la escalada económico recesiva del golpismo, pueden pronunciarse las fisuras, esto es: mayor polarización entre industriales y banqueros locales por los porcentuales de la tasa de interés y los superávit primarios; los poderosos sectores del agronegocio con los propios industriales en lo que corresponde a la plataforma comercial externa, papel de las fracciones en la contribución fiscal, etc. Se trata de fisuras que bien pueden derivar en modificaciones sustantivas en el seno del bloque en el poder y que no sería tan fácil descartar una disociación -con el desenvolvimiento de la crisis económica y política actual y los nuevos paquetes económicos del golpismo- entre ciertas fracciones del bloque en el poder.
La burguesía dependiente junto con las fracciones poderosas del capital financiero buscan (si no es que ya lo tienen) su nuevo Príncipe. Su objetivo es consolidar la restauración neoliberal (las reformas “fundamentales”), hacer prevalecer al orden
5
político y “constitucional” y asegurar de este modo la profundización de los principales ejes de reproducción del capital.
Como puede observarse, a un año de la maniobra golpista, la configuración del bloque de dominación golpista se ha desfigurado. Contradicciones entre la burguesía dependiente-financiera-trasnacional con la burguesía “local”; los conflictos del Poder Judicial con el gobierno Temer y sus inmensas redes de corrupción; las fisuras abiertas entre el Ejecutivo golpista (y su incapacidad hegemónica para continuar el camino de contra-reformas) y su otrora sustentación principal en la gran burguesía dependiente-imperialista.
En síntesis, un escalonamiento de fracturas presentes entre las entonces bases aliadas, ha dado lugar a un nuevo estadio de crisis e inestabilidad política.
Las clases trabajadoras y el movimiento popular
El fortalecimiento del sujeto activo de la transformación social no sólo se ha presentado con el propio rompimiento de la “normalidad democrática”. A la inversa, el estallido de la crisis económica del capitalismo mundial (2008-2009), la prolongación a un estancamiento secular, y sus impactos en la crisis de la reproducción del capitalismo dependiente brasileño a partir de 2012, han llevado a las clases trabajadoras a elevar sus niveles de politización, mismos que se han venido acentuando a raíz de la tormenta política que suscitó el quiebre de la democracia representativa liberal y el golpe de Estado urdido en el orden institucional clasista.
La profundización de la crisis económica a partir de los propios planes “anti-crisis” establecidos mediante el despotismo de la restauración ultra neoliberal, ha llevado consecuentemente a las clases dominadas a intensificar sus luchas, a adquirir nuevas fuerzas, a recargar la politización de las bases trabajadoras y del movimiento popular, así como a llevado a replantear y cuestionar las relaciones de fuerzas existentes de cara a confrontar los intereses del comando golpista.
La huelga general del 28 de abril convocada por la lucha sindical y el movimiento popular que contó con la participación de 40 millones de trabajadores, movimientos
6
sociales, fuerzas populares y población en general es prueba fehaciente de una nueva relación política de fuerzas que desafía el orden establecido. A un año del golpe de Estado y de la rearticulación “social” del capital, la clase trabajadora y el movimiento popular brasileño ha dado enormes pasos hacia su articulación como verdadero organismo de poder.
Inestabilidad en las relaciones de hegemonía
El Ejecutivo está minado; la coalición de partidos en el Legislativo (PMDB, PSDB,PSB, y muchos otros) naufraga o desembarca; el “partido” de la Justicia sigue avanzando (hasta ahora) en sus operaciones. ¿Quién concentra la dirección hegemónica en el cuerpo político estatal?
Con las fracturas a nivel del bloque de dominación golpista y la acentuación de la inestabilidad política se ha zanjado un periodo de indeterminación hegemónica, o quizá pueda realmente pensarse en una verdadera crisis de hegemonía.
Las contradicciones y fisuras entre las clases dominantes (entre el bloque golpista) vienen desdoblándose en las fuertes tensiones presentes a nivel de los aparatos institucionales de Estado. En términos generales, cada aparato o poder estatal funge como baluarte de una u otra fracción o interés corporativo.
La crisis política brasileña se expresa como una amalgama de contradicciones al interior del bloque de dominación. Estas contradicciones intestinas junto con el desgarramiento de las alianzas establecidas potencian el cuestionamiento de la dirección hegemónica del Estado y tienden hacia la conformación de nuevas relaciones de fuerza que terminan por expresarse en los aparatos y poderes de la maquinaria estatal.
La dirección hegemónica estatal ha podido debilitarse, las fracciones y alianzas principales han empezado a modificarse. De ahí que, en una entrevista al único medio que aún lo cobija, el golpista Temer señale para Folha de Sao Paulo: “No voy a renunciar. Si quieren, que me derriben”.
El desenvolvimiento de estas contradicciones interestatales inescindibles de las contradicciones clasistas y su impacto en la acentuación de la crisis política son el
7
marco de una inestabilidad en el ejercicio de la dirección hegemónica del Estado, un marco de inestabilidad que se agrava con la creciente intensidad de las luchas de las clases trabajadoras y populares.
Tocando las puertas de la crisis de Estado
Con el “partido de la Lava-jato” y los aparatos represivos y de justicia del Poder Judicial presionando e interrumpiendo el ejercicio del Legislativo (el PSDB aún no se repone del mazazo a su presidente Aécio Neves y compañía), cancelando o suspendiendo el ejercicio del Ejecutivo, se vienen agravando las fisuras, profundizándose la crisis política y con ello el deterioro en el ejercicio de la hegemonía. Prueba de ello es el muy posible retraso e interrupción de las reformas neoliberales en el Congreso.
Ahora bien, de la propia inestabilidad hegemónica experimentada ha devenido un prodigioso impasse en el bloque golpista que arrastra a profundizar sus choques internos, esta vez respecto a los conflictos por definir la ruta autoritaria de una transición desde arriba (difiriendo con ello la imposición de las reformas), es decir, por el reemplazo de la figura presidencial.
De lo anterior es posible a asistir a una armazón de elementos constitutivos que en su agravamiento pueden encaminarse a una crisis de Estado, si es que ésta no ha comenzado ya a cristalizarse.
En este caso se trataría de la generación de un conjunto de condiciones que cuestionan la capacidad del Estado (y de su cuerpo de poderes, aparatos y ramas institucionales) de establecer el papel esencial que encierra el ejercicio político de la hegemonía, papel que corresponde a la fracción hegemónica: organizar el bloque en el poder, construir su unidad política y establecer el interés político general; imponer los intereses principales de la reproducción del capital (ejes de acumulación); cimentar la cohesión social, instituir el equilibrio institucional y estabilizar el orden; fragmentar y desorganizar a las clases trabajadoras y a las masas populares.
8
En este sentido, poner en tela de juicio el papel del Estado en el ejercicio de la hegemonía de clase, en la organización de la unidad del bloque de dominación, en la representación de la fracción o fracciones hegemónicas, es factor de una crisis de Estado. De tal modo, un periodo de inestabilidad política elevado a la escala de indeterminación hegemónica tiende a constituirse en factor primario de una crisis de Estado. ¿Quién construye la unidad del bloque de dominación si las contradicciones han colmado-desbordado los dominios de la estatalidad? ¿Quién impone los intereses principales de los grupos o fracciones dominantes? ¿Desde qué poder o aparato estatal institucional podrían establecerse si estos experimentan oscilantes relaciones de fuerza? En este cuadro de crisis estatal: ¿qué lugar debe ocupar el movimiento popular en su conjunto?
Además del desgajamiento en el bloque de dominación, marco que encierra la inestabilidad hegemónica, importa atender el problema de la posibilidad de organizar un nuevo bloque de dominio. Queda claro que los intereses que desde arriba optaron por la defenestración del gobierno Temer, han trazado ese camino.
Las “soluciones” en el plano inmediato: La utopía golpista versus el Frente Popular Brasil
Desde el punto de vista de la oligarquía neoliberal, la “solución” es destituir al Ejecutivo, defender el “Estado de Derecho” y reemplazar la figura presidencial. Existen distintas vías para esta “sucesión”: el presidente de la Cámara de Diputados (Rodrigo Maia) asume la jefatura de Estado, y en un plazo no mayor a 30 días convoca a elecciones presidenciales con voto interno del Congreso (de la Republica de los delincuentes!), esto es, a espaldas del voto popular.
Otra ruta de “transición” puede darse por la vía de formación de un gobierno provisional en el que asuma el mandato presidencial el Supremo Tribunal Federal (STF) en la persona de su presidenta, Carmen Lúcia. Existe incluso un abanico de sustitutos de la figura presidencial entre cuyos nombres destaca el “príncipe das trevas” y expresidente Fernando Henrique Cardoso (sic!), o el propio Nelson Jobim, ex-ministro del STF y consultor actual del Banco de Inversiones, BTG Pactual.
9
Así, con una mano en la constitución y con la otra mano en la excepción, las fuerzas oligárquicas y la lumpen-política de alianzas partidistas se encuentran enredadas entre estas “vías de transición” (desde arriba).
Efectivamente, el problema mayor que encierran estas rutas de “transición”, es que -para el capital-, ninguna lograría estabilizar la crisis política, la deslegitimidad reinante, la inestabilidad hegemónica; tres elementos necesarios para establecer lo esencial de la restauración: las contra-reformas anti-obreras y anti-populares ahora en riesgo de paralización.
Es por eso que las clases dominantes buscan dotar de vitalidad al nuevo “príncipe” y sus aparatos ministeriales. Entre estos, la sede del poder financiero, el Ministerio de Hacienda, en manos del banquero Henrique Meirelles, viene siendo revestido de un halo angelical.
Con la constitución por delante, la oligarquía pretende dar legitimidad a un orden político corroído por la gigantesca corrupción político-capitalista brasileña. Más aun, con el espíritu político de la Lava-jato es posible que el gran capital se atreva a presentar una “nueva institucionalidad” en el orden de los partidos políticos amparadas en el “imperio de la Ley”, la “transparencia” y la “democracia”. Una “nueva derecha” compuesta de supuestos outsiders ha venido difundiéndose desde meses atrás justamente en este sentido.
En conjunto, se trata de forjar los métodos y elementos que permitan la realización de las “reformas fundamentales” logrando así la consolidación de la restauración neoliberal y las condiciones de su aseguramiento y reproducción. Este es el interés esencial de las clases dominantes. ¡Todo puede suceder, a condición de que el bunker financiero (Hacienda) y sus soldados nos lleven a puerto! Es el rosario de las clases dominantes.
Por otro lado, las clases trabajadoras junto con el inmenso conjunto del movimiento popular constituidos en el Frente Brasil Popular luchan por reestablecer el orden democrático constitucional, convocar a elecciones directas (“Diretas ya”, es el mandato popular) del jefe de Estado (por sufragio universal) para este mismo año
10
de 2017, y así construir un gobierno emanado de las fuerzas democráticas y progresistas. Dichas elecciones anticipadas precisarían de una Enmienda Constitucional bastante adversa al espíritu de la “República de Delincuentes” que hasta ahora priva en el Congreso.
Las “Diretas ya” forman parte “de un “Plan Popular de Emergencia” del Frente popular brasileño que busca crear “una correlación de fuerzas favorable a la oportuna convocatoria de una Asamblea Nacional Constituyente destinada a refundar el Estado de Derecho y establecer reformas estructurales democráticas. (Ver el Plan Popular de Emergencia del Frente Brasil Popular en español: http://www.agenciapacourondo.com.ar/patria-grande/documento-completo-plan-popular-de-emergencia-del-frente-brasil-popular)
La encrucijada en la que se ha internado la sociedad brasileña será resuelta mediante los combates decisivos de las luchas de clases. Elecciones Directas e Indirectas; cada alternativa tiene -por ahora- a su propio polo ganador. La crisis política brasileña de cuyos enfrentamientos se alimenta adquiere aquí su más álgida tensión. La inestabilidad hegemónica y las fracturas entre las fracciones dominantes impulsan y fortalecen a las fuerzas populares. Es la hora de la ofensiva popular, es el grito en las calles.
Asistimos a la finitud de las ilusiones de un Estado “conciliador”, un “Estado de todos”; es el fin de la presentación de una relación de dominio impersonal en el cuerpo político estatal. El derrumbe de buena parte de la ideología fetichista del capital se ha precipitado. Las fuerzas del capital han arrancado su propio velo en su redoblada estrategia por apoderarse de los órganos y aparatos de la maquinaria estatal de dominación. La violencia estatal de clase, sin mediaciones, continúa profundizándose.
La deriva autoritaria y su adversario
Como alguna vez señalamos, en una república sustentada en la superexplotación del trabajo y bajo el yugo golpista de gobiernos de “príncipes”, no es posible conquistar legitimidad, estabilidad.
11
A la estrategia actual del gran capital le subyace una tendencia orientada hacia la configuración de una nueva morfología de los aparatos estatales, esto es, una serie de modificaciones que vienen profundizando una “nueva” forma de Estado, máxime cuando asistimos a la fractura del patrón de alianzas del bloque de dominación golpista.
Como hemos señalado en otro espacio, es importante considerar que una fractura presentada en el seno del bloque en el poder se experimentó en el periodo contrarrevolucionario de los años sesenta-setenta -bajo la ofensiva de las fracciones monopolistas en su proceso de integración al imperialismo-, y fue a partir de estas divisiones y antagonismos entre las fracciones dominantes en los cuales estaría inmerso a su vez el movimiento popular, que se configuró con las dictaduras latinoamericanas y en Brasil en particular, una nueva forma de Estado, conceptualizada ésta por Ruy Mauro Marini bajo la categoría de “Estado de Contrainsurgencia”.
Con las fisuras señaladas, y a nivel de la relación de fuerzas con el campo popular brasileño, la tendencia hacia la deriva autoritaria (a su profundización) de la oligarquía subordinada a la finanza trasnacional no es muy fácil de descartar en el escenario actual de la lucha política. De hecho, en rigor, la gestación de una nueva forma de Estado comenzó precisamente con la ruptura de la institucionalidad democrática liberal y el paso a la forma de Estado de excepción jurídica permanente.
Ahora bien, es importante considerar que la escalada mayor de la inestabilidad hegemónica hacia una crisis de Estado induciría una serie de transformaciones (su profundización) en los aparatos de Estado. Se trata de modificaciones que han venido transitando hacia una forma autoritaria de Estado fuerte, misma que relega a segundo plano la forma política estatal constituida por las “democracias gobernables”; esto es, el encauzamiento político (“lento, gradual y seguro”) de la institucionalidad democrática (restringida) en el estadio neoliberal llevado a cabo en América Latina.
12
Estas modificaciones constituyen la profundización de la actualización de los aparatos estatales a la crisis política permanente. Un procesamiento inducido tanto por los polos de las fuerzas económico-políticas de arriba, como fundamentalmente por el ascenso del campo político popular. Por tanto, se trata de una adaptación del poder estatal a la escala ascendente de las luchas de clases.
El papel político reinante que ha venido asumiendo el Poder Judicial y los aparatos de Justicia permiten vislumbrar su nuevo lugar predominante en los mecanismos de legitimación de la nueva forma del poder autoritario del Estado clasista. Desplazando a la democracia electoral neoliberal como instancia principal de legitimidad del dominio, la Justicia y el Estado de Derecho asumen la centralidad en el poder de legitimidad de la nueva forma estatal autoritaria.
La esfera del Poder Judicial institucional, en el orden dictado por las circunstancias, sea más proclive a la legitimación del derecho al uso de la fuerza pública o se incline por dotar de legitimidad a la fuerza del derecho constitucional, contribuye de modo central a la (re) emergencia de la forma de Estado de excepción con base jurídica.
En este sentido, en el orden actual de la crisis estructural del capitalismo mundial y de la recesión continua en Brasil subordinada a la crisis global, ¿acaso el pueblo brasileño no tiene oportunidad de ejercer una participación política sobre condiciones democráticas formales? En este periodo histórico de abigarramiento de contradicciones, ¿asistimos al final de las formas democráticas-representativas liberales de América Latina? ¿Se ha clausurado el periodo relativamente “flexible” de las democracias gobernables establecidas en la región?
El inventario (tanto exitoso como fallido) de Golpes de Estado “institucionales” en América Latina relativos al periodo 2004-2017 ofrece a una respuesta pesimista.
El escenario progresista de participación política asentada sobre una incólume institucionalidad estatal de dominación (de clase) ha sido consumido.
La acumulación actual de contradicciones y el redoblamiento político de la ofensiva del capital exigen a las fuerzas populares la elaboración de una nueva estrategia de hegemonía que desafíe las bases materiales del Estado de excepción permanente
13
instituidos por golpes de Estado “institucionales”, es decir, un desafío a la unidad del aparato estatal de dominación con el cual logre cimentar nuevas relaciones de poder.
En conclusión, la crisis política y la inestabilidad en las relaciones de hegemonía tocan las puertas de una crisis de Estado, lo que conlleva una serie de modificaciones en los órganos político-estatales. El desmoronamiento del régimen político en Brasil ha venido girando, con el Derecho y la Justicia por delante, hacia derivas autoritarias.
En el momento actual, las modificaciones estatales pueden llevar, ya sea a la profundización radical del Estado autoritario fuerte (del Estado de Excepción permanente ya en curso), o ya sea a la transformación democrático-popular del orden estatal.
Toca a la lucha de clases dar salida a tal encrucijada. Porque el pueblo brasileño lo sabe, se arrojará a la pelea con pasión y coraje.
23-05-2017



In
REBELION
http://www.rebelion.org/docs/227083.pdf
26/5/2017

terça-feira, 23 de maio de 2017

Brasil: el golpe contra Dilma fue también contra Rusia



Raúl Zibechi

La página de información militar Defesanet.com.br difundió el lunes 14 de mayo
la noticia de que los gobiernos de Luis Inacio Lula da Silva y Dilma Rousseff
estaban trabajando junto a la constructora Odebrecht y al gobierno de Rusia para
crear una empresa aeroespacial.

El nuevo ente competiría con la brasileña Embraer, con base en datos recogidos
de los servicios de inteligencia.
La información es sumamente relevante, y grave, ya que permite comprender las
razones de fondo por las cuales la presidenta fue destituida un año atrás, con
argumentos pueriles como el maquillaje de las cuentas fiscales que, en realidad,
realizan todos los gobiernos.

Guerra de informaciones y desinformaciones sobre el "impeachment" en Brasil
Hasta ahora no había trascendido este proyecto al que estuvieron vinculados los
gobiernos del Partido de los Trabajadores (PT), desde 2003 hasta 2016, pero
permite comprender también por qué la justicia y los medios se han focalizado en
las denuncias contra Odebrecht, siendo que muchas empresas tienen prácticas
similares.
El presidente Lula, señala Defesanet, quería que Rusia y Embraer "construyeran
un avión militar" para ofrecérselo a la Fuerza Aérea que necesitaba renovar su
flota de cazas que ya había cumplido su vida útil. Luego de muchas idas y
venidas, la Fuerza Aérea eligió el sueco Gripen de la SAAB, descartando el
Sukhoi SU-35 así como el caza europeo Typhoon. Según la publicación, el
dirigente del PT Luis Marinho, ex alcalde de Sao Bernardo do Campo (donde se
asienta el complejo industrial-militar), estaba actuando como intermediario en
esas negociaciones.

Rusia colaborará con la industria aeroespacial de Brasil
En diciembre de 2014, el vice primer ministro ruso Dmitry Rogozin, encargado del
área aeroespacial, visitó Brasil con una nutrida delegación de trece miembros.
Cuando se propuso visitar Embraer, la empresa rechazó la visita, argumentando
que no tenía lugar en la agenda. Rogozin continuó su visita con Mectron, una
empresa militar vinculada a Odebrecht Defensa y Tecnología (ODT).
El incidente generó hondo malestar en las relaciones bilaterales. Embraer era la
primera empresa a ser visitada por la comitiva rusa ya que, según el diario
Valor, sería elegida para el proceso de "nacionalización de los sistemas de
baterías antiaéreas Pantsir e Igla, que Rusia estaba en proceso de vender a
Brasil".
Durante la visita, Rogozin dijo que la delegación rusa quería proponer a Embraer
la producción conjunta de un avión civil. "Pero Embraer en realidad es una
empresa norteamericana, según creemos. De todos modos vamos a intentar
establecernos en el mercado aeronáutico local", según dijo uno de los portavoces
del viceprimer ministro a Defesanet durante la visita a Mectron.

Brasil planea entrenar a sus especialistas de industria aeroespacial en Rusia
En los meses siguientes, siempre según Defesanet, sucedieron algunos hechos que
muestran el grado de injerencia extranjera en las relaciones ruso-brasileñas.
"El vice presidente de Vnesheconmbank, banco ruso para el desarrollo de negocios
en el extranjero, y presidente de la sección rusa del Consejo Empresarial
Brasil-Rusia, Sergey Vasilyev, dijo que Rusia ofreció a Embraer la utilización
de un área industrial para implantar una línea de producción de la compañía en
el país para la fabricación de aeronaves".
Las negociaciones marchaban bien y se comenzó a negociar la fabricación de
aviones militares y helicópteros rusos en Brasil. Pero ante la negativa de
Embraer de recibir al vice primer ministro ruso, el gobierno de Lula habría
optado por involucrar a Odebrecht en la fabricación de aviones, empresa que ya
tenía una buena experiencia en el área de Defensa por los acuerdos firmados con
Francia en 2008 para fabricar submarinos.

En este punto es donde la publicación militar, queriéndolo o no, engancha la
crisis política con el papel que empezaban a jugar Rusia y Odebrecht bajo los
gobiernos del PT.
"La fábrica de aviones estaba caminando y el proyecto sólo fue paralizado por
las investigaciones de Lava-Jato que amenaza de tiempo en tiempo los contratos
militares de los gobiernos Lula-Dilma", como los submarinos, con Odebrecht, los
helicópteros de combate, con la europea Helibras, y los cazas Gripen con la
propia Embraer.
Una vez destituida la presidenta Rousseff, el gobierno de Michel Temer en "un
cambio de parámetros", comunicó a Moscú la cancelación de las negociaciones para
la compra del sistema de Defensa Antiaérea Pantsir.
Rusia puede trasladar a Brasil el proyecto de lanzamientos espaciales Sea Launch
De este modo se cierra el círculo. El proyecto del PT de establecer una base
industrial de defensa independiente de los Estados Unidos no pudo concretarse
con la aeronáutica Embraer, pero cuando se consiguió destrabar la negociación
con la incorporación de Odebrecht para trabajar junto al gobierno ruso, sonaron
las alarmas en el Pentágono y en Washington.
La operación Lava Jato fue el arma utilizada para conseguir dos objetivos con un
solo disparo: destituir al gobierno del PT y desguazar la principal empresa de
Defensa no sometida a Washington. Con el paso de los meses, comienzan a
conocerse los detalles en boca de medios que no son sospechosos de simpatía con
el PT ni con Rusia, pero que mantienen la importancia de una industria de
defensa propia para el país.
Vale decir, en paralelo, que Embraer no es cualquier empresa. Es la tercera
compañía aérea mundial en la fabricación de aviones civiles, detrás sólo de
Boeing y Airbus, y por delante de la canadiense Bombardier. Fue una empresa
estatal hasta su privatización en la década de 1990 bajo el gobierno neoliberal
de Fernando Henrique Cardoso. Actualmente está especializada en aviones de hasta
150 asientos y en jets ejecutivos, y tiene una pequeña área de defensa que
fabricará los cazas Gripen, proceso que se ha ralentizado por la crisis
económica brasileña.
Pero Embraer tiene una estrecha relación con los Estados Unidos que es uno de
los principales mercados de la empresa. Aunque formalmente la mayoría de las
acciones pertenecen a fondos de pensiones como Previ (ligado al Banco do Brasil
y al gobierno federal) y a inversores brasileños, Embraer se ha mostrado
reticente a la hora de apoyar la Estrategia Nacional de Defensa, diseñada por el
gobierno Lula, para incorporarse como empresa destacada al complejo
industrial-militar nacional.
Rusia puede trasladar a Brasil el proyecto de lanzamientos espaciales Sea Launch
Según los observadores, aún no está dicha la última palabra. El 12 de junio el
presidente Temer visitará Moscú, luego de la visita realizada por el ministro de
Defensa Raul Jungmann, el pasado 25 de abril cuando se reunió en la capital rusa
con su par Sergey Shoigu.
Uno de los temas que discutirán es el uso de la base de Alcántara, en cuya
utilización se han mostrado interesados EEUU, Francia, Rusia e Israel. Las
potencias espaciales desean utilizar esa base brasileña por su posición
geográfica estratégica, a sólo dos grados al sur de la línea del Ecuador y más
próxima a la órbita geoestacionaria, lo que garantiza un ahorro de cerca del 30%
en combustible.

LA OPINIÓN DEL AUTOR NO COINCIDE NECESARIAMENTE CON LA DE SPUTNIK

In
SPUTNIK
https://mundo.sputniknews.com/firmas/201705231069359417-brasil-odebrecht-empresa-aeroespacial/
23/5/2017

1917 - Quatro notas no centenário da Revolução Bolchevique


 Higinio Polo*   


Recordar a revolução bolchevique não é um exercício de nostalgia do passado mas
um tempo de aposta no futuro, no socialismo e no carácter social que devem ter
as forças produtivas. A revolução de 1917 foi o ponto de partida das novas lutas
revolucionárias no mundo, e a sua contribuição para a construção do socialismo
não desapareceu, porque o capitalismo não pode resolver os problemas da
humanidade. Aqui reside o valor da revolução bolchevique e da visão de Lénine.


1. 1917 é uma data germinal, que pôs ante os olhos dos trabalhadores do mundo a
certeza de que acabar com o capitalismo e construir o socialismo é possível.
Nessa data termina o velho mundo burguês que tinha ensanguentado o planeta no
século XIX e inicia-se uma nova era, onde a união operária e socialista criada
pela revolução bolchevique enfrentará o projecto de modernidade capitalista que
foi o nazismo. A revolução bolchevique mudou radicalmente o destino da Rússia e
do mundo. Cinquenta anos depois da publicação de O Capital, a Rússia
convertia-se numa referência global, e a revolução levou o país a ser uma das
duas superpotências mundiais.
O empenho da direita liberal em rebaixar a revolução bolchevique a uma espécie
de «golpe de Estado» não tem qualquer credibilidade, para além da utilidade
propagandística para a direita, nem resiste à prova dos factos: a revolução de
Outubro contou com um impressionante apoio popular que, começando em Petrogrado,
percorreu toda a geografia russa, num clima revolucionário onde milhões de
trabalhadores, soldados e camponeses se organizavam e se reconheciam nos
sovietes. Essa revolução pôs a igualdade entre os seres humanos no centro dos
objectivos políticos e das questões universais, pôs mãos à obra na construção de
uma sociedade sem classes, no tempo em que eram visíveis as multidões operárias
nos combates políticos do século XX.
Também não foi um banho de sangue: esquece-se com frequência, mas a revolução
bolchevique apenas causou seis mortos, e foi a intervenção imperialista em ajuda
dos restos do czarismo que fez rebentar a guerra civil posterior que causou uma
mortandade que superou a da grande guerra. Se de 1914 a 1917 a Rússia sofreu
entre dois e quatro milhões de mortos, aquela agressão das potências
capitalistas à Rússia revolucionária, depois do fim da guerra, causou mais oito
milhões de mortos, por causa dos combates, da destruição das colheitas e da
fome. Sobrepor-se a essa situação, reconstruir o país, foi uma tarefa de titãs,
mas não seria para a Rússia a pior prova do século XX.
A revolução sofreu um ataque que nenhum outro país no século XX teve que
suportar: do ataque dessas treze potências capitalistas (desde os Estados Unidos
até à França, a Checoslováquia, a Grã-Bretanha, a Polónia, o Japão) que apoiaram
os brancos czaristas na «guerra civil» dos anos vinte, passou-se às ameaças
latentes de Londres e de Paris e, depois ao ataque da Alemanha nazi que abriu a
Segunda Guerra Mundial onde a URSS perdeu vinte e sete milhões de cidadãos. É
costume dar pouca atenção ao que implicou administrar um país que tinha perdido
quase quarenta milhões de pessoas num período de trinta anos, e pô-la à cabeça
do desenvolvimento no mundo posterior à guerra de Hitler. Além disso, no
pós-guerra, quando quase não se tinha iniciado a reconstrução, teve logo que
enfrentar a pressão ocidental derivada da doutrina Truman que deu início à
guerra-fria.
Depois do «comunismo de guerra» e da NEP, Outubro começou a planificação estatal
da economia, impugnando o monopólio burguês que tinha conquistado todos os
países. No plano interno, estabeleceu-se a jornada laboral de oito horas, que
ficaria posteriormente reduzida a sete horas, asseguraram-se as leis para a
igualdade entre homens e mulheres; eliminou-se o analfabetismo; criou-se o
primeiro sistema sanitário público e gratuito do mundo, a reforma aos sessenta
anos para homens e mulheres, um sistema universal de pensões, garantiram-se por
lei vinte meses de baixa por maternidade, e a segurança no trabalho fez com que
os trabalhadores não temessem o desemprego, ao mesmo tempo que dispunham de
casas cedidas pelo Estado, e tantas conquistas sociais que aqui não podem ser
detalhadas. A União Soviética pôs sempre a solidariedade entre os povos, o
internacionalismo, como um dos seus fundamentos, e nunca teve uma política
agressiva contra o Ocidente. Essa mentira, repetida e amplificada pela
propaganda, teve como objectivo estender o medo entre as populações dos países
capitalistas e disciplinar os aliados europeus dos Estados Unidos à volta da
NATO, o novo instrumento de intervenção imperialista.
Outubro converteu um país atrasado numa potência industrial e científica em
poucos anos, ainda que acompanhada de uma dura repressão de Estaline. O primeiro
estado socialista da história teve como conceitos definitórios o trabalho e a
função determinante da classe operária na sociedade; a amizade e a solidariedade
entre os povos, o internacionalismo, a justiça social, a cultura e o progresso
científico, a rejeição do nacionalismo e da opressão. Houve também traços
negativos: a dura repressão política (filha do temor nascido da guerra civil, do
acosso militar posterior, da agressão nazi e, secundariamente, das lutas
internas de poder), o medo ante os órgãos do Estado, as evidentes insuficiências
democráticas, e a ineficácia ligada à burocratização e aos focos de corrupção,
bem como o aparecimento de sinais de irresponsabilidade e à negligência no
trabalho que, não obstante, não invalidam como pretende a direita o conjunto da
experiência soviética. Os laboratórios ideológicos do liberalismo continuam a
colocar a ênfase na repressão, ainda que aludam aos mortos causados pela
revolução bolchevique e o estado socialista, costumam ocultar a enorme
mortandade causada pelo capitalismo tanto na expansão colonial do século XIX,
como ao longo do século XX. E as matanças não pararam com o século XXI: aí está
o caos do Médio Oriente provocado pelas agressões e guerras dirigidas pelos
Estados Unidos.
O mundo não é melhor sem a URSS: nem sequer a ameaça atómica desapareceu, apesar
dos supostos «dividendos da paz» que o neoliberalismo prometeu. Nem sequer se
reduziram os perigos da guerra: de acordo como o SIPRI [1], o comércio mundial
de armas está no ponto mais quente desde o fim da guerra-fria, e o caos criado
pelos Estados Unidos no Médio Oriente é uma causa evidente disso, juntamente com
a desconfiança pelos propósitos de Washington. Desde logo, o mundo não é melhor
para os habitantes do antigo espaço soviético, como o evidenciam todas as
sondagens, apesar de um quarto de século de veneno nacionalista ter feito
aflorar os traços mais desprezíveis do ser humano em muitos territórios. Como na
Ucrânia, onde os grupos paramilitares fascistas percorrem desafiantes as ruas.
2. O caminho aberto por Outubro de 1917 termina abruptamente quando se arreou a
bandeira no último dia do triste ano de 1991, enquanto Yeltsin e os seus
comparsas se emborrachavam nas estâncias do Kremlin. A reforma iniciada por
Gorbatchov, saudada com entusiasmo porque prometia a renovação e o «retorno a
Lenine», derivou numa desordem económica e organizativa que, longe de resolver
os problemas da União Soviética, os agudizou, fazendo aparecer a escassez e
alimentando nacionalismos destruidores e reaccionários.
Depois das vacilações e dos graves erros de Gorbatchov, foram os próprios
dirigentes do país, com Yeltsin á cabeça, juntamente com a ambição de
personagens como o ucraniano Leonid Kravchuk, o bielorrusso Stanislav
Shushkiévich, seguidos pelo uzbeque Islom Karimov, o cazaque Nursultán
Nazarbáyev, e o azeri Gueidar Aliev, entre outros, que se lançaram na destruição
do país. O Tratado de Belavezha, subscrito por Yeltsin, Kravchuk e Shushkiévich
em 8 de Dezembro de 1991, violou a Constituição soviética e desrespeitou a
vontade da população, que se tinha pronunciado em referendo de Março de 1991
rejeitando a divisão da URSS, e impôs a destruição do país, oculta com a
roupagem da CEI, uma ficção apressadamente criada para encobrir o medo ao vazio.
Destruíram também o COMECON e o Pacto de Varsóvia.
A destruição não era uma inevitabilidade, como continua a manter a doutrina
liberal. As reformas necessárias na URSS eram possíveis, mas o projecto
gorbachoviano apenas conseguiu gerar o descontentamento e o caos. A paralisia
política de Gorbatchov na sua etapa final e o estímulo à divisão impulsionado
por Yeltsin, Kratchuk e Susshkiévich só podem qualificar-se como traição ao seu
próprio país: a retórica nacionalista chegou depois, com o objectivo de
consolidar o seu próprio poder em todas as repúblicas órfãs da URSS.
É certo que já tinham aparecido algumas reclamações nacionalistas na Arménia e
no Báltico, ainda que essas tensões nacionalistas na Arménia e nas três
repúblicas do Báltico tivessem sido estimuladas por dirigentes como Alexander
Yakovlev, enquanto no Cáucaso a incompetência governamental permitiu também o
crescimento nacionalista: na Geórgia, o conservador e ditatorial Zviad
Gamsajurdia pôde alcançar a presidência, graças à negligência e à falta de
iniciativa de Edvard Shevardnadze. No Azerbaijão, o traidor e trânsfuga Gueidar
Aliev apressou-se a apoderar-se de todos os recursos do poder. Na Arménia, onde
existia uma forte consciência nacional, rebentou uma dinâmica de guerra com o
Azerbaijão depois da escalada de tensão que teve a sua origem na matança de
Sumgaít, onde bandos de azeris atacaram a população arménia, assassinando
dezenas de pessoas, numa confusa provocação de que ainda hoje se desconhecem os
seus inspiradores. A guerra civil entre arménios e azeris fez o resto: durou
três anos, e as feridas ainda não sararam passados que foram vinte e cinco anos.
Nas cinco repúblicas soviéticas da Ásia central, onde não havia reclamações
nacionalistas, os dirigentes apressaram-se a proclamar a independência depois de
se conjurarem para a assinatura do Tratado de Belavezha. No seu conjunto, as
guerras e conflitos que então se iniciaram (na Moldávia e na Chechénia, em
Nagorno-Karabaj e na Ossétia, no Cáucaso e na Ásia central), causaram a morte de
centenas de milhares de pessoas.
Os Estados Unidos olharam com bonomia as ditaduras criadas em muitas das antigas
repúblicas soviéticas, fecharam os olhos à corrupção, à repressão política e aos
traços grotescos dos novos regimes, que vão desde a corrida ao dinheiro das
filhas de Karimov, até à nomeação de Dariga Nazarbayeva, filha do ditador
Nazarbayev, como vice-primeira ministro do Cazaquistão; passando pelo filho de
Aliev, Ilham Aliev, convertido em novo ditador que, por sua vez, acaba de nomear
sua mulher, Mehribian Alieva, vice-presidente do país.
À incompetência e ao oportunismo dos convertidos e trânsfugas que iniciaram a
fuga em frente na busca da consolidação do seu próprio poder, juntam-se muitas
provocações, a maioria das quais continuam sem clarificação. Conhecemos algumas,
como o massacre da torre da televisão em Vilna, capital lituana, em Janeiro de
1991: ali, ocorreu uma matança de catorze pessoas que comoveu o mundo, enquanto
as chancelarias e a imprensa internacional acusavam o exército e o governo
soviéticos. No entanto, sabemo-lo agora, foi um massacre provocado pelos
nacionalistas de Sajudis [2] e pelo próprio governo nacionalista lituano, cujos
pistoleiros dispararam contra os seus próprios seguidores, para acusar a União
Soviética e precipitar a independência. Tudo isto foi reconhecido anos depois
por Audrius Butkevicius, então chefe militar do governo lituano. Não foi a
primeira nem seria a última mentira: em 2008, quando o governo georgiano de
Míjeil Saakashvili (um oculto agente da CIA que confiava que a sua aventura
seria amparada por Washington e a NATO) lança uma provocadora ofensiva militar
sobre a Ossétia do sul, acontecimento que originou uma breve guerra com a
Rússia, noticiada na CNN acompanhada de imagens de tanques georgianos como se
fossem russos, ao mesmo tempo que a destruição causada pelos bombardeamentos da
Geórgia na Ossétia era apresentada como se fossem os efeitos de ataques russos
na cidade de Gori, onde se passou muito mais do que notícias desvirtuadas.
Depois de tudo, esses partidários da mentira têm consumados professores em
Washington, um dos quais foi o secretário de Estado Colin Powell que, em 5 de
Fevereiro de 2003, chegou a agitar um tubo que dizia poder conter antrax,
perante os olhares atónitos dos membros do Conselho de Segurança; a quem também
mostrou diapositivos que, segundo o governo norte-americano de Bush,
demonstravam que o Iraque tinha «armas de destruição massiva». Era tudo mentira.
É uso recorrer-se à acusação de «teorias conspiratórias da história» para
desactivar algumas nefastas evidências. No entanto, as coisas são mais simples
e, ao mesmo tempo, mais complexas: todas as potências internacionais defendem os
seus interesses e os seus projectos e utilizam para isso todo o tipo de
recursos, da diplomacia à pressão política. Muitas recorrem à mentira, às
provocações e à organização de grupos terroristas e, nesse tipo de acções, os
Estados Unidos e os seus aliados dão cartas.
Sabemos hoje, por exemplo, que os serviços secretos norte-americanos trabalharam
desde Bacu e com a cumplicidade de Aliev para incendiar a Chechénia e criar
novos focos de conflito no Cáucaso, e não renunciaram a continuar futuramente a
jogar essa cartada. Washington não só conserva em seu poder a capacidade de
reactivar conflitos no sul da Rússia, como move os seus peões na Ásia central
para dificultar um hipotético reagrupamento das velhas repúblicas soviéticas em
torno de Moscovo. Por vezes, basta chegar lume à mecha, e as guerras tomam logo
dinâmica própria.
Os problemas que a Rússia enfrentava no final da década de oitenta (devido à
incompetência dos governos de Gorbatchov, que os agravaram com projectos e
iniciativas que criaram graves disfunções na economia soviética) eram uma
brincadeira se comparados com o desastre apocalíptico que chegou na década de
noventa, sob a direcção de Yeltsin, Chubais, Gaidar e Chernomirdin (assessorados
pelo governo norte-americano, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e
peritos estado-unidenses), que destruiu a economia, colonizou a estrutura do
Estado e, de acordo com diversas investigações, provocou uma atroz mortandade
entre a população soviética: só na Rússia (que contava com metade dos habitantes
da URSS), a investigação de David Stucker, da Universidade de Oxford, de
Lawrence King da Universidade de Cambridge e Martin McKee da London School of
Hygiene and Tropical Medicine, publicada pela revista médica Lancet, chegou á
conclusão que a terapia de choque de Yeltsin tinha causado um milhão de mortos.
Aquele delirante programa foi possível graças ao golpe de estado de 1993, que
causou uma matança em Moscovo e noutras cidades, e que contou com o apoio do
Ocidente, que amparou uma espécie de via militar para o capitalismo. A
destruição da URSS permitiu às novas elites surgidas da confusão gorbatchoviana
e aos seus comparsas apoderarem-se das propriedades públicas e garantir o seu
poder em todas as repúblicas.
O golpe de Estado de Yeltsin em 1993, abençoado por Clinton, Major, Khol e
Mitterrand, numa irresponsável e delirante operação, levou quase à destruição da
própria Rússia como afirma a própria Helène Carrère d’Encausse. Na opinião do
Partido Comunista russo, vinte e cinco anos depois do desaparecimento da URSS,
as suas consequências continuam por superar. A privatização da economia, levada
a cabo por delinquentes, destruiu milhares de empresas e aglomerados
industriais, tornou possível que a maior parte da riqueza soviética, quer na
Rússia quer nas outras repúblicas, esteja hoje em mãos privadas.
3. Putin representa hoje a nova direita conservadora russa, patriota, de
complexa significação: por um lado utiliza os orçamentos públicos e os recursos
do país para o seu próprio enriquecimento, criando uma oligarquia obscenamente
rica, ao mesmo tempo que se degradam as condições de trabalho, o direito à
habitação, à saúde e à educação dos cidadãos; por outro, deteve a destruição do
país e iniciou a sua reconstrução, afastando o fantasma da destruição da própria
Rússia (objectivo a que não renunciaram os estrategos do Pentágono e dos
serviços secretos norte-americanos). Na política interna, Putin não teve dúvidas
em aplicar programas neoliberais que prejudicam os trabalhadores e a maioria da
população. E ainda que não desistam de privatizar, mantêm importantes áreas de
propriedade públicas: o Partido Comunista russo criticava em Fevereiro de 2017 a
tentativa do governo de Médvedev de privatizar quase oitocentas empresas de
propriedade pública. Putin é um exemplo mais desses dirigentes que fizeram da
política e do exercício do poder o centro da sua existência, personagens que se
adaptam a qualquer época e que se sustentam em complexos equilíbrios sempre que
isso lhes permita manter-se no poder.
Se bem que a sua política externa procure recuperar o protagonismo perdido, não
está no centro das suas preocupações combater o imperialismo norte-americano,
embora esteja consciente que este, por trás das sangrentas aventuras de
Washington no Afeganistão, no Iraque e na Líbia e a expansão da NATO, ameaça as
fronteiras da própria Rússia, e enfrente os propósitos imperialistas
norte-americanos na Síria, ao mesmo tempo que alinhava uma aliança estratégica
com a China, cujo objectivo é limitar o poder estado-unidense no mundo. Uma
parte da esquerda pouco prudente, que se alimenta de esquemáticas análises sem
matizes, chegou a equiparar a política externa russa com a norte-americana,
aludindo a um suposto imperialismo comum, ainda que em confronto, esquecendo que
enquanto Washington tem mais de setecentas bases militares nuns cento e vinte
países do planeta, Moscovo só tem uma base no exterior. Outra parte confunde
Putin com um dirigente comunista.
O partido de Putin, Rússia Unida, navega entre a complexidade e a ambiguidade: o
seu nacionalismo leva-o a assumir com orgulho a condição de superpotência da
URSS mas, ao mesmo tempo, rejeita que o desenvolvimento e o fortalecimento do
país fosse consequência da revolução bolchevique de 1917 e do socialismo.
Enquanto Putin continua a trabalhar para limitar a influência comunista no país
(as suas agências de inteligência criaram nos últimos anos três partidos
«comunistas» para atacar em força o Partido Comunista dirigido Guennadi
Ziuganóv), tem muito cuidado para não atacar o frontalmente o socialismo
soviético (ao contrário do que acontecia nos anos de Yeltsin), como conhecedor
que é das simpatias que o comunismo continua a conservar entre os russos. A
revolução bolchevique e o socialismo, a par dos traços negativos que
desenvolveu, continuam a ser defendidos pelos trabalhadores: a última sondagem
realizada por Levada Center entre a população russa, no final de Janeiro de
1917, revela que a maioria dos cidadãos tem boa opinião de Brejnev e Estaline e,
ainda que 22% rejeite a figura do georgiano, apenas 9% têm má opinião do
Brejnev, e o apoio ao socialismo é amplamente maioritário, até ao ponto de
quererem o regresso da União Soviética. Contraditoriamente, também Putin mantém
uma considerável aprovação que, indubitavelmente, é devida ao facto de ele ter
acabado com a criminalidade mafiosa nas ruas durante os anos de Yeltsin, e ao
seu novo protagonismo que traz peso internacional ao país.
Putin navega entre duas águas: recuperou o hino soviético, o desfile da vitória
sobre o nazismo, mantém a bandeira vermelha com a foice e o martelo no exército,
enquanto tenta desenvolver uma nova imagem russa, simbolizada na bandeira
tricolor, tudo isto sem esquecer que, agora, está previsto dedicar uma rua e
erigir um monumento a Fidel Castro; mas também assiste aos ritos da igreja
ortodoxa, mantém excelentes relações com o patriarca Kiril, e viu com agrado o
município de Moscovo erigir uma estátua ao rival de Napoleão, o czar Alexandre
I, muito perto do jardim das muralhas do Kremlin, onde são recordadas as cidades
heróicas da resistência contra os nazis durante a Segunda Guerra Mundial; bem
como um monumento, também junto ao Kremlin, dedicado ao príncipe Vladimir, como
«reunificador das terras russas», gestos, todos eles, dirigidos ao enaltecimento
do orgulho nacional. A nova Rússia não pôde recuperar toda a influência que a
URSS exerceu no plano internacional e, ainda que desde a intervenção de Putin na
Conferência de Munique de 2007 o seu governo tenha levantado a voz para
denunciar a expansão norte-americana para as suas fronteiras, não conseguiu
evitar o golpe de Estado em Kiev, nem o perigoso foco de guerra de Donbáss nas
suas fronteiras, nem a chegada das forças da NATO à Ucrânia: a recuperação da
Crimeia é apenas um prémio de consolação, apesar de ter fortalecido o seu
prestígio entre os russos. Ao mesmo tempo, Putin está consciente que o potencial
militar russo não é comparável ao soviético, mas conserva uma importante parte
do seu poder de dissuasão, graças ao arsenal atómico herdado da URSS, que o
governo de Médvedev está a renovar.
São diversos os traços que caracterizam as outras antigas repúblicas soviéticas,
e vão desde a existência de uma suposta democracia na Estónia, Letónia e
Lituânia, que convivem com a marginalização e a falta de respeito pelos direitos
cívicos dos russos ali residentes, a complacência para com os nacionalismos
sectários, os grupos nostálgicos do nazismo, até às satrapias do Turquemenistão,
Uzbequistão e Cazaquistão, já para não falar da extrema-direita que se apoderou
do governo da Ucrânia. Por sua vez, momentaneamente os antigos países
socialistas europeus estão convertidos em redutos da direita nacionalista e da
ultradireita: da Polónia à Hungria passando pela Roménia, Bulgária e, inclusive
a República Checa ou a Eslováquia apresentam inquietantes traços xenófobos, de
extrema-direita ou mesmo fascistas.
A União Soviética foi uma referência e um incentivo para o movimento operário
mundial, e o ataque às conquistas sociais foi possível em muitas regiões do
planeta, também pelo desaparecimento da URSS. Ainda que já se tivesse iniciado o
ataque sistemático do neoliberalismo contra os direitos dos trabalhadores, a
ausência a URSS estimulou a revanche: o incremento da exploração, a redução dos
salários, o aumento da idade da reforma, a perda de direitos na saúde, na
educação, a precarização do trabalho, o aumento arbitrário dos horários
laborais, a perda de pensões foi a mão de um ambicioso projecto de dominação que
os Estados Unidos lançaram em muitas regiões do planeta, desde as guerras na
Jugoslávia até à criação do Kosovo, as guerras no Afeganistão, no Iraque, na
Líbia, na Síria e o golpe-de-estado na Ucrânia, isto para citar apenas os mais
graves, tal como o acantonamento de novas tropas da NATO e a deslocação do seu
escudo antimísseis, bem como o seu programa de contenção da China, agora
considerado o novo inimigo global. Esse projecto de dominação, que Washington
iniciou depois do desaparecimento da URSS, viu-se entorpecido por dois fenómenos
imprevistos pelos seus centros de investigação e pela sua diplomacia: o
impressionante fortalecimento chinês depois da sua entrada na OMC, e o novo
papel exercido pela Rússia que, com Putin, deixou para trás a subordinação
política dos anos de Yeltsin e Kozirev.
4. Uma parte da esquerda social-democrata ou esquerdista celebrou como uma
vitória o desaparecimento da União Soviética, evidenciando uma enorme miopia
política e uma falta de perspectiva estratégica, que a catástrofe humana com os
milhões de mortos causados pelas reformas capitalistas em todo o antigo bloco
socialista europeu, não os fez rever. Tampouco os retrocessos posteriores dos
direitos sociais no mundo ocidental os levaram a interrogar-se sobre os efeitos
da ausência soviética. A destruição da URSS debilitou os partidos comunistas em
todo o mundo, ainda que não deva perder-se de vista que a maior organização
política do mundo tem essa ideologia: o Partido Comunista Chinês, e que existem
relevantes partidos da mesma tendência em todos os continentes que se proclamam
filhos da revolução de Outubro. Ao mesmo tempo, para sua surpresa, danificou os
partidos social-democratas, cuja cumplicidade com as políticas neoliberais (da
França à Grécia, da Espanha à Itália, da Venezuela à Grã-Bretanha) do último
quarto de século os levou a uma crise que pode ser terminal.
5. Nestes vinte e cinco anos transcorridos desde o eclipse da URSS, as propostas
e a acção do governo dos defensores do capitalismo basearam-se no aniquilamento
do chamado Estado de Bem-Estar, nos despedimentos arbitrários de trabalhadores,
na precarização do trabalho, na redução unilateral dos salários, no ataque à
instrução pública, na tentativa de eliminação dos sistemas públicos de saúde e
de pensões pagas pelo Estado; e a esquerda e os sindicatos foram incapazes
(apesar das muito honrosas lutas e resistências) de fazer frente a esse programa
de devastação da dignidade humana e da confiança num mundo mais justo.
Os laboratórios ideológicos do neoliberalismo tentaram destruir o orgulho e a
consciência operária, marcar a fogo os trabalhadores, toscos e grosseiros
habitantes da periferia do sistema; pretenderam enraizar a noção de que as
ideias de esquerda, de socialismo, de comunismo são escabrosas recordações de um
mundo que morreu, e que a modernidade reside na adaptação servil, no consumo do
lixo ideológico escarrado por todos os écrans utilizados pelo sistema
capitalista e todos os outros mecanismos de controlo da informação. Essa
operação fez mossa na esquerda, que viu como se reduziam os seus militantes,
como se apagava a memória histórica do movimento operário, como se declaravam
obsoletos o marxismo e a luta de classes, se acusava a esquerda impotente para
se actualizar, inclusive se declarava desaparecido o mundo operário de ontem
(portanto a necessidade de sindicatos e partidos de esquerda), apesar da
evidência de existirem mais trabalhadores fabris no mundo que noutro qualquer
momento da história.
Os problemas da esquerda já vêm de longe. Achille Ochetto, o artífice da volta
della Bolognina que liquidou o Partido Comunista Italiano, afirmou então, com a
ardilosa retórica dos que se atribuem sempre o novo para arrojarem os seus
opositores para o inferno das ideias mortas da história, o poço escuro do
passado obsoleto: «Não temos de continuar pelos velhos caminhos, mas inventar os
novos para unificar as forças do progresso». Na realidade, limitaram-se a mudar
para os velhos caminhos da submissão ao capitalismo que desembocaram nesse
triste e impotente Partido Democrático. Desde então, na Europa apareceram
partidos e movimentos que, de maneira confusa, pretendem articular as energias
da esquerda, da oposição: desde o Syriza ao Podemos, desde o Movimento 5
Estrelas ao Die Linke, desde o efémero Partido Anticapitalista Francês aos
verdes (ontem antagonistas, e hoje integrados), todas essas forças se movem no
campo da moderação e do medo: são filhos da derrota, e revelam-se incapazes de
romper o cordão umbilical com o capitalismo e, com excepção do Die Linke, de
propor um horizonte socialista.
Uma opção é (nunca esquecendo o imprescindível trabalho político nas fábricas e
nas empresas) articular amplos blocos sociais para lutarem nas ruas, nas
eleições e nos parlamentos, outra muito diferente é apostar na criação de
partidos vagamente de esquerda que renunciem a combater pelo socialismo. Porque
a miragem que, novamente, se agita perante o rosto dos trabalhadores e dos
excluídos, é a de a de voltar a construir uma esquerda tímida, dócil, que
renuncie ao socialismo, resignada perante o poder capitalista. Além disso, essa
nova e limitada esquerda revela-se incapaz de atrair os trabalhadores que, num
mundo cheio de incertezas, sucumbem com frequência aos populismos demagógicos
que articulam o discurso da extrema-direita.
Há uma evidência que se impõe: para o conjunto da humanidade, o capitalismo foi
incapaz de resolver os seus problemas, os de acumulação e de expansão
depredadora e sem limites que pôs o planeta á beira da catástrofe. No entanto, o
rebentar da crise criou miragens para uma assinalável parte da população e dos
trabalhadores: legiões de cidadãos esperam que a pior parte das dentadas das
crises os não afecte, e reagem politicamente perante o medo de perder tudo,
perante as novas migrações causadas pelas guerras coloniais, refugiando-se no
ninho de víboras da nova extrema-direita, que lhes oferece um regresso à velha
segurança, aos estados nacionais, a ilusórias fortalezas onde resistem à chegada
de outros trabalhadores mais pobres e a refugiados das guerras. Além disso, essa
extrema-direita lança as suas propostas (de Le Pen a Trump, de Ksczsiski a
Orbán, de Petry a Wilders), por vezes envolvidas numa retórica que, sem
hipocrisia, chega inclusive a parecer «progressista», e reclamam protecção para
as indústrias nacionais, olhando-se no espelho dos anos trinta do século XX, sem
verem que aquele programa trouxe duras lutas comerciais, novas aventuras
coloniais e, por fim, a guerra. As instituições europeias, com a
social-democracia e esses novos e vagos movimentos de esquerda revelam-se
impotentes para fazerem frente à extrema-direita, mas face ao perigo do novo
fascismo é urgente opor um bloco social, como o que levantaram os partidos
comunistas entre as duas guerras em muitos países da Europa.
Não é possível reformar o capitalismo, e as opções que se empenham em passar
para caminhos dessa natureza, que recuperam velhos esquemas social-democratas
estão no caminho do fracasso. A direita pretende, em todos os países, fazer
retroceder os direitos dos trabalhadores, privatizar as propriedades públicas,
acabar com a saúde e a educação gratuitas, converter os reformados em reféns das
companhias de seguros e entidades financeiras. E isso não se combate com tímidas
ideias reformistas.
O drama da esquerda, bem presente na Europa, mas também noutros continentes, é
que, apesar de estar consciente da impossibilidade da reforma do capitalismo,
fica paralisada para propor vias socialistas, devido à pressão do poder e aos
meios de comunicação. A democracia representativa burguesa e o parlamentarismo
mostraram os seus limites, e o movimento operário e os novos movimentos sociais
devem recuperar a acção nas fábricas e incrementar a presença dos trabalhadores
na luta das ruas.
A história não é como a esperávamos, mas recordar a revolução bolchevique não é
um exercício de nostalgia do passado, mas um tempo de aposta no futuro, o
socialismo e o carácter social que devem ter as forças produtivas devem estar no
centro das preocupações da esquerda. O novo horizonte dos filhos da revolução
bolchevique deve desenvolver, juntamente com a propriedade pública dos meios de
produção, quatro aspectos essenciais: a libertação da mulher, a ampliação da
democracia e da liberdade, uma justa distribuição do trabalho e do bem-estar no
mundo e a catástrofe ecológica.
A revolução bolchevique de 1917 foi o ponto de partida das novas lutas
revolucionárias no mundo, e a sua contribuição para a construção do socialismo
não desapareceu, porque o capitalismo não pode resolver os problemas da
humanidade, e aqui reside o valor da revolução bolchevique e da visão de Lenine.
Essa revolução, mil vezes enterrada, acusada de carências democráticas e
libertárias, criadora do país símbolo da vitória contra o nazismo que o fez
vítima da matança mais cruel da história; artífice do único país que durante
décadas enfrentou solitário o imperialismo ocidental; estímulo de novas
revoluções no mundo e sustentáculo da luta anticolonial, continua a fornecer o
fermento da revolta, porque, apesar de tudo, o legado bolchevique continua vivo,
e a escolha continua a ser entre socialismo ou barbárie.
Notas do Tradutor:
 [1] Trata-se da sigla inglesa do Stockolm International Peace Research
Institute
 [2] Movimento Reformador Lituano, que dirigiu os acontecimentos que levaram à
independência da Lituânia, e que mais tarde se transformou em partido político.
Dissolveu-se depois de 1993, dando origem a outros partidos reaccionários.
 [3] O «giro della Bolignina», considerado o primeiro passo para a passagem do
Partido Comunista Italiano (partido revisionista dito eurocomunista) no Partido
Democrático, foi apresentado por Achille Ochetto, de surpresa, no 45º
aniversário da batalha da Porta Lame em 12 de Novembro de 1989.
* Higino Polo, publicista e historiador é colaborador habitual de El Viejo Topo
Este artigo foi publicado em nº 351 (Abril de 2017) de El Viejo Topo e
reproduzido em http://www.lahaine.org/mundo.php/1917-cuatro-notas-en-el
Tradução de José Paulo Gascão

In
O DIÁRIO.INFO
http://www.odiario.info/1917-quatro-notas-no-centenario-da/
22/5/2017