sexta-feira, 30 de março de 2018

Um mês realmente histórico para o futuro do nosso planeta




       por The Saker 

       Março de 2018 vai ficar como um mês verdadeiramente histórico:
       - 1 de Março,  Vladimir Putin faz o seu  discurso histórico na Assembleia
      Federal Russa.
       - 4 de Março,   Sergei Skripal, um ex-espião do Reino Unido, é
      alegadamente envenenado no Reino Unido .
       - 8 de Março,   responsáveis britânicos acusam a Rússia de usar um gás de
      ataque ao sistema nervoso na tentativa de assassinato de Sergei Skripal.
       - 12 de Março,  Theresa May  acusa oficialmente a Rússia pelo
      envenenamento e dá à Rússia um  ultimato de 24 horas para se justificar;
      os russos ignoram esse ultimato. No mesmo dia, a  representante dos EUA no
      Conselho de Segurança das Nações Unidas ameaça atacar a Síria mesmo sem
      uma autorização do Conselho de Segurança.
       https://www.nytimes.com/2018/03/12/world/europe/uk-russia-spy-poisoning.html
        - 13 de Março,  o Chefe das Forças Armadas Russas e vice-ministro da
      defesa, General Valery Gerasimov  advertiu que  "no caso de uma ameaça à
      vida dos nossos militares, as Forças Armadas Russas tomarão medidas de
      represália quer sobre os mísseis quer sobre os porta-aviões que os
      utilizam".  No mesmo dia o General Valery Gerasimov  teve uma conversa
      telefónica com o presidente dos Chefes de Estado-maior dos Estados Unidos,
      General Joseph Dunford,
       - 15 de Março,   o Reino Unido bloqueou um projecto de resolução da
      Rússia no Conselho de Segurança das Nações Unidas pedindo uma
       "investigação urgente e civilizada"  sobre o caso Skripal.  Os EUA, RU,
      França e Alemanha emitem uma declaração de apoio ao Reino Unido e
      censurando a Rússia . . O ministro da defesa do Reino Unido  diz à Rússia
       :  "Cale-se e desapareça". 
       - 16 de Março,   o Major-General Igor Konashenkov classifica o ministro
      da Defesa britânico como  "musaranho grosseiro" e  "intelectualmente
      impotente". 
       - 17 de Março,   Generais russos advertem que os EUA estão a preparar um
      ataque químico como manobra de diversão e engano (false flag)na Síria .
       - 18 de Março,   Putin vence esmagadoramente as eleições presidenciais .
      No mesmo dia, o General Votel, comandante do CENTCOM (Comando Central
      Militar dos Estados Unidos)  declara num depoimento na Comissão dos
      Serviços Militares que as diferenças com a Rússia devem ser resolvidas
       "através de canais diplomáticos e políticos".  Quando perguntado se seria
      correcto dizer que  "com a ajuda da Rússia e do Irão, Assad ganhou a
      Guerra Civil na Síria?"  o General Votel respondeu ;  "Não acho que seja
      exagero, isto é, que seja uma declaração demasiado forte. Acho que eles
      lhe forneceram os meios para ter um ascendente neste momento". 
       - 19 de Março,  O Conselho de Relações Exteriores da UE  emite uma
      declaração de apoio total ao Reino Unido.
       - 21 de Março,  o Ministério russo dos Negócios Estrangeiros  convoca
      todos os embaixadores para uma reunião sobre o caso Skripal. A  linguagem
      utilizada pelo representante russo nesta reunião é possivelmente a mais
      ríspida usada oficialmente pelos russos (ou mesmo soviéticos) para o
      Ocidente desde a Segunda Guerra Mundial. Os representantes francês, sueco
      e dos EUA na reunião ergueram-se para declararem a "solidariedade" com o
      Reino Unido.
       - 22 de Março,  o Chefe das Forças Armadas Russas e vice-ministro da
      Defesa, General Valery Gerasimov teve  outra conversa telefónica com o
      General Joseph Dunford, presidente dos Chefes de Estado Maior dos Estados
      Unidos. No mesmo dia, o General Gerasimov manteve  outra conversação
      telefonica com o Comandante do US European Command e Comandante Supremo da
      NATO, General Curtis Scaparrotti.
       Então o que está realmente a acontecer? Certamente ninguém acredita
      seriamente que os britânicos pensem que os russos tivessem de facto algum
      motivo para tentar matar Skripal ou, aliás, se tivessem um motivo, que
      iriam faze-lo de uma maneira tão estúpida. E, de qualquer forma, afinal
      como vão prosseguir os assuntos com a Síria? Os EUA vão accionar falsos
      argumentos e proceder a bombardeamentos?
       Acho que neste ponto não nos devemos atolar nos pormenores de tudo isto.
       Há uma floresta atrás das árvores. O que mais importa agora é que as mais
      poderosas facções das elites dominantes do Império anglo-sionista estão a
      fazer um esforço concertado para criar uma coligação anti-russa unificada.
      A respeito da Euro-ralé basta dizer que os EUA, a França e a Alemanha
      emitiram um comunicado em 15 de Março sem mesmo se incomodarem em
      consultar os seus chamados "aliados" da NATO ou da UE. Pode-se
      imediatamente dizer "quem é patrão" nestas situações de crise, quando o
      resto da Europa simplesmente não conta (pobres países do leste europeu com
      seus delírios sobre serem apreciados ou mesmo respeitados pelo Ocidente!).
       Além disso, é evidente que neste caso, a componente "anglo" do Império
      anglo-sionista está muito mais envolvida do que a sionista, pelo menos até
      agora na frente do palco (  nos bastidores os "neocons" estão furiosos com
      Trump por telefonar a Putin felicitando-o [pela eleição presidencial] e
      propondo-lhe negociações). Penso que uma série de acontecimentos cruciais
      forçaram os EUA e o Reino Unido a tentar obrigar o resto dos países
      ocidentais a unirem-se em torno do Império:
       1 – Os EUA fracassaram de forma humilhante nas suas tentativas de
       atemorizar e forçar a RPDC à submissão
       2 – O império anglo-sionista perdeu a guerra civil na Síria
       3 – O Reino Unido e o resto da NATO estão a tornar-se militarmente
       irrelevantes
       4 – A Ucrânia está na bancarrota e a consumir-se; um ataque dos nazis
      ucranianos no Donbass é altamente provável
       5 – As forças políticas na Europa, que se opõem às políticas anti-russas
      estão em ascensão.
       6 – Os russos estão atraindo muitos países da UE por meios económicos,
      incluindo o [gasoduto] North Stream, enquanto as sanções estão
      prejudicando muito mais a UE do que a Rússia
       7 – A campanha anti-Putin falhou miseravelmente e a Rússia está
      totalmente unida em torno da sua posição contra o Império.
       O que isso tudo significa é muito simples:   o que o Império precisa para
      subir ou para reduzir as suas apostas é algo que as elites imperiais ainda
      não estão dispostas a considerar. Portanto, estão a usar as ferramentas
      que consideram mais eficazes:
       1 – "Falsas bandeiras":  manobras de diversão e engano, isto é realmente
      uma tradição ocidental usada por praticamente todas as potências
      ocidentais. Desde que a população foi sujeita a uma lavagem ao cérebro,
      não podem sequer começar a imaginar que "o amor à liberdade das
      democracias liberais" pode usar métodos geralmente atribuídos a maus e
       sanguinários regimes ditatoriais. "Falsas bandeiras" são uma maneira
      ideal para colocar a opinião pública no estado mental correcto de
      aprovação às políticas agressivas, hostis e até mesmo violentas contra uma
       percepção de ameaça ou um obstáculo à hegemonia.
       2 - Poder "soft":  repare-se como os Óscares ou o Festival de Cannes
      sempre escolhem exactamente o tipo de "artistas" que o Império passa a
       promover politicamente? Bem, isso é verdade não só para os Óscares ou o
      Festival de Cannes, mas para quase tudo da vida cultural, social e
      política no Ocidente. Isto é especialmente verdadeiro nos chamados
      "direitos humanos" e organizações de "paz", que são simplesmente
      "pitbulls" políticos que podem ser atiçados em qualquer país caso seja
      necessária subversão e/ou intervenção. A Rússia nunca desenvolveu este
      tipo de ferramenta política.
       3 - Escalada verbal:  esta táctica é extremamente rude, mas muito eficaz.
       Começa-se proclamando veementemente uma falsidade. O facto de se ter
       proclamado uma matéria de forma tão vociferante e hiperbólica alcança
      dois resultados imediatos: envia a todos os seus amigos e aliados uma
      clara mensagem  "você ou está connosco ou contra nós",  não deixando
      espaço para estabelecer diferenças ou aprofundar a análise e isso impede
      os políticos suficientemente cobardes de admitirem o erro, reforçando
      assim a sua "determinação".
       4 – Reunir o rebanho:  há segurança na quantidade. Então, ao lidar com um
       adversário potencialmente perigoso, como a Rússia, todos os pequenos se
      juntam a fim de parecerem maiores ou, pelo menos, mais difíceis de
      destacar. Além disso, quando todo mundo é responsável, ninguém é. Assim,
      reunir o rebanho também é politicamente vantajoso. Finalmente, isto muda a
       dinâmica inter-relacional para que um dos amigos ou aliados possa ser
       encontrado entre os cúmplices do crime.
       5 - Ameaças directas:  o império sempre escapou fazendo ameaças à
      esquerda e à direita desde há muitas décadas, e este é um hábito difícil
      de quebrar. Nikki Haley ou Hillary Clinton provavelmente acreditam
      sinceramente que os EUA são quase omnipotentes ou, inversamente, podem
      ficar aterrorizadas com a suspeita insidiosa que talvez não o sejam.
      Ameaças são também um fácil, embora ineficaz, substituto para a diplomacia
      e as negociações, especialmente quando sua posição é objectivamente errada
      e o outro lado é simplesmente muito mais inteligente.
       O grande problema é que nenhum desses métodos funciona contra a Rússia
      ou, deixem-me corrigir isto, deixaram de funcionar (certamente que
      pareceram funcionar no passado). A opinião pública russa está plenamente
      consciente de todos estes métodos (graças aos media russos NÃO controlados
      por anglo-sionistas) e Margarita Simonyan  resumiu muito bem os
      sentimentos que isso provoca na população russa:

      "Toda a vossa injustiça e crueldade inquisitorial, hipocrisia e mentiras
      forçaram-nos a deixar do vos respeitar. A vós e aos vossos chamados
      "valores". Não queremos mais viver como vocês vivem. Há cinquenta anos,
      secreta ou abertamente, queríamos viver como vocês, mas já não. Não temos
      mais respeito por vocês e por aqueles de entre nós que vocês apoiam (...).
      Por isto, só vocês são culpados (...) O nosso povo é capaz de perdoar
      muito. Mas nós não perdoamos a arrogância e nenhuma nação normal o faria.
      O Império que vos resta seria sensato em informar-se sobre a história dos
      seus aliados, todos eles são antigos impérios, para aprender as vias pelas
      quais eles perderam os seus impérios. Só por causa da sua arrogância.
       "White man's burden, my ass!"  (frase em inglês no texto original)
    A dura verdade é que longe de querer invadir, apaziguar ou caso contrário
    agradar ao Ocidente, a Rússia não tem absolutamente nenhuma necessidade, ou
    mesmo interesse, nele. Nenhum. Durante séculos, as elites russas estiveram
    focadas no Ocidente em algum grau, não imaginavam sequer o Ocidente sem a
    Rússia. Isto ainda é verdade hoje, as "elites" russas ainda querem viver
    como (os muito ricos) ingleses ou alemães e ainda odeiam o povo russo comum
    e Vladimir Putin. Mas agora estas elites russas foram esmagadas pela
    amplitude da vitória de Putin nas eleições presidenciais.
     Normalmente, isso deveria resultar num exílio ainda maior de "empresários"
    russos para o Reino Unido, França ou Israel, mas agora o problema é que os
    britânicos estão fazendo barulho desejando puni-los, mesmo sendo russos
    russofóbicos, pró-ocidentais. Em resultado, estes "pobres" liberais
     pró-ocidentais podem apenas lamentar-se da comunicação social e dos poucos
    media pró-ocidentais existentes na Rússia (não, não devido à repressão, mas
    devido a sua irrelevância política, porque eles são apoiados por apenas algo
    entre 2% e 5% da população).
     Mas deixando de lado por um momento as "elites" ricas, a Rússia como país e
    como nação simplesmente não tem utilidade para o Ocidente e o que ela
    representa. Aqueles que fantasiam sobre a Rússia estar interessada na
    "Europa", "Identidade branca" ou "Cristianismo ocidental" só estão a
    enganar-se. Esperam que o renascimento cultural e espiritual atual na Rússia
    irá de alguma forma extravasar para eles e permitir-lhes desembaraçarem-se
    do atoleiro em que estão actualmente prostrados. Isso não acontecerá. Acabei
    de reler o que Margarita Simonyan disse sobre os "valores ocidentais" na
     citação acima.
     Para a maioria dos russos a "Europa" cheira a Napoleão; "Identidade branca"
    a Hitler e "Cristianismo ocidental" à criação da Ucrânia e às  "Cruzadas ao
     Oriente". Não, a Rússia não tem interesse em vingar-se contra nada disto; a
    Rússia só não tem respeito nem interesse pelo que estes conceitos defendem.
    A Polónia é possivelmente o último país onde todas essas coisas são levadas
    a sério e carinhosamente lembradas. Os russos continuam dispostos a negociar
    para estabelecer uma coexistência viável entre os domínios civilizacionais
    Ocidentais e Russo. Putin disse-o claramente no seu discurso.
     Não há nenhuma necessidade de criar mais ameaças para o mundo. Em vez
    disso, vamos sentar-nos à mesa de negociação e conceber juntos um sistema
    novo e relevante de segurança internacional e desenvolvimento sustentável
    para a civilização humana. Temos dito isto desde o princípio. Todas estas
    propostas são ainda válidas. A Rússia está pronta para isto.
     Mas não se os anglo-sionistas estão decididos a dominar o mundo por meio da
    guerra, então Rússia está pronta para isso também. Não uma guerra de
    agressão, claro, nem mesmo contra os pequenos Estados do Báltico, Putin
    tornou isto claro também quando disse  "nós não estamos a ameaçar ninguém,
    não vamos atacar ninguém ou tirar nada a ninguém com a ameaça das armas.
     Não precisamos de nada.  Exactamente o oposto"  (destaque do autor). Mas se
    atacada, a Rússia está agora preparada para se defender:
     "E para aqueles que, nos últimos 15 anos, tentaram acelerar uma corrida
    armamentista e procurarem uma vantagem unilateral contra a Rússia,
    introduzindo restrições e sanções que são ilegais do ponto de vista do
    direito internacional, com o objectivo de reprimir o desenvolvimento do
    nosso país, incluindo na área militar, vou dizer isto: tudo o que tentaram
    impedir através de tal política, já aconteceu. Ninguém conseguiu conter a
     Rússia (...) Qualquer uso de armas nucleares contra a Rússia ou seus
    aliados, armas de curto, médio ou qualquer alcance, será considerado como um
    ataque nuclear sobre este país. A retaliação será imediata, com todas as
    consequências inerentes. Não deve haver qualquer dúvida sobre isto".
     Porque a questão nuclear é tão central? Porque os russos estão plenamente
    conscientes do facto de que  os anglosionistas não podem vencer uma guerra
    convencional contra a R&ússia . Assim, é crucial para os russos convencê-los
    de que não são nem militarmente superiores nem invulneráveis (veja  aqui uma
    análise completa desses dois mitos). Mas depois de algum tipo de  modus
    vivendi  ser alcançado com o Ocidente, a Rússia irá focar seus esforços em
    diferentes direcções: muito necessárias reformas internas e desenvolvimento,
    trabalho com a China sobre o estabelecimento de uma única zona da Eurásia de
    segurança económica, paz e prosperidade, restauração da paz no Oriente
    Médio, desenvolvimento do Extremo Oriente e Norte Russos – pode-se escolher.
    A Rússia tem muito trabalho a ser feito, nenhum dos quais envolve o Ocidente
    em qualquer competência.
     E, claro, isto é totalmente inaceitável para o Ocidente.
     Daí que este mês de desenvolvimentos históricos, tenha colocado a Rússia e
    o Ocidente em rota de colisão directa. Como disse acima, o Império pode
    agora reduzir ou duplicar a aposta. Se decidir reduzir, a guerra será
    evitada e haverá finalmente negociações significativas. Se aumentar, algo
    que os neocons sempre fazem, então isto significa a guerra com a Rússia.
     Esta é uma escolha dura e muito difícil (não, não para pessoas normais, mas
    para os psicopatas que governam o Ocidente). E não há muito que a Rússia
    possa ou deva fazer neste ponto. Como é o caso de cada vez que ocorre uma
    crise grave, as aparentemente unidas elites do Ocidente irão dividir-se em
    facções distintas e cada uma dessas facções prosseguirá e promoverá os seus
    próprios interesses mesquinhos. Haverá uma luta intensa, principalmente nos
    bastidores, entre aqueles que vão querer aumentar as apostas ou mesmo
    desencadear uma guerra contra a Rússia e aqueles que vão estar horrorizados
    com essa noção (não necessariamente por profundas razões morais, apenas pelo
    próprio interesse básico e um saudável instinto de sobrevivência).
     Quanto a quem vai prevalecer, o vosso palpite é tão bom quanto o meu. Mas o
    facto de Trump ter substituído McMaster por um psicopata belicista como John
    Bolton é um sinal claro de que os "neocons" estão no comando dos EUA e que o
    eixo da afabilidade está prestes mandar para o diabo uma grande quantidade
    de "delicadezas".

    23/Março/2018
     Ver também:
      Os dias de uma guerra apenas sem data , José Goulão
     O original encontra-se em 
    thesaker.is/a-truly-historical-month-for-the-future-of-our-planet/ 
In
RESISTIR.INFO
http://resistir.info/gb/saker_23mar18_p.html
30/3/2018

Triple golpe de China a EEUU: petroyuán con oro y armas nucleares rusas



Alfredo Jalife-Rahme

El mundo vive una clásica fase de transición de una potencia en declive (EEUU) a
favor de la emergente nueva superpotencia en el horizonte (China), un proceso
ilustrado en el libro 'Caos y orden en el moderno sistema mundial' de Giovanni
Arrighi.

Las joyas tecnológicas estadunidenses del GAFAT (Google, Apple, Facebook, Amazon
y Twitter) de Silicon Valley —en particular, Amazon, a quien Trump le declaró la
guerra quizá debido a que su dueño, el polémico Jeff Bezos, controla The
Washington Post, feroz crítico del presidente— sufren brutales desplomes en sus
cotizaciones, mientras China lanza su temerario esquema del petroyuán doblemente
resguardado con oro y, a mi juicio, con las armas nucleares rusas.
China, lista para matar al petrodólar: empieza la cuenta atrás
Los teóricos supremacistas de EEUU suelen pregonar la 'trampa de Tucídides', que
hace inevitable la guerra entre EEUU y China. El defecto del esquema de
Tucídides, del siglo 5 a.C., es que sus actores bélicos carecían de aniquilantes
armas nucleares y hoy omite la presencia ineludible de Rusia como actor
primordial en su alianza estratégica con China frente a EEUU, lo cual rebasa la
unidimensionalidad del Peloponeso.
Lea más: China dará ventaja a quienes apuesten por el petroyuán
Más allá de la vulgar guerra comercial de EEUU contra China y del grotesco
exorcismo de Rusia por la propaganda negra de la 'anglósfera', a mi juicio,
China acaba de propinar un tremendo golpe, en la misma semana que recibía en
visita oficial al mandatario de Corea del Norte, Kim Jong-un —quizá para afinar
estrategias de cara a la próxima visita de Trump a Pyongyang—, contra la
supremacía del petrodólar que ejercía EEUU doblemente con el control de la
cotización del petróleo y el apuntalamiento a su divisa.

El yuan saca músculos: cómo acabará China con la hegemonía de EEUU
Quien gana las guerras mundiales suele imponer su sistema financiero.
Quizá sea la primera vez en la historia moderna que una divisa, el yuan, se
fortalezca sin todavía una guerra propiamente dicha, mientras se despliegan otro
tipo de guerras: geofinanciera, propagandística, comercial y cibernética.
Los análisis unidimensionales y/o ultrarreduccionistas pasan por alto
consideraciones trascendentales como el paraguas nuclear ruso que Moscú le
brinda a China: cobertura necesaria para experimentar su petroyuán, que es un
elemento susceptible de operar como un punto de inflexión histórico en las
geofinanzas.
Más aquí: China da un paso decisivo para acabar con el petrodólar
El inicio del dominio británico y su libra esterlina se gestó hace 203 años en
Waterloo, mientras que su aliado, EEUU, impuso el dólar desde la Segunda Guerra
Mundial y, con mayor preponderancia, durante su hegemonía unipolar de corta
duración: desde 1991 hasta el 2000, con la parusía de Rusia con el zar Vlady
Putin, y el ingreso de China —un año más tarde— a la OMC.
Hace 5 años anticipé la 'Desamericanización del mundo: del petrodólar al
petroyuán'.
Se trata de un desafiante triple golpe a la otrora unipolaridad de EEUU:
  China, hoy primer importador global de petróleo, intenta arrebatar su dominio
  a la dupla anglosajona de EEUU y Gran Bretaña que controla las variedades de
  crudo WIT y Brent —sobre lo que abundé hace 12 años en mi libro 'Los 5 precios
  del petróleo'—.
  Internacionaliza el yuan como competidor del dólar cuando la libra esterlina
  es irrelevante.
  China opera el esquema de coberturas con el oro, que es anatema para los
  bancos centrales de EEUU y Gran Bretaña y que beneficia tanto a China (su
  primer productor global) como a Rusia (tercer productor).
A propósito, hace también 5 años advertí de que 'China fustiga el bono
hegemónico de EEUU de 9,36% del PIB global'.
Le puede interesar: "No podemos seguir gobernando el mundo"
Sería conveniente examinar el punto de vista chino, menos conocido, en la pluma
de Li Hong, editor de Global Times, quien exhibe su júbilo por el primer día del
lanzamiento del petroyuán, que alcanzó casi US$ 3.000 millones —el portal
zerohedge asevera que fueron US$ 4.000 millones—: "Un desempeño mejor de lo
esperado por el mercado" que "contribuirá a la reciente fortaleza del yuan en
los mercados de las divisas globales" y que "desafía" el sistema del petrodólar.
Cuatro factores que ponen en peligro la hegemonía del dólar
En forma modesta y precavida, Li aduce que "en la fase presente, nadie conoce a
carta cabal el impacto que el nuevo punto de referencia tendrá en la hegemonía
del dólar desde la década de los setenta", pero admite que el "amplio comercio y
cotización del crudo en petroyuanes probablemente sacuda la confianza de la
gente en el dólar de EEUU y teóricamente apuntale el valor del yuan en los
mercados globales".
Lea también: China, lista para socavar la economía de EEUU
El editor de Global Times no oculta que "un objetivo claro de los reguladores de
China es buscar caminos para la internacionalización de su divisa con el fin de
estimular su propia prominencia (sic.) económica y reducir su larga dependencia
del dólar", a lo que habría que agregar la iniciativa china de la Ruta de la
Seda.
¿Adiós al dólar? China le pone 'fecha de caducidad' al dominio estadounidense
Li no canta victoria de forma prematura y comenta que "el dólar no cederá (sic.)
su dominio presente en los mercados del petróleo en un tiempo cercano", por lo
que China deberá adoptar las medidas pertinentes para fortalecer el yuan de
forma gradual.
El espectacular lanzamiento del petroyuán cubierto por el oro en la plaza de
Shanghái y, más que nada, bajo la protección del paraguas nuclear ruso, ha sido
escamoteado en las plazas de Londres y Wall Street, con algunas excepciones
puntuales de Reuters y Bloomberg y, a un nivel más elevado, por la revista
Foreign Policy.
Escuche: "A Washington le será cada vez más difícil conservar el imperio del
dólar"
Kate Duguid, de la agencia británica Reuters, cita a un jerarca del banco suizo
UBS, quien aduce que el lanzamiento de futuros de petróleo por parte de China
"puede amenazar la primacía del dólar estadunidense", según él, el "único cambio
mayor en los capitales del mercado, quizá el de todos los tiempos".
Los inversores aprecian el 'nuevo juguete' financiero de China
Se trata de la primera apertura de China derivada de materias primas a los
inversionistas foráneos.
Keith Johnson, de la revista Foreign Policy —curiosamente fundada por el tóxico
'mexicanófobo' Samuel Huntington y anteriormente publicación hermana de The
Washington Post y Newsweek—, arguye que después de cuatro años de falsos
arranques, "la puja de China sacude el mercado global del petróleo", cuyos
nuevos contratos a futuros "marcan un cambio tectónico (sic.) en los esfuerzos
de Beijing para globalizar su divisa".
Además: China seguirá abriéndole las puertas al yuan
Suena anómalo y aberrante que la región asiática —con el mayor crecimiento
económico global y con el mayor importador de petróleo, China, que compra 8
millones de barriles al día— carezca de un punto de referencia para la
cotización del petróleo, algo de lo que han abusado las plazas financieras de
Londres y Washington cuando el petróleo del mar del Norte, que apuntala la
variedad Brent, se encuentra en franco declive mientras que la producción
petrolera de EEUU se centra básicamente en la extracción de la controvertida
fracturación hidráulica o 'fracking'.

¿Qué país pondrá fin al imperio del dólar estadounidense?
Las geofinanzas del petróleo han regresado por la puerta principal de las
tratativas globales cuando la empresa estatal saudita Aramco contempla lanzar su
Oferta Pública Inicial (IPO, por sus siglas en inglés), que ha sido retrasada
debido al pleito de las plazas de Londres y Wall Street para su cotización,
calculada en US$ 2 billones y a la que China también ha ofrecido comprar el 5%.
La marcha hacia la internalización inevitable del yuan será larga, al estilo
maoísta, en un momento en el que muchos bancos centrales empiezan a tener yuanes
en su portafolio de reservas, como es el caso del Banco Central Europeo, quien
acaba de adquirir 500 millones de euros que cambió por yuanes.
Siga aquí: La hegemonía del dólar no será eterna: tarde o temprano la historia
se repite…
Los chinos tienden a ser gradualistas: no corren prisa y asestan sus golpes
estratégicos en los óptimos momentos.

LA OPINIÓN DEL AUTOR NO COINCIDE NECESARIAMENTE CON LA DE SPUTNIK

In
SPUTNIK
https://mundo.sputniknews.com/firmas/201803301077462812-petroleo-washington-pekin-potencia/
30/3/2018

quinta-feira, 29 de março de 2018

As mulheres no Parlamento cubano


 Yudy Castro Morales
Numa altura em que os grandes media do capitalismo fingem promover os direitos
da mulher, diminui a presença de mulheres no seio dos órgãos legislativos de
numerosos países. Mas o Parlamento cubano, com 53,22%, ocupa o segundo lugar
mundial no que diz respeito à participação feminina.


Quando, em 1993, Fidel analisava a composição da Assembleia Nacional do Poder
Popular (ANPP) e a participação de um número crescente de diplomados
universitários, de negros, de mestiços e de mulheres…retirava a conclusão de que
essa constatação testemunhava o «gigantesco avanço do nosso povo no decurso
destes anos de Revolução» e representava igualmente «o modo como a desigualdade
e a discriminação tinham desaparecido do nosso país».
Desde então cada um destes sectores viu aumentar o seu número de lugares no
Parlamento, não apenas com o simples objectivo de respeitar quotas de
representatividade, mas pelo facto do valor e da formação dos candidatos que, em
resultado dessas características foram eleitos pelo povo.
 De entre os 605 deputados eleitos a 11 de Março 53,22% são mulheres, o que faz
do Parlamento cubano o segundo mundial com mais forte participação feminina,
apenas ultrapassado pelo Ruanda com 61,3%.
 O panorama internacional não é, em contrapartida, muito encorajador, se se
tomarem em conta os dados recentemente publicados pela União interparlamentar
(UIP), um organismo que inclui os órgãos legislativos de 178 países.
 Segundo as estatísticas a participação das mulheres nos parlamentos estagnou
praticamente entre 2016 e 2017, aumentando apenas 0,1%.
 É verdade que no decurso do ano passado os lugares ocupados por mulheres a
nível mundial atingiram os 23,4%, quando se verifica uma taxa record de
participação de mulheres nas eleições e um número mais elevado de lugares do que
nos períodos anteriores, com 27,1%. Mas o saldo entre a entrada e a saída de
mulheres deputadas não foi favorável e impediu que haja um maior número de
mulheres deputadas em exercício com mandatos alargados.
 No continente americano, por exemplo, verificou-se em 2017 um aumento de 0,3%
na representação parlamentar feminina, embora as mulheres ocupem 28,4% dos
lugares. Argentina (38,1%), Equador (38%) e Chile (22,6%) alcançaram os melhores
níveis.
 É útil sublinhar que desde 2013 o Parlamento cubano, no decurso da 8ª
legislatura cujo mandato expira em Abril, tem uma representação feminina de
48,86%.
 Nos dias de hoje, a marcha emancipadora da mulher cubana, para além de ser
maioritária na Assembleia Nacional, tem ainda contas a ajustar em termos de
equidade e de autonomização e tem ainda de acabar com velhos preconceitos.
 Mas ninguém poderá pôr em dúvida a certeza de Fidel de que «ao longo destes
anos difíceis não houve uma única tarefa económica, social e política, não houve
um único sucesso científico, cultural e desportivo, não houve contributo para a
defesa do nosso povo e da soberania da nossa Pátria que não tenha contado com a
presença invariavelmente entusiástica e patriótica da mulher cubana».
Sobre as 322 mulheres deputadas
 55,59 % são delegadas de base
 87,5 % têm um nível de estudos superiores
 66,14% são eleitas pela primeira vez
 13,66 % têm entre 18 e 35 anos. A média de idades das mulheres deputadas, tal
como a do conjunto do Parlamento, é de 49 anos, enquanto a mais jovem de entre
elas tem 19 anos
 24,5 % (79) pertencem aos órgãos do Poder popular: 37 são presidentes de um
Conselho popular, o que significa que se encontram em ligação directa como o
povo
 51,8 % são negras e mestiças
 6,8 % são dirigentes de uma organização de massas e 5,2 % de uma organização
politica
 15,8 % trabalham na produção e nos serviços
 3,10 % pertencem ao sector camponês e cooperativo
 17,7 % trabalham nos sectores da saúde e da educação
 3,72 % dedicam-se à investigação.
Fonte: http://fr.granma.cu/cuba/2018-03-21/les-femmes-au-parlement

In
O DIARIO.INFO
https://www.odiario.info/as-mulheres-no-parlamento-cubano/
29/3/2018

quarta-feira, 28 de março de 2018

A política estrangeira de Theresa May


Thierry Meyssan

Thierry Meyssan prossegue o seu estudo das políticas estrangeiras nacionais.
Após ter analisado a da França, agora ele debruça-se sobre a do Reino Unido. Se
a primeira é considerada como o «domínio reservado» do Presidente da República
e, a este título, escapa ao debate democrático, a segunda mais ainda uma vez que
é elaborada por uma elite rodeando a monarca, à revelia de qualquer forma de
contrôlo popular. O Primeiro-ministro eleito deve apenas aplicar as escolhas da
Coroa hereditária. Face ao falhanço do projecto norte-americano de mundo
unipolar, Londres tenta restaurar o seu antigo poder imperial.
Este artigo dá sequência a : “A política estrangeira do Presidente Macron”,
Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 13 de Março de 2018.
Global Britain – o Reino Unido Mundial
A 13 de Novembro último, Theresa May aproveitava o discurso anual do
Primeiro-ministro na Câmara Municipal (Prefeitura-br) de Londres para dar um
vislumbre sobre a nova estratégia britânica, após o Brexit [1]. O Reino Unido
pretende restabelecer o seu Império (Global Britain) promovendo, para isso, o
livre comércio mundial com a ajuda da China [2] e para tal afastando a Rússia
das instâncias internacionais com a ajuda dos seus aliados militares : os
Estados Unidos, a França, a Alemanha, a Jordânia e Arábia Saudita.
Retrospectivamente, todos os elementos do que hoje vemos foram abordados nesse
discurso, mesmo que não o tivéssemos compreendido de imediato.
Voltemos atrás por um instante. Em 2007, o Presidente russo, Vladimir Putin,
intervinha na Conferência de Segurança de Munique. Ele observava que o projecto
de mundo unipolar subscrito pela OTAN era por essência anti-democrático e
apelava aos Estados europeus para se dessolidarizarem dessa fantasia
norte-americana [3]. Sem responder a esta observação de fundo sobre a ausência
de democracia nas relações internacionais, a OTAN denunciou então a vontade da
Rússia de enfraquecer a coesão da Aliança afim de melhor a ameaçar. _ No
entanto, um perito britânico, Chris Donnelly, afinou depois essa retórica. Para
enfraquecer o Ocidente, a Rússia estaria a tentar deslegitimar o seu sistema
económico e social sobre o qual se funda o seu poderio militar. Este seria o
móbil oculto das críticas russas, nomeadamente através dos seus média
(mídia-br). Salientemos que Donnelly não responde mais do que a OTAN à
observação de fundo de Vladimir Putin, mas, afinal porque é que se iria debater
a democracia com um indivíduo que se suspeita a priori de autoritarismo?
Eu penso que, ao mesmo tempo, tanto Donnelly está certo na sua análise como a
Rússia no seu objectivo. Com efeito, o Reino Unido e a Rússia são duas culturas
diametralmente opostas.
A primeira é uma sociedade de classes com três níveis de nacionalidade fixados
pela lei e figurando nos documentos de identidade de cada um, enquanto a segunda
—tal como a França— é uma Nação criada pela lei, onde todos os cidadãos são
«iguais em direitos» e onde a distinção britânica entre direitos civis e
direitos políticos é impensável [4]. _ O propósito da organização social no
Reino Unido é o da acumulação de bens, enquanto na Rússia é a de construir a
personalidade individual. Assim, no Reino Unido, a propriedade da terra está
massivamente concentrada em poucas mãos, ao contrário da Rússia e sobretudo da
França. É quase impossível comprar um apartamento em Londres. No máximo, pode-se
—como no Dubai— fazer um aluguer de 99 anos. Desde há séculos, a cidade, na sua
quase totalidade, pertence apenas a quatro pessoas. Quando um Britânico morre,
ele decide livremente para quem irá a sua herança, e não necessariamente para os
seus filhos. Pelo contrário, quando um Russo morre, a História recomeça do zero:
os seus bens são repartidos igualmente entre todos os seus filhos, qualquer que
seja a vontade do falecido.
Sim, a Rússia tenta deslegitimar o modelo anglo-saxão, o que é tanto mais fácil
quanto é uma excepção que horroriza o resto do mundo quando este o compreende.
Voltemos à política de Theresa May. Dois meses após a sua intervenção no
banquete do Lord Mayor, o Chefe de Estado-Maior de Sua Majestade, o General Sir
Nick Carter, pronunciava, a 22 de janeiro de 2018, um discurso muito importante,
inteiramente consagrado à guerra vindoura contra a Rússia, onde ele se baseava
na teoria de Donnelly [5]. Tirando lições da experiência síria, ele descrevia um
inimigo dotado de um novo arsenal, extremamente poderoso (isto dois meses antes
do Presidente Putin revelar o seu novo arsenal nuclear [6]).
Ele afirmava a necessidade de dispôr de tropas terrestres mais numerosas, de
desenvolver o arsenal britânico e de se preparar para uma guerra onde a imagem
passada pelos média seria mais importante do que as vitórias no terreno.
No dia seguinte a essa conferência-choque no Royal United Services Institute (o
“think-tank” da Defesa), o Conselho de Segurança Nacional anunciou a criação de
uma unidade militar para a luta contra a «propaganda russa» [7].
Onde se está no projecto britânico ?
Muito embora a Comissão de Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-br) da
Câmara dos Comuns tenha posto em dúvida a praticabilidade do projecto Global
Britain [8], vários pontos avançaram, apesar de um grande escolho.
Importa compreender que a Sra. May não tenta mudar de política, mas, antes
reordenar a política do seu país. No decurso do último meio século, o Reino
Unido tentou integrar-se na construção europeia, perdendo progressivamente as
vantagens herdadas do seu antigo Império. Trata-se agora, não de abandonar o que
foi feito durante este período, mas de restaurar a antiga hierarquia do mundo,
quando os funcionários de Sua Majestade e a gentry (aristocracia -ndT) viviam
nos clubes, nos quatro cantos do mundo. servidos pelos locais.
 Numa viagem à China, na semana seguinte ao discurso de Sir Nick Carter, Theresa
May negociou lá numerosos contratos comerciais, mas entrou em conflito político
com os seus anfitriões. Pequim recusou distanciar-se de Moscovo (Moscou-br), e
Londres recusou apoiar o projecto da Rota da Seda. Livre comércio, sim, mas não
através das vias de comunicação controladas pela China. Desde 1941 e da Carta do
Atlântico, o Reino Unido partilha a responsabilidade dos «espaços comuns»
(marítimos e aéreos) com os Estados Unidos. As suas duas frotas são concebidas
para ser complementares, mesmo se a Marinha dos EUA é muito mais poderosa que a
do Almirantado.
Seguidamente, a Coroa activou o governo do seu dominion australiano para
reconstruir os Quads, o grupo anti-chinês que se reunia sob o mandato Bush Jr.
[9]. Ele é constituído, para além da Austrália, pelo Japão, Índia e pelos
Estados Unidos.
Desde logo, o Pentágono estuda as possibilidades de criar problemas tanto na
Rota da Seda marítima, no Pacífico, quanto na Rota terrestre.
 A aliança militar anunciada foi constituída sob a forma do muito secreto
«Pequeno Grupo» [10]. A Alemanha que atravessava uma crise governamental não
participou nela de início, mas parece que esse atraso terá sido reparado no
início de Março. Todos os membros desta conjura coordenaram a sua acção na
Síria. Apesar dos seus esforços, falharam por três vezes em organizar um ataque
químico de falsa bandeira na Ghuta Oriental, ao terem os exércitos sírio e russo
capturado os seus laboratórios de Aftris e de Shifunya [11]. Todavia, eles
acabaram por publicar um comunicado conjunto anti-Russo sobre o caso Skripal
[12] e mobilizaram, ao mesmo tempo, a OTAN [13] e a União Europeia contra a
Rússia [14].
Como isto pode evoluir ?
É evidentemente estranho ver a França e a Alemanha apoiarem um projecto que foi
explicitamente enunciado contra eles: o Global Britain, na medida em que o
Brexit não é tanto uma fuga à burocracia federal da União Europeia mas uma
assunção de rivalidade.
Seja como for, a Global Britain resume-se hoje à :
 promoção do livre comércio mundial, mas exclusivamente no quadro
talassocrático, quer dizer com os Estados Unidos contra as vias de comunicação
chinesas ;
 e à tentativa de excluir a Rússia do Conselho de Segurança e de cortar o mundo
em dois, o que implica as manipulações em curso com armas químicas na Síria e o
escândalo Skripal.
Várias consequências incidentais deste programa podem ser antecipadas:
 A crise actual retoma elementos comuns a do fim do mandato Obama, salvo que
Londres —e não mais Washington— está agora no centro do jogo. O Reino Unido que
já não pode apoiar-se no Secretário de Estado Rex Tillerson, vai voltar-se para
o novo Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton [15].
Contrariamente às alegações da imprensa norte-americana, este não é de todo um
neo-conservador, mas, antes um próximo de Steve Bannon. Ele recusa que o seu
país esteja sujeito ao Direito Internacional e grita contra os comunistas e os
muçulmanos, mas, na realidade não tem intenção de lançar novas guerras entre
Estados e deseja unicamente ficar tranquilo no país. Ele não deixará de assinar
todas as declarações que lhe colocarão à frente contra a Rússia, o Irão, a
Venezuela, a Coreia do Norte, etc. Londres não conseguirá manipulá-lo para
excluir Moscovo do Conselho de Segurança porque o seu objectivo pessoal não é de
o reformar, mas, sim de se livrar de toda a ONU. Por outro lado, ele será um
fiel aliado quanto a conservar o controle dos «espaços comuns» e lutar contra a
«Rota da Seda» chinesa, tanto como ele foi, em 2003, o mentor da Iniciativa de
Segurança contra a Proliferação (Proliferation Security Initiative - PSI).
Deveremos, pois, ver surgir aqui e ali, no traçado das rotas chinesas, novas
pseudo-guerras civis alimentadas pelos Anglo-Saxões.
 A Arábia Saudita prepara a criação de um novo paraíso fiscal no Sinai e no mar
Vermelho, o “Neom”. Ele deverá substituir Beirute e o Dubai, mas não Telavive.
Londres irá conectá-lo com os diferentes paraísos fiscais da Coroa —entre os
quais a City de Londres que não é inglesa, antes depende directamente da Rainha
Isabel— para garantir a opacidade do comércio internacional.
 A multidão de organizações jiadistas, que reflui do Levante, continua
controlada pelo MI6, através dos Irmãos Muçulmanos e da Ordem dos Naqchbandis.
Este dispositivo deverá ser recolocado principalmente contra a Rússia — e não
contra a China ou nas Caraíbas, como é actualmente encarado.
Após a Segunda Guerra Mundial, assistimos à descolonização dos Impérios
europeus, depois após a guerra contra o Vietname à financiarização pelos
Anglo-Saxões da economia mundial e, por fim, após a dissolução da União
Soviética à tentativa de domínio total pelos Estados Unidos. Hoje em dia, com a
ascensão em poderio da Rússia moderna e da China, a fantasia de um mundo
culturalmente globalizado e governado de maneira unipolar dissipa-se enquanto as
potências ocidentais —e particularmente o Reino Unido— retornam ao seu próprio
sonho imperial. Claro, o alto nível de educação actual nas suas antigas colónias
obriga-os a repensar o seu modo de dominação.

In
VOLTAIRENET
http://www.voltairenet.org/article200379.html
28/3/2018

segunda-feira, 26 de março de 2018

Mudança tecnológica e empobrecimento

 

       por Prabhat Patnaik [*] 



       O facto de os efeitos sócio-económicos da mudança tecnológica dependerem
      das relações de propriedade em que se verifica a mudança é óbvio, mas
      muitas vezes é ignorado.
       Considere-se um exemplo simples. Suponha-se que numa certa área 100
       trabalhadores fossem contratados para efectuar a colheita a custo total
      de 5000 rúpias, mas o capitalista dono da terra decide ao invés utilizar
       uma ceifeira debulhadora. Assim, o rendimento dos trabalhadores cai em Rs
      5000. O custo salarial do capitalista dono da terra cai em Rs 5000, os
      quais são acrescidos aos seus lucros. Mas suponha que a ceifeira
      debulhadora fosse possuída por um colectivo de trabalhadores. Então eles
       podem ganhar as mesmas Rs 5000, agora não mais como trabalhadores como os
      possuidores colectivos da ceifeira debulhadora; de modo que o que eles
       perderiam como rendimento salarial obteriam de volta como rendimento do
      lucro pela utilização da ceifeira. O seu rendimento permaneceria
       inalterado ao passo que o seu tempo de lazer teria crescido e a labuta do
       trabalho para eles teria diminuído.
       A ceifeira debulhadora desloca trabalho vivo em ambos os exemplos; mas a
       propriedade da mesma torna crucial a diferença quanto às implicações
      sócio-económicas da sua utilização. A substituição de trabalho morto por
       trabalho vivo, que tal mudança tecnológica implica, tem o efeito de
      empobrecer trabalhadores quando ocorre sob a égide do capitalista
       proprietário da terra. Mas ela tem o efeito de libertar os trabalhadores
       do trabalho penoso sem comprometer o seu rendimento quando ocorre sob a
       égide de um colectivo de trabalhadores, quando operam sob uma ética da
      "partilha do trabalho, partilha do produto".
       O exemplo acima foi de tipo microeconómico. Mas a sua conclusão mantém-se
      poderosamente quando adoptamos uma perspectiva macroeconómica, isto é,
      quando comparamos mudança tecnológica sob o capitalismo com mudança
      tecnológica sob o socialismo, o qual é um sistema inspirado  na sua
      totalidade  pela ética do "trabalho partilhado, produto partilhado".
       Suponha-se que a produtividade do trabalho duplique através da introdução
      de uma mudança tecnológica particular dentro de um cenário capitalista.
      Antes, 100 trabalhadores estavam empregados para produzir 100 unidades de
      produto, dos quais 50 recebiam como salários e 50 iam para os capitalistas
      como lucros. Mas agora são precisos apenas 50 trabalhadores para produzir
      as mesmas 100 unidades de produto; os 50 remanescentes portanto
      tornar-se-ão desempregado.  E por causa deste desemprego, a taxa de
      salário real dos trabalhadores que continuam empregados possivelmente não
      pode se elevar quando a produtividade aumenta; na verdade, de facto, ela
      cairá, mas vamos assumir para maior simplicidade que permaneça inalterada.
       Portanto, a duplicação da produtividade do trabalho deitará abaixo a
      massa salarial dos 50 anteriores para 25, ao passo que o excedente dos
      capitalistas subirá de 50 para 75.
       Esta "mudança de salários para lucros" criará um problema de procura
      agregada (uma vez que é consumida uma maior fatia de salários do que de
      lucros), razão pela qual todo o excedente produzido de 75 não pode ser
      "realizado". Em tal caso, haverá uma crise de "super-produção" e mesmo a
       produção de 100 já não será mais realizada. Haverá portanto ainda maior
      desemprego, isto é, o desemprego adicional provocado pela mudança
      tecnológica não será apenas de 50 mais ainda maior.
       Em contraste, uma vez que numa economia socialista não se põe o caso de
      pessoas a quererem trabalhar nas condições prevalecentes estarem
      desempregados involuntariamente, uma duplicação da produtividade do
      trabalho terá um dos seguintes efeitos: ou a duplicação da produção total
      para 200 enquanto mantêm como antes o emprego em 100 de modo que o
      rendimento de cada trabalhador duplique (isto sem dúvida teria de ocorrer
      ao longo de um certo período de tempo durante o qual o stock de
      equipamento terá de duplicar); ou a manutenção do produto em 100 como
      antes enquanto cortando pela metade a contribuição em trabalho de cada
       trabalhador, o qual agora passa ter um maior quantidade de lazer com o
      mesmo rendimento; ou provocará alguma combinação dos dois efeitos, isto é,
      alguma combinação de maior rendimento e maior lazer para os trabalhadores.
       Num caso, o do capitalismo, temos mudança tecnológica a causar
       empobrecimento absoluto (com o rendimento dos trabalhadores na sua
      totalidade caindo de 50 para 25 ou ainda menos), ao passo que no outro
      caso a mesma mudança tecnológica melhora a condição dos trabalhadores. E
      isto acontece devido à lógica do trabalho nos dois sistemas, não por causa
      de qualquer malevolência ou maldade particular num caso em contraste com o
      outro.
       Nos dias de hoje muita gente manifesta preocupação sobre o desemprego que
      provavelmente aumentará devido à automação que está a ocorrer nos
      processos de produção. Tal preocupação é perfeitamente justificada dentro
      do quadro do capitalismo; mas seria totalmente inadequada sob o
      socialismo. Na verdade, tal automação constitui uma razão particularmente
      poderosa para a espécie humana abraçar o socialismo. Se as sinistras
      consequências de tal automação tiverem de ser evitadas, então não há
      alternativa ao socialismo.
       A lógica do capitalismo não só implica que a mudança tecnológica – a qual
      tipicamente substitui trabalho – tem o efeito de provocar desemprego e
      empobrecimento para os trabalhadores como também que a mudança tecnológica
      ocorre a um ritmo que não pode ser controlado e é ditado inteiramente pela
      competição entre capitais no mercado. E isto tem implicações muito
      importantes para a nossa própria economia.
       Frequentemente ouvimos líderes políticos e ministros exortarem o país a
      aumentar a produtividade do trabalho de modo a que possa permanecer
      competitivo no mercado mundial. Eles estão certos na medida em que sob o
      capitalismo neoliberal, onde a economia está aberta à competição
      estrangeira, não permanecer competitivo pode ter graves consequências. Mas
      o que não é mencionado por eles é que quanto mais rápida for a taxa de
       crescimento da produtividade do trabalho, maior será a escala do
       desemprego e da pobreza na economia. Se a taxa de crescimento da economia
      for, digamos, 8 por cento, então uma taxa de 7 por cento do crescimento da
       produtividade do trabalho aumentaria o emprego na economia à taxa de 1
       por cento ao ano, ao passo que uma taxa de 5 por cento da produtividade
      do trabalho aumentará o emprego à taxa de 3 por ao ano.
       Pode-se pensar que se a produtividade do trabalho crescesse rapidamente
       então a própria taxa de crescimento do produto também aumentaria, de modo
      que ninguém precisaria se preocupar quanto à questão do emprego. Mas de
      qualquer forma há limites para a taxa de crescimento do produto,
      especialmente numa economia aberta cujo dinamismo depende da taxa de
      crescimento das exportações líquidas. Isto é assim porque outros países
      não ficam simplesmente sentados e a observar seus mercados serem tomados
      por alguma economia com crescimento particularmente rápido. Eles
      retaliariam de diferentes maneiras a fim de restringir o crescimento da
      exportação deste país e portanto o seu crescimento geral.
       Assim, se a taxa de crescimento do produto for elevada, esta deve
      permanecer dentro de certos limites. A taxa elevada de crescimento da
      produtividade do trabalho que num universo neoliberal ocorre tipicamente
      devido à competição no mercado mundial, muitas vezes garante que a taxa de
       crescimento do emprego seja insuficiente para impedir uma ascensão do
       desemprego e o empobrecimento.
       Uma comparação entre a experiência da economia indiana sob o
      neoliberalismo e a aquela sob [o período do]  dirigismo  é instrutiva
      neste contexto. No período do neoliberalismo, enquanto a taxa de
      crescimento do PIB supostamente acelerou-se a 7 por cento ao ano ou mais,
      a taxa de crescimento do emprego foi de apenas 1 por cento, ao passo que
      na era  dirigista  a taxa de crescimento do PIB era quase a metade do
      número no período liberal, isto é, cerca de 3,5 por cento, mas a taxa de
       crescimento do emprego era o dobro, ou seja, 2 por cento ao ano.
       A taxa de crescimento do emprego sob o neoliberalismo está abaixo mesmo
       da taxa  natural  de crescimento da força de trabalho. Ela está
      claramente abaixo da taxa de crescimento da força de trabalho quando
      adicionalmente nela incluirmos os camponeses e os pequenos produtores
      deslocados, trazidos à penúria pelo ritmo grandemente acelerado do
      processo de "acumulação primitiva de capital" desencadeado pelo
       neoliberalismo e à procura de trabalho fora das suas ocupações
      tradicionais.
       Não é de surpreender que sob o neoliberalismo, longe de ter havido
      qualquer enrijecimento do mercado de trabalho, aconteceu precisamente o
       oposto: a dimensão relativa das reservas de trabalho expandiu-se muito,
       as quais contribuíram para um agravamento absoluto das condições de vida
      não só daqueles que faziam parte directamente das reservas de trabalho
      como também daqueles que faziam parte do exército de trabalho na activa
      mas cuja força negocial foi diminuída pela explosão das reservas de
      trabalho.
       O aumento galopante da desigualdade de rendimento e riqueza na era
      neoliberal, o qual é um facto absolutamente inegável, é o resultado
       directo disto. E assim também é o crescimento da "pobreza" absoluta, a
      qual o governo nega constantemente, mas que é igualmente incontestável
      mesmo quando "pobreza" é definida pelo próprio critério governamental, de
       utilizar uma norma nutricional.
       A este respeito, a razão para a diferença entre os períodos  dirigista  e
      neoliberal verifica-se porque durante o período anterior houve certas
       restrições à taxa de mudança tecnológica e estrutural, assim como à
      magnitude das quedas de preços às quais foi submetida a maior parte do
      campesinato (elas são uma causa importante da sua dívida actual e do seu
      empobrecimento). Um exemplo óbvio da primeira foi a restrição a "teares
       manuais"  ("handlooms")  e um exemplo óbvio da outra foi o isolamento dos
      preços agrícolas internos em relação aos preços do mercado mundial que
      flutuam de modo selvagem, através de tarifas, restrições comerciais
      quantitativas, compras de cereais pela  FCI e intervenção no mercado por
      vários organismos de  commodities  no caso de colheitas comerciais.
       O neoliberalismo remove todas estas restrições e restaura a
       "espontaneidade" do capitalismo, inclusive na questão da introdução da
      mudança tecnológica. Não é de admirar que a perspectiva de o capitalismo
      estar sempre aberto a mudanças tecnológicas dando origem ao crescimento
      relativo de reservas de trabalho e, portanto, ao empobrecimento que se tem
      manifestado na nossa economia.

      [*] Economista, indiano, ver  Wikipedia
       O original encontra-se em 
      peoplesdemocracy.in/2018/0318_pd/technological-change-and-impoverishment .
        Tradução de JF. 
In
RESISTIR.INFO
http://resistir.info/patnaik/patnaik_18mar18.html
18/3/2018

sábado, 24 de março de 2018

Quatro dias para declarar uma Guerra Fria


Thierry Meyssan

A semana que acaba de decorrer foi extraordinariamente rica em acontecimentos.
Mas nenhum média esteve à altura de dar conta deles já que todos mascararam
deliberadamente alguns dos factos para proteger a narrativa que, a propósito,
divulgava o seu governo. Londres tentou provocar um grande conflito, mas perdeu
face à Rússia, ao Presidente Trump e à Síria.

                    -------------------------------------

  Embora dispondo do quarto exército no mundo, o Reino Unido não pode desafiar a
  Rússia sem se apoiar em aliados. Tem, portanto, que inventar um casus belli, e
  fazer os seus parceiros reagir para os levar a exporem-se junto com ele.
O governo britânico e alguns dos seus aliados, entre os quais o Secretário de
Estado, Rex Tillerson, tentaram lançar um esquema de Guerra Fria contra a
Rússia.
O seu plano previa, por um lado, encenar um atentado contra um ex-agente duplo
em Salisbury e, por outro, um ataque químico contra os «rebeldes moderados» na
Ghuta. Os conspiradores pretendiam aproveitar-se do esforço da Síria a libertar
os subúrbios da sua capital e da distração da Rússia por ocasião da sua eleição
presidencial. Na sequência destas manipulações, o Reino Unido teria pressionado
os EUA a bombardear Damasco, incluindo o palácio presidencial sírio, e pedido à
Assembleia Geral da ONU para excluir a Rússia do Conselho de Segurança.
No entanto, os Serviços de Inteligência sírio e russo souberam do que se
tramava. Eles ficaram convictos que os agentes dos EUA que preparavam, a partir
da Ghuta, um ataque químico contra a própria Ghuta não dependiam do Pentágono,
mas, antes de uma outra agência dos EUA.
Em Damasco, o Vice-ministro das Relações Exteriores, Fayçal Miqdad, convocou de
urgência uma conferência de imprensa, a 10 de Março, para alertar os seus
concidadãos. Por seu lado, Moscovo primeiro tentou alertar Washington pelos
canais diplomáticos. Mas, sabendo que o Embaixador dos EUA, Jon Huntsman Jr, é
administrador da Caterpillar, a qual forneceu tuneladoras (tatuzões-br) aos
jiadistas para que eles construissem as suas fortificações, tentou contornar a
via diplomática normal.
Eis, pois, como os acontecimentos se encandearam :
12 de Março de 2018
O Exército sírio capturou dois laboratórios de armas químicas, o primeiro a 12
de Março, em Aftris, e o segundo no dia seguinte, em Shifunya. Enquanto a
diplomacia russa pressiona a Organização para a Proibição de Armas Químicas
(OPAQ) a entrar na investigação criminal de Salisbury.
A Primeira-ministro britânica, Theresa May, acusa violentamente a Rússia, na
Câmara dos Comuns, de ter comanditado o atentado de Salisbury. Segundo ela, o
ex-agente duplo Serguei Skripal e a sua filha teriam sido envenenados com uma
substância militar neurotóxica do tipo «desenvolvido pela Rússia» sob o nome de
“novitchok”. Sabendo que o Kremlin considera os seus cidadãos que desertaram
como alvos legítimos, seria, pois, altamente provável que tivesse comanditado o
crime.
O “novitchok” é conhecido através do que revelaram a propósito duas
personalidades soviéticas, Lev Fyodorov e Vil Mirzayanov. O cientista Fyodorov
publicou um artigo no semanário russo Top Secret (Совершенно секретно), em Julho
de 1992, alertando para a extrema periculosidade deste e chamando a atenção
contra a utilização de antigas armas soviéticas, pelos Ocidentais, para destruir
o meio ambiente na Rússia e torná-la inviável. Em Outubro de 1992, ele publicou
um segundo artigo no Novidades de Moscovo (Московские новости), junto com um
responsável da contra-espionagem, Mirzayanov, denunciando a corrupção de certos
generais e o tráfico de “novitchok” ao qual se dedicariam. Eles ignoravam a quem
o teriam podido vender. Mirzayanov foi primeiro preso por alta traição, depois
libertado. Se Fyodorov morreu na Rússia, em Agosto passado, Mirzayanov vive no
exílio nos Estados Unidos, onde ele colaborou com o Departamento da Defesa.
  O antigo oficial russo da contra-espionagem Vil Mirzayanov desertou para os
  Estados Unidos. Aos 83 anos, ele comenta o «caso Skripal» a partir de Boston.
O “novitchok” era fabricado num laboratório soviético em Nurus, no actual
Uzbequistão. Aquando da dissolução da União Soviética, ele foi destruído por uma
equipe norte-americana especializada. O Uzbequistão e os Estados Unidos,
portanto, obrigatoriamente possuíram e estudaram amostras desta substância.
Ambos são capazes de o produzir.
O Ministro britânico dos Negócios Estrangeiros ( Relações Exteriores-br), Boris
Johnson, convoca o Embaixador russo em Londres, Alexander Yakovenko.
Apresenta-lhe um ultimato de 36 horas para verificar se falta “novitchok”nos
seus stocks (estoques-br). O Embaixador responde-lhe que não falta nada porque a
Rússia destruiu a totalidade das armas químicas herdadas da União Soviética e a
OPCW (OPAQ) pronunciou-se a propósito.
Após uma conversa telefónica com Boris Johnson, o Secretário de Estado dos EUA,
Rex Tillerson, condena, por sua vez, a Rússia pelo atentado de Salisbury.
Enquanto isso, um debate sobre a situação na Ghuta desenrola-se no Conselho de
Segurança da ONU. A Representante permanente dos Estados Unidos, Nikki Haley,
afirma aí: «Há quase um ano, após o ataque de gás sarin perpetrado em Khan
Sheikun pelo regime sírio, os Estados Unidos tinham alertado o Conselho.
Dissemos que, face à inação sistemática da comunidade internacional, os Estados,
por vezes, são obrigados a agir por conta própria. O Conselho de Segurança não
agiu, e os Estados Unidos atacaram a base aérea a partir da qual al-Assad
lançara o seu ataque de armas químicas. Nós reiteramos o mesmo aviso hoje.
Os Serviços de Inteligência russos fazem circular documentos do Estado-maior
norte-americano. Eles mostram que o Pentágono está prestes a bombardear o
palácio presidencial e os ministérios sírios, dentro do modelo do que fez
aquando da tomada de Bagdade (3 a 12 de Abril de 2003).
Comentando a declaração de Nikki Haley, o Ministério russo dos Negócios
Estrangeiros, que sempre qualificou o caso de Khan Sheïkhun de «manipulação
ocidental», revela que as falsas informações, que induziram na altura a Casa
Branca em erro e a levaram a bombardear a base de Al-Shayrat, provinham de um
laboratório britânico que nunca indicou como tinha recolhido as amostras.
13 de Março de 2018
O Ministério russo dos Negócios Estrangeiros publica um comunicado condenando
uma possível intervenção militar dos EUA e anunciando que se cidadãos russos
fossem atingidos em Damasco Moscovo ripostaria de maneira proporcional ; uma vez
sendo o Presidente russo constitucionalmente responsável pela segurança dos seus
concidadãos.
Contornando a via diplomática, o Chefe do Estado-Maior russo, o General Valeri
Guerassimov, contacta o seu homólogo americano, o General Joseph Dunford, para o
informar sobre os seus receios quanto a um ataque químico de bandeira falsa na
Ghuta. Dunford toma o assunto muito a sério e alerta o Secretário da Defesa dos
EUA, o General Jim Mattis, que refere o caso ao Presidente Donald Trump. Tendo
em vista a garantia dada pelos Russos, segundo os quais este golpe sujo estaria
preparado à revelia do Pentágono, a Casa Branca pede ao Director da CIA, Mike
Pompeo, para identificar os responsáveis deste complô.
Ignoramos o resultado dessa investigação interna, mas o Presidente Trump ganha a
convicção quanto à implicação do seu Secretário de Estado, Rex Tillerson. Este é
imediatamente convidado a interromper a sua viagem oficial em África e a voltar
para Washington.
Theresa May escreve ao Secretário-geral da ONU para acusar a Rússia de ter
comanditado o atentado de Salisbury e para convocar uma reunião de urgência do
Conselho de Segurança. De imediato, ela expulsa 23 diplomatas russos.
  Publicado um mês e meio antes do atentado de Salisbury, o livro de Amy Knight
  apresenta o que se vai tornar a tese do MI5. A autora afirma, por si mesma,
  que não tem a menor prova do que escreve.
A pedido da Presidente da Comissão do Interior da Câmara dos Comuns, Yvette
Cooper, a Secretária britânica do Interior, Amber Rudd, anuncia que o MI5
(Serviço Secreto Militar do Interior) vai reabrir 14 inquéritos sobre mortes
que, segundo fontes dos EUA, teriam sido comanditadas pelo Kremlin.
Ao fazê-lo, o governo britânico adopta as teorias da professora Amy Knight. A 22
de Janeiro de 2018, esta sovietóloga dos EUA publicava um livro muito estranho:
«Ordens para matar: o regime de Putin e o assassinato político». A autora, que é
«a» especialista do antigo KGB, tenta aí demonstrar que Vladimir Putin é um
assassino em série, responsável por dezenas de assassinatos políticos, indo
desde os atentados de Moscovo, em 1999, até aos da Maratona de Boston, em 2013,
passando pela execução de Alexander Litvinenko em Londres, em 2006, ou a de
Boris Nemtsov em Moscovo, em 2015. No entanto, ela confessa, por si própria, que
não há nenhuma prova quanto às suas acusações.
Os liberais europeus entram na dança. O antigo Primeiro-ministro belga, Guy
Verhofstadt, que preside o seu grupo no Parlamento Europeu, exorta a UE a lançar
sanções contra a Rússia. O seu homólogo à cabeça do correspondente Partido
britânico, Sir Vince Cable, propõe um boicote europeu ao Campeonato do Mundo de
futebol. Desde logo, o Palácio de Buckingham anuncia que a família real cancela
a sua viagem à Rússia.
A autoridade reguladora britânica, a Ofcom, anuncia que poderia proibir o canal
de Tv Russia Today a título de retaliação, muito embora esta não tenha, de forma
alguma, violado as leis britânicas.
O Ministério russo dos Negócios Estrangeiros convoca o Embaixador britânico em
Moscovo para o informar que medidas de reciprocidade lhe serão indicadas em
breve, em retorsão pela expulsão de diplomatas russos de Londres.
O Presidente Trump anuncia no Twitter que demitiu o seu Secretário de Estado,
com o qual não tinha ainda entrado em contacto. Ele é substituído por Mike
Pompeo, ex-Director da CIA, que confirmou na véspera a autenticidade das
informação russas transmitidas pelo General Dunford. Chegado a Washington,
Tillerson recebe a confirmação da sua demissão pelo Secretário-geral da Casa
Branca, o General John Kelly.
  O antigo patrão da maior multinacional no mundo, ExxonMobil, julgava-se acima
  da barafunda. Para sua grande surpresa, Rex Tillerson foi brutalment despedido
  por Donald Trump. O primeiro pensava servir o mundo anglo-saxónico, enquanto o
  segundo o considerou como um traidor à sua pátria.
O ex-Secretário de Estado, Rex Tillerson, é originário da burguesia texana. A
sua família e ele próprio fizeram parte dos Escoteiros norte-americanos, dos
quais se tornou o Presidente nacional (2010-12).
Culturalmente próximo da Inglaterra, não hesitou, assim que se tornou tornou
Presidente da mega multinacional Exxon-Mobil (2006-16), tanto a realizar uma
campanha politicamente correcta para aceitar jovens gays entre os Escoteiros,
como a recrutar mercenários na Guiana Britânica. Ele seria membro da Pilgrims
Society, o mais prestigiado clube anglo-americano, presidido pela Rainha Isabel
II, do qual inúmeros membros fizeram parte da Administração Obama.
Durante as suas funções na Secretaria de Estado, a sua esmerada educação
forneceu uma caução a Donald Trump, considerado pela alta sociedade dos EUA como
um histrião. Ele entrou em conflito com o seu Presidente sobre três assuntos
importantes que nos permitem definir a ideologia dos conspiradores :
 Como Londres e o Estado profundo dos EUA, ele julgava útil demonizar a Rússia
para consolidar o Poder dos Anglo-Saxónicos no campo ocidental ;
 Como Londres, ele julgava que para manter o colonialismo ocidental no
Médio-Oriente, era preciso favorecer o Presidente iraniano Xeque Rohani contra o
Guia da Revolução o aiatola Khamenei. Ele apoiava portanto o acordo dos 5+1.
 Como o Estado profundo dos EUA, ele considerava que a báscula da Coreia do
Norte em direcção aos Estados Unidos devia permanecer secreta e ser utilizada
para justificar um avanço militar dirigido, na realidade, contra a China
popular. Era, portanto, favorável a conversações oficiais com Pyongyang, mas
oposto a um encontro entre os dois chefes de Estado.
14 de Março de 2018
No momento em que Washington está em estado de choque, Theresa May intervém
novamente, na Câmara dos Comuns, para aí desenvolver a sua acusação, enquanto no
mundo inteiro os diplomatas britânicos tomam a palavra em inúmeras organizações
inter-governamentais para lhes transmitir a mensagem. Respondendo à
Primeira-ministro, o deputado blairista, Chris Leslie, qualifica a Rússia de
“Estado-canalha” e pede a sua suspensão do Conselho de Segurança da ONU. Theresa
May compromete-se a examinar a questão, frisando, ao mesmo tempo, que isso só
poderia ser decidido pela Assembleia Geral afim de contornar o veto russo.
O Conselho do Atlântico Norte (OTAN) reúne-se em Bruxelas a pedido do Reino
Unido. Os 29 Estados-membro estabelecem uma ligação entre a utilização de armas
químicas na Síria e o atentado de Salisbury. Eles consideram a Rússia como
«provavelmente» responsável por estes dois acontecimentos.
  Jens Stoltenberg, Secretário-geral da OTAN, e a representante permanente do
  Reino Unido no Conselho do Atlântico Norte, Sarah MacIntosh. Esta é a antiga
  directora para as questões de Defesa e de Inteligência no Ministério britânico
  dos Negócios Estrangeiros, posto que deixou a Jonathan Allen, actual
  Encarregado de Negócios na ONU.
Em Nova Iorque, o Representante permanente da Rússia, Vasily Nebenzya, propõe
aos membros do Conselho de Segurança a adopção de uma declaração atestando a sua
vontade comum em lançar luz sobre o atentado de Salisbury e em confiar a
investigação à OPAQ, dentro do respeito pelos procedimentos internacionais
estabelecidos. Mas, o Reino Unido rejeita qualquer texto que não inclua a
expressão segundo a qual a Rússia seria «provavelmente responsável» pelo
atentado.
Durante o debate público que se segue, o Encarregado de Negócios do Reino Unido,
Jonathan Allen, representa o seu país. É um agente do MI6, que criou o serviço
de propaganda de guerra do Reino Unido e deu o seu apoio activo aos jiadistas na
Síria. Ele declara : «A Rússia já interferiu nos assuntos de outros países, a
Rússia já violou o Direito Internacional na Ucrânia, a Rússia despreza a vida de
civis, como o demonstra o ataque a um avião comercial por cima da Ucrânia por
mercenários russos, a Rússia protege o emprego por Assad de armas químicas (...)
O Estado russo é responsável por esta tentativa de assassínio. O Representante
permanente da França, François Delattre, que em virtude de um decreto
derrogatório do Presidente Sarkozy foi formado no Departamento de Estado dos
EUA, lembra que o seu país lançou uma iniciativa para pôr fim à impunidade
daqueles que utilizam armas químicas. Ele sugere que esta iniciativa dirigida
contra a Síria poderia ser virada contra a Rússia.
O Embaixador russo, Vasily Nebenzya, lembra que a sessão foi convocada a pedido
de Londres, mas que só veio a ser pública a pedido de Moscovo. Ele observa que o
Reino Unido viola o Direito Internacional ao evocar este caso no Conselho de
Segurança enquanto mantêm a OPAQ à margem da sua investigação. Ele nota que se
Londres pôde identificar o “novitchok” é porque possui a fórmula e, portanto,
pôde fabricá-lo. Ele relembra a vontade expressa da Rússia em colaborar com a
OPAQ, no quadro do respeito pelos procedimentos internacionalmente aceites.
15 de Março de 2018
O Reino Unido publica uma declaração conjunta co-assinada, no dia anterior, pela
França, Alemanha, bem como por Rex Tillerson, que era ainda Secretário de Estado
dos Estados Unidos. O texto retoma a suspeita britânica. Ele denuncia o emprego
de «um agente neurotóxico de qualidade militar, de um tipo desenvolvido pela
Rússia». Ele afirma que é «altamente provável que a Rússia seja responsável pelo
atentado».
O Washington Post publica uma carta aberta de Boris Johnson, enquanto o
Secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, lança novas sanções contra a
Rússia. Estas não estão ligadas ao caso em curso, mas às alegações de ingerência
na vida pública dos EUA. O decreto cita, no entanto, o atentado de Salisbury
como uma prova das acções sujas da Rússia.
O Secretário da Defesa britânico, o jovem Gavin Williamson, declara que depois
da expulsão dos seus diplomatas a Rússia devia «calar» (sic). É a primeira vez
desde o fim da Segunda Guerra Mundial que um dirigente de um Estado membro
permanente do Conselho de Segurança emprega um tal vocabulário em relação a um
outro membro do Conselho. Serguei Lavrov comenta: «É um jovem encantador. Quer
certamente marcar o seu lugar na história, fazendo para isso afirmações
chocantes [...] Se calhar falta-lhe educação.
  A Inglaterra não hesitou, ao longo de toda a sua história, em mentir e em
  trair a sua palavra para defender os seus interesses. Daí o seu qualificativo
  francês de «pérfida Albião» (do nome latino da Inglaterra).
Conclusão
Em quatro dias o Reino Unido e os seus aliados lançaram as premissas de uma nova
divisão do mundo, de uma Guerra Fria.
No entanto, a Síria não é o Iraque e a ONU não é o G8 (do qual a Rússia foi
excluída devido à adesão da Crimeia à sua Federação, e pelo seu apoio à Síria).
Os Estados Unidos não vão destruir Damasco e a Rússia não será excluída do
Conselho de Segurança. Depois de se ter retirado da União Europeia, depois de se
ter recusado a assinar a Declaração chinesa sobre a Rota da Seda, o Reino Unido
pensava aumentar a sua importância eliminando um concorrente. Com este golpe
manhoso, imaginava adquirir uma nova dimensão e tornar-se na «Global Britain»
anunciada pela Sra. May. Mas acabou destruindo, ele próprio, a sua
credibilidade.
Tradução
Alva

In
VOLTAIRENET.ORG
http://www.voltairenet.org/article200270.html
21/3/2018

quinta-feira, 22 de março de 2018

EEUU vive una guerra cultural, de clase y racial


Raúl Zibechi

Cuando una parte de la población de una nación está armada para defenderse de
otra parte de la población, estamos ante una guerra civil no declarada. Cuando
el Estado no tiene el monopolio de la violencia legítima, ¿podemos pensar que se
trata de un 'Estado fallido'?

Las masacres en escuelas y centros de estudio pueden considerarse una emergencia
de la violencia en la sociedad estadounidense. En los primeros 45 días de 2018,
hasta la masacre de San Valentín, hubo 18 tiroteos en escuelas, en diez de las
cuales hubo muertos, según el Everytown for Gun Safety, un grupo que defiende un
mayor control sobre la venta de armas. En el mismo lapso se han registrado 18
tiroteos en escuelas de EEUU, en 10 de los cuales hubo heridos o muertos. Desde
2013 la cifra trepa hasta los 290 tiroteos en centros educativos.

Otro informe de prensa asegura que en el primer mes y medio hubo 1.800 personas
que murieron en Estados Unidos por herida de bala. Desde 2011 fueron 200.000.
Una verdadera guerra. La notable cantidad de muertes por armas de fuego, y en
particular la sucesión de matanzas en escuelas, han llevado a diversas
organizaciones a convocar la Marcha por Nuestras Vidas (March for our Lives, en
inglés) el sábado 24 de marzo en Washington, para que la libertad de poseer
armas de grueso calibre sea regulada.

​Los convocantes de la protesta demandan la prohibición de la venta libre de
fusiles de asalto, por considerarlas armas de guerra que van más allá de la
defensa personal. Pero defienden "el derecho de los estadounidenses respetuosos
de la ley a poseer y portar armas, como se establece en la Constitución de los
Estados Unidos".
Más aquí: Entra en vigor en Texas una ley que permite portar armas abiertamente

Ocho datos que tienes que conocer sobre la matanza en Las Vegas
Los organizadores también reclaman la prohibición de las revistas especializadas
en armas de guerra, asegurando que aquellos estados que las prohíben tienen la
mitad de tiroteos. Y sostienen que la verificación de antecedentes de los
compradores reduce drásticamente los sucesos violentos.
Lo que sorprende es que aún los opositores a las armas de fuego muestran su
respeto por la "segunda enmienda" de la Constitución que defiende "el derecho
del pueblo a poseer y portar armas". Lo cierto es que en EEUU hay más armas que
habitantes y que la mitad de las armas del mundo en posesión de civiles está en
este país.
Lea más: Masacre de Las Vegas demuestra que la Enmienda II no protege a los
ciudadanos

Trump: las leyes de armas serán discutidas "mientras las cosas vayan sucediendo"
El Congreso nunca autorizó la creación de una base de datos sobre la cantidad de
armas en poder de particulares ni la cantidad de muertos por armas de fuego. No
cualquiera tiene un arma. Una pista sobre los poseedores la ofrece el
Departamento de Justicia de Estados Unidos: en 2013 se vendieron 16,3 millones
de armas de fuego (45.000 cada día), un aumento del 130% en relación a 2007,
cuando Barack Obama llegó a la Presidencia y se desató el pánico a que el
Gobierno restringiera la venta.
Aunque la violencia crece, cada vez son menos los ciudadanos de EEUU que tienen
armas. En la década de 1980, la mitad de las familias tenían armas, cifra que
cayó a un tercio en la actualidad. Lo que indica que los que tienen un rifle,
una escopeta o una pistola cada vez acumulan más cantidad de armas. Según un
estudio de EFE, el 66% de los estadounidenses posee más de un arma en su casa.
Le puede interesar: Masacre en Florida: el impactante relato de los testigos del
tiroteo
El estudio ofrece algunas pistas sobre quiénes tienen armas y contra quiénes las
utilizan. El 65% afirma que posee un arma para protección, seguido de los que
las tienen para uso deportivo y caza, y muy lejos por los coleccionistas. La
mitad afirma que creció en un hogar con armas.

Los sangrientos tiroteos de 2018 agravan 'epidemia' en escuelas de EEUU
La distribución entre grupos sociales es la clave. El 57% de los republicanos
está armado frente a sólo el 25% de los demócratas. La mitad de los blancos
(49%) tiene armas frente a menos de un tercio de los negros (31%) y apenas una
quinta parte de los latinos (20%). El 72% de los estadounidenses disparó alguna
vez un arma.
El panorama se aclara. Una minoría de hombres blancos republicanos está armada.
Por otro lado, sabemos que la policía ha disparado y matado más de mil personas
cada año desde el comienzo de la crisis de 2008, en su inmensa mayoría negros,
lo que ha dado pie al nacimiento de movimientos como Black Lives Matter (Las
vidas negras importan, en inglés), entre otros.
¿Cómo entender y cómo analizar estos datos?
La primera cuestión es que estamos ante un país que vive una larga guerra civil.
Cada día 309 personas reciben heridas de bala y 93 mueren por disparos. Desde
1967 murieron por disparos 1,59 millones de personas, más que los ciudadanos de
EEUU que perdieron la vida en guerras, que suman 1,2 millones en estos 50 años.
No se lo pierda: Gobernador de Florida anuncia plan para prevenir tiroteos en
centros educativos
Son cifras elocuentes. Es una guerra interna de la que no se puede acusar a
ninguna potencia extranjera. Es una forma de vida que está en el ADN de los
estadounidenses y que probablemente esté arraigada en la forma como se creó la
nación. Por algo la segunda enmienda se formuló en 1791, cuando la rebelión
contra la monarquía inglesa llevó a los rebeldes a crear milicias armadas para
defenderse de los ejércitos coloniales.
Trump cuestiona por qué EEUU recibe migrantes de "países de mierda"
La segunda cuestión es la identidad de los estadounidenses, punto en el que
aparecen fuertemente divididos. El hecho de que 'sólo' la mitad tenga armas, y
que apenas uno de cada cuatro votantes demócratas las posea, enseña una fractura
identitaria muy fuerte. Más aún porque cada vez son menos los que creen que las
armas resuelven los problemas de seguridad, tal y como muestran el descenso
constante en la posesión y los movimientos que se han disparado este año contra
las armas de guerra.
El tercer aspecto es el que siento más importante. Los más oprimidos, negros e
hispanos, los más débiles socialmente, son los que menos armas tienen. Son las
víctimas principales de los que tienen armas, tanto de los civiles como de los
policías, guardias nacionales y militares que son mayoritariamente blancos, en
particular los mandos medios y superiores.
No se lo pierda: "Trump hace que EEUU sea un país despreciado en todo el mundo"
Por lo anterior, debemos concluir dos cuestiones: el Estado no tiene el
monopolio de las armas y la violencia se ejerce principalmente contra los
pobres, focalizada en negros e hispanos. Una frase casi prohibida en EEUU,
resume la cuestión: lucha de clases.

LA OPINIÓN DEL AUTOR NO COINCIDE NECESARIAMENTE CON LA DE SPUTNIK
In
SPUTNIK
https://mundo.sputniknews.com/firmas/201803221077231572-america-norte-venta-armas-seguridad-social/
22/3/2018

quarta-feira, 21 de março de 2018

As novas ditaduras latino-americanas


 

       por Jorge Beinstein [*] 

       A ascensão autoritária 

       A radicalização reaccionária dos governos de países como o Paraguai,
      Argentina, Brasil, México ou Honduras começa a gerar polémica quanto à sua
      caracterização.
       Nenhum desses regimes resultou de golpes de estado militares. Nos casos
      do Brasil, Honduras ou Paraguai a destituição dos presidentes foi
       realizada (mediante paródia constitucional) pelo poder legislativo em
       combinação mais ou menos forte com os poderes judicial e mediático. No
      Brasil a Presidência passou a ser exercida pelo vice-presidente Temer
      (ungido por um golpe parlamentar) cujo nível de aceitação popular segundo
      diversos inquéritos rondaria apenas 3% dos cidadãos. No Paraguai ocorreu o
      mesmo e o presidente destituído foi substituído pelo vice-presidente
      através de um procedimento parlamentar express e a seguir foram realizadas
       eleições presidenciais que consagraram Horacio Cartes, um personagem de
      ultra-direita claramente vinculado ao narcotráfico.
       Nas Honduras realizaram-se eleições presidenciais em Novembro/2017 [1] ,
      a  "Alianza de Oposición contra la Dictadura"  havia ganho claramente mas
      o governo, fazendo honra ao qualificativo com que o havia marcado a
      oposição, consumou uma fraude escandalosa afirmando assim a continuidade
      do ditador Juan Orlando Hernandez.
       Um caso extremamente curioso é o da Argentina, onde em 2015 se realizaram
      eleições presidenciais em meio a uma avalanche mediática, económica e
      judicial sem precedentes contra o governo e favorável ao candidato
      direitista Maurizio Macri. O resultado foi a vitória de Macri por escassa
      margem, o qual logo que assumiu a presidência avançou sobre os outros
      poderes do estado conseguindo em pouco tempo de facto a soma do poder
      público. Se a essa concentração de poder acrescentarmos o controle dos
      meios de comunicação e o poder económico, encontramo-nos perante uma
      pequena camarilha com uma capacidade de controle própria de uma ditadura.
      Completa o panorama o comportamento cada vez mais repressivo do governo
      que, pela primeira vez desde o fim da ditadura militar em 1983, decidiu a
      intervenção das Forças Armadas em conflitos internos mediante a
      constituição de uma  "força militar de arranque rápido"  integrada por
      efectivos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica e a formação de uma
      força operativa conjunta com a DEA utilizando a desculpa da  "luta contra
      o narcotráfico e o terrorismo".  [2] Desse modo a Argentina incorpora-se
      numa tendência regional imposta pelos Estados Unidos de reconversão
      convergente das Forças Armadas convencionais, das polícias e outras
      estruturas de segurança em polícias-militares capazes de "controlar" as
       populações desses países. Não seguindo o velho estilo
      conservador-quartelada inspirado na "doutrina de segurança nacional" e sim
      estabelecendo espaços sociais caóticos imersos no desastre, atravessados
      precisamente pelo narcotráfico (promovido e manipulado desde cima) e
      outras formas de criminalidade dissociadora seguindo a doutrina da Guerra
      de Quarta Geração.
       No México, como sabemos, sucedem-se os governos fraudulentos imersos numa
      crescente onda de barbárie e na Colômbia a abstenção eleitoral
      tradicionalmente maioritária chegou recentemente a cerca de dois terço do
      padrão eleitoral [3] , adornada por um muito publicitado  "processo de
      paz"  que conseguiu a rendição das FARC assegurando ao mesmo tempo a
       preservação da dinâmica de saqueios, assassinato e concentração de
      rendimentos que caracteriza tradicionalmente esse sistema. Nestes dois
      casos não nos encontramos perante algo "novo" e sim frente a regimes
      relativamente velhos que foram evoluindo até chegarem hoje a constituir
      verdadeiros exemplos de aplicação com êxito das técnicas mais avançadas de
      desintegração social. A tragédia desses países mostra o futuro que aguarda
      os recém chegados ao inferno.
       O panorama é completado com as tentativas de restauração reaccionária na
      Bolívia e na Venezuela. No caso venezuelano a intervenção directa dos
      Estados Unidos procura recuperar (recolonizar) a maior reserva petrolífera
      do mundo no momento em que o reinado do petro-dólar (fundamento da
      hegemonia financeira global do império) entra em declínio rápido perante a
       ascensão da China (o maior comprador internacional de petróleo) que
      procura impor a sua própria moeda apoiada pelo ouro (o petro-yuan-ouro) em
      aliança precisamente com a Venezuela e outros gigantes do sector
      energético, como a Rússia e o Irão.
       Na Bolívia, o aparelho de inteligência imperial realiza uma das suas
      manipulações de manual inspirada na doutrina da Guerra de Quarta Geração.
      Põe em acção seus apêndices mediáticos locais e globais tentando lançar a
       histeria (neste caso racista) de faixas importante das classes médias
       brancas e mestiças contra o presidente índio. Aqui não só se trata de
      varrer um governo progressista como também de apropriar-se das reservas de
      lítio, a maiores do mundo (segundo diferentes prospecções, a Bolívia
      contaria com aproximadamente 50% das reservas de lítio do planeta),
      elemento chave na futura reconversão energética global.
       Principais características 
       As actuais ditaduras têm todas as características para apresentar uma
      imagem civil com aparência de respeito pelos preceitos constitucionais,
      mantendo um calendário eleitoral com pluralidade de partidos e os demais
      traços de um regime democrático de acordo com as regras ocidentais. Por
      outro lado, encontramo-nos perante mecanismos explícitos de censura e,
      ainda que marginais ou em posições muito secundárias, ouvem-se algumas
      vozes divergentes. Os prisioneiros políticos passam quase sempre pelos
       tribunais onde os juízes os condenam de maneira arbitrária mas
       aparentando apoiar-se nas normais legais vigentes. Os assassinatos de
       opositores são minimizados ou ocultados pelos meios de comunicação e
      ficam em geral envoltos por mantos de confusão que diluem as culpas
      estatais, amalgamando de maneira sistemática os crimes políticos com as
      violências policiais contra pobres e pequenos delinquentes sociais e
      repressões aos protestos populares.
       Essa máscara democrática, prolixamente negligente, acaba por ser o que é:
      uma máscara, quando constatamos que os meios de comunicação convertidos
      num instrumento de manipulação total da população estão controlados por
      monopólios como o grupo Clarín na Argentina, O Globo no Brasil ou Televisa
      no México, cujos proprietários fazem parte do círculo estreito do Poder.
      Ou quando chegamos à conclusão de que o sistema judicial está
      completamente controlado por esse círculos do qual participam os
      principais interesses económicos (transnacionalizados) manejando à
       discrição o aparelho policial-militar. E que em consequência os partidos
      políticos significativos, os meios de comunicação, as grandes estruturas
      sindicais e outros espaço de expressão potencial da sociedade civil estão
       estrategicamente controlados (para além de certos descontroles tácticos)
      mediante uma teia embrulhada de repressões, chantagens, crimes selectivos,
      abusos judiciais, bombardeios mediáticos esmagadores dissociadores ou
      disciplinadores e fraude eleitoral mais ou menos descarada conforme o
      problema concreto resolver.
       O novo panorama provocou uma crise notável de percepção onde a realidade
      se choca com princípios ideológicos, conceptualizações e outros
      componentes de um  "sentido comum"  herdado do passado. Não somos vítimas
      de um rígido enquadramento da população com pretensões totalitárias
      explícitas que anule toda possibilidade de dissensão, procurando integrar
      o conjunto da sociedade num simples esquema militar, e sim perante
      sistemas flexíveis, na realidade confusos, que não tentam disciplinar a
      todos e sim, antes, desarticular, degradar a sociedade civil convertendo-a
      numa vítima inofensiva, esmagada pela tragédia.
       Não se apresentam projectos nacionais desmesurados, próprios dos
       militares  "salvadores da pátria"  de outros tempos, ou imagens sinistras
      como a de Pinochet, nem sequer discursos hiper-optimistas como os dos
      globalistas neoliberais dos anos 1990 ou personagens cómicos como Carlos
      Menem, e sim presidentes sem carisma, torpes, aborrecidos repetidores de
      frases banais preparadas pelos assessores de imagem que formam uma rede
      regional globalizada de "formadores de opinião"  made in USA. 
       Em suma, as ditaduras blindadas e triunfalistas do passado parecem ter
      sido substituídas por ditaduras ou proto-ditaduras cinzentas que oferecem
       pouco ou nada, montadas sobre embrutecedores cilindros compressores
       mediáticos. Sempre por trás (na realidade por cima) destes fenómenos
      encontram-se o aparelho de inteligência dos Estados Unidos e os de alguns
      dos seus aliados. A CIA, a DEA, o MOSSAD, o MI6 conforme os casos
      manipulam os ministérios da segurança ou da defesa, os das relações
      exteriores, as grandes estruturas policiais desses regimes vassalos e
      concebem estratégias eleitorais fraudulentas e repressões pontuais.
       Capitalismo de desintegração 
       Forjam-se assim articulações complexas, sistemas de dominação onde
      convergem elites locais (mediáticas, políticas, empresariais,
      policiais-militares, etc) com aparelhos externos integrantes do sistema de
      poder dos Estados Unidos.
       Estas forças dominam sociedade marcadas pelo que poderia ser qualificado
       como  "capitalismo de desintegração"  baseado no saqueio de recursos
      naturais, na especulação financeira e na crescente marginalização da
       população, radicalmente diferente dos velhos capitalismo subdesenvolvidos
      estruturados em torno de actividades produtivas (agrícolas, mineiras,
      industriais). Não é que nos velhos sistema não existisse o saqueio de
      recursos nem o banditismo financeiro, que em alguns momentos e países
      ocupavam o centro da cena, mas no longo prazo e na maior parte dos casos
      ficavam num segundo plano. A super-exploração da mão-de-obra e
      açambarcamento dos lucros produtivos surgiam como os principais objectivos
      económicos directos daquelas ditaduras.
       Tão pouco é certo que agora as elites dominantes se desinteressem dos
      salários ou da propriedade da terra. Ao contrário, desenvolvem um amplo
      leque de estratagemas destinados a reduzir os salários reais e
      apropriar-se de territórios. Se bem que nos velhos capitalismos não
      existisse só produção e sim também especulação e saqueio, nos actuais a
      base produtiva, em retracção por causa da pilhagem desmesurada, continua a
      ser uma fonte importantíssima de benefícios. Contudo, a sua preservação, a
      sua reprodução no longo prazo, não está no centro das preocupações
      quotidianas das elites, presas psicologicamente pela dinâmica parasitária
      da especulação financeira e seu entorno de negócios turvos.
       Isto acontece porque, entre outras coisas, no actual imaginário burguês o
      longo prazo desapareceu, suas operações mais importantes são regidas pelo
      curto prazo lumpen-capitalista. No saqueio de recursos naturais através da
      mega-mineração a céu aberto, da extracção de gás e petróleo de xisto ou da
      agricultura baseada em transgénicos, utilizam-se tecnologias orientadas
      pela velocidade do ritmo financeiro ao serviço de gente que não tem tempo
      nem interesse para se dedicar a temas tais como a saúde da população
      afectada, o equilíbrio ambiental e outras áreas impactadas pelos "danos
      colaterais" do êxito empresarial (financiarização da mudança tecnológica,
      a cultura técnica dominante como auxiliar do saqueio).
       Estes capitalismos de desintegração são conduzidos por elites que podem
      ser caracterizadas como lumpen-burguesias, burguesias principalmente
      parasitárias, transnacionalizadas, financiarizadas, oscilando entre o
      legal e o ilegal, cada vez mais afastadas da produção. São instáveis não
      por acidentes da conjuntura e sim pela sua essência decadente. Por cima
      delas encontram-se as grandes potências e suas elites embarcadas desde há
      tempos no caminho da degradação, num planeta onde os produtos financeiros
       derivados representavam em fins de 2017 umas sete vezes o Produto Global
      Bruto, onde a dívida global total (pública mais privada) era de quase três
      vezes do Produto Global Bruto, onde só cinco grandes bancos
       estado-unidenses dispunham de "activos financeiros derivados" da ordem
      dos 250 milhões de milhões de dólares (13 vezes o Produto Interno Bruto
      dos Estados Unidos), onde as oito pessoas mais ricas do mundo dispõem em
      conjunto de uma riqueza equivalente a 50% da população mundial (os mais
      pobres).
       A formação e escalada dessas elites latino-americanas são o resultado de
      prolongados processos de decadência estrutural e cultural, de um
      subdesenvolvimento que incluiu já várias décadas de componentes
      parasitários que se foram apropriando do sistema, foram carcomendo-o,
      envenenando, apodrecendo, seguindo a lógica sobredeterminante do
      capitalismo global, não de maneira mecânica e sim impondo especificidades
      nacionais próprias de cada degeneração social.
       Por baixo dessas elites surgem populações fragmentadas, com trabalhadores
      integrados do ponto de vista das normas laborais em vigor separados dos
      trabalhadores informais, precários. Com massas crescentes de marginais
      urbanos, de pobres e indigentes estigmatizados pelos meios de comunicação,
      desprezados por boa parte das classes integradas que se vão apequenando na
      medida em que avançam os processos de concentração económica e pilhagem de
      riquezas.
       Não se trata de espaços sociais estanques, segmentados de modo estável, e
      sim de sociedade submetidas à reprodução ampliada da rapina elitista
      transnacionalizada, à sucessão interminável de transferências de
      rendimentos de baixo para cima e para o exterior, à degradação crescente
      da qualidade de vida das classes baixas assim como de porções crescentes
      das camadas médias.
       Alguns autores referem-se ao fenómeno qualificando-o de  "neoliberalismo
      tardio"  [4] , algo assim como um regresso aos paradigmas neoliberais que
      tiveram seu auge nos anos 1990 mas num contexto global desfavorável a esse
      retorno (ascensão do proteccionismo comercial, declínio da unipolaridade
       em torno dos Estados Unidos, etc). Nós nos encontraríamos portanto frente
      a uma aberração histórica, um contra-senso económico e geopolítico
      protagonizado por círculos dirigentes obstinados na sua subordinação ao
      império norte-americano, interrompendo a marcha normal, racional,
      progressista e despolarizante que predominava na América Latina. As
      direitas latino-americanas encontrar-se-iam embarcadas em um projecto na
       contramão da evolução do mundo.
       Mas acontece que o mundo não se encaminha rumo a uma nova harmonia, um
       novo ciclo produtivo, e sim rumo ao aprofundamento de uma crise de longa
       duração, iniciada há quase meio século. Esta caracteriza-se entre outras
      coisas pelo declínio tendencial das taxas de crescimento das economias
      capitalistas centrais tradicionais e pela hipertrofia financeira
      (financiarização da economia global) impulsionando a ruptura de normas,
      legitimidades institucionais e equilíbrios sócio-culturais que asseguravam
      a reprodução da civilização burguesa para além das turbulências políticas
      ou económicas. A mutação parasitário-depredadora do capitalismo tem como
      centro um Ocidente articulado em torno do império norte-americano, mas
      envolve o conjunto da periferia e também afecta potências emergentes como
      a China ou a Rússia, muito dependentes das suas exportações em que os
       mercados da Europa, Estados Unidos e Japão cumprem um papel decisivo.
       Assim, as taxas de crescimento do Produto Interno Bruto da China vêm-se
       desacelerando e a economia russa oscila entre a recessão, a estagnação e
      o crescimento anémico.
       Um aspecto essencial da nova situação global é o carácter abertamente
      devastador das dinâmicas agrícolas, mineiras e industriais motorizadas
      tanto pelas potências tradicionais como pelas emergentes, cujos efeitos
      deixaram de ser uma nebulosa ameaça futura para se converterem num
      desastre presente que se vai ampliando ano após ano.
       Tudo isto nos deveria levar à conclusão de que os regimes reaccionários
      da América Latina não têm nada de tardio, de desactualizado, de
      deslocalização histórica e sim que são a expressão do apodrecimento
      radical das suas elites, da sua mutação parasitária enlaçada com um
       fenómeno global que as inclui. O que nos permite descobrir não só a
      fragilidade histórica, a instabilidade dessas burguesias, tão prepotentes
      e vorazes como doentias, como também as vãs ilusões progressistas
      negadoras da realidade que, ao qualificar de  tardio  o lumpen-capitalismo
      dominante marcam-no como  anormal,  anómalo, fora da época, alentando a
      esperança do  retorno à "normalidade"  de um novo ciclo de prosperidade na
      região, mais ou menos keynesiano, mais ou menos produtivo, mais ou menos
      democrático, mais ou menos razoável, nem muito direitista nem muito
      esquerdista, nem tão elitista nem tão populista. O sujeito burguês desse
      horizonte burguês fantasiaso está só na sua imaginação, a marcha real do
      mundo converteu-o num habitante fantasmagórico da memória. Enquanto isso
      os grandes "empresários", os círculos concretos de poder, participam de
      corpo e alma na orgia da devastação, tão desinteressados no longo prazo e
      no desastre social e ambiental quanto na racionalidade progressista (à
      qual consideram estorvo, um travão populista ao livre funcionamento do
       "mercado").
       Reacções populares e aprofundamento da crise 
       A grande incógnita é a que se refere ao futuro comportamento das grandes
      maiorias populares que foram afectadas tanto do ponto de vista económico
      como cultural pela decadência do sistema. As elites puderam aproveitar a
      desestruturação, as irracionalidades sociais geradas por um fenómeno
      perverso que atravessou tanto as etapas direitistas como as progressistas.
      Durante os períodos de governos de direita civis ou militares promovendo e
      garantindo privilégios e abusos de todo tipo, afirmou-se um "sentido
      comum" egoísta, dissociador, subestimador de identidades culturais
      solidárias. Mas quando chegaram as experiências progressistas essas elites
      utilizaram a degradação social existentes, a fragmentação neoliberal
      herdada (enlaçadas em alguns casos com tradições de marginalização muito
      enraizadas) impulsionando irrupções racistas, neofascistas das camadas
       médias estendidas por vezes até espaços médio-baixos onde se misturam o
      pequeno comerciante com o assalariado integrado (em consequência, acima do
      marginalizado, do precário).
       Assistimos assim no Brasil, Argentina, Bolívia ou Venezuela mobilizações
      histéricas de classes médias urbanas neofascistas a exigirem as cabeça dos
      governantes "populistas", manipuladas pelos meios de comunicação e pelos
      poderes económicos que o progressismo havia respeitado como parte da sua
      pertença ao sistema (admitida abertamente, silenciada ou negada de maneira
      superficial ou insuficiente).
       Agora as chamadas restaurações conservadoras ou direitistas não estão a
      restaurar o passado neoliberal e sim a instaurar esquemas de devastação
      nunca antes vistos. Puderam triunfar graças às limitações e esvaziamentos
      de progressismos encurralados pelas crises de sistemas que eles pretendiam
       melhorar, reformas ou em alguns casos superar de maneira indolor,
      gradual, "civilizada".
       Mas a crises nacionais não se detêm. Ao contrário, são incentivadas pelos
      comportamentos saqueadores das direitas governantes que continuam a
      praticar suas tácticas dissociadoras, de embrutecimento colectivo,
      buscando gerar ódio social para com os pobres. Os meios de comunicação
      trabalham em pleno por trás desses objectivos e na medida em que o
      declínio económico avança pressionado pelas políticas oficiais e pela
      marcha da crise global, as manipulações mediáticas começam a demonstrar-se
       impotentes perante a maré ascendente de protestos populares. A
       virtualidade do marketing neofascista começa a ser ultrapassada pela
       materialidade das penúrias, não só dos pobres como também de camadas
      médias que se vão empobrecendo. Males materiais que ao se ampliarem lhes
      abrem a porta à rebeldia daqueles que foram enganados e dos que foram
      crédulos. É assim que no Brasil o repúdio popular ao governo de Temer é
      esmagador e na Argentina a imagem edulcorada de Macri se vai diluindo
      velozmente enquanto se estendem os protestos populares.
       A repressão, a militarização dos governos de direitas surge então como
      alternativa de governabilidade. As dinâmicas ditatoriais desses regimes
      vão engendrando dispositivos policiais-militares com a esperança de
      controlar os de baixo, vão funcionando com cada vez maior intensidade os
      mecanismos de "cooperação hemisférica": operações conjuntas com a DES,
      fornecimento de armamento e capacitação para o controle de protestos
      sociais, multiplicação de estruturas repressivas nacionais e regionais
       monitoradas a partir dos Estados Unidos.
       Trata-se de um combate com final aberto entre forças sociais que procuram
      sobreviver e que, ao fazê-lo, podem chegar a engendrar vastos movimentos
      de regeneração nacional, radicalmente anti-sistémicos e elites degradadas
      e instáveis, dependentes do amo imperial (que se reserva o direito de
      intervenção directa, se as circunstâncias o exigirem e permitirem),
      animadas por um niilismo portador de pulsões tanáticas.

      20/Março/2018
       [1] Hugo Noé Pino, "Cronología del fraude electoral en Honduras",
      Criterio.hn. Diciembre 8 de 2017, 
      criterio.hn/2017/12/08/cronologia-del-fraude-electoral-honduras/
       [2] Manuel Gaggero, "Argentina. La historia se repite… como tragedia", 
      www.resumenlatinoamericano.org/...
       [3] Ana Patricia Torres Espinosa, "Abstención electoral en Colombia.
      Desafección política, violencia política y conflicto armado", Cuadernos de
      Investigación, Universidad Complutense de Madrid, Facultad de Ciencias
      Políticas y Sociología,  politicasysociologia.ucm.es/...
             Miguel García Sanchez, "Sobre la baja participación electoral en
      Colombia", Semana, 2016-10-18,  www.semana.com/...
       [4] "El neoliberalismo tardío. Teoría y praxis. Documento de Trabajo nº
      5", Daniel García Delgado y Agustina Gradin (compiladores), FLACSO,
      Argentina 2017. 
      [*] Economista. Autor de "Macrì: Orígenes e instalación de una dictadura
      mafiosa", que pode ser descarregado  aqui . 
In
RESISTIR.INFO
http://resistir.info/beinstein/nuevas_dictaduras_mar18.html
21/3/2018